Autoria
No primeiro versículo, o autor já se apresenta como "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo." Pouco adiante, Pedro menciona que presenciou o episódio da transfiguração (I Pd.1.16-18; Mt.17.5). No capítulo 3, versículo 1, o autor se refere à primeira epístola.
Data – 64 d.C.
Destinatários – por 3.1 entendemos que os destinatários são os mesmos da sua primeira carta: cristãos dispersos na Ásia Menor. O primeiro versículo do livro parece sugerir que o autor pretendia que seu escrito tivesse um alcance maior: ele se dirige "aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa..."
Temas e Objetivos – Animar os irmãos (cap.1); Denunciar os falsos mestres (cap.2); Falar sobre a segunda vinda de Cristo.
Textos chave – 2.1 e 3.1-4.
ESBOÇO
3- A segunda vinda de Cristo e o juízo – 3.1-18.
A segunda epístola de Pedro nos fala de dois caminhos. O primeiro, apresentado no capítulo 1, é chamado de "caminho da verdade" (2.2), "caminho direito" (2.15) e "caminho da justiça" (2.21). Embora essas expressões estejam no capítulo 2, é no início da carta que o autor fala sobre o procedimento do cristão. O outro caminho, o dos falsos mestres, é apresentado no capítulo 2 e chamado "caminho de Balaão" (2.15). É interessante notarmos que, ao falar do caminho de Balaão, Pedro não está se referindo àqueles que nunca conheceram o Senhor, mas ele fala de pessoas que foram resgatadas (2.1), mas desviaram-se das veredas da justiça (2.15,20,21,22). O próprio Balaão era um profeta verdadeiro até que, pelo interesse financeiro, desviou-se da verdade.
Em cada um desses caminhos temos: ponto de partida, modo de caminhar e ponto de chegada, conforme fica evidente na epístola.
1 - Caminho 1 - A vida cristã - uma palavra de estímulo – 1.1-21.
O capítulo 1 está falando da trajetória cristã. O ponto de partida está em 1.4: "...havendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo". Trata-se da conversão. Quem se converte não pode achar que já tem tudo o que Deus pode oferecer. A partir do versículo 5, o autor apresenta uma lista de qualidades ou capacidades que devem ser alcançadas pelo cristão. Aquele se converte tem fé. A fé foi alcançada (1.1), mas ela não é um fim em si mesma. Pelo contrário, é o início de uma jornada. Com diligência (ou zelo) (1.5), o cristão deve buscar: virtude (bondade ou bom procedimento), conhecimento, temperança (ou domínio próprio), paciência (ou perseverança), piedade, amor fraternal (fraternidade), amor (ágape).
Essas qualidades são mutuamente dependentes e complementares. Pedro está propondo um plano de crescimento, o qual deve ser o alvo de todo cristão. É desse modo que a natureza divina se desenvolve em nós (1.4).
A fé sem conhecimento pode resultar em fanatismo e heresia. O conhecimento sem fé é intelectualismo ou legalismo. Imaginemos que alguém tem fé, conhecimento, mas não tem amor. Tal pessoa pode ser perigosa, tornando-se um manipulador e até mesmo agressor. Quando Tiago e João quiseram pedir fogo do céu para destruir os samaritanos, eles demonstraram que tinham conhecimento e muita fé, mas nenhum amor ao próximo, nenhuma bondade, nenhuma paciência, nenhum domínio próprio. Felizmente, Jesus impediu aquela tragédia e, mais tarde, aqueles discípulos aprenderam a amar.
No relato de toda essa experiência cristã, Pedro utiliza diversas palavras que podem ser divididas em dois grupos: ações divinas e ações humanas. O início da nossa caminhada se dá pela operação do "divino poder" do Senhor (1.3). A partir daí, o homem tem muito a fazer.
PARTE DIVINA |
PARTE HUMANA |
Seu poder (1.3) |
Empregando diligência (zelo) (1.5) |
Seus dons (1.3) - ele nos deu tudo. |
Acrescentai bondade, conhecimento, temperança, paciência, piedade, amor fraternal, amor ágape. (1.5) |
Sua glória (1.3) |
Procurai confirmar vossa vocação e eleição (1.10) |
Sua virtude (1.3) |
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Suas promessas (1.4) |
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Sua natureza (1.4) |
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Sua vocação (1.10) – ele nos chamou |
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Sua eleição (1.10) – ele nos elegeu |
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Se Pedro estava exortando (1.12-15) os irmãos a fazerem a sua parte no que diz respeito ao crescimento espiritual, é porque eles poderiam, depois de tudo o que Deus fez, ter cruzado os braços e parado no meio da estrada. Nesse caso, o resultado seria: a visão curta ou mesmo a cegueira espiritual, o esquecimento das primeiras experiências com Deus e o tropeço que poderia levar à queda (1.9-10; 3.17).
Os tempos e modos dos verbos encontrados no texto nos ajudam a ver uma trajetória traçada e uma ordem de avanço. Alguns verbos estão no passado, indicando o lugar de onde saímos e aquilo que Deus já fez por nós. Alguns deles, no pretérito perfeito, indicam ações consumadas por Deus. È algo que foi feito e não se vai se repetir. Outros verbos estão no gerúndio e indicam uma ação constante. É presente, mas ainda não foi encerrada. São ações contínuas de Deus a nosso favor e ações contínuas da nossa parte em busca do alvo. Outros verbos estão no futuro e apontam para o resultado desejado. Destacam-se também aqueles que estão no modo imperativo e indicam ordem para que avancemos em nosso caminho com Deus.
PASSADO |
PRESENTE CONTÍNUO |
IMPERATIVO |
FUTURO |
Alcançaram fé (1.1) |
Nos tem dado promessas (1.4) |
Acrescentai (1.5) |
Não vos deixarão ociosos (1.8). |
Nos deu tudo (1.3) |
Empregando diligência (1.5) |
Procurai (1.10) |
Jamais tropeçareis (1.10) |
Nos chamou (1.3) |
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Vos será concedida entrada no reino (1.11). |
Havendo escapado da corrupção (1.4) |
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Lendo o quadro anterior, cada coluna, da esquerda para a direita, percebemos a idéia de movimento, de progresso com o passar do tempo.
No caminho da vida cristã, o modo de caminhar se define por alcançar, praticar e manter as qualidades e capacidades já mencionadas. Esse deve ser o nosso modo de vida (3.11).
O ponto de chegada ou objetivo a ser alcançado pode ser compreendido através das expressões: "para que por elas vos torneis participantes da natureza divina" (1.4), ".. não vos deixarão ociosos nem infrutíferos" (1.8) e "vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (1.11).
2 - Caminho 2 – Os falsos mestres – denúncia - 2.1-22.
No capítulo 2, o autor muda para um assunto extremamente oposto ao que estava sendo tratado até então. Seu conteúdo é muito semelhante à epístola de Judas.
Enquanto que no capítulo 1, Pedro falava a respeito dos cristãos fiéis, agora ele passa a se referir aos falsos mestres, seu caráter, suas obras e o conseqüente castigo. Esses são os que andam pelo "caminho de Balaão" (2.15). Sabendo de sua morte iminente (1.14), o autor está preocupado com aqueles que talvez o sucederão e aos demais apóstolos na liderança da igreja.
Os falsos mestres:
O ponto de partida desse caminho é o mesmo daqueles mencionados no primeiro capítulo. Já que foram resgatados (2.1), o lugar de onde saíram está identificado como as "contaminações do mundo", de onde escaparam mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo (2.20). Contudo, desviaram-se da rota traçada pelo Senhor (2.15), sendo envolvidos e vencidos pelo mundo, terminando por se afastarem do santo mandamento de Deus (2.20-21).
O seu modo de caminhar é identificado através de seu comportamento. O texto apresenta verbos e adjetivos que nos fazem compreender o caráter desses homens:
- Falsos, dissimulados, hereges, destruidores, negam a Cristo, libertinos, avarentos, mentirosos, fazem comércio de vidas, são carnais, seguem paixões imundas, são rebeldes, atrevidos, obstinados, como animais irracionais, blasfemos, injustos, luxuriosos, enganadores, adúlteros, insaciáveis, malditos, vaidosos, arrogantes, inconstantes, escravos da corrupção (2.1,2,3,10,12,13,14,18,19; 3.3). Tais palavras variam um pouco de uma versão bíblica para outra.
- Apesar de todo esse conteúdo maligno, tais homens apresentam uma aparência positiva. Afinal, são líderes, são mestres, e prometem liberdade aos seus seguidores (2.1,2,19). São fontes... sem água. São nuvens .... também sem água (II Pd.2.17; Jd.12). O aspecto é promissor mas não produzem nada de positivo.
Dentre tantas características apresentadas, percebemos que se destacam as atitudes desses falsos mestres em relação à autoridade, ao dinheiro e ao sexo. Eles são rebeldes, avarentos e adúlteros, entre outros adjetivos a estes relacionados.
O ponto de chegada desse caminho está demonstrado pelas expressões:
3 - A segunda vinda de Cristo e o juízo – 3.1-18.
Pedro encerra sua obra com um capítulo escatológico. Após ter falado sobre dois caminhos, dois tipos de vida, o apóstolo fala sobre a segunda vinda de Cristo (3.4) e, novamente, trás à tona o tema do juízo, comparado ao dilúvio dos dias de Noé (3.7). Está em destaque a aparente demora da "parousia".
Pedro adverte que o tempo de Deus é diferente do nosso. "Um dia para Deus é como mil anos e mil anos como um dia". (3.8).
Sobre a segunda vinda precisamos de duas atitudes: fé e paciência. A aparente demora de Deus é manifestação da sua misericórdia. Ele está dando tempo para muitos ainda se arrependam e se convertam (3.9).
Enquanto que o dilúvio foi a destruição dos ímpios e suas obras através da água, Pedro nos diz que o fim desta nossa era se dará por meio de um "dilúvio de fogo". O apóstolo "desenha" um cenário "apocalíptico" iluminado pelas chamas da ira divina. O fogo abrasará (3.10,12), destruirá (3.7) e fará derreter (3.12). Serão atingidos: os céus (3.7,10,12), a terra (3.7,10) e todas as coisas que nela há (3.10-11). Semelhantemente ao texto de Apocalipse 21.1, Pedro também fala de novos céus e nova terra (II Pd.3.13; Is.65.17).
Em caso de utilização impressa do presente material, favor mencionar o nome do autor:
Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.
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BIBLIOGRAFIA
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