O livro de Atos dos Apóstolos traz, em seu primeiro capítulo, o relato sobre os últimos dias de Jesus com os discípulos antes da ascensão (At.1.1-8). Esse foi um período de transição. Lucas já havia escrito um tratado endereçado a Teófilo. Seu primeiro livro relata os fatos concernentes ao ministério terreno de Jesus até ser assunto aos céus. Agora, Lucas retoma a narrativa a partir desse ponto para comunicar a Teófilo o início e o desenrolar de uma nova fase da ação divina entre os homens. O período dos evangelhos foi o tempo marcado pela ação e ensino de Jesus (At.1.1). O novo tempo haveria de se caracterizar pela ação dos apóstolos, movidos pelo Espírito Santo. No capítulo 1 de Atos, estão registradas as palavras de Jesus anunciando essa nova realidade. No versículo 5, ele menciona o batismo nas águas como experiência que os discípulos já possuíam e anuncia o batismo no Espírito Santo como fato iminente e necessário.
Hoje temos consciência da singularidade daquele momento histórico. Era chegada a hora de estabelecer a Igreja. Era tempo de avançar, crescer, invadir o território dominado pelo inimigo e tomar posse da vitória conquistada no Calvário. Não obstante, notamos, pelo texto, que os discípulos não estavam sintonizados com este propósito. Perguntaram ao Mestre: "Restaurarás neste tempo o reino a Israel ?" Tal questionamento estava totalmente fora do contexto, mas serve para avaliarmos a distância entre a visão dos discípulos e o objetivo de Jesus.
- Os discípulos estavam preocupados com o reino de Israel. Jesus estava discorrendo sobre o Reino de Deus (v.3 e 6).
- A expectativa dos discípulos se limitava a uma nação – Israel. O reino anunciado por Jesus alcançaria os confins da terra – todas as nações (v. 6 e 8).
- O reino reclamado pelos discípulos tinha, sobretudo, uma conotação política. O Mestre se referia a um reino essencialmente espiritual.
- Os discípulos estavam focalizados em seu tempo presente. Jesus anunciava um projeto cuja execução alcançaria os nossos dias e os vindouros.
Observamos que os apóstolos estavam totalmente presos em seus limites. Esse é o retrato de muitos cristãos atuais, que mantêm sua experiência espiritual amarrada pelo egoísmo e pelo materialismo. Jesus estava mostrando que era hora de ir além.
Vemos isso no versículo 8. Era preciso entrar no "mover do Espírito": realizar a obra em Jesuralém, percorrer o restante da Judéia, ir a Samaria e até aos confins da terra. O tempo da igreja é o tempo de ir além dos limites que nós mesmos impomos à operação de Deus. Tais limitações podem ser geográficas, como mostra o texto, mas também sociais, religiosoas, etc.
- Deus quer nos usar em Jerusalém. Este é o lugar onde estamos. Diz respeito aos recursos de que dispomos e as capacidades que já possuímos. Esse é o ponto de partida. Não é o fim da trilha, como muitos querem.
- É preciso percorrer a Judéia. Nesse ponto, notamos a idéia de movimento. É o fim da inércia. É o rompimento do primeiro limite. Deus não está limitado ao que ele já fez em nossas vidas. Existem outros níveis a alcançar. Não podemos ficar parados em nossa experiência espiritual.
- Em seguida, os apóstolos deveriam alcançar Samaria. Ordem difícil essa! Eles não gostariam de ir até lá. Judeus e samaritanos não se comunicavam. Se Jesus não citasse nominalmente essa cidade, provavelmente os discípulos a teriam negligenciado no anúncio do evangelho. Esse era um limite difícil de ser transposto: o limite do preconceito, a barreira social e religiosa. Samaria é o lugar onde não queremos ir, mas faz parte do roteiro divino. Essa cidade representa o que não queremos fazer, mas foi ordenado por Deus. É tempo de romper este limite e realizar o que o Senhor quer.
- Depois de Samaria, deveriam ser atingidos os confins da terra. Estes representam os lugares e experiências que estão além do que conhecemos e imaginamos. De acordo com a noção geográfica dos discípulos, os confins da terra não estavam muito distantes da Palestina. Todavia, Jesus se referia ao alcance da mensagem apostólica a todas as regiões que seriam descobertas mais tarde. Tudo isso nos mostra a necessidade de sermos conduzidos pelo Espírito Santo, mesmo que seja até Samaria ou ao deserto (Mt.4.1).
Estamos vivendo o tempo da igreja, o ministério do Espírito Santo. É hora de irmos além dos limites que impedem a expansão do Reino de Deus. É hora de movimento, não desordenado, mas orientado pelos padrões bíblicos. Desse modo, o Senhor agirá através de nós e seremos aqueles que manifestarão ao mundo a multiforme sabedoria de Deus.
RESUMO
VISÃO LIMITADA DOS DISCÍPULOS (Necessária e importante, mas insuficiente). |
PROJETO DE JESUS PARA A IGREJA (Indo além dos limites pelo poder do Espírito Santo). |
Evangelhos |
Atos |
Foco nas experiências do passado |
Foco no presente e futuro |
O reino para Israel |
O reino de Deus |
Reino político |
Reino essencialmente espiritual |
Foco em uma nação: Israel |
Alcançar todas as nações |
Batismo nas águas |
Batismo no Espírito Santo |
Jerusalém (onde estamos, o que temos e podemos) |
Judéia (movimento) |
Samaria (vencendo os preconceitos) |
|
Confins da terra (além do que conhecemos ou imaginamos) |
Em caso de utilização impressa do presente material, favor mencionar o nome do autor:
Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.
Para esclarecimento de dúvidas em relação ao conteúdo, encaminhe mensagem para anisiora@mg.trt.gov.br
Retorno à página principal