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LIÇÃO 2 – A SUPERIORIDADE DA MENSAGEM DA CRUZ

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O apóstolo Paulo sempre fez questão de mostrar que a mensagem da cruz era a essência de sua pregação.

INTRODUÇÃO

Após termos visto que a igreja em Corinto era fervorosa mas não espiritual, analisaremos, nesta lição, outro dos “problemas essenciais” da igreja em Corinto e que geravam todas as questões que haviam sido levadas ao apóstolo, a saber: o menosprezo da mensagem da cruz.

Em nossos dias, além da carnalidade, a igreja que está na iminência do arrebatamento, assim como a igreja em Corinto, não dá o devido e necessário valor à “mensagem da cruz”, a essência de toda pregação do Evangelho.

I – A MENSAGEM DA CRUZ É A ESSÊNCIA DA PREGAÇÃO DO EVANGELHO

Dentro de seu didatismo que é exemplar e habitual, nosso comentarista está a analisar os problemas da igreja em Corinto, que são os problemas da Igreja em nossos dias (notodamente da igreja pentecostal), segundo uma ordem lógica, ou seja, analisando a Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, verificou quais os “problemas essenciais”, ou seja, quais as mazelas principais e mais importantes que estavam prejudicando a vida espiritual dos coríntios.

Assim, em vez de seguir uma linha automática em relação ao texto da epístola, preferiu apontar os problemas mais importantes, que geravam os outros. Por isso, iniciamos o estudo pelo capítulo 3, onde o apóstolo aponta a carnalidade dos crentes de Corinto, uma vez que a carnalidade é um destes “problemas essenciais”, que será o responsável pelo surgimento de outros ao longo da epístola, como a imoralidade (tema da lição 5) e as demandas judiciais entre irmãos (tema da lição 6), v.g.

Seguindo esta mesma linha, nosso comentarista analisa, nesta lição, os capítulos 1 e 2 da epístola, quando o apóstolo vai apontar outro destes “problemas essenciais”, a saber: o menosprezo à mensagem da cruz, que era a verdadeira origem de outros problemas que tratará na epístola, como o partidarismo (tema da lição 3) ou as dúvidas concernentes à ressurreição (tema da lição 11).

Após ter se apresentado à igreja em Corinto como também apresentado os destinatários da carta, Paulo dá notícia de que familiares de Cloé lhe haviam dado um quadro altamente desfavorável da igreja, mencionando haver um partidarismo inaceitável (o que estudaremos na próxima lição).

Ao denunciar este problema, Paulo, de imediato, mostra sua discordância com este estado de coisas, apesar de haver ali os “partidários de Paulo” (I Co.1:12), mas, antes de tratar desta questão, mostra que isto se dava porque, antes, os coríntios haviam se deixado vencer por dois outros problemas mais sérios: a carnalidade (já tratada na lição anterior) e o menosprezo à mensagem da cruz, que é o tema de que trataremos nesta lição.

Negando qualquer papel importante na evangelização da igreja de Corinto, não aceitando, como muitos líderes atualmente o fazem, qualquer relevância na obra do Senhor, Paulo afirmou que havia sido chamado para evangelizar e que a evangelização não se dava em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo não se fizesse vã (I Co.2:17), acrescentando, ainda, que “a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas, para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (I Co.2:18).

O que se nota, de pronto, é que Paulo sintetizou a evangelização como sendo a divulgação da palavra da cruz. O ponto central do Evangelho, pois, é a palavra da cruz, ou seja, a cruz de Cristo era a essência da sua mensagem, é a essência da pregação do Evangelho.

Não será esta a única oportunidade em que o apóstolo vá dizer que o núcleo de sua mensagem é a “cruz de Cristo”, ou seja, que o Evangelho é a notícia de que Jesus veio ao mundo para morrer pelos pecadores e que Seu sacrifício efetivamente salva a humanidade, sendo prova disto o fato de que ressuscitou dos mortos e está agora assentado à direita de Deus.

O apóstolo é claro ao dizer que “nada meu propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e Este crucificado” (I Co.2:1). O tema da pregação de Paulo era Jesus Cristo, nada mais (At.9:20; Gl.1:16; Ef.2:13; Fp.1:15-18), como, aliás, é uma característica da igreja primitiva (At.2:22; 3:13; 8:5).

OBS: Em sua recente catequese sobre o apóstolo Paulo, cujo bimilenário está sendo comemorado neste ano de 2009 pela Igreja Romana, assim se expressou o chefe daquela Igreja, em comentário que, por sua biblicidade, merece ser transcrito: “…Jesus Cristo ressuscitado, ‘exaltado acima de todos os nomes’, encontra-se no âmago de toda a sua reflexão.

Para o Apóstolo, Cristo constitui o critério de avaliação dos acontecimentos e das realidades, a finalidade de todo o esforço que ele realiza para anunciar o Evangelho, a grande paixão que sustém os seus passos pelos caminhos do mundo. E trata-se de um Cristo vivo, concreto: o Cristo diz Paulo ‘que me amou e se entregou a si mesmo por mim’ (Gl 2, 20).

Esta pessoa que me ama, com a qual eu posso falar, que me ouve e me responde, ela é realmente o princípio para compreender o mundo e para encontrar o caminho na história.…” (BENTO XVI. Audiência de 22 de outubro de 2008. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2008/documents/hf_ben-xvi_aud_20081022_po.html Acesso em 03 mar. 2009)

Paulo mostra que os partidarismos existentes na igreja em Corinto eram resultado direto desta falta de valorização do que realmente interessava: a mensagem da cruz de Cristo. Nos dias hodiernos, não tem sido diferente: a mensagem da cruz tem sido deixada de lado, não é mais pregada, é esquecida, é menosprezada, o que gera um sem-número de problemas para os crentes da atualidade e para a vivência comunitária do povo de Deus.

Paulo, que já se identificara como um “chamado de Deus”, diz que tinha sido “enviado para evangelizar, não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã, porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas, para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (I Co.1:17,18).

Ser “apóstolo”, ou seja, ser “enviado” é, antes de mais nada, não se apresentar superior aos demais, mas, sim, ser um mero instrumento para que o nome de Cristo seja glorificado, ser um instrumento de Deus para que se mostre que o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário não foi em vão.

Esta afirmação do apóstolo mostra-nos, de imediato, que a concepção que se tem, atualmente, por alguns, de “apostolado” é completamente distorcida. O “apóstolo” não é um “líder espiritual superior”, não é alguém que venha a dar “cobertura” para outros crentes, que se constitua num verdadeiro “mediador” entre a Igreja e o Senhor Jesus, mas é um vaso do Senhor que se dispõe a levar ao mundo o sentido da cruz de Cristo, o significado do sacrifício de Jesus Cristo pela humanidade.

O apóstolo, portanto, tem, de pronto, uma dificuldade imensa: tem de levar o sentido de algo que, para a lógica humana, não faz sentido algum. Com efeito, a “palavra da cruz é loucura”, ou seja, é algo que não pode ser compreendido pela mente humana. O apóstolo tem, diante de si, um desafio muito grande: pregar algo que não será apreendido pela mente humana.

Por isso, o apóstolo não pode se apresentar em “sabedoria de palavras”, ou seja, não pode procurar fazer o homem entender o Evangelho por intermédio da lógica e do conhecimento filosófico ou científico. A filosofia e a ciência são atividades da mente humana alicerçadas sobre a razão, que partem da razão humana a fim de se descobrir a verdade, a fim de se entender e compreender o mundo.

Muitos, na atualidade, buscam aproximar o homem do Evangelho por intermédio da “sabedoria de palavras”. Buscam revestir a mensagem da salvação em Cristo de argumentos filosóficos e científicos irrefutáveis ou de difícil refutação, a fim de convencer as pessoas da verdade da Bíblia. Nesta busca, muitas vezes obsessiva, gastam anos procurando adaptar a Bíblia às “descobertas científicas”, como também aos “modismos filosóficos”, sempre com o intuito de “atrair” os perdidos.

Confundem a “contextualização” do Evangelho, que é a pregação da Palavra de Deus dentro do ambiente cultural vigente, mostrando o paralelismo da cultura da época em que o texto bíblico foi escrito com a realidade do ouvinte da Palavra hoje e agora, com a “adaptação” da mensagem da salvação à lógica humana, aos conceitos racionais advindos da ciência ou da filosofia, esquecendo-se de que não devemos pregar o Evangelho com “sabedoria de palavras”, nem tampouco “por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl.2:8).

Paulo for a Corinto não para, diante de uma população cosmopolita (i.e., formada por pessoas de várias nacionalidades, de várias culturas), mostrar que era um homem erudito, um verdadeiro filósofo. Não nos esqueçamos de que Paulo era de Tarso, um centro filosófico estoico de seu tempo e que tinha uma sólida formação filosófica (que o diga o seu discurso em Atenas – At.17:22-31), sendo, pois, certamente, um grande mestre na retórica (a arte de discursar e de convencer pelo discurso). Apesar de todo seu conhecimento e habilidade, era fora chamado por Deus para pregar “a palavra da cruz”, que não pode ser apresentada “em sabedoria de palavras”.

Paulo fez questão de lembrar aos coríntios de que pregara a palavra da cruz e que esta palavra da cruz é “loucura para os que perecem”. O apóstolo apresenta aqui, pois, um requisito para que se possa pregar a mensagem da cruz e para que ela possa ser compreendida: a salvação.

A “palavra da cruz” é “loucura para os que perecem”, mas é “poder de Deus para os salvos”. Somente pode compreender a “palavra da cruz” aqueles que são salvos, ou seja, aqueles que crerem na mensagem da salvação em Jesus Cristo, que se reconhecerem pecadores, se arrependerem de seus pecados, crendo que Jesus é o único e suficiente Senhor e Salvador dos homens.

Temos aqui, aliás, um dos motivos pelos quais a mensagem da cruz tem desaparecido de muitos púlpitos, tem sido deixada de lado na igreja hodierna. Há muitos sedizentes pregadores na atualidade que não são salvos e, por isso, não podem compreender a palavra da cruz, que exige a salvação daquele que a vai pregar.

A mensagem da cruz exige, antes de mais nada, a fé daquele que vai levá-la. Se a mensagem só é compreendida pelos salvos, temos que a só os que têm fé em Jesus Cristo podem, efetivamente, pregar esta mensagem. A salvação é pela fé (Rm.1:16,17; 5:1; Ef.2:8). Mas, caminhando um pouco mais, vemos que somente tem fé aquele que ouve a Palavra (Rm.10:17), de modo que só pode pregar a mensagem quem a tiver ouvido e nela crido.

Foi exatamente o que ocorreu com o apóstolo Paulo. Ele teve um encontro pessoal com Jesus, no caminho de Damasco, e ali se entregou totalmente ao Senhor. Ouviu a mensagem do Evangelho do próprio Jesus e nela creu. O resultado foi que pôde iniciar a sua pregação ali mesmo em Damasco. Seu aprendizado com o Senhor não cessou naquele encontro mas prosseguiu durante todo o seu ministério, tanto que poderia dizer que o que ensinava recebera do Senhor (I Co.11:23).

Para que venhamos a transmitir a mensagem da cruz, portanto, é mister que a tenhamos ouvido antes e temos aqui mais uma razão pela qual, na atualidade, muitos sedizentes pregadores não pregam a “palavra da cruz”. Não na pregam porque, simplesmente, não a ouviram. São principiantes no Evangelho ou, muitas vezes, nem sequer principiantes mas aventureiros e mercenários que viram no “segmento gospel” um “nicho de mercado”, uma oportunidade de ganhar dinheiro. Por isso, não podem, mesmo, pregar a “palavra da cruz”, pois isto lhes é “loucura”.

A mensagem da cruz é a demonstração da soberania de Deus e da total inutilidade do ser humano. Paulo, mesmo, afirmou que a existência da “palavra da cruz” é o cumprimento do que havia sido profetizado por Isaías. O profeta, no capítulo 29, apresenta uma dura palavra contra os judaítas infiéis, porque serviam a Deus formalmente, com aparência exterior, enquanto seus corações estavam distantes de Deus. Por isso, o Senhor faria perecer a sabedoria dos seus sábios e esconderia (ou aniquilaria) o entendimento dos seus prudentes (Is.29:14).

A “mensagem da cruz” é extremamente incômoda para a vaidade humana. Ela mostra que o homem é incapaz de alcançar a sua salvação por seus próprios méritos. Ela indica claramente que o homem precisa depender de Deus em todos os aspectos e que não há salvação a não ser na pessoa de Cristo Jesus.

O homem, confrontado com a mensagem da cruz, percebe que é menos do que nada (Is.40:17; 41:24) e isto, obviamente, contraria todo o sentimento predominante na humanidade desde a queda, ou seja, o desejo de independência em relação a Deus, o sentimento de autossuficiência (Gn.3:5), sentimento particularmente aguçado nestes dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, onde os homens são amantes de si mesmos (II Tm.3:1,2).

Não é, portanto, surpreendente que, na atualidade, a “mensagem da cruz” esteja sendo substituída nos púlpitos e nos conjuntos musicais por “louvores ao homem”, por “mensagens de autoajuda” e tantas outras pregações que procuram massagear o ego humano, enaltecer a figura do ser humano, do ouvinte, em vez de lhes mostrar a miséria da condição humana quando há o afastamento de Deus.

II – QUEM NÃO PODE PREGAR A MENSAGEM DA CRUZ

Após ter mostrado que a essência da sua pregação era a mensagem da cruz, o apóstolo Paulo apresenta um grupo de pessoas que não poderiam pregar a mensagem da cruz, precisamente aqueles que estavam, com suas argumentações, atacando e prejudicando a saúde espiritual da igreja em Corinto.

O primeiro grupo apresentado pelo apóstolo é o dos “sábios”. ‘Onde está o sábio?”, pergunta o apóstolo. O “sábio” não pode ser pregador do Evangelho. Mas, como explicar esta afirmação do apóstolo, se “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”? (Pv.2:10).

Para bem entendermos esta aparente contradição, devemos observar que a Bíblia Sagrada fala em duas sabedorias: a humana e a divina. Tiago faz um contraste entre estas duas espécies de sabedoria em Tg.3:13-18.

A sabedoria humana, diz Tiago, é composta de amarga inveja e de sentimento faccioso, gerando perturbação e toda obra perversa. É uma sabedoria terrena, animal e diabólica. Era esta a sabedoria que estava sendo alardeada por alguns em Corinto, tanto que a igreja se encontrava dividida em partidos, em facções, uns se dizendo de Paulo, outros de Apolo, outros, ainda, de Cefas e alguns, de Cristo (I Co.1:12).

A sabedoria humana, que Paulo nomeou de “sabedoria de palavras” (I Co.1:17) era a sabedoria que Paulo indagava e que nada significava frente a “mensagem da cruz”. Pelo contrário, a sabedoria humana não compreende nem aceita a “mensagem da cruz”, pois esta mensagem lhe é “loucura”.

A sabedoria humana é todo conhecimento firmado única e exclusivamente na razão humana, que se constrói com base na lógica do homem, com base na figura do ser humano. É o resultado do desenvolvimento do intelecto do homem. Não resta dúvida de que Deus fez o homem com a capacidade do pensamento, com inteligência e habilidades que o permitem dominar sobre a criação terrena (Gn.2:19,20).

No entanto, o homem sem Deus nada pode fazer (Jo.15:5). A sabedoria humana, embora seja capaz de avaliar uma situação, de percebê-la, não tem condição alguma de alterá-la, de resolver o problema (ou seja, aquilo que está diante de seus olhos). Tanto assim é que, ao verificar Adão que era solitário, não pôde resolver esta questão, tendo eus de intervir e criar tanto a mulher como a família para solucionar o primeiro problema surgido no seio da humanidade.

Por isso, todo o conhecimento gerado pelo intelecto humano é incapaz de lidar com a problemática do pecado. O resultado disto é que a sabedoria humana é submissa à natureza carnal do homem, que é pecaminosa, e todo o saber humano está impregnado da amarga inveja e do sentimento faccioso. O homem, vaidoso e querendo ser igual a Deus, usa todo o seu conhecimento para prejudicar o próximo, para derrubar-lhe (a “amarga inveja”), como também para criar divisões entre os homens (o “sentimento faccioso”).

A sabedoria humana, assim, não contribui para o progresso ou o desenvolvimento do homem, mas é utilizada, invariavelmente, para a destruição do outro, para o roubo do outro, para a morte do outro. Tem-se, pois, a submissão de toda a sabedoria humana ao príncipe deste século, cujo trabalho é, precisamente, o de matar, roubar e destruir (Jo.10:10).

Por isso, a sabedoria humana, diz Tiago, é terrena, animal e diabólica (Tg.3:15). É terrena, porque, sendo construída pela lógica humana, não consegue alcançar a eternidade, circunscrevendo-se aos limites desta vida, às coisas desta vida. A sabedoria humana não alcança o céu, a eternidade.

Por isso, muitas pregações, na atualidade, estão exclusivamente voltadas para o dia-a-dia desta vida debaixo do sol, com a prosperidade material, com o dinheiro, com o bem-estar nesta Terra, esquecendo-se de tudo quanto importa, que é o eterno, aquilo que se encontra além do véu. Quanto tempo faz que não ouvimos uma pregação sobre a realidade da morte e da eternidade?

A sabedoria humana é animal. Esta expressão, um tanto quanto forte, mostra-nos, claramente, que a sabedoria humana despreza a parte espiritual do homem, a sua dimensão para além da sua condição de criatura física sobre a face da Terra.

A sabedoria humana é animal porque reduz o homem a uma mera condição de animal, de ser vivo, a uma dimensão biológica pura e simples, como se ele não fosse, também, alma e espírito. Não é à toa, aliás, que tanto Pedro como Judas comparam os falsos mestres dos últimos dias como “animais irracionais”, porque “seguem a natureza, que dizem mal do que não sabem e que se corrompem (II Pe.2:12; Jd.10).

Nos dias atuais, os homens comportam-se como verdadeiros animais, seguindo seu instinto, sem refletir nem meditar nas consequências de seus atos e no próprio sentido da vida. A filosofia predominante é o hedonismo, ou seja, o prazer a qualquer custo.

As pessoas guiam-se pelos desejos e paixões, deixam de lado quaisquer considerações morais, querem o “aqui e o agora”, sem se perguntar sequer pelo amanhã. Nesta “onda de irracionalismo”, seguem os “sábios”, os “gurus” que defendem o “aproveitar da vida”, o “máximo prazer”, inclusive nos púlpitos das igrejas locais, onde conseguem fazer com que muitos que cristãos se dizem ser prefiram a emoção, o “frenesi” a um andar irrepreensível na presença do Senhor.

A sabedoria humana, por fim, é diabólica, visto que, em seus postulados, está a serviço do diabo, pois não faz outra coisa senão matar, roubar e destruir, que é o trabalho do inimigo de nossas almas (Jo.10:10), que é homicida desde o princípio (Jo.8:44). O sábio segundo o mundo é um agente de Satanás que nada mais faz senão matar vidas preciosas espiritualmente, que nada mais faz senão levar milhares e milhares de pessoas para o caminho espaçoso que conduz à perdição (Mt.7:13).

Uma das grandes armas do sábio, na atualidade, é o “relativismo ético”, ou seja, a idéia de que não há verdades morais absolutas, de que o certo e o errado variam conforme o tempo, conforme o lugar. Em nome da “tolerância”, defende-se a aceitação de todo e qualquer comportamento, de toda e qualquer conduta, o que nada mais é senão a imposição do “caminho espaçoso” para os homens. Ali tudo é permitido, ali tudo é bem-vindo, mas, infelizmente, é neste caminho espaçoso, nesta larga porta que se encontrará o terrível fim para o homem: a perdição eterna. Que Deus nos guarde!

Mas, além do sábio, o apóstolo também fala a respeito do “escriba”. O escriba era aquela personagem igualmente erudita mas que, ao contrário do “sábio”, que se dedicava às atividades filosófico-científicas, estava a esmerar-se no conhecimento dos textos sagrados.

Quando Paulo fala do escriba, judeu como era, tinha em mente aqueles que passavam as suas vidas copiando as Escrituras, esmerando-se em não só escrevê-las, mas em memorizá-las (pois o hebraico não possui vogais e era preciso praticamente decorar os textos para lê-los corretamente, ainda mais nesta época em que ainda não havia os sinais vocálicos criados depois pelos massoretas), a fim de podê-las explanar ao povo nas sinagogas.

Os escribas, embora fossem conhecedores intelectuais do texto sagrado, não viviam conforme os escritos que haviam decorado.

Eram teóricos, conheciam tudo sobre as Escrituras, mas não criam nas Escrituras, porque se recusavam a ver nelas a Jesus Cristo (Jo.5:39). Como Nicodemos, eram mestres em Israel mas não tinham qualquer segurança sobre a sua salvação. Os escribas tanto não viviam o que pregavam que o testemunho de Jesus deixou a multidão admirada (Mt.7:29), tendo o próprio Senhor instado a todos para que não vivessem como eles, embora devessem praticar o que ensinavam (Mt.23:2,3).

Muitos hoje são escribas e, como escribas, não lhes interessa a “mensagem da cruz”, porque rejeitam a Cristo Jesus, porque preferem os sermões, as discussões teológicas, as dificuldades bíblicas, a verborragia hermenêutica, a homilética bem estruturada, mas carente da unção divina. Preferem toda uma série de questões que fujam da realidade da sua vida espiritual, que sigam as sutilezas da religiosidade, mas que não dizem coisa alguma sobre a transformação de vidas, sobre um encontro pessoal com Jesus Cristo, sobre uma submissão ao senhorio de Cristo.

Paulo, muito pelo contrário, tinha um conhecimento pessoal de Jesus Cristo. O próprio Jesus encontrou-Se com o apóstolo no caminho de Damasco e ali se iniciou um relacionamento tão íntimo que o apóstolo podia dizer que não mais vivia, mas Cristo vivia nele (Gl.2:20). Por isso, o apóstolo era o pregador poderoso e eficaz, que, em poucos anos, pôde levar o Evangelho a quase todo o Império Romano. Ele não só conhecia a Jesus pessoalmente, como também tinha por objetivo fazer com que Cristo fosse formado dentro dos crentes (Gl.4:19).

Quem não tem um encontro pessoal com o Senhor, não tem como pregar a “mensagem da cruz”. Por isso, os discípulos no caminho de Emaús, enquanto não partiram o pão com o Ressuscitado, não puderam reconhecê-lO e pregar a mensagem da salvação (Lc.24:30-34).

OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos outro texto do chefe da Igreja Romana em que mostra a centralidade de Cristo na pregação de Paulo: “…Na experiência pessoal de São Paulo, há um dado incontestável: enquanto no começo ele foi um perseguidor e utilizou a violência contra os cristãos, a partir do momento de sua conversão no caminho de Damasco, ele passou a estar do lado de Cristo crucificado, fazendo d’Ele a razão de sua vida e o motivo de sua pregação.

Sua existência foi inteiramente consumida pelas almas (cf. 2 Cor 12, 15), para nada tranqüila nem isenta de enganos e dificuldades. No encontro com Jesus foi esclarecido o significado central da Cruz: ele compreendeu que Jesus tinha morrido e ressuscitado por todos e por ele mesmo. Ambas as coisas eram importantes, a universalidade – Jesus tinha morrido realmente por todos – e a subjetividade – Ele morreu também por mim.

Na Cruz, portanto, havia se manifestado o amor gratuito e misericordioso de Deus. Paulo experimentou este amor antes de tudo em si mesmo (cf. Gl 2, 20), e de pecador se converteu em crente, de perseguidor em apóstolo. Dia após dia, em sua nova vida, ele experimentava que a salvação era «graça», que tudo derivava do amor de Cristo e não de seus méritos, que por outro lado não existiam.

O «evangelho da graça» se converteu assim na única forma de entender a Cruz, o critério não só de sua nova existência, mas também a resposta a seus interlocutores.…” (BENTO XVI. Audiência de 29 de outubro de 2008. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2008/documents/hf_ben-xvi_aud_20081029_po.html Acesso em 03 mar. 2009)

Mas, além do sábio e do escriba, o apóstolo mostrou outra personagem que não poderia pregar a “mensagem da cruz”; O “inquiridor deste século” ou, na Nova Versão Internacional, “o questionador desta era”. Este é aquele que é incapaz de crer, que, baseado nos valores do mundo, no “presente século”, não consegue enxergar as realidades espirituais, sendo um cético, um agnóstico, ou seja, alguém que se diz incapaz de compreender as realidades eternas e que, por causa disto, de tudo duvida, em nada acredita, tudo questiona, tudo discute.

Os questionadores desta era, os inquiridores deste século são os “sabichões” da filosofia e da ciência, que não conseguem “provar” os argumentos da fé e que, por isso, não aceitam a “loucura da pregação”. Como é possível que alguém que se diga Deus morra pelo homem? Como Deus pode Se tornar homem? Como pode uma virgem conceber? Como podem milagres acontecer?

Tudo é impossível, tudo é “mito”, tudo não passa de imaginação, dizem os “inquiridores deste século”, que, por causa disto, não podem, mesmo, pregar a “mensagem da cruz”. Lamentavelmente, muitos “escribas”, de tanto se esmerarem nas discussões teológicas, acabam se tornando “inquiridores do presente século”. De tanto questionarem a Deus, de tanto duvidarem da Sua Palavra, acabam alcançando a morte no seu deserto espiritual, a exemplo do que ocorreu com a geração israelita do êxodo.

III – O PODER DA MENSAGEM DA CRUZ

Mas, depois de ter mostrado quem não pode pregar a mensagem da cruz, o apóstolo Paulo mostra a verdadeira sabedoria, a sabedoria divina, o único meio pelo qual se alcança a “palavra da cruz” e todos os seus benéficos efeitos para a criatura humana.

A sabedoria divina, ensina-nos Tiago no texto já mencionado (Tg.3:13-18), “vem do alto”, ou seja, tem origem em Deus. Por isso, não é a razão humana o critério para esta sabedoria, mas, sim, a revelação divina. Por isso, na Bíblia Sagrada encontramos a verdade, porque tudo quanto está escrito nela não proveio da mente humana, mas “os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe.1:21b).

Além de “vir do alto”, a sabedoria divina é, primeiramente, pura, ou seja, a sabedoria divina traz consigo a santidade de Deus. Na sabedoria divina, pois, não há qualquer lugar para o pecado, tem-se total separação do pecado. Por isso, todos os discursos que buscam justificar o pecado, compreendê-lo e tolerá-lo, tão presente entre os “liberais” da atualidade, não provém da sabedoria divina, pois ela é, primeiramente, pura.

A segunda característica da sabedoria divina é ser pacífica. A sabedoria divina provém de Deus e, por ser pura, é fruto de uma comunhão entre Deus e quem não tem pecado, ou seja, quem nasceu de Deus (I Jo.3:6,9). Resulta, pois, da paz que se tem com Deus com o perdão dos pecados, bem como a “paz de Deus”, que é fruto de uma vida ligada na videira verdadeira (Jo.15:1).

A “mensagem da cruz”, portanto, jamais gera inveja, desejo de vingança ou sentimento faccioso, mas produz a paz, a comunhão entre todos os irmãos. A sabedoria divina é pacífica e os filhos de Deus são pacificadores (Mt.5:9). Pregações que despertam o ódio contra as pessoas, que criam inimizades, efetivamente não são parte da “mensagem da cruz”.

Não confundamos, porém, como muitos na atualidade, o caráter pacífico da “mensagem da cruz” com a tolerância ao pecado, pois, antes de ser pacífica, a sabedoria divina é pura, ou seja, jamais poderá defender a coexistência entre Deus e o pecado.

A terceira característica da sabedoria divina é a moderação. A “mensagem da cruz” é equilibrada, temperada, não é demasiadamente justa, nem demasiadamente injusta.

Na pregação do Evangelho genuíno e autêntico, não temos radicalismos, nem tampouco extremismos. Temos o equilíbrio, o centro, o autocontrole de tudo o que há em nós, a fim de que possamos bendizer ao Senhor (Sl.103:1,2).

A quarta característica da sabedoria divina, que foi o instrumento, segundo Paulo, para que se tivesse a “loucura da pregação” (I Co.1:21), é ser tratável, ou, na Nova Versão Internacional, “compreensiva”.

A sabedoria divina, embora não tolere o pecado nem com ele coexista, compreende a estrutura do homem, ama o homem e, por isso, é capaz de entendê-lo e providenciar um meio para a sua redenção. Os grandiloquentes pregadores da atualidade, “donos da verdade”, que não aceitam sequer ser questionados, evidentemente não têm a sabedoria divina, vez que não incapazes de compreender o próximo, de tratar com o próximo.

A quinta característica da sabedoria divina é ser “cheia de misericórdia e de bons frutos”. A misericórdia é o amor em ação, o amor em atividade, é fazer o bem. A sabedoria divina leva-nos a fazer o bem e, por isso, a “mensagem da cruz” não consiste apenas de palavras, mas também se manifesta através de atos e obras (I Jo.3:18).

Não é por outro motivo que o apóstolo disse que, pela “loucura da pregação”, Deus pôde salvar os crentes (I Co.1:21). Esta é a grande diferença entre a genuína e verdadeira pregação do Evangelho e tudo o mais que o sábio, o escriba ou o inquiridor do presente século pode fazer: a “loucura da pregação” salva os crentes, transforma suas vidas, dá-lhes vida espiritual, traz-lhes comunhão com Deus, transformação de vida.

Somente a “mensagem da cruz” traz salvação aos homens, só a cruz de Cristo salva e é por isso que o apóstolo Paulo não queria que a cruz de Cristo se fizesse vã, pois, quando não pregamos a “mensagem da cruz”, não há salvação, não há transformação de vidas. Muitos, na atualidade, parecem não mais se preocupar com isso e realizam festas e mais festas, eventos e mais eventos, onde só há emoção e confraternização, mas, infelizmente, não há salvação de vidas. Estão perdendo o tempo, porque já desprezaram, há muito, a “mensagem da cruz”!

Deus escolheu, dentro da Sua soberania, salvar os crentes pela “loucura da pregação”. Portanto, ninguém se salva a não ser ouvindo e crendo no Evangelho de Jesus Cristo, na mensagem de que Jesus, sendo Deus, fez-Se homem, veio ao mundo, morreu por nós e agora, ressuscitado, está à direita do Pai. Só o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, tanto do judeu quanto do grego (Rm.1:16).

Não são, pois, os sinais que salvam. Paulo afirma que os judeus pediram sinal para poderem crer em Jesus, apesar de tudo o que o Senhor havia feito em Seu ministério, porque este pedido de sinal nada mais era que a demonstração da incredulidade daquele povo. Quem vive atrás de sinais é porque é incapaz de crer, porque quer ver antes de crer, algo que não é o meio pelo qual o Senhor quer estabelecer a salvação da humanidade.

Muitos, na atualidade, querem que as pessoas se convertam e vivam espiritualmente por meio de sinais. Entretanto, Deus aprouve salvar os crentes pela “loucura da pregação”. É verdade que Deus opera sinais e maravilhas e que elas são necessários no meio do povo de Deus, mas o seu papel é “confirmar a palavra” (Mc.16:20), jamais substituí-la.

Nos dias em que vivemos, muitos são os que correm atrás de sinais, esquecendo-se que os sinais seguem os que creem (Mc.16:17). Vivemos dias de intensa manifestação demoníaca, pois se aproxima o início do reinado do Anticristo, que se caracterizará pela presença de prodígios e sinais de mentira (II Ts.2:9).

Por isso, devemos ter muito cuidado com um comportamento em que se pedem sinais, pois poderemos ser enganados pelo inimigo de nossas almas. Aliás, os que rejeitam a “palavra da cruz” serão precisamente os que crerão nos sinais de mentira do adversário (II Ts.2:10-12).

OBS: A busca por sinais é tanto uma característica dos religiosos que não tardou para que se criasse o “sinal da cruz”, uma das mais antigas crendices e superstições da história da igreja. Já no século II há notícia de uso do “sinal da cruz” pelos cristãos, com o objetivo de obter a “proteção divina contra o mal”.

– O sinal que Jesus nos deu para crer foi a Sua ressurreição, o maior milagre de todos os tempos (Mt.16:4), o “sinal do profeta Jonas” (Lc.11:29). A ressurreição do Senhor é a garantia que temos de que não cremos no Evangelho em vão (I Co.15:17).

OBS: “…Os judeus pedem sinais do poder de Deus como prova de sua messianidade. Mas, em vida, Yeshua recusou-Se várias vezes a atender esse pedido, exceto quando predisse a própria ressurreição (Mt.12:38; 16:1; Jo.2:18). Por isso, os judeus incrédulos afirmavam que nenhum sinal a respeito da messianidade de Yeshua tinha sido apresentado.

O catedrático David Flusser, um judeu ortodoxo erudito de Jerusalém, escreve: ‘Enquanto o Messias não realizar as obras do Messias nós não podemos chamá-lo de Messias’. Mas Mt. 11:2-6 e Jo.10:32-38, 12:37 refutam essa objeção ao mostrarem que ele realizou tais obras.

De fato, alguns de seus milagres eram considerados no judaísmo como sinais messiânicos específicos, tais como curar um leproso (Mt.8:1-4) e restautar a visão a um cego de nascença 9Jo.9). Outros buscam um sinal que não venha diretamente de Yeshua, mas daqueles que dizem agir em seu nome.

Entretanto, um milagre não é a prova de que Yeshua é o Messias, pois existem milagres demoníacos (Mt.24:24; II Ts.2:9; Ap.13:3-4). Tampouco os milagres são necessários para a fé (Jo.20:28); ninguém tem de esperar por um sinal antes de crer em Yeshua, o Messias (embora às vezes, por sua graça, Deus o conceda)…” (STERN, David H. Comentário judaico do Novo Testamento, p.481).

Mas, além do sinal pedido pelos judeus, que redunda no “misticismo religioso”, que tanto têm contaminado as vidas de muitos crentes, temos, também, os gregos, que buscam “sabedoria”, a sabedoria humana de que já falamos neste estudo, que é terrena, animal e diabólica.

O Evangelho, ao contrário desta sapiência humana ou dos sinais reclamados pelos judeus, diz o apóstolo, é escândalo para os judeus e loucura para os gregos (I Co.1:23). Como, recentemente, disse o chefe da Igreja Romana: “…Para os judeus, a Cruz é skandalon, ou seja, armadilha ou pedra de tropeço: parece ser obstáculo para a fé do piedoso israelita, que não consegue encontrar nada parecido nas Sagradas Escrituras.

Paulo, com não pouco valor, parece dizer aqui que a aposta é altíssima: para os judeus, a Cruz contradiz a própria essência de Deus, que Se manifestou com sinais prodigiosos. Portanto, aceitar a Cruz de Cristo significa realizar uma profunda conversão no modo de relacionar-se com Deus.…” (BENTO XVI. Audiência de 29 de outubro de 2008. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2008/documents/hf_ben-xvi_aud_20081029_po.html Acesso em 03 mar. 2009).

Dentro de uma religiosidade exterior, os judeus não conseguiam entender como Deus Se tornaria homem e morreria em lugar do pecador.

Como um Deus santo poderia morrer como um malfeitor, como poderia Se fazer maldição por nós? (Gl.3:13). Isto não fazia sentido algum. Por isso, até hoje, o judaísmo não aceita que Jesus tenha sido o Messias, pois como entender que o Libertador de Israel tivesse sido condenado à morte e executado pelos romanos? Entretanto, foi exatamente isto que ocorreu, porque Deus é amor e, pela cruz quis resgatar o vil pecador.

OBS: Diferente não é a posição dos muçulmanos, como nos dá conta John Stott: “…Um dos aspectos mais tristes do islamismo é rejeitar a cruz, declarando inapropriado que um grande profeta de Deus chegasse a um fim tão ignominioso.

O Alcorão não vê necessidade nenhuma da morte de um Salvador que tirasse os pecados. Pelo menos cinco vezes declara categoricamente que ‘alma nenhuma levará o fardo de outra’. Deveras, ‘se uma alma sobrecarregada clamar por ajuda, nem mesmo um parente próximo partilhará do seu fardo’.

Por que isto? É porque ‘cada homem colherá os frutos de suas próprias ações’, embora Alá seja misericordioso e perdoe os que se arrependem e praticam o bem. Negando a necessidade da cruz, o Alcorão prossegue para a negação do fato.

Os judeus ‘proferiram uma falsidade monstruosa’, ao declararem: ‘matamos o Messias Jesus, filho de Maria, apóstolo de Alá’, pois ‘não o mataram, nem o crucificaram, mas pensaram tê-lo feito’.

Embora os teólogos muçulmanos interpretem essa afirmativa de modos diferentes, a crença mais comumente aceita é que Deus lançou um encanto sobre os inimigos de Jesus a fim de salvá-lo, e que ou Judas Iscariotes ou Simão, de Cirene, tenha tomado o seu lugar no último instante.

No século dezenove a seita Ahmadiya do islamismo emprestou, de diferentes escritores cristãos liberais, a noção de que Jesus apenas desmaiou na cruz, e reviveu no túmulo, acrescentando que, subsequentemente ele viajou para a Índia a fim de ensinar, onde morreu; dizem ser os guardiães do seu túmulo que está em Cashmir…” (STOTT, John. R.W. A cruz de Cristo, p.17. Disponível em: http://www.4shared.com/get/35388561/d98bee4a/John_R_W_Stott_-_A_Cruz_de_Cristo.html Acesso em 03 mar. 2009).

Mas, enquanto a “cruz” é escândalo para os judeus, para os gregos, isto é, para os gentios, é ela “loucura”. “…para os gregos, ou seja os pagãos, o critério de juízo para se opor à Cruz é a razão. Com efeito, para estes últimos a Cruz é morta, loucura, literalmente insipiência, isto é, um alimento sem sal; por conseguinte, mais que um erro, é um insulto ao bom senso.

Em várias ocasiões, o próprio Paulo fez a amarga experiência da rejeição do anúncio cristão julgado “insipiente”, desprovido de relevância, nem sequer digno de ser considerado no plano da lógica racional.

Para quem, como os gregos, via a perfeição no espírito, no pensamento puro, já era inaceitável que Deus pudesse tornar-se homem, imergindo-se em todos os limites do espaço e do tempo. Além disso, era decididamente inconcebível acreditar que um Deus pudesse acabar numa Cruz! E vemos como esta lógica grega é também a lógica comum do nosso tempo.

O conceito de apátheia, indiferença, como ausência de paixões em Deus, como poderia compreender um Deus que Se tornou homem e foi derrotado, e que depois chegaria mesmo a resgatar o Seu corpo para viver como ressuscitado?

‘Ouvir-te-emos falar sobre isto mais uma vez’ (At 17, 32), disseram com desprezo os atenienses a Paulo, quando ouviram falar de ressurreição dos mortos. Julgavam uma perfeição o libertar-se do corpo, concebido como prisão; como não considerar uma aberração o resgate do próprio corpo?

Na cultura antiga, não parecia existir espaço para a mensagem do Deus encarnado. Todo o acontecimento ‘Jesus de Nazaré’ parecia ser caracterizado pela mais total insipiência e, sem dúvida, a Cruz era o seu ponto mais emblemático.…”(BENTO XVI, op.cit.).

– Não faz sentido para a lógica humana o resgate da humanidade através da morte de Jesus na cruz do Calvário. Entretanto, foi precisamente assim que Deus trouxe a salvação ao homem, que o Senhor resolveu o problema do pecado, que era insolúvel para o homem e quem crer nesta pregação, alcança a redenção e passa a ter vida em Cristo Jesus, passa, novamente, a desfrutar da perdida comunhão com o seu Criador.

Como afirma John Stott, “…a cruz a tudo transforma. Ela dá um relacionamento novo de adoração a Deus, uma compreensão nova e equilibrada de nós mesmos, um incentivo novo para nossa missão, um novo amor para com nossos inimigos e uma nova coragem para encarar as perplexidades do sofrimento.…”(STOTT, John R. W. A cruz de Cristo. p. 5. Disponível em: http://www.4shared.com/get/35388561/d98bee4a/John_R_W_Stott_-_A_Cruz_de_Cristo.html Acesso em 03 mar. 2009).

Os que creem em Jesus, os que ouvem a “palavra da cruz”, entretanto, percebem que esta cruz não é nem escândalo, nem tampouco loucura, mas, sim, “poder de Deus” e “sabedoria de Deus”. “…Quando o mundo, pela sua sabedoria, não conheceu a Deus na sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os homens usando um meio que aos sábios parece loucura; é por isso que tornou ineficaz a inteligência e o raciocínio humanos.

Essas qualidades do homem, assim como muitas outras, foram postas de lado, dando lugar à palavra da cruz, caminho único para conhecermos e agradarmos a Deus: ‘ Cristo crucificado, para salvar os que creem’…” (NYSTRÖM, Samuel. Jesus Cristo, nossa glória. 2.ed., p.35).

“…Para entrarmos na posse dessa sabedoria tão elevada — Cristo crucificado — desde os tipos e sombras do Velho Testamento até as realidades efetivas do Novo, não nos bastaria um esclarecimento teórico, mas uma experiência, como diz Pedro: ‘graça e paz vos sejam multiplicadas no pleno conhecimento (epignosis) de Deus e de Jesus nosso Senhor, visto que o Seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento dAquele que nos chamou por Sua glória e virtude’.

Quem estiver ‘sem fruto, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, é cego, vendo só o que está de perto, porque se tem esquecido da purificação dos seus pecados antigos’, I Pe. 1.2,3-8. Portanto não se trata somente de conhecer Cristo por tradição ou leitura, mas de ter uma íntima comunhão com Ele, em pessoa, na vida diária, dando-lhe o lugar de Senhor na direção dos sentimentos, pensamentos, palavras e ações.…” (NYSTRÖM, Samuel. op.cit. pp.52-3) (destaques originais).

Ao termos um encontro pessoal com Jesus Cristo, ao sentirmos a Sua presença em nós, ao termos a experiência da salvação, então não há como deixarmos de reconhecer que a cruz é poder de Deus e sabedoria de Deus, que lá no Calvário, Jesus conquistou a nossa vitória sobre o pecado e sobre a morte, como também nos trouxe a possibilidade de termos vida eterna.

Como ensinou o pastor Kemuel Sotero, pastor-presidente da Assembleia de Deus em Aribiri – Vila Velha/ES, em reunião de obreiros na Assembleia de Deus do Belenzinho-São Paulo/SP, em 2 de março de 2009, no Calvário, cumpre-se aquilo que havia sido figurado no “enigma de Sansão”: “…Do comedor saiu comida, e doçura saiu do forte.…” (Jz. 14:14 “in medio”). Na cruz do Calvário, o Senhor Jesus venceu o forte, que era o império da morte, de posse do diabo (Hb.2:14) (o leão de onde saiu o mel era um leão morto, era uma caveira, símbolo da morte – Jz.14:8), como também dali nos trouxe vida, e vida com abundância, através da “palavra da cruz”, pois a Palavra de Deus é mais doce do que o mel (Sl.119:103).

Sem darmos o devido valor à “palavra da cruz”, ao significado sublime e singular da morte e ressurreição de Jesus Cristo na salvação da humanidade, jamais alcançaremos a salvação, jamais experimentaremos o poder de Deus e a sabedoria de Deus que estão disponíveis a todos os homens que crerem no Evangelho, pois, como disse o poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão, “…nunca mais vai ser ouvido outro conto de amor, que converta o perdido e rebelde pecador, como o santo Evangelho, que nos fala de perdão e transforma o homem velho numa nova criação” (estrofe do hino 322 da Harpa Cristã).

Não foi, aliás, por outro motivo, que o escritor inglês John Bunyan (1628-1688), na sua alegoria O peregrino, pôs como um dos primeiros adversários de Cristão (a personagem principal do livro) na sua jornada para a Cidade Celeste o Sábio-Segundo-o-Mundo, cujo trabalho, dizia Evangelista (aquele que pregou o Evangelho a Cristão) é desviar o Cristão do caminho da salvação, tentar fazer com que se aborreça da cruz e encaminhar o Cristão para uma vereda que conduz à morte. Por isso, diante da sabedoria segundo o mundo, o crente deve:

“…1.º – Repudiar a quem te desviou do caminho, erro em que caíste, e que equivale a desprezar o conselho de Deus para seguir o do homem.

O Senhor disse: Porfiai em entrar pela porta estreita.” (Lucas 13:24). Para essa porta é que te dirigias. ‘Porque estreita é porta que conduz à vida, e poucos são os que acertam com ela.” (Mateus 7:13-14). Esse malvado desviou-te daquela porta, e do caminho que a ela vai ter, para lançar-te na perdição. Odeia, pois, o seu procedimento, odiando-te também a ti mesmo por lhe haveres prestado ouvidos.

2.º – Detestar aquele que diligenciou que a Cruz te repugnasse, porque deves preferi-la a todos os tesouros do Egito (Hebreus 11:25-26). Além do que, o Rei da Glória disse-te que ‘aquele que salvar a sua vida perdê-la-á’ e ‘se alguém vem após mim e não aborrece seu pai e sua mãe, filhos, irmãos e mulher e irmãs, e a sua própria vida, não pode ser meu discípulo’ (Marcos 8:35; Lucas 14:26-27; João 12:25; Mateus 10:37-39).

Por isso te digo que uma doutrina que busca persuadir-te de que é morte aquilo que a Verdade disse que é indispensável para se obter a vida eterna, é uma doutrina abominável e que deves detestar. 3.º – Aborrecer aquele que te encaminhou para a senda que conduz ao mistério da morte.…” (BUNYAN, John. O peregrino. Digitalizada por Carlos_boas@hotmail.com. Disponível em: http://www.4shared.com/get/67585095/a4f9d0fa/_ebook_-_evanglico__John_Bunyan_-_Livro_-_O_Peregrino.html Acesso em 03 mar. 2009 pp.12-3).

O Evangelho de Jesus Cristo está centrado na “palavra da cruz” e, enquanto não assumirmos o vitupério de Cristo, deixando os tesouros do Egito (Hb.11:26), jamais conseguiremos entender o poder de Deus e a sabedoria de Deus.

Precisamos entender o significado desta mensagem e sair fora do arraial, levando o Seu vitupério (Hb.13:13). Pregar o Evangelho é reconhecer a fragilidade do homem, é reconhecer a sublimidade do amor de Deus, é entender que somos menos que nada e que Cristo é tudo para nós.

Mas, para assim procedermos, é indispensável que renunciemos a nós mesmos, que deixemos toda a vaidade humana, que nos humilhemos aos pés do Senhor e muitos, como homens destes dias trabalhosos, na sua arrogância e presunção rejeitam este convite do Salvador e não aceitam a “mensagem da cruz”.

A “mensagem da cruz” declara que o homem é insignificante, embora seja amado, e muito amado, por Deus. Por meio do Evangelho, toda a criação humana é deixada de lado, porquanto Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis e as que não são para aniquilar as que são (I Co.1:28).

No Evangelho, nenhuma carne se gloria perante o Senhor; no Evangelho genuíno e autêntico, não há grande diante de Deus. Por isso, muitos, hoje, na sua arrogância, na sua soberba, na sua vaidade, já estão a pregar um outro evangelho.

A “mensagem da cruz” não “alisa” o ser humano. Mostra o homem na realidade de sua miséria espiritual quando se encontra sem Deus e sem salvação. Mostra a total inutilidade da força dos homens, que é mais fraca que a fraqueza de Deus; mostra a total ignorância e loucura dos homens diante da sabedoria de Deus (I Co.1:25).

A “mensagem da cruz” traz-nos a realidade de que, para sermos alguma coisa, temos de ser de Jesus Cristo, de deixar de viver para nós mesmos e passarmos a viver inteiramente para o Senhor.

Temos de reconhecer que passamos a ser de Jesus, a ser propriedade de Cristo, a sermos seus “servos” (e aqui a palavra grega é “doulos”, que significa escravo) e que Jesus Cristo, e só Ele, é grande e que foi feito por Deus sabedoria e justiça, e santificação, e redenção. Assim, quem se gloria somente pode se gloriar no Senhor (I Co.1:30,31).

OBS: “…Nossos pecados o colocou aí. De sorte que, longe de nos elogiar, a cruz mina nossa justiça própria. Só podemos nos aproximar dela com a cabeça curvada e em espírito de contrição. E aí permanecemos até que o Senhor Jesus nos conceda ao coração sua palavra de perdão e aceitação, e nós, presos por seu amor, e transbordantes de ação de graças, saíamos para o mundo a fim de viver as nossas vidas no serviço dele.…” (STOTT, John R.W. op.cit., p.5).

O apóstolo mostra que os problemas enfrentados pela igreja em Corinto eram resultado direto deste menosprezo que a “mensagem da cruz”, que tinha sido a mensagem por ele anunciada quando chegara a Corinto (I Co.2:1,2), era a causa de todos os problemas que haviam sido relatados a ele, seja pelos familiares de Cloé, seja pelo primeiro escrito que antecedeu esta carta inspirada que ora estamos a estudar.

De igual modo, a problemática da igreja nos dias hodiernos está, em boa parte, relacionada com o menosprezo que a “mensagem da cruz” tem sido tratada na atualidade em nossas igrejas locais. Não há mais temor nem tremor por parte dos pregadores, que têm substituído esta mensagem por outras que sejam mais conformes seja à religiosidade, seja à sabedoria humana.

Temos, lamentavelmente, assistido a muitos que tem trocado “a palavra da cruz” pelas palavras persuasivas de sabedoria humana, não mais a retórica greco-romana dos dias de Paulo, mas as técnicas de neurolinguística, pela psicologia e, pasmem muitos, até mesmo pelas técnicas esotéricas da Nova Era (que outra coisa não é o hipnotismo que tem sido usado por certos “pregadores” em seus “sinais sobrenaturais” como a “risada santa”, a “fanerose” — o “cai-cai?”— e outras “neobobagens” dos nossos dias?).

OBS: “…Líderes pentecostais participam de encontros pela unidade, paz e compreensão mundial com políticos ateus, com positivistas, com líderes religiosos budistas, hinduístas, com os líderes da igreja do Rev. Moon, com líderes afros, e firmam acordos de paz e compreensão, e, percebendo ou não, sutilmente abandonam a mensagem do Cristo crucificado e aceitam a mensagem do Jesus universal.

Sim, porque o Jesus universal, aquele Jesus carinhoso, bom, que pregou a paz e viveu entre os homens pode ser aceito por todos os segmentos religiosos(…)Quase ao fim da caminhada lembrei-me da posse do Barak Obama como presidente dos Estados Unidos.

Enquanto escrevo este artigo ele ainda não tomou posse. Vi a agenda dos pregadores. Tempos atrás o maior pregador do século XX, Billy Graham pregava e orava na posse de presidentes, e era dele a frase, ‘a Bíblia diz’ repetida por pregadores em todo mundo.

Hoje, na posse de presidentes e governadores ninguém pode dizer, ‘a Bíblia diz’ com a autoridade de Billy Graham, porque os pregadores mais lúcidos e famosos são os que trabalham pela paz e compreensão das raças e das religiões, e não os que declaram a supremacia da palavra de Deus, o Cristo de Deus e a Bíblia sobre as demais coisas.

(…) Citei apenas o que ocorrerá durante a posse de Obama como exemplo de como uma nova era entrou, deixando para trás lentamente a era de Cristo.

Sim, porque o Jesus homem, o pregador da paz, o inspirador de livros de autoajuda, o Jesus que vende, o Jesus do Mercado é aceito por todas as religiões, enquanto o Jesus, chamado Cristo, o Salvador da humanidade está sendo deixado de lado, especialmente por grande ala da igreja pentecostal. É de lastimar que a igreja pentecostal esteja ornando a estrada por onde o futuro homem da iniqüidade caminhará e estabelecerá seu governo mundial.

Os líderes pentecostais no mundo e no Brasil andam de mãos dadas com os líderes religiosos do mundo. É a paz, a inclusão a nova ordem mundial.

Ver pastores pentecostais sendo fotografados ao lado de pessoas que nada tem de cristãos é evidência de como as duas eras, a de Cristo, o Ungido e a de Aquários ou da Nova Era intrinsecamente se entrelaçam pavimentando a história. Concluindo, posso afirmar que de maneira lenta e inexorável entramos numa era em que a doutrina apostólica, e a doutrina de Cristo foram maquiadas para poder se encaixar na nova ordem mundial.

E os grandes maquiadores temos sido nós, os pentecostais.…” (SOUZA FILHO, João A. de. Entramos numa nova era. 17 jan.2009. Disponível em: www.juliosevero.com Acesso em 03 mar. 2009).

– A “palavra da cruz” continua superior a tudo quanto possa ser criado ou inventado pelo homem, como também tudo o que possa ser sugerido pelo diabo.

Não podemos suprimir esta mensagem, pois só ela provém do Espírito de Deus e ninguém pode revelar as profundezas de Deus senão o Espírito de Deus. Não poderemos nos tornar homens espirituais se não ouvirmos e crermos na “mensagem da cruz”.

Precisamos nos voltar para a cruz de Cristo, sem o que estaremos irremediavelmente perdidos, juntando-nos a judeus e a gentios na eterna perdição. Só os crentes, só os integrantes da Igreja serão arrebatados e, para tanto, é necessário ouvirmos, crermos e praticarmos a “mensagem da cruz”.

Que, efetivamente, possa ser uma realidade em nossas vidas o que foi exclamado, com tanta devoção, pelo poeta sacro norte-americano George Bennard (1873-1958), traduzido por Antônio Almeida e/ou F.A.R. Morgan: “Sim, eu amo a mensagem da cruz, ‘té morrer eu a vou proclamar; levarei eu também minha cruz, ‘té por uma coroa a trocar” (refrão do hino 291 da Harpa Cristã).

Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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