Sem categoria

APÊNDICE Nº 1 – A PROMULGAÇÃO DA LEI AO PÉ DO SINAI

APÊNDICE LIÇÃO 10

Na promulgação da lei ao pé do Sinai, temos algumas importantes lições espirituais.

[jwplayer mediaid=”1179″]

Texto áureo:

“E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb.9:22).

INTRODUÇÃO

– Como apêndice ao estudo deste trimestre, analisaremos a parte final do capítulo 23 e o capítulo 24 do livro de Êxodo, onde temos importantes lições a respeito da dispensação da lei.

– Na promulgação da lei ao pé do Sinai, temos algumas importantes lições espirituais.

I – PROMESSAS E INSTRUÇÕES DE DEUS A ISRAEL

– Tendo em vista que não houve uma lição específica que tratasse da parte final do capítulo 23 e do capítulo 24 do livro de Êxodo, resolvemos, como complemento ao estudo deste livro das Escrituras Sagradas, fazer um apêndice que abarcasse este trecho, onde o Senhor, após ter entregado as leis civis a Israel, faz uma promessa, bem como se dá a promulgação da lei ao pé do monte Sinai.

– Após o Senhor ter concluído a entrega das leis civis, o chamado “código da aliança” a Moisés, uma regulamentação dos chamados “dez mandamentos”, mostrando, assim, como o poderia deveria viver diante do pacto que havia estabelecido com Deus no monte Sinai, o próprio Deus traz uma promessa a Israel: “Eis que eu envio um anjo diante de ti, para que te guarde neste caminho e te leve ao lugar que te tenho aparelhado” (Ex.23:20).

– O Senhor, apesar de o povo de Israel ter se retirado para longe, não querendo ouvir a voz de Deus, mas pedindo que Moisés o fizesse em seu lugar (Ex.20:19), não cessou Seu intento de querer estar próximo do povo.

– Verdade é que, com esta recusa, o Senhor não pôde inscrever no coração dos israelitas a lei, que teve de ser escrita em pedras, mas, nem por isso, Deus quis Se apartar do povo, como o povo d’Ele havia se apartado. Pelo contrário, logo após entregar as principais normas de convivência a Moisés, fez questão de afirmar que dirigiria o povo até a Terra Prometida.

– Desde que Israel havia saído do Egito, o Senhor já havia mandado um anjo que estivesse diante do povo, orientando-lhe o caminho (Ex.14:19). Muito se discute quem seria este anjo, que é chamado de “o anjo de Deus”.

– “…A identidade precisa do “anjo do Senhor” não nos é dada especificamente na Bíblia. No entanto, há várias “dicas” importantes para a sua identidade. Há referências no Velho e Novo Testamento a “anjos do Senhor”, “um anjo do Senhor” e “O anjo do Senhor”. Aparenta ser o caso que quando o artigo definido “o” é usado, está especificando um ser único, separado dos outros anjos. O anjo do Senhor fala como Deus, identifica-se com Deus e exercita as responsabilidades de Deus (Gn.16:7-12; 21: 17-18; 22:11-18; Ex.3:2; Jz.2:1-4; 5:23; 6:11-24; 13:3-22; II Sm.24:16; Zc.1:12; 3:1; 12:8).

Em várias outras aparições, aqueles que viram o anjo do Senhor temeram por suas próprias vidas porque eles tinham “visto o Senhor”. Portanto, é claro que em pelo menos alguns casos, o anjo do Senhor é uma teofania, uma aparição de Deus em forma física.…” (Quem é o anjo do Senhor? Disponível em: http://www.gotquestions.org/Portugues/anjo-do- Senhor.html#ixzz2qMyQlMEr Acesso em 14 jan. 2014).

– “…As aparições do anjo do Senhor cessaram depois da encarnação de Cristo. Anjos são mencionados inúmeras vezes no Novo Testamento, mas “O anjo do Senhor” nunca é mencionado em o Novo Testamento. É possível que as aparições do anjo do Senhor eram manifestações de Jesus antes de Sua encarnação. Jesus Se declarou como sendo existente “antes de Abraão” (João 8:58), então é lógico que Ele estava ativo e manifesto ao mundo. Qualquer que seja o caso, se o anjo do Senhor era uma aparição do Cristo pré-encarnado (Cristofania), ou uma aparição de Deus Pai (teofania), é muito provável que a frase “anjo do Senhor” identifica uma aparição física de Deus.” (ibid.)

– Assim, quando o Senhor promete enviar um anjo, está, na verdade, dizendo que iria Ele próprio (quem sabe, talvez na pessoa do Filho pré-encarnado) guiar o povo até o seu destino, que era a terra de Canaã. Isto se reforça quando vemos que, após o episódio do bezerro de ouro, o Senhor diz a Moisés que não mais iria com o povo (Ex.33:2), mas que enviaria um anjo diante do povo, a indicar, portanto, que aquele primeiro anjo mencionado logo após a entrega do “código da aliança” era o próprio Deus.

– Mas há mais um importantíssimo fator que nos permite inferir que este “anjo do Senhor” era o próprio Deus. É que o próprio Senhor disse que, naquele anjo, o “Seu nome estaria nele” (Ex.23:21). Ora, se o nome do Senhor estava no anjo isto era porque o anjo era o próprio Deus.

– Embora o povo não quisesse ter um contato mais íntimo com o Senhor, nem por isso o Senhor deixou de prometer que guiaria o povo até Canaã. Se o Senhor não estivesse com Israel, de forma alguma eles conseguiriam chegar até Canaã. De igual modo, se o Senhor não estiver conosco, através da pessoa do Espírito Santo, guiando-nos em toda a verdade (Jo.16:13), de modo algum chegaremos até a Canaã celestial. Temos nos deixado guiar pelo Espírito Santo? Pensemos nisto!

– O anjo do Senhor não só guiaria o povo, mas também o guardaria. No caminho para Canaã, havia perigos e os israelitas dependiam da proteção divina para superá-los. Foi o que bem entendeu Esdras quando, saindo de Babilônia, foi para Jerusalém. Antes de iniciar esta caminhada, orou ao Senhor para que os perigos fossem superados ao longo da jornada e o Senhor Se moveu pelas suas orações, livrando-os das mãos dos inimigos e dos que armavam ciladas no caminho (Ed.8:31).

– Hoje não é diferente. Neste caminho que estamos andando rumo a Canaã celestial, também os inimigos se colocam querendo nos atingir, bem como há muitas ciladas. O apóstolo Paulo é claro ao afirmar que não podemos ignorar os ardis do nosso inimigo, que outro não é senão Satanás (II Co.2:11), que tanto nos ataca com todas as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais (Ef.6:12), como também sempre arma astutas ciladas para nos fazer tropeçar (Ef.6:11). Por isso, precisamos sempre da proteção do Senhor, precisamos sempre estar debaixo da Sua mão (Ed.8:31).

– É interessante notar que o Senhor afirma que já tinha “preparado”, “aparelhado” o lugar para onde levaria o povo. O povo estava a caminho, mas o Senhor já tinha “preparado” aquele lugar. Que lugar era este? Muitos interpretam ser a própria terra de Canaã, mas outros, com base no Midrash (a interpretação feita pelos doutores da lei), entendem que seria a própria Presença de Deus, que teria já decidido alinhar o “Templo celeste” com o “Templo terrestre”, que mandaria Moisés construir posteriormente, ou seja, o tabernáculo.

– Na verdade, uma interpretação não exclui a outra. Sem dúvida, quando o Senhor está a dizer que havia preparado um lugar para os israelitas, este lugar é a terra de Canaã, mas, muito mais do que isto, uma terra onde Israel estivesse diante da presença de Deus. Israel fora chamado para ser “reino sacerdotal e povo santo”. Assim, teria, sim, entre as nações um determinado lugar, um território (cf. Ex.23:31), mas, neste território, a presença de Deus se faria sentir, pois Israel fora chamado para ser o intercessor das demais nações diante de Deus.

– Deus já tinha preparado Israel para ocupar a terra de Canaã, mas diante da Sua presença, presença que já se faria sentir desde a peregrinação no deserto, mas que teria, em Canaã, um clímax.

– Era este o propósito divino, tanto que, assim que Moisés retorna ao monte, solitário, é a primeira providência que Deus tomará, a do fornecimento do modelo da Sua habitação no meio do povo (Ex.25:1-9).

– Não muito diferente não é a situação da Igreja. O Senhor Jesus também disse que iria nos preparar lugar na Canaã celestial (Jo.14:1-3) e este lugar, uma vez preparado, será o nosso destino, pois o Senhor nos virá buscar para que com Ele, na Sua santa presença, estejamos para todo o sempre. Aleluia! Será que podemos repetir as palavras do poeta sacro Emílio Conde (1901-1971): “Nosso Redentor foi preparar um lugar de repouso e esplendor, brevemente chamará para a casa a descansar, nós, os salvos, do mundo enganador. Desejamos ir lá, desejamos ir lá, que alegria será, quando nós nos encontrarmos lá’ (primeira estrofe e refrão do hino 214 da Harpa Cristã)?

– No entanto, se a presença de Deus, como atestam os próprios rabinos judeus, indicava que o Senhor queria “alinhar” a Sua presença no meio do povo, demonstrando haver um distanciamento, uma dicotomia entre a realidade celeste e a realidade terrena, em virtude da opção de retirada feito pelo povo de Israel quando começou a ouvir as palavras do Senhor, com a Igreja isto não se dá, pois iremos morar nas próprias mansões celestiais, estando onde já está o Senhor Jesus, numa unidade de ambiente, uma perfeita comunhão. Aleluia!

– Para que Israel estivesse protegido e dirigido pelo anjo do Senhor, era mister que se guardasse diante dele e ouvisse a sua voz, não o provocando à ira (Ex.23:21). Três, portanto, eram as atitudes que se deveria ter para que se tivesse a direção e a proteção do anjo do Senhor no caminho para Canaã.

– A primeira atitude era “guardar-se diante dele”. A Bíblia de Jerusalém traduz esta expressão como “Respeita a sua presença”; a Tradução Brasileira, “estai de sobreaviso diante dele”; a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, “deem atenção”; a Nova Versão Internacional, “prestem atenção”; a Versão Antonio Pereira de Figueiredo e a Tradução da CNBB, “respeita-o”. Todas estas expressões mostram-nos que é necessário que sejamos reverentes e tementes ao Senhor para que possamos ser devidamente protegidos por Ele em nossa caminhada para o céu. É absolutamente necessário que nos portemos como servos diante do Senhor, que não queiramos fazer senão a vontade de Deus e, deste modo, certamente o inimigo não conseguirá nos vencer nem nos enganar.

– A segunda atitude é “ouvir a sua voz”, ou seja, obedecer ao que o Senhor nos diz em Sua orientação e direção. De nada adianta nós nos calarmos e ouvirmos o que o Senhor tem a nos dizer, numa atitude de reverência, se não atendermos ao que Ele disser. Quantos, na atualidade, não ouvem o que o Senhor lhes tem a dizer a cada dia, mas não observam o que é dito? Tomemos cuidado, amados irmãos!

– A terceira atitude é “não o provocar à ira”, o que o próprio Deus explica para Moisés o que significa: não se rebelar. A rebelião é como pecado de feitiçaria (I Sm.15:23) e o Senhor já havia dito que a feiticeira não poderia ser mantida viva, tinha de ser morta no meio do povo (Ex.22:18). Destarte, quem se rebela contra o Senhor, quem se revolta contra Ele, outro destino não tem senão a morte e Faraó era o grande exemplo que o povo de Israel tinha a respeito desta verdade.

– Tomando estas três atitudes, Israel estaria protegido e seria devidamente orientado até o seu destino, que era a terra de Canaã. Guardando-se diante do anjo, ouvindo a sua voz e não o provocando à ira, Deus Se tornaria inimigo dos inimigos deles e adversário dos adversários deles e, assim, se cumpriria aquilo que o apóstolo Paulo bem nos ensinou: se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rm.8:31).

– O anjo levaria os israelitas até a presença dos moradores de Canaã, mas o Senhor os destruiria (Ex.23:23). Assim, também, Deus nos leva até a presença dos inimigos, mas Ele próprio Se encarrega de destruí-los. Não temos de ter medo de ir ao encontro dos adversários, somos levados pelo Espírito Santo a isto, pois, como integrantes do corpo de Cristo, nosso papel é fazer bem e curar os oprimidos do diabo (At.10:38) e, por isso mesmo, é mister que vamos ao encontro das hostes espirituais da maldade, pois é onde elas estão que se encontram aqueles que são por elas oprimidos.

– No entanto, quando lá chegamos, pelo nome do Senhor, podemos ser usados por Deus para expulsar os demônios, mostrando, assim, que o reino de Deus é chegado a nós (Mt.12:28). A libertação de vidas das garras de Satanás é um sinal proeminente de que o povo de Deus se encontra temente, obediente e submisso ao Senhor.

– Por que, então, não temos visto, com tanta frequência, a expulsão de demônios em nosso meio, apesar de sabermos que estamos numa época de intensa atividade satânica, já que nos encontramos às vésperas do arrebatamento da Igreja e da entrega deste mundo aos espíritos malignos, capitaneados pela “trindade satânica” (diabo, Anticristo e Falso Profeta)? Porque não nos encontramos reverentes, obedientes e submissos! Busquemos a presença do Senhor, santifiquemo-nos e consagremo-nos!

– A instrução do Senhor para o povo era exatamente esta: quando se deparasse com as nações que habitavam Canaã, que seriam destruídas pelo Senhor, não deveriam se inclinar diante dos seus deuses, nem o servirem, nem fazerem conforme as suas obras, mas deveriam destruir totalmente o que eles haviam feito, em especial as suas estátuas (Ex.23:24).

– O Senhor mostra-nos aqui outro grande perigo que ronda o povo de Deus, uma cilada astutamente deixada pelo diabo, a saber: a adoção da maneira de viver dos incrédulos, daqueles que foram destruídos pelo Senhor.

– O Senhor destruiria os povos que habitavam a terra de Canaã, mas a cultura deles, o que fizeram, os seus costumes e modos de viver ficariam ali, na memória, na história e havia o risco de os israelitas passarem a copiar, a seguir aquele modo de vida, tão abominável ao Senhor que o próprio Deus havia resolvido usar Israel como instrumento de aplicação do Seu castigo pela medida da injustiça daquelas nações (Gn.15:16).

– É o que tem ocorrido ao longo da história da Igreja. Apesar de enfrentar o maligno e toda a sorte de religiões e práticas abomináveis praticadas por instigação do mal, muitos dos que cristãos se dizem ser passaram a copiar e a absorver práticas pagãs, abomináveis ao Senhor, pondo-lhes uma roupagem cristã. Temos, hoje, infelizmente, diversos segmentos que se dizem cristãos e que possuem uma mescla, uma mistura entre paganismo e cristianismo.

– Nem se diga que isto é próprio de instituições milenares como a Igreja Romana, ou a Igreja Ortodoxa, porque muitos que se dizem pertencentes à “igreja evangélica” também estão neste caminho, inclusive adotando valores e princípios profundamente anticristãos e que são obras do “espírito do anticristo”, que já está atuando no mundo e preparando o caminho para as duas bestas que estão para surgir.

Assim, estão a aceitar práticas abomináveis como o homossexualismo, a introduzir o culto à personalidade, uma verdadeira adoração ao dinheiro e tantas outras coisas que nos mostram, claramente, que o diabo, assim como o Senhor havia prevenido o povo de Israel, continua a fazer muitos tropeçar, impedindo-os de ingressar na Canaã celestial. – Como sabemos, Israel não teve o cuidado de observar a instrução e advertência que lhe fez o Senhor, quando ainda estavam no monte Sinai, e não só não destruíram todos os povos que habitavam a terra de Canaã, como lhe seguiram os costumes e cultos, trazendo gravíssimo prejuízo espiritual.

– O Senhor voltava a prometer que, se Israel cumprisse o pacto que com Ele havia estabelecido e se mantivesse reverente, obediente e submisso, o Senhor guardaria o povo de tal maneira que o pão e a água seriam abençoados, não haveria enfermidades no meio do povo, não haveria quem abortasse ou estéril, bem como o Senhor enviaria o terror diante do povo, de modo que os inimigos virassem as costas para Israel. O Senhor, também, Se encarregaria de enviar vespões diante de Israel, que lançassem fora os povos que habitavam a terra de Canaã, não de uma vez, a fim de que as feras do campo não se multiplicassem contra os israelitas (Ex.23:25-29).

– Vemos, pois, que, no regime da lei, era necessário cumprir os estatutos de Deus para que se tivesse acesso às bênçãos. Não se tratava de uma barganha, de um “toma-lá-dá-cá”, mas, sim, de consequências da prática de boas obras. O regime da lei era o regime baseado na seguinte máxima: “Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, fazendo-os o homem, viverá por eles. Eu sou o Senhor” (Lv.18:5).

– Esta máxima traz o que o apóstolo Paulo denomina de “justiça que é pela lei” (Rm.10:5). Como o povo não quis se aproximar de Deus, ter a Sua lei inscrita em seus corações, deveriam agora fazer aquilo que Deus havia determinado para, então, alcançarem a vida. Era um pacto firmado sobre a prática de boas obras, que lhes trariam a vida, a bênção.

– Ao assim proceder, Israel estava procurando estabelecer a sua própria justiça, sem conhecer a justiça de Deus e, por isso, não conseguiram se sujeitar à justiça de Deus, não alcançando, assim, a justificação, que é feita mediante a fé, que vem pela Palavra de Deus, mediante a qual nós aceitamos que a lei de Deus seja inscrita em nossos corações e, deste modo, confessamos com a boca ao Senhor Jesus e cremos com o coração que Deus O ressuscitou dos mortos, alcançando, deste modo, a salvação (Rm.10:1-13).

– Usar a lei como critério de salvação, portanto, é assinar a própria sentença de morte (Gl.2:15), visto que jamais conseguiremos, por nossas próprias forças, cumprir a lei, pois não há como fazê-lo sem que, antes, o Senhor venha morar em nós, sem que antes creiamos na Palavra e deixemos que o Senhor inscreva a Sua lei em nossos corações.

– Israel, ao chegar à Terra Prometida, permitiu que alguns dos povos que habitavam ali continuassem morando na terra, apesar de expressão proibição divina (Ex.23:33) e, por conseguinte, foram estes povos laços para os israelitas, laços que os fizeram transgredir a lei do Senhor, perdendo, assim, a oportunidade de se justificarem. Como consequência disto, com a exceção dos reinados de Davi e de Salomão, jamais puderam os israelitas ter os termos da Terra Prometida em sua plenitude, como prometido pelo Senhor (Ex.23:31).

– Nestas promessas e instruções divinas a Moisés, vemos, com absoluta clareza, a precariedade e insuficiência do pacto que o Senhor estabelecera com Israel no monte Sinai, e a enorme necessidade de vir um novo concerto para que Israel pudesse efetivamente servir a Deus e ter a Terra Prometida nos exatos termos preconizados pelo Senhor, o que seria prometido através do profeta Jeremias (Jr.31:31-34) e somente se cumprirá no reino milenial de Cristo (Rm.11:25-32). OBS: A propósito, os próprios rabinos judeus concordam com isto ao dizer que “…A conquista final destas terras acontecerá com a vinda de Mashiach” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.171).

II – A PROMULGAÇÃO DA LEI AO PÉ DO SINAI

– Depois de ter recebido o “código da aliança” bem como as promessas e instruções há pouco analisadas, Moisés, que tinha subido ao monte e falado com Deus na nuvem da escuridade (Ex.20:21), desceu do monte, com uma instrução: a de que deveria voltar ao monte na companhia de Arão, Nadabe, Abiú e setenta dos anciãos de Israel (Ex.24:1).

– É oportuno aqui observar que há uma discussão entre os comentaristas bíblicos judeus a respeito de quando ocorreram os fatos descritos no capítulo 24 de Êxodo. Alguns, como Rashi, entendem que os fatos se deram antes da entrega da lei aos israelitas, teriam sido preparações para a outorga da lei, enquanto que outros, como Ramban, entendem que os fatos se deram realmente posteriormente após a entrega da lei.

– Entendemos que a sequência da narrativa do livro de Êxodo encontra-se em ordem cronológica. Moisés havia subido solitário ao monte para que o Senhor, conforme o pedido de Israel, lhe continuasse a falar a lei e, assim, depois, a transmitisse ao povo. Moisés, então, vai ao encontro do povo e o Senhor lhe manda que suba novamente ao Sinai, só que, desta vez, acompanhado de Arão, Nadabe, Abiú e setenta dos anciãos de Israel, devendo eles se postarem de longe, somente Moisés se chegando ao Senhor (Ex.24:1).

– Os anciãos do povo estavam ali para representar todo o Israel e terem um relacionamento inferior em relação a Deus. O fato de só Moisés poder se chegar era resultado da própria escolha do povo, que preferira ter um medianeiro para receber a lei e não recebê-la diretamente de Deus.

– Aqui vemos, claramente, que a dispensação da lei iria trazer um relacionamento cheio de restrições e onde o acesso a Deus era limitadíssimo. Temos, no monte Sinai, o que o pastor Aldery Nelson Rocha denomina de “o tabernáculo natural do Sinai” (Santa Bíblia, Versão Di Nelson, p.172), visto que somente Moisés poderia subir até o cume do monte, que representaria o “lugar santíssimo”; o próprio monte, que seria o “lugar santo” e o pé do monte, onde estava todo o povo, o “pátio”.

– Após a entrega da lei por Deus a Moisés, Moisés informa ao povo tudo quanto o Senhor mandou, ou seja, repete o que havia sido ouvido pelo povo quando das “dez palavras” e lhes instrui a respeito de todo o “código da aliança”, tendo, então, o povo de Israel admitido cumprir tudo quanto o Senhor havia proposto a eles: “…Todas as palavras que o Senhor tem falado, faremos” (Ex.24:3).

– Conclui-se, pois, o pacto entre Deus e Israel, com o povo de Israel aceitando fazer tudo quanto havia sido determinado pelo Senhor, devendo, portanto, receber as bênçãos divinas diante do cumprimento de todas aquelas ações. Era uma aliança, portanto, firmada sobre o que fosse feito pelo povo, uma aliança baseada em obras, consoante a máxima de que já falamos supra.

– Diante da aceitação de todas as leis e estatutos dados por Deus a Moisés, Moisés tudo escreveu e se levantou, de manhã de madrugada, edificou um altar ao pé do monte e doze monumentos, segundo as doze tribos de Israel.

– Como diz o pastor Aldery Nelson Rocha, o Sinai havia se tornado um “tabernáculo natural”, tanto que, ao pé do monte, que correspondia ao “pátio do tabernáculo”, foi erigido um altar, assim como no pátio haveria o altar de sacrifícios ou altar de cobre (Ex.40:6).

– O povo não tinha querido subir o monte, como estava previsto (Ex.19:13) e, portanto, como não havia sido retirado o seu pecado, havia um altar de sacrifícios entre eles e o monte, como a mostrar a necessidade de que alguém viesse e se sacrificasse pelo povo para lhes dar livre e completo acesso ao Senhor, o que seria feito única e exclusivamente pela “posteridade de Abraão”, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

– Além do altar, Moisés edificou doze monumentos, doze estelas, ou seja, pedras erguidas, alçadas, cada uma representando as doze tribos de Israel. O pacto havia sido estabelecido com o povo de Israel, que, diante da aceitação da lei, havia se tornado um reino sacerdotal e povo santo, propriedade peculiar de Deus dentre os povos (Ex.19:5,6).

– Ao reduzir a escrito as palavras que o Senhor lhe dissera, Moisés estava deixando a lei para as próximas gerações de israelitas. Aliás, os comentaristas judeus afirmam que, quando da outorga da lei a Israel, Deus teria pedido uma garantia e a única garantia que foi aceita foram os filhos dos israelitas que estavam assumindo o compromisso da lei, prova de que a lei tinha de ser transmitida às gerações futuras e isto se devia fazer pela escrita, pois, com a escrita, há a possibilidade desta transmissão de forma crível e ilimitada.

– Como prova de que Israel havia sido constituído como “reino sacerdotal”, Moisés mandou que mancebos dos filhos de Israel oferecessem holocaustos e sacrificassem ao Senhor, sacrifícios pacíficos de bezerros (Ex.24:5).

– “…O Targum [comentários das Escrituras escritos pelos doutores da lei, observação nossa] entende que estes jovens eram os primogênitos dos filhos de Israel, que desempenharam as funções ‘sacerdotais’ até a escolha de Arão e seus filhos como sacerdotes oficiais (Cohanim). De acordo com Nachmânides [o Ramban, observação nossa], a escolha recaiu sobre os jovens (e não sobre os anciãos ou necessariamente os primogênitos0 devido à pureza espiritual dos escolhidos…” (MELAMED, Meir Matzliah. Torá: a lei de Moisés, nota Ex.24:5, p.230).

– Na verdade, todo o povo israelita havia sido constituído como sacerdote e, portanto, o fato de Moisés ter escolhido mancebos de todas as tribos para o oferecimento dos sacrifícios pacíficos, não deveria ser qualquer novidade, pois a nação era um “reino sacerdotal”. Esta realidade perduraria até o episódio do bezerro de ouro, quando, então, por terem quebrantado os dois primeiros mandamentos, o povo de Israel perderia a sua condição de reino sacerdotal e o sacerdócio ficaria limitado à tribo de Levi, a única que se manteve fiel ao Senhor naquela terrível transgressão (Ex.32:26; Nm.18).

– Os sacrifícios que foram oferecidos eram sacrifícios pacíficos, ou seja, ofertas de gratidão. O povo estava agradecendo a Deus pela dádiva da lei, pela aliança que havia formalizado com Israel, pela sua escolha como propriedade peculiar de Deus dentre os povos.

– Devemos, também, sempre ser gratos a Deus pela nossa escolha para servi-l’O. Foi o Senhor Jesus quem nos escolheu e não nós a Ele (Jo.15:16) e devemos estar sempre conscientes que não merecíamos coisa alguma da parte do Senhor, mas que Ele nos amou e, por ter misericórdia de nós, permitiu-nos ser salvos, poder desfrutar da comunhão com Ele. Devemos ser sempre agradecidos ao Senhor (Cl.3:15).

– Se na lei, um relacionamento inferior, em que a lei teve de ser transmitida por um medianeiro e depois reduzida a escrito, em que o povo se pôs de longe e, mesmo assim, houve agradecimento e gratidão, como podemos, então, não demonstrar uma gratidão ainda maior ao nosso Deus? Paulo foi bem claro ao dizer que a gratidão é resultado de uma vida de comunhão com Deus, onde a paz de Deus domina em nossos corações (e paz, lembremos, é “shalom”, que significa “completude”, “integração”, ou seja, a instauração de uma comunhão entre Deus e nós).

– Temos sido gratos ao Senhor, amados irmãos? Temos expressado esta gratidão através de sacrifícios espirituais agradáveis a Deus? Que seja nossa a oração transformada em cântico do poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão (1903-1982): “Ó meu Senhor, dá-mais gratidão, por tudo que Tu fizeste por mim, por tua graça no meu coração, que me encheu de ventura sem fim! Mais grato a Ti, mais grato a Ti, mais consagrado, ó faz-me, Senhor! Mais humilhado e cheio de amor, faz-me mais grato a Ti, mais grato a Ti!” (primeira estrofe e refrão do hino 370 da Harpa Cristã).

– Após a oferta dos sacrifícios, Moisés tomou a metade do sangue e a pôs em bacias e a outra metade do sangue espargiu sobre o altar (Ex.24:6). Os sacrifícios eram pacíficos, ofertas de gratidão, mas o derramamento de sangue era indispensável para que Deus Se fizesse propício ao povo.
– O pecado não havia sido retirado do povo. Havia algo que separava o povo de Deus, que era, precisamente, o pecado do povo (Is.59:2). Este pecado impedia que o amor pudesse existir plenamente entre Deus e o povo, pois o amor lança fora o medo (I Jo.4:18), tanto que o povo tinha ficado receoso e não quisera de se aproximar do Senhor, preferindo ficar de longe. Quando ficamos longe do Senhor, não tarda o momento em que viremos a negá-lo (Mc.14:54, 66-72).

– O povo de Israel escolhera ficar no pátio, isto é, ao pé do monte, não quis subir ao monte e quando ficamos neste estágio superficial da vida espiritual, não tarda o instante em que negamos tudo quanto nos comprometemos a fazer com o Senhor. Foi esta a situação de Pedro, que se manteve no átrio do templo e acabou por negar o seu Senhor. Somente quando chorou amargamente e deixou que o Senhor nele entrasse é que realmente se converteu e se tornou o grande apóstolo, que abriu a porta do Evangelho tanto a judeus (no dia de Pentecostes), quanto a gentios (na casa de Cornélio).

– O povo não se aproximara de Deus por causa do pecado e, em virtude disto, para que pudesse haver perdão dos pecados, necessário se fez derramar sangue, sangue de animais que tão somente podiam cobrir os pecados (Sl.32:1). Moisés, então, pegou daquele sangue e, metade dele, derramou sobre o altar, naturalmente o queimando, como prova de que se fazia necessário sacrifício para cobrir o pecado, sem o que, nem o limitado acesso a Deus seria possível.

– A outra metade, Moisés espargiu sobre o povo, dizendo: “Eis o sangue do concerto que o Senhor tem feito convosco sobre todas estas palavras” (Ex.24:8).

– Discute-se se o sangue foi aspergido em todo o povo ou apenas nos anciãos, que representavam o povo. O Targum de Onkelos, um dos principais comentários dos doutores da lei, entende que o sangue foi aspergido no altar em nome dos israelitas, enquanto que Ibn Ezra entende que a aspersão se deu sobre os anciãos, que representavam o povo. O fato é que houve esta aspersão, aspersão esta que o escritos aos hebreus nos explica ser a consagração da aliança firmada no monte Sinai (Hb.9:18), o que denominamos de promulgação da lei.

– Promulgação “…é o instrumento que declara a existência da lei e ordena a sua execução…” (SENADO FEDERAL. Promulgação.In: Glossário. Disponível em: http://www12.senado.gov.br/noticias/glossario- legislativo/promulgacao Acesso em 14 jan. 2014). Através deste ato de aspersão do sangue sobre o povo e de derramamento do sangue no altar, a lei entrava em vigor, passava a valer para o povo de Israel. A aliança que havia sido acordada entre Deus e Israel passava, então, a ter validade, a entrar em execução por ambas as partes.

– Como bem nota o comentarista judeu Rabi Chizkuni, “…é um costume antigo que, quando duas partes fazem uma aliança, elas dividem um animal em partes e passam entre os pedaços — como encontramos na aliança de Abraão com Deus (Gn.15:17)…” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.174). Daí ter sido o sangue dividido em duas metades, como a selar este novo compromisso entre Deus e Israel, um compromisso precário e transitório, que, ante a incapacidade do povo de Israel em crer plenamente em Deus, estaria como servindo interinamente de substituto daquele concerto que havia sido feito entre Deus e Abraão.

– Os animais morreram para que houvesse derramamento de sangue e, sobre este sangue de animais, se construiu a aliança entre Deus e Israel, uma aliança que não permitia o livre acesso a Deus, mas que, pelo menos, garantia ao povo a remissão, o perdão dos seus pecados, ainda que por cobertura do pecado, enquanto eles não pudessem subir ao cume do monte, enquanto eles não pudessem se chegar a Deus.

– Apesar da dureza de seus corações, que levara ao selo de uma aliança inferior à promessa feita a Abraão, Israel poderia se chegar à presença de Deus, ainda que de longe, mediante o derramamento de sangue de animais que cobririam o pecado e lhes levaria a esperança em uma redenção, quando, então, todos os obstáculos seriam removidos, quando, então, um outro medianeiro lhes pudesse levar à presença do Senhor, já que Moisés não o tinha feito, ante a incredulidade do povo.

– O escritor aos hebreus, ainda, diz-nos que, além de ter Moisés aspergido o sangue sobre o povo, também aspergiu o sangue sobre o livro que havia escrito com todos os mandamentos que o Senhor lhe dera no cume do Sinai, mostrando-nos, portanto, que o “antigo testamento”, a “antiga aliança” também havia sido edificada sobre o sangue, ainda que sangue de animais.

– Na própria promulgação da lei, portanto, vemos a sua insuficiência e a circunstância de que ela apontava para um outro concerto, para um outra aliança, que seria superior e que permitiria não medidas paliativas, mas a própria retirada do pecado do mundo e o pleno acesso que se teria a Deus, pelo sangue de Jesus Cristo, que, ao contrário do sangue dos animais, que somente santificava quanto à purificação da carne (Hb.9:13), pôde efetuar uma eterna redenção, purificando as nossas consciências das obras mortas para servirmos ao Deus vivo (Hb.9:11,14).

– Após este ato de promulgação da lei, Moisés, Arão, Nadabe, Abiú e setenta anciãos de Israel subiram o monte, como havia sido determinado pelo Senhor. Deus queria dar mais uma demonstração de que, apesar de o povo ter querido ficar longe do Senhor, o Senhor estava presente no meio do Seu povo.

– A lei era resultado do distanciamento e da incredulidade do povo, mas era um remédio, uma medida paliativa de que Deus Se havia utilizado para manter ainda a “porta aberta” para o povo. A lei não era a aliança preconizada pelo Senhor a Israel, mas era um meio, um aio pelo qual se poderia levar o povo à aliança pretendida, a Cristo (Gl.3:24).

– Assim, Deus queria mostrar a Israel que Ele estava presente, que não abandonaria o Seu povo e que, através da lei, poderiam eles chegar a ter um relacionamento com o Senhor. Por isso, apesar de ser um “degrau abaixo” da promessa de Abraão, a lei foi uma evolução no processo de redenção da humanidade, mais uma etapa da revelação progressiva de Deus e da execução do Seu plano de resgate do ser humano.

– Na relação daqueles que subiram ao monte, notamos que não foram para lá nem Eleazar nem Itamar, os dois filhos de Arão que, afinal de contas, acabaram exercendo efetivamente o sacerdócio, tendo, inclusive, Eleazar se tornado o segundo sumo sacerdote (Lv.10:6; Nm.20:25,26). Pelo contrário, lá subiram Nadabe e Abiú, que acabaram sendo mortos por terem introduzido fogo estranho no lugar santo (Lv.10:1,2); lá subiram Moisés e Arão, que não entraram na Terra Prometida por causa da desobediência em Meribá (Nm.20:12,13); lá subiram os setenta anciãos, os quais todos morreram no deserto sem entrar na Terra Prometida (Nm.14:21-23) De todos os que subiram ao monte, nenhum deles entrou na Terra Prometida. Por quê? Porque a lei não justifica nem salva pessoa alguma (Gl.3:10,11). Lembremos disto, amados irmãos, quando alguém quiser que nós voltemos a cumprir a lei!

– Chegando ao cume do monte, somente Moisés pôde se chegar ao Senhor, tendo os demais ficado de longe (Nm.24:1,2). Ao chegarem ali, todos se inclinaram, tendo visto o Deus de Israel e, debaixo dos Seus pés, havia como uma obra de pedra de safira, como o parecer do céu na sua claridade (Ex.24:10).
– O máximo que estes israelitas conseguiram ver foi o que havia debaixo dos pés do Senhor. Estavam debaixo dos pés do Senhor, a revelar a inferioridade da aliança da lei, que só permitia que se viesse o que estava debaixo dos pés do Senhor.

– Quão diferente foi a experiência tida pelo apóstolo João que, arrebatado em espírito, viu um trono que estava posto no céu e um assentado sobre o trono, que era semelhante à pedra jaspe e sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono, e parecia semelhante à esmeralda (Ap.4:3). João, lavado e remido no sangue de Cristo, teve acesso não ao que havia debaixo dos pés do Senhor, mas ao próprio trono de Deus, podendo, inclusive ver quem lá estava sentado e que um arco celeste estava ao redor do trono. É este o lugar destinado a todos quantos creem em Cristo Jesus, pois o Senhor Jesus nos prometeu que quem vencer se assentará no Seu trono, assim como Ele venceu e Se assentou no trono de Seu Pai (Ap.3:21). Que diferença entre a lei e a graça! Aleluia!

– Após terem tido esta visão, todos ali comeram e beberam, numa verdadeira demonstração de comunhão entre si e com Deus. A refeição para os israelitas tem um significado sagrado. “…A mesa onde comemos é como um altar para Deus, e a comida que consumimos pode ser considerada um sacrifício. Mais do que comer pelos mesmos motivos que os animais, alimentamos o receptáculo da alma. Por isso, muito mais do que um restaurante, a sala de jantar é como um Templo em miniatura, onde os judeus louvam a Deus não só com as bênçãos apropriadas mas, também, consumindo alimentos e bebidas que nutrem corpo e alma…” (BLECH, Benjamin.O mais completo guia sobre judaísmo, p.276).

– A comida e a bebida no cume do monte Sinai simbolizam a comunhão que havia se estabelecido entre Deus e Israel. Não uma comunhão plena, visto que ali estavam apenas os anciãos e os “chefes” do sacerdócio, por se estar na dispensação da lei, mas, de qualquer maneira, uma comunhão, a participação no sagrado, no que é dedicado a Deus.

– A proposta de Deus era de que houvesse uma perfeita comunhão com todo o povo de Israel. Como diz o apóstolo Paulo, eles, desde que haviam saído do Egito, foram convidados a participar desta comunhão, simbolizada pelo pão que descia do céu, o maná, e as águas que vieram da rocha ferida em Horebe. Pão e água constituíam o “manjar espiritual”, a que tinham direito todos os que haviam sido “batizados em Moisés na nuvem e no mar” (I Co.10:1-4).

– Todavia, somente pode haver uma perfeita, genuína, autêntica e verdadeira comunhão quando as pessoas agradam a Deus, o que somente é possível quando creem em Deus, pois, sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6), confiança esta em Deus que leva à obediência. Israel, no entanto, desagradou a Deus, não creu, na jornada da saída do Egito até o monte Sinai e, por isso mesmo, não puderam participar desta comunhão plena.

– Nós, agora, que pertencemos à Igreja, temos este privilégio, de nos cercarmos da mesa do Senhor, podendo participar da ceia do Senhor, participando tanto do pão quanto do vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (I Co.10:16-18). Podemos, agora, como sacerdotes que somos (Ap.1:6), participar do altar do Senhor, tendo livre acesso a Ele.

– Entretanto, quem participar da mesa do Senhor não pode, também, participar da mesa dos demônios (I Co.10:21), pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação (I Co.11:29). Aqueles homens que participaram daquela refeição sagrada, símbolo da comunhão com Deus, por terem quebrado a aliança, morreram sem entrar na Terra Prometida: “…se não escaparam aqueles que rejeitaram o que na terra os advertia, muito menos nós, se nos desviarmos daquele que é dos céus” (Hb.12:25). Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Após a refeição sagrada, todos desceram do monte, tendo, então, o Senhor mandado que Moisés tornasse a subir, a fim de que lhe fossem dados os dez mandamentos em tábuas de pedra feitas pela mão de Deus, para que o núcleo essencial da lei não ficasse apenas escrito por mão de homens, mas pelo próprio Senhor. Assim como, em um reino, as leis só têm valor quando assinadas pelo rei, também a lei somente estaria solenemente instituída quando viesse assinada pelo próprio rei, o Senhor Deus de Israel.

– Moisés, então, subiu ao monte, como o Senhor mandara, levando consigo a Josué, que ocupava, então, o papel de seu servidor, Josué que ficou no monte, enquanto Moisés subiu até o cume do monte. OBS: Pode muito bem ser que Josué fosse algum daqueles mancebos que haviam sacrificado ao pé do monte, representando a tribo de Efraim ou de José.

– Antes de subir ao monte, Moisés deixou Arão e Hur encarregados de substituí-lo enquanto estivesse ausente, pois Moisés já pressentia que sua estada no monte seria longa, já que o Senhor lhe dissera que daria todos os mandamentos que deveria ele ensinar ao povo, dentro da sistemática estabelecida na dispensação da lei.

– Moisés subiu ao monte e, por seis dias, aguardou o chamado de Deus do meio da nuvem. A nuvem ficava de constante sobre o monte, como a mostrar a todo o povo que a glória do Senhor habitava sobre o monte Sinai, que, assim, era como que o “lugar santíssimo” do “tabernáculo natural do Sinai”.

– Deus mantinha aparente a Sua glória para todo o povo, apesar de eles quererem ficar distantes. Deus continuava a sinalizar para o povo que Seu desejo era estar sempre no meio do Seu povo. Aos olhos do povo, a glória de Deus aparecia como um fogo consumidor, enquanto que, para Moisés, havia tão somente uma nuvem.

– A lei, para os que a adotam, é um “fogo consumidor”, pois não há como alcançarmos a salvação por meio dela. Este fogo consumidor, ensina-nos o escritor aos hebreus (Hb.12:25-29), faz-nos lembrar que a lei era transitória, que algo melhor estava por vir, mas, uma vez chegado este algo melhor, que é permanente, não temos para onde fugir. Se Deus é um fogo consumidor na época da lei, que era transitória, que dirá se não nos fizermos obedientes à aliança eterna estabelecida pelo Senhor Jesus. Que Deus nos ajude, amados irmãos e tenha misericórdia de nós!

– No sétimo dia, Moisés foi chamado por Deus para entrar na nuvem, para desfrutar de uma íntima comunhão com o Senhor e dali, da nuvem, o Senhor lhe deu as instruções para a construção do tabernáculo, a “habitação” de Deus no meio do povo. Deus continuava no Seu propósito de Se fazer presente no meio do povo, ainda que de forma restrita diante da lei que havia sido instituída.

– Nós, se perseverarmos fiéis ao Senhor, também, um dia, entraremos numa nuvem (I Ts.4:17), mas não para lá recebermos instruções a respeito de algo existente no céu que deveria ser replicado na terra, mas, sim, para ingressarmos no santuário celestial, para sempre habitarmos com o Senhor. Estamos preparados para entrar na nuvem? Pensemos nisto!

 Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_Ap1_caramuru.pdf

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *