PROSPERIDADE

Anísio Renato de Andrade

 

 

Todos querem prosperar. É natural e óbvio que desejemos o sucesso dos nossos planos. Contudo, precisamos estar conscientes de que os planos de Deus estão acima dos nossos. Os propósitos divinos serão concretizados, quer queiramos ou não. Por isso, alguns dos nossos planos ou pedidos podem não se cumprir, por serem contrários aos objetivos do Senhor (Mc.10.35-40; II Cor.12.7-9). O que torna a questão ainda mais digna de ponderação é o fato de que os propósitos de Deus nem sempre são conhecidos ou, pelo menos, não são de conhecimento público.

Pode então acontecer de alguns cristãos estabelecerem alvos e viverem lutando por alcançá-los, esperando uma ajuda divina, depositando sua fé e sua esperança em algo que pode não acontecer. Prosperidade é um conceito bíblico. Porém, precisamos considerar os limites do conceito.

Se você recebeu uma promessa de Deus, então caminhe na direção desse propósito, pois sua realização está garantida. Pode depositar sua fé sobre a palavra de Deus, pois esse investimento é seguro.

Se você simplesmente deseja algo correto e legítimo, então você pode orar, jejuar e trabalhar pela realização. O seu propósito pode ser bom e Deus pode abençoá-lo com o êxito. Entretanto, seu propósito pode ser mau, mesmo parecendo bom, e então Deus não permitirá que você prospere nesse empreendimento. Um filho pode pedir que pai lhe permita sair sozinho para brincar na rua. Então, suponhamos que o pai não permita. A criança pode ficar revoltada, mas o pai sabe o que é melhor e mais seguro para o filho. Da mesma forma, Deus vê o que nós não vemos. Ele vê o futuro de um negócio, de um casamento, de um emprego, de uma amizade, de uma viagem, etc. Assim, ele impede que alguns projetos se concretizem pois sabe que aquilo não

seria benéfico. Podemos ficar então com a impressão de não termos prosperado. Contudo, a verdadeira prosperidade não consiste em conseguirmos tudo o que queremos, mas em estar onde Deus quer que estejamos, fazendo e conquistando tudo o que ele tem para nós.

Quando Ló se separou de Abraão, escolheu as campinas do Jordão. Quem assistisse aquela cena, pensaria que Ló tinha ficado com a melhor parte, a melhor terra e, portanto, seria mais próspero. Sabemos o que lhe aconteceu depois e como sua família foi destruída quando Deus fez chover fogo e enxofre sobre Sodoma e Gomorra. Abraão, porém, que foi para lugar inóspito, teve sua descendência preservada e prosperou.

A verdadeira prosperidade faz parte dos desígnios de Deus para nós. Contudo, ela não é sinônimo de riqueza. Também não significa que vamos vencer sempre, ganhar sempre e conseguir tudo o que queremos com a máxima urgência. Os caminhos de Deus para nós passam por lugares perigosos e às vezes desconfortáveis, mas o seu fim é o mais próspero possível. Certamente passaremos pelo vale da sombra da morte. Andaremos por caminhos apertados e entraremos por portas estreitas, mas chegaremos a um lugar aprazível. Para alguns, esse estado de plenitude não se dará nesta vida.

Não quero criar uma idéia de comodismo nem de conformismo. Precisamos sempre lutar para crescer. O que não podemos é ter em mente um interpretação errada das Escrituras e do evangelho, como se a mensagem do Senhor Jesus tivesse como objetivo o nosso enriquecimento material e a satisfação dos nossos caprichos.

Podemos ter pedidos negados. Podemos sofrer. Podemos passar por muitas tribulações e aflições, conforme o próprio Jesus nos advertiu (João 16.33). Essa idéia de um "cristianismo 5 estrelas", onde não existem adversidades, é uma perigosa heresia.

O cristão não precisa ser rico. Se for, ótimo. Mas, sendo ou não, o mais importante é que, onde estiver, ele seja justo, íntegro, amável e amigo. Isso jamais pode significar o engradecimento pessoal. Vejamos o exemplo de Jesus. Sendo o máximo em todos os aspectos de caráter, ele se abaixou e lavou os pés dos discípulos.

 

PROSPERIDADE NÃO É SINÔNIMO DE RIQUEZA MATERIAL

Anísio Renato de Andrade

 

Em tempos de crise, o atendimento às necessidades materiais se torna um assunto prioritário. Afinal, queremos garantir nosso sustento e sobrevivência. Queremos também conforto e todo tipo de satisfação pessoal. Queremos ter um ótimo emprego. Mas, que tal termos nosso próprio negócio? Melhor ainda. Tudo isso é permitido. Não existe nenhum pecado em todos esses desejos, desde que estejamos dispostos a trilhar caminhos direitos para alcançarmos o que desejamos. Entretanto, muitos têm anunciado o evangelho como se este fosse um meio para se alcançar riqueza. Chegam a dizer que todo cristão deve ser rico e, se for pobre, é porque está em pecado ou sob maldição.

Vejo essa "teologia da prosperidade" como fruto da mentalidade capitalista que tem dominado o mundo, entrando inclusive em muitas igrejas. Muitos pregadores apresentam esse "evangelho" através de uma linha de raciocínio aparentemente lógica. Afirmam que, se Deus é rei, então seus filhos devem ter o que de melhor existe no mundo. Se ele é o dono do ouro e da prata (Ag.2.8), então os cristãos também devem ter muito ouro e muita prata. Segundo essa falsa tese, o supremo poder de Deus estaria a nosso serviço para nos dar tudo o que desejamos. Mas... quem é o Senhor? Nós? Não!

Precisamos perguntar como Paulo: "Senhor, que queres que eu faça?" (At.9.6). Temos uma lista de pedidos para Deus. Algumas pessoas tem uma lista de ordens, chegando a "determinar" que Deus faça uma série de coisas. Quem somos nós para determinar alguma coisa para Deus? Será que já cumprimos tudo o que ele determinou que fizéssemos? Imagine um servo que, ao invés de fazer o serviço, está dando ordens para o dono da casa. Podemos e devemos apresentar nossos pedidos diante do Senhor, mas nunca ordens nem determinações. Isso seria um atrevimento, uma falta de respeito diante de Deus.

Se o evangelho for garantia de riqueza material, então sabemos que Jesus não conheceu esse evangelho. Ele não tinha nem lugar de reclinar a cabeça (Mt.8.20). Alguém pode alegar que Jesus sofreu porque era necessário, mas que a nossa situação é diferente. Então, examinemos a vida dos discípulos e veremos que nenhum deles conheceu esse "evangelho" da riqueza e plena satisfação pessoal nesta vida. Pelo contrário, Jesus lhes disse: "No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo." (João 16.33). "Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me." (Lc.9.23). Ele nunca disse que seus seguidores seriam materialmente ricos. Pelo contrário: "Quem não renuncia a tudo quanto possui não pode ser meu discípulo." (Lc.14.33). O seguidor de Cristo precisa estar disposto a perder tudo o que tem se preciso for e até mesmo ser morto pela causa do Mestre. "Quem perder a sua vida, acha-la-á." (Mt.10.39).

Isso não combina em nada com o "evangelho da prosperidade". Jesus e os discípulos não eram ricos. Quando precisou pagar o imposto, Jesus mandou que Pedro fosse buscar a moeda na boca do peixe (e nem teve troco). O apóstolo Paulo também não conheceu essa "teologia capitalista". Ele sofreu muito e passou por muitas necessidades (II Cor.6.10; 11.24-33). Algumas vezes precisou de auxílio dos irmãos (Fp. 4.10-19).

Essa mensagem materialista tem, em muitos casos, substituído a mensagem de salvação. Fala-se mais em dinheiro do que em pecado e santidade. E muitas vezes os assuntos são entrelaçados, colocando-se o dinheiro sempre em evidência. O dinheiro é importante, precisamos dele e da bênção de Deus nessa área. Contribuir para a obra de Deus é também muito importante. O erro está em colocar a prosperidade material como conseqüência lógica da conversão. Isso não é um ensinamento bíblico.

Deus pode dar e tem dado riqueza material para alguns (I Tm.6.17), mas ele nunca disse que todos os seus filhos seriam ricos. Se a bíblia não tem essa promessa, então não podemos considerar como certa essa conquista. Isso pode fazer parte do plano do Senhor para algumas pessoas, mas não para todas. Lembremos-nos da parábola dos talentos. Aquele senhor deu 500 talentos para cada servo??? Sabemos que não. Ele deu 5 para um, 2 para outro e 1 para o último, mandando que eles trabalhassem até a sua volta. O Senhor distribui bens, oportunidades, recursos e dons de acordo com a capacidade de cada um. O Senhor nos manda trabalhar e adquirir conhecimento e sabedoria (Pv.2). Assim, nossa capacidade pode aumentar e os nossos talentos também. Se queremos prosperar, devemos trabalhar. (Ef.4.28). Deus nos deu 5 talentos. Queremos mais? Devemos trabalhar. Algumas pessoas jamais poderão ser ricas pois não tem condições de administrar um grande patrimônio. Se enriquecessem, poderiam até abandonar o caminho do Senhor. Paulo disse que os que querem ser ricos caem em tentações, laços e concupiscências (I Tm.6.5-11). Entre os tais encontram-se aqueles que usam o evangelho como forma de enriquecimento.

 

 

RIQUEZAS ESPIRITUAIS EM CRISTO

Anísio Renato de Andrade

 

Motivados pela cobiça, muitos cristãos vivem em busca de riquezas materiais e se esquecem das riquezas espirituais que Deus nos oferece através de Jesus Cristo (Tg.2.5). Se alguém puder conciliar as duas coisas e se for este o plano de Deus para a pessoa, excelente. Contudo, o evangelho existe para que as almas humanas sejam salvas. E se a riqueza material for prejudicar ou inviabilizar esse projeto na vida de alguém, então é melhor que essa pessoa seja pobre (Mt. 13.22). Por esta causa é que Jesus mandou que o jovem rico vendesse todas as suas propriedades e desse o dinheiro aos pobres (Lc.18.22). O dinheiro distribuído entre os pobres seria uma bênção e nenhum deles ficaria rico por isso, mas concentrado nas mãos de um só homem, aquela riqueza se tornara um ídolo. Ninguém pode servir a Deus e a Mamom. É melhor entrar pobre no céu do que rico no inferno, conforme se vê em Lucas 16.19-31. Se alguém pode servir a Deus e usar a riqueza como instrumento de justiça, então que faça assim. É um equilíbrio muito difícil e poucas pessoas são capazes de consegui-lo. O que acontece é que muitos estão servindo às riquezas e querendo usar até mesmo o próprio Deus como instrumento para alcançá-las.

O que a bíblia nos ensina a buscar são riquezas espirituais. Se não fosse assim, Jesus nem precisaria ter vindo ao mundo. Em Cristo temos um tesouro de valor inestimável (Col. 2.2-3). Ele quer nos dar: amor, alegria, paz, justiça, sabedoria, fé, fidelidade, integridade, comunhão com o Pai e salvação eterna. Poderíamos fazer uma lista imensa, e mesmo assim incompleta, daquilo que Deus nos oferece. (I Cor.2.9; I Cor.1.30; II Pd.1.4-8; Gál. 5.22). Terminaríamos citando "o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e nem subiu ao coração do homem." (I Cor.2.9). Precisamos voltar os olhos para os valores espirituais, valores celestiais. Precisamos pensar nas coisas que são de cima (Col. 3.1-5). Precisamos erguer os nossos olhos (João 4.35) e deixar de ficar olhando apenas para o que é terreno, exterior e passageiro. Isso não significa que vamos viver alienados e esquecer da vida material. Precisamos cuidar de todas as nossas responsabilidades terrenas e trabalhar pelos nossos projetos. O que não podemos fazer é tentar colocar o evangelho como instrumento da cobiça nem achar que o cristianismo possa ser garantia de riqueza material.

Se Deus nos der riquezas, isso será uma bênção. Se ele não nos der, estejamos contentes com o que temos. Certamente, não é natural que um filho de Deus viva na miséria, mas isso não significa que todos os filhos de Deus devam ser materialmente ricos. Se temos o "pão nosso de cada dia", já temos motivo para agradecer muito a Deus. Ele se compromete a suprir nossas necessidades. Jesus disse: "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas." (Mt. 6.33). Ele não disse "todas as outras coisas", e sim "todas estas coisas". E de que coisas ele estava falando? Do comer, do beber e do vestir, como se lê nos versículos anteriores. Ninguém deveria usar Mateus 6.33 para dizer que Deus vai nos dar empresa, casa na praia e viagem turística pela Europa. Ele pode nos dar isso e muito mais. Porém, isso não é promessa bíblica.

Muitas vezes precisamos passar por situações difíceis para aprendermos lições que, de outra forma, não aprenderíamos. O cristão passa por tribulações, provações, tentações, treinamentos e disciplinas. Podemos passar por dificuldades financeiras e de outros tipos. Isso não combina com uma visão triunfalista de um evangelho ilusório. O certo é que "em todas essas coisas somos mais do que vencedores" (Rm.8). Isso não significa que depois de termos passado por dificuldades financeiras vamos ser ricos. Ser vencedor é cumprir o propósito de Deus e não o nosso. Estamos numa guerra e não em um parque de diversões. E nossa guerra não é para alcançar riquezas, mas é para vencer os poderes de Satanás e ver muitas almas sendo redimidas.

Muitas pessoas recebem uma idéia errada a respeito do evangelho. Com isso criam expectativas ilusórias e acabam se decepcionando.

O Novo Testamento traz uma mensagem que tenta tirar o nosso foco deste mundo e colocá-lo no céu. "Arrependei-vos porque é chegado o reino dos céus". "Não ajunteis tesouros na terra... Ajuntai tesouros no céu." Os primeiros cristãos visavam uma pátria celestial, onde estariam livres de todo o sofrimento terreno. Muitos pregadores da atualidade têm se esquecido de falar sobre céu. Aliás, têm "transferido" o céu para a terra, dando-lhe um sentido materialista, visível, hedonista, egocêntrico e imediato.

Outras considerações avulsas sobre o tema:

 

 

"O Senhor empobrece e enriquece; abate e também exalta". I Sm.2.7

 

Anísio Renato de Andrade

Bacharel em teologia

http://www.geocities.com/athens/agora/8337

anisiora@mg.trt.gov.br

 

 

 

 

 

 

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