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Lição 1 – O Sermão do Monte: O caráter do Reino de Deus

ESBOÇO Nº 1
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Após termos estudado a Bíblia Sagrada, neste início do novo currículo da Escola Bíblica Dominical, que é o texto base de nossos estudos, teremos um trimestre doutrinário, onde estaremos a nos aprofundar no “sermão do monte”, que é, por muitos, conhecido como “a lei do reino de Deus”, o conjunto de ensinamentos que Jesus deu em um monte, registrado pelo evangelista Mateus, e que contém a chamada “doutrina cristã”.

O “sermão do monte” contém uma síntese dos ensinos de Jesus, revelando como deve ser o caráter e a conduta dos Seus discípulos, tanto que faz um nítido aprofundamento da “lei de Moisés”, a ponto de muitos mestres judaicos, até os dias de hoje, considerarem que, neste sermão, Jesus Se apresenta realmente como Deus, suplantando a Torá, o que, para eles, que não reconhecem Cristo como o Messias, é o motivo suficiente para rejeitá-l’O.

De qualquer modo, isto nos mostra que até os judeus admitem que, no “sermão do monte”, encontramos a verdadeira “lei do reino de Deus”, as bases de toda a doutrina de Jesus Cristo, o que faz com que tenhamos, neste sermão, as bases da nossa própria vida cristã, pois ali se mostra, claramente, como deve viver alguém que se diz discípulo do Senhor Jesus.

Por isso mesmo, o “sermão do monte” é chamado de “sermão doutrinário”, porque contém a síntese da doutrina cristã, mas também de “sermão ético”, porque é nele, como em nenhum outro lugar, que o Senhor Jesus diz como deve ser o comportamento dos Seus discípulos, da Sua Igreja.

Não é por outro motivo, aliás, que o título do nosso trimestre é “os valores do reino de Deus”, porque, ao estudarmos o “sermão do monte”, estaremos analisando como deve ser o caráter de cada um de nós, quais as virtudes que devemos ter, qual o comportamento, a conduta que devemos ter diante dos homens, como testemunhas de Cristo num mundo perdido, sem Deus e sem salvação.

O subtítulo do trimestre, por fim, mostra que, como se trata de Palavra de Deus, de ensino do próprio Jesus para os Seus discípulos, o “sermão do monte” é um conjunto de ensinamentos que

é de grande importância para todos quantos queiram servir a Jesus e com Ele reinarem para todo o sempre na eternidade.

O sermão foi proferido para os discípulos de Cristo e, portanto, é relevantíssimo para a Igreja, que é o povo que, neste mundo, crê no Senhor Jesus.

Após uma lição introdutória, em que se analisa o sermão do monte como um todo, mas sem deixar de já analisar o seu introito, o chamado “sermão das bem-aventuranças” (Mt.5:1-12),

temos uma análise seguida do sermão, de modo que não podemos propriamente falar em “blocos do trimestre”, como de costume, a menos que adotemos como “blocos” as próprias divisões do sermão:

uma primeira parte, que ocupa o capítulo 5 de Mateus, onde há uma comparação entre a “lei do reino de Deus” e a “lei de Moisés”, que abrange as lições 2 a 8;

uma segunda parte, onde se fala da vida relacional do cristão, seja com Deus (oração e jejum), com o próximo (esmola e perdão) e com os bens materiais, que ocupa o capítulo 6 de Mateus, abrangendo as lições 9 e 10 e

uma terceira parte, onde encontramos os ensinamentos a respeito da vigilância e da prudência que devem nortear a peregrinação terrena do cristão, que ocupa o capítulo 4, que abrange as lições 11 e 12, com uma lição conclusiva ao término do trimestre.

A capa da revista deste trimestre apresenta-nos as mãos de duas pessoas que seguram um pão, que parece ter sido entregue a eles por alguém.

Isto faz-nos lembrar que o sermão do monte é um ensino dado por Jesus Cristo que tem a própria síntese de toda a doutrina cristã, a base do alimento espiritual que recebemos da parte de Deus que, como sabemos, é a Sua Palavra (Mt.4:4; Lc.4:4).

O sermão do monte, portanto, é a essência, a síntese dos ensinos de Jesus, da Palavra que Ele nos fala e, por meio da qual, somos limpos (Jo.15:3) e por meio da qual seremos santificados (Jo.17:17), tendo, então, purificados e lavados, termos condição de vermos o Senhor (Hb.12:14; I Jo.3:1-3) e ingressarmos nas mansões celestiais (Ap.22:14).

O sermão do monte, por outro lado, traz-nos o que é ser cristão, ser um “pequeno Cristo”, “parecido com Cristo”, na medida em que Jesus revela, nele, quais as características e o comportamento que deve ter o Seu discípulos.

Assim, de certa maneira, Jesus Se mostra quem Ele é, no sermão, para que nós sigamos o Seu exemplo e, deste modo, o sermão do monte revela quem é o “pão da vida” (Jo.6:35) e o que caracteriza todos quantos têm comunhão com este pão, todos quantos comem a Sua carne e bebem o Seu sangue (Jop.6:54-56), que não é simplesmente participar da ceia do Senhor, mas ter uma vida neste mundo que permita tornar uma realidade e uma verdade a nossa participação na ceia do Senhor.

O sermão do monte mostra o que é ser cristão e como reconhecê-lo no meio da multidão. Jesus nos ensina o que é servir a Deus e, portanto, ficar parecido com o “pão da vida”, tornar-se uma partícula do corpo de Cristo.

Por fim, a ilustração mostra-nos que este pão estão nas mãos e mãos, na Bíblia, simbolizam as obras, de modo que o sermão do monte nos ensina claramente que quem recebe Jesus terá uma conduta, um comportamento, as suas ações refletiram este pão da vida recebido, pois só quem ouve e pratica o que Jesus ensina poderá ter êxito na vida espiritual, como o Senhor deixa bem claro ao término do próprio sermão.

O comentarista deste trimestre é o pastor Osiel Gomes da Silva, presidente das Assembleias de Deus em Tirirical, São Luís/MA, que já há alguns anos vem comentando as Lições Bíblicas.

Que, depois de termos estudado o valor da Bíblia Sagrada, venhamos, no estudo do “sermão do monte”, pautarmos a nossa conduta de modo que sejamos, efetivamente, o sal da terra e a luz do mundo que Jesus requer que cada um de Seus discípulos seja.

B) LIÇÃO Nº 1 – O SERMÃO DO MONTE: O CARÁTER DO REINO DE DEUS

No sermão do monte, Jesus mostra qual deve ser a conduta dos Seus discípulos.

INTRODUÇÃO

– O “sermão do monte” é a síntese dos ensinamentos de Jesus para os Seus discípulos.

– No sermão do monte, Jesus mostra qual deve ser a conduta dos Seus discípulos.

I – O SERMÃO DO MONTE

– Dando continuidade ao novo currículo da Escola Bíblica Dominical, depois de termos estudado a Bibliologia, ou seja, a doutrina da Bíblia Sagrada, que é o livro-texto de nossos estudos, agora passaremos ao estudo do chamado “sermão do monte” ou “sermão da montanha”, que é considerado a síntese da doutrina cristã, a essência do ensino de Jesus Cristo aos Seus discípulos.

– Segue-se, assim, em uma feliz iniciativa, neste novo currículo, um estudo das bases, dos fundamentos, dos alicerces de nossa fé. Depois de termos estudado as Escrituras e verificado o caráter divino da fonte de nosso aprendizado, analisaremos os aspectos básicos do ensino de Nosso Senhor e Salvador quando veio a este mundo nos salvar, aspectos estes que se encontram sintetizados de forma singular no chamado “sermão do monte” ou “sermão da montanha”.

– O “sermão do monte” ou “sermão da montanha” é o conjunto de ensinamentos de Jesus Cristo aos

Seus discípulos que o evangelista Mateus registrou em seu livro e que ocupa os capítulos 5 a 7 de seu evangelho. É assim denominado porque Jesus proferiu este discurso após ter subido a um monte (Mt.5:1), quando foi, então, cercado por Seus discípulos, tendo, então, se assentado, uma nítida posição de mestre, passando, então, a ensinar os que a ele haviam se chegado (Mt.5:1,2).

– Alguns questionam se teria havido, mesmo, este sermão, se não se teria aqui, por parte do evangelista, apenas a transcrição dos principais ensinamentos de Jesus, uma síntese, já que Mateus procura demonstrar aos judeus, que é o público alvo de seu evangelho, a messianidade de Jesus, mostrando-O, assim, como um “novo Moisés”, como o “profeta semelhante a Moisés” (cf. Dt.18:18,19), em mais uma demonstração de que Ele era o Cristo, o Messias.

– Assim, segundo tais pessoas, este “sermão” teria sido uma “ficção”, não tendo existido, mas uma forma pela qual Mateus teria sintetizado os vários ensinos dados por Jesus ao longo de Seu ministério terreno.

– Não podemos concordar com este ponto-de-vista. A Bíblia é a verdade (Jo.17:17), não é lugar para “ficções”, para “mitos”. Mateus registrou um sermão que realmente ocorreu, onde Jesus fez um resumo da Sua doutrina, sendo certo que não foi a única vez que deu tais ensinamentos ao longo de Seu ministério, até porque tinha vindo ao mundo precisamente para ensinar, pregar e provar Sua messianidade através de sinais, prodígios e maravilhas (Mt.4:23; Mc.1:21,22; Lc.4:43,44). Tanto é assim que Lucas registra os mesmos ensinamentos, mas em outro local, não numa montanha, mas, sim, numa planície (Lc.6:17-49).

– Não se deixa de reconhecer que Mateus, ao registrar este sermão, quis, efetivamente, trazer mais uma prova da messianidade de Jesus, quis mostrá-l’O como o “profeta como Moisés”, mas daí a desacreditar que tenha ocorrido o sermão é mera demonstração de incredulidade.

Aliás, não podemos nos esquecer que o livro de Deuteronômio nada mais é que o registro de discursos, sermões feitos por Moisés em que ele “repete a lei”, o que evidencia que Mateus jamais iria inventar “ficções”, mas apresentar fatos que provam que Jesus é o Cristo.

– Não se sabe em que monte Jesus proferiu este sermão registrado por Mateus. A tradição diz que ele se situa entre as cidades de Tabgha e Cafarnaum, na Galileia, onde Jesus deu início ao Seu ministério e a admiração trazida com a Sua doutrina dá a indicar, mesmo, que tal sermão se teria dado no início de Seu ministério.

– É dito que Jesus subiu ao monte. Veja que Moisés somente subiu ao monte porque Deus ordenou que ele o fizesse (Ex.19:3,20,24; 24:1,2; 34:1,2).

Jesus, porém, fê-lo de livre e espontânea vontade, precisamente porque é Deus. Interessante também notar que Deus desceu ao monte Sinai para falar com o povo (Ex.19:18,20), enquanto que Jesus sobe ao monte, isto porque, embora fosse Deus, havia Se feito homem, mas um homem sem pecado e que, como tal, não tinha impedimento, como os israelitas, de subir ao monte (Ex.19:12,13).

– Jesus subiu a um monte que passou a ser chamado de “monte das bem-aventuranças”, o monte que está além da felicidade, o monte das bênçãos, da comunhão com os céus, da liberdade trazida por Jesus (Jo.8:36) com o Senhor, enquanto que o monte Sinai, onde subiu Moisés para receber a lei, é o monte da servidão, da escravidão (Gl.4:24,25).

– Jesus subiu a um monte e lá Se assentou. A posição sentada era típica dos mestres judaicos naquele tempo. Aquele que proferia a pregação e o ensino nas sinagogas, o fazia sentado, na chamada “cadeira de Moisés”
(Mt.23:2,3).

– É emblemático que Jesus tenha subido a um monte, pois isto já nos traz uma comparação com Moisés. O libertador de Israel subiu ao monte para de lá receber a lei da parte de Deus (Ex.24:12), tendo repetido a lei numa planície onde falou ao povo (Dt.1:1).

– Jesus, tendo subido ao monte e lá sido cercado pelos Seus discípulos, já mostra que é superior a Moisés, pois é Ele, como verdadeiro Deus, que dá o ensinamento do monte para os discípulos, ao passo que Moisés foi ao monte para lá receber os mandamentos a fim de ensiná-los ao povo, povo que não podia subir ao monte até o comando divino (Ex.19:12,13), mas que depois não quis mais ter contato direto com o Senhor (Ex.20:19-21). Com Jesus, o acesso aos ensinos divinos é direto, tem-se acesso ao monte. Aleluia!

– Para receber o ensino de Jesus, os discípulos tiveram de Se aproximar d’Ele no monte. Isto, além de indicar que Jesus veio nos restaurar a comunhão com Deus, também nos demonstra que somente podemos aprender de Jesus quando estivermos com Ele, quando nos aproximarmos d’Ele.

– Não há como podermos ter uma conduta agradável a Deus, vivermos a lei do reino de Deus se não tivermos proximidade com Jesus, se não estivermos aos Seus pés (sim, porque Jesus estava sentado, no cume do monte e Seus discípulos aos pés d’Ele…).

– O sermão tem por objetivo mostrar a doutrina de Jesus, ou seja, Jesus quer ensinar os Seus discípulos, mostrar o que é ser Seu discípulo. Tanto assim é que, ao término do sermão, é dito que a multidão se admirou da doutrina e da autoridade de Jesus (Mt.7:28,29).

– O sermão do monte é normalmente dividido em quatro partes, que correspondem aos três capítulos que o registram no evangelho segundo Mateus.

A primeira é o chamado “sermão das bem-aventuranças”, uma introdução, onde Jesus mostra as qualidades que devem ter os Seus discípulos, qualidades estas que são “bem-aventuranças”, ou seja, algo maior que a felicidade.

Temos, logo de início, o ensino de que o discípulo de Cristo está “acima” dos padrões mundanos, dos parâmetros meramente criados pelo ser humano. Se é dito que o ser humano tem direito de buscar a felicidade, o servo de Jesus está num patamar superior, porque é “bem-aventurado” e, por isso mesmo, é sal da terra e luz do mundo. Esta primeira parte abrange Mt.5:1-16.

– A segunda parte do sermão é uma comparação que Jesus faz entre a Sua doutrina e a lei de Moisés, pondo-se numa situação que os próprios mestres judeus, até os dias de hoje, considera ser uma declaração de Jesus de superioridade em relação a Moisés e de Sua doutrina em relação a Torá, o que para os judeus é intolerável e inadmissível.

Jesus, na verdade, não altera nem revoga a lei, mas lhe dá o verdadeiro significado, a real profundidade. Abrange Mt.5:17-48.

– A terceira parte do sermão é o ensino sobre a vida relacional do discípulo de Jesus. O discípulo de Jesus tem de se relacionar com Deus, com o próximo e com os bens materiais e deve saber fazê-lo.

Assim, deve abandonar a religiosidade no seu relacionamento com Deus e o Senhor dá as lições sobre como deve orar e jejuar.

No seu relacionamento com o próximo, tem de proceder com amor, e o ensina com relação a esmola e ao perdão. Por fim, com relação aos bens materiais, devemos viver desprendido deles, tendo plena confiança em Deus. Esta parte do sermão abrange o capítulo 6 de Mateus.

– A quarta parte do sermão é dedicado a um alerta de Jesus a respeito da realidade da vida e a perspectiva da eternidade, ensinando-nos como devemos proceder aos julgamentos, reconhecermos a bondade divina e a realidade da existência de dois caminhos e da necessidade de sermos vigilantes para não sermos enganados por falsos profetas, pelo nosso próprio “eu” e de pormos em prática todos os ensinos do nosso Mestre para que alcancemos a salvação. É a parte do sermão que ocupa o capítulo 7 de Mateus.

– Em todo o sermão, portanto, o Senhor Jesus mostra que veio trazer ao mundo uma nova forma de relacionamento com Deus, com o próximo e com a criação, que veio trazer aos homens o reino de Deus, o domínio de Deus sobre os que crerem em Seu Filho, com a superação do pecado e a instauração da amizade entre Deus e o homem.

É a “lei do reino de Deus” que é explanada, que somente se tornou possível porque veio Aquele que conseguiu cumprir a lei de Moisés e satisfazer a justiça divina.

II – O SERMÃO DAS BEM-AVENTURANÇAS

– Jesus inicia o Seu sermão com a apresentação de nove bem-aventuranças, que são nove qualidades que devem ter os Seus discípulos. A primeira palavra que o Senhor profere no sermão é “Bem-aventurados”, em grego “makarios” (μακάριος), “…forma prolongada da poética μάκαρ (makar, com o mesmo significado); supremamente abençoado, por extensão afortunado, próspero, pessoa de sorte:- (mais) abençoado, feliz, bem-aventurado (…).

Palavra usada nas Bem-aventuranças sobre os que recebem a benevolência de Deus, independentemente de quais possam ser as suas circunstâncias (Mt.5:3-11)…” (Bíblia de Estudo Palavra-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 3107, p.2290).

– A “bem-aventurança” é algo que está além da felicidade. Conhecida é a disposição da Declaração de Direitos da Virgínia de 16 de junho de 1776, um dos estados americanos e que deu origem à Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, que diz que todos os homens têm direito de buscar e obter felicidade.

Pois bem, o mundo oferece “felicidade”, que, por seu caráter momentâneo e passageiro, deu origem ao dito popular segundo o qual “felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”.

– No entanto, Jesus inicia o Seu sermão afirmando que aqueles que crerem n’Ele, aqueles que passarem a pertencer ao reino de Deus, não só terão a felicidade que, como vimos, é admitida como sendo perseguida por todos os homens, sem que a possam encontrar, mas recebem algo superior a isto, a “bem-aventurança”, pois “bem-aventurado” é mais do que feliz, não só porque alcança um patamar superior ao deste mundo, como também obtém algo que é eterno, que não é momentâneo nem passageiro.

– O discípulo de Jesus é “bem-aventurado”, mais do que feliz, porque, em primeiro lugar, está em comunhão com Deus, creu em Jesus e teve perdoados os seus pecados e agora desfruta do poder de ser feito filho de Deus (Jo.1:12,13).

– O discípulo de Jesus, por ser “bem-aventurado”, ostenta algumas qualidades que não são encontradas no mundo em que vivemos, mundo que está no maligno (I Jo.5:19), mundo que é governado pelo príncipe deste século, que é o diabo e que nada tem em Jesus (Jo.14:30).

– Este conjunto de qualidades, de características, que não são encontradas naturalmente no mundo, mas decorrem do novo nascimento, da fé em Jesus Cristo, mostra que quem está em Cristo é nova criatura (II Co.5:17), tem uma nova personalidade, um novo caráter.

– É bem por isso que o título de nossa lição é “o sermão do monte: o caráter do reino de Deus”, pois o que vemos, logo no introito do sermão do monte, é o Senhor Jesus mostrando que Seus discípulos têm um caráter diferente do dos demais seres humanos.

Eles “subiram ao monte” com Jesus e passam a ter um novo patamar de vida, um novo comportamento, uma nova conduta. Estão no mundo, mas não são do mundo (Jo.17:11,16).

– Talvez seja esta a razão pela qual o sermão do monte, embora seja basilar para nos mostrar a doutrina cristã, seja tão pouco pregado e ensinado em nossos dias. Ele nos revela, logo em seu início, a necessidade de sermos novas criaturas, de termos uma mudança de vida a partir do momento em que cremos no Evangelho.

– No monte Sinai, o povo ficou de longe, temendo a Deus, achando que Deus queria matá-los e, por isso, não esperaram o toque da buzina e decidiram não ir ao encontro do Senhor.

Permaneceram separados de Deus, porque a lei somente apontava o pecado, não tinha a mínima condição de retirá-lo. Jesus, porém, tirou o pecado do mundo (Jo.1:29) e agora pode oferecer uma nova vida, livre do pecado e que nos traz um novo caráter, um novo comportamento, comportamento este que nos faz ser “bem-aventurados”.

– A primeira bem-aventurança é a “pobreza de espírito”, também chamada de “humildade de espírito” (Mt.5:3). O “reino dos céus” é somente dos “pobres de espírito”, dos “humildes de espírito”. Aqui temos, de pronto, uma característica que opõe o reino de Deus ao mundo.

O mundo caracteriza-se por sua rebeldia contra Deus, basta ver que o seu príncipe é o diabo, o primeiro ser a se rebelar contra o Senhor, ainda na eternidade passada. Aliás, a proposta maligna que levou o primeiro casal a pecar foi, precisamente, uma possível independência de Deus.

– O discípulo de Jesus, porém, caracteriza-se como sendo alguém que se submete ao senhorio divino, que é submisso à vontade do Senhor, que se dobra a Deus.

Em hebraico, “humilde” é “’anav” (ונע), “aquele que se curva”. É mais do que feliz aquele que se submete a Deus, que Lhe obedece. Somente pode pertencer ao reino de Deus aquele que renuncia a si mesmo para fazer a vontade do Senhor não pode ser Seu discípulo (Lc.14:33).

– Nesta bem-aventurança, temos a essência do fruto do Espírito, que é o amor (Gl.5:22). Amor é guardar a Palavra de Deus, é fazer o que o Senhor nos manda (Jo.14:15; 15:14).

Amor não é um mero sentimento, mas, sim, um comportamento que revela a realidade e autenticidade de um sentimento. Quando me curvo à vontade do Senhor, comprovo que O amo e que o amor de Deus está em meu ser.

– A segunda bem-aventurança é a “dos que choram”. No mundo, o que se poderia pensar era o contrário, ou seja, que é feliz quem não chora, quem dá risadas, quem está alegre.

Entretanto, o verdadeiro servo de Deus é aquele que, por estar neste mundo, chora por ver as pessoas sofrendo no pecado, sabe do engano e das ilusões desta vida, angustia-se por ver a perdição das pessoas.

Entretanto, é bem-aventurado porque recebe o verdadeiro consolo, a companhia do Senhor, ou seja, recebe a verdadeira alegria, a alegria da salvação. Temos, aqui, aliás, mais uma qualidade do fruto do Espírito: o gozo ou alegria (Gl.5:22).

– A terceira bem-aventurança é a mansidão. Jesus mesmo apresentou-Se como manso e humilde de coração (Mt.11:29), sendo certo que Moisés era o homem mais manso que havia sobre a face da Terra (Nm.12:3).

Temos aqui a palavra grega “praus” (πραυς). “…Em o Novo Testamento, expressa uma mansidão que difere da conotação usual da palavra (…). É um equilíbrio nascido da força de caráter e deriva da firme confiança em Deus e não da fraqueza ou temor…” (Bíblia de Estudo Palavra-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 4240, p.2368).

– Diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa que mansidão é “qualidade ou condição do que é manso; brandura de gênio ou de índole; brandura na maneira de expressar-se; doçura, meiguice, suavidade.”

Segundo os lexicógrafos, a palavra “mansidão” vem da raiz “mans” que, “…segundo Corominas, “está documentado en el Liber Glossarum compuesto en España h. el a. 700 (CGL V, 220.40)”; observe-se que mansuétus é o part.pas. do v. mansuesco,is,évi,étum,ère ‘acostumar-se à mão (ou ao poder) do dono; amansar-se, domesticar-se’ (de manus ‘mão’ + suescère ‘ter costume’)…”.

– Pelo que se vê da raiz da palavra “mansidão”, portanto, temos que “manso” é aquele que se acostuma ao poder de um dono, aquele que se domestica, ou seja, aquele que passa a seguir as regras da casa de alguém, aquele que se submete ao poder de alguém.

Neste sentido, aliás, é que falamos em animais amansados ou mansos, isto é, animais que aprenderam a obedecer ao homem, ao contrário dos animais selvagens, que são animais que não se submetem a ordens nem a vontades dos homens.

– A mansidão é o resultado da aceitação do senhorio de alguém, é a submissão à autoridade de alguém. O homem, ao contrário dos animais domesticados, amansados, é portador de liberdade, de livre-arbítrio, ou seja, tem a capacidade de escolher entre o bem e o mal.

Por isso, o Senhor, ao criar o homem, disse que ele poderia comer “livremente” de todas as árvores do jardim, mas não da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn.2:16,17), mostrando, assim, que havia um senhorio de Deus a ser observado pelo ser humano, mas que este mesmo ser humano era livre, ou seja, poderia, ou não, se submeter a este senhorio.

– O discípulo de Jesus é manso porque O reconhece como seu Senhor (Jo.13:13), não só O chamando de Senhor, mas também fazendo o que Ele manda e, como resultado disto, herdarão a Terra, ou seja, viverão eternamente com o Senhor, não só reinando com Ele durante o reino milenial (Ap.20:4), quando esta Terra será restaurada, mas, também, em os novos céus e nova terra onde habitam a justiça (II Pe.3:13).

– A quarta bem-aventurança é a fome e sede de justiça (Mt.5:6). O discípulo de Jesus tem necessidade da justiça, quer ter comunhão com a justiça, quer comer e beber justiça.

Sabemos que “comer e beber” significa comunhão e o servo de Cristo não folga com a injustiça, porque tem o amor de Deus (I Co.13:6).

Ante esta necessidade e busca de justiça, o discípulo de Jesus é farto, porque tem suprida esta necessidade com a Palavra de Deus e a presença do Espírito Santo em sua vida. O reino de Deus é um reino de justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17).

– O discípulo de Jesus não só é justo, como tem necessidade da justiça, sendo certo que seu patamar de justiça
é superior ao patamar de justiça existente no mundo, mesmo dentro dos chamados “religiosos”.

O próprio Jesus é categórico, no próprio sermão, ao afirmar que Seus discípulos devem exceder a justiça dos escribas e fariseus para entrar no reino dos céus (Mt.5:20). O reino de Deus está num patamar acima do obtido pelo homem, porque é algo advindo da graça divina.

– Esta fome e sede de justiça corresponde à qualidade do fruto do Espírito da temperança, do domínio próprio, porquanto o discípulo de Cristo se controle ante a injustiça deste mundo, sabendo que haverá fartura por parte do Senhor, o devido suprimento celestial.

– Ser moderado é saber aguardar o momento oportuno e correto para suprir as suas necessidades. É ter consciência de que Deus está no controle de todas as coisas e que o mais importante é controlar a sua ansiedade, é ter domínio sobre si mesmo e confiar que Deus trará a solução.

A temperança é muito similar à paciência, mas se a paciência representa uma capacidade de suportar uma adversidade, a temperança é uma qualidade que permite o autocontrole, ou seja, havendo, ou não, adversidade, o temperante sabe se controlar, pois muitas vezes o autocontrole é necessário nos tempos de bonança, pois as benesses podem levar, também, a uma empolgação que ponha tudo a perder, como, por exemplo, aconteceu com o rei Salomão (I Rs.11:1-4).

– Quando a Bíblia fala em “ter fome e sede de justiça”, fala, precisamente, nas necessidades surgidas dos instintos humanos, daquilo que nos advém sem que queiramos ou pensemos, porquanto isto é da nossa própria natureza, da nossa própria índole.

A temperança é, pois, a qualidade do fruto do Espírito que lida com o controle do nosso temperamento, é o contato entre o caráter e o temperamento, daí porque ser difícil traçar qual é o ponto de equilíbrio, qual é a medida apropriada para cada gesto, pois cada pessoa é diferente da outra.

– A quinta bem-aventurança é a da misericórdia (Mt.5:7). Os misericordiosos são bem-aventurados porque alcançarão misericórdia.

A palavra grega aqui no texto é “eleemon” (ελεήμων), “…compassivo (de modo ativo) – misericordioso (…) Compassivo, misericordioso, benevolentemente misericordioso, envolvendo pensamento e ação…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 1655, p.2181).

– Vemos, pois, que o discípulo de Jesus faz o bem, quer sempre o bem das pessoas, assim como o seu Mestre,

“…Que andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At.10:38b).

O discípulo de Jesus recebe a natureza divina e Deus é bom, aliás o único ser que é essencialmente bom (Mc.10:18)

– O discípulo de Jesus, por fazer o bem, acaba recebendo a bondade divina, alcançando misericórdia, seja diretamente da parte do Senhor, seja através de pessoas que fazem com que se cumpra no servo de Cristo a lei da semeadura (Gl.6:9). Vemos aqui uma outra qualidade do fruto do Espírito: a bondade (Gl.5:22).

– A sexta bem-aventurança é a da limpeza do coração. O discípulo é limpo de coração e, por isso, verá a Deus. Quando cremos em Jesus, temos os nossos pecados perdoados e somos purificados pelo sangue de Cristo (I Jo.1:7), passando a ser justos e santos diante de Deus (Rm.5:1; I Co.1:2).

Por isso, passamos a ter um coração puro, sempre desejando o bem de todos, tendo, portanto, a benignidade, outra qualidade do fruto do Espírito (Gl.5:22).

– Com a justificação e santificação, temos plenas condições de viver em comunhão com o Senhor e, portanto, de O vermos, quando Ele Se manifestar (I Jo.3:1-3). Pois, sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb.12:14). O reino de Deus é um reino de santidade, de separação do pecado.

– A sétima bem-aventurança é a dos pacificadores. O discípulo de Jesus é um pacificador e, por isso, é chamado de filho de Deus. Jesus trouxe a paz entre Deus e os homens, unindo novamente o homem a Deus, porquanto paz significa esta integração, esta completude, que havia sido quebrada com o pecado.

– Paz, na língua hebraica (língua em que se escreveu a quase totalidade do Antigo Testamento), é “shalom” (םלש), que, muito provavelmente, é a palavra hebraica mais conhecida no mundo. A ideia israelita de “shalom”

é diferente da ideia que se disseminou posteriormente entre os povos, mormente entre os gregos. “…As palavras hebraicas se formam a partir de radicais.

A raiz da palavra shalom é formada pelas letras shim, lâmed e mem. A palavra shalem, que significa quitar, tem a mesma raiz de shalom.

Podemos, então, entender que, quando não temos dívidas, sejam elas da espécie que forem – financeiras, promessas, compromissos, deveres religiosos, morais – conseguimos estar em paz; shalem significa também – completo, íntegro, o que indica que paz significa integridade – a pessoa alcança a paz ao se tornar completa, íntegra.…” (MALCA, José Schorr e COELHO, Antonio Carlos. Shalom é mais do que paz. Jornal de ciência e de fé. dez. 2002. http://www.google.com/search?q=cache:6N7CLr58BLYJ:www.cienciaefe.org.br/jornal/dez02/mt06.htm+pa z,+Talmude&hl=pt-BR Acesso em 18 dez.2004). “…Basicamente, o vocábulo empregado no Antigo Testamento com o sentido de ‘paz’, shãlôm, significa ‘algo completo’, ‘saúde’, ‘bem estar’.…” (DOUGLAS, J.D.. Paz. In: O Novo Dicionário da Bíblia. v.2, p.1233).

– Já fizemos menção aqui do que disse o apóstolo Paulo a respeito do reino de Deus, de ser ele um reino de justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

Por ter paz com Deus, o discípulo de Jesus passa a ter a paz de Deus e, assim, pode promover a paz entre as pessoas, pode ser um pacificador, alguém que pode não só promover a integração entre as pessoas como também levá-las a ter união com o Senhor.

– A oitava bem-aventurança é a do sofrimento da perseguição por causa da justiça. O discípulo de Jesus é perseguido pelo mundo, porque está em oposição a ele. Jesus mesmo foi claro ao dizer que o mundo nos aborreceria (Jo.15:18,19).

Tem como patamar a justiça, é natural que o discípulo de Jesus se indisponha num mundo caracterizado pela injustiça, pela iniquidade, que nada mais é que o pecado (I Jo.3:4).

– Este sofrimento por causa da justiça traz ao discípulo de Jesus uma outra qualidade do fruto do Espírito que é a longanimidade, ou seja, a capacidade de suportar o sofrimento, de aguardar o momento designado por Deus para a superação das dificuldades e aflições, que, por vezes, será apenas a passagem para a dimensão da eternidade.

O reino de Deus está entre nós, mas não abarca ainda todo o mundo, é o grão de mostarda que, um dia, se tornará a maior das hortaliças (Mt.13:31,32), é o fermento que, introduzido na massa, acabará por levedar toda a massa (Mt.13:33).

– O discípulo de Jesus segue o seu Mestre que suportou a cruz e as contradições dos pecadores pelo gozo que Lhe estava proposto (Hb.13:2,3).

Se também fizermos assim, também, como Ele, sentar-nos-emos em Seu trono nos céus (Ap.3:21). É a qualidade do fruto do Espírito denominada longanimidade.

– A nona e última bem-aventurança é a da injúria e perseguição por causa do nome de Jesus. Os discípulos de Jesus são injuriados, têm a sua honra atacada, criam mentiras para desonrá-los publicamente, perante os demais seres humanos. São alvo de perseguição, única e exclusivamente porque servem a Jesus, obedecem e guardam a Sua Palavra.

– Entretanto, em meio a tanto sofrimento e injustiça, o Senhor Jesus diz que os Seus discípulos devem se exultar e alegrar, porque, em resposta a todas estas infâmias, calúnias e mentiras, eles serão recompensados nos céus, há um galardão que os aguarda e que já está nas mãos de Jesus Cristo (Ap.22:12).

– O discípulo de Jesus Cristo não perde o foco, que são os céus, é a vida eterna com Deus nas mansões celestiais.

Encontra-se em outro patamar, faz parte do reino de Deus, que é o reino dos céus (embora alguns distingam entre reino de Deus e reino dos céus, mas este aqui não é o nosso assunto). Nós estamos indo para os céus, nosso alvo é a cidade celeste (Fp.3:20).

– Por isso, apesar de todas as violências sofridas, ele continua cumprindo os compromissos assumidos com o Senhor, é o “servo fiel e prudentes constituído sobre a casa do Senhor e que dá o sustento a seu tempo” (Mt.24:45), aquele é “fiel até a morte” (Ap.2:10 “in fine”).

– Temos, então, aqui, outra qualidade do fruto do Espírito, a fé ou fidelidade (Gl.5:22), que faz com que honremos o compromisso assumido publicamente de obedecermos e seguirmos a Jesus Cristo quando do nosso batismo nas águas.

– O discípulo de Jesus Cristo é comparado, nesta fidelidade, aos profetas que Deus havia levantado ao longo da história, homens que deram suas vidas por servirem ao Senhor, mesmo quando levantados no meio de um povo que, teoricamente, deveria servir e obedecer a Deus, Israel, a propriedade peculiar de Deus entre todos os povos (Ex.19:5).

– Já no introito do sermão do monte, Cristo Jesus é bem claro ao mostrar que o Seu discípulo é reconhecido pelo seu caráter, pelo seu comportamento, pela sua conduta, não por palavras, mas, sim, por obras, obras que resultam de uma fé em Jesus, que faz com que os homens possam estabelecer uma comunhão com Deus e, por meio de Jesus, chegar a um patamar espiritual inalcançável ao gênero humano.

– Temos estas nove características apresentadas pelo Senhor Jesus? Somos bem-aventurados? Estamos realmente em um patamar espiritual, no “cume do monte, aos pés de Cristo, pronto para Lhe ouvir os ensinamentos?”. Pensemos nisso!

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7373-licao-1-o-sermao-do-monte-o-carater-do-reino-de-deus-i

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