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LIÇÃO Nº 10 – MANSIDÃO TORNA O CRENTE APTO PARA EVITAR PELEJAS

LIÇÃO Nº 10 - MANSIDÃO TORNA O CRENTE APTO PARA EVITAR PELEJAS topo

A mansidão reflete toda a nossa submissão a Deus e só os que se submetem ao senhorio de Cristo viverão com Ele eternamente.

INTRODUÇÃO

– Seguindo a sequência de Gl.5:22, estudaremos a oitava qualidade do fruto do Espírito, a saber, a mansidão, uma das qualidades que está vinculada ao relacionamento da pessoa consigo mesma.

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Quando somos submissos a Deus, bem sabemos qual é o nosso lugar na ordem universal, reconhecendo que, assim como elas, somos apenas mordomos de Deus.

– A mansidão é o resultado da submissão do homem a Deus. Quando falamos em mansidão, observamos, claramente, que quem desobedece a Deus é arrogante, é soberbo por natureza. Cristo é o nosso modelo de mansidão.

Ele mesmo disse que era manso e humilde de coração (Mt.11:29).

I – O QUE É MANSIDÃO

– Diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa que mansidão é “qualidade ou condição do que é manso; brandura de gênio ou de índole; brandura na maneira de expressar-se; doçura, meiguice, suavidade.”

Segundo os lexicógrafos, a palavra “mansidão” vem da raiz “mans” que, “…segundo Corominas, “está documentado en el Liber Glossarum compuesto en España h. el a. 700 (CGL V, 220.40)”; observe-se que mansuétus é o part.pas. do v. mansuesco,is,évi,étum,ère ‘acostumar-se à mão (ou ao poder) do dono; amansar-se, domesticar-se’ (de manus ‘mão’ + suescère ‘ter costume’)…”.

– Pelo que se vê da raiz da palavra “mansidão”, portanto, temos que “manso” é aquele que se acostuma ao poder de um dono, aquele que se domestica, ou seja, aquele que passa a seguir as regras da casa de alguém, aquele que se submete ao poder de alguém.

Neste sentido, aliás, é que falamos em animais amansados ou mansos, isto é, animais que aprenderam a obedecer ao homem, ao contrário dos animais selvagens, que são animais que não se submetem a ordens nem a vontades dos homens.

– A mansidão é o resultado da aceitação do senhorio de alguém, é a submissão à autoridade de alguém.

O homem, ao contrário dos animais domesticados, amansados, é portador de liberdade, de livre-arbítrio, ou seja, tem a capacidade de escolher entre o bem e o mal.

Por isso, o Senhor, ao criar o homem, disse que ele poderia comer “livremente” de todas as árvores do jardim, mas não da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn.2:16,17), mostrando, assim, que havia um senhorio de Deus a ser observado pelo ser humano, mas que este mesmo ser humano era livre, ou seja, poderia, ou não, se submeter a este senhorio.

– Ora, como bem sabemos, o homem não obedeceu a Deus, tendo comido do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, desobediência esta que importou na morte espiritual, ou seja, na separação entre Deus e o homem.

A partir deste momento, o homem passou a ser sujeito ao pecado, porquanto, ao invés de ser como Deus, como mentira o adversário (Gn.3:5), o homem, apesar de saber o bem e o mal (Gn.3:22), não se tornou senhor como é Deus, mas, bem ao contrário, passou a ser escravo do pecado, circunstância que foi demonstrada por Deus a Caim (Gn.4:7) e por Jesus aos judeus (Jo.8:34) como sendo a triste realidade do pecador, que, assim, como bem descreveu Paulo, faz aquilo que não quer (Rm.7:17-24).

– O pecador, portanto, tornou-se servo do pecado, filho da desobediência (Ef.2:2) e, por natureza, passou a ser filho da ira, pois faz a vontade da natureza pecaminosa que habita nele (Ef.2:3).

Deste modo, não há como o pecador ser manso, mas, bem ao contrário, é alguém que trata duramente o semelhante, que, inclusive, quer a sua própria eliminação, como vemos no próprio caso de Caim, que a Bíblia diz que matou seu irmão porque era do maligno, ou seja, porque estava, como Deus já lhe alertara antes, sob o domínio do pecado (I Jo.3:12a).

– Quando retorna à comunhão com o Senhor, passando a ser “filho de Deus” (Jo.1:12), voltamos a ser “filhos da obediência” e, por sermos obedientes a Deus, não entramos em conflito mais com os outros a partir de nosso “eu”, daí porque nos tornarmos aptos para evitar pelejas. Como afirma Tomás de Aquino:

 “…Por isso, às iras não se assinala mais que uma virtude, a mansidão…” (Suma Teológica. Trad. de Armando Bandera González et alii. I-II, q. 60, a.5, r.4, p.462) (tradução nossa de texto em espanhol) e, também, ao salientar que a contraposição da mansidão é a inveja (op.cit., I-II, q. 70, a.4, p.536).

O Aquinate ainda diz: “…a mansidão é a que modera a ira, como diz o Filósofo.…” (op.cit., II-II, q. 157, a.1. Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/4317 Acesso em 19 nov. 2016).

– Neste sentido, é importante vermos que a mansidão tem um efeito importantíssimo, que é o de nos fazer observar a Palavra de Deus.

Assim ensina Tomás de Aquino, citando Agostinho: “…Assim, a ira, que a mansidão abranda, impede soberanamente, pelo seu ímpeto, a alma do homem de julgar livremente da verdade.

E por isso, a mansidão é a que sobretudo o torna senhor de si. Donde o dizer a Escritura: Filho, conserva a tua alma na mansidão [citação do livro apócrifo de Eclesiástico 11:31, observação nossa] (…) A mansidão nos prepara ao conhecimento de Deus, removendo–nos os impedimentos. E isto de dois modos.

Primeiro, tomando–nos, pela diminuição da ira, senhores de nós mesmos, como dissemos.

E depois porque é próprio da mansidão não contradizer as palavras da verdade, o que às vezes muitos fazem levados pela comoção da ira.

Por isso, diz Agostinho: Ser humilde é não contradizer à divina Escritura, quer quando, entendendo–a, vemos que coluna certos vícios nossos; quer quando não a entendemos como se pudéssemos saber e mandar melhor que ela.…” (op.cit., II-II, q. 157, a.3. Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/4320 Acesso em 19 nov. 2016). Charles Spurgeon, seguindo este mesmo pensamento, afirma: “…A grande lição do Evangelho é nos ensinar a ser mansos — a nos despojar de nossos espíritos altivos e raivosos e nos fazer humildes de coração…” (O manso e humilde. Sermão pregado na manhã de domingo do dia 31 de julho de 1859 em Music Hall, Royal Surrey Gardens. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols4-6/chs265.pdf Acesso em 19 nov. 2016).

– A mansidão, por promover esta mudança de conduta com relação ao próximo, embora seja uma qualidade voltada para si mesma, mostra ser uma qualidade fronteiriça entre o amor a si mesmo e o amor ao próximo, pois.

– No Antigo Testamento, a primeira palavra usada para “manso” é “anav”(ענן ), que significa “estar inclinado” e que aparece por cerca de vinte vezes no texto sagrado (v.g., Nm.12:3; Sl.22:26; 25:9; 37:11; 76:9; 147:6-“humildes” na ARC; Is.11:4-“pobres” na ARC; 29:19; 61:1; Am.2:7-“pobres” na ARC; Sf.2:3a).

Segundo J.C. Connell, “…o adjetivo (…) significa basicamente pobre e aflito, de onde se deriva a qualidade espiritual de submissão paciente e de humildade…”(Mansidão. In: O Novo Dicionário da Bíblia, v.2, p.993). Esta palavra designa alguém que está sob autoridade, que admitiu a supremacia de alguém sobre si.

Neste sentido, aliás, surgiu o costume ainda hoje observado em alguns países de se inclinar perante uma autoridade, em sinal de respeito e de submissão (como se vê em II Rs.5:18,19).

Além desta palavra, há, ainda, a palavra hebraica “anavah” (ענןי ), derivada de “anaw”, que tem o significado de “gentileza”, “humildade”, que ocorre por quatro vezes no Antigo Testamento, três das quais no livro de Provérbios, que é um manual moral por excelência (Sf.2:3b; Pv.15:33; 18:12 e 22:4 – “humildade” na ARC), bem como sua variação, “anvah”(ענןיח ), cujo significado parece ser mais o de “suavidade”, “brandura”, que ocorre por duas vezes, em Sl.45:4 e 18:35, em textos em verso, o que poderia explicar a variação do termo.

– Em o Novo Testamento, a palavra grega é “praus” ou “praos” (πραυς) e seus derivados (como o substantivo “praútes” ou “praotes”), que “…se refere a uma atitude interior, enquanto que a gentileza se expressa antes por meio de ações externas(…).

Os mansos não se ressentem com a adversidade porque aceitam tudo como efeito do sábio e amoroso propósito de Deus para com eles…”(CONNELL, J.C. op.cit., p.992-3).

II – O QUE É SER MANSO

– Pelo que podemos verificar, portanto, a mansidão é mais uma daquelas qualidades do fruto do Espírito que são adquiridas com o tempo, com o desenvolvimento da vida espiritual.

Não ficamos mansos de imediato, mas através de um aprendizado. Por isso, o próprio Jesus nos aconselhou a aprender d’Ele que é manso e humilde de coração (Mt.11:29) e, na vida de Moisés, “… mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra…”(Nm.12:3), vemos que esta mansidão excelente foi trabalhada num período de pouco mais de oitenta anos de vida.

– A mansidão é adquirida pois se trata de um costume de estar sob o poder de alguém.

O manso se acostuma a estar sob o senhorio de alguém e, quando dizemos que há costume, dizemos que há um hábito, pois costume é “…o uso geral, constante e notório, observado sob a convicção de corresponder a uma necessidade…” (GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil, 2.ed., p.43).

O costume é o resultado de uma prática continuada de ações e de atitudes por causa de uma convicção de que é necessário realizar estas ações e estas atitudes daquela maneira, daquele modo.

A mansidão, portanto, é o efeito de uma prática constante de ações sob a autoridade divina, sob a direção de Deus, é o resultado de uma convicção, de uma certeza de que é necessário seguir a orientação de Deus no dia-a-dia, no cotidiano.

OBS: No Amazonas e no Pará, é chamado de “manso” o indivíduo, especialmente o seringueiro, adaptado à vida do seringal e aos hábitos regionais.

Esta expressão é muito elucidativa, porque nos mostra que a mansidão é fruto da adaptação. Um homem manso é aquele que se adapta à natureza divina, que ganha a natureza da videira verdadeira.

– Moisés, no início da sua vida, criado como príncipe egípcio, formado em toda a ciência egípcia, embora tenha compreendido que tinha de se posicionar ao lado de seu povo, embora tivesse guardado os ensinamentos de sua mãe Joquebede e crido no Deus de Abraão, Isaque e Jacó, não tinha este costume ainda.

Ao matar o egípcio que feria um hebreu (Ex.2:11,12), logo tomou a decisão de matar o egípcio e achava ter feito aquilo de forma encoberta. Entretanto, tudo foi descoberto e Moisés acabou de ter de fugir do Egito, porque tinha de adquirir o hábito de seguir a direção de Deus, de estar sob o comando de Deus e não de tomar as rédeas do que achava certo e correto, de se pôr acima de tudo e de todos.

Só quando aprendeu esta lição, de ter uma prática de submissão a Deus, é que pôde alcançar a condição de homem mais manso da terra.

– Quando aceitamos a Cristo como nosso Senhor e Salvador, dizemos que passamos a ser servos de Deus, ou seja, reconhecemos que quem passa a mandar em nossas vidas é Deus e não mais nós mesmos, não mais a nossa vontade. Este é o início da nossa mansidão.

Deus, diz a Bíblia, requer de nós tão somente a obediência (Dt.10:12; Mq.6:8).

A partir do momento que passamos a obedecer-Lhe, vamos nos tornando cada vez mais mansos, fazendo-nos semelhantes ao próprio Cristo. Nossa caminhada para o céu com Cristo deve ser feita “com mansidão e humildade’ (Ef.4:1,2).

– Mansidão é brandura de gênio ou de índole, ou seja, o manso é uma pessoa que oferece pouca resistência à pressão, mole, tenro, macio.

O manso, quando orientado pelo Senhor, quando dirigido pelo Senhor, não resiste a esta orientação, a esta direção e rapidamente segue o curso determinado por Deus na sua vida.

O manso adapta-se rapidamente à vontade divina, não endurece o seu coração e satisfaz aos desígnios divinos.

Voltando a Moisés, que é tomado como exemplo porque a própria Bíblia diz que era o homem mais manso do seu tempo, vemos que era alguém que, mui velozmente, adaptava-se à vontade do Senhor, depois que adquiriu o hábito de se submeter ao senhorio de Deus.

Seu contraponto, porém, foi, primeiramente, Faraó e, depois, a própria geração responsável de Israel, que eram de dura cerviz, obstinados, ou seja, que se recusaram a se submeter à vontade de Deus, que não aceitaram o domínio de Deus sobre suas vidas e a consequência desta dureza foi a sua morte, o seu perecimento, pois não há como resistir a Deus e quem endurece o seu coração, quem endurece a sua cerviz é inevitavelmente quebrado, inutilizado.

Nunca devemos nos esquecer das palavras do rei Josafá: “Ah! SENHOR, Deus de nossos pais, porventura, não és Tu Deus nos céus? Pois Tu és dominador sobre todos os reinos das gentes e, na Tua mão, há força e poder, e não há quem Te possa resistir. “(II Cr.20:6).

– Muitos têm tolamente resistido à vontade de Deus, endurecendo a sua cerviz, agindo obstinadamente, como se isto fosse produzir algum resultado benéfico para suas vidas.

O resultado disto é que se tornam pessoas cada vez mais violentas, mais cruéis, mais impiedosas, mais vingativas, cavando a sua própria cova, pois serão destruídas pelo Senhor.

 Que tenhamos o mesmo sentimento de Pedro que, diante da igreja de Jerusalém, disse: “…quem era, então, eu, para que pudesse resistir a Deus?” (At.11:17).

Lembrando, ainda, a famosa alegoria de John Bunyan, o Peregrino, lembramos que a personagem denominada de Obstinado foi, precisamente, aquela que nem sequer iniciou a sua jornada para a cidade celestial. A obstinação é própria de quem nem sequer se converteu.

OBS: Embora seja uma expressão muito corriqueira entre os crentes, é bom que lembremos aqui o que significa “cerviz dura”.

Cerviz é a parte posterior do pescoço, ou seja, a nuca. Ter cerviz dura significa não ser capaz de curvar o pescoço, ou seja, não ser capaz de se submeter, não ser capaz de se humilhar, não ser capaz de se pôr sob o senhorio de alguém, isto é, na linguagem popular, “não baixar a cabeça para ninguém”.

– Quem é brando na sua índole, no seu gênio, ou seja, quem não resiste à voz ou à vontade de Deus, acaba sendo, igualmente, brando na sua maneira de se expressar com o próximo, com o semelhante.

A mansidão envolve este modo gentil de se dirigir ao outro, uma delicadeza no trato com as pessoas.

Deus mostra-nos que é um ser manso, delicado, quando, ao Se revelar ao profeta Elias, não o fez nem no forte e grande vento, nem no terremoto, nem no fogo, mas, sim, numa voz mansa e delicada (I Rs.19:11,12) e, observemos, a palavra do Senhor não era elogiosa para com o profeta, mas uma exortação.

Mansidão, portanto, não se confunde com falta de autoridade nem tampouco com situações de elogio ou de exaltação.

É indispensável que, ao sermos confrontados com a nossa fé, devemos, diz o apóstolo Pedro, responder com mansidão àqueles que indagam da razão da esperança que há em nós (I Pe.3:15).

Temos sido testemunhas vivas da transformação de Cristo em nossas vidas ou a dureza e aspereza de nossas palavras tem impedido que Deus Se manifeste em nossas vidas aos que nos cercam ?

– A brandura de expressão para o próximo só traz vantagens ao ser humano.

O sábio Salomão assevera que “a resposta branda desvia o furor”, enquanto que “a palavra dura suscita a ira” (Pv.15:1), de forma que, percebemos claramente que a dureza de expressão tem como efeito tão somente despertar a ira no próximo, o que pode trazer consequências nefastas para a pessoa que proferiu esta palavra dura, porquanto, como afirmam as Escrituras, tudo aquilo que plantarmos será colhido por nós mesmos (Gl.6:7).

 Assim, se suscitarmos ira, resistência, ódio, recalque em nossos semelhantes, iremos colher exatamente isto em relação a nós e criarmos situações difíceis e embaraçosas no futuro que não poderemos considerar como tendo sido provações divinas ou ciladas do diabo, mas que são tão somente resultados de nossas próprias ações.

Neste ponto, aliás, devemos ter muito cuidado com a dureza de palavras aos nossos filhos.

A repreensão e disciplina são necessárias e imprescindíveis na educação dos filhos, mas a dureza de palavras tem o efeito de tão somente suscitar ira em nossos filhos e a Palavra de Deus é claríssima ao nos dizer que não devemos provocar a ira a nossos filhos (Ef.6:4a).

Exemplo de brandura de resposta que desviou o furor, aliás, temos em Gideão que, após vencer os midianitas, foi interpelado pela tribo de Efraim que, entretanto, foi apaziguada e reconheceu a liderança do novo juiz de Israel tão somente diante da resposta branda dada por Gideão que, apesar da estupenda vitória militar alcançada, manteve sua mansidão (Jz.8:1-3).

O resultado desta brandura é que conquistou tanta popularidade e unidade em todo o Israel que até lhe quiseram fazer rei (Jz.8:22).

– Nada perdemos em usar palavras gentis com aqueles que nos cercam. Aliás, este é um dos significados de “meiguice”, que é um dos significados de “mansidão”.

A meiguice caracteriza-se por ser “…sentimento, ato, dito, gesto que denota afeição; gentileza, carinho, afabilidade, bondade; efeito doce, suave e muito agradável; suavidade, brandura” e, no plural (isto é, “meiguices”), “gestos afetuosos; afagos, carinhos; palavras gentis.”

A mansidão caracteriza-se, também, não apenas por palavras gentis, mas também por intermédio de gestos afetuosos, de afagos, de carinhos.

Todos sabem como o ambiente afetivo da família é demonstrado por meio de ações carinhosas, que são reveladoras da mansidão existente.

Nos dias em que vivemos, em que as pessoas estão cada vez mais embrutecidas, tem-se defendido a ideia de que devemos ser mais afetuosos, e isto se demonstra de forma sem igual através de ações como os carinhos e os gestos gentis.

Uma técnica (que entendemos esteja sendo abusivamente utilizada inclusive nas igrejas atualmente) é a do incentivo e estímulo ao contacto físico entre as pessoas, através de troca de expressões, de apertos de mão, enfim, de atitudes que determinem uma transmissão de afeto entre pessoas.

– A Bíblia dá-nos conta de que Moisés, ao partir para o Egito, depois de ter sido chamado por Deus no monte Horebe, acabou tendo de circuncidar seu filho, ante uma severa aparição divina, o que fez com que sua mulher Zípora o chamasse de “esposo sanguinário” (Ex.4:24-26).

Esta passagem bíblica, que causa, às vezes, alguma estranheza, revela-nos dois pontos importantes sobre o caráter de Moisés quando estava assumindo a sua missão:

em primeiro lugar, mostra que Moisés não quis resistir ao Senhor, tanto que Zípora acabou por circuncidar o filho;

em segundo lugar, que, até então, Moisés jamais obrigara sua mulher a fazer algo drástico, algo dolorido, como era a circuncisão do filho, ou seja, tinha sido, até ali, um marido gentil, agradável, afetuoso, tanto que Zípora passou a designá-lo de esposo sanguinário por causa da circuncisão.

Em suma, o episódio mostra-nos que Moisés era um homem manso, ou seja, estava pronto para exercer o ministério que lhe estava reservado desde o seu nascimento.

– As Escrituras também nos mostram que Jesus era afetivo, carinhoso, brando em suas expressões.

A Natanael, disse que ali estava um israelita em que não havia dolo, palavras gentis que levaram à conversão daquele homem.

À mulher samaritana, de forma serena e delicada, fez com que houvesse a confissão da irregularidade moral de sua vida, como também de forma branda livrou a mulher adúltera da fúria de seus acusadores.

Com as crianças, pô-las no meio e lhes fez carícias, impondo-lhes as mãos. Nunca impediu João de encostar sua cabeça em Seu peito e jamais deixou de trazer palavras encorajadoras aos Seus discípulos.

Até mesmo ao perseguidor Paulo, foi suave em Sua firme palavra na estrada de Damasco. Não é por acaso que a Igreja tem, ao longo de sua história, identificado o seu Senhor como “o meigo Nazareno”.

– A meiguice de Cristo, aliás, faz-nos ver que “meigo” significa “dotado de sentimentos gentis, ternos; carinhoso; inspirado pela bondade, gentileza; afável, meigoso; que causa impressão agradável; suave, ameno, brando.” A palavra “meigo” vem do grego “magikós”, que deu origem ao latim “magicus”, de onde veio a nossa palavra “mágico”.

“Meigo”, portanto, é “aquele que encanta”, “aquele que atrai”, “aquele que causa impressão agradável”.

Era isto precisamente o que fazia Jesus, tanto que sempre o Senhor é visto seguido por uma multidão durante o Seu ministério.

Jesus tinha prazer em estabelecer relacionamentos com as pessoas e Se mostrar agradável a elas.

Somente assim conseguia delas Se aproximar e apresentar a Sua mensagem.

Será que temos causado impressões agradáveis aos que nos cercam ou temos preferido um comportamento de santarronice, de separação e distância de todos os que estão à nossa volta.

Nos dias de Jesus, havia um grupo de pessoas que assim procedia e que, por quererem viver separados do restante das pessoas receberam o nome de “separados”, ou, usando a língua aramaica, “fariseus”.

Lembram-se, amados, do que Jesus achava deles? Se não, leiam Mt.23.

OBS: Como afirma o psiquiatra Augusto Jorge Cury, “…afora Seus momentos de interiorização e meditação. Ele [Jesus, observação nossa] esteve sempre procurando convívio social.

Já analisei muitas pessoas sociáveis e posso garantir que Cristo foi uma das mais sociáveis que já estudei.

Tinha prazer de conviver com as pessoas. Estava sempre mudando de ambiente a fim de estabelecer novos contatos. Frequentemente tomava a iniciativa de dialogar com as pessoas.

Deixava-as curiosas e prendia a atenção delas. Gostava de dialogar com todas as pessoas, até as menos recomendadas, as mais imorais.

Fazia questão de procurá-las e estabelecer um relacionamento com elas.

Por isso, escandalizava os religiosos da sua época, o que comprometia a sua reputação diante do centro religioso de Jerusalém.

Porém o prazer que sentia ao Se relacionar com o ser humano era superior às consequências da Sua atitude, da má fama que adquiria, para a qual Ele, aliás, não dava importância; o que importava era ser fiel à Sua própria consciência.(…).

Sua delicadeza para incluir e cuidar das pessoas excluídas socialmente representava um belo retrato de Sua elevada humanidade.

Embora os fariseus tivessem preconceito contra Cristo, o mesmo não ocorria por parte de Cristo.…” (CURY, Augusto Jorge. Análise da inteligência de Cristo, 3.ed., p.187-8).

III – O QUE NÃO É SER MANSO

– Certas condutas são, vez por outra, confundidas com a mansidão, embora com elas nada tenham a ver.

 A primeira delas é a covardia e a timidez.”…Não devemos confundir mansidão e humildade com covardia e timidez. A covardia é o medo, a falta de coragem para agir.

 Isto não condiz com o comportamento do cristão, que é instruído pela Palavra de Deus a ser forte e corajoso para com a obra de Deus.

 A timidez é falta de confiança, é a desconfiança da pessoa que receia a audácia e o arrojo, caracteriza-se pela insegurança, não é compatível com a conduta do cristão.…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.79).

OBS: “…A coragem não é de modo algum incompatível com a ternura. Pelo contrário, a doçura e a ternura têm muitas vezes sido o característico dos homens e das mulheres que praticavam ações corajosas.

(…) O homem corajoso pode, mais do que qualquer outro, ser generoso, ou, para melhor dizer, está na sua natureza sê-lo.

(…). O homem bravo é tão magnânimo como manso. Não ataca ninguém, nem mesmo um inimigo, numa situação desfavorável e tem piedade de um homem caído, incapaz de se defender (…).

O retrato que o grande pagão Aristóteles nos traçou há mais de dois mil anos do Homem Magnânimo, ou noutras palavras, do verdadeiro cavalheiro, é hoje tão fiel como então.…” (SMILES, Samuel. O caráter. Trad. de D.Amélia Pereira, p.180-5).

– Muitos procuram esconder sua covardia sob uma roupagem de mansidão.

Dizem ser mansos e, por isso, não dizem o que deve ser dito, não fazem o que precisa ser feito.

Não repreendem os errados, fazem “vistas grossas” para os erros e pecados que testemunham, pensando, com isso, cumprirem o dever de ser mansos.

Todavia, a mansidão, como vimos, é resultado da submissão a Deus, é uma atitude de gentileza, de brandura, mas jamais se confunde com uma tolerância com o erro e com o pecado.

“…Assim como Moisés e Jesus foram exemplos de mansidão e humildade, mas houve momentos que precisaram agir com firmeza, com coragem em defesa da causa justa, os crentes também devem ser corajosos, destemidos, lutarem pela boa causa, sem perder a mansidão e a humildade…” (SILVA, Osmar José da. op.cit., p.77).

Moisés era o homem mais manso da terra, mas agiu com firmeza na rebelião de Core, Datã e Abirão, a ponto de a terra se abrir e engolir os rebeldes vivos.

 Jesus nunca deixou de ser manso, mas interrompeu a ação dos vendilhões do templo de Jerusalém.

– A mansidão caracteriza-se por uma atitude de brandura, de suavidade no que precisa ser feito, mas, de modo algum, significa o recuo, o medo que impede a tomada de atitudes.

O crente deve ser alguém firme e pronto a testemunhar, com palavras e obras, a fé que tem em Cristo Jesus, sem que para isto precise ser ríspido, duro ou alguém que maltrate o próximo.

Enquanto é dito que os mansos herdarão a terra (Mt.5:5), também as Escrituras mostram que os tímidos, os covardes ficarão de fora da Nova Jerusalém (Ap.21:8). Isto basta para nos mostrar que ser manso não é ser covarde nem tímido.

OBS: Cavalo manso é aquele que é dócil ao cabresto, mas que não se deixa montar, ou seja, é aquele cavalo que reconhece a autoridade do jugo, mas que não se deixa comandar por qualquer um, que não se submete a alguém que não seja o cabresto. Assim deve ser o crente: dócil à Palavra do Senhor, mas não se deixar dominar por qualquer outro que não seja o seu Senhor.

– A mansidão também é confundida, por vezes, com a insensibilidade. Entendem alguns que uma pessoa mansa é uma pessoa que não seja capaz de se irritar, de ficar nervosa, uma pessoa que tenha superado as emoções e os sentimentos, algo como os “gurus” e “mestres” das religiões orientais, que buscam reprimir as dores e irritações. Nada mais enganoso.

Os mansos são seres humanos e, como homens, ainda estamos neste corpo de carne e sangue e, portanto, sujeitos a ter sentimentos e emoções.

A irritação momentânea, a ira é própria do homem, mas isto não quer dizer que, por causa destes instantes, venhamos a perder a mansidão.

 A Escritura diz-nos que não é proibido que nos iremos, o que não podemos é pecar (Ef.4:26).”…O que Paulo quis dizer, mui provavelmente, é:’ Quando fordes assaltados pela ira, que ela seja de pouca duração, para que não prejudique a vós mesmos e a outros.…”(CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento Interpretado, v.5, com. Ef.4:26, p.27).

– A ira vem repentinamente, como reação natural do nosso ser, mas não pode ser aninhada nem cultivada, pois, se assim fizermos, aí, sim, estaremos pecando.

Entretanto, o manso, como é submisso a Deus, não permite que seu “ego” cultive e aninhe a ira que sobrevém. Por isso, “…é errado pensar que Jesus não estava manso quando expulsos os cambistas do templo…” (SILVA, Osmar José da. op.cit., p.80).

OBS: “…A Bíblia não diz que não devemos sentir ira, mas insiste que é importante controlar adequadamente essa manifestação de desagrado. Se declarada de modo impensado, a ira pode ofender os outros e destruir relacionamentos.

Se a ira permanecer em nosso interior, poderá nos deixar amargurados e nos prejudicar. Paulo diz que devemos nos controlar imediatamente de forma a construir relacionamentos e não destruí-los. Mas, se alimentar a nossa ira, estaremos dando a Satanás a oportunidade de nos dividir.

Será que, neste momento, você está irado com alguém ? O que você pode fazer para resolver essa discórdia? Não deixe que o dia termine antes de começar a agir para reparar seu relacionamento.…” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, com. Ef.4.26,27, p.1652).

IV – A MANSIDÃO DIVINA

– Como filhos de Deus temos de ser mansos, precisamente porque o nosso Pai é manso. A Bíblia mostra-nos que Deus é manso, tanto o Pai quanto o Filho.

– Em Sl.18:35, o salmista fala da mansidão de Deus, que engrandece o homem.

Deus é manso, portanto, uma vez que tem mansidão, mansidão que permite o engrandecimento do homem.

Vemos por esta expressão do salmista, que Deus é manso porque vem ao encontro do homem para atendê-lo.

A expressão do salmista, aliás, consta na Versão Almeida Atualizada como “a Tua clemência me engrandeceu” e na Nova Versão Internacional, como “desces ao meu encontro para exaltar-me” ou, ainda, na Bíblia de Jerusalém, “me atendes sem cessar”.

Toda vez que Deus atende a um pedido nosso, toda vez que Se inclina para nos ouvir (cfr. Sl.40:1), Deus mostra a Sua mansidão, pois, apesar de toda Sua glória e majestade, vem até o nosso encontro para ouvir e atender às nossas súplicas.

Aquele que não precisaria Se curvar, pois é o Senhor de todas as coisas, não endurece Sua cerviz e vem ao nosso encontro, porque é manso. Aleluia!

– A mansidão do Senhor é a única razão pela qual Ele desce para livrar Seu povo, como fez com Israel quando este estava cativo no Egito (Ex.3:7,8), gesto que repetiria ao longo da história de Israel, como nos mostra, por exemplo, o livro dos Juízes.

Esta mesma disposição continua nos nossos dias, pois tem ouvido a cada pecador que suplica o Seu perdão e vindo fazer morada no coração de cada salvo.

Porque o Senhor vai até o nosso encontro no charco de lodo em que estamos e onde Lhe clamamos, é que podemos hoje ter nossos pés firmados na rocha e ter um novo cântico em nossa boca (Sl.40:2,3).

– Como Deus é manso, o crente pode ter a mesma confiança do salmista, que, por diversas vezes, pede ao Senhor que inclinasse os Seus ouvidos para o seu clamor (Sl.17:6; 31:2; 29:12; 54:2; 71:2; 86:1; 88:2; 102:2; 141:1; 143:1, entre outros), confiança esta que também era do rei Ezequias (II Rs.19:16; Is.37:17).

Nosso Deus não é um Deus distante, um Deus ausente, um Deus tão grande que não podemos chegar à Sua presença, como defendem os chamados “deístas”, pessoas que acreditam na existência de Deus mas que não creem que Ele possa intervir em favor do homem.

Nosso Deus é um Deus presente, um Deus pronto a inclinar os Seus ouvidos para nós e a nos atender.

Este é o nosso Deus, o Deus manso, o Deus que Se inclina para ouvir o clamor de um tão pobre pecador!

– A mansidão de Deus é demonstrada na forma como Se manifestou a Elias, como já dissemos acima.

Num instante muito delicado da vida espiritual do profeta, onde o desânimo estava presente, Deus, que havia respondido com fogo no monte Carmelo, que havia atendido às orações do profeta, surge não como um vento, não como um terremoto, nem como fogo, mas numa voz suave e delicada. Este é o nosso Deus!

– A máxima demonstração da mansidão divina foi a Sua humanização. Quando Deus Se fez homem, revelou quão manso era, pois não só Se inclinava a ouvir o homem, como assumiu a forma de homem, humilhou-Se, para que estivesse ao alcance do homem(Fp.2:5-8). Daí porque Jesus ter dito que era manso e humilde de coração (Mt.11:29).

– A mansidão de Cristo já fora profetizada pelo salmista que, no Sl.45, ao falar do Messias, “o mais formoso dos filhos dos homens”, O apresenta como um cavaleiro que, no esplendor divino, cavalgava pela causa da verdade, da mansidão e da justiça e que seria o Mestre de coisas terríveis (Sl.45:2-4).

Jesus, portanto, já fora apontado como sendo alguém que trilharia pelo caminho da mansidão, ou seja, pelo caminho da obediência, da sujeição, da brandura, da meiguice.

– Na descrição da trajetória de Cristo, feita por Paulo na carta aos Filipenses, é dito que Cristo foi obediente até a morte e morte de cruz (Fp.2:8), ou seja, na Sua obediência, fez-Se até maldito em lugar de todos os pecadores, mas não deixou de trilhar o caminho da mansidão e nós, Seus servos, que devemos seguir as Suas pisadas, não podemos ter, em hipótese alguma, um caminho diferente.

Jesus mesmo disse que havia vindo para cumprir a vontade do Pai (Jo.5:30) e esta deve ser a tônica de todo cristão.

– Como já dissemos, Jesus notabilizou-Se por Sua mansidão, tanto que passou a ser conhecido como “o meigo Nazareno”, expressão que bem reflete quem era o Senhor.

Como sabemos, Nazaré era cidade que não gozava de prestígio entre os judeus.

Além de se situar na Galileia, era cidade tão pequena e tão desprezada que nem sequer foi elencada em todas as listas das localidades galileias do tempo de Cristo, como nos dá conta a relação dada pelo grande historiador Flávio Josefo, ele mesmo um dos líderes judeus na revolta contra os romanos na Galileia.

Assim, um nazareno era tido como pessoa de má reputação, como pessoa desprezível, daí porque Natanael ter dito a Filipe: “pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Jo.2:46a). No entanto, Jesus passou a ser conhecido como a coisa boa de Nazaré, o “meigo Nazareno”, a comprovar como Seu comportamento e conduta deixaram uma impressão agradável entre o povo.

OBS: Não temos conhecimento de quando surgiu a expressão “meigo Nazareno” em relação a Cristo, mas sabemos que ela é antiga e disseminada na Igreja, a ponto de constar, inclusive, no hino 208 da Harpa Cristã.

Verdade é que é uma das expressões prediletas dos espiritualistas, seja o espiritismo kardecista, seja o baixo espiritismo (em especial o umbandismo), mas esta apropriação por parte destes movimentos não pode ter o condão de retirar a origem nitidamente cristã da expressão.

Aliás, em entrevista, a comunicadora espírita Saara Nousiainei, brasileira de origem finlandesa, atacou o uso desta expressão pelos espíritas, denominando-a de um enfoque equivocado.

Reproduzimos, aqui, trecho desta entrevista para mostrar que o uso da expressão “meigo Nazareno” pelos espíritas não pode ser motivo para que não a utilizemos: “…. Outro enfoque equivocado é o do “meigo Nazareno”. Por que Jesus teria de ser meigo?

Será que o grandioso amor do Mestre, a sua elevação espiritual, torna-o necessariamente meigo, ou seja, doce, suave e brando, conforme informa o dicionário Aurélio? De alguém assim não se esperam atitudes corajosas, viris, nem educativas.

Certamente esse enfoque demonstra um equivocado resquício do cristianismo, apresentando-O como alguém ludibriável, fácil de ser levado na conversa, em razão da sua doçura, suavidade e brandura; alguém sempre disposto a relevar, fazer vista grossa, em vez de conduzir e educar.

Esse tipo de visão é próprio de quem está sempre querendo levar vantagens, sem assumir suas responsabilidades.

São detalhes pequenos, embutidos em enfoques equivocados, mas que mudam muita coisa.…” (entrevista de Terra Espiritual com Saara Nousiainen, apresentadora de programas espíritas no estado do Ceará e divulgadora da doutrina espírita

http://www.google.com/search?q=cache:2SW5A34Ie7UJ:www.terraespiritual.org/espiritismo/entrevista14.html+%22meigo+Nazareno%22&hl=pt-BR Acesso em 19 jan. 2005). Logicamente que o pensamento desta senhora está totalmente equivocado, como ainda analisaremos neste estudo, mas isto serve para mostrar como não é correto pensar que a expressão “meigo Nazareno” seja de origem espírita.

Sobre Nazaré, reproduzimos aqui o pensamento do pastor Ailton Muniz de Carvalho: “…A Nazaré dos anos cinco antes de Cristo até os dezesseis da Era Cristã era o que hoje são as favelas das grandes metrópoles mundiais.

Chamar alguém de Nazareno, na época de Cristo Jesus, era a mesma coisa que chamar, nos dias de hoje, um cidadão decente de traficante e delinquente.

Talvez os morros das mais temíveis favelas onde, supostamente, são controlados os que entram e os que saem, sejam mais sociáveis do que era, naquela época, a aldeia de Nazaré, onde Cristo Jesus foi criado e confinado até os trinta anos de idade.…” (CARVALHO, Ailton Muniz de CARVALHO. O Cristo Desconhecido, p.135).

– Jesus não apenas disse que era manso, mas o provou em todo o Seu ministério.

Tratou a todos com brandura, com suavidade, como já dissemos supra, tendo, nos momentos cruciais de Sua missão, quando mudo ficou diante dos Seus acusadores, demonstrado a que ponto chegava a Sua mansidão.

“…A mansidão suprema é exibida no caráter de Jesus (Mt.11:29; 21:5), demonstrada em grau superlativo quando Ele ficou perante Seus acusadores injustos sem proferir uma só palavra de réplica ou de autojustificação.…” (CONNELL, J.C. Mansidão. In: O Novo Dicionário da Bíblia, v.2, p.993).

– O Espírito Santo também é manso. A Bíblia diz que Ele vem até onde estamos e nos ajuda em nossas fraquezas e intercede com gemidos inexprimíveis em nosso favor (Rm.8:26,27).

Que é isto senão mansidão, senão Se inclinar para ouvir o nosso clamor? Além do mais, a Bíblia diz que o Espírito Santo é extremamente sensível, a ponto de Se entristecer conosco, entristecimento que causará o Seu afastamento, mas jamais a Sua retaliação (Ef.4:30; Sl.51:11).

– Neste ponto, aliás, vemos uma grande distinção entre Deus e os deuses pagãos.

Enquanto Deus Se mostra manso, capaz de Se inclinar para ouvir o mais humilde dos homens, enquanto Deus Se humaniza e Se faz maldito por nós para salvar o homem, os deuses pagãos são arrogantes e prepotentes.

A filosofia grega, para aqui mencionarmos o que tem sido considerado como o mais elevado conhecimento advindo de uma cultura pagã, considerava a mansidão como um vício, enaltecendo a autoconfiança como sendo uma das principais virtudes a serem buscadas pelo homem, até porque, para os pagãos, como diz Aristóteles, “…assim como um bruto não tem vício nem virtude, tampouco os tem um deus…”(Ética a Nicômaco, VII,1. In: Aristóteles(II), Os Pensadores, Nova Cultural, 1991, p.117). .

 “…Para Aristóteles, essa virtude [a mansidão, observação nossa] era um vício de deficiência.

Em seu sistema ético, ele relacionou doze virtudes principais, para cada uma das quais corresponderia um vício de deficiência e um vício de excesso.

No caso em foco, a magnanimidade aparece como a virtude; a humildade, ou mansidão, é o vício de deficiência e a vaidade é o vício do excesso.

Lemos sobre um general romano que ficou envergonhado de si mesmo porque, um dia, ao ver um escravo sendo maltratado, sentiu compaixão dele. A arrogância pagã continua predominando no coração humano.…” (CHAMPLIN, R.N. Mansidão.In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.4, p.60).

– É importante observar que o pensamento aristotélico de que o homem bom é o homem magnânimo e não o homem manso é um pensamento que encontra ressonância na atualidade no meio evangélico.

Conforme o filósofo grego, “…diz-se que é magnânimo o homem que, com razão, se considera digno de grandes coisas.(…).

O magnânimo, portanto, é um extremo com respeito à grandeza de suas pretensões, mas um meio-termo no que tange à justeza das mesmas; porque se arroga o que corresponde aos seus méritos, enquanto os outros excedem ou ficam aquém da medida.

Se, pois, ele merece e pretende grandes coisas, e essas cima de todas as outras, há de ambicionar uma coisa em particular.

O mérito é relativo aos bens exteriores; e o maior destes, acreditamos nós, é aquele que prestamos aos deuses e que as pessoas de posição mais ambicionam, e que é o prêmio conferido às mais nobres ações.

Refiro-me à honra, que é, por certo, o maior de todos os bens exteriores.…” (Ética a Nicômaco, IV,3. In: Aristóteles(II), p.67).

– Ora, não vemos aqui senão uma descrição fidedigna dos “supercrentes”, dos “crentes com direitos” da confissão positiva e da teologia da prosperidade, daqueles que põem Deus contra a parede, que “reclamam seus direitos de filhos de Deus” ao Senhor de todas as coisas.

São pessoas que não são mansas, mas magnânimas, que entendem que os mansos são crentes fracos, que ainda não conheceram a “dimensão da fé”.

Ao invés de concordarem com a Bíblia, ao invés de seguirem as pisadas de Cristo, que nos manda aprender d’Ele que era manso e humilde de coração, preferem fazer coro ao Estagirita (i.e., Aristóteles), e dizer, como ele, que, “…o homem que se considera menos merecedor do que realmente é, é indevidamente humilde, quer os seus méritos sejam grandes ou moderados, quer sejam pequenos, mas suas pretensões ainda menores. E o homem cujos méritos são grandes parece ser o mais indebitamente humilde: pois que faria ele se merecesse menos?…” (op.cit., p.67).

Graças a Deus que Jesus não pensava como Aristóteles e que, por isso, alcançou a nossa salvação! Podendo livrar-se dos Seus algozes mediante um simples chamado a legiões de anjos, tomou o meu e o seu lugar, amado(a), porque era manso e humilde de coração!

OBS: Percebemos nitidamente que a mansidão somente tem lugar quando estamos plenamente cientes de que não somos merecedores de coisa alguma da parte de Deus, nem antes nem depois da nossa salvação.

A salvação é resultado da graça de Deus, ou seja, do favor imerecido, do favor dado sem qualquer merecimento por parte de Deus.

Quando tomamos consciência disto, percebemos que somos iguais a todos os homens, não somos superiores a homem algum e, por isso, passamos a ser brandos, suaves, submissos a Deus, ou seja, mansos:

“…O cristianismo opõe-se inexoravelmente a qualquer crença de que a salvação envolva esforços próprios.

Todo mérito humano ▬ atos que nos fazem sentir melhor a respeito de nós mesmos ▬ precisa ser permanentemente afastado para que nos reconciliemos com Deus.…” (LUTZER, Erwin .A fraude do Código Da Vinci. Trad. de James Monteiro dos Reis, p.140).

V – REFERÊNCIAS BÍBLICAS À MANSIDÃO

– A mansidão, como não poderia deixar de ser, como uma das qualidades do fruto do Espírito, aparece, nas Escrituras, quase sempre vinculada a uma outra qualidade do fruto do Espírito.

É ela um aspecto do caráter divino e, portanto, não poderia ser encontrada em separado das demais características que formam este caráter que, uma vez incutido no homem quando este aceita a Cristo como Senhor e Salvador da sua vida, passa a formar o caráter do novo homem, da nova criatura, do ser regenerado que surge do nosso encontro com o Senhor.

– A mansidão é associada à justiça. Em Sf.2:3, é dito que os mansos devem buscar o Senhor, pois são mansos aqueles que põem por obra o Seu juízo, ou, para se utilizar aqui do texto da Nova Versão Internacional, “aqueles que fazem o que Ele ordena”.

Vemos, portanto, que a mansidão, como nasce da sujeição nossa ao Senhor, faz com que sejamos justos, pois, em fazendo aquilo que Deus nos manda, sempre faremos justiça, pois o Senhor é justo em Seus caminhos (Sl.145:17a).

Paulo, ao escrever ao filipenses, foi claro ao afirmar que a nossa equidade deveria ser notória a todos os homens (Fp.4:5).

No original grego, a palavra “epiekeia” (έπιεικεία) é traduzida, também, como “moderação” (ARA, Bíblia de Jerusalém) ou “amabilidade” (NVI), ou, ainda, “mansidão”, revelando, assim, como há uma indissociação entre a mansidão e a justiça. Como diz Scott, citado por R.N. Champlin, a mansidão é “imparcialidade, a disposição de dar e receber, ao invés de defender rigidamente os próprios direitos”. (apud CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento Interpretado, v.5, com. Fp.4:5, p.61). Conforme a lei da semeadura, os mansos, por atuarem sem ira, escaparão do dia da ira do Senhor, como nos revela Sofonias.

OBS:”… 5. «A vossa mansidão seja notória a todos os homens» (Fl 4, 5). Esta mansidão, com que o cristão é chamado a aproximar-se de cada pessoa, constitui para os discípulos de Cristo uma espécie de «carta credencial».

No decurso da Missão da Cidade, indo às casas e aos diversos ambientes de vida e de actividade da Metrópole, encontrareis irmãos e irmãs que esperam de vós gestos concretos de acolhimento, compreensão e amor.

Oferecei-lhes o testemunho da divina caridade. Talvez alguém, graças a vós, possa recomeçar a viver a fé de modo mais intenso; outros poderão aproximar-se dela pela primeira vez de maneira séria e convicta.

A vossa mansidão, que nasce da certeza de que o Senhor está próximo, permitir-vos-á entrar em contacto genuíno com as pessoas, com os jovens e com as famílias, transmitindo- lhes a Palavra que salva, o Evangelho da esperança e da alegria…”(JOÃO PAULO II. Homilia na Paróquia Romana de Santa Maria Domingas Mazzarello(14 dez.1997) http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/1997/documents/hf_jp-ii_hom_14121997_po.html Acesso em 20 jan.2005).

– A mansidão, portanto, encontra-se associada à justiça, mas a uma justiça aplicada com brandura, sem aspereza, sem dureza.

Devemos sempre temperar a aplicação da justiça com a brandura, jamais deixando de ser justos, pois estaremos sempre fazendo o que Deus nos manda, mas nunca agindo de forma a humilhar o próximo, desfazê-lo ou torná-lo em estado inferior à sua dignidade de ser humano.

A mansidão é o oposto deste tratamento rude, como podemos observar em versículos bíblicos que opõem um e outro comportamento, como se vê em I Co.4:21, em que Paulo distingue a vara do espírito de mansidão ou recomenda, em Gl.6:1, para que os pecadores sejam tratados com mansidão, pois este tratamento é próprio dos espirituais, o que torna a ensinar, desta feita para Timóteo, em II Tm.2:25. Em Tt.3:2, Paulo mostra que o tratamento com mansidão não admite que haja a desonra alheia.

Por fim, Tiago considera inadmissível que o tratamento proporcionado por um salvo a outrem possa ter qualquer malícia ou imundícia, pois devemos receber a palavra com mansidão (Tg.1:21).

– Estas referências bíblicas dão-nos bem a importância da mansidão no relacionamento entre os crentes e no relacionamento dos crentes com os incrédulos.

Se quisermos causar uma boa impressão de Cristo aos outros, precisamos ser brandos em nossas palavras e em nossas ações.

A rispidez e a ignorância, tão característicos em nossos dias, é um verdadeiro obstáculo à evangelização.

Ultimamente temos recebido várias notícias de pessoas que têm, inclusive, ido aos tribunais para processar igrejas locais, por causa de condutas antiéticas e atentatórias à honra de pessoas.

Se é verdade que existe hoje uma “indústria do dano moral”, também é, lamentavelmente, verdadeiro que muitos obreiros têm se esquecido da lição bíblica da mansidão e têm falhado no tratamento com os irmãos e com os incrédulos.

A Bíblia é claríssima ao exigir de cada salvo a brandura no falar e no agir. A aplicação da justiça e a disciplina coadunam-se perfeitamente com a mansidão, com a suavidade.

É este o comportamento biblicamente imposto aos servos do Senhor. Que possamos ser verdadeiramente mansos nos nossos relacionamentos, pois assim devemos andar (Ef.4:1,2).

– A mansidão também está relacionada com a benignidade. Paulo, escrevendo aos coríntios, apelou para a mansidão e benignidade de Cristo (II Co.10:1).

 Nem poderia ser de outro modo. Como já tivemos ocasião de estudar neste trimestre, a benignidade é a boa índole, é a pureza de coração e, quando temos esta pureza, naturalmente teremos o bem-querer em relação ao próximo.

Este bem-querer traduz-se por uma brandura e suavidade no tratamento com o semelhante.

Um exemplo de benignidade, de inocência vemos em Jeremias, que se equipara a um manso cordeiro que, inocentemente, é levado à matanças sem achar que tramam a sua própria morte (Jr.11:19).

O benigno é manso e vice-versa, são qualidades umbilicalmente ligadas.

Por isso, quando há a disciplina de algum crente, o comportamento de um verdadeiro salvo outro não pode ser senão o recomendado por Paulo em Gl.6:1.

 Com efeito, se somos espirituais, ou seja, se realmente formos ramos da videira verdadeira, queremos o bem do nosso irmão e, portanto, jamais o trataremos com aspereza, jamais o humilharemos quando for ele apanhado em alguma ofensa.

Antes, pelo contrário, quereremos que ele se arrependa e torne a gozar comunhão com o Senhor.

– A mansidão é, também, uma demonstração de sabedoria e de inteligência espiritual.

Tiago afirma que se alguém quer mostrar que é sábio e inteligente, que o mostre pelo bom trato (Tg.3:13). O temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl.11:10a).

Ora, somente temeremos a Deus, ou seja, Lhe daremos reverência, respeito, se Lhe prestarmos obediência e, conforme já vimos neste estudo, da obediência nasce a nossa mansidão.

Muitos querem demonstrar a sua sabedoria e inteligência espiritual através de “revelações”, de “profecias”, de conhecimento bíblico, quando, em verdade, somente pelo bom tratamento aos semelhantes, somente pela mansidão realmente mostraremos uma estatura espiritual de valor.

– A mansidão relaciona-se também com a longanimidade (Ef.4:2), pois, quando somos submissos à vontade de Deus, temos a nítida compreensão de que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo seu decreto.

A nossa submissão ao Senhor, geradora da nossa mansidão, faz com que tenhamos um ânimo longo, saibamos ser pacientes e capazes de suportar todas as circunstâncias adversas.

A mansidão de Cristo revelou-se magistralmente precisamente nos momentos mais difíceis, na Sua paixão e morte.

Ele tudo suportou, foi paciente, mas a mansidão se revela no exato instante em que passamos a nos resignar e a aguardar o tempo de Deus. Os lexicógrafos, com razão, definem a mansidão como “ausência de agitação, de pressa, de inquietação”.

– Irmã gêmea da mansidão é a humildade (Ef.4:2; Cl.3:12), que nada mais é que o sentimento de ausência completa de orgulho, um rebaixamento voluntário por um sentimento de fraqueza ou respeito.

Ora, a mansidão surge da nossa submissão a Deus e, portanto, quando nos submetemos ao Senhor, reconhecemos nossa fraqueza e renunciamos a nós mesmos.

A mansidão segue-se, pois, de uma atitude de humildade. A humildade leva-nos a submeter a Cristo e a submissão gera, em nós, a mansidão. Por isso, Jesus disse que era “manso e humilde de coração” (Mt.11:29), porquanto, voluntariamente, rebaixou-Se à condição de homem, humilhou-Se e, como resultado desta humilhação, apareceu como manso, como o “meigo Nazareno”.

– A mansidão está relacionada com a modéstia. Ao invés de uma busca de aparência esplêndida e chamativa, a Bíblia recomenda que busquemos ser mansos e quietos, pois isto trará muito maior encanto e atração do que a aparência exterior (I Pe.3:3-5).

Num mundo em que se diz que a aparência exterior é fundamental e que há um verdadeiro culto ao corpo e à beleza física, devem os crentes primar por mostrar-se mansos, por causarem impressão agradável não pelo físico, não pelo exterior, mas pelo seu interior, o que somente se dará pela mansidão.

Não nos esqueçamos de que a vaidade (e aí não falamos apenas de trajes, de vestimenta, mas de todo tipo de vanglória) é o oposto da mansidão, como bem demonstrado por Aristóteles.

– A mansidão também está vinculada com a paz. Os mansos, com sua brandura, desviam o furor, “colocam água na fervura”, para usar aqui de uma expressão popular.

A atitude mansa quebra toda impetuosidade e se apresenta como uma boa forma de pacificação, de apaziguamento de ânimos.

A mansidão de Moisés foi fundamental para que o povo se mantivesse durante as jornadas do deserto, mesmo se sabendo que toda a geração responsável iria ali perecer, como Deus havia dito.

Muitos se ressentem de estarem envolvidos em um sem-número de conflitos, em viverem ambientes particularmente agressivos e de contendas, mas isto nada mais é que resultado da nossa falta de mansidão. Quando aprendemos de Cristo, manso e humilde de coração, encontramos descanso para a nossa alma, atingimos a paz de Cristo, que nos foi por Ele prometida.

O caminho para a paz é a mansidão, definida como “ausência de ferocidade; serenidade, tranquilidade, brandura.”

– A mansidão tanto está vinculada à paz que temos a expressão “de manso, de mansinho”, que significa “com calma”, “aos poucos”. Os mansos devem agir desta forma, “devagar, devagarinho”, para alcançar os sublimes objetivos de reflexão da glória de Deus, do rosto de Cristo aos homens.

VI – RECOMPENSAS DA MANSIDÃO, UMA BEM-AVENTURANÇA

– A Bíblia mostra-nos que os mansos agradam muito a Deus e, por isso, há várias promessas em seu favor. Vejamos algumas:

a) o Senhor ouve o desejo dos mansos e conforta os seus corações (Sl.10:17) – Temos aqui uma promessa que, mais uma vez, desmente os arautos da confissão positiva e da teologia da prosperidade.

Somente aqueles que se submetem à vontade de Deus, os mansos, têm atendidos os seus desejos pelo Senhor, bem assim confortados os seus corações.”…Em verdade, Deus ouve a todos, mas conforto e satisfação dos desejos, Ele só concede aos mansos.…”(SILVA, Osmar José da. op.cit., p.78). O próprio Jesus diz que aqueles que estiverem n’Ele e as Suas palavras estiverem neles tudo o que for pedido será feito (Jo.15:7).

A satisfação dos desejos não vem de “direitos” que ganhamos com a salvação, mas, sim, de nossa submissão à vontade de Deus, de nossa mansidão, não de nossa magnanimidade.

b) os mansos comerão e se fartarão (Sl.22:26a) – Temos aqui uma promessa de abundância para os mansos. Os mansos gozarão de fartura, primeiramente espiritual mas não apenas espiritual, como também material. Eles têm abundância de paz (Sl.37:11).

Os mansos terão plenitude de vida espiritual, estarão sempre a buscar ao Senhor e já sentirão o gozo da vida eterna. Vemos aqui como a mansidão se relaciona com outra qualidade do fruto do Espírito, a saber, a alegria.(Sl.34:2; Is.29:19).

c) os mansos têm a salvação (Sl.149:4) – No momento em que reconhecemos a Cristo como nosso Senhor, alcançamos a salvação, ou seja, somos perdoados dos nossos pecados e passamos a ter comunhão com Deus.

Somente os mansos são adornados com a salvação, ou seja, para que Jesus seja nosso Salvador é preciso que, antes, Ele Se torne o nosso Senhor.

Muitos têm se esquecido disto e, por causa disto, não serão sequer conhecidos pelo Senhor naquele dia.

d) os mansos são dirigidos pelo Senhor (Sl.25:9) – Quando alguém se submete a Deus, recebe o privilégio de ser dirigido e orientado pelo Senhor dali por diante.

Que maravilha ter os nossos passos orientados e dirigidos por Deus. Quando seguimos a orientação de Deus, não há falha, não há erro, não há qualquer turbulência que nos faz sair do caminho.

O caminho nem sempre é fácil, mas, quando somos orientados por Deus, sabemos que chegaremos a porto seguro.

e) o Senhor livra os mansos (Sl.76:9) – O Senhor não só livra do mal os mansos na atualidade, pois contra os mansos se levantam os homens maus (Is.32:7; Am.2:7), como também os livrará da ira divina, arrebatando os mansos antes da Grande Tribulação (I Ts.1:10), após o término da dispensação da graça.

f) o Senhor repreende os mansos (Is.11:4) – Os mansos, como são amados por Deus, são por Ele repreendidos, igualmente com mansidão e ternura.

Pode parecer estranho que seja considerada uma recompensa para o manso o fato de ser repreendido por Deus, mas não devemos nos esquecer de que Deus só corrige aquele quem ama (Hb.12:6), até porque “…toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça, nos exercitados por ela” (Hb.12:11).

Ser repreendido por Deus e, ainda mais, com ternura, com brandura, é um privilégio inigualável de que desfruta o manso. Enquanto o manso é repreendido assim, a Bíblia diz que, para o ímpio, o Senhor tem reservado a vara e a morte.

– A sétima promessa reservada aos mansos é destacada das demais, porque é, ao mesmo tempo, uma bem-aventurança. “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mt.5:55), disse Jesus no sermão do monte.

Os mansos têm a rica e preciosa promessa de vida eterna, pois este “herdar a terra” não é, como afirmam, por exemplo, as Testemunhas de Jeová, a entrega desta terra amaldiçoada aos mansos, mas, sim, a promessa de que habitaremos novos céus e nova terra onde habita a justiça (II Pe.3:13), de vivermos eternamente com o Senhor na nova Jerusalém(Ap.21:1-3), cujo lugar Ele foi nos preparar (Jo.14:2,3).

Esta terra passará, mas não as palavras do Senhor (Mt.24:35), de modo que temos de concluir que a promessa dada aos mansos não diz respeito a esta terra onde habitamos hoje, mas a uma herança eterna, incorruptível.

– Muitos poderão dizer que a terra prometida aos mansos seria a terra restaurada no reino milenial de Cristo, mas, como afirma o salmista, no Sl.37:11, os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz.

Todavia, em primeiro lugar, esta terra, durante o milênio, não estará destinada à Igreja glorificada, de modo que não há o cumprimento da promessa divina.

Como se não bastasse, mesmo no milênio, teremos uma guerra, a última guerra de rebelião contra o Senhor, no final do milênio, de modo que também não é este o instante da “abundância de paz”.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.mediafire.com/file/l85s2y6c3m6d1eo/1T2017_L10_esbo%C3%A7o_caramuru.pdf

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