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APÊNDICE Nº 1 – A SUTILEZA DA ACOMODAÇÃO

A ociosidade é uma armadilha satânica para nos levar ao fracasso espiritual

Texto áureo

“Bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim.” (Mt.24:46).

– A ressurreição de Jesus, portanto, fez com que Seus discípulos se tornassem templos do Espírito Santo e, portanto, corpo de Cristo, servos do Senhor e sacerdotes.

Não é por outro motivo que o apóstolo Pedro disse que os discípulos de Cristo, a Igreja é a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido para anunciar as virtudes d’Aquele que os chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz (I Pe.2:9).

– Notamos, pois, claramente, que o discípulo de Jesus foi salvo para, enquanto estiver na sua peregrinação terrena, anuncie as virtudes de Jesus, sirva ao Deus vivo e verdadeiro, aguardando o instante em que o Senhor Jesus vier buscar a Sua Igreja.

– Paulo tinha bem consciência desta realidade, a ponto de ter dito aos coríntios: “se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!” (I Co.9:16).

– O Senhor Jesus disse que nos enviou assim como o Pai Lhe havia enviado. Ora, ao vermos os evangelhos, observamos que Jesus foi enviado para pregar o Evangelho (Mc.1:14,15; Lc.4:43,44), para ensinar os
Seus discípulos (Mt.5:1,2; 13:10-17) e fazer sinais, prodígios e maravilhas (Mt.8:16,17; 9:35-38).

– Se estamos na continuidade de Sua obra, temos de prosseguir com estas atividades e de maneira ampliada, pois o Senhor Jesus veio para as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt.15:24; Lc.4:43; Jo.1:11), mas, ante a rejeição dos israelitas, foi agora aberta a oportunidade para todas as nações, para todo o mundo, que é, precisamente, o que devem fazer os discípulos de Cristo (Rm.9:30-33; Mc.16:15; Lc.24:46-48).

– Por isso, pouco antes de subir aos céus, o Senhor disse aos Seus discípulos que eles deveriam ser revestidos de poder para serem testemunhas em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra (At.1:8).

– A vida cristã é uma vida de comunhão com Deus, mas uma vida de serviço a Deus. Servimos ao Deus vivo e verdadeiro e isto só é uma realidade quando anunciamos as virtudes de Jesus, quando ensinamos os irmãos a Palavra de Deus e quando confirmamos a palavra com sinais, prodígios e maravilhas.

– Evidentemente, a partir do instante em que começamos a servir ao Deus vivo e verdadeiro, entramos em rota de colisão com o mundo, cujo príncipe tem “o império da morte” (Hb.2:14), é homicida desde o princípio e pai da mentira (Jo.8:44).

– O mundo nos aborrece, como aborreceu a Jesus (Jo.15:18) e, como somos membros do corpo de Cristo, passamos a ser “corpo estranho” neste mundo e seremos atacados e perseguidos (Jo.15:20).

Há uma luta incessante entre a Igreja e as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12). Não há a mínima possibilidade de comunhão entre a luz e as trevas (Jo.14:30; II Co.6:14).

– Diante deste quadro, não podemos deixar de realizar o nosso serviço, pois, ao crermos em Jesus, fizemo-l’O nosso Senhor e Salvador. Em sendo assim, temos de obedecer-Lhe, temos de fazer o que Ele manda, se é que somos Seus servos, se é que realmente O amamos como Ele nos amou (Jo.15:14).

– Diante disto, não podemos, em momento algum, esquecer que o único motivo pelo qual o Senhor nos mantém aqui na Terra após a conversão é a de que realizarmos o Seu serviço.

– “…Se Deus desejasse, cada um de nós poderia ter entrado no céu no momento da conversão. Não era absolutamente necessário à nossa preparação para a imortalidade que ficássemos presos aqui.

É possível um homem ser levado ao céu e descobrir ser um participante da herança dos santos na luz, tendo apenas crido em Jesus.

É verdade que nossa santificação é um processo longo e contínuo, e que não estaremos aperfeiçoados até abandonarmos nosso corpo e entrarmos além do véu; mas, no entanto, assim quis Deus.

Ele podia ter nos transformado da imperfeição para a perfeição e nos levado para o céu imediatamente.

Por quentão estamos aqui? Será que Deus deixaria Seus filhos fora do paraíso um único momento além do necessário?

Porque o exército do Deus vivo está ainda no campo de batalha, quando um comando poderia lhe dar a vitória?

Por que Seus filhos ainda estão vagando aqui e ali através do labirinto, quando uma única palavra de Seus lábios os traria para o centro de suas esperanças no céu?

A resposta é — eles estão aqui porque precisam “viver para o Senhor”, e, para levarem outros a conhecer Seu amor. Permanecemos no mundo como semeadores para espalhar a boa semente; como lavradores para arar o terreno árido; como arautos anunciando a salvação.

Estamos aqui como o “sal da terra”, para ser uma bênção para o mundo. Estamos aqui para glorificar Cristo em nossa vida diária. Estamos aqui como trabalhadores para Ele, e como “trabalhadores com Ele”.

Cuidemos para que nossa vida corresponda a esse propósito. Vivamos de maneira zelosa, útil e santa “para louvor da glória de Sua graça”.…” (SPURGEON, Charles Haddon. In: Dia a Dia com Spurgeon: manhã e noite: meditações diárias. 2. ed. Trad. de Elisa Tisserant e Sandra Pina. Curitiba/PR: Publicações Pão Diário, 2017, p.334).

– Por isso mesmo, uma das figuras bíblicas para o servo de Jesus é a do soldado (II Tm.2:3), aquele que está em uma constante luta contra o inimigo; a do militar, aquele que está militando pela fé (I Tm.6:12), que tem de agradar Àquele que o alistou para a guerra (II Tm.2:4) e que tem de militar legitimamente (II Tm.2:5).

– Esta ideia de que estamos numa batalha (I Co.14:8; Jd.3) nunca pode desaparecer de nossas mentes, pois, assim pensando, sempre estaremos de prontidão, vigilantes, sabendo bem qual é o nosso papel nesta peregrinação terrena.

II – A SUTILEZA DA ACOMODAÇÃO

– Quando o servo do Senhor começa a cumprir a sua tarefa de servir a Deus, o inimigo imediatamente inicia a lançar os seus dardos inflamados para impedir que este serviço se realize. O primeiro deles é a zombaria, o escárnio com que se procura intimidar o trabalho a ser realizado.

– Foi assim nos dias de Neemias, quando os adversários, ao saber que Neemias havia convencido os judeus a reconstruir Jerusalém, fizeram questão de tornar conhecidas as suas zombarias em relação aos construtores (Ne.4:1-3).

– Foi assim no dia de Pentecostes, quando, ao verem os que ali estavam para a festa judaica, aquele alvoroço causado pelo derramamento do Espírito Santo no cenáculo, alguns logo se aproximaram para dizer à multidão que os discípulos estavam embriagados (At.2:13).

– Por meio da zombaria e do escárnio, da ridicularização, procura o adversário gerar uma “vergonha paralisadora”, um “pudor” que faça com que o servo de Deus perca a confiança e deixe de realizar a obra que lhe foi determinada.

– Não se deve esquecer que a primeira reação do homem em relação a Deus após a queda foi o de esconder-se do Senhor por vergonha, em virtude da nudez (Gn.3:8-11).

– O ex-chefe da Igreja Romana, o Papa Emérito Bento XVI muito bem afirmou que, em nossos dias, há um verdadeiro “martírio da ridicularização”:

“…Na nossa época, o preço que deve ser pago pela fidelidade ao Evangelho já não é ser enforcado, afogado e esquartejado, mas muitas vezes significa ser indicado como irrelevante, ridicularizado ou ser motivo de paródia.

E contudo a Igreja não se pode eximir do dever de proclamar Cristo e o seu Evangelho como verdade salvífica, fonte da nossa felicidade última como indivíduos, e como fundamento de uma sociedade justa e humana.…” (Vigília de oração para a beatificação do Cardeal John Henry Newman. 18 set. 2010. Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2010/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20100918_veglia-card-newman.html Acesso em 13 jun. 2022).

– Quando vierem zombar, escarnecer e ridicularizar de nós por causa de nosso serviço a Deus, devemos agir como fizeram Neemias e Pedro.

Neemias orou a Deus ao saber daquelas afirmações e começou a realizar a obra como se nada tivesse sido dito, desprezando a afronta (Ne.4:4-6) e Pedro usou a zombaria como motivo para iniciar a pregação que ganhou quase três mil almas para o Senhor Jesus naquele dia (At.2:14-16).

– O Senhor Jesus, também, diz-nos o escritor aos hebreus, sempre desprezou a afronta (Hb.12:2), suportando as contradições dos pecadores contra Ele mesmo (Hb.12:3) e devemos seguir Seus passos na realização da continuidade da Sua obra.

– Lamentavelmente, porém, muitos hoje têm vergonha de realizar a obra de Deus. Não falam de Jesus para as pessoas que estão à sua volta, omitem que são cristãs, não pregam mais o Evangelho em “cultos ao ar livre”, não fazem a evangelização pessoal. Escondem, mesmo, sua condição de cristãs perante os grupos sociais de que faz parte.

– Jesus não tem vergonha de nos chamar de irmãos (Hb.2:11) e nosso Deus não Se envergonha de todos quantos desejam uma pátria celestial e por isso lhes preparou uma cidade (Hb.11:16).

Tais pessoas, por desejarem esta pátria, servem ao Deus vivo e verdadeiro para que, como servos fiéis e prudentes, sejam achados servindo no momento do arrebatamento da Igreja (Mt.24:45,46).

– Vemos, portanto, que quem se envergonhar de Jesus, quem o negar diante dos homens, demonstra que não deseja a pátria celestial, que não quer ser irmão de Jesus e, por isso mesmo, será deixado na Terra quando do arrebatamento da Igreja ou, se partir antes para a eternidade, não irá para o Paraíso, pois Jesus nega quem o nega, como confessa quem O confessa (Mt.10:32,33; Lc.12:8,9).

– Percebamos, pois, como esta “vergonha” é algo satânico, pois quem for iludido com esta sutileza, simplesmente perderá a salvação, que é precisamente o que deseja o adversário de nossas almas. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Quando “o dardo da ridicularização” é interceptado pelo escudo da fé, Satanás, então, para tentar impedir o nosso avanço no serviço a Deus, apresenta uma nova arma – a intimidação.

– Voltando aos dias de Neemias, quando os adversários souberam que a resposta à zombaria tinha sido o início da obra, a inclinação para o trabalho, procuraram gerar medo entre os judeus, anunciando que iriam atacar Jerusalém (Ne.4:7,8).

– Nos primeiros dias da Igreja, não foi diferente. Ante o crescimento da igreja em Jerusalém, logo após a cura do coxo da porta Formosa do templo, foram os apóstolos presos pela guarda do templo e ameaçados pelo Sinédrio (At.4:17,21).

– Quando a zombaria e o escárnio não produzem a paralisia, o inimigo vem com as ameaças, com a intimidação, com a atemorização.

– Qual foi a reação de Neemias e dos judeus? Eles oraram a Deus e puseram guardas de dia e de noite para se manterem vigilantes contra possíveis ataques dos adversários (Ne.4:9).

– Qual foi a reação dos apóstolos e da igreja em Jerusalém? Oraram ao Senhor e pediram a Deus que lhes desse ousadia na pregação da Palavra e que fosse ela confirmada com sinais, prodígios e maravilhas (At.4:30) e o resultado disto foi a manifestação do poder de Deus, com novo derramamento do Espírito Santo e concessão da ousadia pedida (At.4:31).

– Quando intimidados por Satanás, não podemos parar de realizar a obra de Deus, temendo perder a vida física, pois quem procurar salvar a vida física, poupar a vida terrena, perderá a vida espiritual (Mt.10:39; 16:25; Mc.8:35,36).

– Não devemos temer o diabo, que só pode matar o nosso corpo, se Deus o permitir, mas, sim, a Deus, que pode matar o corpo e a alma, lançando-a no lago de fogo e enxofre, que é a segunda morte, a morte eterna (Mt.10:28; Lc.12:4,5).

– Diante da intimidação, devemos agir com coragem, crendo no poder de Deus e pedindo mais deste poder a Ele.

Foi o que fizeram os crentes de Jerusalém, o revestimento de poder, a ousadia para pregar o Evangelho, a manifestação do poder de Deus. Foi o que fez Neemias, que colocou guardas, que aumentou a vigilância para ficar esperto contra as ações do inimigo. E ambos começaram tudo orando a Deus.

– Para não nos deixarmos dominar pelo medo, precisamos buscar a face do Senhor, pedir o Seu poder e para que seja aumentada a nossa fé, redobrando a vigilância. Fazendo isto, o Senhor nos dará a ousadia necessária para prosseguirmos a nossa jornada e o nosso serviço.

– Observemos que, se ficarmos com medo, estaremos abandonando o amor de Deus, estaremos deixando de amar ao Senhor, pois o amor de Deus lança fora o medo (I Jo.4:18).

E, como já dizia o príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892): ”…A marca distintiva de um cristão é sua confiança no amor de Cristo e a entrega de seu afeto a Cristo como resposta.

Primeiro, a fé coloca seu selo sobre o homem, habilitando a alma a dizer juntamente com o apóstolo: ‘Cristo me amou e a Si mesmo Se entregou por mim’. Em troca, o amor dá a confirmação e estampa sobre o coração, gratidão e amor em Jesus. ‘Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro’.

Nos tempos áureos da antiguidade, que foi o período heroico da religião cristã, esta dupla marca era vista claramente em todo os crentes em Jesus; eram homens que conheciam o amor de Cristo e descansavam nele como um homem que se apoia num cajado cuja segurança experimentou.

O amor que sentiam pelo Senhor não era uma emoção tranquila que escondiam em si mesmos, na câmara secreta de sua alma, e do qual falavam apenas em suas assembleias privadas, quando se encontravam no primeiro dia da semana e cantavam hinos em louvor ao Cristo Jesus crucificado.

Mas era uma paixão de tal veemência e vigor, que era visível em todas as suas ações, em suas conversas cotidianas e que comumente transparecia em seus olhares.

O amor por Jesus era a chama que alimentava o âmago e o coração daqueles homens; e, portanto, com sua própria força, ardia no homem exterior e ali brilhava. O zelo pela glória do Rei Jesus era o selo e a marca de todo os cristãos genuínos.

Por causa de sua dependência do amor de Cristo, eles ousaram muito, e por causa de seu amor por Cristo, eles fizeram muito, e é assim ainda hoje.

Os filhos de Deus são governados pelo poder do amor em seu interior o amor de Cristo os constrange; eles se regozijam por aquele divino amor estar sobre eles, sentindo-o ser derramado em seu coração pelo Espírito Santo que lhes foi dado, e então, pela força da gratidão, eles amam o Salvador fervorosamente com o coração puro.…” (SPURGEON, op.cit., p.325).

– Se o servo de Deus continuar servindo ao Senhor mesmo diante da intimidação, o inimigo então lança o “dardo da violência”, ou seja, “cumpre as ameaças” e procura, usando de violência física, impedir a continuidade do serviço ao Deus vivo e verdadeiro.

– No caso de Neemias e da reconstrução de Jerusalém, isto não se deu, porquanto os adversários estavam a “blefar”, porque não podiam mandar um exército contra os judeus, já que Neemias tinha autorização direta do rei da Pérsia para reconstruir a cidade (Ne.2:7-9; 4:15), mas não devemos nos esquecer que, apesar disso, Neemias se antecipou e se preparou para um eventual ataque (Ne.4:13-23).

– Entretanto, cerca de 85 anos antes, estes mesmos inimigos dos judeus haviam usado de violência para fazer cessar a reconstrução do Segundo Templo em Jerusalém (Ed.4:23), causando um tal impacto entre os israelitas que resolveram eles abandonar por completo tal reconstrução, a ponto de o Senhor ter de fazer com que o povo sofresse até carência material para que, alertados pelos profetas Ageu e Zacarias, retomassem a obra (Ed.5:1,2; Ag.1:1-12; Zc.1:1-6).

– Notemos como Satanás tinha sido vitorioso em seu intento de fazer o povo desanimar e até a deixar de cuidar da sua vida espiritual com o uso da violência.

Entretanto, não podemos temer quando o Senhor permite que venhamos, inclusive, a derramar sangue por causa da obra de Deus. Jesus entregou a Sua vida por nós e devemos estar dispostos a fazer o mesmo por Ele (II Tm.4:6-8; I Jo.3:16; Ap.2:10).

– Com relação aos dias apostólicos, a igreja em Jerusalém, a situação não foi diversa. Não tendo havido êxito por parte do inimigo nas ameaças feitas pelo Sinédrio, levantou-se grande perseguição contra a Igreja, dirigida por Saulo, que levou primeiramente à morte de Estêvão e de outros crentes (At.7:54-8:3; 22:4,5) e à dispersão dos crentes pela Judeia, Samaria e Galileia.

– Como diria anos depois o pai da Igreja, Tertuliano (160-220)., o sangue destes mártires foi semente de cristãos, pois a violência física não só não intimidou os cristãos, como também promoveu a proliferação do Evangelho, pois os crentes que fugiam dos lugares de matança e perseguição, começavam a pregar a Palavra em outros locais, sem falar nos testemunhos dos mártires, que levaram muitos a se converter.

– Diante da violência, devemos enfrentar a morte, pois para o discípulo de Jesus o morrer é ganho, é tão somente a passagem para o Paraíso (Fp.1:21) e, mesmo diante destas circunstâncias tão extremas, com nosso testemunho e com nossas palavras continuarmos a pregar o Evangelho para ganhar almas para o reino de Deus.

– O Senhor não tem prazer naqueles que recuam, devemos demonstrar a nossa confiança em Deus, mantermos nossa fidelidade até a morte, pois somente alcançaremos a glorificação se fizermos a vontade de Deus. Recuar é retirar-se para a perdição, mas somos chamados a crer para a conservação da nossa alma (Hb.10:32-39).

– Quando os servos de Jesus Cristo não deixam que o “dardo da violência” faça cessar a realização da obra de Deus, o inimigo, então, traz o “dardo da difamação”, ou seja, começam a propagar falsas notícias, mentiras contra os servos de Deus, para procurar denegri-los diante dos demais, querendo, com isto, obter uma “trégua”, uma diminuição no ritmo da obra do Senhor, no serviço a nosso Pai celestial.

– Foi o que ocorreu nos dias de Neemias, quando os adversários começaram a divulgar a mentira de que Neemias se pretendia fazer rei e quis marcar uma reunião para “esclarecimento dos fatos” (Ne.6:1-9). Qual foi a reação de Neemias: Desprezou a afronta e prosseguiu realizando a obra de Deus, como se nada estivesse sendo dito e divulgado.

– O mesmo procuraram fazer com os apóstolos. Passaram a ser difamados entre o povo, a serem tidos como inimigos da lei de Moisés e, por conseguinte, do próprio Senhor (At.8:3; 12:1-3; 22:4,5; 24:5; I Ts.2:14,15), mas eles não levaram em conta tais falsas acusações, prosseguindo a realizar a obra de Deus, proliferando, pois, as igrejas na Judeia, Samaria e Galileia (At.9:31) e testificando do Evangelho mesmo perante os seus acusadores e julgadores (At.24:10-26; 26:2-29).

– Em meio ao “dardo da difamação”, cumpre que o servo de Deus seja ainda mais cauteloso na sua obediência à Palavra de Deus, redobre a vigilância, para que não venha a pecar e as “mentiras” se tornem verdades. Temos a promessa de receber galardão nos céus quando sofremos injúrias por causa da nossa vida reta diante do Senhor (Mt.5:11,12).

– O “dardo da difamação” pretende, também, fazer com que o servo de Deus perca o foco, passando a querer defender a sua honra, a se preocupar com a sua imagem, o que o leva à distração, à perda do objetivo de propagar o Evangelho e glorificar o nome do Senhor.

“Distração”, como diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “falta de concentração dos sentidos no que se passa à volta; desatenção; estado de quem está absorto, com o espírito distante; alheamento”. A origem da palavra vem do latim “distractio” cujo significado é “divisão, separação, desunião, afastamento, venda ao retalho”.

– Com a distração, o diabo tenta nos afastar de Jesus e da nossa comunhão com Ele. O objetivo do Senhor Jesus é nos tornar um com Ele (Jo.17:11, 20-23).

A partir do momento que nos voltamos para o nosso “eu”, para a “nossa” defesa, ante a campanha difamatória, afastamo-nos do Mestre, alheamo-nos d’Ele, distraindo-nos.

– Não é isto que o Senhor quer de cada um de nós. Temos nossa vida escondida em Deus com Cristo (Cl.3:3), não mais vivemos, mas Cristo vive em nós (Gl.2:20). Devemos, pois, imitar a Cristo (I Co.11:1), seguir as Suas pisadas (I Pe.2:21), devendo olhar para Ele e, como Ele, ter como alvo o gozo que nos está proposto, o Seu trono (Hb.12:1-3; Fp.3:14).

– Os adversários de Neemias procuraram desviá-lo do foco, convidando-o para se defender no vale de Ono (Ne.6:2), mas o governador judeu bem sabia qual era o propósito divino para ele e disse que tinha uma grande obra para realizar, que não poderia ser interrompida ou paralisada (Ne.6:3).

– Foi, também, o que fizeram os cristãos da igreja em Jerusalém. Ante a difamação, esforçaram-se para pregar ainda mais o Evangelho, para proclamar o nome de Cristo (At.5:12-20,28,29).

– A resposta ao “dardo da difamação” está precisamente em não nos distrairmos e nos esforçarmos ainda mais em cumprir a missão que o Senhor nos confiou.

– Não sendo exitoso o “dardo da difamação”, lança, então, o inimigo o “dardo da infiltração”, ou seja, começa a infiltrar agentes seus no meio do povo de Deus, a fim de conseguir a inserção do povo de Deus no pecado e no afastamento dos princípios divinos.

– Nos dias de Neemias, foi exatamente o que ocorreu. Quando já se estava no final da obra de reconstrução dos muros de Jerusalém, os adversários subornaram pessoas e cooptaram judeus para tentar desviar Neemias de seu intento, inclusive uma profetisa (Ne.6:10-19), mas o governador se manteve fiel aos preceitos da lei de Moisés, bem investigou o que estava acontecendo, não se deixando enganar por estes falsos rumores.

– Entretanto, outras autoridades judaicas não tiveram o mesmo cuidado, como o sumo sacerdote Eliasibe, tanto que, quando Neemias voltou para a Pérsia, os inimigos conseguiram não só uma aproximação com os judeus, como chegaram mesmo a prejudicar grandemente a obra de Deus, porque Tobias, o amonita, chegou a conseguir espaço dentro do templo e, com isso, impedir que se armazenassem alimentos para levitas e sacerdotes que, não tendo como se sustentarem, abandonaram o serviço do culto a Deus (Ne.13:4-13).

– Não há comunhão entre a luz e as trevas (I Co.6:14,15), de modo que não podemos permitir que os agentes infiltrados do inimigo ocupassem espaço nas igrejas locais e na obra de Deus e, desta maneira, prejudiquem a execução da missão que nos foi confiada pelo Senhor.

– Os agentes infiltrados, aqueles que não são pastores mas mercenários, não têm outro objetivo senão matar, roubar e destruir (Jo.10:10), fazendo, assim, o trabalho que é próprio de seu príncipe, que é homicida desde o princípio (Jo.8:44).

– Eliasibe não vigiou, cedeu às “propostas amigáveis” de Tobias, aparentou-se com ele e, em pouco tempo, todo o serviço a Deus estava comprometido e o adversário tinha uma grande casa dentro do templo.

– É exatamente isto que faz o adversário de nossas almas: propõe uma trégua, uma aproximação e, em pouco tempo, consegue minar toda a obra de Deus e a comprometer toda a nossa vida espiritual. Por isso, já ensinava Paulo a não darmos lugar ao diabo (Ef.4:27).

– Com a igreja primitiva não foi diferente. Também em pouco tempo, surgiram aqueles que começaram a perturbar a fé dos irmãos, prejudicando-lhes a vida espiritual, notadamente os judaizantes (/At.15:1,2,5; Gl.1:6,7), os gnósticos (Cl.2:8,16-23; I Jo.4:1-3) e os nicolaítas (Ap.2:6,15). Falsos mestres que se introduzem no meio dos fiéis para desviá-los da verdade (I Tm.4:1,2; II Tm.4:3,4; II Pe.2:1-3; Jd.4).

– Tais pessoas desviam o foco dos servos do Senhor que, em vez de pregarem o Evangelho e se aproximarem do Senhor para que a palavra seja confirmada com sinais, prodígios e maravilhas, acabam por se envolver com preceitos legalistas, doutrinas de homens e de demônios, bem como em uma espiritualidade estranha e alheia às Escrituras, apostatando da fé, negando o Senhor Jesus (II Pe.2:1) e indo para um estado espiritual pior que tinham antes de terem se convertido a Cristo (II Pe.2:20-22).

– Se é bem verdade que o joio e o trigo só serão separados no dia da colheita (Mt.13:30), que é necessário que haja heresias para que os sinceros se manifestem (I Co.11:19), possível é a identificação dos infiltrados e a sua censura e reprovação por parte dos fiéis (I Co.5:13; I Tm.1:20; Ap.2:2).

– Neemias expulsou Tobias do templo e restabeleceu o serviço do culto a Deus. Os apóstolos, também, identificaram e excluíram do convívio dos santos os agentes infiltrados.

– Devemos identificar os elementos perturbadores e não permitir o prejuízo à obra de Deus, continuando a realizar a obra sob a direção do Espírito Santo, que é quem pode nos guiar em toda a verdade, pois é o Espírito da verdade (Jo.16:13) e que nos dará o devido discernimento (I Co.2:11-16).

– Lamentavelmente, nos dias em que estamos a viver, muitos têm sido paralisados por estes “dardos inflamados do inimigo”. O resultado disto é que são poucos, muito poucos aqueles que estão a realizar a obra de Deus. A esmagadora maioria dos que cristãos se dizem ser estão ociosos, sem fazer coisa alguma em prol da evangelização e da edificação espiritual dos salvos.

– Como é atualíssima e carente de realização a expressão do poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão no início da terceira estrofe do hino 383 da Harpa Cristã: “Que não haja ociosos na igreja do Senhor, mas, sim, crentes fervorosos trabalhando com vigor”.

– Vivemos dias de extrema ociosidade. Os que cristãos se dizem ser não mais evangelizam nem buscam o crescimento espiritual seu e do irmão. São, no mais das vezes, meros frequentadores de culto, completamente acomodados, paralisados por Satanás, que, assim fazendo, os está levando à perdição.

– Muitos estão ociosos porque não querem ser ridicularizados (e chegam mesmo a ridicularizar quem está fazendo a obra…); outros, porque ficaram atemorizados com as ameaças; outros, ainda, porque temem o falso 

rumor, as retaliações, as difamações; outros, porque não querem se submeter à violência empreendida contra alguns irmãos e, outros por fim, porque se deixaram seduzir pelas palavras dos agentes infiltrados.

– Outros, ainda, são iludidos por um ativismo eclesiástico que nada tem que ver com a realização da obra de Deus. Estão envolvidos em inúmeras atividades, numa agenda cheia de eventos e ações que, no entanto, não têm o propósito de evangelização e de crescimento espiritual dos salvos.

– São múltiplas atividades que tomam muito tempo e promovem enorme gasto de energias, mas que não atendem ao “ide” de Jesus, que não estão relacionados com os objetivos traçados pela cabeça da Igreja. São atividades sociais e filantrópicas que, há muito, já perderam seu objetivo de ganhar almas para o reino de Deus e de promoverem o desenvolvimento espiritual dos salvos.

– O resultado é que muitas igrejas locais não passam hoje de meros clubes sociais; os cultos, meros encontros de confraternização e, neste ambiente de ociosidade, o mal está a se alastrar e não só não se ganham mais almas, como as que eram salvas vão apostatando da fé.

– Não era este o senão que o Senhor Jesus fez em relação à igreja em Éfeso? Uma igreja extremamente laboriosa, mas que já havia perdido o “primeiro amor” (Ap.2:3,4)?

Muitos estão se desgastando muito, mas não demonstram mais amor, porque não estão objetivando ganhar almas para o reino de Deus nem contribuir para o crescimento espiritual dos irmãos, impedindo-os de deixar a fé.

– Urge mudarmos este quadro, retornando ao trabalho, à busca do poder de Deus para que, ao pregarmos, a Palavra seja confirmada com sinais, prodígios e maravilhas, antes que, lamentavelmente, venhamos a fracassar e tenhamos nosso amor esfriado e passemos a fazer parte não mais da Igreja do Senhor, mas, sim, da sinagoga de Satanás. Que Deus nos guarde!

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7874-licao-8-a-sutileza-do-enfraquecimento-da-identidade-pentecostal-i-e-apendice-n-1-a-sutileza-da-acomodacao

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