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LIÇÃO Nº 13- A RESSURREIÇÃO DE JESUS

lição 13

A ressurreição de Jesus é a garantia da nossa fé.   

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INTRODUÇÃO   

– Na conclusão do estudo do Evangelho segundo Lucas, analisaremos a narrativa lucana da ressurreição.

– A ressurreição de Jesus é a garantia da nossa fé.

I – A SEPULTURA DE JESUS  

– Na conclusão do estudo do Evangelho segundo Lucas, analisaremos a narrativa lucana da ressurreição. Tendo em vista a característica bibliológica deste trimestre, preferimos tratar do tema à luz do Evangelho segundo Lucas, numa perspectiva um tanto diferenciada da adotada pelo nosso comentarista.

– Lucas, após ter encerrado a narrativa da crucifixão, mostrando que o centurião romano havia reconhecido a justiça de Cristo e a multidão que assistira ao espetáculo saíra dali batendo nos peitos, diz que os conhecidos de Jesus e as mulheres que o haviam seguido durante o Seu ministério estavam de longe vendo estas coisas (Lc.23:49). Mais uma vez, Lucas enfatiza o papel feminino no ministério de Jesus.

OBS: Como afirma Teofilato: “Mas a linhagem feminina, maldita em outro tempo, está de pé e vê todas estas coisas. ‘E as mulheres que O haviam seguido desde a Galileia viam isto’. Por isso foram as primeiras que receberam a graça da justificação ou a bênção que brotou da paixão e da ressurreição” (Cátena áurea. Lc.23:47-49. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c628.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Mas o médico amado revela que não apenas as camadas mais humildes da população haviam crido em Jesus. Menciona que um membro do Sinédrio, chamado José, da cidade de Arimateia, não havia consentido com a injusta condenação de Jesus e, sendo homem de bem e justo, que esperava o reino de Deus, foi até Pilatos e pediu o corpo do Senhor, tendo, então, envolvido o corpo num lençol e o posto num sepulcro escavado numa penha, onde ninguém havia sido posto, sendo o dia da preparação, quando já amanhecia o sábado (Lc.23:50-54).

– Lucas mostra, assim, claramente o perfil dos discípulos de Jesus: eram pessoas de bem e justas, que esperavam o reino de Deus. Pessoas que zelavam por Cristo, que tinham cuidado com Ele, mesmo depois de aparentemente derrotado, mesmo morto e supostamente encerradas todas as oportunidades de verem cumpridas n’Ele as promessas messiânicas.

– Será que temos este mesmo comportamento? Será que temos esperado o reino de Deus? Será que somos, diante dos homens, pessoas de bem e justas? Será que temos cuidado do corpo de Cristo, que hoje não é aquele cadáver que foi posto no sepulcro novo de José de Arimateia, mas é a Igreja do Senhor (Cf. I Co.12:27)? Pensemos nisso!

– Como bem afirma Agostinho, “…chama atenção que aquele que era um discípulo oculto se atrevesse a pedir o corpo do Salvador, o que não se tinha atrevido a fazer qualquer dos que O haviam seguido publicamente (…).

Deve crer-se que o fez assim, confiado em sua autoridade, em virtude da qual se poderia apresentar a Pilatos com toda confiança. Quando cumpria este triste encargo, não levou em conta os judeus, segundo parece, ainda que havia se acostumado a ouvir o Salvador, evitando a inimizade deles” (Cátena  áurea. Lc.23:50-56. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c629.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

José de Arimateia revela, assim, mesmo numa circunstância tão adversa, a sua fé, sem levar em consideração as consequências que tal ato poderia trazer a ele, mas via, na sua posição social, uma missão: a de dar uma sepultura ao Senhor, evitando, assim, que Lhe recaísse ainda mais indignidade.

OBS: “…Muito mais que isso, porém, por meio do que estava fazendo agora, José de Arimateia estava professando publicamente, aos olhos do mundo, inclusive do Sinédrio, que era crente em Jesus Cristo. Sim, isso requeria real coragem.

Ele fora um discípulo secreto, partido ao lado de Jesus (Jó 19.38). As ameaças do Sinédrio contra os seguidores de Jesus eram terríveis. Leia João 9.22; 12.42. Agora, porém, pela graça soberana de Deus, houve uma mudança, uma mudança significativa no coração e na vida de José.

À luz de sua ação se vê que agora ele insiste abertamente em ser contado no número dos discípulos de Jesus. Já não será um discípulo secreto.…” (HENDRIKSEN. William. Lucas. Trad. de Válter Graciano Martins, v.2, p. 673).

– Temos nós também visto nossa posição na sociedade como uma missão para evitar que se torne indigno o nome do Senhor?

Temos usado daquela posição que Deus nos deu para dar o devido respeito ao corpo de Cristo, que é a Sua igreja? Temos contribuído para evitar que os vitupérios lançados contra o Senhor e a Sua Igreja seja minorados naquilo que está ao nosso alcance? Pensemos nisto!

– As mulheres, que sempre haviam acompanhado o Senhor Jesus durante o Seu ministério, foram até o sepulcro e viram onde e como foi posto o sepulcro. Voltando elas, prepararam especiarias e unguentos e, no sábado, repousaram, conforme o mandamento (Lc.23:56).

– Verifiquemos que disposição tinham aquelas mulheres! Apressadamente, após terem visto onde havia sido posto o corpo de Jesus, retornaram ao local onde estavam e prepararam unguentos e especiarias, com o firme propósito de ungirem o corpo de Jesus, que não pôde ser convenientemente preparado para o sepultamento, diante da proximidade do sábado.

Tinham a firme disposição de ungir o corpo de Jesus, de fazer-Lhe o que consideravam ser a última homenagem, numa clara demonstração de gratidão por todo o bem que Jesus lhes fizera ao longo de Seu ministério. Temos nós este mesmo sentimento de gratidão e não para um Cristo morto, mas, sim, para um Cristo que sabemos que está à direita do Pai intercedendo por nós?

OBS: “Depois de sepultado o Senhor, enquanto se pôde trabalhar — isto é, enquanto não se pôs o sol — se ocuparam em preparar os aromas e unguentos.…” (BEDA. Cátena áurea. Lc.23:50-56. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c629.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

II – A NOTÍCIA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS  

– Apenas o mandamento da guarda do sábado impediu que aquelas mulheres devotassem, o quanto antes, o afeto que tinham por seu Senhor. Assim que terminado o sábado, no primeiro dia da semana, muito de madrugada, ou seja, no primeiro horário, elas foram ao sepulcro levando as especiarias que tinham preparado.

– Lucas não registra, mas o evangelista Marcos diz que, no caminho, as mulheres perguntavam como poderiam revolver a pedra para terem acesso ao corpo do Senhor (Mc.16:3).

Tal circunstância, que já era uma impossibilidade para que elas pudessem cumprir seu intento de ungir o corpo do Senhor, ficava ainda mais difícil diante de outro fato, que é mencionado pelo evangelista Mateus, qual seja, a de que os principais dos sacerdotes haviam conseguido de Pilatos a designação de um grupo de soldados que guardassem o sepulcro para evitar que o corpo de Jesus fosse roubado, já que o Senhor havia dito que ressuscitaria (Mt.27:62-66).

– Nada disso, porém, retirou daquelas mulheres o desejo de fazerem a última homenagem ao Senhor, ungindo-Lhe o corpo. Era um firme propósito que demonstrava que o amor que tinham por Jesus era superior a toda e qualquer dificuldade, a toda e qualquer empecilho que se colocasse entre elas e o propósito de agradar ao Senhor, ainda que fosse, àquela altura, um cadáver.

– Mais uma vez, indagamos: será que nosso amor ao Senhor Jesus tem esta estatura? Será que temos disposição para enfrentar dificuldades, impossibilidades com o propósito de agradar ao nosso Senhor e Salvador, ainda mais quando sabemos que Ele é vencedor e está à direita do Pai? Ou será que a mínima dificuldade, a mínima contrariedade já nos faz desanimar em nossa senda rumo ao céu? Pensemos nisto!

– Para surpresa delas, como diz Lucas, acharam a pedra revolvida do sepulcro. Apesar de surpresas, as mulheres não titubearam e entraram no sepulcro, não achando o corpo do Senhor Jesus. Tais circunstâncias inusitadas deixaram as mulheres perplexas e, em meio a esta perplexidade, pararam junto delas dois varões com vestidos resplandecentes.

À perplexidade, então, seguiu-se o temor, tendo as mulheres abaixado o rosto para o chão, como a indicar que não podiam suportar o brilho decorrente das vestes daqueles varões, mas, então, aqueles varões lhes disseram porque estavam elas a buscar o vivente entre os mortos.

Anunciam, então, que Jesus havia ressuscitado, mandando que elas se lembrassem do que o Senhor lhes havia dito ainda na Galileia, quando anunciara que o Filho do homem seria entregue nas mãos de homens pecadores e seria crucificado, mas que, ao terceiro dia, ressuscitaria.

As mulheres, então, lembraram-se daquelas palavras e, voltando do sepulcro, anunciaram todas estas as coisas não só aos onze apóstolos mas a todos os demais.

OBS: “Ao olhar para os dois personagens angelicais as mulheres foram tomadas de grande susto. Marcos relata de forma sucinta e completo que “ficaram atemorizadas”, expressando assim o supremo grau de surpresa e espanto.

Lucas, no entanto, ilustra ainda mais a forma como o temor das mulheres se manifestou. Ele escreve: “E baixaram os rostos para o chão.” Por temor as mulheres inclinaram o rosto até o solo. A vestimenta alva e radiante dos anjos ofuscava os olhos, a forma e a aparição incomuns atordoavam os ânimos” (RIENECKER, Fritz. Lucas: comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p.303).

– Nesta narrativa de Lucas, vemos um quadro mui digno de veracidade, pois há aqui um retrato preciso da própria personalidade feminina. Como é sabido, a sensibilidade feminina é muito mais aguçada que a masculina e o médico amado retrata com precisão a sequência das emoções vividas por aquelas mulheres: a perplexidade, o temor, a memória, que, entre as mulheres, é firmada pelas emoções.

Como se não bastasse isso, Lucas nomina algumas das mulheres que presenciaram estas coisas: Maria Madalena; Joana; Maria, mãe de Tiago além de outras, a reafirmar que tal relato foi fruto de testemunho destas mulheres por ele nominadas, a confirmar, assim, a verdade de sua narração.

– Em mais um reforço ao papel das mulheres, Lucas mostra que, ao receberem a notícia da ressurreição do Senhor, rapidamente elas foram divulgá-la aos discípulos de Cristo, a nos revelar que, se a notícia não tivesse sido dada a elas, ainda hoje, certamente, haveria dúvidas sobre a ressurreição de Jesus, pois, como nos mostra o médico amado, os discípulos não creram na mensagem e, mesmo depois de Pedro ter ido ao sepulcro e visto só os lençóis ali postos, retirou-se dali admirando consigo aquele caso, demonstrando, pois, uma incredulidade, circunstância que é repetida pelo evangelista João, que, inclusive, se inclui no evento (Jo.20:1-10).

– Lucas mostra-nos, assim que a mensagem da ressurreição era para ser divulgada a todos, indistintamente, era algo que deveria ser de pleno conhecimento dos discípulos do Senhor. São as mulheres, com sua intuição aguçada, que entendem, de pronto, o objetivo do plano salvífico do Senhor: divulgar a vitória sobre o pecado e a morte e a necessidade que temos de crer em Jesus para desfrutar desta salvação.

OBS: “…Os anjos lembraram às mulheres o prenúncio de Jesus. Pode-se compreender facilmente que elas se recordavam dos discursos do Senhor. Se o Ressuscitado não tivesse aparecido às mulheres e se não as tivesse instado expressamente para uma santa alegria, a alegria da Páscoa teria acabado em breve; porque tiveram pouco sucesso com os apóstolos.

Os apóstolos de forma alguma deram crédito à mensagem delas acerca da ressurreição de Jesus. A notícia das mulheres parecia aos discípulos como falação tola ou farsa. A expressão leros, que ocorre somente aqui no NT, significa, conforme Hesíquio, o mesmo que “tolice”, “fofoca” ou “mentira”.

Lucas descreve de forma muito sumária a impressão causada pelas primeiras notícias. Parece que todos os onze apóstolos consideraram essas mulheres doidas. As discípulas do Senhor, porém, não se deixaram perturbar ou demover pela incredulidade e zombaria dos apóstolos, e levaram a boa nova da Páscoa aos outros. Disseminaram sem cessar o evangelho da ressurreição de Cristo.” (RIENECKER. Fritz. op.cit., p.304).

– Não é, pois, mero acaso que, ao longo da história da Igreja, tenham sido sempre as mulheres o maior contingente de cristãos. Não é, pois, por acaso que a doutrina cristã tenha recuperado a dignidade da mulher, que foi sensivelmente prejudicada desde a entrada do pecado no mundo (Cf. Gn.3:16).

Com a descrição destas circunstâncias, o médico amado revela a todos que a mensagem do Evangelho, que a obra salvífica de Cristo veio, realmente, retirar não só o pecado do mundo mas todos os seus deletérios efeitos, a começar da inferiorização da mulher.

Como afirma Cirilo: “…Como a mulher havia sido, em outro tempo, a causa da morte da humanidade, agora é a primeira eleita para anunciar a todos o grande mistério da ressurreição. Preferiu-se o sexo feminino para anunciar o perdão do pecado e o desaparecimento da iniquidade.” (Cátena áurea. Lc.24:1-12. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c630.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

Ou, ainda, como diz Beda: “…Para que a mulher não continuasse a sofrer o castigo de sua culpa submetida ao domínio do homem, a que havia transmitido a desgraça, transmitiu também a graça” (Cátena áurea, ibid.).

– Não tem, pois, qualquer cabimento o discurso que se tem em nossos dias de que o Cristianismo é um impedimento à “emancipação feminina”.

Trata-se de mais uma das mentiras urdidas pelo espírito do anticristo, que tem predominado no mundo e cuja influência aumenta cada vez mais já que nos encontramos nos últimos momentos da dispensação da graça, às portas do arrebatamento da Igreja.

Não há doutrina na face da Terra que tenha trazido a mulher para uma posição de dignidade que a doutrina cristã e Lucas deixa isto bem patente. O novo tempo para a humanidade começa com mulheres que creem na mensagem da ressurreição de Cristo e a divulgam, mulheres que foram tidas pelos próprios apóstolos como desvairadas mas que não deixaram de fazer o seu papel e de agradar ao Senhor.

Elas queriam agradar a Cristo ungindo Seu cadáver, mas o faziam agora através da divulgação da mensagem da Sua ressurreição. Temos nós agradado a Deus pregando o Evangelho?

– É importante observar que Lucas mostra, com nitidez, que a notícia da ressurreição, pelo seu caráter inusitado e surpreendente, não foi de pronto aceito pelos discípulos, embora o tenha sido pelas mulheres.

Isto é um ponto importante para afastar qualquer ideia de que a ressurreição de Cristo tenha sido uma lenda, uma farsa, uma invencionice. Lucas, escrevendo a gregos, bem sabia que tal evento era algo considerado totalmente improvável e irracional para a cultura helenística.

OBS: “…O que toma a história da ressurreição tão convincente é que os discípulos de Jesus não esperavam de forma alguma que ele se levantasse do túmulo. Aliás, eles consideravam as notícias das mulheres como algo totalmente sem sentido.

Não obstante, pouco mais tarde esses mesmos homens – todos, mas especialmente Pedro e João – estão proclamando as surpreendentes novas a todos e a cada um, e se dispõem a enfrentar qualquer oposição que porventura encontrassem.…” (HENRIKSEN, William. op.cit., p. 686).

– Com efeito, os gregos, na sua grande maioria, viam o corpo como algo mau, algo que não correspondia à divindade ou a um estado superior. Desde Platão, os gregos tinham em conta a sublimidade do espírito, da alma, e, como tal, consideravam uma aberração dizer que alguém que fosse divino tenha ressuscitado, ou seja, tenha tornado a ter um corpo.

Isto era para eles algo incompreensível. Lucas mostra, com seu relato, que mesmo os judeus, que criam na ressurreição (com exceção dos saduceus), tiveram dificuldade em crer no episódio da ressurreição de Cristo, crença esta que se deu depois de “muitas e infalíveis provas” como o próprio médico amado diria no livro de Atos dos Apóstolos (At.1:3).

Como salienta Teofilato: “Para os mortais, o milagre da ressurreição é incrível por natureza. Por isso se diz: ‘E eles tiveram por desvario estas palavras e não creram nelas’. Isto ocorreu não tanto pela sua ignorância como para nossa própria não- ignorância — se assim se pode dizer-se.

A ressurreição se deu a conhecer àqueles, por meio de provas incontestáveis, porque duvidavam dela. Por isso, quando nós lemos tudo isto, cremos com mais firmeza baseados na dúvida daqueles.” (Cátena áurea. Lc.24:1-12. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c630.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– É certo que Lucas prestigia a fé das mulheres e mostra que se deve crer na ressurreição em virtude do que o próprio Jesus havia dito.

É certo que o médico amado mostra que devemos crer na Palavra, que o verdadeiro discípulo de Cristo Jesus tem fé em seu Senhor e não precisa, por isso, de ver para crer, pois, como ensina o escritor aos hebreus, a fé é a prova das coisas que não se veem (Hb.11:1) e que, sem fé, é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).

As mulheres agradaram a Cristo porque creram na ressurreição, fé esta que decorreu da lembrança das palavras do próprio Jesus, tanto que Lucas não registra o encontro que Maria Madalena teve com Cristo.

– No entanto, sem desprestigiar a fé, o médico amado faz questão de trazer evidências da ressurreição de Cristo.

Mostra que o sepulcro tinha tido a pedra revolvida e que tal revolver não foi obra dos discípulos, que somente souberam do ocorrido depois que foram avisados pelas mulheres, como também, à evidência, não poderia ser algo feito pelas mulheres, que não tinham condições físicas de fazê-lo.

– Em seguida, Lucas mostra que os discípulos relutaram em aceitar o relato das mulheres, de modo que não poderiam ter sido eles os autores desta história, a confirmar, portanto, que não se tratava de uma lenda ou de uma invencionice que tivesse partido dos próprios discípulos.

Lucas, assim, mesmo prestigiando a fé, mostra que a ressurreição de Jesus era um fato objetivo, comprovável por fatos e que, portanto, os gregos, tão ciosos da objetividade e da ciência, não poderiam jamais negá-lo.

– Nos dias em que vivemos, não são poucos os que buscam descaracterizar a realidade da ressurreição de Jesus. Buscam criar hipóteses para desmenti-la, para dizer que tudo não passou de uma lenda, de um mito.

Entretanto, quando vamos aos relatos dos Evangelhos a respeito, vemos que não há a mínima condição de se crer em tais supostas críticas a este que é o evento que dá substância à fé cristã e que a torna totalmente distinta de toda e qualquer outra religião, como, aliás, dá conta o apóstolo Paulo no chamado “capítulo da ressurreição”, que é o capítulo 15 de sua primeira carta aos coríntios.

Com efeito, como diz o apóstolo dos gentios, “…se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (I Co.15:14).

– Como salienta, porém, William Hendriksen, “…A ressurreição corporal de Jesus é um fato histórico. Como são absurdas as teorias daqueles que a negam:

a. ‘Os discípulos roubaram o corpo’. Veja Mateus 28.11-15. Em C.N.T. sobre Mateus Vol. 2, pp. 694,695 ficou provado que é realmente absurda a tentativa de solucionar o problema do túmulo vazio.

b. ‘Um inimigo o levou.’ Mas, nesse caso teria sido fácil desmentir a alegação dos cristãos. Os adversários de Cristo e da religião cristã poderiam ter então apresentado o cadáver e demonstrado que Jesus não se levantara do túmulo.

c. ‘As primeiras assim chamadas ‘testemunhas’ foram afetadas por alucinações coletivas.’ O problema é dizer se essas alucinações coletivas são realmente possíveis. Além disso, é preciso ressaltar que nenhum dos discípulos estava psicologicamente preparado para alucinações dessa natureza.

Eles não esperavam a ressurreição. Assim que ouviram que ela se concretizara, recusaram a crer no fato … até que a evidência se tomasse tão forte, que se dispuseram a sacrificar a própria vida em defesa dessa grande verdade.

Muitas realmente o fizeram. Há somente uma única ‘solução’ que satisfaz, estando ela em concordância com todos os demais fatos e circunstâncias conhecidos, e os quais também ajudam a explicar o forte e rápido crescimento da igreja. Essa solução é: os Evangelhos estão contando a verdade. Aleluia! Cristo ressurgiu!…” (op.cit., pp.704-5).

– Lucas mostra que não há a mínima condição de se dizer que tudo não passou de uma lenda e um mito criado pelos apóstolos, pois eles mesmos titubearam, num primeiro instante, em crer naquela notícia e somente o fizeram depois de “muitas e infalíveis provas”.

Ademais, sendo tantos os adversários de Cristo, se se tratasse de uma história da carochinha, certamente teria sido ela desvendada pelos inimigos do Senhor e de Sua doutrina, o que jamais aconteceu.

– Além do mais, como que discípulos que, a princípio, duvidaram da notícia dada pelas mulheres, mudariam radicalmente seu comportamento, arriscando suas vidas e mesmo morrendo na defesa da ressurreição de Cristo, senão depois de terem confirmado a veracidade do relato daquelas discípulas?

Como entender que Pedro, que, mesmo tendo ido ao sepulcro, e saindo dali duvidoso, algum tempo depois desafiasse o Sinédrio, dizendo que continuaria a pregar que Jesus havia ressuscitado, mesmo ameaçado de prisão e morte? Só há uma resposta para isto: que verdadeiramente Jesus ressuscitou!

III – OS DISCÍPULOS NO CAMINHO DE EMAÚS

– Em seguida à admiração duvidosa de Pedro, Lucas, então, relata a aparição de Jesus aos dois discípulos que iam para a aldeia de Emaús, evento que foi apenas mencionado por Marcos (Mc.16:12), menção esta que despertou o médico amado que foi atrás de testemunhos que poderiam minudenciar o episódio.

Como atesta Fritz Rienecker: “…De todas as aparições do Cristo ressuscitado, nenhuma foi mais detalhadamente descrita pelos evangelistas, nem tampouco de forma mais bela e edificante, do que essa que se refere aos discípulos a caminho de Emaús.

Nessa rica e minuciosa descrição recupera-se a memória de como  Cristo não apenas se une aos peregrinos, mas também dialoga com eles amistosamente durante cerca de 2 a 3 horas a respeito das profecias do AT que prenunciam sua paixão, morte e ressurreição, e de como ele finalmente é reconhecido por aqueles na pousada em Emaús, e como eles apresentam com grande alegria toda a questão aos demais apóstolos.…” (op.cit., p. 305).

– Lucas diz que dois dos discípulos que ouviram o relato das mulheres e que não fazia parte do grupo dos onze (Lc.24:9), resolveram retornar para sua casa, que ficava na aldeia de Emaús, que o médico amado diz que ficava a 60 estádios de Jerusalém, ou seja, cerca de 11 km, falando a respeito de tudo o que havia sucedido, indagando um ao outro a respeito dos fatos, a mostrar, claramente, a perplexidade e a dúvida que existia entre os discípulos depois da morte do Senhor.

Nas palavras de Teófilo: “Os citados discípulos falavam entre eles do sucedido, não como crendo nisto, senão como admirados com coisas tão estranhas…” (Cátena áurea. Lc.24:13-24. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c631.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Lucas, então, diz que Jesus Se aproximou deles, embora não fosse por eles reconhecido, passando a tomar parte na conversa, mostrando Sua onisciência ao revelar que aqueles discípulos estavam tristes.

Diz Gregório que assim procedeu o Senhor porque agiu com prudência, querendo antes que lhes fossem antes abertos os olhos interiores do coração a conhecerem com os olhos do corpo ou, como afirma Fritz Rienecker:

“…O fato de os discípulos de Emaús não reconhecerem o Ressuscitado não pode ser explicado a partir de sua incredulidade. Certamente podemos afirmar que foi Deus quem causou essa incompreensão. A força da ressurreição de Cristo na realidade não é constatada por meio de um olhar e sentir físicos, mas pela palavra e pela fé.…” (op.cit., p. 306).

OBS: “Não Se lhes manifesta de modo que possam conhecer-Lhe e nisto opera com suma prudência, fazendo-o assim com respeito aos olhos do corpo, enquanto que os abria aos olhos interiores do coração, embora eles O amassem interiormente, ainda que estavam a duvidar.

Apresentando-Se entre eles se deu a conhecer que falavam d’Ele mesmo mas, como ainda duvidavam sobre Ele, ocultou a Sua fisionomia. Mas lhes dirigiu palavras interessantes…” (GREGÓRIO. In Evang. Hom. 23. In: Cátena áurea. Lc.24:13-24. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c631.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Vemos, pois, que o clima que imperava entre os discípulos de Jesus era o desânimo, a tristeza e a desesperança, sentimentos que retiram completamente a hipótese de que a ressurreição fosse uma história por eles inventada para fazerem sobreviver o movimento.

O que havia era total desesperança, pois, com a morte de Jesus, também haviam morrido os sonhos acalentados pelos discípulos de instauração do reino messiânico predito pelos profetas. Nas palavras de Gregório: “Conversavam entre si como se já desconfiassem de que o Salvador poderia viver, lamentando-se de Sua morte…” (Cátena áurea. Lc.24:13-24. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c631.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Um dos discípulos tinha por nome Cleofas (provavelmente, a testemunha que contou o fato a Lucas) e ambos passaram a contar àquela personagem o que havia ocorrido em Jerusalém naqueles dias.

A expressão utilizada pelos discípulos para se referir a Jesus, ou seja, de que fora um varão profeta, poderoso em obras diante de Deus e de todo o povo era a demonstração da descrença, desânimo e desesperança que reinava entre eles e, certamente, entre os demais discípulos do Senhor, um quadro totalmente adverso do que se esperaria de quem queria inventar uma história para manterem vivas as suas esperanças.

– No testemunho daqueles desanimados discípulos, vemos a incredulidade que reinava mesmo depois do relato das mulheres. Também se mostra, com clareza, a perspectiva que tinham os discípulos com relação ao ministério de Cristo, qual seja, a remissão de Israel (Lc.24:21), a instauração do reino messiânico (Cf. Lc.19:11).

OBS: “Esperavam que Jesus Cristo salvaria e redimiria a Israel de todos os males que os assediavam, especialmente do domínio dos romanos. Criam também que seria um rei terreno que poderia livrar-se da sentença de morte lançada contra Ele.” (TEÓFILO. Cátena áurea. Lc.24:13-24. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c631.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Este desânimo dos discípulos que iam pelo caminho de Emaús é ainda hoje constatado entre aqueles que veem em Cristo apenas as coisas desta vida. Não é à toa que o apóstolo Paulo tenha mencionado isto precisamente no já mencionado “capítulo da ressurreição”, ao dizer que os que esperam em Cristo somente nesta vida são os mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19).

– Aqueles discípulos retornavam para a sua aldeia, a aldeia de Emaús, talvez no firme propósito de começaram “uma nova vida”, já que consideravam se terem esgotado as esperanças que depositaram em Jesus.

Pensavam, muito provavelmente em “retomar a vida velha”, já que, com relação a Cristo, nada mais se podia esperar. Viam Jesus em uma perspectiva meramente horizontal, somente para este mundo, e, diante da morte do Senhor, nada mais podiam aguardar.

– É precisamente isto que sentem os que têm sido chamados de “decepcionados com a graça”, aqueles que aguardam Cristo para as coisas somente desta vida e que já somam milhões, enganados pelos falsos discursos seja da teologia da prosperidade, seja pela teologia da confissão positiva, seja mesmo pelo discurso da teologia da libertação.

Pessoas que depositaram em Jesus esperanças voltadas tão somente para as coisas deste mundo, para uma prosperidade material, para um bem-estar nesta vida e que, não tendo alcançado o que almejavam, não veem mais qualquer razão de ser para crerem em Jesus e resolver “voltar para Emaús”, retornar à vida velha.

– A desesperança era tanta que os próprios discípulos confessaram àquela personagem que, ante a notícia dada pelas mulheres, que foram verificadas por alguns, de que Jesus havia ressuscitado, mesmo assim não haviam crido na mensagem da ressurreição.

– Jesus, então, lança-lhes em rosto a sua incredulidade, considerando-os néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram, mostrando a eles nas Escrituras, que convinha que o Cristo padecesse aquelas coisas e entrasse na Sua glória.

– Neste relato do médico amado, vemos que não há outra fonte para fazermos crescer a nossa fé senão a Palavra de Deus. Jesus mostrou nas Escrituras que convinha que acontecessem aquelas coisas e, enquanto falava, começou a arder os corações daqueles discípulos, que, assim, foram cobrando ânimo e aumentando a sua fé, que havia se esgotado.

– O segredo para não sermos levados ao desespero, à decepção é meditarmos nas Escrituras, que são o caminho para perseverarmos na fé, para prosseguirmos a nossa jornada rumo aos céus.

Os fatos, as circunstâncias, as contrariedades a nossos desejos e sonhos não podem ter o condão de ofuscar aquilo que nos é revelado pela Bíblia Sagrada, a nossa única regra de fé e prática.

– A fé vem pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17) e o sustento de nossa fé também está nesta mesma Palavra. É ela o nosso alimento espiritual cotidiano, sem o que não poderemos sobreviver (Mt.4:4; Lc.4:4).

Por isso, amados irmãos, temos de ver a grande importância que tem a Escola Bíblica Dominical para cada um de nós, pois é um momento em que nos alimentamos e, portanto, podemos prosseguir, com segurança, rumo ao céu. Não é uma questão de erudição, mas, sim, de sobrevivência espiritual!

– Como diz Beda: “E se Moisés e os profetas falaram de Jesus Cristo e predisseram que entraria na glória por meio da paixão, como pode gloriar-se de levar o nome de cristão quem não se ocupa de investigar de que modo as Escrituras se referem a Cristo?

Neste conceito, não aspira à glória  que deseja ter com Cristo por meio da paixão” (Cátena áurea. Lc.24:25-35. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c632.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Os discípulos chegaram a Emaús e aquela personagem fez que iria prosseguir, mas, num gesto extremamente feliz, aqueles discípulos instaram aquele suposto viajante a que ficassem com eles.

Jesus aceitou o convite e, no momento da refeição, quando  abençoou o pão e o partiu, então os olhos dos discípulos foram aberto e O reconheceram, tendo, então, o Senhor desaparecido. Imediatamente, aqueles discípulos retornaram a Jerusalém e contaram o episódio aos onze e aos que estavam com eles, reafirmando a notícia da ressurreição, tendo, então, os próprios onze dito que verdadeiramente o Senhor havia ressuscitado e aparecido a Simão.

– O relato de Lucas mostra, pois, que o convencimento dos discípulos a respeito da ressurreição de Jesus adveio de aparições do Senhor a eles.

Quando os discípulos de Emaús chegaram, Jesus já havia aparecido a Simão, de modo que aqueles dois seguidores de Cristo apenas vieram trazer mais uma confirmação ao que um deles já havia experimentado, aparição que não é minudenciada pelo médico amado.

As “muitas e infalíveis provas” deixam aos gregos, que são os destinatários deste Evangelho, comprovada científica e filosoficamente a veracidade da ressurreição do Senhor.

IV – A APARIÇÃO DE JESUS AOS DISCÍPULOS   

– Mas, enquanto os discípulos do caminho de Emaús contavam como Jesus lhes havia aparecido, o próprio Jesus apareceu aos discípulos, ocasião em que os discípulos, mesmo vendo o Senhor, achavam que fosse Ele algum espírito, tendo, então, o Senhor mostrado que se tratava de um homem ressurreto, com espírito, alma e corpo, tendo mostrado Suas mãos e pés, inclusive pedindo que fosse apalpado, mostrando, assim, que realmente estava em corpo.

– Como afirma Matthew Henry: “…A grande surpresa que esta aparição de Jesus representou para eles. Ele entrou em um momento muito oportuno, quando eles comparavam suas observações a respeito das provas da Sua ressurreição:

‘Falando ele dessas coisas’ – e talvez prontos a questionar se as provas produzidas representavam evidências suficientes da ressurreição do seu Mestre, ou não, e como deveriam proceder – ‘o mesmo Jesus se apresentou no meio deles” – e eliminou a dúvida.…” (Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus-João edição completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.736).

– Tal minudência apresentada por Lucas mostra bem a intenção do evangelista de não deixar qualquer dúvida a respeito da corporeidade de Jesus, a confirmar que se estava diante de um caso real de ressurreição.

Não era a “alma imortal” reconhecida pelos gregos, mas de alguém que havia ressuscitado em um corpo, corpo este que era glorioso, tanto que podia aparecer e desaparecer, mas que não deixava de ser um corpo. Lucas, mais uma vez, mostra a influência paulina, confirmando aquilo que o apóstolo ensinara a respeito da ressurreição (I Co.15:35-50).

“Este foi um sinal evidente de quem Aquele que agora viam não eram outro senão O que haviam visto morto na cruz e colocado no sepulcro, o que não se ocultava como homem a nenhum dos que ali estavam” (CIRILO. Vel anonimus in Cat. Graec. In: Cátena áurea. Lc.24:36-40. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c633.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

“Para mostrar-lhes a veracidade de Sua ressurreição, não só quis que Lhe tocassem os discípulos, como também Se dignou comer com eles para que vissem que havia aparecido de uma maneira real e não de um modo fantasmagórico…” (BEDA. In Cátena áurea. Lc.24:41-44. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c634.html Acesso em 20 ar. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Como afirma Matthew Henry: “… A prova que Jesus lhes deu, da Sua ressurreição, tanto silenciando os seus temores, ao convencê-los de que não era um espírito, quanto confirmando a sua fé, naquela doutrina que eles deviam pregar ao mundo, dando-lhes plena satisfação a respeito da Sua ressurreição. Ele lhes dá duas provas:

(1) Ele lhes mostra o Seu corpo, em especial as Suas mãos e os Seus pés. Eles viam que Ele tinha a forma, e os traços, e uma semelhança exata, do Seu Mestre; mas não será o Seu espírito?

‘Não’, diz Cristo, ‘Vede as Minhas mãos e os Meus pés’ ; em outras palavras, vocês estão vendo que Eu tenho mãos e pés, e, portanto, tenho um corpo verdadeiro; vocês estão vendo que Eu posso mover estas mãos e estes pés, e portanto tenho um corpo vivo; e vocês estão vendo as marcas dos pregos em Minhas mãos, e nos Meus pés, e portanto este é o Meu próprio corpo, o mesmo que vocês viram crucificado, e não um corpo emprestado.(…)

(2) Ele come com eles, para mostrar que tinha um corpo real e verdadeiro, e que desejava ficar livremente e familiarmente com os seus discípulos, como um amigo com outro. Pedro coloca  uma grande ênfase nisto (At.10.41): ‘Comemos e bebemos juntamente com ele, depois que ressuscitou dos mortos’.…” (op.cit., pp.737-8).

– Os discípulos, então, tomados de alegria, ainda assim não criam, até que o próprio Jesus, para dissipar quaisquer dúvidas, pediu algo para comer, tendo, então, eles apresentado a ele parte de um peixe assado e um favo de mel, que ele tomou e comeu diante deles.

– Jesus, então, uma vez mais, usou das Escrituras para que eles compreendessem tudo quanto havia acontecido.

Como fez com os discípulos no caminho de Emaús, começou a mostrar que convinha que o Cristo padecesse em todo o Antigo Testamento (lei de Moisés, profetas e salmos, a chamada “Tanach” – Lc.24:44), tendo, então, aberto o entendimento dos Seus discípulos para compreenderem as Escrituras.

– Lucas não registra o que fez com que os discípulos pudessem compreender as Escrituras, mas João diz que o Senhor deu o Espírito Santo aos discípulos naquela aparição (Jo.20:22) e, deste modo, podemos compreender que ninguém pode entender as Escrituras senão pelo Espírito Santo.

Este é o segredo porque muitos que se dizem doutos e entendidos não têm como crer na mensagem da ressurreição nem tampouco em tudo quanto diz a Bíblia Sagrada, pois as coisas espiritual somente podem ser discernidas espiritualmente (I Co.2:10-16).

– Lucas deixa bem claro que, conquanto haja “muitas e infalíveis provas” da ressurreição de Cristo, isto somente pode ser efetivamente crido por quem tiver seu entendimento aberto pelo próprio Jesus.

É algo reservado “àqueles que O amam” (I Co.2:9), de modo que, ainda que apresentadas as provas irrefutáveis da ressurreição de Cristo, os que não crerem continuarão a lançar as hipóteses mais absurdas para negar as evidências do triunfo de Cristo sobre a morte.

A estes, portanto, só nos resta, depois de uma ou outra tentativa, evitá-los (I Tm.6:3-5; II Tm.2:16-18; Tt.3:10,11).

– Lucas mostra, então, qual o propósito de tudo quanto ocorrera com Cristo, a saber: a pregação do arrependimento e a remissão dos pecados em todas as nações em nome de Jesus, começando por Jerusalém (Lc.24:47).

– A pregação do Evangelho era possível, então, porque baseada em fatos, em acontecimentos reais e irrefutáveis, mas que demandariam a fé em Cristo Jesus.

A pregação do Evangelho é a pregação do arrependimento e da remissão dos pecados em nome de Jesus, algo que deveria ser pregado em todas as nações, começando por Jerusalém.

– Temos, irmãos, pregado o Evangelho? Nossos púlpitos têm realçado a mensagem do arrependimento e remissão dos pecados em nome de Jesus, Aquele que padeceu e ressuscitou ao terceiro dia dos mortos para que crêssemos n’Ele e víssemos n’Ele Aquele que perdoa os nossos pecados e nos leva para o céu?

OBS: “…O grande dever do Evangelho, que é o arrependimento, deve ser reforçado aos filhos dos homens. O arrependimento do pecado deve ser pregado em nome de Cristo, e por sua autoridade, v. 47. Todos os homens, em todo lugar, devem ser chamados, e ordenados, para que se arrependam, Atos 17.30.

‘Vão, e digam a todas as pessoas, que o Deus que os fez, e o Senhor que os comprou, espera e exige que, imediatamente depois de receber esta notícia, eles se afastem da adoração dos deuses que fizeram com suas mãos para a adoração do Deus que os fez; e não somente isto, mas que também deixem de servir aos interesses do mundo e da carne – eles devem servir a Deus através de Cristo, devem mortificar todos os hábitos pecaminosos, e abandonar todas as práticas pecaminosas.

Seus corações e vidas devem ser transformados, e eles devem ser universalmente renovados e restaurados’…” (HENRY. Matthew Henry op.cit., p.738).

– Lamentavelmente, há igrejas locais em que esta mensagem já não é ouvida há tempos. Em lugar do arrependimento e da remissão dos pecados em nome de Jesus, que ressuscitou dos mortos numa prova de que Seu sacrifício pelos pecados da humanidade foi aceito por Deus, estão a falar de prosperidade material, de bem-estar físico e de tantas outras coisas, menos da necessidade que temos de nos arrepender de nossos pecados e de mudança de nossa vã maneira de viver que, por tradição, recebemos de nossos pais.

Não foi para isto que Jesus veio ao mundo! Tenhamos consciência disto, amados irmãos!

– A mensagem do Evangelho era para todas as nações, embora começasse por Jerusalém, que era onde os discípulos se encontravam naquele momento. Era para todas as nações e vemos, aqui, mais uma vez, já próximo do seu final, o Evangelho de Lucas proclamando o caráter universal da obra de Cristo Jesus, do último Adão, da semente da mulher que viera reatar a amizade entre Deus e a humanidade.

OBS: “…Nesse ‘abrir a Escritura’ o Senhor mostrou aos discípulos ainda um terceiro ponto central, uma ordem divina, a saber, ‘a pregação às nações’. A universalidade do evangelho de Jesus Cristo é declarada pelo AT com a mesma determinação que a paixão e morte dele, e igualmente como sua ressurreição.

Nesse sentido é possível citar uma série de passagens comprobatórias do AT (Is 49.1; Sl 2.8; Os 2.23; Jl 3.5; Ml 1.11; Dn 7.14; Sl 117.1). O Senhor descerrou o olhar dos apóstolos para a distância. Várias vezes ele lhes confiou, expressamente e por indicações inequívocas, a pregação do evangelho a todas as nações (Mt 8.11; 10.18; Lc 14.23; Jo 10.16; Mt 26.13; Mc 14.9; Mt 24.14).

Somente agora, quando a tarefa da pregação às nações em breve demandaria a ação dos discípulos, ele fornece-lhes o embasamento bíblico de suas indicações e ordens.

O conteúdo da pregação é mudança de pensamento ou conversão, uma alteração do modo de pensar e de toda a natureza, para obter o perdão dos pecados. Sua mensagem não constitui um fim em si mesmo, mas é o cerne do evangelho. Essa pregação de conversão deve acontecer de acordo com a Escritura…” (RINECKER, Fritz, op.cit., p. 312).

– Jesus então mostra aos discípulos que eles passaram a ser testemunhas de tudo quanto havia ocorrido, o que explica a mudança de atitude que doravante eles teriam a respeito do tema.

Eles que haviam duvidado do relato das mulheres passaram a pregar abertamente, a começar de Jerusalém, que Jesus havia ressuscitado dos mortos (At.2:22-24; 3:13-19; 6:14; 7:52; 10:39,40; 13:27-41; 17:30-32; 25:19).

– Lucas mostra, claramente, que os cristãos eram testemunhas da ressurreição de Cristo e, por isso, pregavam abertamente sobre esta realidade, ainda que esta notícia parecesse, aos olhos dos gregos, um desvario, uma loucura. Aliás, é o próprio Paulo, que bem entendia o pensamento grego, que dizia que se tratava da “loucura da pregação” ( I Co.1:23).

– Somente a convicção decorrente das “muitas e infalíveis provas”, poderia fazer com que aqueles discípulos duvidosos mudassem completamente seu comportamento e passassem a pregar a ressurreição de Cristo mesmo contra todas as perseguições e ameaças, sendo mais esta uma evidência de que a ressurreição do Senhor é uma realidade que não pode ser negada de modo algum. Aleluia!

– “…Ter-se-á notado que a narrativa de Lucas é aqui muito geral e encerra os grandes princípios em que se baseiam a doutrina e as provas da ressurreição.

Ali se encontra a incredulidade do coração natural descrita de maneira impressionante, em narrativas simples e muito interessantes.

O apego dos discípulos à sua própria esperança do Reino; o esforço com que a doutrina da Palavra penetra em seus corações – ainda que recebida com alegria, à medida que eles a vão realizando; a Pessoa de Jesus ressuscitada, continuando Homem, continuando aquela excelente Pessoa que eles tinham conhecido; a doutrina da Palavra, a inteligência da Palavra dada; o poder do Espírito concedido – tudo o que dizia respeito à verdade e à ordem eterna das coisas é aqui exposto com notável evidência.…” (DARBY, John Nelson. Estudos sobre a Palavra de Deus: Lucas-João. Trad. de Dr. Martins do Vale, p.135).

– Jesus, então, mandou aos discípulos que, antes de iniciar a pregação que lhes era ordenada, ficassem na cidade de Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc.24:49), que era a promessa do Pai que eles haveriam de receber.

– Temos aqui mais uma demonstração de que Lucas considera indispensável a ação do Espírito Santo sobre a vida da Igreja. Sem o revestimento de poder, jamais os discípulos poderiam cumprir a contento a missão que Cristo lhes confiava.

Não há, pois, como podermos executar a missão da evangelização do modo como o Senhor a deseja se não formos batizados com o Espírito Santo.

Como afirma João Crisóstomo: “Assim como quando um exército se dispõe a atacar o inimigo, o general não permite que ninguém saia até que todos estejam armados, assim Jesus não permite que os apóstolos saiam a pelejar até que estejam armados com a vinda do Espírito Santo…” (Hom. 1 in Act. In: Cátena áurea.  Lc.24:45-49. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c635.html Acesso em 20 abr. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– “…Essa promessa cumpriu-se no dia de Pentecostes, isto é, no quinquagésimo dia depois da ressurreição de Cristo, o décimo depois de Sua ascensão. À luz do livro de Atos é evidente que, por meio das palavras de Jesus quando abriu a mente deles, e por meio do derramamento do Espírito Santo, esses homens realmente se tornaram testemunhas eficientes. Sem dúvida, o discurso de Pedro no dia de Pentecostes é uma ilustração desse acréscimo de poder e eficácia (At 2.14-36).…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., pp.715-6).

– Lucas, então, diz que o Senhor levou os discípulos até Betânia e ali os abençoou, tendo, então, Se apartado deles e elevado ao céu. Os discípulos, então, O adoraram e tornaram com grande júbilo para Jerusalém, estando sempre no templo, louvando e bendizendo a Deus.

“…Observe que enquanto esperamos pelas promessas de Deus, devemos sair ao seu encontro com nosso louvor. Louvar a Deus e bendizê-l’O é um trabalho que nunca estará fora de moda – e nada prepara melhor a mente e o coração para receberem o Espírito Santo do que a alegria sagrada e o louvor. Os temores são silenciados, as aflições são amenizadas e apaziguadas, e as esperanças são mantidas.…” (HENRY, Matthew, op.cit., p. 741).

– Lucas termina seu evangelho com os discípulos no templo, louvando e bendizendo a Deus, adorando o Senhor. Isto nos mostra, com absoluta clareza, que a vida cristã necessita de momentos de adoração ao Senhor, a serem realizada pela comunidade dos discípulos, que devem louvar e bendizer a Deus.

Verdade é que Lucas diz que isto era feito no templo, o que esclarecerá no livro de Atos, algo que ocorreu até a dispersão dos discípulos ocorrida após a morte de Estêvão, mas não deixa de ser elucidativo de que a reunião dos discípulos é necessária para que se tenha a devida e correta adoração a Deus.

– Lucas já mostra, no término de seu primeiro tratado, que é uma falácia, um engano, uma mentira satânica a filosofia dos chamados “desigrejados”, que hoje advogam um serviço a Deus fora de uma comunidade, fora de uma igreja local.

Lucas não deixará de mostrar, no livro de Atos, a presença de falsos irmãos, de pessoas que caíram da graça no meio da comunidade, mas não a dispensa, antes diz que é em um grupo social que haveremos de adorar a Deus, louvá-l’O e bendizê-l’O de modo a que possamos realizar a grande obra que o Senhor nos comissionou.

Por isso, não cedamos a estes discursos vãos, de pessoas soberbas e que nada sabem e que apenas estão querendo criar motivos e circunstâncias que nos levarão, sem dúvida, ao fracasso na vida espiritual.

– “…Lucas começa seu livro com uma cena no templo (1.5-23). Agora ele o finaliza de forma semelhante. Começa com cânticos: de Isabel, de Maria, de Zacarias, dos anjos, de Simeão. Assim também termina, do modo mais apropriado, com louvores a Deus, pois ‘d’Ele, por meio d’Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória para todo o sempre’.” (HENDRIKSEN, William, op.cit., p.718).

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco 

Site: http://www.portalebd.org.br/files/2T2015_L13_caramuru.pdf

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