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LIÇÃO Nº 2 – A PROVISÃO DE DEUS EM TEMPOS DIFÍCEIS

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Deus é Javé-Jiré, o Deus que provê.

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I – INTRODUÇÃO

– Deus é Javé-Jiré, o Deus que provê.

– Deus sempre cuida do Seu povo, provendo o necessário para a sua sobrevivência, com o fim de que Seu nome seja glorificado na Terra.

I – A PROVISÃO DIVINA

– Na lição anterior, vimos que Deus, apesar de o homem ter pecado, manteve as condições para a subsistência do gênero humano sobre a face da Terra, dando chuva e sol para todos eles, sejam maus ou bons, justos ou ímpios (Mt.5:45), pois Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).

– A concessão de tais condições indispensáveis para que o homem, pelo seu esforço e inteligência, sobreviva sobre a Terra é o que se denomina de “provisão divina”. Também já vimos, na lição anterior, que “prover” significa, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “abastecer(-se) do que for necessário”, palavra que vem do latim “provideo”, cujo significado é “’perceber, descobrir antes, prever, pressentir, precaver-se, acautelar-se, olhar por, fazer provisão, prover”.

Nas Escrituras Sagradas, encontramos a palavra “prover” em Gn.22:8, quando Abraão diz a seu filho Isaque que o Senhor “proveria” o cordeiro, palavra que, em hebraico, é “yir’eh” (יראה ), cuja raiz primitiva é “raah”, cujo significado é aconselhar-se, aparecer, aprovar, contemplar, prever, fazer ver, prover.

– Pois bem, dentro do significado que nos dá o lexicógrafo, tem-se que a “provisão” é como que uma “antecipação”, uma demonstração de presciência, algo que somente o Senhor pode realizar, pois só Ele é onisciente, somente Ele sabe, de antemão, o que irá acontecer.

– Quando Abraão disse a seu filho Isaque que Deus proveria o cordeiro para Si, demonstra toda a sua confiança no Senhor.

O patriarca revela que Deus sabia o que estava a fazer, embora o próprio patriarca não compreendesse aquela ordem para que oferecesse seu filho em holocausto. No entanto, como o próprio Deus havia prometido de que, em Isaque, seria formada a nação prometida, Abraão tinha a convicção de que, mesmo das cinzas, Deus faria com que Isaque voltasse a viver, numa crença na ressurreição, algo que, até então, jamais havia ocorrido (Cf. Hb.11:18).

– Abraão tinha plena consciência de que Deus tinha o pleno controle de todas as coisas, era o Deus Altíssimo, o Supremo Ser, e, deste modo, nada poderia impedir de ver cumprido o Seu propósito, de modo que Abraão sabia que Deus, de antemão, já tinha conhecimento de tudo o que iria ocorrer, algo que o patriarca não tinha.

– O Senhor Jesus também mostrou ter esta condição a Seus discípulos. Ao lavar os pés dos discípulos, algo que causou uma justificável resistência da parte de Pedro, afirmou que eles não entendiam o que se estava passando, mas que, depois, teriam esta compreensão (Jo.13:7).

– Entender que Deus é provedor é entender que Deus, de antemão, sabe o que vai acontecer e que, por isso mesmo, toma as providências necessárias para que a Sua Palavra se cumpra e que não precisamos, portanto, nos preocupar com o cumprimento das promessas divinas, mesmo ante circunstâncias tão adversas e totalmente contrárias ao que foi prometido. Temos de crer somente, como o Senhor Jesus mandou a Jairo que fizesse (Mc.5:36; Lc.8:50).

– É elucidativo que o patriarca disse que Deus proveria para Si o cordeiro, ou seja, Abraão bem sabia que a questão da fidelidade divina, do cumprimento de Suas promessas é algo que está relacionado com o próprio caráter do Senhor, algo que é ínsito à natureza divina e que, portanto, nada tem que ver conosco.

Deus proveria o cordeiro “para Si”. Como diz o apóstolo Paulo, Deus é fiel e Ele não pode ser infiel porque não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13).

– Não temos, pois, porque temer nos momentos de dificuldade, porque faz parte da natureza divina a fidelidade, é algo que está estabelecido na dimensão divina, que é muitíssimo superior à nossa (Is.55:8,9).

Vê-se, pois, como são tolos e totalmente inadmissíveis os pensamentos que vinculam a fidelidade de Deus a nós, a nossos caprichos, aos nossos “egos”, como têm agido os falsos pregadores seja da teologia da prosperidade, seja da teologia da confissão positiva.

– Quando falamos do Deus provedor, também estamos a dizer que Deus atua consoante um propósito, ou seja, Deus, sabendo de antemão o que irá ocorrer, toma providências no sentido de que tudo caminhe para aquilo que Ele mesmo já estabeleceu, para o Seu propósito, que se realiza debaixo do céu, no tempo determinado por Ele (Ec.3:1). Seu propósito é eterno e está acima do tempo (Ef.3:11; II Tm.1:9).

– Deus não toma providências nem intervém visando satisfazer entendimentos deste ou daquele ser humano, para tornar “alegres” corações ou intentos de homens, mas, sim, para que se realize a Sua vontade, pois Deus opera em nós tanto o querer como o efetuar (Fp.2:13).

Isto desfaz um dos grandes problemas de nosso tempo, que é o relativismo, ou seja, a perda da crença em verdades absolutas, a própria crença na verdade. Deus é a verdade (Jr.10:10) e a provisão divina revela bem isto.

– Todas as vezes que as páginas sagradas nos mostram uma atuação divina em que se revela a Sua vertente provedora, tem em vista, precisamente, a demonstração deste pleno controle de Deus sobre todas as coisas e da realização da Sua vontade, com o nítido intuito de Se revelar ainda mais aos homens e de, através desta revelação, levá-los à salvação.

– Para exemplificar esta ação provedora do Senhor, nosso comentarista recorreu a três episódios bíblicos: a provisão de Israel no deserto em sua jornada para Canaã, a provisão do profeta Elias no ribeiro de Querite e a provisão do profeta Elias na casa da viúva de Sarepta.

II – A PROVISÃO DE ISRAEL NO DESERTO

– O primeiro caso bíblico trazido pelo comentarista para nos indicar a provisão divina foi a provisão de Israel no deserto durante sua peregrinação para a terra de Canaã.

– O episódio da libertação de Israel do Egito teve um profundo conteúdo pedagógico. Depois de ter formado Israel como um povo, promovendo a multiplicação dele no Egito, numa ação que já é provedora, já que, para que o povo pudesse se multiplicar como devido, o Senhor o leva às férteis terras de Gósen, no delta do Nilo, fazendo o povo viver sob o governo do país mais adiantado da época, a verdadeira potência mundial, em condições de paz e segurança que permitiam tamanha multiplicação, havia a necessidade de este povo, para poder ser a propriedade peculiar de Deus entre os povos (Ex.19:5,6), ter conhecimento de quem era Deus e não somente os israelitas, mas os próprios egípcios.

– Foi por esta necessidade de Israel vir a conhecer a Deus, entendê-l’O como o único Deus e superior a toda e qualquer divindade que fosse adorada pelas nações, que se deu todo o processo angustiante e traumático das dez pragas do Egito, a fim de que soubesse Israel quem era o único e verdadeiro Deus e toda a sua superioridade sobre os falsos deuses egípcios (Nm.33:44).

– No momento crucial da libertação, quando da aplicação da décima praga, a morte dos primogênitos, fez com que o povo de Israel exercesse a fé de forma bem explícita, quando da celebração da Páscoa (Cf. Hb.11:28), demonstração esta consubstanciada no fato de se lançar o sangue na verga da porta e de comer a páscoa apressadamente, já pronto para partir.

– No entanto, foi só o povo sair do domínio de Faraó, não tendo ainda sequer deixado o território egípcio, para que o Senhor começasse a submeter este povo a provas de sua fé, provas em que o povo passou a fracassar seguidamente, a ponto de, ao chegar ao Sinai, quarenta dias depois da libertação, já ter falhado sete vezes nas provas de fé a que foi submetido.

Em vez de confiarem em Deus, os israelitas revelaram toda sua incredulidade, a saber:

  • murmuração diante da aproximação do exército de Faraó (Ex.14:11,12);
  • vista dos corpos dos egípcios estavam na praia depois que o mar Vermelho se fechou, mesmo diante da palavra divina de que os inimigos seriam destruídos (Ex.14:30);
  • murmuração pelo amargor das águas de Mara (Ex.15:23,24);
  • murmuração pela fome no deserto (Ex.16:3);
  • desobediência à ordem de apanhar somente o suprimento diário do maná (Ex.16:20);
  • desobediência à ordem de não apanhar maná no sábado (Ex.16:27);
  • murmuração pela sede em Massá e Meribá, com tentação ao Senhor (Ex.17:3,7).

– Apesar desta atitude abaixo da crítica por parte de Israel, o Senhor não deixou de cuidar do povo de Israel, pois Seu propósito era levá-los a Canaã. Havia determinado que Israel fosse pelo deserto e não pelo caminho do mar (Ex.13:17-21), exatamente para que Se pudesse revelar a Israel como o seu Provedor, como o seu Deus, o Todo-Poderoso que havia Se revelado aos patriarcas, como Aquele que guiaria e orientaria o povo para o destino determinado pelo Senhor, por meio da coluna de nuvem, de dia, a coluna de fogo, de noite.

– Por isso, em meio às murmurações do povo de Israel, Deus tratou de lhes dar o devido sustento ao longo daquela jornada, que duraria 40 anos (Ex.19:35).

Deu-lhes o maná e água durante a jornada, mantendo o povo vivo e sobrevivente até a chegada a Canaã. Como disseram os poetas sacros Erik Janson e F. da Silva: “Podes tu recordar, maravilhas sem par?

No deserto, ao povo fartou e o mesmo poder Ele sempre terá, pois não muda e não falhará” (terceira estrofe do hino 467 da Harpa Cristã).

– Esta provisão do maná muito nos ensina a respeito da provisão divina. Por primeiro, mostra-nos que a provisão divina não dispensa o trabalho humano. Deus estabeleceu, quando da queda, que o homem deveria, do suor do seu rosto, obter o seu sustento (Gn.3:19).

Pois bem, o maná caía no final da madrugada e derretia quando o sol aparecia (Ex.16:21), obrigando, pois, todo israelita a acordar bem cedinho para colhê-lo e preparar, com ele, as suas iguarias.

Assim, verifica-se que os israelitas, embora não tivessem de cultivar o maná, tinha de trabalhar para apanhá-lo. Deus não muda os Seus princípios por causa de nós, embora faça maravilhas e milagres para nos prover. Lembremos disso!

– Por segundo, o maná dava o suficiente para o sustento do povo, levando em conta as diferenças entre os indivíduos. Uns colhiam mais, outros, menos (Ex.16:17).

A provisão divina não tem em vista uma vida regalada, de luxo e desperdício, um enriquecimento desmedido, mas, sim, é um compromisso do Senhor com a sobrevivência do Seu povo para que ele, tendo o necessário para comer, beber e vestir, o básico, possa, então, realizar a Sua obra.

O povo de Deus tem de aprender a se contentar com o absolutamente necessário, uma mentalidade totalmente contrária à que vige em nossos dias, onde o materialismo, a ganância e o consumismo são o norte e a base dos sentimentos de muitos em relação aos bens do mundo.

Esta lição foi aprendida pelo apóstolo Paulo (Fp.4:11) e ensinado por ele a Timóteo (I Tm.6:6-8). A provisão divina visa a suficiência, não o regalo ou o mais do que necessário.

– Por terceiro, o maná foi concedido debaixo das instruções e orientações dadas por Deus ao próprio povo.

A provisão divina está em perfeita consonância com os mandamentos divinos. É dito que, em Mara, o Senhor havia dado a Israel estatutos e uma ordenação (Ex.15:26) e a maior parte dos doutores da lei acham que foi ali que se deu a Israel o mandamento do sábado, daí porque ter sido proibido aos israelitas que colhessem o maná no dia de sábado (Ex.16:23-30).

– A provisão divina jamais se dá em desacordo com a Palavra de Deus. Muitos hoje enxergam “bênçãos de Deus” para o seu sustento em situações que contrariam frontalmente as Escrituras.

Não faz muitos anos, chegamos a ver, na mídia, um certo político sedizente evangélico “agradecer” a Deus por causa de uma propina, no que ficou conhecida como a “oração da propina”, um verdadeiro absurdo e que é totalmente desmentido pro este episódio do maná. Jamais Deus provê em desacordo com a Sua Palavra, Palavra esta que foi posta pelo Senhor acima do Seu próprio nome (Sl.138:2).

– Por quarto, é dito que o maná tinha um sabor como “bolos de mel” (Ex.16:31), o que fez com que muitos doutores da lei entendessem que o maná tinha um diferente paladar para cada israelita, de modo que todos o achavam delicioso, não querendo qualquer outro alimento, como afirmou Flávio Josefo.

Em se seguindo esta linha de interpretação, vemos que a provisão divina tem uma diferente percepção ou impressão por parte dos beneficiados por ela, mas todos, apesar de seus sentimentos e visões diferentes, são realmente satisfeitos e saciados pelo Senhor, reconhecendo a Sua soberania, amor e cuidado.

– Além do maná, o Senhor também providenciou que o povo de Israel tivesse água, água esta advinda de uma rocha, que seguiu o povo a partir do Sinai (Ex.17:5,6; I Co.10:4).

A água somente veio a faltar novamente em Massá e Meribá, ocasião em que Moisés e Arão feriram novamente a rocha e, por causa disso, perderam a oportunidade de entrar em Canaã (Nm.20:2-13).

– Esta água também nos traz preciosas lições. Por primeiro, lembra-nos de que a provisão divina tem em vista a vida como pressuposto, entendida aqui a vida espiritual, a comunhão com Deus.

A água é condição “sine qua non” para que haja vida. Se se tivesse maná e não se tivesse água, inútil seria ter maná.

– Por segundo, a provisão divina existe em função da salvação. Esta água veio do ferimento da rocha e a rocha é Cristo, como nos diz o apóstolo Paulo (I Co.10:4).

A provisão divina somente é possível porque Cristo morreu por nós e tem em vista a realização da obra de Cristo em nossas vidas.

A provisão divina é um instrumento para a salvação, nada mais que isto. Por isso mesmo, quando Moisés e Arão feriram a rocha pela segunda vez, acabaram por perder o direito de entrar na Terra Prometida, apesar de ter havido provimento de água para o povo israelita.

– Por terceiro, a provisão divina, por estar sujeita à salvação, não pode se dar de forma a deixar o povo inadvertido e negligente quanto à obediência ao Senhor.

Por que faltou a água exatamente quando o povo passava, uma vez mais, por Massá e Meribá? Exatamente para que não ficasse esquecido que o povo, ali, havia tentado ao Senhor, agido de forma inadequada. Jamais a provisão divina irá se dar de modo a deixar, ainda que implícito, acobertado algum pecado, dar a impressão de que o pecado é tolerado e admitido.

– Ao mandar a água e o maná para o povo de Israel, ao mandar a coluna de fogo e a nuvem para orientar o povo no deserto, deserto para onde o próprio Deus havia mandado Israel, Deus mostra que sempre garante as circunstâncias em que Ele mesmo nos põe, em que Ele quer que passemos.

Por isso, não vacilemos nem titubeemos em tomar a direção e o caminho indicados pelo Senhor, pois Ele é fiel e, portanto, tudo fará para que possamos chegar ao outro lado.

III – A PROVISÃO DE ELIAS NO RIBEIRO DE QUERITE

– O segundo caso bíblico tratado na lição a respeito da provisão divina é a do episódio que envolveu o profeta Elias no ribeiro de Querite.

– O profeta Elias apresentou-se ao rei Acabe e anunciou que não iria chover nem cairia orvalho enquanto ele não proferisse uma nova palavra neste sentido. Em outras palavras: o profeta anunciava que “estava fechando o céu até segunda ordem” (I Rs.17:1).

– Esta afirmação de Elias não era fruto de sua simples imaginação ou vontade. Quando lemos a epístola de Tiago, somos informados de que este gesto do profeta foi efeito de um pedido seu ao Senhor. Com efeito, antes de anunciar publicamente a falta de chuva e de orvalho, o profeta havia pedido a Deus que isto fosse feito (Tg.5:17).

– Elias, ao se apresentar ao rei, disse que era alguém que estava “perante a face do Senhor”, ou seja, identificou-se como um servo de Deus, como um homem que gozava plena comunhão com o Senhor, um homem que prezava pela oração e pela meditação nas Escrituras, vivendo, com consequência disto, em “isolamento profético”, ou seja, distante de toda a apostasia espiritual que experimentava a sua nação.

– Inconformado com os rumos seguidos por Israel, o profeta, zeloso que era não só de sua vida espiritual mas do próprio povo, iniciou seu pedido a Deus para que fosse impedida a chuva e o orvalho sobre a nação, a fim de que o povo compreendesse que só o Senhor era o único e verdadeiro Deus, não passando de mentira a ideia de que a natureza era controlada por Baal, a divindade cuja adoração se tornara oficial com a vinda de Jezabel a Israel.

– O pedido do profeta, portanto, visava única e exclusivamente a glória do Senhor, tinha como objetivo fazer o povo despertar para a realidade de que 0 Senhor era o único e verdadeiro Deus, e isto, segundo pensou o profeta, seria demonstrado quando o Senhor, num gesto público, determinasse que não mais se chovesse ou caísse orvalho durante “anos”.

Assim, o povo, em sua adoração a Baal, veria que não era Baal, mas, sim, o Senhor quem controlava a natureza.

– Vemos, pois, que, por detrás da provisão que Deus dará ao profeta, está a glorificação do nome do Senhor.

Elias pediu ao Senhor que o “céu fechasse” e o Senhor anuiu com este pedido e, sob esta ordem divina, o profeta vai a Acabe e assim profetiza.

Deus, então, teria de manter o profeta sobrevivente e sem maiores dificuldades enquanto ocorresse a longa seca, não porque “Elias tenha mandado em Deus” ou “Deus fosse obrigado”, mas para que o nome do Senhor fosse glorificado e todo o Israel soubesse que só o Senhor é Deus.

– O profeta, ao fazer tal pedido, demonstrava a sua plena confiança em Deus. Sabia, tinha convicção de que o único Deus era o Senhor e que, portanto, era o Senhor e não Baal quem tinha controle sobre a natureza, sobre o ciclo das águas, criação sua que era.

Tinha ele plena certeza de que todas as coisas tinham sido criadas pelo Senhor (Gn.1:1) e que os ídolos nada significavam, nada eram (I Co.8:4), pois o único Autoexistente era o Senhor, que, aliás, desta forma Se identificara para Moisés (Ex.3:14).

– Nos dias em que vivemos, não pode ser diferente. Todos os que estão em comunhão com o Senhor têm de ter esta mesma convicção, esta mesma certeza de que só o Senhor é Deus, que só Ele é a Verdade (Jr.10:10), nada significando, nada sendo tudo quanto tem sido inventado pelo homem, inclusive na falsamente chamada ciência (I Tm.6:20).

– Vivemos dias em que, a exemplo do que ocorria nos dias de Elias, em que as invencionices da mitologia fenícia adquiria ares de “verdade” para o povo de Israel, também muitas outras criações da imaginação humana têm sido adotadas pelos que cristãos se dizem ser como sendo “verdades”, apesar de serem frontalmente contrárias ao que ensina a Bíblia Sagrada, esta, sim, a única verdade absoluta existente (Jo.17:17).

– A exemplo de Elias, temos de confiar naquilo que diz o Senhor, naquilo que Ele revelou em Sua Palavra, não nos deixando abalar pelas ideologias e pensamentos trazidos por incrédulos e que têm sido, lamentavelmente, acolhidos e assumidos por muitos que cristãos se dizem ser.

Deus é a verdade, Sua Palavra é a verdade e somente na verdade é que devemos confiar e crer. Lembremos do que diz o apóstolo Paulo: “Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade” (II Co.13:8).

– Assim é que, nos dias em que vivemos, há aqueles que não mais creem que Deus criou todas as coisas, influenciados que estão pela teoria evolucionista.

Há, também, aqueles que já não mais creem que Deus criou homem e mulher, admitindo a existências de “outros gêneros” (não usam sequer a palavra “sexo”, que também foi abolida por estes inventores de males), assumindo assim as “histórias da carochinha” trazidas pelo movimento homossexual.

Já há, mesmo, aqueles que não creem sequer na verdade, renegando a própria inspiração divina da Bíblia Sagrada, fazendo coro aos adeptos do relativismo moral e ético. Irmãos amados, sejamos como Elias, crendo e confiando única e exclusivamente no Senhor!

– O Senhor, portanto, manda o profeta para a mesma região de sua procedência, algo que seria impensável para quem havia sido comissionado por Deus para combater a apostasia espiritual e havia tido a permissão divina para “fechar os céus” e dizer isto diretamente ao rei.

– Entretanto, humilde e obedientemente, Elias retornou à sua região de origem, para ficar à margem de um ribeiro, em completo anonimato, longe dos “holofotes”, porque Deus assim o determinou. Temos feito isso?

Temos obedecido à voz de Deus mesmo quando parece que “estamos andando para trás”?

– O propósito de Elias era tão somente o engrandecimento do nome do Senhor. Embora lhe tenha sido dada a permissão de “fechar os céus”, o profeta não se deslumbrou com isso, mas se manteve como humilde e obediente servo de Deus, fazendo a Sua vontade acima de tudo.

– O Senhor disse que Elias deveria ir para o ribeiro porque ali teria água para sua sobrevivência, o que, aliás, era algo importante, já que, diante da palavra do profeta, a água se tornaria escassa.

No entanto, não nos esqueçamos, o ribeiro de Querite era um “wadi”, ou seja, um rio temporário, um rio que somente existe em algumas épocas, a época das chuvas.

Ora, se haveria de parar de chover, não seria apropriado que fosse para um lugar de águas perenes? Elias, porém, não questionou ao Senhor, sabendo que Ele é o Criador de todas as coisas e poderia abastecê-lo como estava a dizer.

– É importante observar que, durante um período que a Bíblia não precisa, Elias realmente bebeu do ribeiro, mas o ribeiro foi secando pouco a pouco.

Elias notava, certamente, a cada dia a diminuição do volume de água do ribeiro, mas jamais questionou o Senhor a respeito.

Confiava plenamente em Deus, sabia que tinha de beber daquele ribeiro e que, apesar de ele estar diminuindo dia após dia, era ali que o Senhor tinha mandado que ele ficasse e era dali que ele deveria beber.

– A confiança de Elias era renovada diariamente, era posta à prova a cada instante, a cada momento.

O ribeiro ia minguando, mas Elias não saía dali, da beira do ribeiro de Querite, porque seguia a direção e orientação divinas, andava por fé e não por vista. Será que temos agido desta maneira, amados irmãos?

Ou será que, diante da diminuição do volume das águas daquele rio temporário, já teríamos zarpado e ido para outros lugares, como à beira do Jordão, o único rio perene da Palestina?

– Assim como Elias, devemos confiar inteiramente no Senhor, apesar de as aparências indicarem que, dia após dia, não faz sentido esta nossa obediência ao Senhor.

Não podemos julgar segundo as aparências, mas, sim, temos de julgar segundo a reta justiça (Jo.7:24). Temos de andar por fé e não por vista (II Co.5:17). Temos agido desta maneira, amados irmãos?

– Mas, embora já fosse um exercício de fé, retirar-se para a beira de um rio temporário, a segunda parte da ordem divina mostra muito bem como Elias era um homem obediente ao Senhor. Deus, na Sua ordem ao profeta, ainda o avisou que Ele tinha ordenado que “corvos” o sustentassem (I Rs.17:4).

– Quando a Bíblia fala em “corvo”, temos aqui a palavra hebraica “ ‘oreb” (ערב ), cujo significado é mesmo de “corvo”, ou seja, um ave que, desde o início, estava associada à impureza, tanto que foi um corvo a ave que deu más notícias para Noé (Gn.8:7).

O corvo é uma ave que se alimenta de carniça e, como tal, era tida na lei de Moisés como uma ave imunda (Lv.11:15).

– Ao receber a ordem para ir ao Querite, onde seria sustentado por corvos, o profeta Elias bem poderia dizer como, séculos mais tarde, disse o apóstolo Pedro: “de modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda” (At.10:14).

Entretanto, o profeta não estava ali para questionar o Senhor, nem tampouco para entender a ordem dada por Deus.

– Já era um contrassenso o profeta receber uma ordem para ir a um lugar onde seria sustentado por animais e, além disso, seria sustentado por aves imundas? Como entender uma ordem dessas?

Não seria melhor questionar o Senhor? Não, não e não! Elias havia dito que confiava em Deus, havia anunciado publicamente aos homens que não choveria nem cairia orvalho porque confiava em Deus e, portanto, nada tinha que fazer senão obedecer a este mesmo Deus.

– Será que temos esta mesma atitude quando o Senhor nos manda fazer coisas que, pela nossa razão, pelos nossos costumes religiosos, entendemos ser irrazoável e impertinente? Será que mostramos que confiamos em Deus ou preferimos questioná-l’O? Pensemos nisto!

– O profeta foi e “fez conforme a palavra do Senhor”. Que exemplo para todos nós! Não devemos questionar o Senhor, não devemos duvidar do que diz e manda, mas tão somente obedecer-Lhe. Na obediência, não só teremos o poder de Deus como desfrutaremos deste poder.

– Elias foi habitar junto ao Querite e, para sua surpresa, foi alimentado por corvos que lhe traziam pão e carne pela manhã, como também pão e carne à noite (I Rs.17:7). Como diz Russell Norman Champlin: “…Essas aves vorazes, apesar do seu grande apetite, acharam tempo para cuidar do profeta do Senhor.

Nisso encontramos uma lição sobre o infalível e ilimitado suprimento de Deus. O corvo foi destacado para mostrar como Deus cuida de toda a Sua criação (Lc.12:24)…” (Corvo. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.1, p.936).

– Deus estava a mostrar ao profeta Elias que tinha o controle sobre toda a criação, a ponto de mandar aves consideradas imundas virem trazer pão e carne duas vezes ao dia ao seu profeta.

Deus mostrou ter absoluto controle sobre a criação, mostrando isto duas vezes ao dia ao profeta para que, pela sua própria experiência, ele fortificasse a fé que já demonstraram no único e verdadeiro Deus de Israel.

– Ao mesmo tempo que o povo de Israel experimentava que Deus era o único e verdadeiro Senhor de toda a criação, uma vez que passou a não mais chover nem cair orvalho em todo Israel, e isto apesar dos sacrifícios que eram feitos a Baal e que, certamente, se intensificaram a partir da seca, o profeta Elias, também, era fortificado na sua fé, pois passara a experimentar, dia após dia, a Providência Divina.

– A seca era tanto para Israel, quanto para o profeta, uma ocasião não de Deus castigar o Seu povo ou maltratá-lo, mas uma oportunidade que o Senhor dava para mostrar o Seu poder e a Sua existência, como também uma demonstração inequívoca de que Baal nada era, apenas uma invenção da imaginação humana.

– Ainda hoje o Senhor usa das nossas provações, das nossas aflições para provar o Seu poder, para fortificar a nossa fé. Nada há que ocorra na vida de um servo do Senhor que não tenha um propósito de contribuir para o nosso bem (Rm.8:28) e não há bem maior para o homem do que conhecer cada vez mais o seu Deus (Os.6:3; Jo.17:21-23).

Conhecimento significa, antes de mais nada, intimidade, comunhão. O desejo de Deus é que entremos em perfeita comunhão com Ele, que formemos com Ele uma unidade, a fim de que sejamos com Ele assim como as Pessoas divinas são entre Si.

– A provação de Elias era diária, pois, ao mesmo tempo em que os corvos vinham alimentá-lo duas vezes ao dia, o ribeiro ia secando.

Não poderia o Deus que fazia vir pão e carne na boca dos corvos duas vezes ao dia, mandar água para o ribeiro que minguava dia após dia?

Poderia, evidente que poderia, mas não era assim que Deus queria que se fizesse. Elias não questionava nem se desesperava com a diminuição de volume daquele wadi, mas, tão somente, vivia a cada dia o seu mal.

– É esta disposição que o Senhor exige de cada um de nós. Não devemos ser pessoas que sejam extremamente preocupadas com o futuro. Não devemos viver ansiosamente, com verdadeiro pavor e paúra com relação ao dia de amanhã.

– É certo que temos de ser previdentes, pois sabemos que há tanto o dia da prosperidade, quanto o dia da adversidade (Ec.7:14), mas esta previdência não pode se traduzir numa obsessão, numa tentativa de resolver todas as questões do futuro a partir de agora, como se vivêssemos independentemente de Deus.

– A grande lição que Deus estava a dar para o profeta Elias era a de que devemos depender única e exclusivamente do Senhor. Se só o Senhor é Deus, se Ele era o Criador e sustentador de todas as coisas, sendo uma loucura atribuir-se algo a Baal, o profeta deveria provar que assim pensava sabendo que Deus há de cuidar de cada um dos Seus.

– Jesus deixou-nos esta lição no sermão do monte. Mandou que olhássemos como Deus cuida e sustenta a cada criatura Sua, a começar das aves, que não plantam, não semeiam, nem segam, mas que são alimentadas dia após dia pelo Senhor.

Ora, se Deus assim faz com criaturas inferiores ao homem, coroa da criação terrena, não irá também cuidar de nós?

– Infelizmente, nossa confiança em Deus é tão pequena que, apesar desta prova diária do cuidado de Deus com a Sua criação, não temos a necessária e indispensável confiança no Senhor e ficamos a correr atrás das coisas terrenas, com vistas a um futuro digno tanto nosso quanto de nossa família.

No entanto, o que o Senhor nos manda é correr atrás do reino de Deus e de sua justiça, pois TODAS estas coisas nos serão acrescentadas (Mt.6:33).

– Realçamos o pronome “todas”, porque há pessoas que, inadvertidamente, dizem que “as demais coisas nos serão acrescentadas”, mas o Senhor não promete acrescentar apenas as “demais coisas”, mas, sim, “todas as coisas desta vida”.

Tudo o que é há neste mundo, o comer, o beber e o vestir são apenas “acréscimos” daquilo que muito mais sublime no ser humano, que é a busca de uma vida de comunhão com o Senhor.

– Elias experimentou esta Providência Divina, foi sustentado diariamente pelo Senhor, impossibilitado que estava de trabalhar.

Nem sabia que estava sendo escondido por Deus, pois o rei Acabe, quando percebeu que, realmente, a palavra do profeta estava se cumprindo, mandou que o fossem buscar em todo o mundo (cf. I Rs.18:10).

Precisava o profeta desta experiência para que, fortificado na fé, pudesse ser usado por Deus para dar um grande golpe no culto a Baal em Israel.

– Tudo quanto sucede em nossas vidas é para que adquiramos a capacitação necessária para que cumpramos a vocação divina em nossas vidas.

Deus não apenas chama, não apenas vocaciona, mas cria as condições para que possamos ter o necessário desenvolvimento para que cumpramos a missão a nós confiada.

Por isso, não reclamemos do diminuir do volume das águas do Querite, nem com o fato de que somos sustentados dia após dia, mas simplesmente fiquemos no lugar e na forma determinados pelo Senhor, pois, assim agindo, alcançaremos a vitória e a necessária capacitação.

– Elias permaneceu à beira do Querite até que Deus o mandou sair dali. “Passados dias, o ribeiro se secou, porque não tinha havido chuva sobre a terra” (I Rs.17:7). A palavra do profeta também o havia apanhado. Ele não estava imune da sua própria profecia.

– Elias aprendeu, então, que a palavra que havia proferido era palavra de Deus e não do homem e, como Deus não faz acepção de pessoas, nem o profeta havia escapado desta sentença.

Havia parado de chover e de cair orvalho sobre a terra, conforme a palavra do profeta, e, por isso, o ribeiro se secou.

Não poderia Deus deixar o ribeiro com água? Lógico que sim! Mas o Senhor queria mostrar a Elias que Ele era soberano e que todas as criaturas estavam debaixo da Sua soberania, inclusive o próprio profeta.

IV – A PROVISÃO DE ELIAS EM SAREPTA

Após ter aguentado firme, com plena confiança no Senhor, o minguar diário das águas do Querite, até a secura daquele rio temporário, agora o profeta recebe mais uma ordem divina que não fazia sentido algum. Senão vejamos.

– O Senhor estava a mandar que o profeta se dirigisse até Sarepta ou Zarefate. Ora, tratava-se de uma cidade fenícia situada entre Sidom e Tiro e que, à época, pertencia a Sidom, como o próprio Deus fez questão de frisar. Era, pois, uma cidade que estava sob o domínio de Etbaal, o pai de Jezabel, rei de Sidom, de onde havia vindo o culto a Baal, a própria razão de ser de toda aquela seca (I Rs. 16:31).

– Assim, depois de ter sido guardado por Deus no lugar de sua própria origem, um local onde poderia ser, pelo raciocínio humano, facilmente encontrado pelo rei Acabe, o profeta, agora, é mandado para uma cidade que era governada pelo próprio pai de Jezabel, uma terra estrangeira e que era “verdadeiro território inimigo”.

– Elias tinha, portanto, no mínimo, três importantes motivos para questionar a ordem divina. O primeiro é que, sendo israelita, estava sendo mandado para um território estrangeiro, o que era algo ilógico, uma vez que o profeta procurava a restauração espiritual de seu próprio país. Como, agora, teria de abandonar Israel?

Lembremos que Sarepta era a primeira cidade fora dos limites dados à Terra Prometida na parte setentrional (Ob.20), ou seja, era uma terra estranha, que não pertenceria jamais a Israel.

– O segundo motivo pelo qual o profeta poderia questionar a ordem divina é que, além de ter de deixar Israel, teria de ser sustentado por uma viúva, ou seja, teria de entrar em contato com gentios e conviver com eles, e não eram quaisquer gentios, mas gentios que viviam sob o domínio de Etbaal e que, portanto, eram adoradores de Baal.

Como poderia um profeta que lutava contra o culto a Baal ter de conviver com adoradores de Baal?

– O terceiro motivo pelo qual o profeta poderia questionar a ordem divina era o fato de que seria sustentado por uma viúva. Como um profeta israelita se submeteria a ser sustentado por uma viúva estrangeira?

Por primeiro, uma viúva, normalmente, era pessoa despida de recursos para a sua própria sobrevivência e, portanto, se não tinha nem como se sustentar, como sustentaria ainda um estrangeiro como o profeta?

Por segundo, sendo o profeta um homem de Deus, como justificar a sua convivência sob o mesmo teto com uma viúva estrangeira?

– Apesar de todos estes motivos que permitiam ao profeta legitimamente questionar a ordem divina, o profeta não o fez.

O profeta sabia que, como homem de Deus, deveria andar sob a orientação e a direção divinas e que Deus bem sabe o que faz, cabendo a nós simplesmente obedecer-Lhe, ainda que, aos olhos humanos, a orientação e ordem recebidas não façam sentido algum.

– Chegando à porta da cidade, o profeta viu uma mulher apanhando lenha e, certamente, o Senhor lhe indicou de que se tratava da mulher que iria sustentá-lo. Esta visão do profeta, ao ver a mulher apanhando lenha, bem demonstrava que o que o profeta imaginou quando recebeu a ordem divina correspondia à realidade.

– O fato de a mulher estar à porta da cidade a apanhar lenha era, a um só tempo, a constatação de dois fatores que tornavam absolutamente improvável que aquela mulher poderia sustentar o profeta, humanamente falando.

– O primeiro fator era de que, para a mulher estar à porta da cidade apanhando lenha, era de que a cidade vivia um período de dificuldades, a ponto de não haver sequer lenha disponível no seu interior para que as pessoas pudessem preparar seus alimentos.

Era sinal de que a seca também tinha atingido Sarepta de Sidom e, portanto, não se tratava de chegar a um lugar que estivesse a salvo da estiagem.

– O segundo fator era de que, para a mulher estar à porta da cidade apanhando lenha, tinha-se a constatação de que se tratava de uma viúva carente, que pertencia às camadas populares, ou seja, uma pessoa necessitada, não uma viúva rica que tivesse criados e que fosse abastada.

– Apesar desta visão que, a um só tempo, tornava a ordem divina ainda mais implausível, o profeta, que andava por fé e não por vista, chamou aquela mulher e pediu àquela mulher que lhe desse um pouco de água num vaso (I Rs.17:10).

– Diante do chamado do profeta, a viúva prontamente o atendeu. Isto demonstra que se tratava de uma pessoa disposta a ajudar o próximo, pois só uma pessoa com esta índole estaria disposta a dar água, num período de estiagem e, portanto, em que a água já se tornava um bem raro e precioso, para uma pessoa estranha e que, como Elias, se trajava de modo bem diferente das demais pessoas, dando a entender que se tratava de um estrangeiro, como o seu próprio linguajar o denunciou.

– Depois que a mulher lhe trouxe água para beber, bem mostrando a sua disposição de ajudar a quem necessita, o profeta a chamou mais uma vez e, desta feita, lhe pediu um bocado de pão (I Rs.17:11).

– Diante deste pedido do profeta, a mulher abriu seu coração para revelar àquele estrangeiro desconhecido que, desta vez, não poderia atender ao pedido que lhe era formulado, visto que nem um bolo ela possuía, senão somente um punhado de farinho numa panela e um pouco de azeite numa botija, razão pela qual tinha ela apanhado dois cavacos para preparar aquela que seria a sua última refeição, juntamente com seu filho, para que eles comessem e depois morressem (I Rs.18:12).

– É importante notar que, em sua declaração, a viúva se dirige ao profeta, sem saber de quem se tratava, mas que era um israelita, saudando em nome de Deus: “Vive o Senhor teu Deus”.

A mulher, então, reconhecia em Elias um israelita e, pela sua expressão, já estava convencida de que toda aquela seca era obra do Deus de Israel e que, diante da seca, o Senhor era o único e verdadeiro Deus, não, Baal, que fora impotente para evitar aquela situação.

– Esta expressão da viúva mostra-nos, claramente, que a viúva, embora fosse gentia, tinha aprendido com a seca que o Senhor era Deus.

Esta expressão era o suficiente para o profeta entender que, apesar de gentia, aquela mulher era, sim, a viúva que Deus havia ordenado que o sustentasse durante o restante do período da estiagem.

– Aquela mulher tinha consciência de que o Senhor era Deus, mas, a exemplo do próprio profeta, não tinha consciência de que Deus é Deus de todas as nações e não somente de Israel.

Sendo natural de Sarepta, que pertencia a Sidom e que adorava a Baal, aquela mulher tinha a certeza de que não sobreviveria à seca, porque estava condenada à morte, dentro da mentalidade existente naquele tempo de que cada nação tinha os seus deuses e que um deus de outra nação não ajudaria a quem não fosse da nação que o havia adotado.

– Embora tivesse reconhecido o poder de Deus sobre a natureza, aquela mulher não era capaz de achar que Deus pudesse sustentá-la, achava-se indigna de desfrutar da proteção e do livramento do Senhor.

– Muitos, na atualidade, têm o mesmo pensamento daquela mulher. Até reconhecem que Deus existe, que Deus tem controle sobre todas as coisas, mas se acham por demais indignas para receber o amparo e a proteção do Senhor.

A estes, devemos nós, aqueles que já estamos a desfrutar da graça e da misericórdia de Deus, mostrar-lhes que Deus é amor, que Deus ama o pecador e está pronto a nos perdoar e a nos abençoar. Temos feito isto?

– A mulher era disposta. Tinha saído de sua casa à cata de cavacos para fazer a última refeição para si e para seu filho.

A perspectiva da iminência da morte pela fome não a pôs em depressão, não a fez ficar desanimada a ponto de nem sequer sair de casa para buscar os gravetos com os quais faria a sua última refeição. A morte era iminente, mas, mesmo assim, ela saiu e foi buscar os gravetos para preparar, pela última vez, algo para comer.

– Não cremos que tivesse falado a seu filho da situação em que se encontrava. Cremos que, a exemplo da mulher sunamita, embora ciente da situação periclitante em que se encontrava, mantinha-se equilibrada e não demonstrava a sua ansiedade e aflição.

Não tinha mais esperanças, mas não mostrava o seu desespero aos outros.

– Temos agido desta maneira em meio às turbulências da vida, amados irmãos? Aquela mulher era gentia, não conhecia a Deus, era viúva, mas se comportava com equilíbrio e sobriedade, evitando que seu filho se desesperasse.

E nós, que, como filhos de Deus, temos o fruto do Espírito que tem, entre suas qualidades, a temperança, ou seja, o domínio próprio, o autodomínio? Temos tido este mesmo equilíbrio já que, como cristãos, somos portadores de esperança, ao contrário daquela mulher?

– A viúva somente disse a sua real situação para justificar àquele israelita porque não poderia lhe dar pão, como havia lhe dado água. Não se tratava de um desabafo, de uma manifestação histérica, mas tão somente de uma justificativa para a falta de auxílio diante do pedido do profeta.

– Estas palavras da viúva também mostram a cada um de nós que, embora tenhamos sempre de ajudar o necessitado, tal ajuda tem um limite, qual seja, o de não comprometer o nosso próprio sustento.

A mulher não foi recriminada pelo profeta pela sua resposta de impossibilidade de ajuda em virtude da sua própria carência. Isto deve nos servir de lição, pois devemos amar o próximo como a nós mesmos, não mais do que a nós mesmos.

– Esta declaração da mulher serviu de mais um teste para a fé do profeta.

O profeta já havia percebido que se tratava de uma pessoa necessitada que estava a viver numa cidade igualmente necessitada, mas, agora, via que se tratava de uma mulher que estava na iminência de morrer de fome e que, ainda mais, tinha um filho para sustentar!

Como poderia uma mulher em tamanha condição de pobreza ter sido encarregada por Deus para sustentar o profeta?

– Uma vez mais, o profeta não desanimou, mas continuou a crer na palavra que o Senhor lhe dissera. O fato de estar diante de um caso extremo de miséria não abalou a fé do profeta que, ante a constatação desta situação, entendeu que era o momento de proferir a palavra profética, de mostrar àquela mulher a vontade de Deus para a sua vida.

– O profeta percebera que se tratava de uma mulher que tinha disposição de ajudar o necessitado, como também uma mulher que demonstrava ter consciência de que o Senhor é Deus.

Ante tais evidências, o profeta, movido pelo Espírito Santo, disse à mulher para que não temesse, mas que preparasse para ele um bolo pequeno e que, então, só depois, fizesse um bolo para ela e para seu filho, pois o Senhor Deus de Israel dizia que não faltaria farinha nem azeite enquanto não viesse chuva sobre a terra (I Rs.17:14).

– Proferir uma palavra como esta era eloquente demonstração de fé em Deus. Como confiar que Deus poderia sustentá-lo através de uma gentia que acabara de dizer que estava preparando sua última refeição com seu filho?

Como pedir de uma gentia que cresse em Deus e lhe preparasse um bolo pequeno, se o próprio povo de Israel não mais cria em Deus?

– De forma surpreendente, aos olhos humanos, a viúva, ante aquela palavra do profeta, entendeu que o Deus de Israel também poderia ser o seu Deus.

A viúva viu que aquele Deus que já tinha provado que era o Deus que controlava a natureza também estava disposto a sustentar uma gentia, uma súdita dos sidônios.

A mulher, que já tinha certeza do poder de Deus, agora ficava sabendo que poderia ser protegida e guardada por este mesmo Deus.

– A palavra profética de Elias, que era a própria Palavra de Deus, trouxera esperança àquele coração sem esperança de salvação. Assim também nós, como servos do Senhor, temos de levar a Palavra de Deus para aqueles que, mesmo reconhecendo o poder de Deus, mesmo tendo boa índole, não têm esperança de serem alcançados pelo Senhor em suas vidas.

– Elias iniciou sua fala com um “Não temas”. Devemos, amados irmãos, levar ao mundo sem Deus e sem salvação uma mensagem de conforto, de esperança, uma palavra para que todos não tenham medo diante das circunstâncias cada vez mais adversas e perversas que estamos a enfrentar neste final da dispensação da graça, pois tudo está no controle do Senhor e precisamos tão somente estar debaixo da Sua mão.

OBS: Vale a pena aqui reproduzir, por sua biblicidade, as palavras do ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II (1978-2005), em sua homilia no início de seu pontificado: “Irmãos e Irmãs: não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o Seu poder!

(…)Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas económicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem “o que é que está dentro do homem”.

Somente Ele o sabe! Hoje em dia muito frequentemente o homem não sabe o que traz no interior de si mesmo, no profundo do seu ânimo e do seu coração, muito frequentemente se encontra incerto acerca do sentido da sua vida sobre esta terra.

 E sucede que é invadido pela dúvida que se transmuta em desespero. Permiti, pois — peço-vos e vo-lo imploro com humildade e com confiança — permiti a Cristo falar ao homem. Somente Ele tem palavras de vida; sim, de vida eterna. …” (Homilia na missa do início do pontificado. 22 out. 1978. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/1978/documents/hf_jp-ii_hom_19781022_inizio-pontificato_po.html Acesso em 10 dez. 2012)

– As Escrituras trazem a expressão “não temas” por 365 vezes, uma para cada dia do ano, a nos demonstrar que, a todo instante, a todo momento, Deus está nos dirigindo esta mesma palavra que o profeta proferiu àquela viúva.

Deus tem pleno interesse em nos tranqüilizar diante das adversidades da vida, em nos fazer lançar fora o medo e, com isso, permitir que o Seu amor possa nos alcançar, pois é o Seu amor que lança fora o medo (I Jo.4:18).

– Outrossim, vemos que, antes da palavra profética, o profeta deu mais uma demonstração de prudência e de equilíbrio. Pediu que lhe fosse feito um bolo pequeno, ou seja, pediu que a mulher não usasse toda a farinha e todo o azeite para alimentá-lo.

Elias era um homem de Deus, não um hipócrita que se aproveitava para explorar as viúvas, como os fariseus dos dias de Jesus (Mt.23:14).

– O servo de Deus aproveita a oportunidade que Deus lhe dá para alcançar as bênçãos do Senhor, para usufruir do Seu poder, mas jamais é um oportunista, ou seja, alguém que se aproveita dos outros ou que tira, sempre que possível, vantagens pessoais de situações.

Elias não queria tirar o pouco que tinha a viúva para si, para “se garantir”, mas, sim, aumentar a fé daquela mulher, pois sabia que ela era o instrumento da Providência Divina não só para ele mas para ela própria e seu filho.

– Como temos nos comportado, amados irmãos? Como oportunistas, a exemplo dos fariseus dos dias de Jesus, ou como o profeta Elias, que, sabendo da oportunidade que Deus lhe dá para ser abençoado, torna-se uma bênção para todos os que o cercam? Pensemos nisto!

– A viúva, diante daquela palavra do profeta, creu em Deus, creu que Deus não somente era Deus que controlava a natureza, mas também o Deus que a amava e poderia sustentá-la e fez conforme a palavra profética e trouxe o bolo pequeno para o profeta.

Neste seu gesto, demonstrou as três virtudes teologais, as três disposições de caráter que o Senhor deixa aos Seus servos: o amor, a fé e a esperança.

– O amor, que já havia sido demonstrado anteriormente quando do atendimento do pedido para matar a sede do profeta, pois se sensibilizou com a situação daquele forasteiro desconhecido.

Ante a palavra profética, creu e primeiro fez o bolo pequeno para o profeta, primeiro buscou saciar a fome do próximo, antes da sua própria e da de seu filho.

Mas, lembremos uma vez mais, fez um “bolo pequeno”, ou seja, não se privou totalmente de alimento por causa do próximo, não comprometeu a sua sobrevivência, ainda que fosse para uma última refeição.

– A fé, pois considerou que o Senhor, a quem já reconhecia como único e verdadeiro Deus diante da seca sobre a terra, poderia, sim, providenciar a multiplicação da farinha e do azeite até que chovesse sobre a terra, algo inexplicável pela lógica humana, mas perfeitamente crível.

– A esperança, pois, diante da palavra profética, a viúva viu que não iria mais morrer, que havia chance de sobrevida, pois fora alcançada pelo poder e pelo amor do Deus de Israel, que mostrara que não era apenas Deus dos israelitas, mas também Deus dela, uma súdita dos sidônios.

– Amados irmãos, temos estas três virtudes teologais, que são disposições de caráter que não provêm de nós mesmos, mas, sim, do Espírito Santo que passa a habitar em nós quando servimos ao Senhor?

Ou será que devemos hoje nos reconciliar com Deus para termos novamente estas “forças” que nos impulsionam ao encontro do Senhor?

– Após a viúva ter feito o bolo pequeno para o profeta e levado a ele, foi e fez o bolo para si e para seu filho e percebeu que a farinha e o azeite não se acabaram, conforme a palavra do profeta.

Sendo assim, acolheu o profeta em sua casa e, daquele dia em diante, passou a sustentá-lo, conforme o Senhor dissera a Elias no ribeiro de Querite.

– Mais uma vez, vemos que o propósito desta provisão era a glorificação do nome do Senhor e a demonstração de Sua soberania e que Baal nada era, não apenas para aquela viúva de Sarepta, mas para o próprio profeta.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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