SEBEMGE - Seminário Batista do Estado de Minas Gerais

Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios

Prof. Anísio Renato de Andrade


HISTÓRICO ENTRE AS EPÍSTOLAS AOS CORÍNTIOS.

Ao escrever a primeira epístola, Paulo se encontrava em Éfeso. Ali ocorreu grande tumulto porque os comerciantes de imagens estavam perdendo seus lucros após as pregações de Paulo. Diante da perseguição, o apóstolo vai para Trôade. Por esse tempo, ele se sentia angustiado pela expectativa em relação à igreja de Corinto. Eram "combates por fora e temores por dentro". Paulo aguardava a chegada de Tito. De Trôade, Paulo vai à Macedônia. Pouco depois, Tito chega com notícias de Corinto. (At.19.30 a 20.1 II Cor.2.12-13; 7.5-10,13).

De acordo com as informações de Tito, a epístola enviada recentemente, havia provocado tristeza e arrependimento em alguns e rebeldia em outros. O pecador de I Cor. 5 estava arrependido e acerca dele Paulo dá instruções em II Cor.2 para que a igreja o receba e o perdoe.

Havia falsos apóstolos agindo entre os coríntios (II Cor.11.3,13; 12.11), os quais procuravam desmoralizar a pessoa e a mensagem de Paulo (I Cor.1.17; 10.9-10; 11.1,6,16).

A HIPÓTESE DA CARTA DESAPARECIDA

Normalmente, se considera que as reações relatadas por Tito se refiram à epístola que conhecemos como I Coríntios. Entretanto, existe a hipótese de que, após o envio da primeira epístola, Paulo tenha visitado Corinto. Nessa oportunidade, ele teria sido gravemente ofendido por alguém (II Cor.2.5-11; 7.12). Logo depois, teria enviado uma epístola muito emocionada, a qual não teria chegado ao nosso conhecimento ou então seria correspondente aos capítulos 10 a 13 de II Coríntios. De acordo com essa hipótese, as reações mencionadas em II Cor.7.8-12 seriam referentes a essa suposta epístola e o homem de II Cor.2.5 seria aquele que ofendeu pessoalmente o apóstolo. Contudo, essa suposição não foi comprovada.

INFORMAÇÕES GERAIS

Autor: Paulo (e Timóteo)

Data: 57 d.C.

Local: Macedônia

Classificação: eclesiologia

Tema: Defesa do apostolado de Paulo

Texto chave: 3.1; 5.12; 6.3; 7.2; 10.2-3; 11.5-6; 12.11; 13.3.

CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA

Bastante pessoal e emocionada. Mistura amor, censura e indignação. Fala a dois grupos na igreja: os obedientes e os rebeldes.

OS OBEDIENTES E OS REBELDES.

No estudo da primeira epístola, vimos que a igreja de Corinto estava dividida em partidos, de acordo com as preferências individuais. Na segunda epístola vemos a igreja dividida em dois grupos: os obedientes e os rebeldes. Afinal, esta é diferença que importa. É sob esse ponto de vista que Deus nos observa. Seja qual for a nossa preferência política ou pessoal, precisamos examinar a nós mesmos afim de sabermos a qual grupo pertencemos no que diz respeito à obediência.

OS ATAQUES AO MINISTÉRIO DE PAULO

Como acontecia em vários lugares, muitos judeus convertidos ao cristianismo queriam impor a lei mosaica aos cristãos gentios. Tais judeus são, normalmente, chamados de "judaizantes" devido ao seu esforço por judaizar o cristianismo. Estes, fizeram diversos ataques ao ministério de Paulo. Os ataques aos ministros de Deus sempre ocorrem. O ataque é normal. As perseguições fazem parte da vida cristã. Contudo, é preciso ver se as acusações contra nós são justas ou não. Como disse Pedro, nenhum de nós deve padecer como transgressor, mas como cristão (I Pd.4.15-16).

Como não havia nenhum motivo concreto com que pudessem acusar Paulo, os judaizantes apelavam para quaisquer argumentos possíveis. Até mesmo uma mudança dos planos de viagens de Paulo foi usada por eles para o acusarem de leviandade, ou imprudência (II Cor.1.17).

Outro ponto muito explorado foi a expectativa grega em relação aos líderes. Ao que tudo indica, Paulo não correspondia ao padrão grego . As credenciais gregas de um grande líder seriam, entre outras, uma ótima aparência e admirável eloqüência. Apolo estaria mais próximo desse paradigma (At.18.24). Talvez isso tenha contribuído para que muitos coríntios tenham se unido em torno do seu nome, formando um partido na igreja (I Cor.1.12). Enquanto isso, Paulo era alvejado pelas infâmias dos falsos apóstolos que pesavam o seu ministério com base em valores humanos e filosóficos. Tais argumentos não eram associados ao judaísmo mas bem poderiam servir como excelentes armas circunstanciais para os ataques dos judaizantes contra o ministério de Paulo. Além de derrubar do pedestal as credenciais da aparência e da eloqüência, Paulo atinge frontalmente o legalismo dos judaizantes ao se referir à lei como "ministério da morte" (3.7) e "ministério da condenação" (3.9). Desse modo, Paulo não ridiculariza a lei, mas coloca-a no seu devido lugar em relação à obra de Cristo.

A DEFESA DO MINISTÉRIO DE PAULO

Assumindo o papel de seu próprio advogado, Paulo se lança em seu discurso de defesa pessoal. No embasamento de suas colocações, ele trata da expectativa e da perspectiva da igreja em relação aos ministros de Deus. A expectativa se refere àquele padrão que temos em mente em relação aos requisitos que um "homem de Deus" deve preencher. Será que tais requisitos correspondem aos padrões divinos?

A perspectiva é a visão que temos acerca dos líderes que conhecemos. Esta visão pode até não corresponder à realidade, mas estar alterada por conceitos que formamos em nossa mente a respeito da pessoa. A perspectiva pode estar errada. Isso acontece quando temos uma idéia a respeito do líder que difere de sua própria realidade ou do padrão bíblico. Esta abordagem se encontra também na primeira epístola. Os cristãos formavam partidos em torno dos líderes. Então, Paulo lhes escreve dizendo que os líderes deviam ser vistos de maneira mais simples, embora importantes quanto à sua missão. Então, em I Coríntios, o apóstolo questiona: "Quem é Paulo? Quem é Apolo?" (I Cor.3.11). Na seqüência, utilizando figuras de linguagem, ele apresenta os líderes como:

- Agricultores – aqueles que semeiam, plantam, cuidam e colhem – 3.6-8.

- Colaboradores – aqueles que ajudam - 3.10.

- Edificadores – aqueles que constroem - 3.10.

- Despenseiros – aqueles que alimentam no tempo certo - 4.1.

- Ministros (= servos) – aqueles que servem - 4.1.

- Sofredores! – 4.9-13 – (Paulo se refere aos ministros como: últimos, condenados, espetáculo, loucos, fracos, desprezíveis. Esta seria a visão do mundo a respeito deles).

- Exemplo para a igreja – 4.16.

Tipos de perspectiva em relação aos ministros de Deus.

Vasos de ouro ou de barro?

A perspectiva é a visão que se tem de alguma coisa. Isso varia de acordo com a posição em que o observador se encontra em relação ao objeto observado. Essa posição pode ser inferior, superior, distante, longínqua, etc. Essas variações vão alterar, não o objeto, mas a visão que se tem dele. Assim também, a perspectiva a respeito dos ministros varia e, algumas vezes, torna-se distorcida por posições extremadas.

Erro 1 – Valorização exagerada

Alguns vêem os ministros como vasos de ouro. Assim, o valor não estaria no conteúdo mas no recipiente. Já não interessa mais o que está dentro do vaso, nem se existe ali algum conteúdo. O valor está no vaso em si. Vistos como vasos de ouro, os ministros são considerados inquebráveis, infalíveis. Isso pode conduzir ao enriquecimento material do líder e a idolatria da sua pessoa. Parece que esta era a visão dos coríntios ao formarem partidos em torno dos nomes dos apóstolos. A história mostrou o agravamento desse problema, ao ponto de hoje haver quem se refira aos apóstolos como santos, como ídolos, no sentido mais grave do termo. O próprio apóstolo Paulo recebeu o título de "São Paulo" e inúmeras são as homenagens póstumas à sua pessoa.

Erro 2 – Desvalorização e desprezo

O outro extremo é a consideração do ministro como um vaso de material desprezível, vazio e inútil. Essa perspectiva traz como conseqüência a falta de submissão, falta de reconhecimento e até a falta de sustento material para o ministro.

A perspectiva correta – ponto de equilíbrio

"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós." (II Cor.4.7). Os ministros devem ser vistos como vasos de barro contendo um tesouro precioso, que é Cristo. O servo de Deus não deve ser idolatrado, nem desprezado, mas amado. Sendo de barro, o vaso é quebrável. O servo de Deus não é infalível. O vaso é quebrável mas não pode estar quebrado. Embora sejamos sujeitos ao erro, não podemos nos dar ao direito de cometer determinados erros. Evidentemente, precisamos combater todo tipo de erro, mas alguns são mais destrutivos do que outros, principalmente para a reputação o líder. O vaso quebrado não tem utilidade. O vaso de barro é frágil e precisa ser tratado com cuidado. O vaso não pode cair. Como disse Paulo, "aquele que pensa estar de pé, cuide para que não caia." ( I Cor.10.12). Embora seja de barro, esse vaso contém um grande tesouro. O maior valor está no conteúdo e não no vaso. Contudo, o vaso se reveste de grande importância em função do seu conteúdo e da sua utilidade.

O mais importante é a mensagem, a notícia, e não o mensageiro. Porém, o mensageiro deve ter credibilidade para que a mensagem não seja rejeitada ou desacreditada.

Ao falar da fragilidade do vaso, Paulo menciona a mortalidade humana. O corpo humano é um vaso de barro. É corruptível (II Cor.4.16). É mortal (5.4). Vai se desfazer (5.1). Sua abordagem se concentra então sobre a questão da morte física. Isso precisava ser enfatizado para combater a supervalorização grega em relação à aparência. (II Cor.4.16 a 5.12; 10.7). Seu enfoque sobre a fragilidade do vaso inclui também aspectos circunstanciais em confronto com a condição interna do servo de Deus (II Cor.4.8-11):

Por fora

Por dentro

Atribulados

não angustiados

Perplexos

não desanimados

Perseguidos

não desamparados

Abatidos

não destruídos

Morte

vida

Paulo não deixa o assunto terminar numa atmosfera negativa. Ele diz que a vida de Cristo vai se manifestar em nossa carne mortal (II Cor.4.11). A manifestação do poder de Deus supera os nossos limites e isso alcançará seu maior significado na ressurreição dos justos, quando "o mortal será absorvido pela vida" (II Cor.5.4).

Através de suas colocações, Paulo apresentou a fragilidade das credenciais aparentes que os coríntios esperavam ver nos líderes cristãos (5.16).

CARACTERÍSTICAS DO MINISTÉRIO DE PAULO

CREDENCIAIS DO MINISTÉRIO DE PAULO

Para combater os esforços daqueles que procuravam desmoralizar o ministério de Paulo, ele apresentava suas credenciais. Credencial é "aquilo que atribui crédito". O que podemos apresentar às pessoas para que creiam na legitimidade do nosso ministério? Um diploma? Terno e gravata? Um documento de identidade?

As credenciais esperadas pelos coríntios eram apenas boa aparência e eloqüência. Tais fatores não são negativos em si mesmos. São até desejáveis. Porém, podem constituir meios facilitadores do engano. Portanto, a beleza e a boa comunicação não servem como parâmetros para se julgar um servo de Deus. Jesus disse: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis..." (Mt.7.15-16). Alguns queriam também que Paulo mostrasse cartas de apresentação (II Cor.3.1), talvez emitidas pelos apóstolos de Jerusalém.

Paulo não tinha tais cartas, nem beleza, nem eloqüência. Então, quais seriam suas credenciais?

As credenciais do servo de Deus são, primeiramente, espirituais. É o selo do Espírito Santo, a vocação e aprovação divina, os dons para o ministério, etc. Contudo, isso só serve como testemunho no mundo espiritual. Diante dos homens, precisamos apresentar credenciais visíveis. Nessa hora, a fé não é suficiente. É necessário que se apresentem obras. Pedro disse ao aleijado: "Olha para nós!" (At.3.4). As pessoas estão nos olhando e precisam ver alguma coisa para que creiam. Precisam ver o nosso testemunho.

Isso nos leva a um cuidado para com a nossa vida, afim de que o nosso ministério não seja censurado (II Cor.6.3). Isso pode levar até à renúncia de coisas legítimas pelo bem da obra de Deus (II Cor.11.9). Por incrível que pareça, o ministério do servo de Deus precisa de aprovação humana (Rm.14.18). Isso não significa que todos vão aprová-lo. Contudo, se todos o reprovarem, ele será inútil, pois não alcançará ninguém. A relação do ministro com o poder, o dinheiro e o sexo são pontos em destaque dentro do testemunho e das credenciais do ministério.

Credenciais do apostolado de Paulo

Paulo se admira de que os coríntios estivessem se deixando levar pela idéia de exigir-lhe credenciais. Eles próprios eram frutos do trabalho de Paulo. "Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações", disse o apóstolo (II Cor.3.2). Eles seriam ainda a glória de seu ministério diante de Deus (II Cor.1.14).

Entre suas credenciais, Paulo dá destaque ao sofrimento. Isso não é o tipo de credencial que os gregos esperavam. Eles devem ter ficado decepcionados. Aliás, isso deve decepcionar a muitos que têm uma expectativa colorida a respeito do evangelho, aguardando apenas benefícios sem tribulações. Pelo cristianismo poderemos sofrer muitas perseguições e possíveis privações (II Cor.11.27). Isso não combina com o "evangelho da prosperidade". Paulo e sua experiência também não combinam com um discurso que promete riqueza e ausência de sofrimento. Jesus não prometeu isso (João 16.33).

Paulo até se gabava de ter sofrido mais do que outros que se diziam servos de Deus (11.23-28; 12.10). Aquele que nada sofre, que nenhum risco corre, que nenhum fruto produz, poderá ter o seu ministério desacreditado até por si mesmo.

GLORIANDO NA TRIBULAÇÃO E NAS FRAQUEZAS

Paulo nos surpreende quando se gloria na tribulação (II Cor.11.30). Isso nos parece estranho, mas tal atitude se dá porque Paulo tem em vista o resultado de um processo, e também considera uma honra sofrer pelo nome de Jesus. Como escreveu aos Romanos, "a tribulação produz perseverança" (Rom.5.3). A tribulação não é inútil. Ela produz alguma coisa. Nisso está o seu valor. Assim como uma cicatriz é um tecido mais resistente do que a pele normal, a tribulação vai produzindo em nós maior resistência, de modo que nos tornamos cada vez mais capazes para enfrentarmos diversas dificuldades futuras.

Gloriar-se nas fraquezas não significa gloriar-se no pecado, mas nas limitações e incapacidades próprias do ser humano. Novamente, a proposição nos surpreende. Qual será o valor da fraqueza? É por causa das nossas fraquezas que recebemos as manifestações do poder de Deus.

Desenvolvendo o tema, relacionamos então os seguintes elementos:

Fraqueza humana

poder de Deus.

Problemas

milagres

Crises

oportunidades

Desafios

crescimento

Necessidades

provisão.

Incapacidade

capacidade (II Cor.3.5).

Paulo tinha um "espinho" na carne, o qual não foi tirado pelo Senhor. Isso talvez seja uma enfermidade nos olhos, conforme dedução incerta de Gálatas 4.15. O certo é que Paulo tinha um problema que Deus não solucionou no momento em que o apóstolo orou. Isso nos mostra que nem todos os nossos pedidos serão atendidos. Devemos nos lembrar de que em tudo isso Deus tem um propósito.

ESBOÇO (II COR.)

I – Saudações – 1.1-2.

II – Tribulações antes da volta de Tito – 1.3-14.

III – Primeiro plano de visita. Defesa de Paulo. 1.15-24

IV – Mudança de planos. Arrependimento e perdão. – 2.1-11.

V – Credenciais do ministério – 2.12-17.

VI – Contrastes entre a velha e a nova aliança. – 3.1-18.

VII – A responsabilidade de Paulo.

Sua idoneidade e dependência de Cristo – 4.1-18.

VIII – A vitória sobre a morte – 5.1-9.

IX – O juízo e a urgência da mensagem de salvação.

O ministério da reconciliação – 5.10-21.

X – Os sofrimentos de Paulo e exortação à santidade. 6.1 a 7.1.

XI – Recomendações diversas. Os efeitos da primeira carta – 7.2-16.

XII – A coleta para os irmãos de Jerusalém – 8.1 a 9.15.

XIII – Defesa da autoridade apostólica de Paulo – 10.1-18.

XIV – Defesa diante dos judaizantes. Os falsos apóstolos.

Os sofrimentos de Paulo – 11.1-29.

XV – Os sofrimentos de Paulo. Suas revelações, sinais e receios – 11.30 a 12.18.

XVI – A próxima visita. Saudações – 12.19 a 13.13.





Em caso de utilização impressa do presente material, favor mencionar o nome do autor:
Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.

Para esclarecimento de dúvidas em relação ao conteúdo, encaminhe mensagem para anisiora@mg.trt.gov.br

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BIBLIOGRAFIA
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JOSEFO, Flávio, A História dos Judeus - CPAD
DOUGLAS, J.D., O Novo Dicionário da Bíblia – Ed. Vida Nova
Apostila do SEBEMGE – Pastor Delmo Gonçalves
Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida - Versão Contemporânea - Ed. Vida


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