COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO "A VIDA MÍSTICA DE JESUS"
DE H. SPENCER LEWIS
Anísio Renato de Andrade
Tendo lido o livro "A Vida Mística de Jesus", considero-o uma obra admirável do ponto de vista literário. Eu o classificaria no gênero de romance/ficção. Sua linguagem é simples. Seu estilo é de fácil leitura e entendimento, ou seja, entende-se o que o autor quis dizer até o ponto em que ele quis chegar. Percebe-se que este livro é apenas a "ponta do iceberg", cuja parte submersa é constituída pelos enigmas da Ordem Rosacruz, os quais só se revelam aos iniciados. Não considero o livro como obra religiosa e ou histórica. Apesar de sua boa forma, o livro contém uma essência maligna. Tomando emprestadas as palavras da Globo, eu chamaria a obra de "Suave Veneno".
Em meu exame, verifiquei muitos pontos incompatíveis com a minha crença e com o meu conhecimento bíblico. Minhas considerações sob esse enfoque poderão ser desprezadas por aqueles que não têm fé ou a têm diferente da minha, ou ainda por aqueles que desprezam a Bíblia. Contudo, minhas observações não se prendem a esse âmbito. Constatei ainda contradições internas na obra. Nesse ponto, qualquer pessoa poderá concordar, bastando que faça um exame dos trechos mencionados. Observei ainda, erro de citação bíblica, o que considerei um equívoco absurdo por parte de um Ph.D., erro esse que conspira contra a intenção do escritor que era a de minar a crença na Bíblia. Nota-se que não examinou o suficiente a obra que pretendia refutar.
CONTRADIÇÃO 1 – ATAQUE E APOIO À BÍBLIA - Na introdução, após se referir à história de Jesus na Bíblia como uma "versão errônea" (pág.14), o autor diz que "pessoas encontrarão neste livro... um incentivo para voltarem a ler a Bíblia Cristã e reexaminar sua rejeição da Igreja." (pág.15). Acho uma contradição por parte do autor. Como é que ele pode falar mal da Bíblia e ao mesmo tempo incentivar as pessoas a lê-la ou achar que tal ataque pudesse ter efeito de incentivo? Como esperar também que as pessoas encontrem nesse livro um incentivo para "reexaminar sua rejeição da Igreja"? O que pode acontecer é um agravamento dessa rejeição, já que se está falando da Igreja Católica Romana. O que eu não concordo é com a rejeição à Bíblia, a Deus e à igreja de Cristo, a qual não se identifica com nenhuma instituição que conhecemos, mas é composta por todos os salvos, os quais podem estar em diversas igrejas juridicamente organizadas ou não.
CONTRADIÇÃO 2 - CRISTO E OS ESSÊNIOS – Não me convenci de qualquer ligação entre os Cristo e os essênios. A pureza étnica ariana que os essênios exigiam (pág.25) não admitiria a entrada de um judeu. A bíblia mostra que Jesus pertencia à nação judaica. Lewis nega o fato mas não apresenta provas. Aliás, esta é uma característica da sua obra: a falta de provas que fundamentem suas afirmações. Com todas as peculiaridades que o autor atribui aos essênios, o Cristo da bíblia não poderia ser um deles. Já nos artigos de fé da Grande Fraternidade Branca (pág.27), encontram-se diversos pontos divergentes com o que Jesus disse e com o que ele fez, conforme os relatos bíblicos. Se o texto bíblico não é digno de crédito, então o autor não deveria tê-los mencionado na página 55, quando se referiu às palavras de Cristo contidas na Bíblia. Se as palavras de Cristo, citadas nos evangelhos, são verdadeiras, como o autor pressupõe na página 55, então ele deveria também dar crédito ao texto em que narra o dia em que Jesus amaldiçoou uma figueira. Tal atitude não me parece coerente para um essênio, nem condizente com os artigos de fé da Grande Fraternidade Branca. Então citar as palavras bíblicas de Cristo e dizer que ele era um essênio é uma contradição.
CONTRADIÇÃO 3 – NEGAÇÃO E AFIRMAÇÃO DA BÍBLIA - O autor nega um ensinamento bíblico e lança mão de outro texto bíblico para apoiar sua tese (pág.27). Ele diz que Deus não é uma pessoa. A bíblia ensina que Deus é uma pessoa quando mostra que ele tem vontade própria, ele fala, ouve orações, etc. O autor cita João 4.24: "Deus é espírito e os que o adoram têm de fazê-lo em espírito e em verdade." Dizer que Deus é espírito nega o fato dele ser uma pessoa? Não nega nem poderia fazê-lo, já que o versículo foi extraído da Bíblia. Aliás, a continuação do texto, versículo 25, o qual não foi mencionado no livro, mostra que Deus é uma pessoa quando diz: "E o Pai procura a tais que assim o adorem." Essa "procura" evidencia uma ação inteligente baseada em uma vontade própria. Vemos que o autor não continuou a transcrever o texto do evangelho porque isso estaria contra a sua teoria. Se Deus não é uma pessoa, de quem é aquela voz que disse de Jesus: "Este é o meu Filho muito amado"? (Página 203). Se Lewis não acredita na Bíblia, já que a chama de "versão parcialmente errônea" (pág.14), então torna-se contraditório quando lança mão dos textos bíblicos para reforçar suas colocações. Se eu for escrever contra o Alcorão, por exemplo, como é que eu poderei citar o mesmo livro como se verdade fosse? Outras citações bíblicas que o autor faz como busca de apoio para suas teses são encontradas nas páginas 29, 51, 55, 57, 61, 109, 139, 141, 239, etc.
MISTURA DE TRIBOS E OFÍCIOS JUDAICOS - Na página 47 se lê: "A Casa de Davi, da qual viria o verdadeiro líder do povo de Israel, há muito havia passado para mãos estrangeiras. Os altos sacerdotes dentre os quais poderia surgir um grande Messias só eram judeus pelos cargos, pois politicamente eram romanos e gregos e, por seu nascimento, tudo podiam ser, menos membros da grande Casa de Davi." Dizer que os judeus admitiriam sobre si uma liderança religiosa gentia é, no mínimo, absurdo. É do conhecimento geral a pureza étnica e religiosa que os judeus sempre procuraram manter. Outro erro que se observa nas linhas acima é a mistura que se faz entre Casa de Davi e sacerdotes. O que tem uma coisa a ver com a outra ? Nada. O Messias deveria vir da Casa de Davi, que era da tribo de Judá. Já os sacerdotes eram da tribo de Levi. Logo, nenhum judeu esperava o Messias do meio sacerdotal. O autor fez uma grande salada com tudo isso. Nessa frase: "A Casa de Davi, da qual viria o verdadeiro líder do povo de Israel..." observa-se mais uma evidência de contradição do autor. O que é a Casa de Davi? É a descendência de Davi; é a família de Davi. Então, o autor está afirmando que o Messias deveria ser um descendente de Davi. Certo? Logo, seria um judeu. Pois, mais adiante, ele vai defender que o Messias era um gentio (pág.51). Caiu novamente em contradição. Suas palavras demonstram crédito às profecias do Velho Testamento sobre a vinda do Messias e depois quer demonstrar que o judeu prometido no VT nasceu gentio. Afirma que o descendente de Davi não tinha nenhum parentesco com Davi. Se vamos descartar a Bíblia, então devemos descartá-la por completo. Seria mais coerente então dizer que Jesus não é o Messias prometido e que ele não tem nada a ver com Israel, nem com o Velho Testamento, nem com Davi, mas não é isso que o autor faz. Ele mistura tudo.
CRISTO GENTIO – Para argumentar a favor da origem gentílica de Cristo, o autor diz: "A transferência dos judeus que viviam na Galiléia... foi feita no ano 164 a.C." (Pág.52). Isso não prova nada. Que garantia se tem de que, passados 164 anos, alguns ou até mesmo muitos judeus não poderiam ter retornado para a Galiléia? O argumento do autor é muito fraco.
A Bíblia cita a genealogia de Cristo para demonstrar que o mesmo era judeu. Lewis nega a veracidade da genealogia, mas não prova nada. As duas genealogias apresentadas na Bíblia são diferentes, mas isso não quer dizer que sejam contraditórias. Uma vai de Cristo até Abraão. A outra vai de Cristo até Adão, passando por Abraão. Ambas confirmam a descendência judaica de Cristo. Alguns nomes são diferentes, mas isso é comum na Bíblia. Várias pessoas são citadas na Bíblia com mais de um nome. Muitas vezes, uma pessoa tinha um nome em hebraico e outro em grego, aramaico, ou mesmo latim. Se uma genealogia ligasse Jesus aos judeus e outra aos gentios, então seria um erro evidente. Lewis diz que as genealogias foram "introduzidas nos escritos sagrados não se sabe quando, mas certamente foi uma adição bastante posterior." (Pág.56). Podemos chamar isso de um grande "chute". Lewis diz que não sabe quando foi a adição. E como ele pode afirmar que houve alguma adição? Até a palavra "certamente", ao invés de dar uma idéia de certeza, demonstra a insegurança do escritor.
JESUS NAZARENO – Na página 56 se lê: "Em grande parte da literatura cristã Jesus é chamado de Nazareno, sendo comum acreditar-se que Jesus nasceu ou passou a maior parte de sua vida em Nazaré." Na página 62, está escrito: "Nazaré, a cidade onde muitos estudiosos da bíblia acreditam que Jesus nasceu e passou a infância." Qualquer cristão que acreditar que Jesus nasceu em Nazaré estará assinando um atestado de ignorância, pois a Bíblia chama Jesus de Nazareno pelo fato dele ter vivido em Nazaré (Mateus 2.23), mas seu nascimento foi em Belém, conforme está escrito em Mateus 2.1. Não sei porque tanta confusão sobre isso.
O autor tenta provar que o título de Nazareno, no caso de Jesus, vinha de sua participação em uma seita estranha ao judaísmo. Vejamos o uso bíblico do termo. A bíblia fala de alguns nazarenos (nazaritas, nazireus) que eram judeus, pertenciam à religião judaica. Estes não faziam parte de nenhuma seita estranha. Os nazarenos eram aqueles homens ou mulheres, que faziam votos de consagração a Deus, ou eram consagrados pelos pais. Entre eles podemos citar João Batista, como acertadamente Lewis mencionou (pág.57), e também Samuel (pág.60), Sansão (pág.60). Eles não cortavam o cabelo nem bebiam vinho. Jesus, evidentemente não fazia parte desse grupo, já que ele tomou vinho na Santa Ceia. Agora, só falta alguém dizer que a Santa Ceia também não aconteceu e que aquele texto foi inserido nos escritos sagrados. Samuel foi sacerdote e juiz em Israel. Sansão também foi juiz. Se eles não praticassem o judaísmo ou fizessem parte de uma seita espúria, jamais poderiam ocupar tais cargos. Aliás, a própria lei de Moisés regulamentou o voto do nazireado, provando portanto que todos esses nazarenos mencionados eram judeus tanto do ponto de vista religioso quanto genealógico (Números 6).
Atos 24.5 menciona a "seita dos nazarenos" como referência aos cristãos. Lá está escrito que o apóstolo Paulo era o principal defensor da seita dos nazarenos. Agora, isso nada tem a ver com Samuel, Sansão ou João Batista. A seita dos nazarenos foi um apelido que se colocou na igreja primitiva, devido à sua ligação com o nazareno Jesus, título este que lhe veio por morar em Nazaré.
ERRO PATENTE – O autor cita Lucas 1.15 para dizer que Jesus era um nazareno, com o mesmo sentido que o termo tem para o caso de Sansão. Contudo, o texto citado está se referindo a João Batista e não a Jesus, conforme claramente se observa na leitura dos versículos 13 a 15:
13
Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. 14E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, 15Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.Observa-se então um erro absurdo por parte do autor ao dizer que o texto se referia a Cristo.
A CIDADE DE NAZARÉ - Lewis tem grande necessidade de extinguir a cidade de Nazaré para poder ligar o título de nazareno a uma seita e depois aos essênios. Ele diz que a cidade de Nazaré mencionada no Novo Testamento não existia na Galiléia, "visto que nenhuma cidade com este nome fora mencionada no Velho Testamento e nenhum dos mapas antigos do tempo do Cristo revelava a existência desse local." (Pág.61). A falta de citação no Velho Testamento prova a inexistência de uma cidade? Então muitas civilizações simplesmente não existiram, já que não foram mencionadas no Velho Testamento. Observe também que nesse ponto, o autor tenta lançar mão da autoridade bíblica (VT) para se apoiar. É um jogo de conveniência. Uma hora ele ataca a Bíblia, outra hora busca refúgio nela. A ausência de uma cidade no mapa é prova de sua inexistência? Então devemos concluir que muitas cidades de Minas Gerais, por exemplo, muito maiores do que Nazaré, não existem, já que não aparecem em muitos mapas. E os mapas atuais deveriam mencionar todas as cidades, já que não nos faltam recursos nem conhecimentos para isso. Se os nossos mapas omitem muitas localidades, quanto mais aqueles da antigüidade. Considere-se ainda o fato de que apenas alguns mapas da antigüidade foram preservados. Outro argumento apresentado é que o historiador Flávio Josefo não mencionou Nazaré em seus escritos. Então, será que Josefo estava fazendo minuciosas descrições geográficas na Palestina? Ele era um historiador e legionário e não um geógrafo.
Concordo que muitos dos lugares que hoje são conhecidos pelos nomes bíblicos não correspondem às localidades da época de Cristo. Houve muita guerra e muita destruição naquela região. Entretanto, nada disso prova que Nazaré não tenha existido. O autor reclama da falta de evidências em relação à existência de Nazaré (pág.61), mas que evidências ele apresenta para comprovar sua tese de inexistência?
O autor cita Marcos 6.1-2 (página 61) e protesta contra o fato do texto dizer que Jesus pregou em Nazaré para grandes multidões pois, como haveria tanta gente em uma sinagoga na minúscula cidade de em-Nasira, depois chamada de Nazaré? Quando vamos examinar o texto de Marcos, constatamos que o mesmo não menciona nenhuma multidão. Portanto, o autor está protestanto contra uma cena de sua própria imaginação e não correspondente ao relato bíblico.
O mais incrível é que, depois de tanto esforço para negar a existência da cidade de Nazaré no tempo de Cristo, o autor acaba admitindo essa existência. Veja na página 147, onde ele diz: "Não faz muito tempo fiz o mesmo trajeto num automóvel, indo de Nazaré a Jerusalém, e a mesma viagem durou quase um dia inteiro. Por toda essa bela região da Palestina que os peregrinos tiveram de atravessar... era possível reconhecer a marca dos antigos caminhos que levavam ao alto das colinas.... Ainda hoje os habitantes daquele país caminham ou cavalgam seus burros pelas mesmas trilhas, vestidos com trajes semelhantes aos do tempo de Cristo, transportando-nos aos séculos passados." O que ele está dizendo? Que andou na mesma trilha que Jesus e seus pais andaram quando, aos 12 ou 13 anos, Cristo caminhou de Nazaré ao templo de Jerusalém. Se Nazaré não existia no tempo de Cristo, segundo o próprio livro, como Cristo pode ter viajado de Nazaré a Jerusalém? Parece que, no meio do livro, o autor se esqueceu do que escreveu no início, e mudou de idéia.
A DIVINA CONCEPÇÃO DOS AVATARES - O livro lança mão de vários recursos com o objetivo de reduzir o valor que o cristianismo dá a Jesus. No capítulo 4, o autor procura demonstrar que muitos outros indivíduos nasceram de concepções virginais. Então eu pergunto: qual deles está registrado na história como Cristo está? Qual deles faz hoje o que Cristo faz? Na página 74, Lewis diz que "mesmo nas religiões pagãs, supunha-se que vários deuses haviam descido do céus e se encarnado em homens." O autor está usando uma suposições para combater o cristianismo. Acho isso muito vago.
JESUS – SALVADOR DO MUNDO – De acordo com a página 71, muçulmanos, hindus e budistas, "não têm qualquer dificuldade em aceitar a história de uma concepção e um nascimento divinos e espirituais, acreditando, inclusive, que esta característica de sua vida é a única que justifica a afirmação de que Jesus foi o grande redentor e salvador do mundo." Então o autor crê, como eu, que Jesus é o SALVADOR do mundo. Muito bem! Mas dizer que muçulmanos, hindus e budistas creêm nisso, é outro erro absurdo do livro. Se eles acreditassem nisso, seriam tão cristãos quanto eu. Se os budistas acreditassem que Jesus é o salvador do mundo, eles seguiriam os ensinamentos de Cristo.
CASA OU ESTÁBULO – Lewis tenta demonstrar que os evangelistas Mateus e Lucas são contraditórios em seus escritos sobre o nascimento de Jesus (pág.103). Lucas diz que Jesus nasceu num estábulo. Mateus diz que, quando os magos foram visitá-lo, encontraram-no em uma casa. Onde está a contradição? Não consigo ver nenhuma. Se os magos encontraram Jesus numa casa, isso por acaso significa que ele nasceu dentro daquela casa? Mateus nunca disse que Jesus tinha nascido dentro de casa. Além disso, o versículo 16 do capítulo 2 de Mateus nos mostra que podem ter se passado até dois anos entre o nascimento de Cristo e a visita dos magos. Será que Jesus era obrigado a ficar no mesmo lugar que nasceu até os magos chegarem? Na página 104, o autor diz que há duas versões diferentes sobre o nascimento de Jesus. Não encontrei na Bíblia essas versões diferentes.
HERODES – Sobre o tempo do nascimento de Cristo, o Lewis diz que existem duas versões (pág.117): Mateus teria citado o tempo do rei Herodes e Lucas teria citado Cirênio. Ao examinar os textos bíblicos, novamente não encontrei nenhuma contradição. No ano 4, enquanto Herodes reinava na Judéia, Cirênio reinava na Síria. Lucas, ao contrário do que Lewis dá a entender, também mencionou Herodes. Veja Lucas 3.1. Além disso, o período de reinado de Herodes e Cirênio tem em comum o ano 4 a.C., que teria sido o ano mais provável do nascimento de Jesus. De fato, a contagem de tempo que utilizamos está errada. Como Jesus poderia ter nascido no ano 4 antes de Cristo? Absurdo. Mas a Bíblia não tem nada a ver com esse calendário maluco. Jesus nasceu no ano em que Herodes governava a Judéia e Cirênio, a Síria. Não existe nenhuma contradição bíblica nisso.
FALTA DE PROVAS – O autor cita "antigos documentos Rosacruzes" para fundamentar suas afirmações que contradizem a Bíblia. Ele repete várias vezes a expressão: "os registros dizem...", ou "os nossos registros..." Onde estão esses documentos? Ele não diz. Como se pode ter acesso a eles? Que provas existem de sua autenticidade? Quem os escreveu? A obra só pode ser considerada científica se os elementos usados em sua pesquisa, caso ainda existam, puderem estar acessíveis a outros pesquisadores. Os escritos rosacruzes não estão disponíveis. São secretos, se é que existem. Então o autor quer que acreditemos nele de graça. Prefiro acreditar na Bíblia. Não de graça, mas devido aos resultados que tenho visto do que ela ensina. Muitos têm sido libertos, salvos, transformados pelos ensinamentos bíblicos. E quantos têm sido libertos pelo livro "A Vida Mística de Jesus"? Se eu der esse livro para um presidiário ler, ele vai se converter e se transformar num homem de bem? É lógico que não, mas muitos têm sido transformados depois de lerem a bíblia com um coração sincero, arrependido, e em oração.
Na página 140, Lewis diz que "os evangelhos foram escritos muito depois do tempo em que Jesus viveu e contêm inferências e suposições semelhantes, destituídas de base". Engraçado. Ele fala dos tempos de composição do Novo Testamento como se tivesse estado lá pessoalmente. Se ele tem a ousadia de dizer que os evangelhos são destituídos de base, então posso dizer o mesmo do seu livro. Digo ainda, que seu autor é mais ousado do que os fatos, argumentos e provas lhe permitem ser.
Para comparar, gostaria de mencionar o livro "Crítica Textual do Novo Testamento", de Wilson Paroschi. Esse livro tem cunho científico e é fruto de um estudo minucioso do Novo Testamento, buscando reforçar ou refutar seu conteúdo. O resultado foi favorável ao Novo Testamento. Um detalhe interessante daquela obra é a vasta citação de fonte bibliográfica sobre o assunto. Informa-se também a localização de manuscritos gregos do Novo Testamento em bibliotecas e museus da Europa e Oriente Médio. Existem manuscritos até do século 2 e nada há que neles que venha desmoralizar o Novo Testamento que temos hoje. Note que no século 2 ainda não existia a Igreja Católica Apóstolica Romana. Portanto, não existe chance dos manuscritos do segundo século terem sido adulterados pelo clero. A Igreja Católica não é a igreja fundada por Cristo, mas uma distorção da igreja cristã ocorrida a partir do momento em que Constantino colocou o cristianismo como religião oficial de Roma. Daí em diante, ocorreu a institucionalização política da igreja bem como sua corrupção. Contudo, Deus não tem nenhum compromisso com uma instituição. Ele tem compromisso com os salvos por Cristo que, mesmo fora das portas das catedrais creem em Jesus como salvador e seguem os seus ensinamentos.
O livro "Crítica Textual do Novo Testamento" traz até fotos dos manuscritos. Agora, quem quiser vê-los pessoalmente, poderá se dirigir aos locais mencionados. O livo "A Vida Mística de Jesus" não apresenta seus fundamentos para o acesso dos leitores. É como se o autor dissesse: "Eu examinei os registros. A verdade é essa, mas vocês não podem examiná-los, pois são todos secretos." Assim, fica difícil.
SEPTUAGINTA – O autor da Vida Mística de Jesus diz que essa tradução bíblica foi produzida perto do ano 100 a.C. Novamente, nota-se um erro de quase 200 anos, pois a mesma foi produzida entre 220 e 270 a.C. Erro de 200 anos em um livro que pretende ser elucidativo, é um absurdo. No site
http://www.biblia.page.com.br/teologia/index.html/cronica1.html informa-se que o ano eh 220 a.C. O sitehttp://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Fund_Cris/4251y015.htm confirma que a tradução se deu no terceiro século a.C.
SEQÜESTRO – A obra mais parece uma construção imaginária desenvolvida a partir do texto bíblico, um plágio dos evangelhos. Seu objetivo é "seqüestrar" a figura de Cristo do contexto judaico-cristão, ligando-o ao budismo, hinduísmo, ocultismo egípcio e outras fisolofias. "Fizeram Jesus viajar" pelo mundo, justificando quase tudo o que existe por aí em termos de religião. Só que, nessa versão, ao mesmo tempo em que se procura vincular a figura de Cristo a muitas correntes opostas ao cristianismo, faz-se questão de eliminar o que há de mais importante sobre Jesus, ou seja, sua divindade, sua morte para salvar o homem, sua ressurreição. Destituído desses elementos, Jesus seria um homem como outro qualquer. E é o que o livro quer fazer crer. Assim, fazem de Jesus uma figura como outra qualquer. Entretanto, sabemos que isso não é verdade.
OS HEBREUS NO EGITO - Lewis nos diz que os hebreus no Egito participaram da Grande Fraternidade Branca, liderada pelo faraó e depois foram auxiliados por ele mesmo para sair do Egito em segurança (página 177). Isso é totalmente contrário ao que a bíblia diz. Os hebreus eram escravos no Egito. Como poderiam ser iniciados em alguma sociedade secreta do faraó? Escravo tem tempo e oportunidade pra isso? A bíblia diz que eles saíram do Egito depois da ocorrência das 10 pragas, quando até o filho de faraó foi morto. Assim que saíram, o faraó os perseguiu com seu exército até o mar vermelho. Não parece que foi uma saída em segurança. Será que o autor está dizendo que os livros dos hebreus no Velho Testamento estão deturpados? Com que autoridade ele diz isso? A nação de Israel parece não conhecer esse conto que acabo de ler.
MORTE E RESSURREIÇÃO DE CRISTO – A Bíblia diz que Jesus morreu na cruz e ressuscitou ao terceiro dia (Mateus 16.21; Mateus 17.23; Mateus 20.19; Marcos 9.31; Marcos 10.34; Lucas 9.22; Lucas 18.33; Atos 10.39-40; I Coríntios 15.4). Lewis afirma que a idéia da morte na cruz surgiu no quinto século depois de Cristo (página 240). Como é que pode, se todo o Novo Testamento já estava pronto por volta do ano 100 ? Os apóstolos defendiam o fato da morte e da ressurreição de Cristo. E um detalhe importante é que ele defenderam isso até a morte. Será que eles morreriam por uma mentira? A troco de quê eles defenderiam uma mentira? Ganharam algum dinheiro com isso? Só falta alguém dizer que os apóstolos não foram martirizados pelo Império Romano. Todavia, isto seria contrário ao que a história nos conta.
A idéia de que, depois de mandar um condenado para a cruz, os governantes romanos iriam mandar tirá-lo é bastante improvável (pág. 242). Além disso, colocar uma pessoa viva em uma sepultura para se recuperar dos seus ferimentos (pág.242) é algo irracional. Dizer que os guardas romanos não viram quando Cristo saiu da sepultura porque estavam escondidos da chuva (pág.247) é uma invenção infantil.
Lewis diz que nenhum dos apóstolos viu Jesus morto. Porém, o apóstolo João declara seu testemunho ocular a esse respeito (João 19):
32
Foram, pois, os soldados, e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro que como ele fora crucificado; 33Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas. 34Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. 35E aquele que o viu testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também vós o creiais.João estava junto à cruz no momento em que Cristo morreu, conforme João 19:
26
Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.
ABSURDOS AVULSOS
Dizer que Jesus sofreu derrotas – página 207.
Dizer que Jesus precisou se purificar – página 220.
Dizer que quando Jesus entregou o espírito, estava entregando o Espírito Santo – página 239.
CONCLUSÃO
Depois de ter lido esse livro, o qual era apresentado como revelador sobre a vida de Cristo, não tive minhas convicções anteriores alteradas em nada. Constatei que o livro é muito fraco para quer convencer a um cristão de algo contrário ao cristianismo. Para que isso fosse possível, seria necessária a apresentação de provas que viessem a desmoralizar a bíblia. Se essas provas existissem, há muito que o cristianismo já teria sido varrido do planeta. Mas como se pode provar a veracidade de uma mentira? Impossível. Assim, tornam-se inúteis os esforços nos inimigos do evangelho.
Anísio Renato de Andrade
Bacharel em Teologia
Home page
http://www.geocities.com/athens/agora/8337Belo Horizonte – 22 de outubro de 1999.