LIÇÃO 01 – UMA PROMESSA DE SALVAÇÃO
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Pela graça de Deus, estamos a terminar mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical, um ano marcado por uma crise de imensas proporções em nosso país.
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Entretanto, em meio a esta crise, tivemos a graça de ter aprovada a Declaração de Fé da CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), um marco na história da educação doutrinária em nossa denominação.
Neste quarto e último trimestre teremos, uma vez mais, um trimestre temático, onde estudaremos a Soteriologia, ou seja, a doutrina da salvação, um importantíssimo estudo, uma vez que, lamentavelmente, nestes dias difíceis em que estamos a viver, muitos têm se esquecido da mensagem primordial da Igreja, que é a de que “Jesus salva”.
A essência do Evangelho é a pregação de que Jesus veio ao mundo para salvar a humanidade, para promover a reconciliação com Deus, restaurar a comunhão perdida com a entrada do pecado no mundo.
O tema do trimestre é “A obra da salvação – Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida”.
Trata-se de um título muito sugestivo, pois nos faz recordar que a salvação é uma obra, ou seja, uma ação que foi planejada por Deus desde antes da fundação do mundo e executada através dos séculos, culminando com a vinda de Jesus para este mundo, onde consumou esta obra, morrendo por nós na cruz do Calvário e, agora, tal obra deve ser anunciada pela Igreja neste “dia” aberto por Deus para que a humanidade tenha a oportunidade de crer nesta salvação e voltar a ter comunhão com o seu Criador.
Não há salvação fora de Cristo Jesus e é isto que enfatiza o subtítulo de nosso tema, que reproduz o que o próprio Senhor Jesus disse aos Seus discípulos, em meio a Suas últimas instruções, mostrando que não há outro meio de se salvar a não ser pela fé em Jesus Cristo, fé que nos faz não apenas acreditar que Ele é o Salvador, mas nos faz seguir o Seu caminho durante a nossa peregrinação terrena, caminho que é pautado pelas Escrituras Sagradas, a Palavra de Deus, que é a verdade e que, por fim, nos conduzirá à vida eterna, à perene comunhão com o Senhor na Sua glória.
A capa da revista deste trimestre mostra-nos uma cruz, a nos fazer lembrar que a salvação foi consumada na cruz do Calvário, onde Jesus Se ofereceu como sacrifício perfeito para o pagamento dos pecados de toda a humanidade. É na cruz que se consuma a obra da s,alvação, tanto que o Senhor exclamou:
“Está consumado” (Jo.19:30). Como diz a poetisa sacra e missionária Frida Vingren, no último verso da primeira estrofe do hino 397 da Harpa Cristã: “Meu perdão foi consumado lá na cruz”.
O trimestre pode ser dividido em dois blocos.
O primeiro, trata da salvação como um todo, como se desenvolveu o plano da salvação e quais as características desta salvação, abrangendo as lições 1 a 9.
O segundo trata do processo da salvação, das várias etapas da salvação, abrangendo as lições 10 a 14.
O comentarista deste trimestre é o pastor Claiton Ivan Pommerening, que, pela vez primeira, comenta uma lição da faixa etária dos adultos, mas que já comentou uma lição da faixa etária dos jovens em 2016.
Ele é o diretor da Faculdade Refidim, a escola teológica da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Joinville/SC, e do Colégio Evangélico Pr. Manoel G. Miranda; vice-presidente da CEEDUC – Associação Centro Evangélico de Educação Cultura e Assistência Social em Joinvile (SC); sendo teólogo e um dos expoentes recentes da teologia pentecostal em nosso país.
B) LIÇÃO Nº 1 – UMA PROMESSA DE SALVAÇÃO
A salvação é uma promessa divina.
INTRODUÇÃO
– A salvação é uma promessa divina.
– Deus prometeu salvar o homem e cumpriu Sua promessa enviando-nos Jesus Cristo.
I – A SALVAÇÃO É UM DELIBERAÇÃO DIVINA DESDE A ETERNIDADE
– Neste trimestre, estudaremos a doutrina da salvação, conhecida como Soteriologia, uma das doutrinas fundamentais da Bíblia Sagrada.
– Deus, na Sua presciência, sabia que o homem, que seria criado por Ele, haveria de pecar e, por isso, desde antes da criação de todas as coisas, já havia planejado salvar o homem, salvação que se daria mediante Jesus Cristo.
É o que vemos revelado na Bíblia Sagrada em textos como Ef.1:4, I Pe.1:20 e Ap.13:8.
– Em Ef.1:4, o apóstolo Paulo nos mostra que Deus escolheu salvar o homem em Jesus Cristo, a fim de que o homem pudesse ser santo e irrepreensível diante do Senhor e tal deliberação se deu antes da fundação do mundo, ou seja, antes mesmo que houvesse a criação de todas as coisas. Deus sempre teve o propósito de salvar o homem, de realizar o Seu propósito de ter em Sua companhia o homem para todo o sempre.
– Em I Pe.1:20, o apóstolo Pedro corrobora o ensino de Paulo, revelando que o Salvador já fora escolhido ainda antes da fundação do mundo, bem como que deveria, mediante o Seu sacrifício vicário, como Cordeiro de Deus, realizar esta obra salvífica, embora isto somente fosse manifestado aos homens no devido tempo.
– Por fim, em Ap.13:8, o apóstolo João tem a revelação de que o Senhor Jesus já era o Cordeiro de Deus, Aquele que devia dar a vida pelos pecadores, em um sacrifício vicário, ou seja, como substituto dos pecadores, ainda desde a fundação do mundo, pois Sua morte já fora prevista como necessária para tal salvação por Deus.
– A salvação, portanto, é algo que estava no desígnio divino desde a eternidade, e, por isso, é chamada de “salvação eterna” (Is.45:17; Hb.5:9), porquanto é algo que se encontrava determinado desde a eternidade, ainda mesmo que surgisse o tempo e eis, irmãos, um motivo para não duvidarmos desta promessa e para reconhecermos ser esta salvação “tão grande”, como nos relatou o escritor aos hebreus (Hb.2:3), bem como para entendermos porque a recusa a esta salvação representará o tormento eterno.
– A deliberação divina da salvação do homem também nos ensina que o homem não pode salvar-se a si próprio, depende de Deus para que seja salvo. Se não fosse assim, Deus não iria, desde antes da criação do mundo, envolver-se na salvação da humanidade.
Ao fazê-lo, mostra, com absoluta clareza, que o homem não teria condição alguma de obter a salvação por suas próprias forças, sendo necessária a intervenção divina para tanto.
Deus não faz coisa alguma sem propósito e, ao deliberar salvar o homem e, ainda por cima, através de Jesus Cristo, uma das Pessoas divinas, deixa clarividente que a salvação só pode ter origem em Deus, não tem como partir do próprio homem.
II – A PROMESSA DA SALVAÇÃO NO “PROTOEVANGELHO”
– Quando o homem pecou no Éden, Deus não foi tomado de surpresa.
Não se tratava de fazer um “plano B” para resolver o problema surgido com a queda do primeiro casal, pois tudo já estava previsto pelo Senhor que tão somente, no instante mesmo do juízo lançado sobre o primeiro casal, tornou conhecido este Seu plano para a humanidade.
– Este anúncio da salvação foi feito quando o Senhor Se dirigiu à serpente e afirmou que seria posta inimizade entre ela e a mulher, pois a semente da mulher feriria a cabeça da serpente e esta lhe feriria o calcanhar (Gn.3:15).
– Este é o primeiro anúncio das boas novas da salvação, o primeiro anúncio do Evangelho ao homem, o que é denominado de “protoevangelho” (o primeiro evangelho).
– Neste primeiro anúncio do Evangelho, tendo sido feito pelo próprio Deus, pode nos dar importantíssimas lições a respeito de como devemos evangelizar.
– A primeira circunstância que nos chama a atenção é de que Deus fala a respeito desta salvação.
Não escolheu interlocutores, Ele próprio anunciou a notícia da salvação. O Evangelho é a própria Palavra de Deus e, por isso mesmo, em sendo uma revelação de Deus ao homem, de modo que não há como evangelizar sem se ter como base a Bíblia Sagrada, que é a Palavra de Deus, a verdade (Jo.17:17).
– A segunda circunstância é que Deus, ao fazer o anúncio da boa notícia da salvação para a humanidade, não está Se dirigindo ao primeiro casal, mas, sim, à serpente, ou seja, Satanás, que havia sido o responsável pela tentação que levara o primeiro casal à queda.
– Por que Deus Se dirigiu ao diabo e não ao primeiro casal, já que, afinal de contas, se tratava de uma boa nova para a humanidade e não para o inimigo de nossas almas, que não tem qualquer chance de salvação?
– Por primeiro, porque se tratava de mostrar ao diabo que a queda do homem não havia sido uma vitória para o diabo, como ele pensara, mas, sim, algo que se encontrava devidamente previsto por Deus e que não alteraria em coisa alguma o plano de Deus para com o homem, para estabelecer a comunhão entre Deus e a humanidade, humanidade que teria uma posição ainda mais excelente que a que o querubim ungido, agora caído, havia tido nos céus.
– O anúncio do Evangelho, portanto, mostra-nos, num primeiro instante, que Deus é soberano e que nenhum dos Seus pensamentos pode ser impedido (Cf. Jó 42:2). O Evangelho é uma manifestação da soberania divina, de Seu senhorio.
– Verificamos, portanto, que o anúncio do Evangelho é a pregação do reino de Deus, de Sua soberania, de Sua majestade.
O Evangelho permite-nos participar deste reino não como inimigo, como era o caso da serpente, que sofria esta soberania na forma de ira e de castigo, mas, sim, como amigo, como alguém que é convidado a desfrutar deste reino na companhia do Rei.
– Por segundo, Deus, ao anunciar ao diabo o Seu plano de redenção da humanidade, mostra-nos que o amor de Deus é superior a todo e qualquer mal, seja das hostes espirituais da maldade, seja do próprio pecado na humanidade, de modo que nada pode superar este amor e o Evangelho é a demonstração deste amor, algo em que podemos crer, confiar.
Não é à toa que o Senhor Jesus, ao pregar o Evangelho do reino de Deus, convidou todos a crer no Evangelho (Mc.1:15).
– O apóstolo Paulo afirmou que nada nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm.8:39) e esta evidência já se demonstrara no “protoevangelho”, pois, ao dizer para o próprio inimigo que a semente da mulher iria ferir a cabeça da serpente, Deus está a revelar que nada poderia impedir o homem de voltar a ter comunhão com seu Criador.
O Evangelho é algo em que se pode confiar, pois é garantido pelo próprio Deus.
– A terceira circunstância que verificamos no “protoevangelho” é a de que Deus disse que haveria uma inimizade entre o diabo e a humanidade, ou seja, a humanidade voltaria a ter comunhão com Deus, Satanás tornaria a ser o adversário do homem.
O Evangelho é a notícia de que haveria separação entre o homem e o maligno, haverá comunhão com Deus.
– Isto nos mostra, claramente, que o anúncio do Evangelho implica em necessária divulgação da separação entre o homem e o maligno, entre o homem e o pecado, um anúncio de que é necessário ter santidade, ou seja, separação do pecado.
O Evangelho impõe que o homem se torne inimigo do mal e do pecado.
– A quarta circunstância que verificamos no “protoevangelho” é de que a salvação se dá pela “semente da mulher”, que outro não é senão o Senhor Jesus. É a semente da mulher que proporciona a salvação da humanidade, não há nenhum outro Salvador (At.4:12).
– Quando o apóstolo Paulo afirma, em Gl.4:4, que Jesus nasceu de mulher está a confirmar esta promessa feita por Deus ao primeiro casal.
Jesus veio ao mundo, nascido de mulher, como a semente da mulher, tendo ocupado o ventre e Maria, gerado por obra e graça do Espírito Santo, para ser o Salvador do mundo.
– A salvação viria pela semente da mulher, por alguém que Se faria homem, nascendo da mulher, mas que não deveria coisa alguma à mulher para realizar a Sua missão salvífica.
Quem esmagaria a cabeça da serpente seria a semente da mulher, quem seria ferido no calcanhar seria a semente da mulher.
– A salvação teria de ser feita por intermédio de um ser humano e o ser humano teria de nascer da mulher, mas a mulher que seria o veículo da vinda do Salvador seria tão pecadora quanto Eva, “a mãe de todos os viventes”.
Por isso, não há fundamento algum para entender que Maria tenha sido “corredentora”, que necessariamente tenha de ter uma “imaculada conceição”, pois o Evangelho é o anúncio da semente da mulher, a quem cabe com exclusividade a salvação.
– O Evangelho, portanto, é a pregação a respeito da semente da mulher, é o anúncio de Jesus Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador da humanidade.
– A quinta circunstância que se nota no “protoevangelho” é a de que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente, ou seja, o Evangelho é a mensagem da vitória sobre o maligno, da vitória sobre o pecado, algo a ser realizado pela semente da mulher e que repercutiria em favor da humanidade.
– O apóstolo Paulo confirma esta circunstância quando, no final da carta aos Romanos, afirma que “o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés” (Rm.16:20).
A vitória sobre o inimigo é um dos elementos das boas novas da salvação, vitória esta que se deve única e exclusivamente ao “Deus de paz”, ao “Príncipe da paz”, a Cristo Jesus, a semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente.
– O Evangelho é a pregação da vitória de Cristo sobre o mal, o reconhecimento da impotência do homem para vencer o maligno e a sua necessária dependência de crer na obra salvífica de Cristo, obra esta que ainda não se encontra totalmente terminada, não em termos de salvação, pois a salvação está completa, a missão foi integralmente cumprida na cruz do Calvário,
mas que significará a total erradicação do mal no futuro, quando o diabo e suas hostes espirituais serão definitivamente lançados no lago de fogo e enxofre, preparado para eles mesmos (Mt.25:41).
– O Evangelho, portanto, ao mesmo tempo em que traz a notícia da nossa necessária separação do mal e de que o maligno “está com os seus dias contados”, também nos mostra a extrema necessidade que temos de nos manter em Cristo para podermos vencer definitivamente o maligno, algo que ainda é futuro.
Bem se vê, portanto, que o Evangelho é totalmente diverso do triunfalismo que tantos têm pregado na atualidade.
– A sexta circunstância que se nota no “protoevangelho” é a de que a semente da mulher teria seu calcanhar ferido, ou seja, a salvação exigiria o pagamento de um preço, impunha um sofrimento por parte da semente da mulher.
O Evangelho não esconde a necessidade da satisfação da justiça divina para que se obtivesse a salvação da humanidade, pagamento a ser feito pela própria semente da mulher.
– O ferimento do calcanhar fala-nos do sacrifício de Cristo, Cristo que já fora morto desde a fundação do mundo, como já analisamos supra.
O sacrifício vicário de Cristo é uma verdade indissociável do Evangelho e não se pode jamais omitir na evangelização o pagamento dos pecados por Cristo. Não é possível um Evangelho sem cruz.
– A sétima circunstância é a de que o anúncio da salvação foi uma resposta divina à afirmação da mulher que tinha sido enganada pela serpente e comido do fruto proibido, afirmação que se seguiu à do homem que havia culpado a mulher.
O Evangelho é a resposta divina à queda do homem, é a demonstração de que Deus não ficou indiferente a este fracasso espiritual.
– O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16), a solução para o problema do pecado, é algo divino que nos é entregue pelo amor de Deus para que possamos superar este obstáculo que, para o homem é intransponível.
III – A PROMESSA DA SALVAÇÃO É DIVINA
– Ao pecar, o homem tornou-se servo do pecado (Jo.8:34), dominado totalmente por ele (Gn.4:7), sem condição alguma de modificar esta situação.
– Entretanto, a história não terminou com esta tragédia. Bem ao contrário, a Bíblia Sagrada nos ensina que, mesmo antes da fundação do mundo, dentro de Sua presciência, Deus já havia elaborado um plano para retirar o homem desta situação tão delicada (Ef.1:4; Ap.13:8).
Este plano, já existente mesmo antes da criação do mundo, foi revelado ao homem no dia mesmo de sua queda, quando o Senhor anunciou que haveria de surgir alguém da semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente e tornaria a criar inimizade entre o homem e o mal e, consequentemente, amizade, comunhão entre Deus e o homem (Gn.3:15).
Vemos, pois, claramente, que a salvação é algo que sua origem em Deus, que o homem não poderia, por si só, alcançar meios para restaurar a sua comunhão original com o seu Criador.
Deus, pelo Seu grande amor, providenciou um plano para trazer o homem de volta ao convívio com Ele.
– Este plano de Deus para a salvação do homem, revelado à humanidade no momento mesmo da aplicação da penalidade pela prática do pecado, foi sendo executado desde então.
O primeiro gesto deste plano foi a proibição de o homem ter acesso à árvore da vida por causa do pecado (Gn.3:22), acompanhado da expulsão do Éden (Gn.3:23).
Com estas medidas, Deus impediu que o homem, a exemplo dos anjos pecadores, vivesse numa dimensão eterna, condenado à inevitável e sempiterna separação de Deus, possibilitando ao homem que, mediante o arrependimento enquanto estivesse na dimensão terrena, pudesse desfrutar de uma eternidade com o Senhor.
– A partir de então, o Senhor iniciou a execução de Seu plano que alcançou o seu ápice quando da própria encarnação do Deus Filho, momento que as Escrituras denominam de “a plenitude dos tempos” (Gl.4:4), instante em que Deus cumpre a Sua promessa de providenciar, da semente da mulher, o único e suficiente Salvador, Jesus, o Seu próprio Filho (Mt.1:21; Lc.2:11; Jo.3:16,17; At.4:12). Eis a razão pela qual a Bíblia, mais de uma vez, diz que Deus é o Deus da nossa salvação (I Cr.16:35; Sl.24:5; 51:14), bem como que a salvação dEle provém (Sl.3:8; 37:39; 62:1).
– A salvação, uma vez mais se mostra, foi obtida por intermédio da iniciativa divina. Não só Deus enviou o Seu Filho, como a obra da salvação somente se consumou porque o Filho deu a Sua vida pela humanidade (Jo.10:15-18).
A salvação foi consumada na cruz do Calvário, quando Jesus morreu por nós (Jo.19:30;Cl.1:20; Ef.2:13,16). Como diz o poeta sacro: “O meu perdão foi consumado lá na cruz” (primeira estrofe do hino 397 da Harpa Cristã).
– As Escrituras mostram que Deus é a fonte, a base da nossa salvação. Em diversas passagens, o Senhor é identificado como a “rocha” ou o “rochedo” da salvação, expressão que não apenas revela que Deus dá livramentos aos homens, mas que também n’Ele se encontra o mais importante livramento de que carece o homem depois que pecou: o livramento do domínio do pecado sobre a sua vida (Dt.32:15; II Sm.22:47; Sl.18:46; 62:2,6; 89:26).
– O homem não tem condições de salvar-se a si próprio. Esta é uma das grandes verdades anunciadas pela doutrina bíblica (Sl.146:3).
A Bíblia diz que Deus, ao contemplar os homens desde os céus, não viu justo algum (Sl.14:2,3) e aqueles que, por sua justiça, pudessem, de algum modo, achar graça aos olhos do Senhor, somente o fariam para si mesmos, sem condição alguma de transmitir sua justiça aos demais seres humanos (Ez.14:13-20).
Por isso, se a salvação não viesse por intermédio de Deus jamais o homem poderia ter esperança de voltar a ter um convívio eterno com o seu Criador.
– Mas, precisamente porque a salvação tem origem em Deus, podemos buscá-la e ter a certeza de que seus efeitos são permanentes e duradouros, pois, como qualquer outra obra do Senhor, a salvação apresenta algumas características que demonstram a sua sublimidade e grandeza.
– A salvação, por ter origem em Deus, é boa. Tudo quanto Deus fez é muito bom (Gn.1:31) e a salvação não é exceção.
A salvação é boa porque demonstra a bondade e misericórdia de Deus para com o homem.
Porque a salvação é boa, quando dela somos vestidos, alegramo-nos do bem (II Cr.6:41).
Porque a salvação é boa, quando a conquistamos, somos separados do mal e passamos a fazer o bem (Mt.5:16; Rm.12:9-21; Gl.5:22; Ef.4:20-32).
– A salvação, por ter origem em Deus, é eterna (Is.45:17; Hb.5:9). Deus é eterno e tudo quanto faz é, também, eterno e a salvação não é exceção.
A salvação permite ao homem que, tendo seus pecados perdoados, passe a desfrutar de uma nova comunhão com Deus, uma comunhão que é eterna, e, por isso mesmo, é chamada pela Bíblia de “vida eterna” (Jo.3:16; I Jo.2:25).
– A salvação, por ter origem em Deus, é perfeita (Tg.1:17). A salvação veio do alto, foi-nos dada por Deus e, por isso, é perfeita.
A salvação é tão perfeita que Jesus tirou o pecado do mundo (Jo.1:29), resolvendo, com o Seu sacrifício, a questão que atormentava a humanidade desde a queda no jardim do Éden, de uma só vez, removendo os pecados e permitindo restabelecer a comunhão com Deus (Ef.2:13-16; Hb.9:26-28).
– A salvação, por ter origem em Deus, é única (At.4:12). A salvação é obra do único Deus, do Deus imutável, e, portanto, só pode haver uma forma de salvação, um meio de salvação, que é através de Jesus Cristo.
Não existe outro modo de alcançarmos a salvação a não ser pela fé em Cristo, pela aceitação do Seu único sacrifício.
– A salvação, por ter origem em Deus, é um ato de amor (Jo.3:16). A salvação é a maior demonstração do amor de Deus ao homem.
Há, mesmo, quem diga que Deus permitiu o pecado para revelar este que é um dos Seus principais atributos, que não se revelaria sem que houvesse o pecado. Sem adentrarmos nesta discussão, que está além do que possamos compreender, o certo é que, através da salvação, Deus revela o Seu grande amor para com o homem, este amor incondicional e incompreensível, que se encontra muito além do nosso entendimento.
O fato é que Deus nos ama tanto que Se fez homem para pagar o preço dos nossos pecados e nos salvar, para que vivamos com Ele eternamente.
– A salvação, por ter origem em Deus, é uma manifestação da graça de Deus (Tt.2:11).
Deus, por intermédio da salvação, mostra que oferece ao homem um “favor imerecido”, a “graça”.
A salvação não vem ao homem porque o homem a mereça (e reside aqui uma das grandes dificuldades dos homens em compreenderem a salvação, pois sempre associam a salvação a algum mérito, o que, evidentemente, está completamente fora dos padrões bíblicos e da revelação divina sobre o assunto), mas porque Deus quis favorecer o homem, por ser um Deus de graça, manifestada em Jesus Cristo (I Co.1:4).
– A salvação, por ter origem em Deus, é um ato de justiça (Sl.65:5; 78:21,22; 98:2).
Deus é justo (Ex.9:27) e, por isso, a salvação é, também, a manifestação da Sua justiça. Por isso, a salvação se fez mediante a morte de Cristo na cruz do Calvário, para pagar o preço da justiça divina, pois não há perdão sem derramamento de sangue (Hb.9:22) e o salário do pecado é a morte, de forma que se fazia necessário um sacrifício para o perdão de todos os pecados.
Também, como a salvação é um ato de justiça, não há como escapar da ira divina se não se atentar para esta salvação (Hb.2:1-4).
A salvação permite-nos vislumbrar, com absoluta clareza, que aos homens que a aceitarem, aproximar-se-ão do Senhor (Sl.85:9), mas está longe dos ímpios (Sl.119:155) e só os que alcançarem a salvação estarão livres da ira de Deus (Sl.85:4).
IV – A SALVAÇÃO É UMA PROMESSA GERAL E CONDICIONAL
– Tendo visto como teve origem a promessa da salvação, temos que observar quais os parâmetros em que se deu esta promessa.
– Por primeiro, observamos que a promessa da salvação foi feita pelo próprio Deus ao primeiro casal, ainda no jardim do Éden, quando da imposição das penas pela desobediência, penas estas que já estavam previstas como se vê em Gn.2:16,17, numa clara demonstração de que Deus é fiel e que cumpre aquilo que fala.
– Destarte, como se trata de uma promessa feita pelo próprio Deus, em meio a uma atitude em que Deus confirmava a Sua fidelidade, não há porque duvidarmos da veracidade do fato de que o homem pode ser salvo por Deus, apesar de sua natureza pecaminosa.
Isto é importante, porque, nos dias em que vivemos, muitos têm sido enganados pelo mundo quanto a possibilidade de salvação, pois não são poucos os que atestam a santidade e a sublimidade de Deus única e exclusivamente para desencorajar o ser humano a buscar a salvação.
– Segundo estes “desestimuladores”, Deus é extremamente santo e tão elevado que não haveria como Se preocupar em salvar o homem. Não há como conceber-se que Deus, dizem eles, viria a Se importar com o homem, um ser malvado e que não tem como se salvar.
Tal pensamento é satânico e deve ser repelido. Deus, em Pessoa, prometeu ao homem que o haveria de salvar, no mesmo momento em que, por causa do pecado, expulsava-o do Éden e lhe impunha uma série de penalidades.
Deus ama o homem e, por isso, já havia providenciado um meio para que o homem voltasse a ter comunhão com Ele.
Este Deus a quem servimos é um Deus de amor e de misericórdia, é um Deus que é amor e, por isso, sente-Se atraído pelo homem a ponto de propiciar uma forma de restabelecer a comunhão, a vida que tinha com o homem antes do pecado.
– A promessa de salvação, portanto, é das promessas de Deus a que mais “compromete” o Senhor, ou seja, é Seu maior compromisso com ser humano, visto que promessa afirmada pela própria Divindade, quando reafirmava a Sua fidelidade e soberania.
Não há, portanto, porque duvidar do intento salvador do Senhor. Como disse o próprio Deus pela boca do profeta Isaías: “Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há Salvador” (Is.43:11) e, ainda, “E não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador, não há fora de mim” (Is.45:21 “in fine”).
– Por segundo, vemos que a promessa foi dirigida a toda a humanidade. Deus revelou Seu propósito de salvar o ser humano para o primeiro casal, ou seja, os pais da humanidade.
Foi uma promessa feita a todos os homens, visto que todos os homens se encontravam ali em Adão e Eva, como, aliás, confirmaram recentemente os cientistas, ao dizer que todos os seres humanos herdam de um casal comum, pela análise do DNA.
– Quando analisamos Gn.3:15, vemos Deus Se dirigindo à serpente, dizendo que haveria de suscitar “a semente da mulher” para ferir a cabeça do inimigo, o que, efetivamente, ocorreu quando, na plenitude dos tempos, Jesus veio, nascido de mulher (Gl.4:4), sob a lei, para cumpri-la a fim de resgatar a humanidade, tornando-se, pelo Seu sacrifício (Hb.9:26-28), a propiciação pelos pecados de todo o mundo (I Jo.2:2), que nada mais é que a ferida do calcanhar já mencionada na promessa da salvação.
– Eva, “a mãe de todos os viventes” (Gn.3:20), estava ali a representar toda a humanidade.
A semente da mulher viria para a salvação de todos os homens. A promessa da salvação é para todos. Como ensina o apóstolo Paulo, Deus quer que todos os homens se salvem (I Tm.2:4).
A promessa da salvação é, portanto, uma promessa geral, ou seja, feita a todos os seres humanos.
– A promessa da salvação é geral porque foi feita a toda a humanidade, representada no Éden pelos nossos pais.
Nem poderia deixar de ser diferente, pois o desejo de Deus, ao criar ao homem, foi tê-lo sempre em Sua companhia e, como sabemos, Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17).
Assim, o caráter divino não permitiria jamais que a salvação fosse oferecida a alguns e não a outros e, como já temos visto nas duas lições anteriores, a promessa de Deus revela o Seu caráter.
– Mas, dirão alguns, se a promessa da salvação é para todos os homens, por que eles não se salvam todos?
Como admitir que Deus tenha querido que todos os homens se salvem e haja aqueles que não serão salvos? Não seria, então, esta uma demonstração de que os neoteístas, que analisamos na lição anterior, tenham razão?
– Embora a promessa da salvação seja uma promessa geral, é, também, uma promessa condicional, ou seja, a proposta da salvação, a oferta da salvação depende da aceitação por parte do beneficiário.
– Bem entendemos isto quando notamos que a promessa da salvação foi revelada no exato instante em que Deus punia o primeiro casal pelo mau uso do livre-arbítrio.
Ali, no instante da promessa divina, o Senhor estava a comprovar que havia feito o ser humano com o livre-arbítrio, com a liberdade de escolha. Em Gn.2:16,17, vemos claramente que o homem poderia, embora não devesse, escolher entre obedecer a Deus ou não.
Podia comer livremente de toda a árvore do jardim, mas, no dia em que desobedecesse ao Senhor, certamente morreria.
– Foi, precisamente, o que ocorreu e, por isso, foi responsabilizado por Deus, pois o outro lado da liberdade é a responsabilidade.
Ora, ao ter prometido a salvação ao homem neste exato instante, o Senhor reafirma a liberdade do homem.
Prometeu a salvação precisamente para aquele que continuava a ter o livre-arbítrio, a liberdade de aceitar, ou não, a oferta que lhe era apresentada.
De modo inevitável e infalível, haveria de surgir a semente da mulher para ferir a cabeça da serpente.
Isto independeria da vontade do homem, era um compromisso assumido por Deus.
No entanto, se esta ferida da cabeça da serpente iria, ou não, alcançar o ser humano, isto ficaria dependendo da sua vontade, pois a promessa de salvação é condicional, exige a aceitação do beneficiário.
– O texto áureo da Bíblia é claríssimo a respeito: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo.3:16).
Deus cumpriu a Sua parte, mandando Seu Filho, a semente da mulher, para este mundo, para pagar o preço do pecado, mas a salvação só é obtida por aqueles que creiam em Jesus.
Esta é a condição para a salvação: a fé em Jesus Cristo, a aceitação dEle como Senhor e Salvador.
– Deus não muda e é fiel. Tendo criado o homem com o livre-arbítrio, não poderia alterar o Seu “modelo de fabricação”.
Mesmo tendo pecado, o homem foi criado com esta liberdade, que mantém, ainda que, com a entrada do pecado no mundo, tenha sido escravizado pelo seu desejo (Gn.4:7; Jo.8:34).
Assim, para que possa ser liberto pelo Filho, é mister que o queira. A salvação somente será obtida pelo exercício da vontade do ser humano, se este aceitar a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador.
– Ora, como ensinam as Escrituras, a fé não é de todos (II Ts.3:2b), de forma que não serão todos os homens que serão salvos, havendo, mesmo, expressa previsão bíblica da condenação de muitos à morte eterna (Ap.20:15).
A Bíblia, verdade que é, não poupa nem mesmo alguns que chegaram a servir ao Senhor mas que não perseveraram.
Assim, é dito que somente o remanescente de Israel será salvo (Rm.9:27), que um dos doze discípulos se perdeu (Jo.17:12) bem como que só o remanescente da Igreja alcançará a salvação (Ap.3:4).
– Como veremos amiúde na lição 10, a salvação é um processo e somente aqueles que perseverarem até o fim atingirão a glorificação, o último estágio deste processo.
A salvação é pela graça, pois é um favor imerecido (Ef.2:8), mas exige de cada um a aceitação de Jesus como Senhor e Salvador, o que requer uma atenção constante, sem o que não haverá como escaparmos da condenação (Hb.2:3).
– Assim, razão alguma tem aqueles que enxergam no caráter geral da promessa da salvação uma “fraqueza” divina ou uma renúncia de Seu poder ou soberania.
Deus quis que a salvação se desse de modo condicional e, por isso, necessário se faz que o homem aceite a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador, sem o que não será salvo.
– Também, sem razão aqueles que veem na salvação uma prévia e deliberada escolha da parte de Deus, que quis que alguns homens se salvassem e outros, não, a chamada “doutrina da predestinação incondicional”.
Tal posicionamento não se coaduna com as circunstâncias e os parâmetros com que a promessa da salvação foi apresentada pelo próprio Deus.
– Por fim, também não faz qualquer sentido a posição dita “universalista”, segundo a qual toda a humanidade, mais cedo ou mais tarde, alcançará a salvação, mesmo na eternidade, visto que, como é desejo de Deus a salvação de todos os homens, não há como alguém ser eternamente condenado, pois isto implicaria em admitir que Deus não poderia salvar a todos ou não cumpriria os Seus propósitos ou, ainda, que o sacrifício de Cristo fosse limitado em seus efeitos.
– Deus tem compromisso com a Sua Palavra e, ao apresentar uma promessa condicional, tem de fazer prevalecer, pela Sua fidelidade, o que prometeu.
Nas Escrituras, é claro que haverá salvação só daqueles que creem em Jesus como Senhor e Salvador.
Desta maneira, não há como se admitir uma “segunda chance” aos que não creram.
Deus é a verdade e se disse, e mandou que se escrevesse, que haverá condenação eterna (a “segunda morte”), não temos como descrer no que mandou escrever, no que revelou.
A promessa é condicional e, portanto, não tendo havido cumprimento da condição, haverá, sim, a condenação eterna.
Quem somos nós, vasos de barro, verdadeiros cacos, para querer discutir ou dizer o que deve fazer o oleiro, ainda mais quando ele já nos disse o que fará?
– Portanto, amados irmãos, glorificando a Deus por nos ter dado esta oportunidade imerecida de salvação, cumpramos a nossa parte, aceitando a Cristo como Senhor e Salvador, renunciando a nós mesmos, tomando a nossa cruz e seguindo ao Senhor Jesus(Mt.16:24), para que alcancemos a glorificação, tornando, assim, realidade em nossas vidas, esta maravilhosa promessa.
“Salvo por Cristo sou, salvo por Quem me amou. Perfeita paz, Ele agora me traz, porque salvo estou” (refrão do hino 519 da Harpa Cristã).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/988-licao-1-uma-promessa-de-salvacao-i