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LIÇÃO 2 – A NECESSIDADE UNIVERSAL DA SALVAÇÃO EM CRISTO

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Paulo, para falar da salvação na pessoa de Cristo, mostra, em primeiro lugar, que a humanidade toda se encontra corrompida pelo pecado.

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INTRODUÇÃO

– Nesta “exposição magna da fé cristã”, que é a epístola de Paulo aos Romanos, cujo tema é a justificação pela fé, não se poderia iniciar a não ser pelo pecado, pelo lamentável estado em que se encontra o homem e que exige a sua justificação.

– Embora o apóstolo inicie a descrição do estado pecaminoso do homem pelos gentios, que são propriamente a humanidade rebelde de Deus, o fato é que, como se mostrará na continuidade da epístola, a corrupção é de todo o gênero humano. Entrando no mundo por Adão, o pecado domina a todos os homens indistintamente, tanto gentios quanto judeus.

I – A REALIDADE DO PECADO NA HUMANIDADE

– Adentramos, hoje, na parte dogmática da epístola de Paulo aos Romanos, ou seja, na parte da carta em que o apóstolo Paulo irá expor a doutrina, o ensinamento da Palavra de Deus à igreja que estava em Roma.

Como vimos na lição anterior, Paulo, nesta carta, quer mostrar aos romanos o que entende ser o Evangelho, o que acha ser o significado da fé cristã. Por isso, tratará, como diz em Rm.1:17, da justiça pela fé.

– Todavia, para que falemos da justiça, é necessário que, antes, contemplemos, verifiquemos se, no mundo, há, ou não, justiça.

O apóstolo, então, começa a sua exposição mediante uma análise, um exame, uma observação daquilo que ocorria em torno de si, dos acontecimentos e das circunstâncias existentes no mundo de então.

Ao decidir fazer isto, o apóstolo mostra, em primeiro lugar, grande ousadia, uma vez que estava a escrever para crentes que moravam na capital do mundo de então, e que, por isso, tinham acesso às mais qualificadas informações do seu tempo.

– Em segundo lugar, o apóstolo ensina-nos que, antes que nos debrucemos sobre a questão do sentido da fé cristã, é imperioso que tenhamos ciência daquilo que está a nossa volta, é preciso que saibamos, precisamente, o que está acontecendo e que, além de termos conhecimento do que ocorre, saibamos ver o que está além da superficialidade dos fatos, ou seja, tenhamos olhos espirituais que nos permitam discernir espiritualmente os eventos, os episódios que estão a acontecer.

– Esta é uma postura absolutamente necessária para quem serve a Deus. Jesus, um dia, censurou os homens por não terem condições de discernir espiritualmente os fatos que ocorriam à sua volta.

Disse que os homens eram capazes de prever o tempo, mas não podiam discernir “os sinais dos tempos” (Mt.16:3).

Assim estão muitos que dizem servir a Deus nos nossos dias. Estão muito bem informados a respeito do que acontece no mundo, são pessoas extremamente atualizadas com a tecnologia e com tudo que diz respeito a novidades, mas, lamentavelmente, estão completamente despercebidos do momento que vivemos, da iminência da volta de Cristo.

Despertemos enquanto é dia, porque a noite vem, quando ninguém mais poderá trabalhar.

– Paulo não só era uma pessoa bem informada, como também discernia espiritualmente tudo o que se sucedia.

Este deve ser o padrão a ser seguido pelos homens, não porque tenhamos que seguir a Paulo, mas, sim, porque, ao assim agir, o apóstolo, uma vez mais, estava demonstrando que era um imitador de Cristo (I Co.11:1).

Nos evangelhos, ao contemplarmos Nosso Senhor, sempre o vemos bem informado a respeito dos eventos que ocorriam no seu tempo (Mc.1:14; Lc.13:1,2,4), mas os discernia espiritualmente (Mc.1:15; Lc.13:3,5).

Por isso, não podemos admitir que ainda haja pessoas na igreja que critiquem o acesso às informações, ainda que, repetimos, não seja suficiente o acesso às informações, o que, por si só é insatisfatório, devendo esta obtenção de informações ser complementada pelo discernimento espiritual dos acontecimentos.

– Ao contemplar os fatos que ocorriam à sua volta, o apóstolo não teve qualquer dificuldade em compreender que o mundo de então era resultado da manifestação da ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens (Rm.1:18). Esta sua definição é muito importante para que tenhamos a visão de conjunto nesta segunda parte do capítulo 1. Analisemo-la, pois.

– A ira de Deus encontra-se sobre a humanidade, diz o apóstolo. Então, alguém poderia afirmar, o apóstolo considera que Deus é mau, vingativo, cruel e que, portanto, razão teriam os inimigos do Evangelho que dizem que os cristãos creem num Deus repressor e que o cristianismo seria, então, uma escravização, um instrumento que tolhe a “liberdade”, o prazer e a criatividade humanas, algo que estamos acostumados a ouvir nestes dias pós-modernos em que vivemos.

– Não é, porém, isto que se extrai desta afirmação do apóstolo Paulo. O apóstolo diz que vemos hoje, sim, a ira de Deus sobre a humanidade, mas que esta ira é uma reação divina, é a resposta de Deus em virtude da impiedade e da injustiça dos homens.

Deus tem demonstrado a Sua ira não porque seja mau, mas, pelo contrário, é um ser bom, que só manifesta a Sua ira quando a isto é impelido por causa da injustiça e da impiedade cometidas pelos homens.

– A ira de Deus é uma reação e, como tal, não resulta de uma iniciativa divina, mas é um efeito, uma consequência.

É por isso, aliás, que, ao se dirigir aos israelitas impenitentes, o Senhor diz que a Sua vingança e recompensa viriam no devido tempo (Dt.32:35), como, aliás, bem demonstrou o grande pregador norte-americano Jonathan Edwards no seu conhecido sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”.

Porque a ira de Deus é uma reação e não uma ação de iniciativa divina é que aqui estamos apesar de toda a nossa pecaminosidade e o apóstolo, ao iniciar sua carta dando conta desta realidade, mostra-nos, de pronto, que há uma esperança para o homem, vez que sua destruição não provém da iniciativa divina, mas é fruto de uma reação pelas atitudes injustas e ímpias dos homens.

– A ira de Deus, diz ainda o apóstolo, vem do céu, ou seja, é resultado da soberania e da natureza do Senhor, “vem de cima”, “do alto”, é algo superior aos homens. Deus é o Soberano, é Aquele que está sobre tudo e sobre todos, a quem devemos render toda a adoração e obediência.

Por isso, tem todo o direito de manifestar a Sua ira, de aplicar a justa retribuição a todos quantos Lhe desobedecem.

Não cabe ao homem discutir ou questionar a justiça divina, pois é apenas obra das mãos do Senhor.

– Em que consiste a injustiça e a impiedade dos homens?

O apóstolo responde: “deter a verdade em injustiça” (“deter a verdade pela injustiça” na Versão Almeida Revista e Atualizada e na Edição Contemporânea de Almeida) (Rm.1:18), ou seja, como se diz, na Bíblia de Jerusalém, “manter a verdade prisioneira da injustiça” (ou “verdade cativa da injustiça”, como se encontra na Tradução Ecumênica Brasileira), ou, na Nova Versão Internacional, “suprimir a verdade em injustiça”, ou, na Versão Padre Antonio Pereira de Figueiredo, “reter na injustiça a verdade de Deus” ou “não deixar que os outros conheçam a verdade a respeito de Deus” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).

– Os homens têm condições e possibilidade de chegar ao conhecimento de Deus, ainda que de forma natural, mas, em vez de O conhecerem e aceitarem a Sua verdade, preferem lutar contra ela, construir o que Lutero denominou, ao comentar esta passagem, de “sabedoria e poder deste mundo”.

Assim, os homens se recusam a obedecer a Deus, a submeter-se ao Senhor e, por isso, passam a se opor a tudo quanto diz respeito a Deus, passam a rejeitar a verdade, escolhendo, antes, a injustiça, o pecado, a maldade.

O resultado desta atitude de rebeldia outra não é senão a ira de Deus, que, como o profeta Miqueias já sublinhara, é consequência do pecado do homem (Mq.7:9).

Como assinala Russell Shedd, o apóstolo demonstra, no limiar da parte dogmática de sua carta, que “…a culpabilidade do homem [está] fundada na sua pertinaz rejeição da luz fornecida e não em desobediência vinda da ignorância” (Bíblia Shedd, nota a Rm.1.18, p.1584).

– Por causa disto, ou seja, ao partir do fato de que os homens podem conhecer a Deus e não Lhe obedecem por rebeldia e não por ignorância, abre a discussão de como Deus Se dá a conhecer ao homem, questão que enfrenta de imediato, a fim de não pairar quaisquer dúvidas a seus leitores.

O apóstolo mostra que Deus Se faz conhecido de todos os homens e, por isso, todos os homens não têm desculpa diante do Senhor, pois conscientemente tem condições de reconhecer a Deus como o Soberano do universo.

– Muitos, aliás, indagam a respeito de como Deus julgará as pessoas que jamais tiveram conhecimento da existência de Cristo Jesus ou de Sua obra no Calvário, ou mesmo, que jamais tenham tido oportunidade de ter conhecimento da esperança messiânica existente em Israel, mas, aqui, o apóstolo nos deixa bem claro que todo ser humano, por si só, tem condições de saber que existe um Deus e que Ele é soberano e, portanto, deve ser adorado e reconhecido como tal.

Deus Se manifestou a todos os homens, independentemente do conhecimento que tenhamos a respeito da justificação que somente se opera por intermédio de Jesus Cristo. Por isso, vemos que nenhum homem poderá se apresentar diante de Deus com a desculpa de que nunca teve a oportunidade de ter ciência de que havia um Deus soberano.

Paulo é peremptório: o poder de Deus e a Sua divindade entendem-se e claramente se vem pelas coisas que estão criadas, para que os homens fiquem inescusáveis (i.e., sem desculpa) (Rm.1:20 “in fine”).

– Como Deus Se manifesta, como Deus Se revela aos homens? Através da criação. As coisas criadas, a criação de todas as coisas testifica o poder e a divindade do Senhor e, por meio delas, todos os homens são capazes de saber não só que Deus existe, como também que Ele é poderoso e soberano.

“…Todos os homens, em particular os idólatras, tinham um claro conhecimento de Deus, especialmente de Sua divindade e de Sua onipotência. Eles provaram isto ao chamar os ídolos que eles faziam de ‘deuses’, e até mesmo ‘Deus’, reverenciando-os como eternos ou onipotentes, pelo menos fortes o suficiente para ajudá-los.

Isto demonstra que havia, em seus corações, um conhecimento de um ser divino soberano.

De que forma mais eles poderiam ter atribuído a uma pedra, ou à divindade representada por uma pedra, atributos divinos, se eles não tivessem sido convencidos que tais qualidade realmente pertence a Deus!

Manifestamente eles sabiam que Deus era onipotente, invisível, justo, imortal e bom. Mas eles erraram em atribuir aos seus ídolos os atributos divinos que pertencem unicamente ao Deus verdadeiro.…” ( LUTERO, Martinho. Commentary on Romans. Trad. J. Theodore Mueller, p.43) (tradução nossa de texto em inglês).

– A Bíblia, mesmo, dá-nos conta disto. A humanidade tinha pleno conhecimento de Deus no limiar da história, até porque a longevidade dos homens antediluvianos, como nos indica o livro do Gênesis, permitia uma convivência com diversas gerações. “…Adão e Eva tinham acesso a Deus e O conheciam.

À luz de Gênesis 5 e 11, a vida de Metusalém coincidiu 243 anos com a de Adão, e 600 anos com a de Noé, e a vida de Sem coincidiu mais de 50 anos com a de Abraão. Assim, o conhecimento de Deus passou para toda a humanidade.…” ( SIOARES, Esequias. Romanos: o evangelho da justiça de Deus. Lições bíblicas: jovens e adultos(mestre). 2. trim. 1998, p.13).

– Os gentios, como todos sabemos, são o resultado da comunidade pós-diluviana que se instalou em Babel e que, ali, se rebelou contra Deus.

Ora, todos eles tinham, nesta comunidade, pleno conhecimento de Deus, tanto que resolveram construir “…uma torre cujo cume toque nos céus, e nos façamos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra” (Gn.11:4b), numa clara demonstração de que tinham conhecimento de que havia um Deus no céu e que pretendiam construir uma vida independente deste Deus.

Na sua obra “O fator Melquisedeque”, Don Richardson mostra, com propriedade, como há, em vários povos, em diferentes estágios de civilização, a consciência de que existe um Deus soberano que governa todas as coisas.

– É, portanto, de uma circunstância de rebeldia contra Deus, de rejeição da manifestação de Deus que se constrói o estado da espiritualidade da humanidade.

Isto é fundamental para que compreendamos o significado do Evangelho e o trabalhar de Deus em favor do homem na pessoa de Cristo Jesus.

Devemos todos reconhecer que os homens, criados por Deus com intelecto e espiritualidade, têm plena condição de reconhecer a existência, o poderio e a divindade de Deus, mas que, em virtude de sua natureza decaída, não o fazem não por ignorância, mas por rebeldia, por incredulidade. É esta atitude de rebeldia e de incredulidade que é chamada de “pecado”.

– “…’Pecado’, nas Escrituras, não quer dizer apenas as obras externas do corpo, mas todas as atividades que movem os homens para as obras exteriores, isto é, o íntimo do coração, com todas as suas forças(…). E as Escrituras olham especialmente para dentro do coração e o consideram como a raiz e a origem de todo o pecado, que é incredulidade no íntimo do coração.…” (LUTERO, Martinho, op.cit., p.XVI) (tradução nossa de texto em inglês).

– Os homens estão em rebeldia contra Deus e, por isso, estão em estado de pecado. Não é por outro motivo que Lutero diz que, nesta passagem, o apóstolo “…começa a mostrar que todos os homens vivem em pecado…”(op.cit., p.42).

É esta dura e triste realidade que deve ser percebida pelo homem e anunciada pela Igreja a fim de que o homem alcance a salvação e seja justificado pela fé na pessoa de Jesus Cristo.

– O pecado é o ato pelo qual os homens, chegando ao conhecimento de Deus, recusam-se a reconhecer a Deus como Senhor, não O glorificando como Deus, nem Lhe dando graças, repetindo, assim, o gesto que foi realizado pela comunidade pós-diluviana em Babel que, em vez de glorificar a Deus, quiseram “fazer um nome”, ou seja, resolveram construir uma vida onde Deus não teria lugar algum.

– O pecado apresenta-se, em primeiro lugar, como uma recusa a glorificar a Deus. O que é glorificar a Deus?

Não é dizer “glória a Deus” ou qualquer outra exclamação em voz alta, numa aparente devoção, como, comumente, vemos em nossas reuniões, algo que provém apenas dos lábios, mas, sim, reconhecer o senhorio de Deus sobre as nossas vidas. Glorificar a Deus é obedecer ao Senhor, é fazer o que Ele manda, tanto assim que Jesus diz que, pelas nossas boas obras, os homens glorificam ao nosso Pai que está nos céus (Mt.5:16).

Glorificar a Deus é pôr Deus no Seu devido lugar, ou seja, dar-Lhe a primazia das nossas vidas, considerá-l’O como o objetivo, a meta, a finalidade de nossa existência.

Quem assim não age, não glorifica a Deus e, portanto, como diz o apóstolo, desvanece-se nos seus discursos (ou como diz a NVI, “os seus pensamentos tornam-se fúteis”), perde a verdadeira razão de viver e passa a viver no “mundo de ilusão”.

– Mas o pecado, também, se apresenta como uma negativa em dar graças a Deus.

A rebeldia contra Deus também é demonstrada pelo fato de o homem não atribuir ao Senhor os benefícios que recebe durante a sua vida.

Quando reconhecemos a soberania divina, reconhecemos que tudo o que acontece, acontece porque Deus assim o quis e, portanto, devemos agradecer-Lhe por tudo. Como o apóstolo Paulo disse naquela que é, provavelmente, a sua primeira epístola, “em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (I Ts.5:18).

A gratidão é o reconhecimento da soberania e do favor divinos em relação ao homem. Contudo, quando o homem é rebelde, se opõe a Deus, temos que é ingrato, não atribui a Deus as coisas que ocorrem e, por isso, não Lhe dá graças.

Eis porque, nos dias difíceis em que vivemos, mesmo pessoas que dizem crentes são tão ingratas, muitas vezes até defendendo que, quando são abençoadas, apenas recebem os seus “direitos”, Deus apenas cumpre um suposto dever que tem para com os “salvos”, não havendo, portanto, quem se apresente como aquele ex-leproso samaritano, que voltou aonde Jesus estava para Lhe agradecer (Lc.17:16).

Aliás, esta passagem bíblica mostra-nos claramente que a gratidão é resultado do mesmo sentimento da glorificação. A glorificação, entretanto, aponta para o presente e para o futuro, enquanto que o agradecimento aponta para o passado. Em ambos, porém, há o reconhecimento da soberania e do poder de Deus sobre as nossas vidas.

– Os homens, entretanto, confrontados com o poder e a divindade do Senhor, rejeitam-n’O, querendo construir uma vida independente de Deus, uma vida autossuficiente em que o Senhor é relegado a um nível inferior, como se isto fosse possível, procedendo, aliás, do mesmo modo que o querubim ungido, cuja iniquidade foi, precisamente, o de querer colocar-se acima do Altíssimo, de se pôr em primeiro lugar em detrimento do Soberano Deus (cf. Is.14:13,14).

– Esta postura dos homens faz com que eles passem a ter pensamentos fúteis, como os que teve Satanás, pois são imaginações irrealizáveis, que não têm como se concretizar, porque Deus é o que é, como Se revelou a Moisés em Horebe (Ex.3:14).

As vãs imaginações dos povos em coisa alguma alteram a realidade e, diante delas, o Senhor só tem a zombar (cf. Sl.2:1-4). Completamente iludidos e cegados pelo deus deste século (II Co.4:3), os homens enganam-se e são enganados, enquanto se afundam cada vez mais na miséria do pecado e do mal (II Tm.3:13).

– A sabedoria humana, que é o resultado destas especulações e destas vãs imaginações dos homens, leva o homem a se achar sábio, mas, na realidade, torna-o um louco, um tolo (Rm.1:22) e o resultado desta falsa ciência (cf. I Tm.6:20) não poderia ser outro senão a de um mundo que se encontra debaixo da ira divina e preso pelo pecado e pelo maligno (I Jo.5:19). A partir desta atitude rebelde, a humanidade constrói todo um modo de viver lamentável e repleto de injustiça e de maldade, fruto de sua decisão em se separar de Deus, de se rebelar contra Ele.

II – O ESTADO PECAMINOSO DA HUMANIDADE: A IDOLATRIA E A PERVERSÃO SEXUAL

– O primeiro resultado desta rebelião contra Deus é o surgimento da idolatria. Recusando-se a obedecer a Deus e a Lhe reconhecer a supremacia, o homem, automaticamente, tem de pôr alguém no lugar de Deus, que é quem tem de ocupar a primazia na vida do ser humano.

Como o homem, usando de seu livre-arbítrio, não admite dar a Deus o lugar primeiro de sua vida, tem de substituí-l’O por alguém, nem que seja o próprio homem (como, aliás, tem sido a característica dos nossos dias, a chamada pós-modernidade, como estudamos no trimestre anterior).

Esta postura de ocupar o lugar de Deus com outrem é o que caracteriza a idolatria.

– É por isso que o apóstolo mostra que o primeiro pecado surgido entre os gentios foi a idolatria, o que se verifica logo no limiar da sociedade gentílica, após o dilúvio, quando a Bíblia nos dá conta de que Ninrode, o líder da comunidade, “começou a ser poderoso na terra” (Gn.10:8b).

Como afirma o pastor Esequias Soares, “…esta [a idolatria, observação nossa] começou com Ninrode, o construtor da Torre de Babel (Gn.10.9-12). Foi o primeiro a ser adorado como deus. Sua mulher, Semíramis, é a mãe de Adônis, ou Tamuz, divindade de Babilônia (Ez. 8.14).

(…). Babilônia é, pois, o berço da idolatria.…” (Romanos: o evangelho da justiça de Deus. Lições bíblicas: jovens e adultos(mestre). 2.trim. 1998, p.13).

– Os homens, no estado pecaminoso, rejeitam a soberania divina, criam para si deuses, semideuses, “espíritos iluminados”, “mestres”, entidades, enfim, uma série de seres superiores aos quais rende homenagem, veneração, respeito, palavras que procuram esconder o que realmente se faz: adoração.

Deixam o Deus incorruptível, o Deus perfeito e bom, para se submeterem a criaturas corruptíveis, que se corrompem, que têm princípio e fim, que não são perfeitas e que jamais podem se igualar ao Deus verdadeiro.

– Os ídolos são uma constante na humanidade e são milhões e milhões.

Estão presentes não só nas religiões politeístas ainda existentes no mundo, como é o caso do hinduísmo e do xintoísmo (a religião oficial e majoritária do Japão, cujo nome já demonstra seu politeísmo, pois “xinto” significa “caminho dos deuses”), que reconhece a existência de milhares (talvez, milhões) de deuses, mas também nas condutas dos que se dizem “sem religião” ou “agnósticos” ou, mesmo, “ateus”, que têm erigido como verdadeiros “ídolos” o dinheiro, a si mesmos, para não falar em artistas, esportistas e políticos.

Este tipo de idolatria também está descrito por Paulo que, aliás, começa a exemplificação da idolatria com o “homem corruptível”.

– Como efeito da idolatria da humanidade, Deus age, pela vez primeira, com a Sua ira, entregando os homens às concupiscências de seus corações, à imundícia para desonra de seus corpos entre si.

O abandono divino é reação da rebeldia humana. Assim como Deus Se aproxima daquele que se aproxima d’Ele (Tg.4:8), também Se afasta daquele que se afasta dEle. Aqui Paulo nos fala do primeiro abandono, do primeiro desprezo divino, que é o resultado da idolatria.

Em virtude da idolatria, sobrevém a desonra dos corpos, ou seja, a “impureza sexual”, para se utilizar da expressão da NVI.

– Quando o apóstolo assim se expressou, tinha, à sua volta, uma demonstração claríssima a este respeito, pois todos os cultos idolátricos do seu tempo continham os chamados “cultos de fertilidade”, que eram práticas repletas de imoralidade sexual, onde existia, inclusive, a chamada “prostituição cultual”.

Tais cultos tinham tido sua origem em Babilônia e estavam vinculados de modo bem estreito com a idolatria. O próprio culto a Baal e a Asera, que tanto mal causaram à nação israelita, eram cultos de fertilidade.

– Temos a comprovação da afirmação do salmista de que um abismo chama outro abismo (Sl.42:7).

A partir do instante em que o homem abandona a Deus, não reconhece o Seu senhorio, quebrando, assim, com o primeiro princípio ético decorrente da sua criação pelo Senhor, qual seja, a de que seria uma criatura dominadora sobre a criação terrena, mas submissa ao Senhor (Gn.1:26,28), imediatamente há a quebra do segundo princípio ético, qual seja, o princípio da sexualidade (Gn.1:27).

Enganado pelo adversário e querendo construir uma vida independente de Deus, o ser humano, imediatamente, passa a fazer mau uso da circunstância que tinha com exclusividade em relação aos demais seres morais (Deus e os anjos), qual seja, a sua sexualidade.

– Com o pecado, a situação pela qual a sexualidade, qualidade boa e pura, vez que criada por Deus, dignificava o homem e a mulher (Gn.2:25), passa a ser um motivo de vergonha e de desonra (cf. Gn.3:10,11).

O corpo, que era um instrumento exclusivo para a glória do Senhor e para dignidade e honra do homem, passa a ser um veículo para desonra, um instrumento que pode ser usado para a vergonha e para o desprezo humanos.

OBS: “…Por honra ao corpo (pelo menos neste ponto) quer dizer ser casto e continente, ou usá-lo apropriadamente, de modo que o abuso do corpo, por mudar o seu uso natural, quer dizer desonrá-lo.

O corpo está desgraçado e degradado de modo muito vicioso não apenas pelo adultério e outras violações similares de castidade, mas muito mais pelas perversões degradantes…”(LUTERO, Martinho, op.cit., p.47) (tradução nossa de texto em inglês).

– É por isso que uma das consequências da salvação será o retorno da dignidade e da honra do corpo, motivo por que o apóstolo sempre recomenda aos crentes que mantenham seus vasos em honra e santificação (I Ts.4:4).

As Escrituras Sagradas jamais se voltaram contra a sexualidade e nunca condenam a prática do sexo, algo que, como costumamos dizer, não é bom, mas, sim, algo muito bom, pois foi uma das criações divinas que, ao terminar Sua obra, achou que tudo era muito bom, sem qualquer exceção (Gn.1:31).

Todavia, como nos mostra o apóstolo com propriedade, depois da idolatria, a consequência do pecado na humanidade foi a transformação do sexo em desonra do corpo.

– Por isso, nos dias em que vivemos, como já ocorria nos dias de Paulo, temos uma crescente imoralidade sexual, que só tende a aumentar quanto mais aumenta o pecado. Vivemos dias de multiplicação da iniquidade (Mt.24:12) e, por isso, também se intensifica a imoralidade sexual, a impureza sexual.

A chamada “liberação sexual” das últimas décadas é uma das mais contundentes provas de que estamos na iminência da volta de Cristo e de que a ira de Deus está chegando à medida completa, que será o período da Grande Tribulação, que terá seu início precisamente com o arrebatamento da Igreja.

Portanto, ao vermos o aumento e a multiplicação de toda sorte de impureza sexual, resta-nos apenas exclamar: “Ora vem, Senhor Jesus”!

– Mas a perversão sexual não se circunscreve apenas à desonra, ao uso dos corpos fora das regras prescritas por Deus, que importam na perda do pudor entre marido e mulher, dando origem à infidelidade conjugal ou à fornicação, que é a prática sexual fora do casamento, o local prescrito por Deus para que haja a intimidade, como se lê em Gn.2:24 e Hb.13:4.

O apóstolo afirma que, em virtude da persistência na idolatria por parte dos homens (Rm.1:25), Deus, uma vez mais, distancia-Se ainda mais dos homens e os entrega às paixões infames (Rm.1:26).

– Estas paixões infames de que fala o apóstolo é o sexo desregrado, a prática de abominações e de perversão sexual entre homem e mulher.

O sexo deixa de ser natural, passa a ser antinatural, ou seja, contrário à natureza e, neste ponto, vemos as diversas práticas sexuais repugnantes como o incesto e toda a sorte de perversão, como, por exemplo, o sexo anal ou o sadomasoquismo.

O sexo deixa de cumprir as funções para as quais foi criado, qual seja, a união, a procriação e a satisfação, para servir à lascívia, ao desejo incontrolado, à satisfação egoísta e doentia.

Nos dias de Paulo, Roma já estava infestada de toda esta imoralidade, que não mais se circunscrevia aos templos e santuários de Baco (o deus Dionísio dos gregos), cujas orgias rituais eram bem conhecidas e deram origem à palavra “bacanal”, que hoje é sinônimo de toda e qualquer manifestação de perversão sexual.

– Mas, não é este, ainda, o estágio final da perversão da sexualidade, da imoralidade. Diz o apóstolo que, na sequência do desvio em relação à sexualidade, os homens, não satisfeitos em praticar sexo antinatural com o sexo oposto, acabam chegando ao ponto máximo da rebeldia, da rebelião, que é o homossexualismo voluntário. Assim, como já praticavam sexo antinatural com suas mulheres, acabam por praticar torpeza entre varões (Rm.1:27).

Certamente, Paulo tinha em mente os funestos acontecimentos das cidades da planície (Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim), onde este comportamento passou a ser a conduta dos moradores, a ponto de Deus ter destruído tais cidades diante de sua impenitência (Gn.18:17-19:29).

– O apóstolo descrevia um mundo sem qualquer pudor, onde o homossexualismo voluntário era a tônica, algo que, aliás, Roma havia herdado da Grécia.

Portanto, os atuais defensores do homossexualismo voluntário não dizem novidade alguma quando procuram mostrar que este comportamento, repudiado pela cultura judaico-cristã, foi encontrado ao longo da história da humanidade.

Sim, o homossexualismo voluntário sempre existiu na humanidade, porque, como nos mostra Paulo, é resultado da rebeldia do homem contra Deus e, portanto, como sempre houve pecado, também sempre houve esta conduta que é, sobretudo, uma rebeldia contra o Senhor.

– O homossexualismo voluntário é um dos estágios mais avançados da rebeldia do homem contra Deus e a sua predominância na sociedade é sinal de que, a exemplo do que ocorreu com as cidades da planície, a civilização em que ela se funda está com seus dias contados.

Diz o apóstolo que, em si mesmos, os praticantes desta abominação receberam a recompensa eu convinha aos seus erros e a ciência médica está aí para comprovar como sempre uma intensificação do desregramento sexual, notadamente do homossexualismo voluntário, propicia o aumento de doenças sexualmente transmissíveis, que geram epidemias e mortes aos milhares e milhões.

A aids é a enfermidade do momento e que, apesar de todos os esforços, continua a matar cada vez mais, enquanto os homens persistem em desaprovar, atacar e ridicularizar a solução única para este problema, que é o do retorno ao padrão divino da sexualidade.

Não será o “sexo seguro”, nem tampouco a “camisinha”, que resolverá ou minorará o problema da aids ou de qualquer doença sexualmente transmissível, mas o abandono do pecado e a submissão do homem a Deus e à Sua Palavra.

– Os homens podem dizer que os que procuram a santidade como remédio para este mal são “atrasados”, “fanáticos”, “retrógrados”, “intolerantes”, mas o fato é que, enquanto apresentam seus argumentos e proferem seus discursos vazios, as pessoas continuam a morrer e os problemas prosseguem e se agravam.

Todavia, todos quantos ouvem a Palavra de Deus e vivem em santidade, ou passam a viver assim, ao se arrependerem de seus pecados, têm comprovado onde está a verdade e desfrutado da salvação bendita na pessoa de Cristo Jesus.

III – O ESTADO PECAMINOSO DO HOMEM: A VIDA SOCIAL INJUSTA E DESUMANA

– Em seguida à falência da sexualidade humana, como decorrência da idolatria, o apóstolo Paulo mostra que o pecado prossegue sua trajetória descendente, levando ã humanidade, também, a distorção do princípio da sociabilidade, que também é um dos princípios éticos estabelecidos por Deus quando da criação do homem, princípio através do qual o ser humano vive em sociedade: “não é bom que o homem esteja só” (Gn.2:18 “in initio”).

– O homem é um ser gregário, ou seja, é um ser que vive em sociedade e, a exemplo das formigas e das abelhas, depende da convivência com o semelhante para sobreviver.

Não é possível que o homem viva de modo solitário e, por isso, é absolutamente indispensável que a sua convivência seja mantida por regras mínimas, que permitam aos homens compartilharem suas vidas em comunidade, de modo que possam viver.

– Todavia, diz o apóstolo, no exato instante em que o homem, já pervertido sexualmente, persiste em não ter conhecimento de Deus, ocorre o terceiro abandono divino, o distanciamento final, no qual Deus entrega o homem a um sentimento perverso para fazer coisas que não convêm (Rm.1:28).

Na convivência com o semelhante, o homem precisa saber portar-se, precisa ter senso de conveniência, a fim de que tenha condições de se manter em sociedade. Todavia, o pecado faz com que o homem perca este senso, deixe de ter condições de saber o que é, ou não, conveniente, e, como resultado disto, entrega-se a um sentimento perverso, gerador de um egoísmo e de um individualismo que coloca em xeque a própria sobrevivência do gênero humano.

– Este sentimento, ainda que já existente ao tempo de Paulo, nem de longe se assemelha ao que existe em nossos dias.

Embora a civilização romana seja, de longe, a mais individualista e egoísta das civilizações antigas, não devemos nos esquecer que, perto da civilização consumista do século XXI, os romanos eram extremamente virtuosos em matéria de sociabilidade.

Afinal de contas, em Roma, temos exemplos notórios de homens voltados para o bem-estar social, para o interesse da coletividade, como o grande tribuno Cícero, o imperador Marco Aurélio ou os também filósofos Sêneca e Epíteto, sem falar neste grande legado que Roma deixou para a posteridade, que é o seu direito, base de todos os ordenamentos jurídicos da atualidade.

– Entretanto, não é o que se vê mais hoje em dia no cenário mundial, onde o tecido social se esgarça a cada dia, onde o egoísmo e o individualismo alcançam níveis inéditos, onde a competição e o “salve-se quem puder” é o ensino que tem sido ministrado a cada instante aos mais novos por parte dos mais velhos.

Este é o estágio final do predomínio do pecado na humanidade, o da suprema exaltação do ego, que terá seu ponto mais sublime na projeção dos homens diante do “super-homem”, que será a própria soberba personificada e que levará o mundo ao mais negro período de sua história.

– Quando o sentimento perverso predomina nas relações entre os homens, há um ambiente de iniquidade.

A injustiça é a tônica deste mundo gentílico rebelde contra Deus. A partir do momento que o homem rejeita a Deus e d’Ele se afasta, afasta-se da própria justiça  (Jr.23:6).

É por isso que o apóstolo, aliás, enfatizará a salvação como sendo a justificação do homem, ou seja, o retorno da justiça ao homem, que, no pecado, está impregnado de injustiça, está cheio de toda a iniquidade (Rm.1:29).

– A solução para a injustiça existente na sociedade humana, portanto, outra não é senão a salvação na pessoa de Cristo Jesus.

O homem, ao longo dos séculos, mesmo tendo percebido a injustiça que reina no relacionamento com o semelhante, tenta, inutilmente, criar mecanismos que, pelo menos, amenizem a injustiça, que tragam menos desigualdade social, mas todas estas iniciativas têm fracassado, como, por exemplo, o recente programa das Nações Unidas, o Desafio do Milênio, que pretendia erradicar a miséria absoluta do mundo nas duas primeiras décadas do século XXI e cujas metas, conforme afirmam os relatórios da ONU, têm sido um rotundo fracasso.

O problema da injustiça está no pecado do homem e este problema, embora tenha sido criado pelo ser humano, não pode, em absoluto, ser resolvido por ele.

– A segunda coisa inconveniente que surge na sociedade, em virtude do sentimento perverso, é a malícia, ou seja, a má intenção, o desejo de fazer mal a alguém.

O homem, dominado pelo sentimento perverso, nunca pensa em fazer bem ao próximo, mas somente a si próprio.

Desta maneira, acha que o próximo é sempre um competidor, alguém que lhe deseja mal e, por isso, também deseja o mal do próximo, procurando dele se aproveitar tão somente.

As más intenções são decisivas para o fracasso dos relacionamentos, pois não se estabelece o mínimo de confiança entre as pessoas, a impedir, então, que haja qualquer benefício para todos os envolvidos.

A malícia demonstra a falta de amor, pois, quem tem o amor divino, não é malicioso (I Co.13:4).

OBS: Na Versão Almeida Revista e Corrigida, após a iniquidade e antes da malícia, surge como efeito do sentimento perverso a “prostituição”, mas esta palavra não se encontra nos melhores manuscritos, tanto que foi retirada da Versão Almeida Revista e Atualizada, razão pela qual não tratamos dela.

– A terceira inconveniência mencionada pelo apóstolo e que gera a deterioração da vida social é a avareza, que o apóstolo considera como sendo idolatria (Cl.3:5 “in fine”).

Já naquela época, e muito mais nos nossos dias, onde o sistema econômico prevalecente é o capitalismo, os homens amam as riquezas, amor este que é raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10).

A avareza faz com que os homens amem mais o “ter” do que o “ser” e uma série de tragédias é o resultado direto desta mentalidade que põe as coisas e a posse de bens materiais acima do homem e da pessoa humana. Quantos não têm aviltado o próximo por causa das riquezas?

Quantos males não têm sido cometidos por causa da avareza?

– A avareza tem se manifestado, nos nossos dias, como consumismo desenfreado, que tem, inclusive, acometido muitos que se dizem servos do Senhor, mas que, ao porem a posse de bens materiais como prioridade em suas vidas, ao amarem as riquezas, negam esta submissão ao Senhor, pois Jesus foi bem claro ao dizer que quem ama as riquezas, não ama a Deus (Mt.6:24).

Infelizmente, se formos verificar, há muitos que, embora estejam dentro das quatro paredes das igrejas, há muito que não mais possuem o amor a Deus, preferindo antes amar os recursos financeiros que lhes advêm por causa das atividades eclesiásticas…

A quarta consequência do sentimento perverso é a maldade. Os homens, além de injustos, maliciosos e avarentos, também são maus, têm prazer em praticar o mal, em prejudicar o semelhante.

Quantos relatos não temos visto de pessoas que têm prazer em lesar o próximo? O ladrão não se dispõe apenas a roubar, mas também machuca, aleija ou mata a vítima.

As pessoas, imersas no pecado, só pensam em fazer o mal e sentem prazer em concretizar as suas imaginações perversas. Como nos dias de Noé, vemos que a “maldade do homem se multiplica sobre a terra e toda a imaginação dos pensamentos do seu coração é só má continuamente” (Gn.6:5).

Já desde a mais tenra idade, os homens têm sido ensinados a fazer o mal, como, aliás, têm sido abundantes os meios de comunicação de massa.

O homem, no pecado, é mau e, por ser mau, temos o aumento da criminalidade e da violência, pois os criminosos e violentos o são porque são maus, a exemplo de Caim (I Jo.3:12).

– O quinto efeito do sentimento perverso existente no homem sem Deus e em estado pecaminoso é a plenitude da inveja.

A maldade gera a inveja, na medida em que o homem, ao invés de se espelhar no sucesso do outro, prefere causar-lhe mal a fim de que o próximo venha a ter insucesso. Foi, precisamente, este o pensamento de Caim em relação a seu irmão Abel.

Rejeitando a recomendação divina para melhorar os seus caminhos, Caim preferiu matar o seu irmão, para que, desta maneira, o sucesso que o incomodava deixasse de existir.

A inveja, também, é produto da falta de amor divino no coração (cf. I Co.13:4) e, o que é pior, causa grande mal ao invejoso, inclusive males físicos (Pv.14:30b).

– A sexta coisa inconveniente gerada pelo sentimento perverso é o homicídio, que, como já salientamos, é resultado da conjugação da maldade e da inveja.

O homicídio é um dos mais nefandos crimes, pois é, a um só tempo, um gesto pelo qual o homem assume uma posição de rebeldia contra Deus, fazendo-se de dono da vida, algo que só o Senhor o é (cf. I Sm.2:6), como também faz desaparecer alguém que é imagem e semelhança de Deus, revelando, destarte, menosprezo por uma criatura excelente das mãos do Senhor.

Nos dias em que Paulo escreve esta carta, a crueldade romana era de todos conhecida, mormente quando se estava sob o nefando reinado de Nero, um dos mais impiedosos governantes que a história humana já teve, mas tal estado de coisas só piorou desde então e o século XX, aliás, é o século das maiores mortandades que já se fizeram durante os séculos, coisa que o século XXI, mal iniciado, já deu mostras de que irá suplantar.

Não nos esqueçamos, também, que o homicídio tem se alastrado de modo brutal através de práticas como o aborto, a eutanásia e, mais recentemente, as pesquisas com células-tronco embrionárias.

– A sétima inconveniência do sentimento perverso é a contenda, ou seja, a discórdia, o desacordo, a polêmica, o dissenso.

Em virtude do egoísmo e da maldade, os homens não se entendem, não são capazes de ceder e a discórdia reina em todo o lugar, seja na família, seja no trabalho, na escola ou, mesmo, nas disputas pelo controle do poder político.

Roma vivia da guerra e da conquista de outros povos e das lutas intestinas entre os seus próprios generais e exércitos, o que foi, inclusive, o início da sua derrocada. Onde Deus está ausente, reina a controvérsia e a disputa e, por isso, o salmista afirmou que onde há união, ali o Senhor ordena a vida e a bênção para sempre (Sl.133). O sentimento faccioso é uma das características mais proeminentes da ausência de Deus numa vida.

– A oitava coisa inconveniente decorrente do sentimento perverso é o engano ou dolo, ou seja, a má-fé, a vontade de enganar trazendo prejuízo ao próximo.

Como o homem é egoísta e quer levar vantagem em tudo, é imperioso que ele engane o semelhante, que, inclusive, se não fosse pelo engano, jamais beneficiaria o outro.

É por este motivo que os estelionatários, os “aplicadores de golpe” têm tanto sucesso numa sociedade pecaminosa.

Seu modo de vida é convencer as pessoas que estão levando vantagem sobre o próximo e, por causa disso, as pessoas praticam um determinado ato, quando, na verdade, estão sendo enganadas e quem leva a verdadeira vantagem é o “aplicador do golpe”.

Como já vimos, no pecado, os homens enganam e são enganados, indo sempre de mal a pior. Os homens encontram-se sob o império do diabo, que é o pai da mentira e, por isso, o engano e a mentira têm tanto sucesso e se tornam o “modus vivendi” da humanidade pecadora.

– Por fim, o nono efeito do sentimento perverso é a malignidade, que é a natureza má, o desejo incontrolado de fazer mal ao próximo.

O homem, completamente envolvido pelo pecado, não sossega enquanto não fizer mal a alguém, não tem “paz” enquanto não prejudicou o semelhante.

– Neste triste quadro, a humanidade passa a ver, em volta de si, uma série de comportamentos e de condutas que trazem enormes transtornos para a vida em sociedade. Por onde quer que andemos, entre as nações, veremos que os homens são:

a) difamadores, caluniadores ou detratores – os homens atacam e denigrem a honra alheia, a honra do semelhante, pouco se importando com o respeito ou a dignidade de quem está em volta de si.

b) aborrecedores ou aborrecidos de Deus – os homens odeiam a Deus e tudo fazem para menosprezá-l’O ou desmerecê-l’O. A rebeldia contra Deus assume formas cada vez mais ultrajantes, como os seguidos movimentos ateístas e o explícito satanismo crescente.

c) injuriadores ou insolentes – os homens não aceitam se submeter a regras ou mandamentos, contestando cada vez mais toda e qualquer autoridade ou lei.

d) soberbos – o orgulho, a soberba é uma tônica presente na humanidade perdida. Não aceitam submeter sua vontade a quem quer que seja, achando-se verdadeiros “deuses”, algo que, cada vez mais, é mais e mais explicitado e proclamado, como, por exemplo, pelo movimento Nova Era.

e) presunçosos – no seu orgulho, os homens são presunçosos, ou seja, presumem tudo saber e tudo entender, não vacilando em considerar que tudo o que foi revelado por Deus não passa de “fantasia” e “ilusão”.

f) inventores de males – os homens passam a achar que o mal é o bem e o bem, o mal e, por isso, inventam males, criam histórias e lendas para justificar suas posições rebeldes contra o Senhor.

g) desobedientes aos pais e às mães – na sua arrogância e soberba, os homens não respeitam mais os seus pais, considerando-os antes inimigos do que amigos, desprezando e desfazendo da instituição familiar. O conflito de gerações é, como se vê, coisa antiga e fonte de mais um desatino da humanidade perdida.

h) néscios ou insensatos – os homens não têm sensibilidade, são verdadeiramente ignorantes a respeito das coisas espirituais e, por isso, não conseguem discernir o que se passa pelo ponto-de-vista espiritual. Sem sensibilidade, são capazes das maiores atrocidades, sem que tenham um pingo de compaixão.

i) infiéis nos contratos ou pérfidos – os homens não honram seus compromissos, não têm palavra. São desleais, não entendem estar comprometidos com pessoa alguma. A palavra humana nada vale e a esperteza é a tônica dos negócios.

j) sem afeição natural – os homens não sentem afeto, pois não têm o amor de Deus. Veem nas pessoas apenas instrumentos para a satisfação dos seus interesses. Vale aqui a máxima de Disraeli quando dirigia os negócios britânicos: “A Inglaterra não tem amigos, tem interesses”. Isto tem um resultado particularmente trágico para a família, que tem na afeição a sua própria razão de ser, o que explica não só a falência desta instituição na civilização romana, mas, com muito mais razão, o estado de calamidade da sociedade de nossos dias.

l) sem misericórdia – não tendo amor nem afeto, os homens não têm misericórdia. Ninguém sente compaixão pelo outro nem desejo de fazer bem ao próximo. As pessoas que compreendem que devem beneficiar o semelhante são raridades, que, aliás, sempre enfrentam imensas dificuldades para conseguir concretizar seus objetivos. A falta de misericórdia é a tônica e, por isso, a humanidade sofre tanto com a ira de Deus, pois, ao não terem misericórdia para com o semelhante, semeiam a própria falta de misericórdia que receberão do Senhor no instante do juízo derradeiro.

OBS: A Versão Almeida Revista e Corrigida possui, também, entre as características do homem pecador a circunstância de ele ser “irreconciliável”, palavra, porém, que não se encontra nos melhores manuscritos e que, também, está ausente da Versão Almeida Revista e Atualizada, sendo este o motivo por que dela também aqui não tratamos.

– Estas características, embora já descrevessem com maestria o mundo romano de então, o mundo sobre o qual reinava Nero, é uma descrição extremamente atual.

Como diz R.N. Champlin, ao ler este capítulo, um chinês disse que Paulo não poderia ter escrito este texto, visto que isto deveria ter sido feito por alguém que tinha amplo conhecimento da China do tempo do leitor.

Todavia, esta descrição serve tanto para Roma, quanto para a China, ou para o Brasil, “…porquanto Paulo descrevia a natureza aviltada da raça humana inteira, quando se encontra afastada de Deus.…” (VHSMPLIN, R.N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, nota a Rm.1:31, v.3, p.586).

– Diante deste quadro real, mas lamentável e profundamente indigno, o apóstolo ainda faz questão de afirmar que o homem, embora saiba que quem comete tais coisas é digno de morte, não só faz tudo isto quando ainda aprova quem o faz (Rm.1:32).

O homem, no pecado, está totalmente envolvido numa atitude de rebeldia e de desafio contra Deus e, embora tenha consciência de que a prática de tais ações é apenada com a morte, não deixa de fazê-lo e ainda consente com quem faz.

É uma situação desgraçada, um estado altamente infeliz.

Este quadro poderia, porventura, ser revertido? E como ficam os filhos de Israel, que, afinal de contas, são descendentes de Abraão, que havia saído do meio das nações ao atender ao chamado do Senhor, sendo o primeiro submisso, para adotar aqui a nomenclatura dos muçulmanos, que surgiriam apenas cerca de seiscentos anos depois da epístola aos Romanos? A estas indagações, Paulo responderá na sequência desta epístola.

IV – A IMPENITÊNCIA DOS HOMENS

– Ao iniciar a parte dogmática da sua epístola, o apóstolo Paulo mostra que o homem está debaixo da ira divina porque é injusto e impiedoso.

A ira de Deus é uma reação, uma resposta a atitude rebelde do homem contra o Senhor, pois o homem desobedece aos preceitos divinos não por ignorância, mas por rebelião.

– No entanto, ao analisar a corrupção da humanidade, Paulo enfatiza a questão da idolatria, mal do qual os judeus se entendiam livres, o que não deixava de ser uma realidade, vez que, após o cativeiro da Babilônia, os judeus praticamente haviam banido a idolatria de sua nação, a revelar que havia sido este o propósito divino em tão grande e penoso juízo sobre Judá.

– Contudo, o apóstolo não tinha em mente senão expor a fé cristã e, para tanto, lhe era absolutamente necessário demonstrar que, no estado de corrupção da humanidade, também estavam incluídos os judeus, até porque, ao enunciar o tema de sua carta a igreja em Roma, já havia dito que o evangelho era o poder de Deus para a salvação tanto do judeu quanto do gentio (Rm.1:16).

– Os judeus achavam-se isentos desta realidade pecaminosa porque se sentiam filhos de Abraão, o homem que Deus havia escolhido, dentre as nações, para fazer um povo diferente(Gn.12:1-3), que seria propriedade peculiar de Deus entre os povos (Ex.19:5).

Esta mentalidade judaica fica evidenciada num dos debates ocorridos entre os judeus e o Senhor Jesus, onde os judeus invocaram a sua descendência de Abraão para se justificarem (Jo.8:33,41), ocasião em que Cristo deixou claro que a filiação biológica em nada alterava a condição pecaminosa da nação de Israel (Jo.8:34,44).

– O apóstolo, após dizer que são dignos de morte tanto as pessoas que pecam como as que aprovam o pecado, dirige-se aos que se acham justos aos seus próprios olhos (enfocando, portanto, em especial, os judeus).

Paulo, como se estivesse discutindo com alguém (é este modo retórico que Paulo utilizará ao longo da carta, como se costumava fazer nas obras dos grandes filósofos de seu tempo), indaga a quem se acha justo aos seus próprios olhos como ele poderia se considerar desculpado, isento de culpa, se ele, ao julgar os outros, demonstrava conhecimento do que é exigido por Deus.

– O apóstolo mostra, assim, que, quando nós julgamos o próximo, nós estamos nos julgando a nós mesmos, na medida em que, ao salientarmos o erro que existe na conduta do semelhante, estamos confessando que sabemos o que é o certo e o que é o errado e, deste modo, também acabamos nos condenando a nós mesmos, se não estivermos vivendo corretamente.

O apóstolo, uma vez mais, mostra que o homem peca não porque não saiba o que é o certo, mas porque recusa a praticar o que é o certo.

– Neste ponto, Martinho Lutero, ao comentar a epístola aos romanos, diz que a hipocrisia se constitui em um erro maior até que os piores pecados cometidos pelos gentios, hipocrisia a que Cristo havia se referido em Seu mais duro discurso de Seu ministério, relatado no capítulo 23 de Mateus, quando se dirigiu aos fariseus.

A hipocrisia consiste em saber o que é o certo e, no entanto, apesar de ensiná-lo, não o praticar (Mt.23:1-3).

OBS: “…O que é hipocrisia? É sermos desleais com os nossos próprios pensamentos e conosco mesmos ou com os outros; é pedir uma coisa, como fez Zacarias e querer receber outra. É falar uma coisa e fazer outra.

É fingir que somos o que, de fato, não somos, é falar o que não queremos ouvir, porém falamos para agradar alguém que achamos que nos é conveniente.

Como é difícil sermos irrepreensíveis aos princípios espirituais, enquanto estivermos na matéria.…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. O Cristo desconhecido dos judeus, da ciência, da história e até mesmo dos ‘cristãos’, p.58).

– De nada adianta, diz-nos o apóstolo, que saibamos intelectualmente o que é o certo e o que é o justo, se nós não o praticarmos, se não confirmamos com nossas ações o nosso conhecimento intelectual, pois o Senhor não analisa as intenções somente, mas se há a efetiva prática de tais condutas.

Isto é muito importante, porque, por vezes, muitos entendem que a epístola aos romanos é um belíssimo tratado teórico, desprendido da prática, o que se ressalta pelo fato de que, historicamente, foi a base da doutrina da justificação pela fé que levou à Reforma Protestante, mas jamais este texto destoou do que se encontra em todas as Escrituras, a saber, que o “juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem” (Rm.2:2).

As ações testemunham o que há no interior do homem, como, aliás, já havia ensinado o Senhor Jesus no sermão do monte (Mt.7:20).

– O homem é um ser que faz o mal, mostra-nos o apóstolo, independentemente de ser judeu ou gentio.

O fato é que o judeu, embora tenha conhecimento da lei de Moisés, embora saiba qual é a vontade de Deus de uma forma muito mais clara, explícita e profunda que os demais povos, cuja revelação divina limita-se à criação, também não vive de acordo com os mandamentos, também não faz aquilo que lhe é exigido.

Por isso, o apóstolo afirma que os conhecedores da lei divina também não escapam ao julgamento divino, uma vez que o juízo se dá por conta do que é praticado, do que é feito e não pelo conhecimento que este ou aquele tenha a respeito da lei.

– Esta é uma realidade que deve ser objeto de nossa reflexão ainda hoje. Muitos, ao lerem o texto sagrado, aproveitam para maldizer os judeus e todos aqueles que se apresentam como judaizantes, “enchendo a boca” para vociferar contra todos quantos querem, em plena época da graça, viver segundo a lei (tendência existente na história da igreja desde os tempos primitivos e que, no limiar destes últimos instantes da dispensação da graça, encontrou nova ressonância a partir do movimento sabatista originado nos Estados Unidos no século XIX e que, ultimamente, por diversos modos, tem se inserido em diversos movimentos e denominações ditos evangélicos na atualidade).

– Tal comportamento, porém, é tão tolo quanto o dos judaizantes, porque, ao assim procederem, estas pessoas estão, elas próprias, assinando a mesma sentença que proferem contra os legalistas.

Paulo deixa-nos claro que não podemos, jamais, fazer-nos justos a nós mesmos, julgando os outros e os considerando culpados, porque, se formos depender de nossas forças, fatalmente trilharemos o mesmo caminho da perdição. Ninguém que queira prevalecer pelas suas próprias forças pode escapar ao juízo divino.

É a isto que o apóstolo se refere, pois, quando julgamos os semelhantes, fazemo-nos de juízes, o que, como ensina Tiago, é algo absolutamente fora de propósito e que não pode ser feito pelo homem (Tg.4:11,12).

– O homem não é justo por si mesmo, não há como ele se justificar por intermédio de sua própria natureza, porque, ao julgar os outros, condena a si próprio, porque ele também não vive de acordo com o estabelecido pelo Senhor.

Quando nos comportamos como “santarrões”, nada mais somos do que “modernos fariseus”, que, por causa desta conduta, recebem a mesma censura e repugnância que Nosso Senhor demonstrou para com os fariseus do Seu tempo.

– Nas nossas igrejas locais, na atualidade, vemos muitos que se acham demasiadamente santos, acima do bem e do mal, com condições de julgar a este ou aquele.

Este comportamento farisaico não tem, como acham, a aprovação divina, mas, antes, é algo que é extremamente abominado pelo Senhor. Ninguém pode se dizer justo aos seus próprios olhos.

Ninguém pode considerar-se justo pelos seus próprios méritos. O apóstolo deixa bem claro, nesta passagem, que, quando julgamos os outros, condenamos a nós mesmos, pois também praticamos o mal e, como ensina Tiago, quando cometemos uma transgressão, transgredimos não um preceito, mas a totalidade do sistema legal (Tg.2:10).

– Dirão alguns que um argumento como este que estamos a analisar leva, necessariamente, a uma proibição da disciplina na igreja local, pois, se ninguém pode julgar a outrem, segue-se que nenhum crente pode ser disciplinado ou penalizado pelos demais irmãos da comunidade, pensamento, aliás, que tem encontrado muitos adeptos nos últimos tempos, que, talvez até por causa de brechas abertas por verdadeiras manifestações de ignorância em muitas igrejas locais, questionam a possibilidade de a igreja disciplinar seus membros.

– Todavia, não é assim que nos ensina a Bíblia Sagrada. Quando se fala em julgamento do semelhante, evidentemente não podemos nos arvorar em juízes e, assim, nos colocarmos em situação superior a qualquer outra pessoa, já que não somos justos, assim como justa não é a pessoa que é o alvo do nosso julgamento.

Diferente coisa se dá com relação à Igreja, que é o corpo de Cristo, cuja cabeça é o próprio Senhor.

A igreja, sim, pode julgar os seus membros, porque é o corpo do Senhor, a quem o próprio Deus destinou para julgar os vivos e os mortos (At.17:31), julgamento este que não é apenas o escatológico, mas que já começa pela casa de Deus (I Pe.4:17).

A igreja, portanto, tem este poder de aplicação da disciplina, que é uma manifestação do amor de Deus pelo Seu povo (Hb.12:5-11). Todas as ações tomadas pela Igreja são dirigidas pelo Espírito Santo (At.15:28) e, portanto, o julgamento que redunda em disciplina não é fruto da superioridade de homens, mas uma ação direta de Deus sobre o Seu povo.

– O julgamento a que o apóstolo se refere, pois, é um julgamento que parte do próprio homem, um julgamento que despreza a Deus, pois feito por alguém que está separado de Deus por causa do pecado (Is.59:2).

Tanto assim é que Paulo fala que quem assim julga está a desprezar as riquezas da benignidade, paciência e longanimidade de Deus, pois ignora que tais riquezas têm o propósito de levar o homem ao arrependimento (Rm.2:4).

– Verificamos, assim, que o juízo de Deus não se manifesta desde logo porque Deus não quer condenar o homem, mas Seu desejo é salvá-lo, o que somente se fará através do arrependimento.

Deus é um ser benigno, ou seja, que tem boa vontade para com o homem, como, por sinal, proclamaram os anjos quando glorificavam a Deus por ocasião do nascimento de Jesus (Lc.2:14).

Bem ao contrário, quem julga o semelhante está movido por malignidade, que é uma típica característica de quem está no pecado, como vimos na lição anterior (Rm.1:29).

– Pelas suas atitudes, o “santarrão”, o “moderno fariseu” em anda está a dever dos grandes pecadores que haviam sido mencionados no capítulo 1 de Romanos.

Tanto quanto aqueles, este não faz o bem, mas, sim, o mal, embora, na sua hipocrisia, esteja a condenar aqueles que fazem o mal.

Paulo dirige-se, como se vê, aos judeus que, ao condenarem em alto e bom som a idolatria, a perversão sexual e as imoralidades e injustiças praticadas pelos gentios, não se apresentam diante de Deus em melhores condições, uma vez que, embora estejam na cadeira de Moisés, condenando todas as transgressões dos gentios, também não fazem o bem, embora o conheçam muito bem, caindo, assim, na mesma condenação, pois o juízo de Deus é sobre o que é praticado, não sobre o que é falado ou conhecido intelectualmente.

– Não há solução para o homem a não ser que ele se arrependa dos seus pecados. Deus não age imediatamente porque é benigno e quer que o homem reconheça o seu estado pecaminoso e se arrependa, mudando, assim, a sua atitude para com Deus.

Este é o motivo pelo qual a maldade parece imperar, pelo qual o mal parece compensar. Embora tivesse descrito o estado lamentável de seu tempo, Paulo sabia que aquele estado não havia impedido de transformar Roma como o centro do mundo e a sede do poder.

O apóstolo sabia que, apesar dos horrendos pecados cometidos, tudo parecia muito bem. Quem sofria eram os cristãos, eram, precisamente, aqueles que haviam entendido o significado espiritual de todas aquelas práticas e haviam mudado de vida.

No entanto, para não cair na mesma tentação de Asafe que, ao ver a prosperidade dos ímpios, quase se desviou espiritualmente (cf. Sl.73), o apóstolo teve o devido discernimento espiritual para entender que esta aparente inércia divina é uma manifestação do Seu amor para com o homem.

Deus não agiu porque quer que o homem se arrependa e, por isso, por querer bem ao homem (benignidade), suporta os seus pecados por um tempo (paciência), por muito tempo (longanimidade), a fim de dar chance ao homem para se arrepender.

– Deus sempre agiu deste modo ao longo da história da humanidade. Quando determinou destruir a humanidade no dilúvio, fê-lo cem anos depois, que foi o tempo da construção da arca por Noé (cf Gn.5:32, 7:11 e I Pe.3:20).

De igual forma, somente destruiu, pelas mãos de Israel, os povos que primitivamente habitavam a Palestina depois de quatrocentos anos, quando se deu a completude da medida da sua injustiça (Gn.15:13-16), como também, somente despejará a Sua ira sobre a terra na Grande Tribulação (Ap.3:10) depois do longo período da graça de Deus, que já tem quase dois mil anos.

– O único caminho possível para se livrar da ira de Deus é o arrependimento, a mudança de atitude para com Deus, a mudança de mentalidade, de pensamento, a mudança de vida a partir do interior do homem. Foi, por isso, que a pregação de Cristo sempre foi esta: “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1:15).

– Quando, porém, não há arrependimento, quando o homem se firma em seus próprios conceitos, quando há dureza de coração, o resultado outro não é senão a morte, a eterna separação de Deus.

Quando o homem endurece seu coração à voz do Senhor, reserva para si um futuro sombrio, sela uma eternidade de definitiva separação do Senhor (Rm.2:5). Por isso, o salmista, repetido pelo escritor aos Hebreus, convida o homem a não endurecer o seu coração à voz do Senhor e, no tempo chamado hoje, mudar sua conduta, arrependendo-se dos seus pecados(Sl.95:7-1; Hb.3:15-19).

OBS: “…Ele [o apóstolo, observação nossa] não diz simplesmente: ‘Vocês receberão a ira’, mas ‘Vocês entesouram uma grande quantidade de ira, ou vocês armazenam para vocês mesmos uma completa e transbordante medida de ira’.

Disto nós aprendemos o que um coração endurecido é realmente, isto é, um coração que despreza a bondade, a paciência e a longanimidade de Deus.

Ele recebe inumeráveis bênçãos mas ainda comete pecados que não se podem contar e nunca pensa corrigir os seus caminhos maus.…” (LUTERO, Martinho. Commentary on Romans. Trad. J. Theodore Mueller, p.54) (tradução nossa de texto em inglês).

– Aqui reside a distinção entre aqueles que terão a vida eterna e o que não a terão. Que, com perseverança, fizer o bem, terá glória, honra e paz.

Aqueles que, porém, forem contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade, terão tribulação e angústia, independentemente de serem judeus ou gentios, pois, para Deus, não há acepção de pessoas (Rm.2:6-11).

– Neste ponto, encontram-se um dos pontos mais importantes da sã doutrina e que tanta dificuldade tem encontrado na mente de alguns, o que é até natural entender, vez que há uma incessante atividade do deus deste século para obnubilar a mente dos homens para que eles não cheguem ao conhecimento da verdade.

– Em primeiro lugar, verificamos que, ao contrário do que muitos chegam a defender, não há uma salvação para todos ao final dos tempos. Paulo é bem claro ao afirmar que uns terão glória, honra e paz e outros, tribulação e angústia.

Portanto, uns serão salvos e outros, perdidos.

– Em segundo lugar, vemos que a questão da salvação e da perdição não tem a ver com a bondade divina. O apóstolo deixa bem claro que Deus é benigno e que a Sua benignidade está demonstrada no fato de que Deus não procede ao julgamento de imediato, mas dá tempo ao homem para se arrepender. Portanto, o juízo divino é resultado direto da impenitência do homem, da sua dureza de coração, não da eventual ruindade de Deus.

– Em terceiro lugar, vemos que a ira de Deus se manifesta como retribuição, recompensa de acordo com as obras humanas.

As obras não são o motivo da salvação do homem, mas elas revelam a opção feita pelo homem em relação ao Senhor (Rm.2:6). As más obras são resultado da contenda do homem com Deus, ou seja, da rebeldia contra Deus, que faz com que o homem desobedeça à verdade e obedeça à injustiça, à iniquidade.

Quem pratica o bem, por sua vez, é alguém que agiu perseverantemente, ou seja, que, continuadamente não cessou de agir de acordo com a vontade do Senhor.

– Em quarto lugar, observamos que a morte eterna não é aniquilação do ímpio, nem cessação da sua existência, como chegam alguns a defender.

Pelo contrário, Paulo afirma que o ímpio, o impenitente, aquele que se recusa a obedecer ao Senhor não é alguém que deixará de existir, mas alguém que sofrerá tribulação e angústia eternas, ou seja, alguém que irá sofrer, não desaparecer (Rm.2:9).

– Em quinto lugar, o apóstolo mostra que tanto judeus quanto gentios estão condenados diante de Deus, pois diz que Deus julgará tanto os que não têm lei (gentios) quanto os que têm lei (judeus), indistintamente.

Não é o fato de se ter, ou não, lei que propiciará a salvação do homem, mas o julgamento se fará, segundo o critério de revelação dado por Deus, mas o “mérito da causa”, ou seja, o assunto que será objeto de julgamento não é a norma que deve ser aplicada, mas, sim, o que o homem fez, o que o homem praticou.

“Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rm.2:13).

– Deus pode julgar o homem, porque Ele é justo, algo, porém, que o homem não pode fazer. O homem não é justo, eis a conclusão a que chega o apóstolo, ainda que seja judeu e, como tal, submetido à lei.

Por ser justo, Deus não irá julgar os que não têm lei pela lei, pois isto seria injustiça, mas, como já adiantara no início do seu argumento, Paulo mostra que todos os homens têm condições e possibilidade de saber quem é Deus e o que Ele exige dos homens.

O apóstolo apresenta isto mais claramente em Rm.2:14,15, ao mostrar que a vontade de Deus não precisava estar inscrita nas tábuas trazidas por Moisés para ser conhecida do ser humano, uma vez que a lei divina está presente em cada coração, por intermédio da consciência, que é uma das faculdades do espírito humano, um dos componentes do ser humano (I Ts.5:23).

– Esta consciência, verdadeiro tribunal construído por Deus no interior de cada homem, testifica com ele o que é e o que não é da vontade do Senhor, o que é ou não é correto diante do Criador e é esta lei que será o critério de julgamento para aqueles que não conheceram a lei de Moisés, no dia do julgamento final (Rm.2:16).

– Resolve-se, aqui, portanto, uma das grandes discussões que se travam entre os estudiosos das Escrituras, qual seja, como se procederá o julgamento daqueles que nunca ouviram falar de Cristo Jesus durante suas existências terrenas, como, por exemplo, os índios que moravam no continente americano antes da chegada dos europeus aqui a partir de 1492.

Tais pessoas, que nunca tiveram acesso a lei de Moisés ou ao Evangelho, serão julgados conforme a revelação que tiveram de Deus através da criação e da sua consciência. Deus é o justo juiz (Jr.11:20; II Tm.4:8) e, por isso, não julgaria sob idênticos critérios quem teve distintas revelações.

Nós, porém, que já tivemos conhecimento do Evangelho, não nos preocupemos com os demais, mas, antes, saibamos que, se não crermos em Cristo Jesus, estaremos irremediavelmente perdidos.

V – O FRACASSO ESPIRITUAL DOS JUDEUS

– Mas os judeus, descendentes biológicos de Abraão, estão também imersos no pecado, apesar de sua origem tão nobre? Paulo responde que sim, para espanto dos filhos de Israel, que, em certa medida, até hoje deploram e consideram o apóstolo como um traidor da nação.

– Os judeus entendem que a lei lhes garante a salvação, pois a lei, sendo a manifestação da justiça divina, tem condições de levá-los uma vida de comunhão com o seu Deus, a quem chamam de Pai (cf. Jo.8:41).

Porém, o apóstolo, reproduzindo aqui ensinos de Cristo a este respeito, como se vê nos evangelhos, mostra claramente que a lei é incapaz de garantir a salvação para os judeus e que eles, assim como os gentios, estão sob o domínio do pecado, necessitando de justificação, o que somente se alcançará na pessoa bendita de Jesus Cristo, o Messias que veio ao mundo para extinguir a transgressão e expiar a iniquidade do povo judeu (Dn.9:24; Mt.1:21).

– O primeiro ponto aludido pelo apóstolo diz respeito ao fato de que o judeu conhece a vontade de Deus, porque esta lhe foi revelada pela lei. Ao ser instruído pela lei, o judeu não somente conhece a vontade divina, como aprova as coisas excelentes (Rm.2:18).

– Este conhecimento de Deus, porém, não faz com que o judeu tenha desejo em servir ao Senhor, mas, ao contrário, gera no judeu uma autoconfiança, um sentimento de que se é justo.

O judeu, então, passa a se considerar “guia dos cegos”, “instruidor dos néscios”, “mestre de crianças”, “detentor da forma e da verdade na lei”.

Esta soberba, contudo, ao invés de ser demonstração da espiritualidade, é uma prova de que o judeu, apesar do conhecimento intelectual da lei, também é um pecador que precisa se arrepender e ser justificado por Cristo Jesus.

– A lei, Paulo não duvida, é a vontade de Deus, mas o judeu, embriagado pelo fato de ter sido escolhido para ser o povo que, como propriedade peculiar de Deus, teve a oportunidade singular de ter revelada a lei a si, esquece-se de sua pequenez e, de forma tola, engrandece-se por causa da lei, não verificando que a lei é antes um encargo, uma responsabilidade do que um motivo de autoglorificação.

– Este mesmo comportamento que vemos no judeu, contemplamos, para nossa tristeza, em muitos crentes na atualidade. A igreja, é bem verdade, não recebeu a lei de Moisés, mas, mais do que a lei, é fruto da graça de Deus e, por isso, temos de ter ainda mais consciência do nosso imerecimento e da grandeza da benignidade divina ao nos propiciar a salvação na pessoa de Jesus Cristo.

– Entretanto, muitos, ao invés de serem agradecidos a Deus e submissos à Sua vontade, passam a enxergar na salvação que receberam uma fonte de “direitos”, de “privilégios” e, por causa disto, vangloriam-se e se acham em condições de fazer “exigências” diante de Deus ou de rechear a sua vida espiritual de “determinações”, “declarações”, como se fossem alguém, como se tivessem méritos próprios.

A exemplo dos judeus mencionados por Paulo, arvoram-se em “guias de cegos”, “mestres”, conduta que somente demonstram que se encontram fora da vontade do Senhor e já não mais compartilham da videira verdadeira.

– É muito preocupante a situação daquele que se acha dono de si e, por causa da benignidade divina, põe-se na condição de mestre.

Jesus recriminou esta conduta em Mt.23:8, por ser um comportamento típico dos fariseus.

Dizendo que não deveríamos nos achar mestres nem assim querer ser tratados, pois isto demonstra um sentimento de autojustiça que é incompatível com quem se considerou pecador e reconhece a necessidade de se arrepender para ter comunhão com Deus.

Por isso, esta autoexaltação que campeia dentro das fileiras dos crentes deve ser repelida com veemência, pois é uma conduta que não pode conviver com a condição do salvo.

– O problema do que se considera justo aos seus próprios olhos é que se encontra cego, uma vez que ensina o que é correto para os outros, mas não consegue enxergar o seu próprio pecado, estando naquela situação denunciada pelo Senhor no sermão do monte, qual seja, a de que consegue ver o argueiro no olho do próximo, mas não percebe a trave no seu próprio olho(Mt.7:1-5).

Israel condenava todas as nações por sua impiedade, mas ele próprio também pecava e, no seu pecado, rejeitou o Messias que lhe havia sido enviado (Jo.1:11).

Assim também os “moralistas” dos nossos dias padecem do mesmo mal e sofrerão a mesma condenação.

Que Deus nos guarde! (para aqui relembrar conhecido poema de Gregório de Matos Guerra, grande poeta brasileiro, a respeito da hipocrisia).

OBS: Por ser absolutamente pertinente, transcrevemos aqui o poema “Anjo bento”, de Gregório de Matos Guerra, que bem descreve os hipócritas:

ANJO BENTO

Gregório de Matos Guerra

Destes que campam no mundo

Sem ter engenho profundo,

E, entre gabos dos amigos,

Os vemos em papa-figos,

Sem tempestade, nem vento:

Anjo bento!

De quem com letras secretas

tudo o que alcança é por tretas,

Baculejando sem pejo,

Por matar o seu desejo,

Desde a manhã té à tarde:

Deus me guarde!

Do que passeia farfante,

Muito prezado de amante,

Por fora luvas, galões,

Insígnias, armas, bastões,

Por dentro pão bolorento:

Anjo bento!

Destes beatos fingidos,

Cabisbaixos, encolhidos,

Por dentro fatais maganos,

Sendo nas caras uns Janos,

Que fazem do vício alarde:

Deus me guarde!

Que vejamos teso andar

Quem mal sabe engatinhar,

Muito inteiro e presumido,

ficando o outro abatido

Com maior merecimento:

Anjo bento!

Destes avaros mofinos,

Que põem na mesa pepinos,

De toda a iguaria isenta,

Com seu limão e pimenta,

Porque diz que o queima arde:

Deus me guarde!

– Notamos, pois, que o apóstolo está nos mostrando que o cumprimento da lei por parte dos judeus não deveria algo exterior, meramente formal, mas, muito pelo contrário, abrangia uma dimensão interna.

Os judeus cumpririam a lei não apenas se satisfizessem o lado externo dos mandamentos, mas, sobretudo, se atentassem para o “espírito da lei”, ou seja, para o profundo significado trazido pela lei de Moisés, para a sua essência, que se resume na máxima “tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós”(Mt.7:12), a chamada “regra de ouro”.

– Jesus, durante todo o Seu ministério, sempre enfatizou o âmago da lei, o seu sentido, o seu significado, significado, muitas vezes, que contradizia as tradições e o formalismo vigorante no Seu tempo.

Assim, por exemplo, quando curou enfermos no sábado, fez questão de mostrar que estas curas não contrariavam a lei, mas, antes, estavam plenamente concordes com o espírito e o significado da lei (cf. Lc.13:10-17, v.g.).

Por isso, aliás, no sermão do monte, disse que a justiça dos Seus discípulos deveria exceder a dos escribas e fariseus, ou seja, tinha de haver um cumprimento pleno e completo, que começasse do interior do homem e não apenas uma aparência exterior (Mt.5:20), algo, aliás, que já era proclamado pelos profetas em nome do Senhor no Antigo Testamento (Is.58:5,6; Zc.7).

– No entanto, os judeus não procederam desta forma, mas, achando que cumpririam a lei tão somente pela aparência exterior, passaram a cometer abominações tanto quanto os gentios, ainda que não em tão explícito e desmedido grau, grau este que era mais visível no tocante aos gentios por causa da idolatria.

No entanto, não era pelo fato de se ter uma sutileza maior no pecado dos judeus que eles estariam impunes aos olhos do Senhor, olhos que tudo contemplam, inclusive os corações dos homens (Sl.33:14,15).

– O apóstolo não titubeia em informar os judeus que, embora eles ensinassem da cátedra de Moisés o que era o correto, estavam a praticar o que não convinha.

Ensinavam os outros, mas a si mesmos não ensinavam, tanto que seus ensinos não mais causavam admiração da multidão, como causaram os de Jesus, pois o Senhor tinha autoridade, vivia o que pregava, ao contrário dos demais (Mt.7:28,29).

Será que muitos professores de EBD se encontram na mesma condenação? Que Deus nos guarde!

– Pregavam que não deveriam furtar, mas o faziam, seja quando negavam aquilo que era do Senhor (cf. Ml.3:8), seja no interior dos seus corações, como explana Martinho Lutero, ou seja, tinham desejo de furtar e só não o faziam por falta de oportunidade (quando não o faziam às escondidas), o que nos lembra velho dito popular: “a ocasião faz o ladrão”. Um exemplo de furto aprovado pelos judeus temos no episódio conhecido como a “tradição dos anciãos” em que Jesus censura um costume judaico de negativa de ajuda aos pais com algum recurso financeiro que tivesse sido prometido como oferta voluntária ao Senhor, que retirava o que era devido aos pais consoante o segundo mandamento (cf. Mt.15:5).

– Nos dias em que vivemos, então, dias em que impera o sistema capitalista, dias em que o amor do dinheiro é tão presente, quantos não têm furtado e, inclusive, com aprovação dos costumes que, indevidamente, invalidam a Palavra de Deus nas nossas igrejas?

Quantos não têm feito dos crentes negócio com palavras fingidas (cf.II Pe.2:3)? Quanto não tem sido desviado do que é arrecadado para a obra do Senhor?

– Os mesmos que ensinavam que não se deve adulterar, adulteravam. Como Jesus mesmo explanou, o adultério não se dava apenas com a conjunção carnal de um casado com quem não fosse seu cônjuge, mas na simples cobiça, no simples pensamento da mulher alheia (Mt.5:28).

Quantos, nos nossos dias, não procedem do mesmo modo? Ensinam que não deve haver adultério, mas cobiçam o que não é seu cônjuge? E o que dizer do chamado “adultério virtual”, que campeia na internet?

Os escândalos morais, cada vez mais frequentes nas igrejas locais, para nossa tristeza, mostram como muitos se comportam na mesma medida dos judeus dos tempos de Paulo.

– Quantos, também, não fazem grandes e eloquentes mensagens contra a idolatria, mas querem ser idolatrados pelos homens?

Quantos não vociferam contra a idolatria, mas, ao mesmo tempo, se aproveitam dos ídolos ou da idolatria (que é o significado de “cometer sacrilégio”, na Versão Almeida Revista e Corrigida, que, na NVI é “roubar-lhes os templos” ou “roubas os templos”, na Tradução Brasileira)?

OBS: “ Possivelmente Paulo tem em mente um incidente como aquele que ocorreu em 19 d.C. Quatro judeus, chefiados por um que se designou como mestre na fé judaica para os gentios, persuadiram uma nobre senhora a fazer uma grande contribuição para o templo de Jerusalém. Eles, porém, ficaram com tal oferta para uso próprio. Quando isso se tornou conhecido, Tibério [o segundo imperador romano, cf. Lc.3:1, observação nossa] mandou embora todos os judeus de Roma.” (Bíblia Shedd, nota a Rm.2.22, p.1586).

– Quem assim age, vivendo hipocritamente, embora se glorie na lei, diz o apóstolo, na verdade, desonra a Deus na própria lei e, como desonra a Deus, não poderá receber do Senhor a honra que é prometida àqueles que O servem em sinceridade (cf. Rm.2:7).

Aliás, aqui se encontra o significado da “sinceridade”, ou seja, de ser “sin cera”, isto é, “sem cera”, expressão latina que demonstrava a autenticidade, a veracidade de propósitos, já que era comum que algum vaso que apresentasse alguma rachadura ou defeito, tivesse, por inescrupulosos comerciantes, escondidas estas rachaduras ou defeitos com cera, de modo a que aparentassem ser sem defeito, quando, na verdade, não o eram.

De igual forma, os judeus, aparentando uma espiritualidade que não possuíam, desonravam a Deus, vez que descumpriam, desde o íntimo de seus corações, a lei, embora, por vezes, exteriormente aparentassem ser santos.

– O resultado da hipocrisia é a blasfêmia do nome de Deus perante os gentios (Rm.2:24). Ao não viver aquilo que pregam, os judeus deram motivo para que houvesse estímulo à desonra e que o nome do Senhor fosse blasfemado perante os gentios (Is.52:5; Ez.36:20).

O que ocorreu com os judeus, também ocorre com a igreja, pois, assim como o nome do Senhor é glorificado pelas nossas boas obras (Mt.5:16), igualmente é blasfemado quando formos instrumentos de escândalo (Mt.18:7).

Não é sem motivo, pois, que o Senhor Se indigna com quem assim vive.

– O importante da lei, portanto, diz o apóstolo, não é a sua aparência exterior, mas, ao revés, a sua dimensão interior (Rm.2:25-29).

A circuncisão, símbolo externo máximo de integração do judeu entre os descendentes de Abraão, não vale pelo ritual, pelo aspecto externo, mas, sim, pela existência de uma fidelidade interior, o que os profetas já chamavam de “circuncisão de coração” (Dt.10:16; Jr.4:4).

– Se isto já era assim no tempo da lei, em que predominavam a sombra e a figura do futuro (Cl.2:17), que diremos do tempo da igreja, da dispensação da graça, onde tudo é claro e foi revelado de modo pleno na pessoa de Cristo Jesus?

Mesmo assim, são muitos os que acham que a aparência exterior é a tônica da vida espiritual, o que, à evidência, não é o que ensina a Bíblia Sagrada, que nos mostra, a começar da epístola aos romanos, que não é o exterior o ponto de partida da transformação do homem, mas, sim, o interior.

A santificação inicia-se pelo espírito e atinge, por fim, o corpo, como nos mostra a sequência de I Ts.5:23.

– A “circuncisão de coração” caracteriza-se por ser proveniente de Deus e não dos homens (Rm.2:29).

O verdadeiro louvor não é do homem para si mesmo, não é a autojustificação, não é o reconhecimento de méritos próprios, mas, bem ao contrário, é o resultado de uma ação divina sobre o homem, que retorna a Deus, por intermédio do homem. O verdadeiro salvo é aquele que reconhece que nada é, que tudo deve a Deus e que honra a Deus, adorando-O e Lhe dando graças por causa da sua salvação.

Coisa bem diversa que era feita pelos judeus que, embora se gloriassem na lei, não a cumpriam, substituindo-se a Deus na sua glorificação, que era, na verdade, uma autoglorificação, uma auto-exaltação, o que não é tolerada pelo Senhor e cujo resultado era o mesmo que o do comportamento explicitamente pecaminoso dos gentios.

– Na atualidade, muitos continuam a achar que a salvação se dá no exterior. É o entendimento, por exemplo, de quem entende que o batismo nas águas perdoa os pecados, tese defendida pelos chamados “sacramentalistas”, tendo a Igreja Romana à frente, mas que também é a opinião de muitos segmentos religiosos que se dizem evangélicos e que procuram, inclusive, fazer um paralelo entre o significado da circuncisão na antiga aliança e o do batismo nas águas na nova aliança.

Se admitirmos este paralelo, vemos, neste texto da epístola aos romanos, que a circuncisão não é a do exterior, mas a do interior.

Assim, o batismo nas águas, embora seja uma ordenança de Nosso Senhor Jesus Cristo, e, portanto, absolutamente necessária para quem realmente está salvo, não é um ato que define a salvação de alguém ou que produz o perdão dos pecados, como se ensina erroneamente, mas, bem ao contrário, é um ato exterior pelo qual a pessoa mostra publicamente o que já aconteceu no seu interior, ou seja, o arrependimento dos pecados e a regeneração, algo que é feito por ato sobrenatural, o novo nascimento, o nascimento da água e do Espírito (Jo.3:5).

É por este motivo que Filipe disse ao eunuco que o batismo dele só seria lícito se havia tivesse crido de todo o seu coração (At.8:37).

Como muito bem asseverou, recentemente, um participante da Sala dos Professores do Portal Escola Dominical, o batismo é para o salvo e não para a salvação.

– Os judeus, portanto, haviam fracassado espiritualmente, pois não haviam reconhecido que a justiça estava em Deus e não neles, que, ao se dizerem cumpridores da lei, por mera aparência exterior, deixavam de reconhecer a justiça divina e, por isso, não poderiam jamais alcançar o favor divino.

– Mesmo destino tem os que acham que possuem méritos próprios por causa da sua religiosidade, por causa da sua condição espiritual. A exemplo dos judeus dos tempos de Paulo, também estes fracassaram espiritualmente, pois não é possível construir uma justiça baseada no homem e não em Deus.

Por isso, devemos ter muito cuidado com algumas concepções que reconhecem em méritos por parte do homem, mesmo do salvo, pois somos salvos pela graça de Deus e, depois da salvação, continuamos sendo objeto da graça do Senhor, nada merecendo, apesar dos falsos ensinos em sentido contrário, principalmente os advindos da chamada “doutrina da confissão positiva”. Que nossas palavras sejam sempre as do cantor sacro:

“De Tua graça, ó Meu amado, sou contínuo devedor; mais e mais a Ti me atrai, pelo Seu imenso amor. Sou ingrato e bem conheço, peço, Meu Senhor, perdão. Tira-me do vil pecado, rege Tu meu coração” (3ª estrofe do hino 181 da Harpa Cristã).

VI – A JUSTIÇA DE DEUS

– Diante, então, do que Paulo disse, poderia alguém argumentar: então qual seria o privilégio de ser judeu?

Como, então, explicar que Israel fosse o povo escolhido de Deus? Qual a vantagem, poderíamos nós, então, também perguntar, de se pertencer ao Israel de Deus (cf. Gl.6:16), que é a Sua igreja, na atual dispensação?

– O apóstolo, que, mesmo após sua conversão, jamais renegou a sua descendência biológica israelita, da qual tinha muito orgulho (cf. Rm.11:1, de modo que é extremamente injusta e inadequada muitas das críticas que o judaísmo faz a Paulo até o dia de hoje), não poderia deixar sem resposta esta pergunta que, naturalmente, surge quando da constatação de que os judeus estão, também, debaixo do poder do pecado e dependendo de justificação, apesar da lei.

– Paulo, em primeiro lugar, faz questão de ressaltar que o judeu pode, mesmo, considerar-se povo escolhido porque Deus quis Se revelar de uma forma mais profunda a Israel e não a outro povo.

Não que isto significasse que houvesse algum mérito em Israel, como, aliás, disse com todas as letras ao povo o próprio Moisés, quando repetia a lei pouco antes de passar o comando a Josué (cf. Dt.7:6-8).

Assim, o fato de terem sido escolhido dentre os povos por Deus é uma prova do amor que Deus tem para com eles, o que já é um grande privilégio que deve ser cultivado e reconhecido pelos israelitas.

– Em segundo lugar, o apóstolo mostra que, ao amar Israel e propor um pacto com ele, Deus Se comprometeu com este povo e, como Ele é fiel, Seu compromisso em nada fica comprometido pelo fato de alguns se tornarem incrédulos. A fidelidade de Deus não se abala por causa da incredulidade do homem, salienta Paulo (Rm.3:3). Deus é fiel e se nós formos infiéis, Ele permanecerá fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13).

– A fidelidade de Deus é uma garantia que temos para prosseguirmos a nossa jornada espiritual.

Deus não muda, n’Ele não há sombra de variação (Tg.1:17) e, por isso, podemos confiar n’Ele apesar de todas as adversidades que venhamos a enfrentar neste mundo. Mas, ao lado da fidelidade divina, deve haver, por parte do homem, credulidade, ou seja, fé.

O apóstolo aqui, uma vez mais, mostra que o segredo para a vitória espiritual do homem está na fé em Deus. O que faz com que os judeus tenham fracasso espiritualmente? A incredulidade deles.

– Com a igreja não é diferente. A fé também é necessária para que alcancemos a vitória espiritual.

Assim como os judeus e os gentios naufragaram espiritualmente porque não creram em Deus, os crentes também o farão caso deixem de crer em Deus. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).

Quando cremos, então passamos a perseverar em fazer o bem e, portanto, alcançaremos a glória, honra e paz que nos foram prometidas pelo Senhor (cf. Rm.2:7).

– Os judeus falharam, portanto, porque não creram em Deus, apesar de Ele lhes ter confiado a lei em “primeira mão” dentre os povos da Terra.

Deus sempre é verdadeiro e o homem, mentiroso, diz o apóstolo, relembrando aqui a expressão do salmista que considerou como vaidade os homens de classe baixa e mentira, os homens de classe elevada, que, juntos, nada representariam diante de Deus (Sl.62:9), o que também nos remete a outra expressão, desta feita do profeta Isaías, que dizia que todas as nações reunidas eram menos do que nada para o Senhor (Is.40:23).

– O caminho da vitória do homem está, portanto, em reconhecer que a justiça provém de Deus, é qualidade inerente a Deus. Somente assim, quando buscarmos a justiça em Deus, quando reconhecermos que nada somos (ou melhor, que somos menos do que nada), teremos condições de alcançar a justificação e vencermos espiritualmente, conseguindo, no juízo divino, obtermos a absolvição.

– A salvação do homem, a obtenção do estado de justiça, portanto, não está no homem, não está naquilo que possa vir a fazer ou pensar, mas, antes, está na atitude que ele tomar em relação a Deus.

Ele tem de reconhecer que deve ser justificado, ou seja, tornado justo. Ora, só reconhece que deve ser justificado, deve ser tornado justo quando se reconhece que ainda não se é justo. Percebemos, então, a diferença que existe entre o homem que alcança o favor divino e aquele que se autojustifica.

Enquanto nós nos acharmos justos, enquanto nós considerarmos que somos certos e que não precisamos mudar, sejamos judeus ou gentios, estaremos longe da vitória, longe da absolvição perante o juízo divino.

Mas, a partir do instante que reconhecermos que nada somos, aí, sim, poderemos ter a justificação e a vitória diante do Justo Juiz.

– Assim, de forma paradoxal, quando reconhecemos a nossa injustiça estamos perto de receber a justiça divina. A partir do instante em que admitimos a nossa injustiça, temos condições para sermos declarados justos por Deus.

A mentira do homem, portanto, dá lugar à verdade de Deus e, por este motivo, terei motivos para glorificar a Deus e Lhe agradecer, atitudes que, como vimos na lição 1, não são próprias daqueles que desprezam a Deus.

– Deus é justo, diz o apóstolo, mas, por isto mesmo, o homem é injusto. Todos estão debaixo do pecado.

“Não há um justo, nem um sequer” (Rm.3:10). Esta afirmação do apóstolo é cristalina e representa o âmago de todo o plano divino para a salvação.

– Mentem, pois, todos aqueles que defendem que o homem pode, por si só, alcançar a justiça.

Quando o apóstolo afirma que não há um justo sequer, inclui aqui tanto vivos quanto mortos, até porque, para Deus, como Jesus ensinou aos saduceus, não há mortos (Mc.12:27: Lc.20:38).

Sem razão, portanto, todos quantos defendem a ideia de que a evolução espiritual é conquistada pelo próprio homem, ainda que em supostas diversas vidas, com o auxílio de “espíritos evoluídos” ou “espíritos iluminados”, como é o caso dos kardecistas, hinduístas, budistas e outras crenças muito em voga na atualidade e que tem raízes nestes credos.

A Bíblia é bem clara: nenhum homem pode justificar a si próprio, ninguém busca a Deus por sua livre e espontânea vontade ou iniciativa.

– O apóstolo verifica, uma vez mais, como se comportam os homens debaixo do sol e observa que, quer sejam judeus, quer sejam gentios, não há a prática do bem, mas tão só inutilidade espiritual, tão só o reino da injustiça e da impiedade (Rm.3:12). Senão vejamos:

a) sua garganta é um sepulcro aberto (Rm.3:13a) – os homens usam a sua capacidade de falar para dizer obscenidades, imoralidades, para mentir e enganar.

b) com as suas línguas tratam enganosamente, peçonha de áspides está debaixo de seus lábios (Rm.3:13b) – como dissemos, o homem usa sua capacidade de comunicação para matar o próximo, para promover e disseminar a mentira, para lesar o semelhante. A língua é o fogo consumidor de que fala Tiago (Tg.3:2-12) e, por isso, os homens são réus de morte (Mt.5:22).

c) boca cheia de maldição e amargura (Rm.3:14) – como a boca fala daquilo que o coração está cheio (Mc.7:14-23), a boca do homem no pecado só poderia estar cheia de maldição, pois os corações são maus, bem assim de amargura, pois o homem pecador é ressentido contra Deus e este ressentimento se mostra como uma amargura espiritual profunda.

d) os seus pés são ligeiros para derramar sangue (Rm.3:15) – os homens pecadores são homicidas.

Já vimos que o homicídio é uma característica presente no mundo depravado da humanidade perdida, mas não nos esqueçamos de que homicida não é apenas aquele que mata o corpo, mas também aquele que atinge a alma e o espírito, como o detrator e o difamador, como Jesus deixa claro no sermão do monte.

Sendo filhos do diabo, os pecadores desobedientes fazem o trabalho do seu pai, qual seja, matar, roubar e destruir (Jo.10:10).

e) em seus caminhos há destruição e miséria (Rm.3:16) – nem poderia ser diferente. Como acabamos de ver, estão a serviço do inimigo das nossas almas e, além disso, abandonam e rejeitam as riquezas da benignidade, paciência e longanimidade de Deus (Rm.2:4), de forma que se encontram em estado mesmo de miséria.

Observemos, porém, que, a exemplo da igreja de Laodicéia, embora sejam miseráveis, os homens no pecado se acham ricos e sem falta de coisa alguma da parte de Deus (Ap.3:17).

É por isso que são bem-aventurados os pobres de espírito, ou seja, aqueles que reconhecem sua pobreza e, por isso, chegam até a presença do Senhor para ser enriquecidos (cf. Mt.5:3).

f) não conheceram o caminho da paz (Rm.3:17) – o caminho da paz é o caminho da comunhão com Deus, mas o homem pecador não sai da sua posição apartada de Deus, não tem paz com Deus, vive em contenda contra Ele, por isso, mesmo, não pode, mesmo, trilhar o caminho da paz, nem tampouco conhecê-lo.

g) não há temor de Deus diante de seus olhos (Rm.3:18) – a sétima demonstração da lamentável situação em que se encontra o homem é o fato de não ter ele temor de Deus diante dos seus olhos.

O homem pecador é cego, não consegue ver a glória de Deus, está cegado pelo inimigo de nossas almas (II Co.4:4).

Não podendo ver o Sol da justiça, prossegue nos seus delitos e pecados, prossegue andando nas trevas, visto que as trevas não denunciam as suas más obras (Jo.3:19,20).

– Judeus e gentios estão encerrados debaixo da mesma maldição. Todos estão debaixo do pecado e ninguém pode clamar qualquer justiça diante de Deus, que há de julgar o mundo.

Mesmo os judeus, se receberam a lei da parte de Deus, receberam-na mas não a observam e a lei só serve para condená-los juntamente com os gentios que, mesmo sem lei, são condenados igualmente por sua conduta desonrosa (Rm.3:19,20).

– Deus é justo, diz o apóstolo e, por isso, ante este estado lamentável do ser humano, cuja descrição feita por Paulo é realmente de uma miséria espiritual absoluta (cfr. Rm.3:13-18), vemos que a situação do homem é sem solução. O homem está condenado, não tem saída. Como, então, poderá ser justificado? É o que veremos na próxima lição.

Caramuru Afonso Francisco

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