APÊNDICE Nº 1: OS SETE ESPÍRITOS DE DEUS
O Espírito Santo coopera com o salvo na sua santificação.
Texto áureo
“E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, e o Espírito de sabedoria e de inteligência, e o Espírito de conselho e de fortaleza, e o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is.11:2).
INTRODUÇÃO
– Em apêndice ao trimestre em que estamos a estudar sobre o fruto do Espírito, falaremos através da ação santificadora do Espírito sobre o homem.
– O Espírito Santo traz virtudes ao ser humano que colaboram e cooperam para a sua santificação e para a própria produção do fruto do Espírito.
I – A AÇÃO SANTIFICADORA DO ESPÍRITO SANTO NO SALVO
– Neste trimestre, estamos a estudar a respeito das obras da carne e do fruto do Espírito, ou seja, quais as características que distinguem o salvo do perdido, o homem que anda segundo o Espírito e que caminha para o céu daquele que está indo para a perdição eterna por não ter crido em Cristo Jesus.
– No estudo das obras da carne e do fruto do Espírito, vemos a importância de termos um caráter verdadeiramente cristão, de mostrarmos, por meio de nosso comportamento, se, efetivamente, nascemos de novo, se somos uma “nova criatura” (II Co.5:17; Gl.6:15), ou, se, apesar de pertencermos a um segmento religioso, persistimos sem salvação, sendo o “velho homem” (Rm.6:6; Ef.4:22; Cl.3:9), se somos “filhos de Deus” ou ainda permanecemos sendo “filhos do diabo” (I Jo.3:10).
– Nascendo de novo (Jo.3:3), nascendo da água e do Espírito (Jo.3:5), o ser humano passa a viver para Deus, com a finalidade única e exclusiva de glorificar o nome do Senhor, tendo, doravante, uma conduta totalmente diversa da que possuíra na vida antiga, conduta esta que revela a vontade de Deus na sua vida e, mais do que isto, que vai fazendo-o se aproximar a cada dia do Senhor, pois “a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4:18).
– Esta nova conduta, estas novas qualidades que forjam o seu caráter é o que o apóstolo Paulo denomina de “fruto do Espírito” (Gl.5:22), o fruto que foi mandado produzir pelo Senhor Jesus (Jo.15:16), que se traduz em atitudes e num comportamento que revela a transformação interior operada quando da salvação, as obras de que fala Tiago que demonstram que a pessoa efetivamente tem uma fé viva, que tem a vida eterna (Tg.2:14-26).
– A expressão utilizada pelo apóstolo, ou seja, “fruto do Espírito”, já nos revela que se trata do resultado de uma ação do Espírito Santo sobre o salvo, iniciada com o derramamento do amor de Deus sobre o espírito humano (Rm.5:5).
O amor, que é, precisamente, a primeira qualidade deste fruto do Espírito, é diretamente infundido no ser humano e, a partir de então, se inicia um processo de crescimento espiritual, de contínua edificação, que consiste num dos atos do processo da salvação que é a “santificação progressiva”, um processo continuado que deve perdurar até o momento em que a pessoa sai desta dimensão terrena para a eternidade, seja por meio da morte física, seja quando se der o arrebatamento da Igreja.
– No entanto, depois de ter derramado o amor de Deus em nosso espírito, o Espírito Santo não nos abandona, mas permanece habitando conosco e estando em nós (Jo.14:17), testificando continuadamente com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm.8:16), estando pronto para nos guiar em toda a verdade (Jo.16:13), para ser o nosso Consolador, ou seja, Aquele que está ao nosso lado (Jo.14:16), pois foi chamado para isto, sendo este, aliás, o significado da palavra grega “Parakletos” (παράκλητος), que é traduzida por Consolador.
– Uma das principais ações do Espírito Santo nesta comunhão com o salvo, nesta atuação em conjunto e ao lado do servo do Senhor é a santificação, tanto que um dos nomes pelos quais o Espírito Santo é chamado na Bíblia é, precisamente, o de “Espírito de santificação” (Rm.1:4).
– A chamada “santificação progressiva”, que é o contínuo caminhar do salvo em direção a Deus e de afastamento do pecado, atitude indispensável para quem deseja ver o Senhor (Hb.12:14), é uma ação conjunta tanto do homem quanto de Deus, na pessoa do Espírito Santo.
Por isso, para nos santificarmos continuadamente, como exigem as Escrituras (Ap.22:11), é imprescindível que estejamos em comunhão com o Senhor, que não nos afastemos d’Ele, que estejamos prontos a ter uma vida de intimidade com o Espírito Santo, mediante os meios de santificação, a saber:
Palavra de Deus (Jo.17:17),
oração (reforçada com o jejum) (I Tm.4:5),
temor a Deus (II Co.7:1),
participação digna na ceia do Senhor (I Co.11:28-30).
– Mas, assim como o homem, por si só, não pode alcançar a salvação, também não pode se santificar se tão somente se exigir atitudes da parte dele, sem que haja uma efetiva participação do Espírito Santo, uma participação ativa e que não se limite à criação de condições para que ocorra esta santificação, os já mencionados “meios de santificação”.
– O Espírito Santo, enquanto “Espírito de santificação”, não fica inerte, nem é um mero assistente do esforço humano para a santificação progressiva.
Na verdade, Ele, que já infundiu o amor divino no ser humano, no instante mesmo da salvação, para que pudesse produzir o fruto do Espírito, continua, ao longo da santificação progressiva, concede virtudes, ou seja, disposições firmes, para que o homem, de posse destas virtudes, possa se santificar e se manter afastado do pecado, usando sua vida para glorificar o nome do Senhor.
– Estas virtudes, estas firmes disposições de fazer o bem, são descritas pelo profeta Isaías quando ele, profetizando sobre o Messias, diz que Ele seria cheio do Espírito Santo, teria a plenitude do Espírito. É o que vemos em Is.11:2.
– O Messias seria cheio do Espírito Santo, teria a plenitude do Espírito, o Espírito de forma perfeita e este Espírito pleno é descrito como sendo “o Espírito do Senhor, e o Espírito de sabedoria e de inteligência, e o Espírito de conselho e de fortaleza, e o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor”.
Temos, aqui, portanto, sete aspectos do Espírito, lembrando que “sete” nas Escrituras sempre significa a perfeição.
– Ora, os salvos, sendo parte do corpo de Cristo, continuadores do ministério terreno do Senhor Jesus, também receberam o Espírito Santo e em Sua plenitude (Ef.5:18), de sorte que estas sete características existentes no Senhor Jesus foram também transferidas para a Igreja, não sendo, pois, novidade que o apóstolo João tenha visto, no livro do Apocalipse, os “sete Espíritos de Deus” (Ap.1:4; 3:1; 4:5; 5:6).
– Como bem explica o pastor José Serafim de Oliveira: “…nem sempre o número sete na Bíblia significa exatamente seis mais um. Sempre que este número aparece, convém analisá-lo à luz do contexto, porque tanto pode significar sete mesmo, isto é, seis mais um, como dar a ideia de (e aqui vai algo muito importante) Plenitude, de Perfeição!
(…) Sete espíritos já é uma expressão simbólica. Fala de vida plena, ou vida abundante.…” (A revelação do Apocalipse: saiba o que a Bíblia diz sobre o futuro!. 5. ed. ampliada especial, pp.13-4).
– Os “sete Espíritos de Deus”, portanto, nada mais é que o Espírito Santo atuando plenamente, infundindo todas as características necessárias para que a pessoa se santifique e prossiga sua caminhada para o céu, plenitude que somente se verifica durante a dispensação da graça, após a morte e ressurreição de Cristo, a “dispensação do Espírito”, em que o Espírito não atua mais “por medida” (Jo.3:34).
Como afirma o saudoso pastor Severino Pedro da Silva, citando Graham Scroggie: “…são ‘as diferentes operações do Espírito Santo nessa perfeição que , necessariamente, lhes pertence’…” (Apocalipse versículo por versículo. 3.ed., p.16).
OBS: “…O Espírito Santo, em todos os seus dons e graças, não só virá, mas repousará e permanecerá sobre Ele. Ele terá o Espírito não por medida, mas sem medida, a plenitude da Divindade habitando nele (Cl 1.19; 2.9).
Ele começou a sua pregação dizendo (Lc 4.18): ‘O Espírito do Senhor é sobre mim’.…” (HENRY, Matthew. Comentário bíblico completo – Antigo Testamento – Proféticos: Isaías a Malaquias. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.61).
– Estas sete características do Espírito Santo são, por vezes, denominadas de “sete dons do Espírito Santo”, como, por exemplo, na teologia medieval e na teologia romanista daí derivada, expressão que gera um pouco de confusão, já que, normalmente, os “dons do Espírito Santo” são os constantes das listas constantes das Escrituras que dão conta dos “dons de serviço” (Rm.12:1-8), de “dons carismáticos” (I Co.12:8-10), de “dons ministeriais” (Ef.4:11) e listas que apresentam uma verdadeira miscelânea de dons (I Co.12:28,29; I Pe.4:10,11).
– Estas características são, pois, “…disposições permanentes que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do mesmo Espírito. Os sete dons do Espírito Santo são:
sabedoria,
inteligência,
conselho, fortaleza,
ciência,
piedade e
temor de Deus.
Em plenitude, pertencem a Cristo, Filho de Davi . Completam e levam à perfeição as virtudes daqueles que os recebem.
Tornam os fiéis dóceis para obedecer prontamente às inspirações divinas” (§§ 1830,1831 CIC).
– Através destas características, a santidade de Deus é imprimida em nós, daí porque serem estas disposições chamadas, por vezes, de “dons de santificação”. Como afirma o teólogo católico romano Felipe Aquino:
“…Somente pela ação do Espírito Santo em nós é que podemos conquistar a santidade.
(…) O Espírito de Jesus habita em nós para fazer-nos imagens de Jesus, o Homem perfeito, o Santo.
(…) o Espírito habita em nós com a Trindade Santíssima e nos dá os dons de santificação: Sabedoria, Ciência, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Piedade e Temor de Deus.
(…) mediante esses dons o Espírito nos dirige para a santificação, na medida em que a nossa disposição coopera com a graça.…” (Os sete dons do Espírito Santo. 14 nov. 2016. Disponível em: http://cleofas.com.br/os-sete-dons-do-espirito-santo/ Acesso em 23 nov. 2016).
– Tais características, portanto, são ações do Espírito de Deus para que possamos produzir o fruto do Espírito, uma espécie de “nutrientes divinos” para que tenhamos condição de produzir o fruto desejado pelo Senhor Jesus e fruto permanente, permanência que somente é possível precisamente por causa desta operação divina do Consolador, da Terceira II – OS SETE ASPECTOS DA AÇÃO SANTIFICADORA DO ESPÍRITO SANTO
Pessoa da Trindade.
– Com base em Is.11:2, vemos que a plenitude do Espírito Santo se dá em sete aspectos, que são mencionados pelo profeta e que o apóstolo João denomina de “sete Espíritos de Deus” ou “sete Espíritos” no livro do Apocalipse.
– O primeiro é o “Espírito do Senhor”. Esta expressão diz respeito à própria divindade, pois o nome “Senhor” aqui utilizado é o nome de Deus. Matthew Henry identifica este nome com a própria soberania divina, com o governo divino.
Diz o comentarista bíblico: “…De uma maneira particular, Ele terá o espírito de governo, pelo qual deveria de todas as maneiras ser qualificado para esse juízo que o Pai Lhe entregou, e Lhe deu autoridade para executar (Jo 5.22,27), e não apenas isso, mas ser feito a fonte e o tesouro de toda graça aos crentes, para que de sua plenitude todos eles pudessem receber o Espírito da graça, assim como todos os membros do corpo derivam seu espírito da cabeça.…” (op.cit., p.61).
O pastor Alexandre Augusto, da Igreja Quadrangular de Itajubá/MG, vê neste Espírito, também, a habilidade de domínio: “…Este o que concede as habilidades para um Rei, ser Senhor é ser soberano, é ter domínio da situação.…” (Os Sete Espíritos de Deus. 24 nov. 2007. Disponível em: http://www.webservos.com.br/gospel/estudos/estudos_show.asp?id=3218 Acesso em 23 nov. 2016).
– Temos aqui a própria comunhão com a natureza divina, a comunhão com Deus, a submissão ao senhorio de Cristo como uma força a nos levar à santidade, à perfeição.
Se não nos tornarmos “participantes da natureza divina” (II Pe.1:4), o que se faz apenas por intermédio do Senhor Jesus, jamais conseguiremos resistir ao pecado, jamais poderemos vencer o mundo, manter nossa fidelidade até a morte.
A santificação progressiva somente é possível porque obtivemos, da parte de Deus, a chamada “santificação posicional”, ou seja, fomos tirados do lamaçal do pecado e postos sobre a rocha, que é Cristo (Sl.40:1-3).
– Esta participação na divindade, mediante a comunhão restabelecida pela pessoa de Cristo Jesus, a reconciliação com Deus, o estabelecimento de uma amizade com o Senhor faz com que tenhamos condição de crescer espiritualmente, de nos aperfeiçoar a cada dia em nossa santificação, brilhando mais e mais como a luz da aurora até ser dia perfeito.
Esta continua e incessante comunicação entre Deus, na pessoa do Espírito Santo, e nós é fundamental para que nos santifiquemos.
– Eis a importância, portanto, de termos uma vida devocional diária, de termos um momento exclusivo para estarmos a sós com o Senhor, assim como o primeiro casal tinha na viração do dia no Éden, pois, deste modo, máxime nos dias corridos de nossos tempos tão trabalhosos, possamos mais e mais nos envolver com o Senhor, participar de Sua natureza, ter em nós o “Espírito do Senhor”, cujo resultado, aliás, será o de nos fazermos cada vez mais dependentes e obedientes a Ele.
– A esta característica, aliás, corresponde o que os romanistas denominam de “dom da piedade”, tido como o que “…produz em nós o amor a Deus acima de tudo, afastando-nos de toda forma de idolatria (prazeres, amor ao dinheiro, status, fama, vanglória, poder, superstições, ocultismo etc.) para adorar e servir somente a Deus.
Faz-nos também vivermos como verdadeiros filhos de Deus, que ama o Pai com toda a sua vida: pensamentos, palavras e obras.
É também o dom que nos leva e capacita à oração permanente e humilde que tudo alcança. Faz-nos curvar a cabeça e o coração diante das coisas sagradas…” (AQUINO, Felipe. end. cit.).
– O segundo aspecto ou “Espírito” é o “Espírito de sabedoria”. O Senhor tem um compromisso de dar liberalmente a sabedoria a todos os que Lho pedirem (Tg.1:5), de sorte que se trata de um pedido que, biblicamente, jamais será negado ou postergado ao servo de Deus.
Isto já nos mostra a importância que tem a sabedoria para o homem, pois é, precisamente, a disposição que nos permitirá saber como agir durante a nossa peregrinação terrena.
– Diz Felipe Aquino que “…Pelo dom da Sabedoria, o Espírito nos capacita a conhecer a Deus na intimidade e também nos leva a conhecer a Sua vontade. Faz-nos perceber a mão de Deus em nossa vida, guiando os nossos passos.…” (end. cit.), enquanto que Alexandre Augusto afirma que
“…Este [é] o que traz o conhecer sem ver, ter a resposta antes da pergunta, é ser sábio tanto no pensar quanto no falar ou agir.…”(end. cit.). Matthew Henry afirma que este “Espírito” manifestou-Se no Senhor Jesus porque Ele “…entendeu integralmente a tarefa na qual deveria estar envolvido…” (ibid.), ou seja, sabia bem o que deveria fazer, quando deveria fazê-lo e de que forma deveria ser feito, pois a sabedoria é, exatamente, fazer a coisa certa, na hora certa e do modo certo.
O Senhor Jesus disse que não nos trataria mais como servos mas como amigos, porque nos faria conhecedores plenos da Sua vontade, que é a vontade do Pai (Jo.15:15) e isto, naturalmente, tem um objetivo, que é o de nossa frutificação, como o próprio Cristo revelaria em seguida (Jo.15:16).
– O terceiro “Espírito” é o “Espírito de inteligência” ou “Espírito de entendimento”.
Aqui é importante observar que “inteligência” ou “entendimento” é considerado pelos estudiosos judeus como “…o nível imediatamente abaixo da Sabedoria.
É no nível do Entendimento que as ideias existem separadamente, podendo ser pesquisadas e compreendidas.
Enquanto a Sabedoria é a Mente pura e indiferenciada, o Entendimento é o nível onde existe a divisão e onde as coisas são delineadas e definidas como objetos separados…” (KAPLAN, Arieh. Sefer Ietsirá: o livro da Criação, teoria e prática. Trad. de Erwin Von-Rommel Vianna Pamplona, p.41).
– “…Este [é] o que capacita a mente para discernir qual caminho seguir, tomar a decisão certa nas horas mais incertas, ter percepção.…” (AUGUSTO, Alexandre. end.cit.).
“…Pelo Entendimento, ou Inteligência, nos leva a ver as pessoas e o mundo com os olhos de Deus, e não com a nossa ‘miopia humana’, que mais enxerga os defeitos e os erros do que as qualidades e as belezas das pessoas e das criaturas.
Por esse dom somos levados a querer penetrar os mistérios de Deus e o seu conhecimento.…” (AQUINO, Felipe. end.cit.). Segundo Matthew Henry, é estar “…familiarizado e informado com aquilo que dará a conhecer aos filhos dos homens a respeito de Deus, de Seu pensamento e vontade (Jo 1.18)…” (ibid.).
– Esta característica leva o homem a usar da razão que lhe foi dada por Deus para agradar ao Senhor, é a disposição de se utilizar do próprio raciocínio e da aquisição de conhecimentos para realizar a vontade de Deus, exatamente o contrário do que faz o incrédulo, que se utiliza da razão para criar “falsos discursos” que justifiquem a sua rebeldia contra o Criador (Rm.2:21; Tg.1:22).
– Tomás de Aquino é bem elucidativo a respeito, “in verbis”: “…O nome entendimento envolve o conhecimento íntimo. Significa entender, com efeito, algo como ‘ler dentro’(…).
E como o conhecimento do homem começa com os sentidos, ou seja, a partir do exterior, é evidente que quanto mais viva é a luz do entendimento, o mais profundamente possível será penetrar no interior das coisas.
Mas acontece que a luz natural da nossa compreensão é limitada e só pode penetrar determinados níveis. Por isso, o homem precisa de uma luz sobrenatural que o faça chegar ao conhecimento de coisas que não é capaz de conhecer pela luz natural.
E a essa luz sobrenatural concedida ao homem dá-se o nome de dom do entendimento.…” (Suma Teológica II-II, q.8, a.1 v.3, p.97) (tradução nossa de texto em espanhol).
– O quarto “Espírito” é o “Espírito de conselho”, “…o que tem a boa palavra, a palavra que produz vida, aquela que se dá sobre o que convém fazer, é juízo e ensinamento.…” (AUGUSTO, Alexandre. end.cit.).
“…O dom do Conselho nos faz sábios diante da vida e nos impulsiona a procurar a Deus e a levar os outros a Deus…” (AQUINO, Felipe. end. cit.).
É saber “…como administrar os assuntos do (…) reino espiritual em todas as suas ramificações, bem como mostrar eficazmente as (…) duas grandes intenções: a glória de Deus, e o bem-estar dos filhos dos homens.…” (HENRY, Matthew. ibid.).
– A palavra hebraica envolvida, ou seja, “ ‘esah” (עצה ), “…por vezes, pode sugerir a ideia de uma trama (…), de um julgamento ou decisão (…). Ocorre num sentido positivo em associação com sabedoria e entendimento (…).
Nesse caso, o significado do conselho veio dos sábios de Israel e dos astrólogos da Babilônia, os quais eram vistos como sábios em suas comunidades (…).…” (Dicionário do Antigo Testamento, verbete 6098. In: Bíblia de Estudo Palavra Chave, p.1850).
– O conselho, bem se vê, é a orientação dada, a direção ofertada pelo Espírito Santo ao homem por intermédio de outras pessoas, que, a exemplo de Aitofel, cuja voz era tida como a própria voz de Deus (II Sm.16:23).
Trata-se de uma faculdade em que nos é permitido lembrar das palavras do Senhor à luz daquelas palavras que nos são ditas e, numa comparação, tenhamos condição de identificar se se trata, ou não, de um conselho de ímpio (Sl.1:1) ou, então, de um bom conselho da parte de Deus, que tantos benefícios traz ao homem (Sl.73:24; Pv.8:14; 11:14; 12:15; 15:22; 19:20,21).
Não é à toa que o Senhor Jesus tem, entre Seus nomes, o de Maravilhoso Conselheiro (Is.9:6).
– O quinto “Espírito” é o “Espírito de fortaleza”. “…O dom da Fortaleza nos prepara para lutar contra as tentações e o pecado. Nos faz corajosos na defesa da fé, da “sã doutrina” (1 Tm 1,10) da Igreja, e nos ajuda a vencer as zombarias e o respeito humano.…” (AQUINO, Felipe. end.cit.). “…Este é o que dá energia, segurança, é virtude dos fortes, qualidade de ser forte, traz constância, solidez ao justo.…” (AUGUSTO, Alexandre. end. cit.).
– Somos chamados a lutar contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12), contra o mundo (I Jo.5:4,5) e contra nós mesmos, contra a carne (Rm.7:23,24; Gl.5:16,17). Vivendo nesta constante luta, temos de ter força, temos de ser fortalecidos, pois somos, por natureza, frágeis.
O reconhecimento da nossa fraqueza, aliás, é fundamental para que tenhamos êxito nesta batalha espiritual que, como diz o subtítulo do tema deste trimestre, é travada diariamente pelo salvo na pessoa de Jesus, pois somente quando assumimos as nossas fraquezas, é que podemos buscar o fortalecimento (Jl.3:10; II Co.12:10).
– Este fortalecimento, portanto, é indispensável para que possamos vencer os inimigos que se levantam contra nós e querem nos fazer impedir de chegar aos céus.
Para tanto, precisamos sempre estar no Senhor e na força do Seu poder (Ef.6:10; Fp.4:13), num coração paciente (Tg.5:8), na Palavra de Deus (Sl.119:28) e na graça que há em Cristo Jesus (II Tm.2:1).
– O sexto “Espírito” é o “Espírito de conhecimento” ou “Espírito de ciência”. “…Este é o que dá a experiência para o discernimento, consciência de si próprio, este é o que tem a instrução, a perícia, a cultura.…( AUGUSTO, Alexandre. end.cit.). “…O dom da Ciência nos leva a compreender e aceitar os planos de Deus revelados na Sagrada Escritura.…” (AQUINO, Felipe. end.cit.).
– A palavra hebraica em foco aqui é “da’at” (דעת ), cujo significado é “…conhecimento, compreensão, saber, discernimento, percepção e noção. (…).
O sentido básico do termo é conhecimento ou compreensão(…). A palavra descreve o dom de Deus de conhecimento técnico ou específico juntamente com a sabedoria e o entendimento que Ele concedeu a Bezalel a fim de que este pudesse construir o tabernáculo. (…).
Descreve também os israelitas quando lhes faltava o devido conhecimento para agradarem a Deus (…).
A palavra é usada também no sentido de conhecimento por experiência, relacionamento ou encontro…” (Dicionário do Antigo Testamento, verbete 1847. In: Bíblia de Estudo Palavra-Chave, p.1597).
– Temos aqui a noção hebraica de “conhecimento”, ou seja, “experiência”, “intimidade”.
O Espírito Santo Se aproxima de nós e nos dá este impulso para nos envolvermos cada vez mais com Ele, temos cada vez mais intimidade com o Senhor, procurar “conhecê-l’O e prosseguir em conhecê-l’O” (Os.6:3), ficando tão envolvido com ele assim como a terra fica embebida de água na época das chuvas abundantes do outono em Israel.
– Há, sempre, uma certa dificuldade em distinguir o “Espírito de inteligência” ou “Espírito de entendimento” do “Espírito de conhecimento” ou “Espírito de ciência”. Esta distinção foi bem feita por Tomás de Aquino, que ora reproduzimos:
“… A graça é mais perfeita do que a natureza. Daí que não haverá deficiências nesses níveis em que o homem pode ser aperfeiçoado por natureza.
Mas, dado que o homem, através da razão natural, assente intelectualmente com uma verdade, pode ser aperfeiçoado nesta verdade de duas maneiras:
primeiro, captando-a; em seguida, formulando sobre ela um juízo certo.
Assim, para que o entendimento humano assente com perfeição à verdade da fé, são necessárias duas coisas:
Primeiro, que receba diretamente o que se propõe, o que, como dissemos (Pergunta 8, artigo 6), corresponde ao dom do entendimento.
O segundo requisito é que se tenha disso um juízo certo e preciso, isto é, chegar a discernir o que deve e o que não deve ser crido. Para isso é preciso o dom do conhecimento.…” (Suma Teológica II-II q.8, a.2, v.3, p.105) (tradução nossa de texto em espanhol).
– O sétimo e último “Espírito” é o “Espírito do temor do Senhor”. “…Este é o que dá o sentimento profundo de reverência ou respeito, também o zelo e a pontualidade.…(AUGUSTO, Alexandre. end. cit.).
“…O Temor de Deus não consiste em ter medo de Deus. Jesus nos revelou o grande amor de Deus na parábola do filho pródigo; o Pai sempre pronto a acolher e a perdoar o filho que o abandonou.
Esse Temor é o receio de ofender a Deus por ser Ele tão bom e Santo. Não é medo de ofendê-lo e ser castigado, e sim receio de decepcioná-lo com o nosso pecado.
Então, por amor a Deus, nos leva a fugir do pecado, já que este entristece a Deus, o decepciona.…” (AQUINO, Felipe. end. cit.).
– O proverbista bem sintetizou o que significa “temer a Deus”: “O temor do Senhor é aborrecer o mal; a soberba, e a arrogância, e o mau caminho, e a boca perversa aborreço” (Pv.8:13).
O “Espírito do temor do Senhor” impulsiona-nos a nos desviar do mal, a odiar o pecado, a não desejar praticar o mal, a nos abster de atitudes que podem nos levar ao pecado.
Tomás de Aquino afirma que temer a Deus é reverenciar a Deus e fugir de não se submeter a Ele (Cf. Suma Teológica II-II q.19, a.9, v.3, p.184).
– “…Se alguém ou alguma coisa “for para ti ocasião de queda, arranca-o” (Mc 9,47). Talvez hoje em dia se fale pouco das ocasiões de pecado e, contudo, elas não faltam nos nossos tempos.
Às vezes até temos a impressão de que elas aumentaram.(…) O Catecismo Romano, precedente do atual Catecismo da Igreja Católica, falava o seguinte sobre tais ocasiões:
é preciso ter ‘a precaução de evitar, para o futuro, tudo o que motivou qualquer pecado, ou que possa dar ocasião de ofender a Deus Nosso Pai’ (IV, XIV,22,2).
Atenção: fala-se da precaução, isto é, de cautela, de cuidado, de prudência para não aproximarmo-nos de situações que nos coloquem à beira de ofender ao nosso Pai-Deus.
Colocar-nos temerariamente, isto é, sem nenhuma causa justa, em ocasião de pecar é um pecado. …” (Evitemos as ocasiões de pecado. Disponível em: http://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/evitemos-as-ocasioes-de-pecado/ Acesso em 23 nov. 2016).
– É o “Espírito de temor do Senhor” que nos dará condições de evitar as “ocasiões de pecado”, os “embaraços” de que fala o escritor aos hebreus (Hb.12:1) e que nos fará com que tenhamos tanto amor a Deus e ódio ao pecado que tenhamos condições de nos sujeitar ao Senhor e, assim, resistir ao diabo e a toda e qualquer tentação (Tg.4:7). Este “Espírito de temor” nos fará lembrar das palavras do Senhor Jesus e, por meio da fé nelas, poderemos resistir ao inimigo e vencer as tentações (I Pe.5:8,9).
– Com estes “nutrientes” do Espírito Santo, o salvo na pessoa de Cristo Jesus tem plenas condições de produzir o fruto do Espírito, fruto permanente, até o dia em que iremos ver o Senhor nos ares. Amém!
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco