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LIÇÃO Nº 1 – A CARTA AOS HEBREUS E A EXCELÊNCIA DE CRISTO

ESBOÇO Nº 1

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Damos graças a Deus por estarmos a iniciar mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical, depois de um ano difícil em todos os aspectos, notadamente os espirituais, quando testemunhamos que estamos, realmente, nos tempos finais da Igreja sobre a face da Terra, o que nos anima a prosseguirmos nossa vida de santificação, vida esta que tem no estudo e meditação das Escrituras Sagradas um elemento essencial.


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É precisamente neste instante difícil por que passamos neste mundo que a Casa Publicadora das Assembleias de Deus, depois de ter tido quatro trimestres temáticos no ano de 2017, brinda-nos com um trimestre bíblico, ou seja, com o estudo de um específico livro da Bíblia Sagrada, que será a Epístola aos Hebreus,

escrita num momento muito similar ao que vivemos, em que seu autor procura encorajar os crentes judeus, que passavam por imensas dificuldades e tribulações, a não abandonar a fé, pois havia uma tendência nítida de isto acontecer, retornando tais crentes às práticas do judaísmo.

Com efeito, tudo indica que esta carta foi escrita nas proximidades do início do conflito armado entre judeus e romanos que acabaria por levar à destruição do templo e de Jerusalém no ano 70, a chamada “a guerra dos judeus contra os romanos”, ou “primeira guerra judaico-romana”, ou, ainda, “grande revolta judaica”, tão bem retratada e descrita pelo historiador judeu Flávio Josefo.

Os cristãos que viviam na Judeia estavam no meio deste embate em condições amplamente desfavoráveis, já que eram perseguidos tanto pelos judeus quanto pelos romanos em virtude de sua fé em Cristo Jesus.

Diante desta circunstância, muitos começaram a imaginar que deveriam abandonar a fé em Jesus Cristo e retornar ao judaísmo, pois, pelo menos teriam o apoio de seus compatriotas em meio à profunda crise sócio-econômico-política que havia na região.

O autor da epístola aos hebreus, então, sabendo desta circunstância, escreve um verdadeiro tratado para mostrar que “Jesus Cristo é melhor”, demonstrando, com profunda base escriturística, a supremacia de Cristo, como diz o título do nosso trimestre, buscando, assim, renovar a fé, a esperança e o ânimo daqueles discípulos que estavam a ponto de apostatar da fé.

Reside aqui a atualidade deste livro das Sagradas Escrituras. Assim como os crentes judeus daquele tempo, a Igreja, nestes momentos últimos da dispensação da graça, também está a sofrer ataques de todos os lados, de todos os movimentos, governos e ideologias.

Com efeito, como afirma o filósofo brasileiro radicado nos Estados Unidos, Olavo de Carvalho, percebe-se, no mundo de hoje, a existência de, pelo menos, três movimentos que postulam o predomínio sobre a humanidade:

o movimento globalista ocidental,

o movimento islâmico e o

movimento russo-chinês. Todos eles têm algo em comum: a aversão aos valores judaico-cristãos.

Por isso, em 2016, cerca de 90 mil cristãos foram mortos por causa de sua fé em Jesus e muitos outros milhares são diariamente perseguidos e violados em seus direitos fundamentais única e exclusivamente porque creram no Evangelho.

Ante uma situação dessa, não é difícil que muitos estejam repensando a sua profissão de fé e sejam tentados a, de algum modo, se conformarem a este mundo, abrindo mão de seus princípios e valores.

É, portanto, importantíssimo que revisitemos a Carta aos Hebreus e lá encontremos as razões pelas quais devemos perseverar até o fim, guardando a nossa fé, mantendo a nossa esperança e tendo bom ânimo, pois somente assim alcançaremos a salvação, livrando-nos da ira futura.

Tendo a Carta aos Hebreus treze capítulos e este trimestre, excepcionalmente, apenas doze lições, basicamente cada lição será reservada a um capítulo.

Assim, a primeira lição, além de introdutória, também abordará o capítulo 1 e, assim, sucessivamente, sendo que a última lição abordará os capítulos 12 e 13, de modo que não há que se falar em blocos do trimestre.

A capa do trimestre apresenta-nos uma luz vindo do interior de um típico túmulo judaico dos tempos de Jesus, a nos lembrar que, por ter vencido a morte e ressuscitado, em máxima humilhação (Fp.2:8-11), Jesus conquistou a proeminência sobre todas as coisas, provou ter sido exaltado sobre todo o nome (Fp.2:9), ter todo o poder nos céus e na terra (Mt.28:18), de forma que nada nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm.8:31-39). É esta supremacia de Cristo que é demonstrada na Carta aos Hebreus.

O comentarista deste trimestre é o pastor José Gonçalves, que já tem comentado há alguns as lições bíblicas, presidente das Assembleias de Deus em Água Branca/PI, presidente do Conselho de Doutrina da Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Piauí e membro da Comissão de Apologética da CGADB.

Que, ao final deste trimestre, apesar de todas as adversidades deste tempo que é o “princípio das dores” (Mt.24:8), todos tenhamos nossa fé, esperança e ânimo renovados, seguindo avante em nossa jornada para os céus.

B) LIÇÃO Nº 1 – A CARTA AOS HEBREUS E A EXCELÊNCIA DE CRISTO

INTRODUÇÃO

– Damos início ao um trimestre bíblico, em que estudaremos a Carta aos Hebreus.

– O tema da Carta aos Hebreus é “Jesus Cristo é melhor”.

I – AUTORIA, DATA E TEMA DA CARTA AOS HEBREUS

– Iniciamos mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical e, desta feita, após um ano todo de trimestres temáticos, voltamos a ter um trimestre bíblico, ou seja, um trimestre em que estudaremos a Carta aos Hebreus.

– A Epístola aos Hebreus é um dos livros mais intrigantes do Novo Testamento, sendo objeto de questionamento em todos os seus pontos-de-vista, a começar da sua autoria.

– Discute-se a autoria da Carta. Durante a história da Igreja, foram apontados como seus autores: Paulo, Barnabé, Apolo e Lucas.

– A autoria de Paulo foi reconhecida logo nos primórdios da Igreja, mas o historiador Eusébio de Cesareia já atesta que, desde o início isto era objeto de questionamento, “in verbis”; “…As epístolas de Paulo são catorze, todas bem conhecidas e indubitáveis.

Não se deve esconder, porém, que alguns põem de lado a Epístola aos Hebreus, dizendo ser contestada, alegando não ser uma das epístolas de Paulo…” (História eclesiástica: os primeiros quatro séculos da Igreja Cristã. Trad, de Lucy Iamakami, p.80).

– O mesmo Eusébio de Cesareia fala a respeito da disputa sobre a autoria da carta, registrando o pensamento de Orígenes (185-254) a respeito, “in verbis”:

“O estilo da Epístola com o título ‘Aos Hebreus”, não possui aquela rudeza de discurso que pertence ao apóstolo [Paulo, observação nossa], que confessa ser bem comum em discurso, ou seja, em sua fraseologia.

Mas que essa epístola é mais pura em grego na composição das suas frases confessarão todos os que conseguem discernir a diferença de estilo.

De novo, ficará evidente que as ideias da epístola são admiráveis e não inferiores a qualquer um dos livros reconhecidos como apostólicos.

Todos os que lerem atentamente os escritos do apóstolo confessarão a verdade disso’. A isso posteriormente acrescenta:

’ Mas eu diria que os pensamentos são do apóstolo, mas o discurso e a fraseologia pertencem a alguém que registrou o que disse o apóstolo, e anotou livremente o que seu mestre dizia.

Se, portanto, alguma igreja considera que essa epístola veio de Paulo, que seja elogiada por isso, pois não foi sem motivos que os antigos homens a transmitiram como tal.

Mas só Deus sabe quem realmente escreveu a epístola. O relato, porém, corrente entre nós é, de acordo com alguns, que Clemente, que era bispo de Roma, escreveu a epístola; de acordo com outros, que foi escrita por Lucas, que escreveu o Evangelho e os Atos.” (op.cit., p.227).

– Assim, apesar de a epístola ter sido, logo nos primeiros instantes, atribuída a Paulo, ainda nos primeiros séculos já havia quem questionasse este fato, como podemos ver nas palavras de Orígenes.

O primeiro elemento questionado é a linguagem utilizada.

A carta aos hebreus foi escrita num grego muito próximo do grego clássico, contrariando, assim, todas as demais epístolas paulinas, onde é utilizado um grego mais popular.

– Um segundo elemento que parece contrariar a autoria paulina é a forma com que foram citados os textos do Antigo Testamento, feitos também em desconformidade com que o apóstolo o faz nas epístolas que são reconhecidamente de sua autoria, pois as citações em Hebreus estão sempre baseadas na Septuaginta e não nos textos hebraicos, algo que não ocorre nas epístolas reconhecidamente paulinas.

– Um terceiro elemento apresentado é o fato de a argumentação trazida pelo autor da carta aos hebreus ser diferente da que Paulo apresenta em seus escritos a respeito dos mesmos temas, algo que faria com que a carta aos hebreus ficasse isolada do conjunto das epístolas paulinas que sempre apresentam argumentos similares ao tratar dos mesmos assuntos, ainda que, nas epístolas mais recentes, tais temas demonstrem maior maturação intelectual, maior profundidade, mas jamais tanta discrepância de pensamentos.

– Um quarto elemento apresentado é o recurso que o autor da carta aos hebreus faz das alegorias e analogias, o que o faz um seguidor do pensamento do filósofo judeu Filo de Alexandria, um tipo de interpretação que não é recorrente nem muito menos predominante nos escritos de Paulo, a revelar, assim,

uma influência filosófico-teológica que não se coaduna com a formação do apóstolo dos gentios, cujos estudos filosóficos o aproximavam do estoicismo, que tinha em Tarso, terra natal de Paulo, um de seus centros de estudos, e não do platonismo, predominante em Alexandria, onde viveu Filo.

Daí porque alguns entenderem que o autor do livro tenha sido Apolo, que teria tido tal formação.

– Um quinto elemento apresentado é o fato de Paulo sempre se identificar em suas epístolas, o que, uma vez mais, faria com que esta carta fosse diferente de todas as demais.

– Um sexto elemento apresentado é a circunstância de que o escrito parece ser de alguém que tinha muita intimidade com o cotidiano sacerdotal, com toda a ritualística do templo, o que fazem alguns defender que seu autor tenha sido Barnabé, que era levita, embora fosse natural de Chipre (At.4:36), o que explicaria, até, o grego clássico utilizado no escrito.

Se bem que tal circunstância não tenha o condão de afastar a autoria paulina, já que Paulo era exímio conhecedor das Escrituras hebraicas.

– Os que defendem a autoria paulina fundam-se em dois pontos principais. O fato de o autor mencionar Timóteo, com quem esperava ver os destinatários da carta (Hb.13:23) e o fato de que o autor se encontrava na Itália quando escreveu a epístola (Hb.13:24), circunstâncias que permitem concluir que se tratava, mesmo, do apóstolo, a quem Timóteo sempre acompanhou e que esteve preso em Roma.

– O saudoso pastor Severino Pedro da Silva (1946-2013) elenca ainda alguns argumentos em favor da autoria paulina, a saber:

“…Parece que o autor desta carta não era um apóstolo; ou se era, escreveu-a através de um amanuense (Hb 2.3).

Nesse caso, Paulo seria então seu autor, porque seus pensamentos estão inseridos nela do começo ao fim:

(Hb 1.2,3; 6.1; I Co 8.6; 2 Co 4.4; Cl 1.15-17);

( Hb 2.14-17; 5.8; Rm 5.19; 8.3; G14.4; Fp 2.7,8);

(Hb 9.28; I Co 5.7; Ef 5.2);

(Hb 8.6; 9.15; 2 Co 3.6-11);

( Hb 11.8-12,17-19; Rm 4.17-20; G1 3.6-9);

(Hb 2.4; I Co 12.4-11,27-31);

(Hb 2.6,9; SI 8; I Co 15.27);

(Hb I2.I; I Co 9.24-27, etc.).

As circunstâncias em Hebreus 13 são simplesmente as de Paulo, nas cartas reconhecidas como paulinas. Compare o seguinte:

Hebreus 13.23 com a amizade de Paulo e Timóteo Hebreus 13.18 com Romanos 15.30;

2 Coríntios 1. 11; Atos 23.1; 24.16;

2 Coríntios I.I2; I Timóteo 3.9;

2Timóteo 1.3; Hebreus 13.19 com Filemom 22;

Filipenses 1.24,25 Hebreus 13.20,25 com Romanos 15.33;

I Timóteo 5.28; 2 Timóteo 3.18.

Existem ideias similares em Hebreus com outras cartas paulinas. Por exemplo:

Cristologia:

Hebreus 1.3 com Colossenses 1.15

Hebreus 1.2,3,10,11,12 com Colossenses 1.16,17;

I Coríntios 8.6 Hebreus 1.4-14; 2.14-17 com Filipenses 2.5- 11; Efésios 1.20-23;

Hebreus 2.9; 9.26; 10.12 com I Timóteo 2.6; Efésios 5.2; I Coríntios 15.3.

Os dois concertos:

Hebreus 10 com Colossenses 2.16,17;

Hebreus 8.1-6; 4.1,2 com I Coríntios 10.11;

Hebreus 7.18 com Romanos 8.3;

Hebreus 8.8-12; 7.19; 8.13 com 2 Coríntios 3.9-11.

Vários termos usados em Hebreus são similares aos termos de outras cartas paulinas. Exemplo:

Hebreus 1.5 com Atos 13.33. Esta citação é mencionada por Paulo em Hebreus para referir-se a Cristo, mas não é usada em nenhuma outra passagem do Novo Testamento.

Hebreus 2.4 com I Coríntios 12.4,6,11;

Hebreus 2.10 com Romanos 11.36; Colossenses 1.16; I Coríntios 8.6;

Hebreus 2.16 com Gálatas 3.29; 4.16;

Hebreus 4.12 com Efésios 6.17 Hebreus 6.3 com I Coríntios 16.7;

Hebreus 10.19 com Romanos 5.2; Efésios 2.18; 3.12.

A autoria paulina foi aceita por Clemente de Alexandria perto do final do século II d.C., e Hebreus foi encontrado numa coleção de livros atribuídos a Paulo, no Egito. (…).

Alguns eruditos questionam a não-autoria paulina, porque são encontradas 168 palavras em Hebreus que nunca foram usadas por Paulo em qualquer outra passagem do Novo Testamento, e mais 124 que não aparecem nos escritos de Paulo.

Mas este argumento não invalida sua autoria se quisermos atribuí-la a ele. Talvez sua solicitação pela presença de Marcos, dizendo que ele lhe seria “muito útil para o ministério” (2Tm 4.11) fosse, sem dúvida, para que este o ajudasse na redação final da Epístola aos Hebreus. Em seus dois últimos anos de vida, Paulo se volta para os seus: os judeus (I Co 9.20-22).

E agora seu grande desejo e missão seria convencê-los da superioridade de Cristo sobre a antiga aliança, e também da importância do sacerdócio de Cristo, que seria um sacerdócio eterno, segundo a ordem de Melquisedeque, superior àquele outorgado a Arão e seus descendentes.

Marcos teria, então, as qualidades necessárias para ajudá-lo nesta grande tarefa. Ele pertencia à tribo de Levi, tribo esta ligada diretamente ao sacerdócio (cf. At 4.36; Cl 4.10).…” (Epístola aos hebreus: as coisas novas e grandes que Deus preparou para você, pp.10-2).

– Com relação às discrepâncias de estilo, linguagem e argumentos, defendem estes que o texto pode ter sido escrito por alguém que não Paulo, que teria apenas ditado o conteúdo ou que o próprio apóstolo, em virtude da natural desconfiança que sofria junto aos crentes hebreus, tivesse propositadamente alterado seu estilo e forma de escrever, até porque, ao contrário das epístolas outras, estava aqui com outro objetivo e se dirigindo a judeus e não a gentios, como costumava fazer.

– Tomás de Aquino (1225-1274) também defende a autoria paulina dizendo o seguinte:

“…deve-se saber que, antes do Conselho Niceno, alguns duvidaram que esta carta fosse de Paulo; e com dois argumentos provam que não era:

o primeiro, porque não segue o caminho trilhado nas outras letras; pois aqui ele não coloca o nome nem encabeça a carta com uma saudação;

o outro, que se usa outro estilo e, ainda mais, relaxado; nem será encontrada outra carta que carregue tanta ordem quanto essa em palavras e frases.

Assim, eles atribuíram a autoria a Lucas Evangelista, ou a Barnabé ou ao Papa Clemente; já que ele escreveu aos atenienses como se estivesse seguindo a fio esse estilo.

Mas os doutores antigos, especialmente Dioniso e alguns outros, tomam as palavras desta carta como testemunhos em abono de Paulo; e São Jerônimo a coloca entre as cartas de Paulo.

Digamos, então, ao primeiro argumento, que não ter posto o nome era por um motivo triplo:

um, porque ele não era apóstolo dos judeus, mas dos gentios (Gl. 2); por esta razão, ele não mencionou o seu apostolado no início desta carta, porque não queria insinuar, senão só aos próprios gentios, o ofício do apostolado.

Segundo, porque seu nome era odioso para os judeus, por ter dito, como parece de Atos 22, que não havia motivo para observar as cerimônias legais; por essa razão, ele fechou a boca com estes dois objetivos, para que não acontecesse ver desprezada, por uma questão de menor valor, a doutrina mais salutar desta carta.

Em terceiro lugar, porque ele era um judeu (II Co 11), e aqueles de casa não parecem reconhecer gentilmente a excelência de seus próprios (Mt. 13).

O outro argumento é que, se o estilo é mais elegante, é porque ele lidou com a língua hebraica com mais intensidade, na qual ele escreveu esta carta, como mais inato, embora conhecesse todas; e é por isso que ele pode falar com mais gala em sua própria língua do que em outro alheio.

Por isso, ele diz:

“porque, se sou rude na palavra, não o sou contudo na ciência” (II Co 11:6); e Lucas, que era um excelente orador, moveu essa decoração do hebraico para o grego.…” (Comentário de São Tomás de Aquino à Epístola aos hebreus. Trad. de J.I.M. Prólogo n.1. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm . Cit. Hb.1:1-4) (tradução Google adaptada por nós de texto em espanhol).

– Além do mais, embora seja chamada de “epístola” ou de “carta”, na verdade, Hebreus é mais um tratado, ou seja, obra que expõe de forma didática um ou vários assuntos a respeito de um determinado tema, o que explicaria a mudança de estilo e a própria linguagem empregada pelo autor.

– Se dúvida há com relação à autoria, certamente a questão da data é também objeto de controvérsia.

No entanto, tendo em vista a vasta menção que se faz do cerimonial do templo e a total ausência de qualquer fator que demonstre a ciência de que o templo já tivesse sido destruído e o fato de que se está tentando animar os crentes hebreus a não abandonarem a fé, voltando a seguir a lei,

tem-se como certo que a epístola foi escrita antes da destruição do templo e, podemos mesmo até dizer, antes do início da guerra dos judeus contra os romanos, guerra esta iniciada em 66 e que terminou em 70, o que é, aliás, mais um fator a alicerçar a tese da autoria paulina.

– O tema da carta é a de queJesus Cristo é melhor”, ou seja, o autor procura mostrar àqueles crentes hebreus que vacilavam na fé que Jesus era superior

aos anjos,

a Moisés,

a Arão,

a Josué e que

Seu sacerdócio era superior ao sacerdócio levítico, de modo que não se poderia comparar o seguimento a Cristo com a lei mosaica, sendo um evidente e perigoso retrocesso o retorno ao judaísmo, como pretendido por alguns dos que vacilavam na fé naquele difícil momento.

– Ao mesmo tempo em que o escritor mostra a excelência de Cristo e a Sua supremacia, também revela quão grande seria o pecado de deixar ao Senhor Jesus e voltar às velhas práticas, demonstrando a gravidade da apostasia da fé, numa ênfase tão forte que isto fez com que muitos, diante dos textos, questionasse até a canonicidade da epístola.

Com efeito, assim diz João Calvino:

“…Fomentava-se a suspeita de que ela favorecia a Novato, em sua negação do perdão aos que caíam em pecado….” (Hebreus. Trad. de Valter Graciano Martins, p.21).

Daí ter havido resistência em sua aceitação, notadamente nas igrejas latinas, mas isto acabou sendo superado, já que como afirma o mesmo Calvino:

“…Várias passagens, porém, revelarão que tal opinião era destituída de todo e qualquer fundamento.

Eu classifico a Epístola aos Hebreus, sem a mínima hesitação, entre os escritos apostólicos. Não tenho dúvida de que foi pela astúcia de Satanás que muitos se viram induzidos a questionar sua autoridade.

De fato não há nenhum livro da Santa Escritura que tão claramente fale do sacerdócio de Cristo, que tão sublimemente exalte a virtude e a dignidade daquele único e genuíno sacrifício que ele ofereceu através de sua morte, que tão ricamente trate do uso das cerimônias, tanto quanto de sua remoção, e, numa palavra, tão plenamente explique que Cristo é o cumprimento da lei.…”(op.cit., pp.21-2).

– Deste modo, após demonstrar a sublimidade de Cristo com relação a alguém, sejam os anjos, seja Moisés, seja Arão, seja o sacerdócio levítico e assim por diante, o autor mostra a gravidade de se deixar Cristo como Senhor e Salvador, gravidade esta que é enfática e que revela algo que muitos não querem enfrentar: a grande probabilidade da irreversibilidade de uma tal atitude, quando deliberada e voluntária.

– A própria divisão da carta em capítulos, o que foi feito, como se sabe, nos séculos XI e XII, tratou de observar esta estrutura da carta, reunindo os argumentos em prol da sublimidade de Cristo com as consequentes advertências a quem se dispusesse a apostatar da fé.

– Segundo Finis Jennings Dake (1902-1987), Hebreus tem

13 capítulos,

303 versículos,

17 perguntas,

270 versículos de história,

9 versículos de profecias cumpridas e

24 versículos de profecias não cumpridas.

– Segundo os estudiosos como Richard Amiel McGough, Hebreus está vinculado à letra hebraica “Nun” (נ), letra cujo nome significa, como verbo, florescer, continuar, propagar e, como substantivo, “perpetuidade”, “posteridade”, fazendo com que a letra seja considerada como “símbolo da eternidade”, a indicar, portanto, o “sumo sacerdote eterno”, que é Cristo Jesus, o tema da epístola.

II – JESUS, A SUPREMA REVELAÇÃO DE DEUS E SUA SUPERIORIDADE EM RELAÇÃO AOS ANJOS

– Como já foi dito, o tema da epístola aos hebreus é a supremacia de Cristo, Sua superioridade sobre todos os demais seres, ideia, aliás, já aventada, mais de uma vez, pelo apóstolo Paulo em suas epístolas.

Tomás de Aquino, no introito de seu comentário a esta carta, cita o Sl.86:8, onde o salmista Davi afirma que “entre os deuses não há semelhante a Ti, Senhor, nem há obras como as Tuas”, que bem serve para dar o “espírito” deste tratado.

O escritor inicia seu tratado afirmando que Deus falou aos pais pelos profetas, mas que, nos últimos dias, falou pelo Filho (Hb.1:1).

Já neste ponto, o autor rememora o que já havia sido dito pelo Senhor Jesus, ou seja, que o ofício profético havia durado até João (Mt.11:13; Lc.16:16) e que, portanto, se estava agora numa nova etapa da revelação divina, a revelação do próprio Deus na pessoa do Filho.

– Há, desde o início, a demonstração de que se está já nos “últimos dias”, no cumprimento das profecias e que, portanto, não se poderia querer voltar ao passado, querer desconsiderar o fato de que o Messias já viera e que parte substancial do que havia sido dito pelos profetas se cumprira.

– Esta afirmação do autor da epístola também serve para nós nestes dias em que vivemos, pois, como após o profetas foi o próprio Filho que Se manifestou aos homens, revelando “tudo quanto o Pai o tinha feito conhecer” (Jo.15:15),

não resta mais revelação de Deus ao homem além daquela que foi feita pelo Senhor Jesus e que estão registradas nas Escrituras (Jo.5:39), de sorte que toda e qualquer “revelação” que se seguiu ao Novo Testamento não pode ser crida por pessoa alguma, residindo aí a falsidade das seitas, heresias e falsas religiões, todas elas baseadas em supostos “escritos divinos”, que se seguiram à própria revelação do Filho.

– Não pode haver maior revelação que do Filho, pois o Filho é Deus e quem mais do que Deus poderia revelar a Divindade?

Deus Se revelando é a plenitude da revelação, uma autorrevelação que jamais pode ser superada.

Destarte, já no seu limiar, a carta aos hebreus mostra que é um grandíssimo engano querer retornar às revelações parciais que antecederam à do Filho. Como afirma João Calvino:

“…Quando ele diz, “nestes últimos dias nos falou”, o sentido é que não há mais razão para continuarmos em dúvida se de- vemos esperar alguma nova revelação. Não foi apenas uma parte da palavra que Cristo trouxe, e sim a palavra final.…” (op.cit., pp.28-9).

– Daí porque o escritor retomar a mesma expressão utilizada por Pedro no dia de Pentecostes, identificando o tempo vivido como “os últimos dias”, visto que se tratava da completude da revelação de Deus aos homens através da pessoa de Cristo Jesus, aqui denominado de “Filho”, precisamente para reforço da ideia da Sua supremacia, vez que Ele é Deus.

– O Filho é superior porque foi constituído “herdeiro de tudo”, sendo Ele, também, o Criador do mundo.

O Senhor Jesus é aqui apontado como o Verbo, a Palavra, o meio pelo qual o mundo foi criado, como narrado no Gênesis, de sorte que não há como negar que é Ele superior, por ser o Criador e não uma criatura, como era o caso dos profetas pelos quais Deus falava anteriormente.

Tomás de Aquino, no prólogo de seu comentário à epístola, faz questão de dizer que uma das excelências de Cristo está, precisamente, no fato de ser Ele o Criador.

OBS: “…Manifesta-se, em segundo lugar, essa excelência por seus efeitos; donde, se formos às obras, 3 excelentes em Cristo, encontramos: uma que abarca todas as criaturas, a da criação (Jo.1)…” (AQUINO, Tomás de. ibid.).

– Entretanto, se Ele é o Criador, como foi constituído herdeiro? Tomás de Aquino bem esclarece esta constituição, dizendo:

“…De acordo com sua filiação natural, Ele não foi constituído um herdeiro, porque é natural; mas, como homem, Ele foi feito filho de Deus (Rm.1) e, neste sentido, Ele foi constituído como um herdeiro universal, como o verdadeiro Filho do Pai.

“Ele me deu toda autoridade” (Mt. 28) e sobre toda criatura, que estava sujeita ao Seu senhorio.

Do mesmo modo, tal senhorio não está circunscrito a uma única linhagem, mas a todos os tipos de homens, judeus e gentios (Sl.2).…” (op.cit. n.2 end. cit.).

– Isto também afirma Calvino:

“…O título herdeiro é atribuído a Cristo em sua manifestação na carne. Pois, ao fazer-se homem e revestir-se de nossa própria natureza, ele recebeu para si essa herança a fim de restaurar em nosso favor o que fora perdido em Adão.

No princípio Deus estabelecera o homem como seu filho, para ser ele o herdeiro de todas as coisas; mas o primeiro homem, por meio de seu pecado, alienou-se de Deus, tanto ele próprio como também sua posteridade, e privou a todos tanto da bênção divina quanto de todas as demais coisas.

Só começaremos a desfrutar as boas coisas de Deus, por direito, quando Cristo, que é o herdeiro de todas as coisas, nos admitir em sua comunhão. Ele tornou-se o herdeiro para poder fazer-nos ricos por meio de suas riquezas.

Aliás, o apóstolo lhe atribui esse título para que pudéssemos saber que sem ele somos destituídos de todas as boas coisas.…”(op.cit., pp.30-1). Mais uma demonstração de como não se poderia abandonar a Cristo como pretendiam os crentes destinatários da epístola.

– O Filho é apresentado como o resplendor da glória divina e a expressa imagem de Deus, a mostrar, portanto, que não há como existir uma revelação divina mais completa que a do Filho. Não foi à toa, aliás, que o próprio Jesus disse a Felipe que quem O via, via o Pai (Jo.14:9).

Querer ver Deus por outro meio que não o de Cristo é impossível, daí porque não se poder jamais concordar com a afirmação de que “todos os caminhos levam a Deus”, ideia que, infelizmente, tem chegado a seduzir alguns que cristãos se dizem ser.

– Jesus não só é o Criador, como também é Aquele que sustenta todas as coisas pela palavra do Seu poder, a demonstrar, assim, que não só criou como mantém a criação até o final dos tempos, a desmentir, aqui, os chamados “deístas”, que dizem que Deus criou o mundo e depois o deixou à própria sorte, abandonando-o.

Deus é um ser que participa da Sua criação e a Pessoa do Filho é quem sustenta todas as coisas pela palavra do Seu poder.

Daí não se poder negar o Filho sem se negar o próprio Deus (I Jo.2:22,23), uma afirmação que certamente serviu para que os destinatários da carta, judeus que eram, compreendessem a gravidade da sua vacilação espiritual presente que motivou o escritor a redigir este tratado.

OBS: “…O verdadeiro propósito desta epístola foi para mostrar aos crentes hebreus a superioridade de Cristo e de sua graça sobre o antigo concerto, como sendo um empreendimento “melhor”.

E através desta conscientização, encorajá-los a não voltarem para o judaísmo, que havia terminado sua missão justificadora com a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Hb 10.9). Jesus é superior…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.19).

– Mas, além de sustentar todas as coisas pela palavra do Seu poder, Jesus, também, fez, por Si mesmo, a purificação dos nossos pecados, estando aqui, segundo Tomás de Aquino, mais uma das obras excelentes de Cristo: a justificação. Somente Cristo proporciona a purificação dos pecados, algo que os sacerdotes levíticos não podiam fazer, como mostrará o autor ao longo de sua argumentação.

Assim, abandonar a Cristo nada mais é que abandonar a própria purificação dos pecados, deixar de lado a própria possibilidade de restabelecimento da comunhão com o Senhor, o que é uma verdadeira loucura espiritual.

OBS: “…Quando o escritor diz: por si mesmo, há que entender-se que existe aqui uma antítese implícita, ou seja: que ele não foi auxiliado, em seu propósito, pelas sombras da lei mosaica.

Ele mostra uma nítida diferença entre Cristo e os sacerdotes levíticos. Na verdade lhes foi dito que perdoassem os pecados, mas esse poder lhes foi concedido de uma outra fonte.

Em suma, sua intenção é excluir todos os demais meios ou mediadores, colocando em Cristo tanto o valor quanto o poder de nossa purificação.…” (CALVINO, João. op.cit., p.35).

– Mas, além de ter purificado os pecados, o Senhor sentou-Se à destra da majestade nas alturas, estando à direita do Pai, posição excelente e sem igual, como, aliás, havia revelado o primeiro mártir da Igreja, Estêvão (At.7:56), mesmo lugar para onde Ele irá nos levar, como seria revelado posteriormente à carta aos Hebreus por intermédio do apóstolo João (Ap.3:21).

Tal circunstância mostra a total superioridade de Jesus, mais um item para que não se pudesse titubear a respeito da salvação na Sua pessoa.

OBS: “…Assentar-se à direita do Pai significa simplesmente governar no interesse do Pai, justamente o que fazem os vice-reis a quem se concedem plenos poderes sobre todas as coisas.

A isso se adiciona a descrição – da majestade; em seguida – nas alturas – para mostrar que Cristo se acha colocado no mais sublime trono donde a majestade de Deus se irradia.

Quando ele for amado em virtude de sua redenção, também será adorado nessa majestade.…” (CALVINO, João. op.cit., p.36).

– Após mostrar a sublimidade de Cristo em virtude da Sua divindade, o autor passa a mostrar que Jesus é superior aos anjos, algo extremamente importante para um judeu, tendo em vista que a lei mesma havia sido encaminhada a Moisés através de seres angelicais (Dt.33:2; At.7:53; Gl.3:19), que, segundo a tradição judaica, acompanharam o Senhor quando Este desceu ao monte Sinai.

Assim, se Cristo é superior aos anjos, é também a Sua revelação superior à da lei, não fazendo, pois, sentido que os crentes destinatários da carta estivessem tentados a voltar às práticas judaicas depois de terem crido em Jesus.

OBS: “…a ideia de que a lei mosaica viera por meio da administração angelical também era uma tradição judaica. (ver o trecho de Dt.33:2).

Há nos livros judaicos uma citação que diz:

‘Quando Deus desceu sobre o monte Sinai, vieram com Ele muitas companhias de anjos, Miguel e seu exército, e Gabriel e seu exército.(Debarim Rabba, secção 2, fol.237.3…” (CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, com. At.7:53, v.3, p.162).

– A superioridade de Cristo em relação aos anjos é apresentada em cinco pontos pelo escritor.

O primeiro deles é que Jesus herdou mais excelente nome do que os anjos. O nome de Cristo é “Filho”, algo que jamais foi concedido aos anjos, que são genericamente chamados de “filhos de Deus” (Jó 1:6; 2:1), mas não “o Filho”, algo que somente pertence a Cristo Jesus, pois a ninguém, como afirma o escritor, o Pai disse “Ele Me será por Pai e Ele Me será por Filho” (Sl.2:7).

Tomás de Aquino afirma que os anjos são chamados “filhos de Deus” por participação e não por essência.

OBS: “…quanto à significação, porque o nome próprio dos anjos é o de enviados ou embaixadores, que é o nome de ministros ou criados; mas o nome próprio de Cristo é o de Filho de Deus; e esse nome traz tanta vantagem sobre o outro que, independentemente da diferença, há espaço para mais, porque é uma distância infinita.

“Qual é o Seu nome e qual o nome de Seu filho, se é que o sabes?” (Pv 30:4b). Porque o nome do Filho é, como o do Pai, incompreensível (Ph 2). Mas talvez você responda que os anjos também são chamados filhos de Deus (Jó 1 e 2).

Isso é respondido se eles são chamados, mas não por natureza e essência, mas por alguma participação.

Ele, por outro lado, é essencialmente o Filho de Deus; pelo que tem um nome muito diferente do deles…” (AQUINO, Tomás de. op.cit. n.2 end. cit.) (tradução do Google adaptada por nós de texto em espanhol).

– Temos, ademais, a afirmação de que o Filho foi “gerado”, ao contrário dos anjos, que foram “criados”, como, aliás, deixou bem claro o Credo Niceno, elaborado precisamente para se refutar a heresia do arianismo, que começou a defender que Jesus seria a “primeira criatura divina”, algo que é defendido, ainda hoje, pelas Testemunhas de Jeová.

– Esta “geração” significa que o Filho veio do Pai, não que tenha sido criado pelo Pai, pois é Deus e, portanto, incriado.

O termo utilizado no Salmo 2 tem a ver com a entronização do rei, ou seja, com a assunção de uma posição e, portanto, o Filho assume a posição de Filho no exato instante em que o Pai Se denomina Pai, pois não há Pai sem que haja Filho.

“…Vários exegetas explicam este versículo dizendo que «eu hoje te gerei», quer dizer «neste dia eu te designei para seres ungido como rei». Assim, de acordo com esta interpretação, estabelecia-se uma relação direta entre a realeza e a divindade…” (Gerado e não criado – esta é a nossa fé. Laboratório da fé. Disponível em: http://www.laboratoriodafe.net/2013/01/gerado-nao-criado-esta-e-nossa-fe-12.html Acesso em 08 nov. 2017).

– Tomás de Aquino assim explica a “geração”:

“ Devemos saber que há diversos modos de geração, conforme a diversidade dos seres. A geração em Deus é diferente da geração nos outros seres.

Por isso, não podemos chegar a conhecer a geração de Deus, senão por meio da geração das criaturas que mais se aproximam de Deus e que mais se assemelham a Ele.

Ora, como já foi dito, nada se assemelha tanto a Deus, como a alma humana. Há na alma, uma espécie de geração, quando o homem conhece alguma coisa pela própria alma, que se chama concepção intelectiva. O conceito (efeito da concepção) tem a sua origem da própria alma, como de um pai.

Chama-se verbo (isto é, palavra mental) da inteligência ou do homem. A alma, portanto, gera o seu verbo pelo conhecimento.

O Filho de Deus, também, nada mais é que o verbo de Deus, não como se fosse um verbo (uma palavra) já pronunciado exteriormente, porque assim seria transitório, mas como um verbo (uma palavra mental) concebido no interior.

Desse modo este verbo de Deus possui a própria natureza de Deus, e é igual a Deus” (Aquino, Santo Tomás. Exposição Sobre o Credo. Tradução D. Odilão Moura, OSB. Edições Loyola, São Paulo Brasil, 1981. 5. ed. p 36 apud LIMA, Alessandro. Leitor pergunta sobre o termo ‘gerado’ aplicado a Cristo no Credo Niceno-Constantinopolitano. Disponível em: http://www.veritatis.com.br/leitor-pergunta-sobre-o-termo-gerado-aplicado-a-cristo-no-credo-niceno-constantinolopolitano/ Acesso em 08 nov. 2017.)

– Mas, além de ter um nome superior aos dos anjos, Jesus também é adorado, enquanto os anjos são Seus adoradores. Este é o segundo ponto de superioridade de Cristo em relação aos anjos.

Para tanto, o autor da epístola lança mão do texto do Sl.97:7, onde há uma ordem divina aos anjos (identificados como “deuses”, pois assim, em algumas oportunidades, as Escrituras se referiram aos anjos, como diz Tomás de Aquino: “…às vezes, como parece em Jó 1 e 2, os mesmos anjos são chamados de deuses…” – op.cit., n.1 end.cit. – tradução nossa de texto em espanhol) para que se prostrassem e adorassem ao Filho.

– “…De acordo com alguns eruditos das Escrituras, a frase ‘outra vez introduz no mundo o Primogênito’ aponta claramente para a encarnação de Cristo, acontecimento este que, talvez os anjos, sem uma explicação por parte de Deus, jamais entenderiam.

Eles foram adoradores de Cristo antes deste período, mas ignorando seu estado de humilhação, quando ‘… aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens’ (Fp 2.7).

Era necessário, portanto, que Deus, o Pai, ordenasse a estes elevados poderes que Jesus, mesmo tornando-Se ‘menor do que os anjos, por causa da paixão da morte’, [fosse adorado, pois – inclusão nossa] o fez por uma necessidade premente da salvação da pessoa humana.

Mas Ele continuava o mesmo Deus, em sua natureza e essência, quando era por eles adorado no trono da sua glória. Então, Ele foi por eles (os anjos) aceito sem restrição alguma (cf. I Pe 3.22).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.27).

– Com efeito, quando da encarnação do Verbo, não apenas um anjo veio anunciar a Maria que isto aconteceria (Lc.1:26-38) como, quando do Seu nascimento, multidões de anjos vieram celebrar tal efeméride (Lc.2:8-15).

Os anjos jamais aceitam adoração (Ap.22:8,9), pois são adoradores, enquanto que Jesus sempre é adorado, tanto que aceita adoração (Mt.28:17).

– Tanto assim é que Cristo é chamado de “primogênito”, querendo com isto dizer que se trata do “herdeiro”, do “Senhor”, ao contrário dos anjos, que são “servos”.

É o que ensina Tomás de Aquino:

“…Aqui se trata do senhorio de Cristo – pelo qual Ele é herdeiro do universo. Mostra-se esse senhorio, de maneira especial sobre os anjos, indicando a razão do senhorio de Cristo sobre eles.

Para tanto, traz a autoridade do salmista, dizendo: “adorai-lhe todos os seus anjos”; porque a adoração não é entregue senão ao Senhor; então, se os anjos o adoram, ele é o Senhor deles…” (op.cit. n.2 end. cit.) (tradução do Google adaptada por nós de texto em espanhol).

– O terceiro ponto diz respeito a este aspecto. Cristo é chamado de “rei”, enquanto que os anjos são denominados de “ministros”.

Assim, Cristo é o Senhor, enquanto os anjos, servos. O Filho é chamado de “rei” no Sl.45:6,7, enquanto que os anjos são denominados de “ministros” no Sl.104:4. Em Ap.22:9, o anjo se denomina “conservo” de João e dos salvos.

– O quarto ponto diz respeito ao fato de ser Cristo o Criador e os anjos, as criaturas. Foi Jesus quem fundou a terra e os céus são obras das Suas mãos (Hb.1:10), enquanto que os anjos são criaturas, sendo o Senhor chamado de eterno, cujos anos não acabarão (Hb.1:12), que não tem princípio nem fim, enquanto que os anjos tiveram início, não sendo eternos, portanto.

OBS: “…os anjos foram criados para serem servos, e não senhores, tal como as forças físicas da natureza eram dependentes e finitas. Houve um tempo em que alguns destes seres caíram na tentação e pecaram, sendo assim levados pelo “vento” da rebelião e consumidos pelo “fogo” do orgulho em seus corações.

Mas Jesus em tudo foi submisso ao Pai, e jamais transgrediu um só mandamento ou uma só ordem que d’Ele tinha recebido.

Este era o seu objetivo principal: fazer a vontade de Deus, como Ele mesmo dissera: “… eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.38).

Com efeito, porém, Ele pode ter sido tentado a fazer algo que fosse contrário à vontade de Deus.

Mas não cedeu a tal pensamento contrário à natureza do seu ser. Por esta razão o escritor sagrado conclui: Ele “… em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15b).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., pp.27-8).

– O quinto e último ponto apresenta Jesus como o Salvador, Aquele que está à direita do Pai esperando a execução dos Seus inimigos (Hb.1:13), enquanto que os anjos são espíritos ministradores a favor dos que herdarão esta salvação (Hb.1:14), mostrando, pois, que, enquanto Cristo é o Salvador, os anjos servem os salvos.

Mas Cristo não é chamado também de Servo de Deus? Quanto a isto, explica Calvino:

“…Cristo é semelhantemente descrito em muitos passos das Escrituras como Servo e Ministro, não só de Deus, mas também de nós próprios, a resposta é simples, a saber:

isso não é próprio de sua natureza, e sim de seu esvaziar-se voluntário, como Paulo o testifica [Fp 2.7].

Ao mesmo tempo, ele não elimina sua soberania, e sim a restringe. Por outro lado, os anjos foram criados com o propósito de servirem, e toda sua condição se acha contida nesse ministério.

Há, pois, uma imensa diferença, porquanto o que para eles é natural, para Cristo é adventício com respeito à nossa carne que ele espontaneamente tomou para si.

0 que necessariamente lhes pertence, Cristo assumiu de sua livre vontade. Além do mais, Cristo é Servo em tal caráter, que não há qualquer prejuízo para a majestade de seu governo, mesmo na carne…” (op.cit., pp.47-8).

– Ante tais ensinamentos, não se pode admitir, de forma alguma, que alguns identifiquem Jesus com algum anjo, como fazem os adventistas do sétimo dia e as Testemunhas de Jeová, que consideram que Miguel e Jesus são a mesma pessoa, o que não tem qualquer cabimento, visto que Miguel é chamado de “arcanjo” (Jd.9), quando, inclusive,

disse que era o Senhor que deveria repreendê-lo e não ele, a mostrar que Miguel é servo, enquanto que Jesus é Senhor. Tomemos, pois, cuidado com tais falsos ensinamentos.

– Desde o seu limiar, portanto, a carta aos hebreus mostra a superioridade de Cristo, algo que continuaremos a ver nas próximas lições.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/1514-licao-1-a-carta-aos-hebreus-e-a-excelencia-de-cristo-i

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