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LIÇÃO Nº 11 – A ORGANIZAÇÃO DE UMA IGREJA LOCAL

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A igreja local tem de se organizar segundo o padrão bíblico.

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do trimestre, ingressamos no quarto e último bloco, quando estudaremos a Epístola de Paulo a Tito, iniciando pelo seu primeiro capítulo.

– A igreja local tem de se organizar segundo o padrão bíblico.

I – SAUDAÇÕES INICIAIS DE PAULO A TITO

– Na sequência do estudo do trimestre, iniciaremos o quarto e último bloco, em que estudaremos a Epístola de Paulo a Tito. Nesta lição, estudaremos o primeiro capítulo desta carta.

– Paulo escreveu sua carta a Tito na mesma época em que escreveu sua primeira carta a Timóteo, ou seja, depois da sua soltura de sua primeira prisão em Roma. Segundo se deduz do teor desta epístola, Paulo, após ter ido a Filipos, foi com Tito para a ilha de Creta, onde havia uma grande necessidade de organizar as igrejas locais ali existentes, pois, pelo que parece, os cristãos viviam um estado de completa anarquia, com as igrejas sem qualquer organização.

– Depois de ter deixado Tito em Creta, Paulo, sentindo a responsabilidade que tinha em função de seu ministério apostólico, assim como escreveu uma carta a Timóteo para o orientar a respeito de como deveria se conduzir em Éfeso, onde fora dirigir a igreja por ordem do próprio apóstolo, também escreve uma carta a Tito, a quem havia incumbido de organizar as igrejas locais de Creta, a fim de que lhe fossem dadas orientações de como deveria proceder na sua missão.

– Tito era um dos principais cooperadores de Paulo (II Co.8:23), um gentio que havia se convertido a Cristo e passado a auxiliar o apóstolo (Gl.2:3). Era um auxiliar tão importante, que foi levado por Paulo e Barnabé para participar do concílio de Jerusalém (Gl.2:1), tendo sido mesmo um exemplo, uma referência de que os gentios não deviam se circuncidar e que não estavam obrigados a seguir a lei de Moisés (Gl.2:1).

– Pelo que se verifica das Escrituras, Tito era um cooperador a quem o apóstolo Paulo sempre incumbia de missões especiais nas igrejas que haviam sido fundadas por Paulo, como, por exemplo, em Corinto, para onde Tito foi enviado muito provavelmente assim que Paulo teve notícia de irregularidades naquela igreja (II Co.2:13/ 7:6,13,14) e também para realizar a coleta em favor dos pobres de Jerusalém (II Co.8:6; 12:18).

Foi, também, mandado para pôr em ordem as igrejas de Creta (Tt.1:5) e, por fim, foi mandado para a Dalmácia, quando Paulo estava preso pela segunda vez (II Tm.4:10).

OBS: “…Tito subiu com os apóstolos à igreja de Jerusalém (G12.1), foi muito diligente em Corinto, por cuja igreja tinha a mesma solicitude ou cuidado (2 Co 8.16) que Paulo. A segunda epístola de Paulo aos Coríntios, e provavelmente a primeira também, foi enviada por meio dele (II Co.8:16-18,23; 9.2-4; 12.18). Ele esteve com o apóstolo em Roma e de lá foi para a Dalmácia (II Tm.4:10)…” (HENRY, Matthew. Comentário Novo Testamento Atos a Apocalipse. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.722).

– “…Tito goza de alta consideração por parte de Paulo (II Co.8:16-23). Ele já era colaborador do apóstolo antes de Timóteo, acompanhando-o com Barnabé ao concílio dos apóstolos (Gl.2:1). Se por um lado Paulo realiza a circuncisão de Timóteo para evitar escândalo desnecessário (At.16:3), por outro lado o apóstolo se nega terminantemente a permitir a circuncisão de Tito (Gl.2:3).

Isso pode ser devido a diversas circunstâncias: no caso de Timóteo era uma questão da prática missionária (ICo 9:20), no caso de Tito estava em jogo uma controvérsia doutrinária fundamental sobre aquilo que é necessário à salvação e o que não é. Tito era um homem de grande autonomia.

Paulo posicionava-se diante dele mais como alguém que pede e menos como alguém que emite orientações e ordens: ‘Mas graças a Deus, que pôs no coração de Tito a mesma solicitude por amor de vós, porque atendeu ao nosso pedido (!)… partiu voluntariamente até vós…’ (II Co.8:16s).…” (BÜRKI, Hans. Carta a Tito Comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p.7).

– As saudações iniciais desta carta são as mais longas de todas as cartas de Paulo, com exceção da carta aos Romanos. Tem-se aqui uma verdadeira “confissão apostólica”, onde Paulo, em termos concisos, como que explica a natureza e a própria razão de ser não só de seu ministério mas de toda a vida cristã.

– No introito desta carta, Paulo inova pois, pela única vez em todas as suas epístolas, apresenta-se como “servo de Deus”. “…O título ‘servo de Deus’ é antigo, sendo usado somente para os profetas, para Abraão, Moisés, Davi: II Sm. 7:5; Sl.105:42; Dn.9:11. Por meio desse título (incomum para o NT) Paulo se posiciona ao lado dos patriarcas e profetas. Provavelmente ele o faz em vista dos cristãos judeus hereges (v.10).…” (BÜRKI, Hans. op.cit., p.8).

– Para mostrar a sua autoridade, o apóstolo Paulo apresenta-se como “servo de Deus”, pois, sem dúvida alguma, este é o maior título que um homem pode ter na face da Terra. Nos dias hodiernos, os homens estão a buscar títulos e qualificações que mostrem sua “grandeza”, sua “superioridade”, esquecidos, porém, que não há maior qualificação do que ser “servo de Deus”, de ser “propriedade de Deus”, de ser “doulos”, ou seja, escravo do Senhor. Somente aqueles que são servos e assim se reconhecem têm a Deus como seu verdadeiro Senhor e só quem tem a Deus como Senhor desfrutará a vida eterna.

– Mas, além de “servo de Deus”, Paulo apresenta-se como apóstolo de Jesus Cristo, mesma denominação com que se apresenta nas outras duas cartas pastorais (I Tm.1:1; IITm.1:1), a demonstrar que as orientações que estava a dar a seus cooperadores decorria de exigências e da responsabilidade de seu ministério apostólico.

– Este ministério apostólico era exercido segundo a fé dos eleitos de Deus e o conhecimento da verdade, que é segundo a piedade (Tt.1:1). “…A fé que é dos eleitos de Deus é o corpo da verdade revelada e a promessa que o povo de Deus tem acalentado através dos séculos. Conhecimento.

A ideia é paralela à fé que acabou de ser mencionada; ambas as ideias são governadas pelo segundo. Ambas, a fé e o conhecimento, tem a sua base em uma mensagem real que pode ser conhecida e crida. Verdade traz a implicação de “fiel revelação de Deus”, pois Jesus disse, “Eu sou . . . a verdade”. …” (HARRISON, Everett F. Tito Comentário Moody, p.2) (destaques originais).

“…O serviço e o apostolado são exercidos ‘no interesse de’ (…) a fé dos eleitos de Deus e [seu] reconhecimento da verdade que é segundo a piedade, ou seja, se concretiza com o fim de fomentar ou promover a confiança dos escolhidos de Deus n’Ele, bem como seu alegre reconhecimento ou confissão da verdade redentora que se centra n’Ele; verdade essa que, em agudo contraste com as extravagâncias dos falsos mestres, concordam com (ou aqui também é ‘no interesse de’, promovem) a piedade, a vida de virtude cristã, o espírito da verdadeira consagração…” (HENDRIKSEN, William. Comentários I Timóteo, II Timóteo e Tito. Trad. de Válter Graciano Martins, p.416).

– Paulo mostra a razão de ser do ministério, qual seja, promover a fé dos salvos em Cristo Jesus, fazer-lhes conhecer a verdade, que são as Escrituras Sagradas (Jo.17:17) e transformar a vida de cada um dos membros da igreja local numa vida de virtude cristã, numa real vida de dedicação e comunhão com Deus. O ministério é um serviço que Jesus põe nas igrejas locais para que os salvos possam crescer espiritualmente e atingir a estatura completa de Cristo, de varão perfeito (Ef.4:12,13). É um serviço, não uma fonte de poder (Lc.22:24-27).

– Paulo, embora relembre a sua condição espiritual, equiparando-se a profetas e patriarcas e mostrando a sua qualidade de apóstolo de Jesus Cristo, observa que tudo isto só tem sentido se ele estivesse servindo à Igreja, levando-a para um crescimento espiritual, para um aperfeiçoamento. Como seria importante que todos os ministros de Cristo Jesus, que têm um “status” notadamente inferior ao de Paulo, tivessem esta compreensão…

– Este ministério somente é exercido, continua o apóstolo Paulo, se houver a esperança da vida eterna e a manifestação da pregação da Palavra (Tt.1:2). Não há como se exercer o ministério, se o ministro não tiver a esperança da vida eterna, se não crer nas promessas divinas contidas nas Escrituras Sagradas.

– Por primeiro, o próprio ministro precisa alguém que creia na Bíblia como regra de fé e prática, seja alguém que esteja convicto das promessas de Deus e tenha a firme consciência de que o Senhor é fiel e não pode mentir e, portanto, tudo quanto está escrito na Sua Palavra irá se cumprir.

– Como pode um ministro promover a fé dos salvos se ele próprio não crê na Palavra e, por não crer nela, não a pratica? Como pode um ministro promover a o conhecimento da verdade se não tem a convicção de que as Escrituras são a verdade? Como pode um ministro promover a vida piedosa, se ele próprio não pratica a piedade?

– O ministro de Cristo Jesus deve, ainda, ser alguém que pregue a Palavra.

O ministério da Palavra é a tarefa precípua e essencial de alguém que recebe de Cristo um dom ministerial (Ef.4:11). Todos os dons ministeriais estão vinculados com a Palavra:

o de apóstolo, como mostra a própria afirmação de Paulo aqui em Tito como também se verifica em I Co.9:16;

o de profeta, pois o profeta nada mais é quem aplica a Palavra de Deus a alguém por orientação do Espírito Santo;

o de evangelista, pois é evidente que o evangelista deve pregar o Evangelho;

o de pastor, pois deve ele pregar a Palavra a tempo e fora de tempo (II Tm.4:1,2) e o

de mestre, pois ele se determina o ensino da Palavra (I Tm.1:3;4:13).

– Paulo vai além ao mostrar que a pregação é um mandamento de Deus, nosso Salvador a todos os chamados ao santo ministério (Tt.1:3), lembrando, ainda, que a Palavra é eterna, é o próprio Verbo de Deus (Jo.1:1), pois existente desde antes dos tempos dos séculos e que a Seu tempo se manifestou, fazendo-Se carne na pessoa de Cristo Jesus (Jo.1:14).

– “…De acordo com o Filósofo [Aristóteles – observação nossa], o século é a medida da duração de cada um. Assim, os tempos seculares são os tempos distintos segundo as diversas sucessões de coisas, como se dissesse: antes desse começo ao tempo sucessivo; e esse tempo começou com o mundo, por isso foi antes que o mundo começou.

Outro texto diz: eternos, isto é, antigos, que é o sentido que, às vezes, tem a palavra “eterno”. Ou digase eterno, não segundo a verdade, mas segundo a imaginação; e esta Sua promessa Deus a fez antes destes tempos que são medidos pela sucessão.

Mas prometer é anunciar por palavra a Sua vontade de dar; e Deus, desde toda a eternidade, pronunciou a Sua palavra de que daria aos santos a vida eterna. “Nós fomos escolhidos antes da criação do mundo” (Ef.1:4). E essa esperança é confirmada pela demonstração da promessa; Por isso, diz: “tendo feito ver em Seu tempo o cumprimento da Palavra” .

Descreve-se este evento de 3 formas:

1ª. em razão do tempo, que se deu a conhecer quando o Verbo determinou encarnar-Se; Por isso, diz ele, “a Seu tempo”, isto é, a propósito, quando o homem convicto da soberba, pela qual havia pecado; da mesma forma que convence o médico o doente primeiro para só depois aplicar a solução mais adequada para a sua saúde; porque ao homem de ciência subia o orgulho para a cabeça, mas ficou convencido de ignorância antes do tempo da lei, em que ele pecou com a idolatria e vícios contra a natureza.

O mesmo em relação às virtudes (não praticadas) de que estava convencido no tempo da lei (Gl.4) .

Descreve-se a segunda maneira, ou seja, pela pregação pública (Mc.16), por isso, diz ele, “na pregação do Evangelho.”

3a. pelo autor; onde se diz, “que me foi confiada a mim pelo comando de Deus” (Mt.1; At.9).…” (AQUINO, Tomás de.

A Epístola de Paulo a Tito. Trad. castelhana de J.I.M. Editorial Tradicción. Cit. Tt.1:1-4. n.2. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/ Acesso em 22 jun. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Paulo identifica Tito como seu verdadeiro filho, a mostrar, pois, que Paulo tinha uma relação de pai e filho para com seus cooperadores, pois é assim que se dirige também a Timóteo. Embora Tito e Timóteo fossem bem diferentes, como se viu supra, é certo que Paulo a ambos tratava como filhos, sem qualquer predileção ou parcialidade, mesmo comportamento que devem ter os ministros nas igrejas locais.

– A Tito, também, como em todas as suas cartas pastorais, o apóstolo usa na saudação as expressões “graça, misericórdia e paz”, como a lembrar aos ministros que, além da graça e da paz que advêm tanto do Pai como do Filho, é preciso lembrar, também, da misericórdia, pois, no exercício do ministério, é fundamental que se ponha a bondade de Deus em ação, que é o significa a misericórdia.

Os ministros devem sempre lembrar que são miseráveis pecadores que, pelo favor imerecido de Deus e pela comunhão que passaram a manter com o Senhor pelo perdão de seus pecados, devem ter um coração bondoso para com toda a membresia da igreja local.

OBS: “…Escrevendo para Igrejas, sua[de Paulo, observação nossa] fórmula usual é: “Graça a vós, e paz”, mas os servos de Deus, chamados para a obra do ministério, precisam de “misericórdia” muito especial – como se maior o ofício, maior a responsabilidade para o pecado e, portanto, em sua Epístolas Pastorais, se ele está se dirigindo Tito ou Timóteo, Paulo deseja para a sua filhos na fé “graça, misericórdia e paz.”

Oh, que misericórdia será para qualquer um de nós ministros se, finalmente, estivermos limpos do sangue de todos os homens! Se, depois de termos sido chamados para pregar o Evangelho, fizemo-lo tão fielmente a ponto de sermos absolvidos e até mesmo recompensados por nosso Senhor e Mestre, será misericórdia de misericórdia!

[Esta “carga” do amado Pastor tem ainda mais força e pathos, agora do que quando Ele “foi embora” para o céu.]…” (SPURGEON, Charles Haddon. Exposição de Tt. 1,2. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols40-42/chs2439.pdf , p.7) (tradução nossa de texto em inglês).

– “…Neste verso particular [Tt.1:4 – observação nossa], parece-me que Paulo trouxe juntamente cinco pontos nos quais ele era um com Tito. É uma grande bênção quando homens cristãos estão em união uns com os outros e quando desejam falar a respeito dos laços que os unem. Quanto mais pudermos promover uma unidade verdadeira entre cristãos, tanto melhor.

(…) Há cinco coisas nas quais Paulo parece para mim apresentar claramente a sua união com Tito. Podia chamá-las “as cinco argolas de uma cadeia dourada”

(…) havia um relacionamento próximo entre eles

(…) eles eram irmãos por uma fé comum

(…); eles tinham uma bênção mútua

(…); eles eram um na origem de toda bênção

(…); nosso relacionamento comum com o Senhor Jesus Cristo…” (SPURGEON, Charles Haddon. As cinco argolas de uma cadeia dourada: sermão pregado no Tabernáculo Metropolitano em Newington, na noite do dia do Senhor em 6 de novembro de 1887. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols40-42/chs2439.pdf Acesso em 22 jun. 2015) (tradução nossa de texto em inglês).

II – O ENCARGO DE ORGANIZAR A IGREJA DE CRETA E REPRIMIR FALSOS DOUTORES

– Depois desta longa saudação, o apóstolo Paulo explica os motivos pelos quais estava a escrever esta epístola, ou seja, dar orientações a Tito de como deveria proceder para cumprir a missão que o apóstolo lhe dera assim que saíra da prisão em Roma e fora para Filipos e, depois, para Creta, onde havia deixado seu cooperador para que ele pusesse em boa ordem as coisas que ainda restavam e de, cidade em cidade, estabelecesse presbíteros como já mandara (Tt.1:5).

– O que se percebe é que Paulo, tendo ido a Creta, juntamente com Tito, e não podendo ali permanecer, provavelmente porque estava indo para a Espanha, percebeu que as igrejas locais em Creta estavam passando por uma situação de anarquia, de falta de governo, sendo, pois, indispensável que Tito ali ficasse para pôr ordem nas coisas.

– Esta determinação de Paulo mostra-nos que a igreja local precisa ser devidamente organizada, não pode ser um grupo social que se mantenha acéfalo, sem liderança, sem governo. O governo na igreja é uma exigência do próprio Senhor Jesus, não havendo qualquer cabimento para se defender que, como Cristo é a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), não haja qualquer necessidade de lideranças humanas.

– Vivemos dias em que, com o aumento da iniquidade, muitos que cristãos se dizem ser estejam a defender uma “anarquia” cristã, ou seja, que não haja qualquer liderança ou governo nas igrejas, porque, afinal de contas, a cabeça da Igreja é Jesus e não haveria, pois, qualquer necessidade de líderes humanos na igreja do Senhor.

– Trata-se, evidentemente, de um ensino equivocado e que contraria frontalmente as Escrituras. Desde o início da Igreja, vemos que o Senhor Jesus constituiu os apóstolos para liderarem os salvos e estes, à medida que o Evangelho ia sendo pregado, não deixavam de constituir, nas igrejas locais, presbíteros e diáconos para cuidar do governo de cada igreja, seja no aspecto espiritual, seja no aspecto material (At.6:1-6; 14:23; 20:17; Fp.1:1).

Deus não é de Deus de confusão (I Co.14:33) e, desde os tempos de Israel, sempre zelou para que Seu povo tivesse lideranças para poder bem administrar a sociedade formada pelos Seus servos (Ex.18:19-24).

– Muitos, na atualidade, porque são rebeldes e insubmissos, soberbos e autossuficientes, levantam-se contra a organização das igrejas locais, não aceitando que haja lideranças, sendo “sucessores” dos que, na igreja de Corinto, diziam-se do “partido de Cristo” (I Co.1:12), de longe o pior de todos os grupos existentes naquela igreja, já que formados por aqueles que não pretendiam obedecer a pessoa alguma.

– Conquanto Cristo seja a cabeça da Igreja, é evidente que, estando no céu, à direita do Pai, o Senhor quis constituir homens que fossem Seus ministros, responsáveis pela condução do Seu rebanho para os céus. Pedro identifica-se como um destes presbíteros, que tem a missão de apascentar o rebanho de Cristo, dele cuidando (I Pe.5:2), algo, aliás, que o próprio Senhor o incumbiu de fazer (Jo.21:15-17).

OBS: “…Em todas as igrejas surgidas da atividade missionária de Paulo havia serviços eclesiais organizados desde o princípio, tão logo um grupo sólido de discípulos estivesse de fato formado. O NT não dá notícia de nenhuma igreja sem liderança. O estilo de liderança pode se configurar de formas muito distintas, porém nunca na forma de uma posição especial excludente ou de uma reivindicação legal consolidada.…” (BÚRKI, Hans. op.cit., p.10).

– Tem-se, portanto, claro que o Senhor designou homens para apascentar o rebanho e, portanto, é absolutamente necessário e indispensável que cada um dos Seus servos pertença a uma igreja local e esteja ali sob alguma liderança, que tem a missão de cuidar deste servo do Senhor, servindo, também, para contribuir para o seu aperfeiçoamento e crescimento espiritual.

OBS: “…1. Uma igreja sem um ministério fixo e estável é imperfeita e deficiente. 2.

Presbíteros ou anciãos precisam ser constituídos onde houver um número adequado de crentes. Sua permanência nas igrejas é fundamental para ‘…o aperfeiçoamento dos santos, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos a varão perfeito’, até que todos os escolhidos de Deus sejam chamados e unidos a Cristo em um corpo e levados à sua estatura e força plena, e à medida da graça que é devida e destinada a eles (Ef 4.12,13).

Essa obra deve continuar sendo feita até o final dos tempos, e os meios necessários e designados precisam durar.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.726).

– Sem razão, portanto, os chamados “desigrejados”, que tanto têm aumentado na atualidade, que são pessoas, acima de tudo, arrogantes e soberbas, que se acham superiores a todos os demais e que não admitem pertencer a uma igreja local, achando que podem se apascentar a si mesmas, o que, à evidência, contraria completamente o que se encontra nas Escrituras Sagradas.

– Os cretenses pareciam ser pessoas desta índole, pois não havia qualquer governo nas igrejas locais. Não haviam sido separados presbíteros e a obra de Deus em Creta estava sobremodo prejudicada. Segundo o reverendo Hernandes Dias Lopes, em sermão expositivo em áudio a respeito do trecho de Tt.1:5-16, Creta tinha uma situação espiritual pior que a de Corinto, sendo um povo mentiroso, onde imperava a maldade e a carnalidade (Tt.1:12), circunstâncias que ainda estavam presentes e orientando a conduta dos cristãos daquela ilha.

OBS: “…Eles [os cretenses – observação nossa] eram um povo degradado e, portanto, aqueles que lhes ensinaria teriam uma tarefa mais difícil e precisavam de grande graça. Paulo exorta Tito que só homens especialmente aptos — homens cujo exemplo poderia ter influência e cujos personagens teriam peso devem ser autorizados a ser anciãos em tais igrejas.…” (SPURGEON, Charles. op.cit., p.7. end.cit.) (tradução nossa de texto em inglês).

– Há um grande perigo quando os cristãos não conseguem se desvencilhar dos dados culturais pecaminosos que os cercam. Quando recebemos a Cristo Jesus como Senhor e Salvador, precisamos nos separar do pecado e de todo o embaraço (Hb.12:1) e um dos embaraços de que temos de nos libertar são os costumes e outros traços culturais do povo onde vivemos mas que têm origem pecaminosa e contribuem para a prática do pecado.

Imersos num ambiente de mentira, licenciosidade e maldade, os cristãos cretenses mantinham uma atitude de insubmissão e de individualismo e, por isso, não organizaram as suas igrejas locais, querendo cada um “cuidar do seu próprio nariz”, o que, entretanto, contrariava toda a doutrina cristã, que quer que estejamos em comunidade servindo ao Senhor, pois, embora a salvação seja individual, o progresso e desenvolvimento da vida espiritual sobre a face da Terra não no é.

– Paulo, então, dá a Tito as qualificações que devem ter estes presbíteros a serem postos em cada igreja local de cada cidade de Creta, qualificações que são bem similares às que Paulo dá a Timóteo na primeira epístola dirigida àqueloutro filho na fé.

Como afirma o reverendo Hernandes Dias Lopes, isto mostra que as qualificações exigidas para o exercício do ministério pastoral são as mesmas seja para cidades grandes, como era Éfeso, seja para as pequeninas cidades de Creta. As igrejas locais devem ser estruturadas conforme as Escrituras, independentemente do ambiente cultural e da forma como se apresentem nas sociedades em que estão localizadas.

– Como as qualificações são muito similares às que Paulo deu a Timóteo e como as analisamos exaustivamente na lição 4 deste trimestre, inclusive expondo este texto do primeiro capítulo de Tito, não nos deteremos na sua explicitação.

– Basta-nos, apenas, observar que Paulo chama os presbíteros de “despenseiros da casa de Deus”, mesma expressão que utilizara em I Co.4:1, lembrando, assim, que os presbíteros são ministros de Cristo e que, como tal, devem ser fiéis, tendo na distribuição do “alimento espiritual” a sua missão primordial.

– O ministro não é um mediador entre Deus e a Igreja, como entendem equivocadamente os romanistas e os ortodoxos, que reeditaram a figura do “sacerdote”, inadmissível na nova aliança firmada sobre o sangue de Cristo, mas é inegável que é aos ministros que o Senhor comete o dever de distribuir o alimento espiritual à membresia, ou seja, são os ministros que devem servir o “pão espiritual”, a Palavra de Deus aos demais integrantes da igreja local.

– Mais uma vez observamos como é nuclear da atividade de ministro de Cristo o ministério da Palavra e como praticamente perde a sua razão de ser todo aquele obreiro que deixa de lado esta tão importante tarefa para se dedicar a outros trabalhos que descaracterizam, por completo, o significado da função pastoral. Não será talvez por isso que, atualmente, pastores sejam confundidos com charlatães, com exploradores da fé, com mercenários e tantos outros qualificativos depreciativos? Pensemos nisso, senhores ministros!

– Após apresentar as necessárias qualificações para a escolha ao exercício do ministério pastoral, Paulo lembra que os ministros devem reter firmes a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que possam ser poderosos (Tt.1:9).

– O que confere poder e autoridade a um ministro de Cristo Jesus é a retenção firme da fiel palavra, que é conforme a doutrina. Um ministro somente terá autoridade se ele for alguém que pratica e vive a Palavra de Deus, que não a distorce nem tampouco a ensine mas não viva.

– O ministro é o primeiro a seguir a Palavra e a mostrar, com suas obras, a fé que tem nas Escrituras Sagradas. Deve ser um homem piedoso, um homem sincero, reto, temente a Deus e que se desvia do mal. Deve ter uma vida de meditação nas Escrituras, uma vida de oração e jejum e, vivendo deste modo, receberá da parte de Deus autoridade e poder, que será demonstrada por uma pregação em que se sentirá a unção do Espírito Santo, bem como pela realização de sinais, prodígios e maravilhas.

Os apóstolos vivenciavam esta realidade (At.5:12), inclusive Paulo (I Co.2:4,5; I Ts.1:5).

– Um ministro de Cristo Jesus não pode ser apenas uma pessoa eloquente, que fale bem, ou, o que é pior ainda, apenas um bom administrador, um bom gestor, um burocrata, mas, muito mais do que isto, deve ser alguém que tenham intimidade com Deus e que mostre esta intimidade na condução do rebanho do Senhor.

Lamentavelmente, em nossos dias, há muitos que estão no ministério por causa de sua capacidade administrativa, embora nada apresentem em termos espirituais. Não era este tipo de gente que Tito deveria colocar à frente de cada igreja local nas cidades de Creta.

– Somente quem tem autoridade e poder vindos do Espírito Santo, mediante a experiência pessoal e concreta com o Senhor Jesus, pela Palavra e pela oração, pode admoestar com a sã doutrina e convencer os contradizentes.

Creta estava a viver a perturbação doutrinária dos crentes judaizantes e não se poderia pôr à frente das igrejas locais pessoas que não tivessem intimidade tal com o Senhor Jesus que pudessem não só ensinar a verdadeira doutrina para os crentes fiéis, como também trazer de volta à fé aqueles que estavam a contradizer a própria Palavra de Deus.

– Para se exercer eficazmente o ministério pastoral, é indispensável que tenhamos o poder e a autoridade advindos do Espírito Santo. Não se consegue obter o crescimento da igreja local nem o afastamento das falsas doutrinas com estratégias de administração ou com o mero conhecimento intelectual.

É imprescindível que o ministro retenha firme a Palavra de Deus, sem o que sua missão está fadada ao fracasso.

– Em contrapartida às qualificações referentes aos que deveriam ser escolhidos para o presbitério de cada igreja local em Creta, o apóstolo Paulo passa, então, a descrever como eram os “falsos mestres” que estavam a perturbar os cristãos cretenses.

– “…Esses homens estão presentes aqui em Creta em número alarmante (‘muitos insubordinados’; contraste com ‘certos indivíduos’ em I Tm.1:3). Isso poderia dever-se ao fato de que seus erros peculiares estivessem em linha com o caráter nacional cretense e que estivessem sob a forte influência de rabinos judaicos (intrusos, vv.14b-16).…” (HENDRIKSEN. William. op.cit., p.429) (destaques originais).

– A ausência de uma igreja local organizada tinha permitido a proliferação destes falsos mestres e é o que se verifica até os dias de hoje quando não temos igrejas devidamente organizadas.

A falta de um ministério pastoral faz com que se proliferem os falsos ensinos e as heresias e não é por outro motivo que se o inimigo de nossas almas tem disseminado a proliferação de movimentos avessos ao legítimo exercício do ministério entre os que cristãos se dizem ser.

O resultado disto é a disseminação de falsos ensinos que tem causado enormes prejuízos espirituais a muitos, tais como, o “movimento dos desigrejados”, o movimento celular, a criação de “comunidades” e “igrejolas” sob a liderança de pessoas que se autointitulam pastores (ou qualquer outro título tais como apóstolos, bispos, patriarcas etc.) mas não o são e que, no desenrolar de seus grupos sociais, não apascentam pessoa alguma, procurando apenas ter neste grupo um meio de sustento material.

A primeira característica destes perturbadores é que são “desordenados”, isto é, “…insubordinados, ou seja, desobedientes à Palavra de Deus.…” (HENDRIKSEN, William.op.cit., p.429). “…A ideia é de incredulidade deliberada e rejeição da verdade…” (HARRISON, Everett F. op.cit., p.4).

“…Eles são desordenados, obstinados e ambiciosos, teimosos e intratáveis (como alguns traduzem), que não se submetem à disciplina e à ordem necessária da igreja, impacientes com o bom governo e a sã doutrina.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.728).

– Quantos que, na atualidade, amoldam-se à descrição feita pelo apóstolo! Muitos não se importam em observar e obedecer à Palavra de Deus, buscando sempre satisfazer os seus próprios interesses através de “inovações” através das quais conseguem ter pessoas que lhes seguem, obtendo, com isso, posição social, fama, popularidade e até influência política, mas que não são senão falsos mestres, que somente perturbam a fé daqueles que estão a servir Cristo Jesus. Tomemos cuidado com este tipo de gente!

– A segunda característica destes perturbadores é que são “faladores”, ou seja, eram hábeis na arte da eloquência, preocupavam-se com a oratória, com o uso de palavras persuasivas para convencer os seus ouvintes, exatamente como fazem os falsos pregadores de nossos dias, que se utilizam de técnicas de teatro e de neurolinguística para conseguirem emocionar e inflamar o auditório, tirando disto proveito.

São verdadeiros atores que, entretanto, não saem destas técnicas puramente terrenas, nada trazendo de efetivamente proveitoso do ponto-de-vista espiritual aos seus ouvintes. Ao contrário, por vezes até, fazem uso de expedientes demoníacos, tendentes a levar o auditório a um domínio de forças espirituais da maldade.

– A terceira característica destes perturbadores é que são “vãos”, ou seja, vazios espiritualmente. São vasos de barros que não têm o tesouro da verdade, do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo (II Co.4:2.6) e que, portanto, não apresentam a excelência do poder de Deus nem em suas vidas nem tampouco em suas prédicas. São verdadeiras “latas vazias”, que fazem muito barulho mas não têm qualquer conteúdo, seja porque nunca o receberam, seja porque o perderam em virtude de falhas adquiridas ao longo de sua trajetória de vida cristã.

– É muito triste vermos, com certa frequência até, nas igrejas locais ministros que são espiritualmente vazios, que nada podem distribuir à membresia precisamente porque não têm sequer acesso à dispensa de Deus.

Eram estes que agiam livremente em Creta, até porque não havia ali um presbitério que combatesse as heresias e os falsos ensinos, que distribuísse o alimento espiritual sadio para o povo. Em Creta, não havia organização e, em nossos dias, organização até há, o que não há são pessoas qualificadas para o ministério pastoral…

– A quarta característica destes perturbadores é que eram “enganadores”, pois, “…achando -se sábios, mas que são, na verdade, insensatos, e por isso, falastrões, caindo em erros e enganos, e zelosos e laboriosos em atrair outras pessoas para o seu barco…” (HENRY. Matthew. op.cit., p.728). Tais pessoas eram os “os homens maus e enganadores, [que] irão de mal para pior, enganando e sendo enganados” (II Tm.3:13).

Por serem mentirosos, já que ensinam a mentira e não a verdade, eles “…enganam a mente (…) dos fracos…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., p.429), mas eles mesmos vivem um estado de autoengano, crendo estarem no caminho certo, embora não o estejam, sendo, por isso mesmo, iludidos pelo próprio Satanás, que, ademais, usa outros homens para fazê-los acreditar que eles realmente são homens de Deus.

– Entre os falsos mestres, os que tinham maior notoriedade em Creta, eram os judaizantes, aqueles que defendiam o “partido da circuncisão” (Tt.1:10), e que, por estarem ainda a defender esta posição, mesmo diante das deliberações do concílio de Jerusalém, que ocorrera quase que quinze anos antes destes fatos (e no qual Tito tomara parte), revelava quão desobedientes eram eles, que simplesmente se recusavam a acatar as deliberações tomadas pela liderança da Igreja, deliberações que não eram fruto da vontade dos apóstolos e anciãos, mas, sim, do Espírito Santo (At.15:28).

– Os judaizantes, por incrível que possa parecer, estão em alta em nossos dias. Não estamos a falar apenas dos sabatistas, mas de tudo um grupo de falsos ensinadores que estão levando muitos que cristãos se dizem ser a adotar festividades judaicas, a implantar, em seus locais de culto, símbolos e artefatos da antiga aliança, desviando completamente a fé dos que cristãos se dizem ser.

Chegaram mesmo a reeditar o templo de Salomão! Tomemos cuidado com este tipo de gente, pois Paulo manda que Tito os combata e coloque nas cidades cretenses obreiros que os contradigam.

– A atitude que se deveria ter com estes falsos mestres era uma só: tapar-lhes a boca, ou seja, impedirem que tivessem espaço nas igrejas locais para ensinarem ou pregarem as suas falsas doutrinas. Um ministro de Jesus Cristo não pode contemporizar com heresias nem com distorções da Palavra de Deus.

Os falsificadores do Evangelho devem ser calados, não só no púlpito das igrejas locais, mas também em todos os lugares em que estejam os membros das igrejas locais, até porque, por serem sorrateiros e ardilosos, tais falsos mestres não costumavam aparecer diante de toda a igreja local reunida, mas gostavam de ir aos lares, transtornando casas inteiras com seus inconvenientes ensinos, movidos quase sempre por ganância (Tt.1:11).

– O ministério da igreja local precisa ter amplo conhecimento de todas as atividades que são efetuadas pela membresia, para evitar que falsos mestres e falsas doutrinas de introduzam sorrateiramente no seio do grupo social.

Vemos estarrecidos obreiros, em nossos dias, totalmente negligentes com reuniões promovidas pelos membros em suas casas ou em locais outros que não o templo e, mesmo, no templo, em dias em que não cultos com todo o grupo, permitindo que se entregue a oportunidade de ensino a pessoas desconhecidas e que não pertencem à igreja local.

Trata-se de uma atitude de negligência e de imprudência, que dá lugar para que falsos mestres cheguem e causem enormes transtornos e prejuízos para toda a membresia.

– Paulo aqui, aliás, apresenta uma outra característica dos falsos mestres, que é a motivação econômico-financeira. Eles fazem o que fazem “por torpe ganância”, visando o lucro financeiro, visando ganhar dinheiro. São mercenários e não, pastores (Jo.10:12,13).

– Na atualidade, tais “mercenários” têm conseguido grande prestígio em muitas igrejas locais que, inadvertidamente, mesmo sabendo que se trata de pessoas que só pensam em ganhar dinheiro (tanto que “cobram” para participar de algo na igreja local), com prazer entregam o púlpito para tais pessoas, que não deveriam ter qualquer oportunidade, como está a ensinar o apóstolo Paulo a Tito.

O resultado é que, depois que transtornaram o grupo social, com os bolsos cheios de dinheiro, vão embora deixando um rastro de destruição e de prejuízo espirituais.

Saibamos, porém, que se tais pessoas deverão ser devidamente tratados por Deus (II Pe.2:3), também os que permitem que tais pessoas se introduzam na igreja local terão o mesmo juízo, pois consentem e até promovem que tais pessoas tenham voz e vez na igreja local (Rm.1:31).

– “…Ao dizer a Tito o que deveria ser feito com tais pessoas, Paulo usa um verbo raro (…) o qual tem como seu significado primário, ‘interromper aboca pelo uso de um freio, uma focinheira ou mordaça’. Os enganadores, pois, não devem ser tolerados, mas devem ser silenciados; e isso deveria ser feito por Tito e pelos presbíteros, como o contexto parece indicar.…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., p.429).

– Assim, ao descrever a ação dos falsos mestres, Paulo, resumindo, diz que “…De quatro maneiras nos dá a conhecer a sua condição: 1o. pelos números: ‘muitos’ (…); 2o. pelo vicio da desobediência, dizendo que eles são desobedientes a Deus e aos seus superiores (Rm.1); 3o. por seu charlatanismo.

“O Senhor conhece os pensamentos dos homens, que são vãos” (…) e, especialmente, os hereges; portanto, acrescenta emganadores( IITm.3); 4o. o lugar “, especialmente os da circuncisão” que obrigavam os homens a se judaizar.…” (AQUINO, Tomás de. op.cit. Cit Tt.1:1-4. n.4. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/ Acesso em 22 jun. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Paulo mostra como aquele comportamento dos falsos mestres estava totalmente inserido na cultura cretense. O apóstolo chega, mesmo, a mencionar um profeta cretense que, séculos antes, havia descrito os habitantes de Creta como mentirosos, bestas ruins e ventres perigosos.

“…Clemente de Alexandria (Stromata I xiv. 59) e Jerônimo atribuem a devastadora caracterização a um poeta e reformador cuja data fornecida varia entre 630 e 500 a.C. Seu nome era Epimênedes, natural de Cnossos, nas proximidades de Iráklion (Candia) na costa norte de Creta, onde ainda hoje se pode visitar o museu que contém os tesouros extraordinários da era minoica.

Em um hino ‘A Zeus’, Calímaco (cerca de 300240 a.C.) havia citado as primeiras palavras: ‘Os cretenses são sempre enganadores’…” (HENDRIKSEN, William. op. cit., p.430).

– “…As jovens igrejas dos discípulos de Jesus não podem viver fora das circunstâncias da sociedade, pelo contrário, devem brilhar como uma luz nas trevas em meio à população da ilha de Creta, da qual, afinal, eles mesmos são oriundos, e atuar como sal contra a deterioração da realidade social.(…). O que esse homem dissera muitos séculos antes continua válido na época em que surgem as igrejas de Jesus.…” (BÜRKI, Hans. op.cit., pp.12-3).

– A igreja de Creta tinha de se diferenciar dos costumes e das tradições cretenses, mas estavam a copiar a mentalidade daqueles que deveriam evangelizar, o que não poderia ser tolerado, motivo por que Tito tinha de organizar as igrejas, de cidade em cidade, para que se cumprisse o papel determinado pelo Senhor Jesus ao Seu povo.

É realmente lamentável quando as igrejas locais passam a ser meros grupos sociais, sem qualquer distinção dos incrédulos, pois perdem a sua própria essência, a sua própria razão de ser.

– Nossas igrejas locais têm se distinguido da sociedade onde se encontram? São relevantes? Constituem-se em sal da terra e luz do mundo? Ou não são mais do que mais um agrupamento dentre tantos que existem na sociedade. Se forem, como estavam sendo os cristãos cretenses, por causa da falta de organização, serão totalmente irrelevantes e, como sal insípido, não tardarão a ser lançados fora e pisados pelos homens, já que serão imprestáveis (Mt.5:13). Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Os cretenses eram considerados como mentirosos, maus e glutões e a proliferação de falsos mestres estava inserida neste contexto social que o apóstolo Paulo, que estivera em Creta, descreve como sendo um “testemunho verdadeiro”.

Por isso, nas igrejas locais cretenses, estavam aparecendo pessoas mentirosas, que falsificavam a Palavra de Deus, pessoas maldosas, que não tinham quaisquer escrúpulos para fazerem maldades, desde que tirassem vantagem com isso e, por fim, pessoas que queriam comer sem ter de trabalhar, “glutões ociosos”, para isso se introduzindo nas casas dos crentes para terem como ter esta vida de nada fazer.

OBS: “…Logo, ao falar dos cretenses, oferece seu testemunho e os acusa de três falhas graves, a saber: terem corrompido a parte racional, uma vez que os rotula como “sempre mentirosos” (…); de também terem corrompido a mente irascível , chamando-os de “feras”, isto é cruéis; (.) e se diz malignas, porque, para no sentir do Filósofo [Aristóteles – observação nossa], quando o homem age como um ser racional é o melhor dos animais, mas, quando ele desliza para o mal é o pior, porque se se inclina para a crueldade, não há besta mais sanguinária, donde se diz que um homem mau é dez mil vezes pior do que um animal.

Tacha-os também de terem corrompido a mente concupiscível, acusando-os de “glutões preguiçosos”, isto é, dados à glutonaria e à vadiagem, pois eles eram gananciosos e gostavam da vida sedentária…” (AQUINO, Tomás de. op.cit. Cit. Tt.1:10-16. N.4. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/ Acesso em 22 jun. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Por acaso, não é o que temos visto em nosso país nestes últimos tempos, onde os valores da malandragem, da esperteza e do ócio têm dominado muitas mentes de quem cristãos se dizem ser e que têm se tornado, assim, “parasitas” e “exploradores” das igrejas locais, querendo “viver da obra”? Os genuínos servos do Senhor não podem ter a mesma mentalidade do mundo nem permitir que quem a tenha possa executá-la nos grupos sociais formados pelos salvos.

– Além de não deixar que tais falsos mestres tivessem qualquer oportunidade de proferirem suas heresias nas igrejas locais, Paulo diz a Tito que os crentes de Creta fossem severamente repreendidos, para que fossem sãos na fé, não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade (Tt.1:13,14).

– A saúde espiritual exige que não se dê ouvidos a falsificações da Palavra de Deus. O ministro não pode permitir que os crentes fiquem a ouvir falsos mestres, participem do auditório dos falsos pregadores.

Em tempos de larga disseminação dos meios de comunicação, devem os ministros alertar a membresia das suas igrejas locais a serem seletivos e a não perderem o seu tempo frequentando reuniões ou assistindo a pregações que não têm compromisso com a sã doutrina, pois isto acarretará graves prejuízos na vida espiritual.

– Paulo ainda mostra a Tito que todas as criaturas de Deus são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis, entendidos estes como aqueles que confessam que conhecem a Deus, mas negam-nos com as obras, sendo abomináveis e desobedientes e reprovados para toda a boa obra (Tt.3:15,16).

“…Homens puros são aqueles que foram purificados da sua culpa pelo sangue de Cristo e, tendo sido regenerados pelo Espírito Santo, estão sendo constantemente purificados pelo mesmo Espírito da contaminação de seus pecados (…). Estes são os que não rejeitam o que Deus criou como alimentos bons, mas ‘participam deles com ações de graças’.

(…). Em contrapartida, os que são contaminados, sujos ou poluídos, isto é, os judeus e, havendo rejeitado a Cristo são ao mesmo tempo incrédulos, tendo com isso maculado todos os dons puros de Deus.

Mesmo a mente deles, aquele órgão que reflete sobre as coisas espirituais e guia a vontade, e a consciência, ou seja, seu ser moral no ato de julgar seus atos, são — e a não ser que Deus intervenha, permanecem — notem o indicativo passivo imperfeito — contaminadas. (…). Isto é evidenciado pelo fato de que seus juízos morais são pervertidos e que não chegam a um arrependimento que os leve à impiedade.…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., pp.4367).

– A pureza depende de sermos limpos pela Palavra de Deus (Jo.15:3), de estarmos em comunhão com o Senhor. Quem se diz cristão mas não obedece à Palavra, prende-se a mandamentos de homens e a ensinos distorcidos, jamais terá pureza e, por isso, são espiritualmente contaminados, somente trazendo morte e doença espirituais aos que os ouvem e seguem. Tomemos, pois, cuidado para que não sejamos afetados por este tipo de gente que, como explica o apóstolo, são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra.

OBS: “…Por 3 coisas um homem se volta para Deus: por Sua graça (Rm.5), por meio da fé (At.15), através do exercício de boas obras (Rm.3); e estas três excluem os contaminados e infiéis: a graça, sendo como são abomináveis, que não aceitos para receber a graça; Fé, pois são incrédulos, impróprios para acreditar (Ez.2); boas obras, porque negam todas elas; réprobos, ou seja, serão reprovados (Jr.6).…” (AQUINO, Tomás de.ibid.).

– Tal circunstância não deveria intimidar Tito, entretanto, pois, “…Não precisamos ter medo da adaptação do Evangelho para o mais baixo dos baixos.

Se não houver qualquer parte da cidade onde as pessoas estão mais afundadas no vício do que em qualquer outro lugar, há o Evangelho para ser levado com mais oração e mais fé do que em qualquer outro lugar! Depende dele, Deus pode abençoar Sua Palavra em qualquer lugar — entre cretenses ou entre qualquer outro tipo de pessoas degradadas.…” (SPURGEON, Charles H. Exposição Tito 1,2. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols40-42/chs2439.pdf , p.7 Acesso em 22 jun. 2015) (tradução nossa de texto em inglês).

– De igual modo, nós, nestes dias finais da dispensação da graça, não devemos temer o alto grau de degradação por que passa a humanidade, mas levarmos o Evangelho, a sã doutrina, a genuína e autêntica Palavra de Deus, pondo em ordem as igrejas locais para que possam cumprir o seu papel de salgar e iluminar a sociedade (Mt.5:13-16), de serem astros em meio a uma geração perversa (Fp.2:15).

Caramuru Afonso Francisco 

Site: portalebd.org.br

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