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Jovens – Lição 10 – Interpretando erroneamente as Escrituras

Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Alexandre Coelho, comentarista do trimestre.

INTRODUÇÃO

A Palavra de Deus vem sendo lida, ensinada e pregada em pratica­mente todo o mundo. Ela tem o poder de mudar a vida das pessoas, e nos revela o que Deus deseja que saibamos para sermos salvos e igualmente nos tornarmos cidadãos dos céus. Entretanto, essa mesma Palavra de Deus pode ser mal interpretada e mal aplicada, e Satanás nos mostra isso quando tenta pela segunda vez ao Senhor Jesus.

Em nossos dias, tem proliferado, principalmente com o advento das tecnologias que conectam pessoas, diversos palestrantes e pregadores que, por falta de sabedoria ou por má intenção, diluem as verdades das Sagradas Escrituras, tornando-as adaptáveis às escolhas dos ouvintes e criando um grupo de pessoas que busca adaptar a Palavra de Deus às suas necessidades e desejos.

Jesus foi tentado a utilizar a Palavra de Deus de forma equivo­cada, para atender a um desafio que colocava em xeque a sua comunhão com Deus.

Entretanto, o Senhor Jesus venceu a tentação de aplicar mal a Palavra de Deus para a vida e agir de forma direcionada nessa aplicação, pois Ele conhecia a Palavra, e não agiu de forma independente, sem con­sultar a Deus, nem fazendo seus próprios planos e saindo do projeto para o qual Deus o havia chamado.

I–MUDANDO O CENÁRIO DA TENTAÇÃO

Na Cidade Santa

Mateus registra que, após a primeira tentação, no deserto, Jesus é transportado à Cidade Santa, e levado ao pináculo do Templo. Portanto, entendemos que a segunda tentação não se deu no deserto, conforme a fonte primária, Mateus.

Respeitamos opiniões que caminhem em sentido oposto, de que a segunda tentação ocorreu no deserto, mas reforçamos que Mateus trata dela como ocorrendo na Cidade Santa, e não no deserto.

É preciso dizer também que o Senhor Jesus é a fonte direta dessa história, pois nenhum outro ser humano presenciou a tentação, de forma que o evangelista Mateus, discípulo do Senhor, se valeu do que o próprio Senhor Jesus disse.

A segunda tentação, portanto, de acordo com a fonte primária, se deu em Jerusalém. Parte do ministério de Jesus ocorreu na Cidade Santa, onde foi apresentado no Templo (Lc 2.22) e para onde ia todos os anos celebrar a Páscoa com seus pais (Lc 2.40,41). A Cidade Santa, então, não era um lugar desconhecido para o Senhor, nem para o Inimigo.

O pináculo do Templo era a parte mais alta do santuário construído por Herodes. A arquitetura e a obra feitas pelo idumeu causavam admi­ração nas pessoas que iam a Jerusalém, e até os discípulos de Jesus, em uma das idas ao Templo, foram mostrar a estrutura da construção para o Senhor (Mt 24.1).

Era um lugar suntuoso e atraía a atenção das pessoas, tanto para cultuarem quanto para fazerem negócios, pois até vendilhões usavam o espaço do santuário.

Em todas as culturas, os santuários costumam atrair as atenções. Nem sempre na antiguidade tinham os mesmos formatos e dimensões, mas obje­tivavam a mesma coisa: prestar, naquele lugar, a reverência a uma deidade.

Devemos observar que, para os hebreus, o Templo deveria ser consi­derado um lugar de oração, e o próprio Jesus falou isso:

“E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.

E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões” (Mt 21.12,13). Mas Deus não reservou a sua presença somente para o Templo em Jerusalém ou a Israel.

Como vemos no Antigo Testamento, Deus operou em outras nações como Babilônia, com Daniel e seus amigos.

O Templo em Jerusalém era, portanto, um lugar tão estratégico para a fé em Israel que qualquer pessoa que se destacasse no Templo ou no seu entorno, ensinando, contribuindo ou operando algum milagre, seria lembrada por toda a população.

Basta dizer que Pedro e João estavam indo orar no Templo quando se depararam com um paralítico pedindo esmolas, e, pelo poder de Deus, os apóstolos foram usados para trazer a cura daquele homem. O resultado dessa cura foi notório em toda a região.

Observemos que Satanás se utilizou do santuário, ainda que a parte exterior, como cenário da tentação. Ele não respeita locais de culto e pode se utilizar deles para gerar confusão entre os crentes.

Já foi dito que a tentação, mais do que uma prova da nossa fé, é uma prova da nossa confiança em Deus. A segunda tentativa do Inimigo contra Jesus traz novamente a fala de Satanás, questionando o que Deus havia afirmado. Já bastava para Deus falar no batismo de Jesus que Ele era o seu Filho amado. Mas, pela segunda vez, o Inimigo condiciona a natureza de Jesus a uma confirmação que Satanás pedirá.

Isso nos mostra que, de forma contínua, a tentação vai tratar não apenas da possibilidade de ser­mos conduzidos ao pecado contra Deus, mas também seremos tentados a duvidar do que Deus disse acerca de nós. Jesus é o Filho de Deus, e o próprio Deus já o havia dito por ocasião do batismo de Jesus. Entretanto, Satanás tenta “condicionar” o reconhecimento da natureza de Jesus a uma ação inusitada: jogar-se do pináculo do Templo.

“Lança-te daqui abaixo”

Satanás não coloca Jesus no pináculo do Templo e empurra o Senhor de lá. Ele o leva para o alto e incita Jesus a se jogar. O Inimigo certamente não tinha autoridade para atentar contra a vida de Jesus, mas incitou o Senhor a atentar contra a própria vida. De forma geral, a tentação nos é apresentada como algo que dependerá de nós aceitar ou não.

Satanás tem limites em suas atuações. Ele poderia dirigir-se a Jesus e tentar fazer com que o Senhor o ouça e faça o que está sugerindo, mas não tem a capacidade de impor a Jesus uma obediência.

Da mesma forma, ele pode se aproximar de nós, como fez com Jesus, e tentar nos convencer a duvidar de Deus, de suas promessas e de seu caráter. Ele surge com a tentação, e depois que a pessoa cede e peca, Satanás se torna o acusador. E o que isso poderia significar para Jesus?

É possível que, ao aceitar essa tentação, um poderoso milagre viesse a acontecer diante dos olhares dos frequentadores do Templo.

Jesus seria reconhecido como o Messias, sem precisar passar pela prisão, humilhações, acusações, tortura, solidão e crucificação, mas esse não era o plano de Deus para Jesus. A cruz era o caminho necessário a ser trilhado por Ele para que pudéssemos ser salvos.

O milagre que supostamente surgiria, caso Jesus tivesse colocado Deus à prova, não seria inferior a um dos maiores milagres realizados pelos pro­fetas do Antigo Testamento. Fazer descer fogo do céu, ressuscitar mortos, curar um leproso ou abrir o mar foram grandes realizações, mas nenhuma delas foi feita pelo Messias.

Bastaria a Jesus dar alguns passos à frente, e a lei da gravidade faria o seu trabalho. De uma forma sobrenatural, certamente um livramento ocorreria, e Jesus entraria para a história como o mais importante hebreu a quem o próprio Deus cuidou de proteger, afinal Jesus era o Filho de Deus, e o Pai deveria dar cobertura ao seu Filho.

Pense nas inúmeras possibilidades advindas desse cenário. Satanás tentou argumentar com Jesus que Ele tinha um cheque em branco, assinado por Deus, para fazer o que quisesse.

Se cedesse à tentação, seria como um filho que se aproveita do status do seu pai para dirigir embriagado em alta velocidade, ou fazer dívidas crendo que o pai estaria obrigado a saldá-las. Mas um filho responsável e consciente de sua filiação não tomaria uma atitude dessas.

II – DISTORCENDO A PALAVRA DE DEUS

Anjos Vão Guardar Você

A proposição de Satanás, nessa tentação, se fixou na possibilidade de Jesus se lançar do pináculo do Templo e ser resgatado de forma sobrenatural pelos anjos.

Esses são seres ministradores que trabalham em prol daqueles que hão de herdar a salvação (Hb 1.14), mas eles atuam por orientação divina, e não de acordo com a conveniência humana.

O Inimigo se baseou no Salmo 91 para em seguida tentar convencer Jesus a se basear na pro­messa de Deus para tentar ao Senhor.

E a promessa de Salmos 91.11 se refere à atuação dos anjos em prol daqueles que andam com Deus. Os seres celestiais não são negligentes em relação às orientações de Deus, e guardam os santos homens e mulheres que preservam consigo o temor ao Eterno.

Ocorre que, apesar de a Palavra apontar que Deus provê proteção angelical aos seus servos, contar com essa mesma proteção divina quando cientes de que o caminho que estamos trilhando não nos foi orientado por Deus é outra história.

No Salmo 91, não há um salvo conduto para que uma pessoa que teme a Deus desafie o Eterno nem que teste os limites de sua paciência e fidelidade.

Vemos nessa tentação que Satanás também sabe citar a Palavra de Deus quando lhe convém, mas ele sempre o fará com propósitos malignos. Suas hostes criam doutrinas de demônios, induzindo incautos a lerem as Escrituras pela metade, ou a citarem partes da Palavra de Deus desprezando o contexto em que elas estão inseridas, desrespeitando regras de interpre­tação já definidas e soprando ventos de doutrinas para o povo de Deus.

Satanás tem se aproveitado desses fatores e atraído muitas pessoas para igrejas que se propõem a fazer do culto um show, com atrações que façam lotar o santuário, onde o homem, e não Deus, é o centro das atenções. Liturgias são preparadas para que o homem seja destacado, tornando-o uma celebridade digna de ser seguida.

Há bastante tempo, certo pregador argentino comentou que compareceu a um evento no qual um grande pregador compareceria para ministrar.

Antes da ministração, as luzes se apagaram, e o apresentador ao microfone disse: “E agora, com vocês, o grande servo de Deus, pastor …”. Esse pregador argentino, de forma radical, terminou seu relato dizendo que não existe grande servo de Deus, pois se ele é servo, não é grande, e se é grande, não é servo.

Particularmente, penso que não há nada errado em se honrar uma pessoa que se destacou, mas é errado fazer dessa pessoa o centro das atenções onde Deus está. Ou Deus tem a primazia em nossas vidas ou não tem. E podemos ser pessoas que dão primazia a Deus quando não somente damos crédito à sua Palavra, mas também quando nos guardamos de tentá-lo.

Os Milagres São Obrigatórios?

Um dos equívocos mais difundidos em nossos dias é que se Deus não prover milagres diários em nossas vidas, então nossa fé é fraca ou a nossa comunhão com Ele não tem tanta importância assim. Mas a nossa comu­nhão com Deus não pode ser medida pelas respostas miraculosas que Ele pode nos dar.

Deus opera maravilhas e faz milagres de acordo com a sua vontade, mas nunca nos apontou, na sua Palavra, qualquer incentivo a que venhamos a agir de forma a nos aproveitar da existência de milagres que Ele faz para definir que a sua presença está conosco.

Há pessoas que estão continuamente em busca de milagres, como se essa fosse a ênfase da vida cristã, mas devemos nos lembrar de que os sinais seguem os que creem, e não os que creem seguem os sinais.

Posso mesmo Fazer o que eu Quiser?

A segunda tentação nos mostra que não podemos fazer a nossa própria vontade, e sim a vontade de Deus. Se oramos “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10, NVT), devemos entender que não podemos fazer coisas que venham a colocar em prova a Deus. Não podemos fazer tudo “naquele que me fortalece”, como se houvesse uma permissão para convencer Deus a fazer o que queremos.

Jesus nos mostra que em todo o tempo Ele seguiu as orientações de Deus. Ele passava muito tempo em oração, e não agia como se Deus estivesse distan­te:

“Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.38).

Se o Filho de Deus agiu em obediência às orientações do Pai, devemos fazer o mesmo. Agir sem o consentimento do Eterno é se colocar debaixo da influência do Maligno. A tentação trazida por Satanás precisava de uma resposta, e Jesus estava preparado para ela.

III – O POVO NO DESERTO

Deus Está conosco mesmo?

Ao responder a Satanás, Jesus remonta, pela segunda vez, à história do povo de Israel no deserto. O Senhor destaca o exemplo dos hebreus após a saída do Egito. Eles haviam iniciado suas jornadas, e, ao chegarem a Refidim, não encontraram água para beber.

Nesse cenário, se voltaram contra o Deus que os havia libertado da escravidão egípcia. Como crian­ças mimadas, se colocaram contra Moisés, e Deus interveio orientando o legislador a ferir a rocha para que dela saísse água, e assim houve provisão para o seu povo.

O problema apontado nesse texto não é a sede e a falta de água, e sim colocar em questão a presença de Deus quando se está pas­sando por um momento de privação temporária. Eles provocaram a Deus com essas palavras: “Está o Senhor no meio de nós, ou não?” (Êx 17.7).

Pense bem no que aconteceu no deserto. Eles não apenas duvidaram da presença de Deus entre eles, mas expuseram esses pensamentos recla­mando de Moisés. Ainda não tinham a maturidade necessária para se relacionar com Deus ou entrar na terra que lhes estava reservada, e a sua formação seria no deserto.

Não Tentarás ao Senhor

No deserto, Deus iniciou o processo de amadurecimento do seu povo. Eles precisavam ser transformados para entrar na terra que Deus lhes daria, e haviam rejeitado entrar na Terra Prometida, dando ouvidos aos 12 espias que infamaram a terra, o que lhes custou uma caminhada de quatro décadas em uma terra inóspita.

Ao escrever o Deuteronômio, para a nova geração de hebreus, Moisés deixa claro ao povo: “Não ten­tareis o Senhor, vosso Deus, como o tentastes em Massá” (Dt 6.16).

Esse pequeno verso mostra um cenário triste por parte do povo de Deus. Pela falta de água, os hebreus zombaram da presença do Senhor entre eles.

Essa zombaria foi vista por Deus como uma tentação contra Ele. Deus estava no meio do seu povo, e proveu a água de que precisavam.

Tentar a Deus é desafiá-lo a agir, como se Ele não estivesse agindo em nosso favor. Na visão dos hebreus, o problema era maior do que o Deus que os tirou da escravidão.

Pôr Deus à Prova É uma Tentação

Quando colocamos Deus à prova, de forma explícita dizemos que não cremos no que Ele disse, e que Ele vai falhar naquilo que prometeu para conosco.

Mesmo quando Deus nos “ordena” fazer prova dEle, como no caso daqueles que são dizimistas (Ml 3.10), há uma condicional “se”, ou seja, podemos fazer prova do Senhor se Ele não “abrir as janelas do céus e não derramar uma bênção tal”.

Essa é a condição. Se formos fiéis a Deus, e Ele não nos abençoar, então, sim, podemos, nesse caso, fazer prova dEle. É conveniente lembrar que precisamos ter também uma vida financeira equilibrada, para não envergonhar o nome do Senhor fazendo dívidas sem necessidade e deixando de pagar nossos compromissos.

Deus não mente e não volta atrás em sua palavra, e, por Ele ser fiel, não precisamos duvidar de seu poder nem de sua presença conosco.

Ele deseja de nós confiança no seu cuidado e na sua provisão. Então fica o desafio: ou nos tornamos incrédulos e murmuradores, ou passamos a crer que não precisamos colocar Deus a prova, pois Ele sempre estará conosco.

Cuidado com a Interpretação das Escrituras

Satanás provavelmente preferia ver Jesus no pináculo do Templo, atraindo a atenção das pessoas e sendo um espetáculo, e, para tal, distorceu a Palavra de Deus e a sua aplicação.

Jesus preferiu a cruz, para atrair a todos nós, nos salvar, perdoar e nos conduzir a Deus para passar a eterni­dade com

Ele, e, para isso, resistiu à investida maligna porque conhecia a Palavra de Deus e a utilizou de forma correta. Interpretar de forma errada as Escrituras pode ter implicações sérias para a vida dos cristãos.

Satanás tentou Jesus a agir por conta própria, interpretando a Palavra sem respeitar o seu devido contexto, conduzindo, possivelmente, a uma ação não orientada por Deus.

Sem a orientação de Deus, Jesus poderia ter colocado a sua vida em risco, e atrair pessoas a um espetáculo, e não para a mensagem do evangelho. Que isso nos sirva de lição: respeitemos as regras de interpretação das Escrituras, e não ajamos de forma imprudente, imaginando que Deus irá chancelar todas as nossas ações.

CONCLUSÃO

Satanás não deixa de produzir falsas doutrinas induzindo pessoas a interpretar de forma errada a Palavra de Deus, e por meio desses desvios, induz essas mesmas pessoas a praticar coisas que Deus não ordenou que fizessem.

Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: COELHO, Alexandre. O Perigo das Tentações: As Orientações da Palavra de Deus de Como Resistir e Ter uma Vida Vitoriosa. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2022/05/31/licao-10-interpretando-erroneamente-as-escrituras/

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