LIÇÃO Nº 11 – O SOCORRO DE DEUS PARA LIVRAR O SEU POVO
A história registrada no livro de Ester mostra a Divina Providência mesmo não mencionando, uma vez sequer, o nome de Deus.
Para acessar somente o áudio desta lição click aqui
Para acessar os slides desta aula click aqui
INTRODUÇÃO
– Na sequência dos exemplos bíblicos de provisão divina, estudaremos o livramento do povo judeu nos tempos do rei Assuero, registrado no livro de Ester.
– A história registrada no livro de Ester mostra a Divina Providência mesmo não mencionando, uma vez sequer, o nome de Deus.
I – A DIVINA PROVIDÊNCIA ATUA EM MEIO AO APOGEU DO IMPÉRIO PERSA
– Na sequência dos exemplos bíblicos de provisão divina, estudaremos o livramento do povo judeu nos tempos do rei da Pérsia, Assuero, história esta registrada no livro de Ester, que é um dos “cinco rolos” (“Meguillot”), ou seja,
cinco livros que são lidos pelos judeus, até os dias de hoje, por ocasião das festividades do calendário religioso de Israel, “in casu”, durante a festa de Purim, cuja instituição está vinculada ao registro existente em Ester.
– O livro de Ester é o décimo sétimo livro da Bíblia, tendo, segundo Finnis Jennings Dake, 10 capítulos, 167 versículos, 11 ordens, 21 perguntas, 1 profecia e nenhuma promessa.
Além do mais, é um livro que se distingue por não conter, em nenhuma passagem, o nome de Deus, o que, porém, não impede de se ver a Divina Providência em todo o seu teor, o que, aliás, torna este livro de particular atenção quando estamos a estudar a “teologia da provisão”, como é o que estamos a fazer neste trimestre.
– A autoria do livro de Ester é objeto de controvérsia.
A tradição judaica constante do Talmude (Tratado Baba Bathra 15a) diz que o livro foi escrito pelos “homens da Grande Assembleia”, ou seja, os escribas que foram instituídos por Esdras como sendo os responsáveis pelo ensino da lei ao povo de Israel a partir de então (Cf. Ed.7:25).
Outros, como Agostinho e outras tradições judaicas, entendem que o livro foi escrito por Esdras, a partir da compilação de dados extraídos dos documentos persas aos quais Esdras teve acesso.
– É preciso observar, ainda, que o teor do livro de Ester é diferente na Bíblia adotada pela Igreja Católica Apostólica Romana, pois, no Concílio de Trento, foi oficializada a versão constante da Septuaginta, que possui:
17 versículos que antecedem o que é o nosso primeiro versículo do capítulo 1, onde se narra “o sonho de Mardoqueu”;
7 versículos introduzidos entre Et.3:13 e Et.3:14, onde se transcreve o texto do decreto de destruição dos judeus;
23 versículos entre Et.4:17 e Et.5:1, onde se tem uma “oração de Mardoqueu”;
21 versículos entre Et.8:12 e Et.8:13, onde se transcreve o texto do decreto de salvação dos judeus e
11 versículos depois de Ed.10:3, onde há o comentário de Mardoqueu sobre o cumprimento do sonho que tivera.
– Os fatos narrados no livro de Ester ocorreram durante o reinado de Assuero.
Há muita discussão sobre a identidade deste “Assuero”, que, tudo indica, era um título e não o nome pessoal do rei.
A melhor identificação é de que se trata do rei Xerxes I, que reinou sobre a Pérsia entre 486 a.C. e 465 a.C. (tanto que a Nova Versão Internacional traduziu “Assuero” por “Xerxes”), o que faz com que os fatos ocorridos no livro de Ester estejam situados, como apontam os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, entre 483 a.C. e 473 a.C., no período compreendido entre os capítulos 6 e 7 do livro de Esdras (daí a expressão que inicia o capítulo 7 de Esdras – “e passadas estas coisas”).
– O Segundo Templo fora reconstruído. Deus voltara a levantar profetas após o retorno do exílio na Judeia (Zacarias e Ageu), profetas que, não só reanimaram o povo a reconstruir o templo, como renovaram as profecias messiânicas.
Os judeus gozavam do favor dos governantes persas e as Escrituras eram estudadas na corte.
Pouco a pouco, os efeitos do cativeiro da Babilônia estavam se dissipando e havia uma continuidade do plano divino da redenção.
– Em meio a esta aparente calmaria, Deus, que sabe de antemão o que irá ocorrer, inicia a tomada de providências, a criação de condições que impediria o sucesso de um sagaz plano do inimigo de nossas almas no intuito de destruir o povo judeu e, assim, impedir que o Cristo viesse para salvar a humanidade, já que Satanás bem sabia que a salvação viria dos judeus.
– No livro de Ester, embora nele não conste o nome de Deus (i.e., na versão reconhecida pelos judeus e adotada pela Bíblia Protestante), vemos, a todo instante, a atuação divina, ainda que “nas sombras”, a Divina Providência, a nos mostrar que, como diz conhecido cântico, quando “Deus está em silêncio, é porque está trabalhando”.
– Assuero (ou Xerxes I) estava no terceiro ano de seu reinado, que era de grande opulência (aliás, a história registra que, com Xerxes I, se terá o apogeu do Império Persa), quando resolveu fazer uma festa de 180 dias para todos os príncipes e servos.
Era tamanho o poder e a riqueza do império que o monarca, totalmente despreocupado com a defesa de seus domínios, deu-se ao luxo de, com todo o luxo, mostrar a todos o seu esplendor e a sua glória.
– Ao término do grande festival, na última semana, o rei estendeu a festa a todo o povo e, inclusive, autorizou que todos bebessem ilimitadamente, tendo a rainha Vasti também feito um banquete para as mulheres da casa real (Et.1:5-9).
– No último dia, em meio à embriaguez generalizada, Assuero mandou que Vasti fosse trazida para que fosse mostrada, com a coroa real, a todos os que estavam na festa.
A rainha, porém, negou-se a fazê-lo e isto enfureceu sobremodo o rei que, então, diante disto, convocou o conselho real, que recomendou ao rei que destituísse a rainha e expedisse um decreto dizendo que o marido seria senhor em sua casa, a fim de se evitar que o exemplo de rebeldia de Vasti comprometesse o senhorio dos homens sobre as mulheres nas famílias do império persa.
– Todos estes acontecimentos eram já a ação da Divina Providência, pois, com a destituição da rainha Vasti, abria-se caminho para que uma judia, que seria Ester, assumisse esta posição, que seria crucial para o futuro livramento do povo judeu.
Deus, como vemos, aproveita um episódio de exaltação humana, uma ocasião em que não se tinha qualquer atitude que agradasse ao Senhor para começar a construir as condições que impediria a frustração do Seu plano não só para com Israel mas com toda a humanidade.
– No momento em que o governante maior da Terra se exaltava e mostrava a todos o seu poder e a sua glória, Deus, na verdade, é quem estava no controle de todas as coisas, quem realmente “dava as cartas”, como se costuma dizer.
Como afirma o profeta Daniel, “…Ele muda os tempos e as horas; Ele remove os reis e estabelece os reis…” (Dn.2:21), ou o próprio rei Nabucodonosor, ele, também, um que foi o maior governante do planeta durante algum tempo, em palavras registradas pelo próprio Daniel:
“…eu bendisse ao Altíssimo (…)cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração e todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a Sua vontade, Ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a Sua mão e Lhe diga: que fazes?…” (Dn.4:34,35).
– Sabemos todos que o sistema político se encontra sob o signo da rebeldia contra Deus, desde os tempos de Ninrode.
Vivemos dias em que se intensifica a chamada globalização e se fortalece a ideia do governo mundial, que ressurgirá com o mesmo vigor dos impérios da Antiguidade, mas, agora, não só abrangendo partes da Ásia, África e Europa, mas o mundo inteiro.
No entanto, todo este sistema somente opera por permissão divina. Deus está acima de todo este sistema e nada poderá impedir que o plano divino da salvação da humanidade se concretize.
Saibamos disto e, ao vermos a evolução dos fatos da política das nações, não nos desesperemos, mas os interpretemos à luz das Escrituras, pois, diante de todas as mazelas e injustiças, veremos sempre a mão do Senhor conduzindo tudo para o cumprimento do Seu propósito e de Suas promessas.
– Quem poderia imaginar que uma festa feita para engrandecer um homem, onde se incentivou e estimulou a bebedeira, onde um rei, completamente embriagado, determina uma exposição de sua própria mulher, num profundo desrespeito não só à sua mulher, mas à própria dignidade real, tinha como objetivo criar condições para a salvação do povo de Deus?
Entretanto, foi exatamente o que aconteceu, como vemos no registro do livro de Ester!
– Por isso, amados irmãos, ao contemplarmos este quadro lamentável por que passa o mundo em nossos dias, em que se vê triunfar o globalismo, com sua mentalidade anticristã, em que a Igreja passa a sofrer ainda mais perseguição, a cada dia, onde nações que se dizem (ainda) cristãs estão se voltando, na verdade, contra a Palavra de Deus com maior intensidade, estejamos certos de que tudo isto está sob o absoluto controle de todas as coisas e que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28).
Quando menos, saibamos que tudo o que acontece tem como objetivo imediato fazer-nos acordar a respeito da iminência do arrebatamento da Igreja e da necessidade de sermos encontrados vigilantes neste dia que tanto esperamos e desejamos.
– Vasti foi destituída da sua função e se tornou necessário que se escolhesse uma nova rainha para Assuero, que deveriam ser moças virgens, formosas à vista (Et.2:1).
– Entre estas moças, que deveriam ser levadas para a casa das mulheres e ficassem sob os cuidados de Hegai, eunuco do rei, foi levada Hadassa, cujo nome persa era Ester, que era sobrinha de Mardoqueu, que era da tribo de Benjamim, que trabalhava na fortaleza de Susã, ou seja, na fortificação existente na capital do Império.
Hadassa era órfã e havia sido adotada por seu tio (Et.2:5-10).
– Mardoqueu não se insurgiu com a “requisição” de sua filha adotiva pelo governo persa. Tratava-se de uma prerrogativa do governo persa, de um legítimo exercício de autoridade.
Bela lição nos dá Mardoqueu. Por mais difícil que seja a determinação da autoridade, devemos lembrar que ela foi constituída por Deus (Rm.13:1) e resistir a ela é resistir a Deus (Rm.13:2).
O rei tinha a autoridade para requisitar as mulheres para escolher a sua própria mulher e Mardoqueu não poderia, pois, resistir a esta ordem.
– Mardoqueu, porém, disse a Ester que não declarasse seu povo nem sua parentela e a jovem obedeceu a Mardoqueu, que era seu pai adotivo, a mostrar que Ester fora criada na lei do Senhor e a observava e, por isso mesmo, fora escolhida por Deus para ser o instrumento da salvação do povo judeu, porque era pessoa obediente ao Senhor e aos Seus mandamentos.
Por que Mardoqueu mandou que Ester omitisse sua parentela e sua nacionalidade?
Diz Matthew Henry: “…Ele não ordenou que negasse seu país de origem, nem que mentisse a respeito de sua ascendência; se assim ordenasse, ela não deveria obedecer.
Mas ele apenas lhe disse que não revelasse o país de onde vinha. Nem todas as verdades devem ser declaradas em todo tempo, ainda que uma inverdade não deva ser proferida jamais.
Ela sendo nascida em Susã, seus pais sendo mortos, todos presumiram que fosse de origem persa, e ela não estava obrigada a retificá-los a respeito disso.…” (Comentário bíblico completo – Antigo Testamento – Livros históricos: Josué a Ester. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p. 849).
– Esta ordem de Mardoqueu já era mais uma demonstração da Divina Providência, pois tal ignorância da nacionalidade e da parentela de Ester foram fundamentais para que o povo judeu fosse libertado.
Nem Mardoqueu, no momento em que deu esta ordem a Ester, pensara nisto, mas, pela experiência que tinha na fortaleza de Susã, com o trato com a elite governante, sabia, certamente, que o fato de Ester ser uma estrangeira iria prejudicar no processo de ela ser escolhida como rainha, se fosse este o caso.
– Mardoqueu comportou-se de modo a permitir que Ester fosse a escolhida, pois, como um servo fiel a Deus, via que tudo o que acontecia era para o bem do povo de Deus.
Ester tinha sido requisitada para ser candidata a rainha e, portanto, não se poderia criar situações desnecessárias que impedissem a escolha dela. Esta escolha para a seleção somente poderia ser uma bênção e, como tal, deveria ser tratada.
– Ester, além de obediente a Mardoqueu, também se mostrou obediente a Hegai, o eunuco do rei, observando rigorosamente todos os ensinamentos que teve dele, a fim de se submeter a todas as regras de comportamento na corte do rei.
Ester demonstrou aplicação no aprendizado. Devemos fazer o que está ao nosso alcance e as condições criadas por Deus nos farão instrumentos valiosos nas suas mãos.
– Ester ficou se preparando durante um ano com as outras moças que haviam sido escolhidas (Et.2:12), as mulheres passaram a ser introduzidas para ter contato com o rei Assuero e Ester somente foi levada no décimo mês, ou seja, quase dois anos depois.
Foram quase dois anos de preparação e de dedicação, de esforço para ser fiel ao Senhor e se conduzir da melhor maneira possível.
– Toda esta dedicação e esforço foram recompensados e Assuero acabou por escolhê-la para ser a nova rainha, em mais uma ação da Divina Providência. Deus punha, pois, Ester na posição de rainha porque sabia que seu povo começaria a correr grande risco de existência.
– Naqueles dias em que Ester foi escolhida e coroada como rainha. Mardoqueu assentou-se à porta do rei e teve conhecimento de que dois eunucos do rei, Bigtã e Teres, intentavam matar o rei Assuero.
Ao saber disto, Mardoqueu, como fiel súdito do rei, envivou mensagem a Ester para desse notícia desta conspiração ao rei e Ester rapidamente deu conhecimento disto ao rei que, ao investigar o caso, descobriu ser verdadeira a notícia, tendo, então, Assuero mandado enforcar os rebeldes, bem como registrar isto nas crônicas do reino, uma espécie de diário, de boletim de notícias e informações (Et.2:21-23).
– Mardoqueu e Ester não sabiam, mas a descoberta desta conspiração contra o rei Assuero também fazia parte da Divina Providência.
II – A ASCENSÃO DE HAMÃ E A ORDEM PARA DESTRUIÇÃO DO POVO JUDEU
– Depois da escolha de Ester como rainha, começa a ocorrer, na vida política do Império Persa, a ascensão de um agagita, ou seja, descendente de Agague, o rei de Amaleque que havia sido poupado indevidamente por Saul (I Sm.15).
Era a descendência de Amaleque seguindo a sua perseguição contra o povo de Deus.
– Hamã cresceu no governo de Assuero, a ponto de torná-lo a pessoa mais importante do reino depois do próprio rei, estando acima dos príncipes (Et.3:1).
Sua posição era tão elevada que todos eram obrigados a se prostrar diante de Hamã, por ordem do rei, mas Mardoqueu não cumpria esta ordem, o que causou um profundo ódio da parte de Hamã em relação a ele (Et.3:3,4).
– Mas, como entender esta desobediência de Mardoqueu, ante a ordem do rei e o que já dissemos a respeito da obediência de Mardoqueu às autoridades no tocante a permitir que sua filha adotiva fosse levada para a casa das mulheres?
A obediência devida às autoridades, como toda obediência, deve ser entendida dentro do princípio da autoridade, que foi criado pelo próprio Deus.
– As autoridades foram constituídas por Deus e resistir à autoridade é resistir a Deus, mas esta obediência está submetida à obediência à autoridade maior, que é o Senhor. Como disseram os apóstolos ao Sinédrio: mais importa obedecer a Deus do que aos homens (At.5:29).
Qualquer ordem de uma autoridade que contrariar a Palavra de Deus não deve ser obedecida, porque se estará diante de abuso de autoridade, pois “autoridade” é a pessoa que é “autorizada” e Deus jamais autorizou qualquer ser humano a mandar que os outros pequem.
– A ordem de Assuero tinha sido motivada pelo próprio Hamã, pela sua imensa vaidade e sede de poder. Prostrar-se diante de Hamã, como se este homem fosse um deus, era violar o primeiro mandamento.
Instituíra-se um “culto à personalidade”, algo que não pode ser admitido pelos servos do Senhor, pois devemos adorar única e exclusivamente a Deus (Ex.20:3; Dt.5:7; Mt.4:10).
Por isso, toda e qualquer determinação de “culto à personalidade” deve ser rejeitada por contrariar a Palavra do Senhor. Lamentavelmente, estes “cultos à personalidade” têm sido uma constante em muitas igrejas locais…
– A desobediência de Mardoqueu acabou chegando aos ouvidos de Hamã. Sempre haverá quem nos denuncie diante do sistema maligno por causa de nossa fidelidade ao Senhor.
Não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14) e, portanto, se somos luz do mundo (Mt.5:14), certamente atrairemos a ira do inimigo e dos que estão nas trevas contra nós, mas não devemos temer esta situação, pois isto também faz parte do propósito divino para as nossas vidas.
Quando somos perseguidos, temos de lembrar que somos bem-aventurados e que, portanto, estamos no caminho certo, devendo exultar e nos alegrar com esta circunstância (Mt.5:11,12).
– Hamã, sabendo desta situação e, mais do que isto, descobrindo que a atitude de Mardoqueu era decorrência da fé judaica, da observância dos mandamentos, resolveu, então, não só pôr a mão em Mardoqueu para castigá-lo, mas, a um só tempo, destruir a todo o povo judeu, já que a crença deste povo era a razão pela qual Mardoqueu não se prostrava diante de Hamã.
– Hamã, então, vai até o rei Assuero e, sem qualquer dificuldade maior, conseguiu persuadir o rei persa a autorizá-lo a destruir o povo judeu.
Com grande sagacidade, Hamã mostrou a Assuero que existia um povo que se mantinha separado de todos os demais no Império Persa e que tinha costumes e leis próprios e que isto seria danoso para o governo, pois era um povo que nega a sua assimilação aos demais e, de certo modo, se mantinha independente e que o ideal seria a sua destruição para resguardo do poder real.
Ante tamanhas razões, Assuero concordou que o povo fosse destruído e assinou decreto neste sentido, decreto irrevogável, pois as ordens dos reis persas não podiam ser revogadas (Et.8:8; Dn.6:8,12).
– Esta descrição de Hamã, instrumento de Satanás, verdadeiro tipo do inimigo de nossas almas, é algo que deve ser aqui bem analisado, pois é precisamente a descrição daqueles que são alvo da Divina Providência.
– A primeira observação de Hamã era de que o povo judeu era espalhado e dividido entre os povos em todas as províncias. Logicamente que Hamã falava do fato de os judeus haviam, realmente, se espalhado em todo o Império Persa, pois só uma menor parte havia retornado para a terra de Canaã, mas isto é uma figura da Igreja, o atual povo de Deus, que também existe em todos os países e nações do mundo na atualidade, pois são pessoas de toda raça, tribo, língua e nação que foram salvas por Cristo Jesus (Ap.5:9).
A Igreja é “católica”, ou seja, “universal”, está presente em todas as nações, é um povo formado tanto por judeus quanto por gentios (Ef.2:11-16).
– A segunda observação de Hamã era de que o povo judeu tinha leis diferentes das de todos os povos. Os judeus seguiam a lei de Moisés e a observavam com rigor, preferindo, como fez Mardoqueu, segui-la quando as leis dos países onde estavam entram em conflito com ela.
A Igreja, também, tem como única regra de fé e prática a Bíblia Sagrada, os “mandamentos do Senhor”, devendo, assim, cumpri-los acima de toda e qualquer determinação, mesmo que advinda das leis exaradas pelos governantes dos lugares onde se encontram.
Não mais vivemos “segundo o curso deste mundo, segundo os príncipes das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência, nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne do dos pensamentos” (Ef.2:2,3).
– O povo de Deus é um povo que tem um “modus vivendi” diferente, que é diferente dos demais povos, porque está em comunhão com Deus e vive segundo a Sua vontade, em obediência aos ditames do Senhor.
É o “reino de Deus”, que está no meio das demais nações.
– Precisamente por se tratar de um povo que vive segundo a vontade do Senhor é que se torna em alvo da Divina Providência. Já temos visto, ao longo do trimestre, que a Divina Providência é a criação das condições para que se cumpra o propósito divino e, se o povo de Deus está vivendo de acordo com a vontade do Senhor,
não há como estas condições não lhe serem favoráveis, pois, se o povo de Deus faz a vontade do Senhor e é esta vontade que se cumpre com as condições geradas pela Divina Providência, logicamente que a Divina Providência somente beneficiará o povo de Deus.
– Eis o motivo pelo qual não devemos nos desesperar diante das aflições e dos embates desta vida, do conflito inevitável que sempre teremos com as hostes espirituais da maldade e com todo o sofrimento daí decorrente, pois tudo sempre está no controle do Senhor e a Sua Divina Providência cria condições para que alcancemos o fim que esperamos, que é a vida eterna, a glorificação, a consumação da nossa fé. Aquele que foi o autor da fé, também será o seu consumador (Hb.12:2).
– Hamã conseguiu tanto o seu intento que o rei lhe deu o anel para que ele redigisse o decreto como bem entendesse.
Deus, o que nós costumamos chamar de “um cheque em branco”, uma “carta branca” para que Hamã atuasse, pois entendeu que, realmente, a existência de um povo com este porte era uma ameaça para o seu reino.
– Assuero não estava errado. A presença do povo de Deus é sempre um motivo de preocupação para o sistema maligno, para o mundo, pois é a demonstração de que ele já está derrotado, de que Deus é maior. Por isso, o inimigo se ira tanto contra o povo do Senhor e tenta, em vão, destruí-lo.
– Hamã fez o decreto que quis e mandou que no dia treze do duodécimo mês do calendário judaico, o mês de Adar, todos os judeus fossem mortos no Império Persa e que fossem tomados todos os seus bens (Et.3:12,13), ordem que foi rapidamente espalhada por todo o reino de Assuero.
– Ao saber do teor do decreto, o povo judeu se desesperou e Mardoqueu rasgou os seus vestidos, vestiu-se de saco de cinza e saiu pelo meio da cidade, clamando com grande e amargo clamor (Et.4:1).
Mardoqueu demonstrava toda a sua tristeza e se humilhava, pedindo a Deus que esta destruição fosse demovida, que a ordem real fosse alterada, o que, a princípio, era impossível de acontecer.
– Mardoqueu humilhou-se porque confiava em Deus. Rasgar as vestes, vestir-se de saco e ficar na porta do rei, já que não podia entrar nas dependências reais vestido de saco, era uma prova de que Deus estava no controle de todas as coisas e que poderia mudar a situação, mudar a sorte do povo judeu.
Mardoqueu conhecia a lei do Senhor, sabia das promessas de Deus para Israel e, certamente, não poderia admitir que o povo judeu fosse destruído. Não era esta a vontade de Deus e, portanto, algo deveria acontecer para reverter este quadro.
– Mardoqueu demonstrou extrema confiança em Deus, porque clamou com grande e amargo clamor pelo meio da cidade, a própria capital do reino, dizendo-se judeu, bem no momento em que se anunciava a destruição de todos os judeus, sabendo que era ele a maior motivação para Hamã odiar o povo judeu. Punha a sua vida em risco, neste clamor, mas sabia que Deus ouviria a sua oração.
– A oração e o jejum são atitudes que devem demonstrar a nossa fé em Deus. Quando recorremos ao Senhor em oração e jejum estamos reconhecendo que o Senhor tem o controle sobre todas as coisas, que Ele pode providenciar o que suprirá as nossas necessidades.
Por isso, a oração é uma atitude que deve ser uma constante na vida de quem serve ao Senhor pois é algo que nos aproxima de Deus, que nos santifica (I Tm.4:4,5).
– Muitas pessoas dizem que não é preciso orar porque Deus já sabe de nossas necessidades e, portanto, seria inócuo querermos mostrar a Deus o que precisamos. Entretanto, este pensamento está completamente equivocado, porque não oramos para que Deus saiba o que precisamos, mas, sim, porque cremos que Deus suprirá as nossas necessidades.
– Mardoqueu parou na porta do rei, pois não podia ali entrar vestido de saco e cinza.
Mas não era apenas Mardoqueu quem recorreu ao Senhor, em oração e jejum, mas todos os judeus de todo o Império Persa, assim que sabiam do teor do decreto que mandava destruir toda a nação judaica no dia treze de Adar, choravam, lamentavam, oravam e jejuavam (Et.4:3).
Mesmos espalhados e divididos no Império, os judeus agora se uniam em jejum e oração.
– Ao ficar vestido de saco e cinza na porta do rei, Mardoqueu chamou a atenção de todos os que frequentavam a fortaleza de Susã. Era este, mesmo, o propósito de Mardoqueu.
Ele percebera que não fora por acaso que Ester fora elevada a condição de rainha. Somente ela poderia ter acesso ao rei e tentar demover o intento de Hamã.
Por isso, mesmo pondo a sua vida em risco, manteve-se vestido de saco e cinza na porta do rei.
– É preciso que tenhamos discernimento espiritual, que tenhamos intimidade com o Senhor enquanto estamos peregrinando nesta terra. Mardoqueu era um homem fiel a Deus, alguém piedoso e, deste modo, pôde perceber que não fora por acaso que Ester havia sido feita rainha.
Somente quem tem intimidade com o Senhor pode perceber, ainda que não na sua integralidade, o agir de Deus para criar condições para nos conceder o bem.
– Ester soube da atitude de Mardoqueu e, sensibilizada, mandou vestidos para vestir Mardoqueu, mas ele não os aceitou.
Então, Ester chamou a Hataque, eunuco do rei que estava a serviço da rainha, a fim de que ele fosse ao encontro de Mardoqueu para saber o porquê daquela sua atitude.
Mardoqueu, então, contou a Hataque o que estava ocorrendo e pediu que Ester fosse até o rei para tentar mudar aquela terrível situação, suplicando em favor do povo judeu.
– Hataque foi até Ester e lhe deu notícia de tudo e Ester, então, disse que não podia ir até o rei, porque somente quem era chamado podia comparecer até o monarca e já fazia trinta dias que a rainha não era chamada pelo rei (Et.4:10).
Ao receber esta resposta, porém, Mardoqueu foi duro com a sua filha adotiva. Disse que ela deveria ir à presença do rei, independentemente de ter sido, ou não, chamada, pois poderia ser que para isto tinha sido constituída rainha e que, se ela não o fizesse, Deus traria livramento de outra maneira para o povo judeu, mas ela, Ester, não escaparia de ter se negado a ajudar o povo de Deus (Et.4:13,14).
– Mardoqueu mostra toda a sua confiança em Deus. Sabia que as promessas do Senhor não falham e, portanto, os judeus não seriam destruídos.
Bem pensou que Ester tinha sido guindada à condição de rainha precisamente para ser o canal do livramento do povo judeu naquele momento, mas, se Ester não assumisse o papel, Deus traria livramento de outra maneira, mas Ester não escaparia do juízo divino.
As palavras de Mardoqueu eram duras, mas revelam uma verdade espiritual.
– Se todas as coisas estão sob o controle do Senhor, não podemos achar que somos insubstituíveis, que a vontade do Senhor dependa de nossa ação.
Deus conhece tudo e cria as condições para que os Seus propósitos se concretizem e, portanto, não pensemos nós que Ele dependa dos Seus servos.
Como quer manter conosco comunhão, como tem prazer em compartilhar com os homens a Sua existência, o Senhor nos convida a participar dos Seus planos, dos Seus projetos, mas isto, em hipótese alguma, significa que Deus precisa de nós para realizá-los.
Não nos esqueçamos de que todas as nações são menos do que nada (Is.40:17; 41:24), que dirá cada um de nós?
– Ester foi particularmente tocada pelas palavras de Mardoqueu. Pôde compreender que não era por acaso que fora guindada à condição de rainha.
Assim como seu pai adotivo, resolveu pôr a sua vida em risco em prol do povo judeu, em prol do propósito divino de constituir um povo que fosse propriedade peculiar de Deus dentre os povos e que, portanto, não poderia vir a desaparecer de sobre a face da Terra.
– Ester, então, manda dizer a Mardoqueu que ele ajuntasse todos os judeus que se achassem em Susã e que orassem e jejuassem por Ester durante três dias, mesmo período em que Ester jejuaria com as suas moças e,
então, passado este tempo, Ester iria se apresentar diante do rei, correndo o risco de não ser recebida e, por conseguinte, morta, pois o costume era que, se alguém viesse à presença do rei da Pérsia sem ser chamado, se o rei não estendesse o cetro de ouro concordando em receber a pessoa, seria ela morta pela ousadia de querer falar com o rei por sua própria iniciativa e não pela iniciativa do monarca (Et.4:11,16).
– Ester demonstra sua confiança em Deus. Bem podia ser que para isto havia sido guindada à condição de rainha, mas não confiava em si mesma e, sim, no Senhor que a havia feito rainha.
Mandou a Mardoqueu que reunisse todos os judeus e, durante três dias, os judeus de Susã oraram e jejuaram. Não há como nos livrarmos das dificuldades e agruras da vida se não for por intermédio da oração e, nos casos de urgência, da oração reforçada com o jejum.
– Após os três dias de jejum, Ester vestiu-se com seus vestidos reais e se pôs no pátio interior da casa do rei, defronte do aposento do rei (Et.5:1).
Ester estava certamente enfraquecida depois de três dias de jejum, mas se vestiu com as vestes reais e se embelezou para se fazer atraente ao rei. Não podia comparecer abatida diante do monarca, tinha de fazer a sua parte.
Linda lição nos dá a rainha: o que temos de fazer, façamos, com o máximo esforço e dedicação, pois o que não podemos fazer Deus fará por nós.
– O rei Assuero, ao ver sua mulher com as vestes reais, atraente e alegre, não resistiu aos encantos femininos, apontou para Ester com o cetro de ouro, que tinha na sua mão, e Ester chegou e tocou a ponta do cetro.
As orações e jejuns haviam sido ouvidos e o Senhor fazia com que o rei se agradasse de Ester e não a mandasse para a morte. O que Ester não poderia fazer, tocar o coração do rei, Deus fez por ela. Assim Deus continua agindo. Confiemos, pois, em Deus, pois Ele tudo fará (Sl.37:5).
– Observemos que Ester não cometeu qualquer pecado ou falta ao se apresentar atraente a Assuero, pois era ele o seu marido.
Não se tratava aqui de qualquer manobra sedutora pecaminosa, mas de um legítimo exercício do seu direito de mulher, do seu direito de esposa.
Por isso, não há mal algum em as esposas se embelezarem para seus maridos, procurar agradá-los com seus encantos femininos.
– Assuero, então, diz a Ester que fizesse o seu pedido, pois até metade do reino se lhe daria.
Ester, então, usando de grande sabedoria, convidou o rei para um banquete, pedindo, também, que, neste banquete, fosse também trazido Hamã, que também era convidado.
– A petição de Ester revela-nos que a rainha havia preparado um banquete para o rei e para Hamã.
Que demonstração de fé da rainha! Este banquete, certamente, foi preparado durante os três dias de jejum. Como preparar um banquete enquanto se está jejuando?
Que determinação, que força de vontade! Mas não é só! Ester estava correndo risco de vida, mas, mesmo assim, demonstrou confiar em Deus, a ponto de já mandar preparar o banquete cujo convite seria a petição que apresentaria ao rei. Vemos, aliás, a mão divina atuando para que Ester tivesse esta ideia.
– O rei Assuero atendeu à petição de Ester e mandou apressar Hamã para que fossem para o banquete naquela mesma noite.
Temos aqui a confirmação de que Ester já tinha preparado tudo, pois ela se apresentou ao rei após o pôr-do-sol, quando terminava o dia, quando terminou o terceiro dia de jejum e como rei mandou apressar Hamã, tudo já tinha que estar preparado.
– Em meio ao banquete, Assuero, então, torna a inquirir Ester a respeito de seu pedido e Ester, então, outra vez com sabedoria, pediu ao rei que viesse, novamente com Hamã, no dia seguinte, para outro banquete, quando então faria o seu pedido, tendo o rei aquiescido com isto.
– Hamã saiu do banquete radioso e extremamente alegre. Na sua vaidade, achava estar no ápice de seu poderio, pois a ninguém, além do rei, a rainha havia convidado para o banquete senão a ele.
Achava-se o mais poderoso dos homens, até porque a própria rainha lhe estava, segundo pensava, dando o mesmo valor que dava ao rei.
– Ao sair do banquete, porém, viu a Mardoqueu, que estava na porta do rei, pois terminara o período de jejum, e, como sempre, Mardoqueu não se prostrou diante dele, o que muito indignou a Hamã, que, no entanto, se conteve e seguiu para a sua casa.
Esta contenção de Hamã era mais uma demonstração da Divina Providência. Tivesse Hamã mandado prender ou matar Mardoqueu, naquele momento, isto se teria dado.
Entretanto, irmãos, Mardoqueu estava na sua posição e, quando o servo do Senhor está no lugar que Deus lhe destinou, ninguém poderá tocá-lo, muito menos o maligno (I Jo.5:18).
– Hamã chegou a sua casa e contou aos seus toda a sua glória, exaltando-se a si mesmo, mas, em meio a tantas vitórias, a tantas glórias, a tanto esplendor, deixou escapar a sua indignação porque Mardoqueu não se prostrava diante dele.
Esta reação de Hamã revela como já é vitorioso o servo de Deus, como já é vitorioso o povo do Senhor.
Nenhuma vantagem aparente dos que praticam a maldade esconde o fato de que o mal é subalterno em relação ao bem, de que não se tem qualquer vitória do maligno quando existe o bem.
Por isso, não nos iludamos: por mais que o inimigo de nossas almas queira aparentar vantagens e supremacia, mesmo nos dias difíceis em que vivemos, a realidade é bem outra: o bem sempre vence, o bem triunfa, ninguém pode impedir o bem de se realizar.
– Ante este desabafo de Hamã, Zerés, sua mulher, e todos os seus amigos deram a Hamã um conselho:
mandar enforcar Mardoqueu, numa forca de cinquenta côvados de altura, pedindo isto ao rei. Afinal de contas, se até a rainha o considerava, como o rei poderia impedir que mais este pedido de Hamã fosse atendido?
– Hamã gostou da ideia e, imediatamente, mandou fazer a forca, obrigando os servos a trabalharem durante a madrugada para que, logo pela manhã, Hamã pudesse pedir ao rei que enforcasse Mardoqueu e, assim, pudesse desfrutar do segundo banquete com o casal real já livre daquele incômodo desafeto (Et.5:11-14).
III – A DIVINA PROVIDÊNCIA ATUA PARA LIVRAR O POVO JUDEU
– Parecia tudo resolvido. Mardoqueu seria enforcado e Hamã, já sem qualquer incômodo, poderia desfrutar de seu poder supremo junto ao casal real no segundo banquete.
– Ledo engano o de Hamã. Deus ainda estava no controle de todas as coisas e tudo havia feito para pôr fim à ameaça de destruição do povo judeu. Satanás, o maligno, sempre cuida de todos os detalhes e pormenores, mas nunca tem o controle das coisas, nunca age a não ser por permissão divina.
– Hamã foi dormir, ansioso para dar cabo de Mardoqueu no dia seguinte. Talvez nem tenha dormido tamanha a sua ansiedade. Mas Deus faz também fugir o sono do rei Assuero.
Como o rei não conseguia dormir, mandou que se lesse para ele o livro das crônicas do reino e, em meio à leitura, leu-se que Mardoqueu havia denunciado uma conspiração contra o rei e que tudo havia descoberto e o rei mantivera a sua vida.
Assuero, então, perguntou aos seus servos o que se havia feito a Mardoqueu por esta atitude de lealdade e os servos disseram que nada havia sido feito (Et.6:1-3).
– O rei passara a noite em claro e só no final da madrugada, ao despontar da manhã, é que se lhe tinha sido lido o episódio envolvendo Mardoqueu. Assuero, então, ao saber disto, perguntou quem estava no pátio, pois queria se aconselhar com alguém para ver como poderia recompensar a Mardoqueu. Hamã já estava no pátio, ansioso para pedir ao rei que mandasse enforcar Mardoqueu (Et.6:4).
– Notamos como Deus tem o absoluto controle de tudo. Fez fugir o sono a Assuero para que este se lembrasse da beneficência que lhe fizera Mardoqueu. Simultaneamete, Hamã, pela sua própria maldade, mal pôde dormir (se é que chegou a dormir), ansioso para conseguir do rei a ordem para enforcar o mesmo Mardoqueu.
Enquanto tira o sono de um para beneficiar um servo Seu, permite que o outro não durma por querer prejudicar um servo Seu, mas cria condições para impedir que este prejuízo pudesse se realizar.
Que Deus tremendo é o nosso Deus!
– Ao saber que Hamã, seu principal assessor, a maior autoridade do império depois do próprio rei, estava no pátio, Assuero não teve dúvidas em consultá-lo, pois sabia que se tratava da pessoa mais capaz do seu governo para lhe aconselhar a respeito de que recompensa se deveria dar a um súdito real.
– Hamã entra na presença do rei e Assuero, sem dar qualquer oportunidade a manifestação de Hamã, faz uma pergunta: Que se fará ao homem de cuja honra o rei se agrada? (Et.6:6).
– Neste momento, a vaidade de Hamã falou mais alto. Que homem era aquele de que o rei se agradava? Não podia ser outro senão o próprio Hamã, que, na noite anterior, havia participado como convidado de um banquete com o rei e a rainha.
Hamã, então, tendo a mais absoluta convicção de que o rei se agradava dele, começou a expor o que se deveria fazer para honrar referido homem:
deveria ser vestido de vestes reais, andar no cavalo do rei e ter a coroa real em sua cabeça e ser levado pelas ruas e se apregoar diante dele que assim o rei faria com quem ele se agradasse.
Em outras palavras, a pessoa seria tratada como rei durante um dia na própria capital do Império. Era isto que Hamã desejava e, por isso, disse ao rei para fazê-lo (Et.6:7-9).
– Assuero gostou da ideia, achou que seria uma ótima recompensa e, sem saber o que havia no coração de Hamã, chancelou tudo o que seu principal auxiliar lhe disse.
Entretanto, para surpresa de Hamã, mandou que ele fizesse tudo aquilo com Mardoqueu, pois era de Mardoqueu que o rei estava a falar (Et.6:10).
– Aquilo foi um golpe terrível para Hamã. Como? Deveria levar Mardoqueu diante de Susã e tratá-lo como um rei?
Exatamente quem ele queria ver enforcado até o final do dia, para bem poder participar do banquete, era agora tratado como rei?
E o pior de tudo: Assuero disse que Mardoqueu era um súdito de quem ele se agradava, a ponto de honrá-lo. Como, então, pedir que fosse ele enforcado?
Num só instante, Hamã via fracassado todo o seu plano e, o que era ainda pior para ele, via Mardoqueu sendo tratado como rei, exatamente da forma que Hamã havia pensado para si.
Não bastava Mardoqueu não se prostrar diante dele, agora era honrado como Hamã gostaria de sê-lo.
– Deus transforma as coisas que são como se nunca tivessem sido. O que estava preparado e pronto para acontecer, que era a morte de Mardoqueu na forca, transformou-se em honra para o servo do Senhor. Deus continua o mesmo, amados irmãos.
Basta que façamos o que devemos fazer e o Senhor nos honrará. Deus ainda é Aquele “que do pó levanta o pequeno e, do monturo, ergue o necessitado” (Sl.103:7), que “levanta o pobre do pó e, desde o esterco, exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo” (I Sm.2:8).
– Hamã não tinha saída senão cumprir rigorosamente a ordem do rei, baseada no seu próprio conselho.
E, durante todo o dia, andou diante de Mardoqueu em Susã, levando o cavalo do rei, sobre o qual Mardoqueu estava sentado, vestido com as vestes reais e portando a coroa real (Et.6:11).
– Depois de toda esta honra, o que fez Mardoqueu? Voltou para o seu lugar, para a porta do rei, para a posição que Deus lhe tinha dado em Susã. Que lição nos dá Mardoqueu.
Quem confia em Deus, quem crê no Senhor não se deixa levar pelas circunstâncias, não perde o foco, não se dislumbra com este mundo. Mardoqueu fora tratado como um rei e, depois de um dia desses, podia pedir uma folga, podia ir ao encontro do povo judeu de Susã e lhe dizer da bênção alcançada. Não, não e não!
Mardoqueu estava preocupado com a sorte do seu povo, sabia que Ester iria fazer a súplica em favor dos judeus naquela noite e necessário era vigiar, velar, aguardar o desfecho dentro de um comedimento e de um contínuo orar. Mardoqueu pensava nas “coisas de cima”, não nas coisas desta terra.
– Hamã, porém, foi para a sua casa, anojado e com sua cabeça coberta. Se lhe causava indignação e repugnância o fato de Mardoqueu não se prostrar, o que dirá ter sido o arauto da grande honra que o rei Assuero dera ao seu desafeto naquele dia.
– Hamã, então, contou o caso a sua mulher Zerés e esta, que era maligna, tanto que lhe dera o conselho de fazer a forca para matar Mardoqueu, foi bem objetiva ao marido, dizendo que ele não prevaleceria contra Mardoqueu nem contra a semente dos judeus, já que, diante de Mardoqueu ele já começara a cair (Et.6:13).
Mas, antes que Zerés e os amigos de Hamã pudessem completar o conselho, chegaram os eunucos do rei, pois era hora de Hamã ir para o segundo banquete preparado por Ester (Et.6:14).
– Vemos aqui mais uma vez a ação da Divina Providência. Zerés e os sábios, amigos de Hamã, certamente lhe dariam um conselho para que ele aplacasse o seu ódio contra os judeus, para que alterasse a sua disposição contra o povo judeu, mesmo que fosse apenas um ardil para, posteriormente, consumar o seu plano destrutivo.
Mas o Senhor não permitiu que se desse tal ideia a quem já estava determinado que deveria morrer pelo seu ódio, pela sua maldade. Triste coisa, amados irmãos, é alguém transpor os limites da redenção, os limites do perdão divino. Está inevitavelmente perdido, sem qualquer chance de restauração.
Por isso, tomemos sempre cuidado para não transpor estes alargadíssimos limites da graça de Deus.
– Não há uma predestinação incondicional, como, equivocadamente, defendem os calvinistas. Deus sempre dá uma chance real de arrependimento para cada ser humano, embora saiba, de antemão, quem a aproveitará, ou não.
Hamã poderia, com o acontecido, cair em si, observar que Mardoqueu era um homem abençoado e que não se podia lutar contra ele ou contra o seu povo, conclusão, aliás, a que chegaram tanto sua mulher quanto seus amigos.
No entanto, em vez de aproveitar esta derradeira oportunidade, saiu da fortaleza de Susã anojado e com a cabeça coberta, ou seja, inconformado, revoltado com a situação.
Dava ali a sua própria sentença. Mantinha-se em ódio contra Mardoqueu e contra o povo judeu e, portanto, por ir contra a “menina dos olhos de Deus”, a nação de Israel, selara o seu destino de perdição.
– Hamã foi participar do banquete com o casal real. Em meio ao banquete, Assuero pede novamente a Ester que lhe dissesse seu pedido e a rainha, então, pede ao rei a sua vida e a vida de seu povo e denuncia o decreto de destruição do povo judeu, dizendo-se judia e culpando Hamã por isto (Et.7:1-6).
– O rei ficou enfurecido, ao ver que havia, por causa de Hamã, condenado à morte o povo da sua própria mulher e, por conseguinte, Ester.
Saiu do banquete e foi para o jardim, a fim de saber o que deveria fazer para atender ao pedido de Ester.
Hamã notou, então, que, como dissera sua mulher e seus amigos, o mal lhe estava determinado e tentou fazer uma súplica à rainha, aproveitando da ausência do rei no recinto.
– Entretanto, se o rei Assuero estava ausente, Deus não estava, pois Ele é onipresente e a Divina Providência atuou uma vez mais.
Hamã tropeçou e caiu em cima de Ester sobre o leito onde estava a rainha e, nesse exato instante, Assuero voltou para o recinto, tendo tido a impressão de que Hamã estava a violentar Ester ou a querer fazê-lo por causa da denúncia do decreto da destruição dos judeus.
Era uma cena que ia além da capacidade de contenção do monarca.
– Assuero enfureceu-se ainda mais e, diante da situação, Harbona, um dos eunucos do rei, disse a Assuero que Hamã havia mandado fazer uma forca para nela matar Mardoqueu. Isto já era demais!
Como Hamã poderia querer matar um súdito que fora honrado pelo próprio monarca?
Diante desta notícia, Assuero não teve dúvida: mandou que Hamã fosse enforcado naquela forca, o que, então, aconteceu.
– Deus, no pleno controle de todas as coisas, fez com que tudo se encaixasse segundo o Seu propósito. A forca feita para Mardoqueu serviu para matar Hamã, o inimigo do povo judeu.
– Em seguida, Assuero deu para Ester toda a casa de Hamã e toda aquela família de agagitas foi destruída, cumprindo-se, assim, o propósito divino que já havia sido determinado pelo Senhor pela palavra de Moisés (Ex.17:14), qual seja, a de que Amaleque desapareceria dentre as nações. Estes foram os últimos amalequitas que existiram sobre a face da Terra.
– Assim é a Divina Providência. Da mesma maneira que, em questão de dias, Deus livrou os judeus de Hamã, após três dias de jejum e dois dias de banquete, também foram necessários, segundo Edward Reese e Frank Klassen, cerca de 988 anos para se cumprir a palavra profética proferida por Moisés e que Deus mandou que ele dissesse a Josué, ou seja, que deveria ser guardada na memória de Israel.
– Por isso, amados irmãos, não nos abalemos em nossa fé quando vemos a multiplicação da iniquidade, o aumento incomensurável da maldade. Saibamos que está para vir um dia em que o mal será extirpado do universo, um novo universo, onde habitará a justiça (II Pe.3:13).
Está prometido e Aquele que prometeu é fiel!
– Mas se livrar de Hamã era apenas um dos pontos necessários. A morte de Hamã não eliminava o decreto de destruição do povo e, por isso, Ester foi novamente à presença do rei, que lhe apontou o cetro.
Ester, então, pede algo que era impossível: a revogação do decreto de destruição. Entretanto, Ester não apresentou apenas o problema, mas trouxe a solução.
Revogar o decreto era impossível, mas o rei poderia promulgar um outro decreto autorizando os judeus a, no dia treze de Adar, pudessem defender suas vidas e seus bens, bem como que matassem e destruíssem os seus inimigos.
Este decreto, portanto, na prática, deixaria o outro sem efeito, sem que o outro tivesse sido expressamente revogado (Et.8).
– O decreto foi expedido e, no dia treze de Adar, ninguém teve coragem de matar os judeus, mas os judeus puderam se vingar de seus inimigos e defender suas vidas e bens.
Como Hamã havia sido morto, evidentemente que todos os povos do reino de Assuero, sabendo que Ester era judia e que tinha o favor do rei, puseram-se ao lado dos judeus contra os seus inimigos e o que era para ser a destruição do povo judeu acabou sendo a destruição dos inimigos dos judeus no Império Persa, inclusive, em Susã, os filhos de Hamã (Et.9).
– O rei Assuero mandou, então, que se prosseguisse no dia seguinte a caça aos inimigos dos judeus e o dia que seria de destruição do povo judeu se tornou em dia de banquetes e de alegria.
A Divina Providência sempre transforma o mal em bem e, por isso, muitas vezes, acontece a nós um mal menor para que o bem, o verdadeiro bem, aquele fim querido por Deus aconteça em nossas vidas.
Os judeus sofreram a angústia, a ameaça da destruição para que pudessem ter banquetes e alegria, com a completa destruição de seus inimigos, inclusive com o cumprimento da promessa do desaparecimento de Amaleque. Este é o nosso Deus, confiemos n’Ele pois!
– A ação da Divina Providência foi tão intensa que Mardoqueu não teve dúvidas de, juntamente com a rainha Ester, incluir no calendário judaico uma nova festividade, a festa de Purim, palavra hebraica que significa “sorte”, para que, daí por diante, os judeus sempre comemorassem este grande livramento que haviam recebido da parte do Senhor, pois a sorte do povo judeu fora mudada:
de ser destruído para ser o destruidor de seus inimigos. E isto é celebrado até o presente pelo povo judeu.
– Assuero, então, deu a Mardoqueu o lugar que era de Hamã. Mardoqueu passou a ser o segundo do reino.
Os judeus voltavam ao governo da Pérsia, tinham uma situação estabilizada, sua identidade e existência conservadas, a fim de que o Senhor pudesse cumprir o plano de redenção da humanidade.
Com esta estabilização, poderia o Senhor cuidar para que os judeus da terra de Canaã tivessem restaurado o ensino e aplicação da lei até a chegada do Messias, papel que o Senhor reservaria para Esdras e Neemias.
– Na história de Ester, ainda, vemos uma tipologia da redenção da humanidade.
Assim como os judeus foram libertos por causa da ação de Mardoqueu, um servo honrado pelo rei a quem agradou, de igual maneira a Igreja foi salva pela ação de Cristo Jesus, o Filho que agradou ao Pai.
– Mardoqueu, Ester e o povo judeu em geral alcançaram o livramento porque não tiveram medo em expor as suas vidas pela fé em Deus.
Nós também seremos salvos, alcançaremos a glorificação, se não tivermos a nossa vida por preciosa, mas, a exemplo do apóstolo Paulo, contanto que cumpramos com alegria a nossa carreira e o ministério que recebemos do Senhor Jesus para dar testemunho da graça de Deus (At.20:24).
– Estamos dispostos a isto? Pensemos e sigamos os exemplos bíblicos dados no livro de Ester para servirmos ao Senhor com alegria e dedicação cada vez maiores.
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco