LIÇÃO Nº 1 – INSPIRAÇÃO DIVINA E A AUTORIDADE DA BÍBLIA
ESBOÇO Nº 1
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Damos início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, um trimestre temático, onde estaremos a estudar os pontos principais de nossa fé, um trimestre extremamente importante porque haveremos de esmiuçar os principais pontos de nosso “Cremos”, de nossa “Declaração de Fé”, recentemente aprovada na 43ª Assembleia Geral Ordinária da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), um marco histórico de nossa denominação, que carecia de um documento que sintetizasse todas as doutrinas do chamado segmento evangélico pentecostal da Cristandade.
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Em meio a dias tão difíceis, de proliferação de falsas doutrinas, dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, torna-se, mesmo, necessário termos um documento que apresente, de uma forma concisa mas bem explicada, todos os pontos da doutrina bíblica, a fim de que possamos aprender o conteúdo das Escrituras de forma sistemática e ordenada.
Durante muito tempo houve certa resistência à elaboração de uma “declaração de fé”, pois, equivocadamente, se entendia que um documento desta natureza estaria nos afastando da Bíblia Sagrada.
O fato é que a “declaração de fé” nada mais é que uma exposição ordenada daquilo que se encontra na Bíblia Sagrada, a nossa única regra de fé e prática. Não há qualquer “inovação” ou “dogmatização humana”, como entendiam alguns, mas uma forma sistemática de apresentação das verdades bíblicas.
Tanto assim é que, no “Cremos”, que é a síntese das doutrinas bíblicas, sempre há a menção de passagens bíblicas em que se baseiam os enunciados, a demonstrar, portanto, que não se está a substituir a Bíblia, mas apenas a organizar o conteúdo bíblico de uma forma lógica, que permita uma mais fácil apreensão por parte dos salvos.
A prática de se fazerem “confissões de fé” ou pequenos resumos das crenças ensinadas pela sã doutrina vem desde os primeiros séculos da história da Igreja, havendo, mesmo, quem defenda a sua prática ainda nos tempos apostólicos, pois seriam estes os objetivos dos hinos vez ou outra mencionados em o Novo Testamento, como, por exemplo, I Tm.3:16, onde vemos um resumo poético de toda a obra messiânica de Cristo Jesus.
No século II, surge o chamado “Credo dos Apóstolos” e, no século IV, por ocasião do Concílio de Niceia, que definiu a questão da divindade de Jesus, foi elaborado o chamado Credo Niceno (325), que foi, posteriormente, completado no Concílio de Constantinopla, dando origem ao chamado “Credo Niceno-Constantinopolitano” (381), ambos contendo as verdades básicas da fé cristã.
Além destes dois credos, também oram elaborados dois outros credos, um por ocasião do Concílio de Calcedônia (451) e, por fim, um denominado de Credo de Atanásio, atribuído ao bipo Atanásio (296-373) mas que teria sido elaborado por volta do ano 500 com base nos ensinos daquele homem de Deus, que se notabilizou por sua defesa da autêntica doutrina de Cristo.
Todos estes quatro documentos trazem a síntese da doutrina cristã e, por isso mesmo, foram colocados como um apêndice em nossa Declaração de Fé, não fazendo parte dela mas apenas para nos mostrar que nossas crenças são as mesmas dos cristãos desde os primeiros séculos..
Foram fórmulas feitas para sintetizar a doutrina cristã, tornando-a de mais fácil memorização, sendo também uma orientação para o discipulado dos novos convertidos, máxime diante de populações que não tinham fácil acesso às Escrituras nem sabiam ler.
Com a Reforma Protestante, que completa este ano 500 anos, tivemos uma nova proliferação de “confissões de fé”, tendo em vista a necessidade de se esclarecer quais as doutrinas que tinham base bíblica e que não eram deformações contra as quais se insurgiam os Reformadores. Assim, nos séculos XV a XVII, tivemos uma série de “confissões de fé”.
As Assembleias de Deus nos Estados Unidos, em 1916, elaborou a sua “declaração de fé”, sintetizando, assim, as crenças do movimento pentecostal, iniciado mais vigorosamente no início do século XX, mas as Assembleias de Deus no Brasil não se animaram a fazê-lo, considerando que a adoção de uma “confissão de fé” seria algo próprio de “católicos” ou “crentes tradicionais”.
No entanto, a partir de 1969, por iniciativa do pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos, começou a ser publicado no jornal “O Mensageiro da Paz”, um “Cremos”, com 14 itens, onde havia uma síntese da doutrina evangélica pentecostal.
Somente agora, em 2017, as Assembleias de Deus oficializam uma “declaração de fé”, baseada no tradicional “Cremos”, ao qual foram acrescentados dois novos itens, onde há uma explicação mais ampla das nossas crenças, algo que se fazia necessário, notadamente diante das múltiplas heresias de nossos dias e da ausência de um documento que contenha o resumo da nossa fé.
Diante da aprovação desta “declaração de fé”, nada mais razoável que dediquemos um trimestre da Escola Bíblica Dominical, que é a principal agência de ensino bíblico da Igreja, para estudarmos as razões da nossa fé, a base de nossas crenças, até porque é mister que possamos responder, com mansidão e temor, a quem nos perguntar a respeito delas (I Pe.3:15).
Aliás, uma “declaração de fé” nada mais é que uma exposição racional a respeito daquilo que nos é revelado por /Deus nas Escrituras e, por isso mesmo, não há motivo algum para não desejarmos ter uma “declaração de fé” que é apenas um pensamento humano a respeito daquilo que nos foi revelado pelo Espírito Santo e que, como pensamento humano, embora embasado na Bíblia Sagrada, pode sofrer revisões e alterações, sempre com o fim de melhor se adequar ao que diz as Escrituras, estas, sim, a nossa única regra de fé e prática.
O trimestre segue os itens do “Cremos” de nossa “Declaração de Fé” e, portanto, não há como dividi-lo em blocos, já que cada item corresponde a uma doutrina em que cremos.
A capa da revista deste trimestre apresenta um exemplar da Bíblia Sagrada, exemplar que demonstra ter sido já muito manuseado pelo seu dono.
Revela, assim, um exemplar das Escrituras que é de uso contínuo, um salvo na pessoa de Cristo Jesus que está preocupada com a sua santificação, pois, como nos disse o Senhor Jesus, é na Palavra de Deus, que é a verdade, que somos santificados (Jo.17:17).
Ao ver a ilustração da capa da revista e o título de nosso trimestre, “A razão de nossa fé”, não podemos deixar de nos lembrar de I Pe.3:15, que diz que devemos nos santificar a Cristo em nossos corações para que possamos estar preparados para responder com mansidão e temperança a razão da esperança que há em nós.
Ora, esta “santificação a Cristo em nosso coração” é, entre outras coisas, a meditação de dia e de noite na Palavra de Deus (Sl.1’:1,2), seu estudo acurado, sua memorização, sua aplicação.
E as “declarações de fé” ou “confissões de fé” ou “credos” têm, precisamente, este objetivo de nos facilitar este aprendizado, esta meditação, a fim de que saibamos perfeitamente o que Deus nos revelou e, assim, vivamos de acordo com a Sua vontade.
Por isso, o subtítulo do trimestre “assim cremos, assim vivemos”. De nada adianta sabermos os pontos básicos de nossa doutrina se não a pusermos em prática. Não sejamos como os fariseus, que conheciam “tintim por tintim” a lei de Moisés, mas que não a viviam e, por isso, foram duramente repreendidos pelo Senhor Jesus (Mt.23:1-3).
Antes imitemos a Cristo que, primeiro fazia, para depois ensinar (At.1:1) e, por isso, causou admiração da multidão ao proferir o Seu ensino (Mt.7:28,29).
O comentarista deste trimestre é o pastor Esequias Soares, que foi o presidente da comissão especial da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil que elaborou a “declaração de fé”, homem de Deus que dispensa comentários e que tem sido um dos baluarte na defesa da sã doutrina nas Assembleias de Deus.
Que, ao término deste trimestre, possamos todos estar bem conscientes do conjunto de doutrinas em que cremos, da nossa fé e, deste modo, possamos ensiná-las a todos quantos vierem a ter a Jesus Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas.
B) LIÇÃO Nº 1 – INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA
CREMOS
Na inspiração divina verbal e plenária da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão (II Tm.3:14-17) (Cremos Declaração de Fé da CGADB).
INTRODUÇÃO
– A Bíblia é a única regra de fé e prática do salvo em Cristo Jesus.
– Jesus é testificado única e exclusivamente pelas Escrituras (Jo.5:39).
I – A ORIGEM DA BÍBLIA ESTÁ EM DEUS
– O primeiro item de nossa Declaração de Fé fala da nossa crença na Bíblia Sagrada, de sua autoridade e ser ela a nossa única regra de fé e prática. A colocação desta crença no início de nosso “Cremos” representou uma mudança em relação ao “Cremos” originariamente publicado desde 1969 no jornal “O Mensageiro da Paz”, onde era o segundo item, exatamente para que não haja qualquer dúvida de que, como herdeiros da Reforma Protestante, consideramos que “Só as Escrituras têm autoridade absoluta” (o chamado “Sola Scriptura”), também revelando que toda e qualquer “declaração de fé” não tem qualquer valor “normativo”, mas tão somente a Bíblia Sagrada, que é a Verdade, a Palavra de Deus (Jo.17:17).
– A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela mesma assim se define e o cumprimento exato de tudo quanto nela está desde os primórdios da história da humanidade é a prova irrefutável de que ela é, sem sombra de dúvida, a Palavra de Deus, a revelação de Deus aos homens.
Muitos têm tentado, ao longo dos séculos, levantar-se contra o Divino Livro, mas todos têm fracassado em seu intento de calá-la ou desacreditá-la, precisamente porque não se trata de uma obra feita pela mente, vontade ou imaginação humanas, mas tem sua origem, sua concepção e o zelo pelo seu cumprimento diretamente em Deus.
– No Sl.68:11a, é dito textualmente que “O Senhor deu a palavra”. Em Hb.1:1, o escritor afirma que o Senhor falou antigamente aos pais pelos profetas de muitas maneiras e uma destas maneiras foram as Escrituras, que compunham “a lei e os profetas” (Mt.7:12; 22:40), lembrando-se que “a lei” foi escrita por Moisés (Dt.31:24), sendo ele próprio, Moisés, um profeta (Dt.34:10).
Mas o escritor aos hebreus não diz que eram divinas apenas as Escrituras que são o Antigo Testamento, mas, também, afirma que passou Deus a falar pelo Filho, que é o Verbo de Deus (Jo.1:1).
Ora, o Filho já era revelado por intermédio das Escrituras do Antigo Testamento (Jo.5:39) e continuou a sê-lo através do Novo Testamento, que é o registro determinado pelo Espírito Santo para tudo quanto Jesus ensinou (Jo.14:26; II Pe.3:16,17), Palavra esta que é a verdade e nossa fonte de santificação (Jo.17:17), pois, desde a antiga aliança, o Senhor utilizava do escrito para memória do que havia dito (Ex.17:14a).
– Não se tem, portanto, dúvida alguma de que a Bíblia provém diretamente de Deus, é a revelação do próprio Deus ao homem e, por isso, estamos diante da Palavra de Deus. É interessante notar que nenhum outro livro sagrado das diversas religiões que existem sobre a face da Terra tem esta qualidade.
Embora se digam sagrados e frutos de revelações, jamais tais livros se apresentam como sendo a revelação do próprio Deus ao homem, como tendo origem no próprio Deus.
– O que mais se aproxima disto é o Corão, o livro sagrado muçulmano que, porém, segundo a crença islâmica, foi revelado a Maomé pelo anjo Gabriel e depois que ele teria descido do céu num instante anterior.
Tratar-se-ia, pois, de uma revelação mediada por um anjo, indireta, algo bem diferente daquilo que Deus efetivamente fez, quando revelou a Sua Palavra aos homens através da Bíblia Sagrada.
Além do mais, o Corão foi redigido posteriormente à morte de Maomé por pessoas que teriam “decorado” seu teor, ou seja, é um livro dependente da memória humana, algo muito diverso da Bíblia, que é a revelação do próprio Deus.
– Em Jr.1:12, o profeta relata uma visão que teve de uma vara de amendoeira. A amendoeira é a primeira árvore a florescer na Palestina, daí porque seu nome em hebraico, “saqued” (שקד ), ser um derivado da palavra “despertar”.
A amendoeira seria, então, uma “árvore desperta”, uma “árvore vigilante”, simbolizando a “prontidão”. Isto nos fala que a Bíblia é a Palavra de Deus porque somente em Deus o querer é o efetuar (Fp.2:13) e, portanto, somente Deus pode falar e o que foi falado se cumprir sem que nada necessite ser feito além do próprio pronunciar e Deus no-lo prova através da própria criação.
Por isso, podemos dizer, como afirmava o saudoso pastor Severino Pedro da Silva, que foi membro da Academia Brasileira Evangélica de Letras e da Casa de Letras Emílio Conde, “nem todos os homens cumprem a Palavra de Deus, mas ela se cumpre na vida de todos os homens”.
– A amendoeira, também, simbolizava em Israel a “redenção”, uma vez que, por ser a primeira árvore a florescer, era o primeiro sinal do retorno da vida, na primavera, após o rigoroso inverno, que dava a impressão de que a vida havia findado.
Ao comparar a Palavra como a amendoeira para o profeta, portanto, Deus também nos indica que a Bíblia é a Palavra de Deus, pois só Deus pode dar a vida, só Deus pode conceder vida ao homem (I Sm.2:6).
Também nesta expressão divina ao profeta notamos uma perfeita identificação entre a Palavra de Deus e Cristo, que também afirma ser fonte de vida eterna (Jo.1:4; 4:14; 5:26).
– A amendoeira, por fim, também simbolizava a pressa, já que era a primeira árvore a florescer na primavera.
Esta pressa significa a impossibilidade de haver obstáculos para o cumprimento da Palavra, bem como a prioridade absoluta que ela assume ante os desígnios divinos.
A Bíblia, assim, mostra ser algo que é levado em primeiro lugar, que ocupa o primeiro plano da vontade de Deus, a ponto, inclusive, de o salmista ter dito que Deus a pôs acima d’Ele próprio (Sl.138:2).
O desígnio divino revelado ao profeta é a de que Ele vela pela Sua Palavra para a cumprir, é esta a sua prioridade.
Deus tem um compromisso inquebrantável com a Sua Palavra e, assim como a amendoeira é a primeira árvore a florescer, também a Palavra de Deus é a primeira a produzir seus frutos na ordem estabelecida pelo Senhor. Por isso, não se pode, em absoluto, ter outra atitude, enquanto servos de Deus, senão a de pôr a Palavra como única regra de fé e prática nas suas vidas.
– Ninguém pode impedir o cumprimento da Palavra de Deus e, como ela é soberana, engrandecida pelo próprio Deus acima de Seu próprio nome, vemos que nada poderá impedir a ação divina de cumprimento da Sua Palavra (Is.43:13 “in fine”).
Desta forma, devemos ter plena consciência de que tudo que está escrito se cumprirá e que nós, como conhecedores desta Palavra, devemos sempre obedecer a ela e, assim, alcançados pelas bênçãos e promessas que ela contém.
– Por fim, ainda sobre a visão tão elucidativa de Jeremias, vemos que Deus mostrou ao profeta “uma vara de amendoeira”, e “vara”, como sabemos, indica orientação, direção, julgamento. A Palavra de Deus é um guia para o homem, é a seta que indica a Cristo, o caminho que conduz à vida eterna.
A Palavra, respeitando o livre-arbítrio humano, aponta qual deve ser o Caminho e nós o seguimos, ou não, conforme a nossa própria vontade. No entanto, a Palavra é “uma vara de amendoeira”, ou seja, ela nos julgará pela decisão que tomamos em relação a ela, um julgamento que é, como a amendoeira, pronto, prioritário e que não poderá ser impedido por ninguém (Jo.12:48).
– Quando verificamos estas passagens bíblicas, vemos, pois, que as Escrituras têm em Deus a sua origem, a sua fonte e, portanto, não podemos, de forma alguma, pôr a Bíblia no mesmo nível de tudo quanto foi criado pelo homem.
Se a Bíblia tem origem no próprio Deus e é Deus quem diz que a engrandeceu a ponto de a ter posto acima de Seu nome, como podemos querer comparar a Bíblia com as invencionices humanas?
Como podemos querer julgar a Bíblia pelo que o homem tem produzido seja no campo filosófico, científico, tecnológico, artístico, religioso ou mitológico?
II – A INSPIRAÇÃO VERBAL PLENÁRIA DAS ESCRITURAS
– Visto que a Bíblia tem origem em Deus, temos de enfrentar uma questão interessante: se a Bíblia é a Palavra de Deus, como explicar que ela tenha assumido a forma de uma obra humana, visto que ela foi escrita e, para tanto, Deus teve de se valer de homens e de materiais para tal processo?
– Embora seja a Palavra de Deus, a Bíblia foi escrita e redigida por seres humanos que, para escrevê-la, usaram de todos os materiais que tinham à sua disposição para tanto, lembrando-se, aliás, que, no tempo da formação dos escritos sagrados, não havia o papel, material que o Oriente Médio e o Ocidente somente conheceram num tempo posterior à elaboração das Escrituras, elaboração esta, aliás, que durou mais de mil e quinhentos anos, que é o tempo que vai de Moisés ou Jó, apontados como os autores do livro de Jó, que é o livro mais antigo das Escrituras, até a redação dos livros do apóstolo João, que são considerados os últimos escritos inspirados da Bíblia Sagrada.
– Em primeiro lugar, é interessante notar que Deus não escreveu parte nenhuma da Bíblia.
As Escrituras registram que Deus havia escrito as primeiras tábuas da Lei (Ex.32:15), foram quebradas por Moisés, indignado que estava pela corrupção do povo no episódio do bezerro de ouro (Ex.32:19).
As segundas tábuas, embora lavradas por Moisés, foram também escritas por Deus (Dt.10:1-4), mas estas tábuas foram colocadas na arca, ou seja, não puderam ser lidas pelo povo.
Moisés escreveu o seu teor, nesta oportunidade, naquilo que viria a ser o Pentateuco (Ex.34:27), numa comprovação de que parte alguma das Escrituras foi feita pelo dedo de Deus.
– O mesmo devemos dizer a respeito do Filho. Jesus nada deixou escrito, mas tudo que transmitiu o fez oralmente, teor este que foi, posteriormente, lembrado pelo Espírito Santo para que pudesse ser reduzido a escrito (I Co.11:23; II Pe.2:16-18; I Jo.1:1,3).
Vemos, pois, que, embora seja a Palavra de Deus, a Bíblia não foi escrita, em momento algum, por Deus, que delegou, pois, tal tarefa para o homem.
– Quis Deus, portanto, que a Bíblia fosse escrita pelos homens, embora se tratasse da própria Palavra do Senhor, para que as Escrituras fossem, elas mesmas, a demonstração da comunhão que se pretendeu restabelecer entre Deus e o homem.
Esta comunhão, que, em Jesus, estava evidenciada pela dupla natureza, é um dos aspectos pelos quais as Escrituras são consideradas testemunhas do próprio Verbo Divino (Jo.5:39). Assim, pois, como Jesus é homem e é Deus, as Escrituras também são Palavra de Deus, mas escrita pelos homens.
– Havia, ademais, um propósito divino na redução da Sua Palavra a escrito. O ser humano depende da memória para guardar tudo quanto lhe é ensinado.
A experiência demonstrou que o homem, mesmo antes da queda, era incapaz de guardar, em sua memória, plenamente o ensino divino, tanto que Eva, ao ser desafiada pela serpente quanto ao ensino divino, não o reproduziu com fidelidade (compare Gn.2:16,17 com Gn.3:2,3).
Assim, como o homem não era capaz de manter a fidelidade e a credibilidade dos ensinos obtidos pela via oral, bem como por ser limitado, quanto ao tempo, nesta transmissão, já que, pelo pecado, estava condenado à morte física, não podendo ensinar senão a algumas gerações seguintes (Sl.78:1-8), imperioso se fazia reduzir a Palavra de Deus a escrito, a fim de que houvesse maior credibilidade, pois “o que está escrito, está escrito” (Jo.19:22) e o que está escrito não pode ser anulado (Jo.10:35 “in fine”), além de a Palavra poder ser lida e conhecida de gerações futuras que jamais teria contato com as que haviam recebido a mensagem, superando-se, deste modo, o limite da morte física dos homens (Dt.31:10,26-29).
– Mas, como pode o homem, cujos pensamentos estão tão distantes dos de Deus (Is.55:8,9;I Co.2:9), escrever a Palavra de Deus, reduzir a escrito aquilo que é próprio da Divindade? Somente de uma maneira: através da inspiração (II Tm.3:16; II Pe.1:21).
– Em II Tm.3:16, a palavra “inspirado” é tradução da palavra grega “theópneustos” (θεόπνευστος), cujo significado é “soprado por Deus”, ou seja, as Escrituras são geradas por Deus, assim como Deus concedeu o fôlego de vida ao homem e ele se tornou alma vivente (Gn.2:7), assim também deu nascimento às Escrituras.
Tal expressão é muito elucidativa, porque nos mostra que a Escritura é “divinamente inspirada”, ou seja, é fruto da ação direta do Espírito Santo, não havendo, portanto, nenhuma participação humana na concepção e na elaboração da mensagem contida na Bíblia, cuja “matéria”, ou seja, cujo “conteúdo” é diretamente dado por Deus aos escritores.
– Em II Pe.1:21, a palavra “inspirados” é tradução da palavra grega “ferómenoi” (φερόμενοι), cujo significado é “movidos”, “trazidos”, “levados por uma força interior”, que nos indicam que, para escrever as Escrituras, estes homens, em primeiro lugar, eram “homens santos de Deus”, ou seja, homens que se encontravam separados do pecado e separados para Deus, que estavam, portanto, em plena comunhão com o Senhor e, por isso, neles habitava o Espírito Santo, com o propósito de fazê-los redigir aquilo que o Senhor lhes revelava.
Eram, portanto, levados, por uma força interior, a escrever aquilo que escreveram, prova de que não se tratava de “conteúdo” ou “mensagem” que fossem de suas mentes, mas que vinha diretamente da parte de Deus.
– É por este motivo que Pedro atesta que as Escrituras não podem ser de “particular interpretação”, ou seja, que os textos bíblicos não podem ser entendidos isoladamente, mas como parte de um conjunto, pois, embora tenham sido escritos por homens de diferentes culturas, de diferentes épocas, de diferentes classes sociais, de diferentes graus de instrução, o resultado não é fruto da cultura, da história, da época, da posição social nem tampouco da erudição de cada um dos escritores, mas tão somente obra do Espírito Santo, que é o mesmo a ter agido na vida de cada um destes “homens santos de Deus”.
– Este é o ensino bíblico a respeito da elaboração das Escrituras, que é chamada de “teoria da inspiração plenária das Escrituras”, porque entende que a Bíblia toda, sem qualquer exceção, foi inspirada pelo Espírito Santo, ou seja, as Escrituras foram geradas pelo próprio Deus que deu a mensagem a cada um dos escritores, que, fielmente, vez que homens santos de Deus, reduziram a escrito a mensagem recebida, doutrina esta totalmente encampada na Declaração de Fé aprovada pela CGADB, como se vê no item 1 do “Cremos”.
– No capítulo I de nossa “Declaração de Fé”, isto é deixado explícito: “Nossa declaração de fé é esta:
cremos, professamos e ensinamos que a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, única revelação escrita de Deus dada pelo Espírito Santo, escrita para a humanidade e que o Senhor Jesus Cristo chamou as Escrituras Sagradas de a ‘Palavra de Deus’, que os livros da Bíblia Sagrada foram produzidos sob inspiração divina…”
– Mas como o Espírito Santo inspirou os escritores do texto sagrado? Esta é outra discussão que se faz, pois entendem alguns que o Espírito ditou as palavras aos escritores, assim como, por exemplo, Pedro teria feito, em relação a sua carta, com relação a Silvano (I Pe.5:12) ou como Paulo, em relação a Tércio, no que toca à carta aos romanos (Rm.16:22). Este pensamento é conhecido como o da “inspiração verbal” e se baseia, entre outros textos, em Ex.34:27 e Dt.31:24.
– Não resta dúvida de que muitos escritores da Bíblia reduziram a escrito mensagens que lhes foram dadas verbalmente por Deus, como é exemplo os dez mandamentos e boa parte daquilo que foi escrito por Moisés na lei.
No entanto, temos de entender que Deus opera além de quaisquer limites humanos ou que nossa compreensão possa atingir, de forma que temos de, neste ponto, fazer coro ao seguinte pensamento de Russell Norman Champlin, que reproduzimos: “…a inspiração, normalmente, é verbal, visto que diz respeito à comunicação da verdade em linguagem humana.
Isso não significa, entretanto, que consiste em mero ditado de palavras, mas significa que os diversos processos que jazem por detrás da questão, envolvendo aspectos como a individualidade dos escritores, o meio ambiente, o treinamento, a experiência deles, além de outros fatores, foram de tal modo manipulados por Deus que o resultado foi que as palavras registradas não são apenas do homem, mas são plenamente de Deus…” (CHAMPLIN, R.N. Escrituras. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.475).
– Embora seja gerada e comunicada por Deus ao homem, quem escreve é o homem e esta escrita é a participação humana na elaboração das Escrituras. A escrita dos textos bíblicos é a “forma” do texto, ou seja, o modo como ele é escrito, a maneira como a mensagem é redigida.
Esta “forma” é humana, tanto que, ao analisarmos os textos bíblicos, notamos que há uma mudança de estilo, de língua e de vocabulário entre os diversos autores da Bíblia. A começar pela língua:
o Antigo Testamento é escrito em hebraico e aramaico; já o Novo Testamento, em grego. O estilo de um Moisés, criado em toda a ciência do Egito, é bem diferente do estilo de um boiadeiro, como é Amós, sem falarmos que as figuras de linguagem e as palavras utilizadas por Moisés ou pelo autor dos livros de Samuel diferem daqueles empregados pelos do Novo Testamento.
Tudo isto nos mostra, claramente, que, embora a mensagem seja de Deus, há a intervenção da individualidade de cada autor, não no “conteúdo”, não na “mensagem”, pois, se assim fosse, não se teria a perfeita e extraordinária harmonia e unidade que a Bíblia apresenta, mesmo havendo mais de um milênio e meio entre o início e o término da sua elaboração, mas na “forma” de cada um.
– Eis o motivo por que é totalmente contrária às Escrituras a afirmação do ex-pastor presbiteriano Nehemias Marien (1932-2007) de que a Bíblia seria uma obra “psicografada”, como o são os livros produzidos pelos “médiuns espíritas”.
Ao contrário dos demônios, que tomam posse dos seus “médiuns” e os fazem escrever suas “mensagens” inconscientemente, escravizando-os, nosso Deus, que sempre releva a dignidade com que fez o homem, inspirou pelo Seu Espírito, a cada autor de texto bíblico mas sem lhes retirar a individualidade, a liberdade e a consciência. Que Deus maravilhoso e dignificador do ser humano!
– É por isso, aliás, que, muitas vezes, temos dificuldade em entender visões recebidas pelos escritores bíblicos, notadamente nos textos proféticos, uma vez que, dentro da individualidade e realidade vivida de cada escritor, ele tende a descrever o que vê que, embora seja um registro fiel daquilo que o Senhor lhe mostra, é algo que, quase sempre, está fora do contexto cultural dos nossos dias, da nossa realidade presente.
Esta dificuldade, porém, é mais uma comprovação de que a Bíblia é um livro único no mundo, pois, além de ser a Palavra de Deus, é resultado da individualidade de cada homem santo de Deus inspirado pelo Espírito Santo.
– Questão interessante que se levanta é a referente às versões e traduções das Escrituras. Podemos falar em “inspiração” também com relação àqueles que traduziram e traduzem para as diferentes línguas o conteúdo originário das Escrituras?
– Antes de se responder a esta questão, é notável verificar que a Bíblia é o único texto sagrado de todas as religiões existentes no mundo que não funda a sua sacralidade na sua língua original.
Os judeus insistem em considerar que, assim como o texto da Bíblia Hebraica (o Antigo Testamento), a língua hebraica também é sagrada (tanto que o “hebraico” é chamado pelos judeus de “língua sagrada”).
Os muçulmanos, igualmente, entendem que o Alcorão é tão somente o texto em árabe, sendo as diversas versões e traduções existentes (cujo reconhecimento só recentemente tem sido feito pelas principais autoridades islâmicas) apenas “o significado do texto”, mas jamais o próprio texto. Não é diferente a tradição entre budistas, hinduístas e outros segmentos religiosos.
– Deus, entretanto, não faz questão que a Sua Palavra esteja presa a uma determinada língua. Foi Ele próprio quem confundiu as línguas dos homens (Gn.11:1-11), tendo-o feito por misericórdia e amor, para que não tivesse que destruir toda a humanidade por sua rebeldia.
Destarte, como Seu propósito é fazer-Se conhecer a todos os homens, não faria sentido algum que obrigasse os homens a aprender hebraico, aramaico e grego para que conhecessem a Sua vontade. Esta superação das barreiras culturais, aliás, como tivemos ocasião de estudar na lição sobre a doutrina da Igreja, foi parte do mistério de Cristo que esteve oculto durante séculos até a consumação da obra redentora do Calvário (Ef.3:4-6).
– Assim, a tradução do texto bíblico para todas as línguas existentes não só não é impedida pela sã doutrina, como se trata de uma necessidade e de algo que é desejado e estimulado pelo Espírito Santo, já que não haverá o término desta dispensação antes que todas as nações cheguem ao conhecimento do evangelho (Mt.24:14), pregação esta que é atestada e autenticada pelas Escrituras (I Co.15:3,4).
– No entanto, se há uma ação de acordo com a vontade de Deus no processo de tradução e versão da Bíblia nas línguas das nações, se isto corresponde a um dos aspectos das duas tarefas da Igreja (evangelização dos perdidos e aperfeiçoamento dos santos), num ministério, aliás, que não tem sido convenientemente valorizado pelas igrejas locais, ainda que tenha se intensificado grandemente nos últimos anos, num sinal até da proximidade da volta do Nosso Senhor, não se pode estender a “inspiração verbal plenária” a estes trabalhos de tradução.
Não se nega que as pessoas que são vocacionadas para esta tarefa são dirigidas pelo Espírito Santo e, desta maneira, serão capacitadas para fazer o trabalho da melhor maneira possível e de forma a ganhar as almas para Cristo e a promover o crescimento espiritual dos salvos, mas as traduções não são o mesmo papel que a elaboração do texto bíblico.
As Escrituras foram inspiradas pelo Espírito Santo, os homens santos de Deus que a elaboraram receberam da parte de Deus o teor da mensagem, mas os homens de Deus que fazem as traduções não são objeto da mesma operação, operação esta que cessou quando do encerramento do texto bíblico com os textos de João.
A partir de então, não tivemos mais a revelação por meio de “inspiração verbal plenária”, mas, sim, uma outra atuação do Espírito Santo, que é a “iluminação”, que A. Nelson Rocha, define como sendo “… o entendimento do Espírito Santo. Não muda o Escrito nem a mensagem.(…).
A iluminação é uma grande ajuda à organização dos fatos, do ponto-de- vista histórico, como do ponto-de-vista profético, mas já requer algo de revelação. Lucas, ao ordenar os fatos que se deram, nos dias de Jesus, explicou que precisou de investigação diligente e conhecimento histórico.…” (ROCHA, A. Nelson. 2ª Pedro da Bíblia Di Nelson: a graça que a nós foi profetizada, p.32. Arquivo encaminhado para primeira revisão).
– A grande diversidade de versões e de traduções da Bíblia Sagrada é, portanto, uma necessidade para a maior divulgação das Escrituras à humanidade e, neste desiderato, é uma tarefa que é do agrado do Espírito Santo. No entanto, não são tais versões e traduções obra da “inspiração verbal plenária”.
III – A AUTORIDADE DA BÍBLIA SAGRADA
– Temos visto que a Bíblia é a Palavra de Deus, porque tem origem em Deus, seu conteúdo foi comunicado por Deus aos homens santos escolhidos pelo Senhor para reduzi-la a escrito.
Ante tais considerações, não temos como deixar de reconhecer que a Bíblia Sagrada é dotada de autoridade absoluta, ou seja, deve ser aceita pelo homem como única regra de fé e de prática, ou seja, o ser humano, se quiser ser fiel e obediente ao seu Criador, deve crer no que a Bíblia diz e fazer exatamente o que a Bíblia determina.
– Sendo a Palavra de Deus e a fiel comunicação da vontade divina aos homens, não há, mesmo, como deixar de observar o que é prescrito pelas Escrituras, nem deixar de crer naquilo que ela nos diz.
No entanto, apesar disto, não têm sido poucas as tentativas, ao longo da história, e no meio do povo de Deus, para descaracterizar esta autoridade absoluta e prioritária que deve ter a Bíblia Sagrada na vida de um servo do Senhor.
– Por primeiro, como já dissemos supra, a Bíblia é a primeira a dizer que deve ser adotada como única regra de fé e prática. O próprio Deus pôs a Palavra acima de Seu nome (Sl.138:2), como também afirmou que Sua prioridade é velar pelo seu cumprimento (Jr.1:12).
Em Seu ministério terreno, Jesus não agiu diferentemente. Também afirmou que as Escrituras não podem ser anuladas (Jo.10:35), serem portadoras da vida eterna (Jo.5:39), como também serem A Verdade (Jo.17:17), tendo, inclusive, ao dizer isto, pedido ao Pai que santificasse Seus discípulos por meio desta mesma Palavra.
Os apóstolos, na igreja primitiva, jamais deixaram de autenticar a sua pregação com a Palavra de Deus, como revelam todos os sermões e ensinos registrados em o Novo Testamento.
Não há, pois, como deixar de observar que a própria Bíblia afirma ser a única regra de fé e de prática de um servo do Senhor.
– Não bastasse a própria afirmação da Bíblia, temos que, ao longo da história de Israel, todos quantos procuraram se rebelar contra a autoridade das Escrituras foram apresentados como pessoas que se fizeram inimigas da vontade de Deus, demonstrando, claramente, que a desconsideração da autoridade das Escrituras é atentado contra o próprio Deus.
– São diversos os exemplos, mas citemos apenas alguns a título de ilustração:
- a) Saul, o primeiro rei de Israel, foi rejeitado por Deus porque preferiu sacrificar a obedecer à Palavra do Senhor (I Sm.13:8-14).
- b) Davi, mesmo sendo um homem segundo o coração de Deus, viu transformar-se em tragédia uma festividade que realizou para levar a arca de Deus para Jerusalém, por não ter atentado à lei do Senhor (II Sm.6:3-9; II Cr.15:1-3).
- c) O povo do reino de Israel, o reino das dez tribos do Norte, perdeu a sua terra e a sua identidade, até o dia de hoje, porque rejeitou o conhecimento de Deus, ou seja, a observância da Sua Palavra (II Rs.17:7-23).
- d) O povo do reino de Judá, o reino das duas tribos do Sul, perdeu a sua terra, que descansou durante setenta anos, por não ter cumprido a determinação do ano sabático (II Cr.36:21,22).
- e) Os saduceus são apontados por Jesus como pessoas que viviam erradamente sob o ponto-de-vista espiritual por não conhecerem as Escrituras, ou seja, não a observarem, erro este que levou à total destruição deste partido judeu quando da destruição do templo de Jerusalém no ano 70 d.C. e a derrota definitiva para os romanos no ano 135 d.C. (Mt.22:29; Mc.12:24; Mc.12:27).
OBS: “…O conflito entre os saduceus aristocráticos e os fariseus plebeus — além das divergências doutrinárias era de caráter político e social.
Seus agrupamentos representavam interesses de classe opostos, e a animosidade continuou até a debacle do heróico Bar Kochba em sua revolta contra os romanos, em 135 d.C. Contudo, o poder secular e religioso dos saduceus já havia sido abalado anteriormente em 70 d.C. (por ocasião da Destruição do Templo) e havia sido enterrado com a caliça do edifício do Templo e as ruínas políticas do Estado Judeu…” (AUSUBEL, Nathan. Saduceus. In: A JUDAICA, v.6, p.753).
– Apesar destes exemplos bíblicos, não foram nem são poucos os que se encontram na mesma e triste lamentável situação dos saduceus, errando por não conhecerem as Escrituras e lhes negando autoridade, embora se digam, como o faziam os saduceus, “defensores intransigentes das Escrituras” e isto porque, assim como os saduceus, embora afirmem prestigiar o texto sagrado e reconhecer-lhe a autoridade, diminuíam-no na prática de seus atos.
Os saduceus, por exemplo, somente criam nos cinco livros da lei, desprezando todas as demais Escrituras, como se elas não fossem igualmente inspiradas por Deus. De igual modo, estes “modernos saduceus” promovem muitos erros porque não aceitam a autoridade da Bíblia Sagrada.
– Assim, existem aqueles que, embora digam que as Escrituras têm autoridade, não a consideram “a única autoridade”.
É o que ocorre, por exemplo, com a Igreja Romana, que, ao lado das Escrituras, consideram também como igualmente autoritária a “Tradição”, ou seja, os costumes e os ensinamentos surgidos ao longo da história daquela instituição. Como, porém, podem costumes e ensinamentos humanos ter o mesmo valor da Palavra de Deus?
OBS: A Igreja Romana põe em pé de igualdade as Escrituras e a Tradição, o que é completamente errado.
Transcrevemos um dentre muitos textos doutrinários romanistas que confirmam esta posição equivocada: “…não é através da Escritura apenas que a Igreja deriva sua certeza a respeito de tudo que foi revelado.
Por isso ambas[Escritura e Tradição] devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência. (Constituição dogmática “Dei Verbum”, n.9).
– Nada pode ser colocado ao lado e, muito menos, acima da Bíblia Sagrada. Ela deve ser a única regra de fé e de prática.
As heresias e falsas doutrinas sempre apresentam outros “escritos”, outras “revelações”, que buscam “complementar” as Escrituras, mas tudo deve ser sumariamente rejeitado, pois só à Sua Palavra o Senhor engrandeceu.
Jesus foi bem incisivo ao afirmar que somente a Palavra de Deus permanece para sempre (Mt.24:35; Lc.21:33; I Pe.1:23,25). Não é à toda que, em nossa declaração de fé, é dito que a Bíblia Sagrada é “única revelação escrita de Deus”.
– Nos dias difíceis em que vivemos, precisamos tomar cuidado para que nada seja igualado à Palavra de Deus.
A Bíblia Sagrada deve ser a nossa única regra de fé e de prática. Até mesmo as manifestações espirituais devem ser julgadas à luz da Palavra de Deus (I Co.14:29,32 combinado com Jo.7:24).
Nestes dias, somente quem se agarrar à Palavra do Senhor poderá resistir até o dia do arrebatamento da Igreja!
IV – A INFALIBILIDADE E A INERRÂNCIA DA BÍBLIA SAGRADA
– Sendo, como o é, a Palavra de Deus, temos que a Bíblia, além de ter a suprema autoridade em matéria espiritual, é inerrante, ou seja, algo que não tem qualquer erro, que não apresenta qualquer equívoco, como também infalível, ou seja, algo que não pode ser sujeita a qualquer falha, a qualquer erro, ou seja, que tudo quanto afirma, inevitavelmente ocorreu ou ocorrerá. Como a Bíblia foi comunicada diretamente pelo Espírito Santo a homens que estavam em comunhão com Ele, não há como ter havido qualquer erro, falha ou equívoco na transmissão da mensagem e na sua redução a escrito.
– A inerrância e a infalibilidade da Bíblia Sagrada, além do mais, são sustentadas pelo Espírito Santo ao longo dos séculos, pois, como sabemos, não existem originais do texto sagrado, visto que os textos primeiramente recebidos pela “inspiração verbal plenária” foram, pelo próprio poder de Deus sobre o povo, reconhecidos como autoritários e, a partir de então, copiados geração após geração, conforme as técnicas e os meios existentes naquele tempo, como o são hoje em dia, como podem testemunhar não só as bíblias impressas aos milhares diariamente, como também as bíblias lançadas, a cada dia, pelos mais sofisticados e avançados meios telemáticos.
– Pode alguém dizer: como podemos crer que não tenha havido erro nas cópias feitas ano após ano, década após década, com tanta dificuldade e em condições tão precárias, como na Antiguidade?
Como podemos aceitar que o texto bíblico que temos em nosso poder, em pleno século XXI, era o mesmo texto revelado a Moisés no Sinai mais de mil e quinhentos anos antes do próprio nascimento de Cristo?
– Por primeiro, devemos observar que a inerrância das Escrituras não é matéria que se possa provar por meio da razão. Assim como o conteúdo da Bíblia deve ser apreendido pela fé, de igual maneira, somente pela fé podemos crer que o conteúdo da Bíblia é inerrante e tem sido mantido e sustentado pelo Senhor ao longo da história, até porque é promessa Sua velar pelo cumprimento da Sua Palavra e este zelo impõe, primeiramente, a manutenção da mensagem tal qual ela foi revelada a cada um dos escritores.
– A despeito de a fé ser a única forma pela qual possamos aceitar a inerrância das Escrituras, o Senhor tem feito o homem descobrir e verificar vários fatos e episódios que são indicadores seguros e irrefutáveis de que a Bíblia Sagrada não é um livro comum, mas uma obra totalmente distinta de tudo quanto tem se produzido pela humanidade.
Assim, por exemplo, em 1947, quando se descobriram os famosos manuscritos do Mar Morto, textos bíblicos quase quinhentos anos mais antigos que os manuscritos mais antigos até então conhecidos, se revelou como havia uma incrível e intensa semelhança entre os textos, inclusive com a superação de diversas “contradições” ou “suspeitas” que se levantaram com relação a textos da versão grega da Bíblia, que se mostrou perfeitamente consonante com estes textos encontrados nas cavernas próximas ao Mar Morto.
Temos, então, aí, uma comprovação científica de que como o texto bíblico foi mantido praticamente intacto durante meio milênio.
– Como se não bastasse isso, as profecias bíblicas revelam sua extrema veracidade, pois diversos episódios preditos com séculos de antecedência cumpriram-se fielmente, não se tendo exemplo algum de profecia bíblica que não tenha se cumprido.
Ou a profecia já se cumpriu ou ainda não se cumpriu, mas nenhuma profecia bíblica foi desmentida até hoje pelos fatos. Como, então, não reconhecer a sua infalibilidade?
É um filósofo da ciência, Karl Popper, que diz que a ciência deve considerar como verídica toda e qualquer teoria enquanto ela não for desmentida. Por que, então, há esta recusa de se admitir a infalibilidade (ou pelo menos, a verdade provisória, como diz Popper) das Escrituras?
– Por fim, dia após dia, pessoas têm sido regeneradas e mudado completamente de vida por causa de sua crença em Deus segundo as Escrituras.
Enquanto outros escritos sagrados têm, quando muito, tornado algumas pessoas em devotas e religiosas exemplares, a Bíblia Sagrada, bem ao contrário, tem reconstruído vidas, restaurado lares, modificado, inclusive, cidades e países inteiros.
A Bíblia mostra que não é apenas uma explanação teórica a respeito do homem, mas um poderoso instrumento de transformação do ser humano. Assim, as promessas constantes de seus textos têm se cumprido e se concretizado na vida de milhões de pessoas, sem qualquer desmentido, a provar que ela é infalível.
– Entretanto, temos de entender que a inerrância e a infalibilidade estão relacionadas diretamente com a inspiração das Escrituras e, portanto, dizem respeito à mensagem originariamente transmitida aos homens inspirados pelo Espírito Santo e que foram sendo copiadas e transmitidas geração após geração.
Evidentemente que, num ou outro manuscrito, há, e têm sido encontrados, um ou outro erro de cópia, erro, porém, que, contrastado com outro número de manuscritos, é perfeitamente identificado e mesmo, em muitos casos, perfeitamente explicado.
Tais descobertas, que abrangem, em grande número de casos, elementos absolutamente secundários do texto bíblico, são verdadeiras comprovações do zelo que o Espírito Santo tem para com a Bíblia Sagrada, algo que jamais se encontra em quaisquer outras obras.
Não nos esqueçamos de que a cópia de um texto é algo feito pelo homem, e um homem que não está sob a inspiração verbal plenária, e que, por isso mesmo, neste ato de copiar não estão envolvidos os conceitos de inerrância nem de infalibilidade.
Entretanto, na descoberta dos equívocos e na pesquisa meticulosa e extremamente detalhada que, ao longo da história, milhares de estudiosos fazem para manter ou comprovar a inerrância e infalibilidade do texto sagrado, vemos a evidente atuação do Espírito Santo, a zelar pela integridade da Palavra de Deus.
– Outro fator que não está sob o império da inerrância e da infalibilidade é o da tradução e versão da Bíblia.
Aqui, também, não temos a atuação da “inspiração verbal plenária” e, portanto, tais atividades podem ter erros ou equívocos, como também necessitam, de tempos em tempos, de revisões e atualizações, pois são ações humanas e, como tal, sujeitas ao tempo e ao espaço.
A primeira versão da Bíblia Sagrada em língua portuguesa a ser levada para a imprensa, a de João Ferreira de Almeida, que continha o Novo Testamento, ainda antes de ter sido lançada, teve, pelo próprio tradutor apontados cerca de 1.000 erros de tradução.
Aliás, é por isso que esta Versão, após terem sido feitas as correções, é conhecida como Almeida Revista e Corrigida, ou seja, foi objeto de uma correção e, se foi corrigida, é porque continha erros. Na década de 1940, a Sociedade Bíblica do Brasil efetuou uma atualização desta Versão que, feita no século XVII, se encontrava extremamente defasada e era de difícil compreensão da população da metade do século XX, surgindo, então, a Versão Almeida Revista e Atualizada.
Tudo isto é possível e até necessário porque versões e traduções são obras humanas, feitas segundo a vontade de Deus, no sentido da tarefa da Igreja, mas sem a “inerrância e infalibilidade”.
OBS: “…Antes que saísse do prelo sua tradução, em 1º de janeiro de 1681, Almeida publicava uma lista de mais de mil erros em seu Novo Testamento, e Ribeiro dos Santos afirma serem mais.
Estes erros eram devidos ao trabalho de revisão feito por uma comissão holandesa que procurou pôr a tradução de Almeida em harmonia com a versão holandesa. Algumas razões levam-nos a crer sido esta uma versão pobre, no dizer de Ribeiro dos Santos.
O texto grego do qual ele traduziu não era bom, embora fosse o melhor do seu tempo. Sua linguagem não era boa, não só por haver deixado Portugal bem cedo, mas também porque tentou fazer uma tradução literal, seguindo muito de perto a versão holandesa de 1637 e a castelhana de Cipriano de Valera de 1602.
Também o trabalho de revisão, feito por seus colegas holandeses, piorou ainda mais o seu trabalho.…” (P. JÚNIOR, Isaías L. A história da tradução da Bíblia em português. Disponível em: http://jbbiblia.blogspot.com/ Acesso em 26 out. 2006).
– Devemos, portanto, ver quais são os limites da inerrância e da infalibilidade das Escrituras, não acolhendo os entendimentos da chamada “teologia liberal”, que tem negado veementemente a infalibilidade e inerrância das Escrituras, algo que é inadmissível, mas também não elevando atividades meramente humanas, ainda que dirigidas pelo Espírito Santo e do agrado do Senhor, a uma infalibilidade e inerrância que somente a ação divina possui.
Assim agindo, certamente não seremos enganados pelos falsos doutores destes dias finais da dispensação da graça nem tampouco nos decepcionaremos com a nossa fé quando encontrarmos erros e problemas que não são das Escrituras mas do trabalho de abnegados servos do Senhor na divulgação da Bíblia Sagrada.
– O Salmo 119, praticamente o meio da Bíblia Sagrada, fala dela própria. Este salmo tem como tema as próprias Escrituras e nos revela de forma sublime o valor da Palavra de Deus e a necessidade que temos de colocá-la como nosso guia, como a lâmpada para nossos pés, como luz para o nosso caminho, como a preciosa joia que devemos esconder em nossos corações para não pecarmos contra o Senhor.
Esta Palavra que temos prazer em estudar em cada Escola Bíblica Dominical, esta Palavra que temos a graça divina de ouvir, meditar e seguir, este tesouro que o Senhor nos dá de dia e de noite, deve ser cada vez mais valorizada em nosso meio, pois num mundo onde os fundamentos se transtornam (Sl.11:3), onde não há mais absolutos, verdades ou certezas, somente aqueles que conhecem e praticam a Palavra de Deus poderão ter esperança, a esperança de um novo céu e uma nova terra onde habitam a justiça.
– “Nossa declaração de fé é esta: cremos, professamos e ensinamos que a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, única revelação escrita de Deus dada pelo Espírito Santo, escrita para a humanidade e que o Senhor Jesus Cristo chamou as Escrituras Sagradas de a “Palavra de Deus”; que os livros da Bíblia foram produzidos sob inspiração divina: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil” (II Tm.3:16 – ARA).
Isso significa que toda a Escritura foi respirada ou soprada por Deus, o que a distingue de qualquer outra literatura, manifestando, assim, o seu caráter sui generis.
As Escrituras Sagradas são de origem divina; seus autores humanos falaram e escreveram sob inspiração verbal e plenária do Espírito Santo: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe.1:21).
Deus soprou nos escritores sagrados, os quais viveram numa região e numa época da história e cuja cultura influenciou na composição do texto. Esses homens não foram usados automaticamente; eles foram instrumentos usados por Deus, cada um com sua própria personalidade e talento.
A inspiração da Bíblia é especial e única, não existindo um livro mais inspirado e outro menos inspirado, tendo todos o mesmo grau de inspiração e autoridade. A Bíblia é nossa única regra de fé e prática, a inerrante, completa e infalível Palavra de Deus:
“A lei do Senhor é perfeita” (Sl.19:7). É a Palavra de Deus, que não pode ser anulada: “e a Escritura não pode falhar” (Jo.10:35 – ARA)”. (Início do Capítulo I – Sobre as Sagradas Escrituras da Declaração de Fé da CGADB).
Ev. Caramuru Afonso Francisco