APÊNDICE Nº 2 –CIRCUNCISÃO E SÁBADO, OS GRANDES AUSENTES DO SERMÃO DO MONTE

Jesus, ao não tratar do sábado e da circuncisão, mostra como os judaizantes não partilhavam da Sua doutrina.

Texto áureo

“Mas agora, conhecendo a Deus ou, antes, sendo conhecidos de Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” (Gl.4:9)

INTRODUÇÃO

– Em apêndice ao trimestre que trata do sermão do monte, faremos um estudo sobre dois temas de que NÃO foram nem sequer mencionados por Jesus : o sábado e a circuncisão.

– Jesus, ao não tratar do sábado e da circuncisão, mostra como os judaizantes não partilhavam da Sua doutrina.

I – CIRCUNCISÃO

– Em apêndice ao estudo do trimestre sobre o sermão do monte, trataremos de dois assuntos que NÃO foram sequer mencionados pelo Senhor Jesus neste Seu sermão que é a síntese da Sua doutrina: o sábado e a circuncisão.

– Trataremos destes dois temas, porque, ao nem sequer mencioná-los no sermão do monte, o Senhor Jesus mostra que tais assuntos não faziam, mesmo, parte da Sua doutrina, sendo, portanto, questões alheias aos Seus discípulos.

– O reino de Deus, como diria posteriormente o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo (Rm.14:7), de modo que os aspectos cerimoniais e culturais que envolviam a lei mosaica estavam superados.

– Com efeito, tais disposições eram voltadas para Israel e para a sua vida sobre a face da Terra e tinham um sentido tipológico em relação à restauração do relacionamento com Deus com a retirada do pecado, o que seria proporcionado pelo Messias, o “profeta como Moisés” que deveria ser ouvido pelo povo (Dt.18:15-18).

– Jesus veio, então, falar com o povo, dar o exato sentido da lei divina, nos aspectos relacionados com a justiça, paz e alegria no Espírito Santo, não mais se tendo a necessidade de figuras ou tipos para prefigurar tal relacionamento, que já seria real, imediato e fático, tendo em vista o cumprimento da lei por Cristo Jesus.

– Eis o motivo pelo qual o Senhor Jesus nem sequer menciona estes aspectos no sermão do monte, aspectos estes que alguns denominam de “lei cerimonial”. “…As chamadas lei moral, lei cerimonial e lei civil são, na verdade, três partes de uma mesma lei que o Senhor Jesus já cumpriu na sua totalidade (…)

A lei cerimonial é a parte que trata das festividades religiosas, do sistema de sacrifício e da adoração no santuário, dos alimentos limpos e imundos e das instruções sobre a pureza ritual, entre outros preceitos (…).

Essa visão tripartida da lei é didática e surgiu na Idade Média. Todos esses tipos de preceitos aparecem na Bíblia como a Lei de
Moisés; porém, sem classificação específica, tudo é a Lei de Moisés…” …” (Declaração de Fé das
Assembleias de Deus, cap.XVII.1, p.152).

 

– Logo no limiar da história da Igreja, alguns fariseus que haviam se convertido levantaram a questão a respeito da circuncisão, exigindo que os gentios que se convertessem a Cristo fossem circuncidados, pois entendiam que a circuncisão era indispensável à salvação (At.15:1,5).

– De pronto, vemos que este entendimento era defendido por antigos fariseus (At.15:5). Era fruto, pois, de uma influência do pensamento religioso farisaico, que é, precisamente, confrontado pelo Senhor Jesus no sermão do monte.

O absoluto silêncio de Jesus sobre a circuncisão no sermão em que apresenta a Sua doutrina mostra, portanto, como este tema era absolutamente irrelevante para o discípulo de Jesus e, ao mesmo tempo, como era fruto da interpretação deturpada que é denunciada por Cristo no mesmo sermão.

– Notemos, portanto, que o silêncio de Jesus sobre o tema é o que denominamos de “silêncio eloquente”, ou seja, um silêncio que fala. Ao não tratar do assunto, Jesus mostra que a circuncisão é elemento absolutamente irrelevante para que alguém seja considerado Seu discípulo.

– A circuncisão foi estabelecida como símbolo da aliança feita entre Deus e Abrão, quando o nome do patriarca foi mudado para Abraão (Gn.17:1-14).

“Abraão” significa pai de uma multidão e, naquela ocasião, quando Abraão já tinha noventa e nove anos de idade, o Senhor renovou a promessa de que seria Abraão pai de uma nação e determinou que todos os seus descendentes masculinos fossem circuncidados ao oitavo dia.

– Assim, a circuncisão era um símbolo de pertencimento ao povo de Abraão, tanto que não somente os israelitas, mas também os ismaelitas se submetem à circuncisão até os dias de hoje, sendo uma prática seguida inclusive pelos muçulmanos, ainda que decorrente da sua “tradição” (Sunnah) e não esteja no Alcorão.

– Deus, então, instituiu esta aliança com Abraão, um ano antes de ele ter Isaque como filho, como um sinal para a identificação da nação escolhida de Deus, identificação de Israel, o povo que seria “propriedade peculiar dentre os povos” (Ex.19:5,6).

– Tem-se, portanto, que este sinal era uma marca física para a identificação da nação de onde viria a salvação, de onde viria o Salvador. Quando foi ordenada a lei a Israel por meio de Moisés, a circuncisão foi mantida como mandamento (Lv.12:3) e Jesus foi devidamente circuncidado conforme a lei (Lc.2:21).

– No entanto, na própria lei, Moisés já advertira o povo de que o importante não era a circuncisão física, mas, sim, a “circuncisão do coração” (Dt.10:16), ou seja, a obediência ao Senhor, a submissão à Sua vontade, o que voltaria a ser exigido do povo por meio do profeta Jeremias, às vésperas do cativeiro da Babilônia (Jr.4:4).

– Os israelitas, notadamente os fariseus, entendiam que bastava ser circuncidado para ser considerado automaticamente como filho de Abraão e, deste modo, estar abrangido por todas as promessas dadas por Deus ao patriarca.

– Tal entendimento, porém, já fora confrontado por João Batista, o precursor do Cristo, que disse aos israelitas que os filhos de Abraão não seriam identificados etnicamente, pois Deus poderia suscitar filhos de Abraão até das pedras, sendo absolutamente necessário que eles se arrependessem de seus pecados para poderem receber o Messias (Mt.3:7-9).

– O batismo de João, aliás, era a demonstração de que necessário se fazia se arrepender dos pecados e não confiar numa automática inserção no povo de Deus única e exclusivamente por força da circuncisão (At.19:4).

 

– Ao falar sobre as qualidades dos Seus discípulos, no sermão das bem-aventuranças, Jesus inicia falando que são eles “pobres de espírito”, precisamente indicando esta submissão ao Senhor, pois o “pobre de espírito” é aquele que reconhece a sua necessidade, a sua dependência de Deus e se encurva diante d’Ele, não endurece a sua cerviz, que é precisamente a “circuncisão do coração”.

– Não há, portanto, qualquer necessidade de um ritual, de uma cerimônia que indique que esta pessoa seja pertencente ao povo do reino de Deus. A circuncisão era apenas uma marca feita para se aguardar a vinda do Messias, que, pela Sua obra redentora na cruz do Calvário, derramaria o Seu sangue e purificaria o homem do pecado, e, assim, pela fé n’Ele, a pessoa teria seus pecados perdoados e seu coração circuncidado, podendo, agora, ser um filho de Abraão.

– O apóstolo Paulo, escrevendo aos gálatas, que estavam titubeando na fé precisamente por causa do assédio dos judaizantes, que queriam que eles se circuncidassem, afirma categoricamente que somos filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus, todos quantos foram batizados em Cristo, revestidos de Cristo, tornando-nos descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa (Gl.3:26-29).

– Não é por outro motivo, aliás, que, ao longo do sermão, o Senhor Jesus vai mostrar que o coração do Seu discípulo é tal que permite com que se tenha o cumprimento da lei no seu exato sentido por aquele que cré n’Ele, de modo que a justiça do súdito do reino dos céus é superior a dos escribas e fariseus (Mt.5:20).

– Por isso, o discípulo de Cristo não só não derrama sangue inocente, como também não se encoleriza sem motivo contra o próximo; não apresenta oferta antes de se reconciliar com o seu irmão; não cobiça o cônjuge de seu próximo; não se divorcia do seu cônjuge a não ser por causa da prostituição; não faz juramentos, mas tem o falar sim, sim, não, não; oferece a outra face a quem lhe bate numa; caminha duas milhas com quem lhe pede para caminhar uma; ama o seu inimigo e procura ser perfeito como é perfeito o seu Pai que está nos céus.

– Tudo isto somente se torna possível porque o discípulo de Cristo tem o seu coração circuncidado, foi lavado e remido no sangue de Jesus, teve seus pecados perdoados e não mais vive, mas é Cristo quem nele vive.

– Paulo afirma que estamos circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo da carne, mas a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados com Ele no batismo e n’Ele ressuscitados pela fé no poder de Deus (Cl..2:11,12).

– Diante de uma tal realidade, que importância tem o sinal da circuncisão, que servia apenas para identificar aquele que pertencesse ao povo de onde viria o Salvador, Salvador que agora põe em Seu povo tanto judeus quanto gentios?

– Não foi por outro motivo que, no concílio de Jerusalém, convocado exatamente por causa da grande contenda surgida entre os cristãos a respeito do entendimento dos antigos fariseus a respeito da necessidade da circuncisão para a salvação, que se decretou, sob orientação do Espírito Santo (At.15:28,29), que a circuncisão era absolutamente desnecessária para os cristãos gentios, algo que já ficara evidente quando o Senhor Jesus nada disse sobre a circuncisão no sermão do monte.

– Aproveitamos aqui para mostrar que também nada há que diga que a circuncisão foi substituída pelo batismo nas águas, como muitos chegam a defender. A circuncisão era figura da “circuncisão do coração” e a “circuncisão do coração” não é o batismo, mas, sim, a conversão. A circuncisão foi substituída pela fé em Cristo, como bem nos fala Paulo na epístola aos gálatas e o “batismo” mencionado por Paulo nessa passagem é a conversão, não o batismo nas águas.

 

– Por isso mesmo, não há sentido algum em se defender o pedobatismo, ou seja, o batismo de crianças, sob o argumento de que a circuncisão foi substituída pelo batismo. A “circuncisão do coração” exige consciência da pessoa, assim como a fé em Cristo Jesus, fé esta que é, depois, declarada publicamente, em obediência a Jesus, pelo batismo nas águas, algo que somente pode ser feito por quem já tem consciência, que não é o caso de pessoas recém-nascidas.

– A doutrina do pedobatismo, como se vê, portanto, não deixa de ser um resquício judaizante que não é respaldada pela Bíblia Sagrada, pela doutrina que Jesus nos deixou e o silêncio eloquente do sermão do monte sobre a circuncisão é mais uma prova disso.

II – O SÁBADO

– Outro tema completamente ignorado pelo Senhor Jesus em Seu sermão doutrinário e ético é o sábado e isto apesar de ser este o quarto mandamento dito pelo Senhor no monte Sinai (Ex.20:8-11; Dt.5:12-15).

– O fato de o sábado se encontrar nas tábuas da lei é um dos argumentos utilizados pelos sabatistas de nossos dias para defender a sua guarda e sua condição como salvação, notadamente os seguidores de Ellen White cuja visão a respeito do “quarto mandamento’ é a pedra de toque para a transformação do movimento adventista iniciado por William Muller em movimento adventista do sétimo dia.

– Segundo os sabatistas, as tábuas da lei seriam “a lei de Deus”, que se diferenciaria da “lei de Moisés”, que seriam os demais 603 mandamentos.

Entretanto, tal ensino não tem respaldo bíblico, visto que “lei de Deus” e “lei de Moisés” são expressões que designam a mesma lei, com seus 613 mandamentos, como se verifica, por exemplo, em Ne.8:1,8, sem se deixar de observar que os 10 mandamentos das duas tábuas foram também escritos por Moisés no livro que entregou aos sacerdotes e levitas quando de sua finalização (Dt.31:9).

– “…As expressões ‘Lei de Deus’, ‘Lei do Senhor’, ‘Lei de Moisés’ dizem respeito a uma mesma coisa [Ne.10:29; Lc.2:22,23].

A Lei de Moisés é o mais importante código de leis da antiguidade por sua santidade, por seu caráter espiritual e por sua autoridade divina: ‘a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom […] a lei é espiritual’ (Rm.7:12,14).

Ela foi dada por Deus aos israelitas por meio de Moisés, o grande legislador do povo hebreu: ‘Porque a lei foi dada por Moisés’ (Jo.1:17)…” (Declaração de Fé das Assembleias de Deus, cap.XVII, p.151).

– Os mandamentos constantes das tábuas da lei não são superiores aos outros, tanto que os dois grandes mandamentos da lei, assim considerados pelos doutores da lei e também pelo Senhor Jesus não se encontram nas referidas tábuas, a saber: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” (Dt.6:5) e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv.19:18).

– No sermão do monte, Jesus tratou de alguns mandamentos constantes das tábuas da lei, a saber, “não matarás” e “não adulterarás”, mas nem sequer mencionou o sábado, embora fosse esta uma questão constantemente levantada pelos seus opositores ao longo do Seu ministério.

– Assim como já dissemos em relação à circuncisão, o silêncio de Jesus a respeito do sábado é eloquente, ou seja, diz algo importantíssimo, a saber: o discípulo de Jesus não precisa guardar o sábado para ser Seu discípulo.

– O sábado não é um mandamento que esteja inserido no reino de Deus. Trata-se de um mandamento dirigido aos filhos de Israel. Segundo os rabinos judeus, o sábado foi dado aos israelitas em Mara, sendo a ordenação mencionada em Ex.15:25. Por isso, já há a determinação de não se colher maná no dia de sábado pouco depois (Ex.16:26,27).

– O sábado foi dado a Israel. No monte Sinai, quando o Senhor manda guardar o sábado, diz que nenhuma obra deveria ser feita no sétimo dia pelo israelita, pelo seu filho, pela sua filha, pelo seu servo, pela sua serva e pelo seu animal, como também pelo estrangeiro que estivesse em suas portas (Ex.20:10).

 

– Vemos, pois, que o mandamento era dirigido ao israelita e abarcava o estrangeiro que estivesse dentro das portas das cidades israelitas. Tem-se, por evidente, pois, que não se tratava de um mandamento dirigido a quem não fosse israelita.

– Isto fica ainda mais claro quando lemos Ex.31:13, quando é dito que o sábado era um sinal entre Deus e Israel e que o sábado seria santo para os israelitas (Ex.13:14).

Observemos que Neemias não permitiu que os estrangeiros entrassem em Jerusalém no dia de sábado para exercerem seu comércio, mas não os obrigou a guardar aquele dia, tendo ainda dito que a falta de guarda do sábado faria com que a ira recaísse sobre Israel, não sobre os estrangeiros (Ne.13:15-21).

– Até por ser um sinal entre Deus e Israel, os fariseus procuraram se dedicar a esta guarda, pois, sabemos todos, o partido dos fariseus surgiu precisamente para impedir a assimilação dos judeus pela cultura helenística, esta cultura surgida da reunião dos povos gregos e orientais a partir das conquistas de Alexandre, o Grande.

Os fariseus eram aqueles que queriam manter os judeus separados dos outros povos, mantendo a sua identidade de “propriedade peculiar de Deus dentre os povos”.

– Por isso, os fariseus se dedicavam muito à observância da lei de Moisés e ao ensino da lei para todo o povo, a fim de que Israel não perdesse a sua identidade diante das demais nações e o sábado, sendo um sinal entre Deus e Israel, um ponto distintivo em relação às outras nações, teria de ter um tratamento e cuidado todo especial por parte dos fariseus.

– Esta preocupação era tanta que os fariseus logo criaram 39 mandamentos adicionais da guarda do sábado, fazendo a sua interpretação a respeito do quarto mandamento das tábuas da lei e criando uma tradição que se constituía em “…fardos pesados e difíceis de suportar, postos sobre os ombros dos homens…” (Cf.
Mt.23:4).

– As discussões que foram travadas entre os escribas e fariseus e o Senhor Jesus a respeito do sábado estavam relacionadas com estes “mandamentos adicionais” criados pela tradição farisaica, parte do que eles denominaram de “cerca da Torá”, ou seja, preceitos criados pelos escribas e doutores da lei como uma “prevenção” para que não se violasse a lei de Deus.

– Jesus cumpriu toda a lei (Mt.5:17), inclusive o mandamento do sábado, a ponto de só ter ressuscitado depois do sábado, mas jamais se prendeu a mandamentos de homens, que não têm origem divina, como eram as 39 prescrições tradicionais a respeito do sábado.

– Mas, em Seu sermão doutrinário e ético, Jesus não fez nem sequer uma menção ao sábado, precisamente porque não se trata de mandamento a ser observado no reino de Deus.

– O apóstolo Paulo, falando aos colossenses, posteriormente confirmaria esta circunstância, ao dizer que não podemos ser julgados por causa dos dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas futuras, mas devemos observar que somos o corpo de Cristo (Cl.2:16).

– Ora, o sábado é a primeira das festividades religiosas de Israel, a mais importante delas, segundo os doutores da lei, vez que é a mais celebrada e na qual o povo se dirige, em ambiente familiar, ao Senhor (Lv.23:1-3).

– O sábado foi instituído para que fosse santificado para Deus (Ex.20:10). era o dia da lembrança de Deus, o dia que devia ser dedicado ao Senhor. É um nítido remédio para um povo que não quis entrar em comunhão com Deus, mas que d’Ele se distanciou, com medo d’Ele por causa dos trovões, relâmpagos, fogo e terremoto ocorridos no monte Sinai por causa da especial presença divina (Ex.20:18-21).

– O povo precisava de um dia para se lembrar de Deus, visto que separado d’Ele por causa dos seus pecados.

 

– Entretanto, agora, vindo Cristo, o profeta como Moisés que deveria ser ouvido pelo povo, o próprio Deus feito homem que veio falar ao povo, possível se tornou a comunhão com o Senhor, porque o sangue de Jesus nos purifica de todo o pecado (I Jo.1:7).

– Tendo comunhão com Deus, por meio de Jesus, o súdito do reino de Deus desfruta de descanso em sua alma, pois Cristo é o seu descanso (Mt.11:28-30), está todos os dias, todos os momentos em comunhão com Deus, pensando nas coisas de cima (Cl.3:1-3), tanto que o seu dia passou a ser HOJE (Hb.4:7).

– Não há, portanto, mais sentido algum em se reservar um dia em que se deva lembrar do Senhor, porque o súdito do reino de Deus está todos os dias pensando no Senhor, buscando o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33).

– Como diz o escritor aos hebreus, mesmo guardando os sábados, os israelitas ainda esperavam um repouso (Hb.4:8,9).

Repouso, aliás, que não veio nem mesmo quando conquistaram a Terra Prometida. O repouso, como se pode ver, está em Cristo e Cristo os Seus discípulos já têm desde a conversão, quando, como vimos supra, somos revestidos do Senhor, n’Ele batizados (Gl.3:27), passando a ser membros em particular de Seu corpo (I Co.12:27).

– Por isso, o apóstolo Paulo afirma que o servo de Jesus vir a guardar dias, meses, tempos e anos é tornar a rudimentos fracos e pobres, uma vez que agora se encontra em patamar superior, onde tem seu descanso em Cristo, em que está a todo tempo servindo ao Senhor e buscando o Seu reino e a sua justiça (Gl.4:9-11).

– O repouso prometido ao povo de Deus, como diz o escritor aos hebreus, já veio: é Jesus, que do sábado é Senhor (Lc.6:5). Portanto, trata-se de tema completamente superado no reino de Deus, e, por isso mesmo, nem sequer foi mencionado no sermão do monte.

– No sermão do monte, o Senhor Jesus ensinou qual deve ser o caráter do Seu discípulo, o que o caracteriza, quais as qualidades e atitudes que ele possui.

– Quando Barnabé foi dar assistência à primeira igreja gentílica, a igreja de Antioquia, revelou como os cristãos primitivos tinham bem aprendido com o Senhor. Ao chegar àquela cidade e ter contato com os discípulos, o que procurou ele? Diz o texto sagrado: “quando chegou e viu a graça de Deus, se alegrou e exortou a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor” (At.11:23).

– Barnabé preocupava-se em ver “a graça de Deus” entre os que haviam se convertido, não estava nem um pouco preocupado com as prescrições da lei de Moisés, com a guarda de dias ou com a circuncisão e esta mentalidade foi mantida em toda a obra missionária, como se vê, por exemplo, em At.13:43.

– Jesus veio mostrar como “a graça de Deus”, que Ele mesmo trouxe (Jo.1:17), que é Ele próprio (Tt.2:11), manifesta-se entre os Seus discípulos. O sermão do monte é este ensino a respeito desta manifestação da graça de Deus, da manifestação do reino de Deus entre os homens por meio de Seus discípulos.

– Por isso mesmo, a ausência de referência e menções à circuncisão e ao sábado são eloquentes manifestações de Cristo no sentido de que todas estas prescrições, por Ele integralmente cumpridas, já não mais devem ser buscadas, devem ser seguidas.

– A lei de Moisés serviu como aio até Cristo e, agora, em Cristo, todos quantos n’Ele crerem irão cumprir a lei, e no seu exato sentido, desde o coração, todos os dias, porque receberão o amor de Deus em seus corações pelo Espírito Santo que lhes é dado (Rm.5:5) e, tendo Cristo em si (Gl.2:20), cumprirão integralmente a lei, porque o cumprimento da lei é o amor (Rm.13:10).

 

 Pr. Caramuru Afonso Francisco