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LIÇÃO Nº 3 – JÓ E A REALIDADE DE SATANÁS


O livro de Jó mostra-nos o lugar que Satanás ocupa no universo.

INTRODUÇÃO

– Ao verificarmos o papel de Satanás na provação de Jó, percebemos que a soberania do Universo pertence unicamente a Deus.

– Mesmo sendo um opositor, Satanás não tem como querer equiparar-se ao Senhor. Os crentes devem, com relação ao inimigo, ter esta certeza, evitando dar-lhe um lugar que ele absolutamente não tem.

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I – SATANÁS ENTRA EM CENA

– O diabo é mencionado no livro de Jó apenas nos dois primeiros capítulos, sendo um grande ausente de todas as discussões que se desencadearam na sequência do livro, a ponto mesmo de alguns estudiosos acharem até que a parte introdutória do livro de Jó é algo acrescentado, diante da total ausência da figura do adversário em todo o debate a respeito do sofrimento.

– Esta ausência, entretanto, é elucidativa, pois, embora tenha sido o acusador e tenha tido a permissão para causar a ruína do patriarca, nenhum outro papel tem ele na provação, que serviu, única e exclusivamente, para o engrandecimento espiritual de Jó.

– Assim é o diabo na vida do cristão: é apenas o acusador e só consegue atingir o crente quando há um propósito divino a nosso favor. Como dizem as Escrituras, ” o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca” (I Jo.5:18b).

– A Bíblia afirma-nos que o diabo apresentou-se entre os filhos de Deus (Jó 1:6). Muitos indagam a respeito da natureza desta reunião que Deus teria de fazer com os anjos e como Satanás poderia ter se apresentado diante deles.

– Antes de falarmos desta reunião, devemos, desde já, observar que, no livro de Jó, a expressão “filhos de Deus” refere-se aos anjos, a começar de Jó 1:6, mas que isto não deve, em absoluto, fazer com que se identifique esta expressão no restante das Escrituras como sendo referência aos anjos,

o que nem sempre ocorrerá, pois ela pode, também, referir-se aos seres humanos, particularmente àqueles que servem ao Senhor, ao Seu povo, como, aliás, nos ensinam passagens como Rm.8:14 e 16.

Não nos olvidemos que, ainda que o livro de Jó não mencione o período em que os fatos ali narrados se deram, estão eles inseridos no período patriarcal, onde ainda não havia se formado o povo de Deus, Israel, que seria Sua propriedade peculiar dentre os povos (Ex.19:5,6),

já tendo havido a rejeição por parte dos gentios no episódio da torre de Babel. Assim, bem se explica porque tal expressão, em Jó, é uma referência aos seres celestiais fiéis ao Senhor.

– Fechando este parêntese e retornando à reunião mencionada, trata-se de um fato real, pois se assim não fosse, não estaria registrado nas Escrituras, mas não compreendemos porque os anjos devam apresentar-se diante do Senhor e qual o objetivo desta reunião.

De qualquer modo, elas existem e isto deve apenas lembrar-nos de que os anjos, como criaturas morais, como os homens, têm, como consequência, responsabilidade e, portanto, têm de prestar contas do que fazem ante o Senhor.

Se assim Deus procede com relação aos anjos, que dirá em relação a nós, que somos também servos d’Ele?

OBS: “…Os filhos de Deus eram seres divinos ou subdivinos que compartilhavam da natureza da deidade. Cf. Jó 2:1; 38:7 ; Gn.6:2; Sl.29:1;

82:1,6; 89:6; Dn.3:25. Esses filhos apresentavam-se periodicamente diante do Pai para prestar contas (cf. I Rs.22:19; Zc.6:5).

O autor sacro descreve a cena de uma corte real do Oriente: o rei em seu trono, e seus filhos (os quais, naturalmente, se ocupavam em muitas atividades, privadas e públicas) entrevistados pelo pai para certificar-se de que tudo corria bem.…”(CHAMPLIN, R.N.. O Antigo Testamento Interpretado, v.3, p.1864).

– Antes de ficarmos querendo discutir qual a natureza desta reunião e quais seus objetivos, algo que Deus não nos revelou e que, portanto, não é de nosso interesse, o importante é notar que Satanás apresentou-se entre os filhos de Deus, ou seja, a Bíblia, categoricamente, exclui o diabo da relação dos filhos de Deus.

– O diabo é um ser que não tem mais comunhão com o Senhor, que está irremediavelmente separado de Deus, por toda a eternidade.

Não tem, portanto, qualquer fundamento qualquer doutrina que busque conferir ao diabo uma outra posição que não a que a Bíblia lhe dá, qual seja, a de um pecador que está condenado à perdição.

O diabo não tem parte alguma com Deus nem na Sua obra, devendo ser rejeitado todo e qualquer
ensino que diga o contrário disto.

OBS: As heresias acabam, direta ou indiretamente, dando um papel ao diabo na salvação do homem, o que deve ser repudiado pelos servos de Deus.

Assim, mórmons, testemunhas de Jeová e sabatistas acabam, em suas doutrinas, dando ao adversário papéis totalmente sem respaldo bíblico como de filho de Deus, “irmão de Cristo” ou participante da redenção, respectivamente.

– O fato de Satanás ter se apresentado diante de Deus, em absoluto quer dizer que ele tivesse alguma comunhão com o Senhor.

Não nos esqueçamos de que Deus é onipresente, ou seja, está presente em todos os lugares e, portanto, o fato de Satanás ter se apresentado ante Ele não deve causar qualquer espanto, pois Deus está em todos os lugares.

Assim, o fato de ter havido um diálogo entre Deus e o diabo não é fator que nos cause espanto, mas, antes, é uma demonstração de que tudo está no controle do Senhor, até mesmo os passos e os atos de Sua rebelde criação.

OBS: A Bíblia, mesmo, afirma que este acesso do diabo a Deus persiste até nos nossos dias, pois ele prossegue sendo o acusador dos crentes

noite e dia (Ap.12:10). Como ensina R.N. Champlin: “…Quando começar a Grande Tribulação, o acesso que Satanás tem a Deus, como nosso acusador, chegará ao fim 9Apo. 12:7-11).…” (R.N. CHAMPLIN. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.134).

– A Bíblia adverte-nos que o diabo ocupa regiões celestes, desde que foi retirado da glória do Senhor (Ef.6:12), lugar de que deverá ser expulso no início da Grande Tribulação (Ap.12:7-12).

Aliás, a trajetória do diabo é uma sequência de precipitações, de quedas e de fracassos. Da glória celestial, foi precipitado às regiões celestiais, que hoje ocupa, para ser derribado na terra e, após ter sido selado, amarrado por mil anos e preso no abismo (Ap.20:1,2), será, por fim,

lançado no lago de fogo e enxofre (Ap.20:10). Assim será todo aquele que, a exemplo do diabo, rebelar-se contra o senhorio de Deus!

– Deus tomou a iniciativa do diálogo com Satanás (Jó 1:7), em mais uma demonstração de que é Deus que está no controle de todas as coisas.

Foi permitido que o diabo se apresentasse diante de Deus, no meio dos anjos, exatamente porque o Senhor tinha um plano de crescimento espiritual de Jó e se utilizaria do próprio opositor para tanto.

– Satanás apresentou-se diante do Senhor e o próprio Deus iniciou um diálogo com Satanás, ou seja, quem estava no controle da situação era o Senhor.

Da mesma forma, jamais nos iludamos: o Senhor tem todo o poder no céu e na terra (Mt.28:18) e, portanto, não temos de temer o mal.

OBS: “…Em tempos de guerra, os soldados de um lado fazem trincheiras e minas e é uma atividade muito comum dos soldados do outro lado tentar desfazer as minas ou colocar minas que possam destruir as primeiras minas.

É exatamente o que Deus faz com Satanás. Satanás está minando e ele pensa que acende o pavio e detona o edifício de Deus, mas enquanto isto, Deus o está contraminando, e é Ele quem detona a mina de Satanás antes que ele possa fazer algum prejuízo. O diabo é o maior de todos os tolos.

Ele tem muito conhecimento mas tem menos sabedoria do que qualquer outra criatura, é a mais sutil de todas as alimárias do campo, mas isto é bem chamado de sutileza, não sabedoria. Esta não é a verdadeira sabedoria; é apenas um outro lado da tolice.

Durante o tempo em que Satanás estava tentando Jó, ele nem sabia sequer que estava respondendo a um propósito de Deus, porque Deus estava olhando e observando tudo aquilo, e pegando o inimigo como um homem pega um cavalo pela rédea.

O Senhor tinha observado exatamente até onde Ele deixaria Satanás ir. (…). O Senhor também não observou como susteria Seu servo durante a prova ?

Amados, vocês não sabem quanto o nosso abençoado Deus derramou do Seu óleo sobre o fogo da graça de Jó enquanto o diabo estava lançando seus baldes de água nele.

Ele disse para Si mesmo: ‘ Se Satã fizer muito, Eu farei mais; se ele toma muito, Eu darei mais; se ele tenta o homem para a sua desgraça, Eu o encherei tanto do Meu amor que ele Me bendirá; Eu O ajudarei; Eu o fortalecerei; sim, Eu o susterei com a destra da Minha justiça ‘.

Cristão, tome estes dois pensamentos e os coloque em sua língua como um biscoito feito com mel – você nunca será tentado sem expressa licença do trono onde Jesus advoga, e, de outro lado, quando Ele o permite, Ele com a tentação fará um meio de escape, e dará a você a graça para superá-la.

Em seguida, o Senhor observou como santificar Jó por esta prova. Jó era um homem muito melhor no final da história do que era no seu início.

Ele era ” uma inacreditável vergonha para Satanás. Se você quiser, primeiramente, “um homem perfeito e reto”, mas havia um pequeno orgulho nele.

Nós somos pobres criaturas para criticar um homem como Jó – mas havia nele apenas uma pontinha de auto-justiça.

Eu acho, e seus amigos o revelaram, que, embora Elifaz e Zofar tenham dito coisas tão irritantes, que o pobre Jó em nada ajudou ao respondê-los em termos demasiadamente fortes em sua própria defesa, tendo, mesmo, exagerado, como se pensa; havia, pois, uma pequena, ainda que bem pequena, autojustificação.

Ele não era orgulhoso como alguns de nós somos, de muito pouco – ele tinha muito mais para se orgulhar, como o mundo o permitiria – e, por isso mesmo, havia uma tendência de se exaltar com isto; e embora o diabo não soubesse disto, talvez se ele tivesse deixado Jó sozinho, o orgulho poderia ter sido semeado, e Jó poderia ter pecado; mas ele estava tão apressado que ele não pôde deixar que a semente do mal amadurecesse, mas apressou-se a cortá-la, e assim foi a ferramenta de Deus para trazer Jó a um mais humilhante e, consequentemente, mais seguro e abençoado estado mental.

Além do mais, observem como Satanás foi um criado para o Misericordioso ! Jó, durante todo este momento, foi sendo capacitado para ganhar uma recompensa maior.

Toda a sua prosperidade não era suficiente; Deus amava tanto Jó, que queria fazê-lo um homem mais famoso do que era até ali; um homem cujo nome tinisse pela história; um homem que seria falado pelas gerações.

Ele não era para ser o homem de Uz, mas de todo o mundo. Ele não era para ser ouvido por um punhado de pessoas na sua vizinhança, mas todos os homens tinham de ouvir da paciência de Jó na hora da prova. Quem deveria fazer isto ?

Quem deveria talhar a trombeta da fama pela qual o nome de Jó deveria ser proclamado ? O diabo vai até o forje, e trabalha com toda a sua mente, para fazer Jó ilustre ! Tolo diabo !

Ele está empilhando um pedestal no qual Deus colocará seu servo Jó, no qual ele poderia ser visto com admiração por todos os tempos.

Para concluir, as aflições de Jó e a paciência de Jó têm sido uma bênção duradoura para a Igreja de Deus, e têm infligido uma inacreditável vergonha sobre Satanás.…”( SPURGEON, Charles H. Satanás observando os santos. http:/ www. spurgeon.org/sermons/0623.htm) (tradução nossa)

– Deus deu testemunho da fidelidade de Jó perante o diabo e este, como sói ocorrer ante a sua natureza, imediatamente acusou o patriarca.

A própria palavra “diabo” significa “acusador” em grego e revela qual o papel do adversário em relação ao homem: acusar. Este é o trabalho do nosso inimigo (Ap.12:10), que, nesta tarefa, busca enganar-nos, já que é o pai da mentira (Jo.8:44) para que, assim, possa nos tragar (I Pe.5:8).

– Em resposta ao testemunho dado por Deus, o diabo disse que a integridade testemunhada era consequência única e exclusiva das bênçãos que Deus dera a Jó (Jó 1:9-11).

– Estando alijado da glória celeste por causa de seu pecado e irremediavelmente condenado à perdição, o diabo busca levar consigo o maior número possível de seres humanos, criaturas que detesta, já que alcançadas pelo amor de Deus.

– Trata-se de um ser já condenado, mas que, ainda, não teve executada a sua pena e que, portanto, como um ser vagueante, anda de um lado para outro, nesta sua corrida em busca de almas que possam fazer-lhe companhia no lago de fogo e enxofre.

Que é um ser vagueante é dito no próprio livro de Jó (Jó 1:7), circunstância que mostra que não tem um lugar na ordem do universo, que denuncia a sua própria condição

de condenado (assim como o diabo, Caim, ao ser condenado por seu crime, passou a ser um nômade – (cfr. Gn.4:15).

OBS: “…Satanás, compareceu diante de Yahweh para fazer seu relatório de atividades, pois, como é óbvio, ele tinha essa responsabilidade diante de Deus, o Rei da corte, chamado aqui de Yahweh, o Eterno. Satanás, entretanto, não tinha muita coisa inspiradora para dizer sobre suas atividades.

Ele apenas vagueara pela terra, uma espécie de vagabundo espiritual, observando o que faziam os homens…” (CHAMPLIN, R.N.. O Antigo Testamento Interpretado, v.3, p.1864).

– Tendo Deus permitido que o diabo tocasse no patrimônio de Jó, o diabo não perdeu tempo e, em um só dia, arruinou tudo que Jó possuía, mas isto não significou qualquer vitória para o inimigo, pois, ao contrário do que previra, o patriarca continuou adorando a Deus (Jó 1:20-22).

– O mesmo se deu após o ataque maligno contra a saúde do patriarca (Jó 2:10). Não há qualquer força do mal que possa nos separar do amor de Deus (Rm.8:35-39).

Quando estamos gozando da comunhão com o Senhor, ninguém poderá nos tirar desta posição privilegiada (Ef.1:3), na qual estamos pela misericórdia divina (Ef.2:8).

É promessa de Jesus: “as minhas ovelhas(…) ninguém as arrebatará da Minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai.” (Jo.10:27-29). Por isso, o apóstolo Paulo afirma-nos que “…somos mais do que vencedores por Aquele que nos amou…” (Rm.8:37).

II – JÓ TIRA SATANÁS DE CENA

– O patriarca Jó era um autêntico servo do Senhor e, portanto, deveria ter conhecimento da existência do diabo e de sua natureza, até porque sabia o que era pecado e, portanto, qual a sua origem e suas consequências.

Deste modo, a partir do momento em que passa a debater com os seus amigos, a respeito de seu sofrimento e de Deus, daria ao diabo o devido lugar na sua teologia.

– Mas, quando nos deparamos com o livro de Jó, encontramos, de forma surpreendente, um total silêncio a respeito do adversário.

Não há sequer uma palavra do patriarca a respeito do adversário. Por que isto? Porque o diabo nada representava na vida espiritual de Jó. Deve ser esta a mesma conduta do crente.

OBS: “…Em parte alguma das obras judaicas antigas encontramos uma caracterização de Satã tão ácida como no surpreendente prólogo do Livro de Job.

Para uma melhor compreensão do significado do papel de Satã na religião judaica e na crença popular, esse prólogo deve ser lido com a máxima atenção.(…)

Na bibliografia pós-bíblica, a evolução do conceito de Satã em conexão com os problemas do bem e do mal demonstra que a descrição que aparece no Livro de Job permanece central.…” (AUSUBEL, Nathan. Satã. In: A JUDAICA, v.6, p.757-8).

Devemos, também, lembrar da oportuna lição de Ambrósio (340-397) : “O Senhor que tem apagado o vosso pecado e perdoado vossas faltas também vos protege e vos guarda contra as astúcias do diabo que vos combate para que o inimigo, que tem o costume de produzir a falta, não vos surpreenda.

Quem confia em Deus, não tema o demônio. ‘Se Deus é por nós, quem será contra nós ? (Rm.8:31) ( Ambrosio, sacr. 5, 30).1

– É importante salientar que Jó não desconhecia o mal, tanto que dele se desviava (Jó 1:1), pois sabia que não deveria menosprezar a sua força e as suas drásticas consequências.

Desta forma, ao contrário de muitos imprudentes e exibicionistas dos nossos dias, Jó não desafiava o mal nem o afrontava, mas dele se desviava. Entretanto, até por causa disto, o maligno nada representava em sua vida espiritual.

Assim, desviando-se do mal, evitando o pecado e tudo aquilo que poderia levar ao pecado (o que o escritor da epístola aos Hebreus chama de “embaraço”- Hb.12:1), o servo de Deus terá sempre a convicção de que o diabo não tem qualquer papel em sua vida.

– Em todo o instante de seu debate, Jó atribui a Deus a causa de todo o seu sofrimento e de toda a sua situação, reconhecendo no Senhor, portanto, a soberania sobre todas as coisas e sobre a sua vida.

É importante observar que, apesar de estar sofrendo e de atribuir a Deus este sofrimento, o patriarca não apresenta qualquer revolta ou mágoa contra o Senhor, a quem continua submisso apesar de todo o mal que estava a padecer.

Verdade é que nada compreendia e que queria fazê-lo e que tal circunstância revelava algo que deveria ser melhorado em sua vida espiritual, mas, de qualquer maneira, o patriarca tinha a plena convicção de que nada ocorre sem que se esteja diante da vontade do Senhor.

Esta mesma visão foi-nos trazida por Nosso Senhor (Mt.10:30) e deve ser uma constante em nossa vida espiritual.

III – A ATITUDE DE JÓ NÃO ERA DUALISTA

– O diabo, portanto, embora tenha sido o acusador de Jó e tenha sido o próprio instrumento de sua ruína, nada representava na vida espiritual do patriarca, que nem a ele faz menção. É precisamente este o papel que o diabo deve ter em nossas vidas espirituais, ou seja, nada. Lamentavelmente, muitos crentes não têm se comportado desta maneira, mas, muito pelo contrário, têm vivido em função do próprio adversário, dando a ele um lugar que, em absoluto, ele tem.

OBS: “…As Escrituras o descrevem (o diabo – observação nossa) como caluniador dos homens diante de Deus. Esse assaca acusações hostis contra os crentes.

Ele foi o acusador de Jó (Jó 1:6-11) e é pintado como se vagueasse pela face da terra, espiando a fraqueza daqueles que procuram a vitória na inquirição espiritual. O diabo é como um leão que destrói sem misericórdia.

Em seu ser não há bem algum, embora ele goste de apresentar-se como um ser bondoso. Provavelmente, está auto-enganado.(…).” (R.N. CHAMPLIN. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.133-4).

– Como vimos, o livro de Jó é considerado como o livro mais antigo da Bíblia Sagrada e, portanto, é muito importante observarmos que o papel do diabo neste escrito, escrito este que não sofre qualquer influência cultural de crenças e filosofias que surgiriam posteriormente no mundo antigo, notadamente na Pérsia, onde a religião predominante era o “zoroastrismo” ou “masdeísmo”, uma religião dualista, na qual havia dois deuses, um deus do bem (chamado Ahura Mazda ou Ormuzd) e um deus do mal (chamado Ahriman).

Dentro deste princípio dualista, que se misturou com crenças babilônicas, surgiu uma tradição cultural, mesmo entre os judeus, que deve ser rejeitada pelos sinceros e genuínos servos do Senhor, na qual se atribui ao diabo um papel ativo e preponderante na organização do universo, transformando-o de um rebelde opositor, de um condenado ainda não executado, em um deus maligno, em uma força comparável à “força do bem”, a que se reduz a figura de Deus, nesta concepção.

OBS: “…No período de 538-332 a.C., Israel esteve sob fortíssima influência do masdeísmo, porquanto esteve dentro da órbita persa e, conforme muitos estudiosos asseveram, Ciro, rei da Pérsia, foi uma grande figura do masdeísmo.

Essas idéias masdeístas aparecem em várias passagens do Talmude, além de livros como o de Tobias, que faz parte dos livros apócrifos do Antigo Testamento.

Essas idéias também se refletem em vários costumes que tinham os essênios, em vários encantamentos antidemoníacos(…).

Após o contato de Israel com a Pérsia, puderam ser acompanhados os seguintes elementos do masdeísmo dentro das manifestações religiosas de Israel :

a. uma angelologia formal, com seis ou sete arcanjos à testa de uma hierarquia angelical bem desenvolvida;

b. anjos que não eram meros assessores de Deus, mas também seus intermediários, com freqüência, com a responsabilidade de certas nações no mundo(…);

e. uma demonologia bem mais desenvolvida do que a que se vê no Antigo Testamento;

f. o conceito de um cabeça supremo do mal (Satanás), formando um dualismo bem pronunciado…” (CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.742).

“…No judaísmo pós-exílico, bem como na crença religiosa do zoroastrianismo, o bem e o mal estavam emparelhados numa unidade de oposição contrastante. É quase certo que os judeus tenham herdado essa noção dualística dos persas.

Durante muitos séculos, depois do Cativeiro da Babilônia, que havia começado em 586 a.E.C., os judeus tinham vivido em grandes concentrações permanente entre os babil6onios e os perdas, formando uma população de mais de um milhão, mesmo antes da era cristã.

É natural que houvessem assimilado muito da cultura alienígena em cujo seio viviam, inclusive certas crenças religiosas, pois que havia um interc6ambio livre e esclarecidos entre os ‘sábios’ persas ou ‘magos’ e os ‘mestres de sabedoria’ judeus – os Sábios Rabínicos.

Havia, porém, uma diferença fundamental entre o dualismo encontrado na religião persa e o que se desenvolveu posteriormente de maneira independente entre os judeus. Na religião de Zoroastro havia duas deidades, simbólicas do bem e do mal.

Um era Osmuzd (o deus da Luz), e outra era Ahriman (o deus da Escuridão). Estavam empenhados numa luta incessante pela supremacia do mundo.

É verdade que se pode encontrar um parentesco de oposição entre os deuses persas e o conceito judaico de ‘Inclinação para o Bem – Inclinação para o Mal’, pois este último par também era dramatizado como composto por rivais implacáveis engajados numa batalha sem fim um frente ao outro.

Aqui, porém, termina qualquer semelhança, pois que os ensinamentos rabínicos dotavam esse conflito de um caráter naturalístico

– de fato, quase psicológico – declarando que o ‘Bem’ e o “Mal” não eram, ao contrário do que pretendiam os persas, forças sobrenaturais que operavam fora dos seres humanos, mas inclinações naturais dentro dos seres humanos…” (AUSUBEL, Nathan. Ietzer Tov e Ietzer Ha-Ra. In: A JUDAICA, v.5, p.364)

– Foi em virtude deste princípio dualista que se agigantou a figura do adversário em alguns escritos judaicos posteriores ao exílio da Babilônia, como em alguns livros apócrifos, v.g., o de Tobias.

Segundo este ponto-de-vista, o adversário seria um contraponto ao poder divino, o que não pode ser admitido por quem segue os ensinamentos bíblicos.

– Embora seja um ser real, mais poderoso do que o ser humano em sua natureza, o adversário e os anjos que o seguiram são seres que estão apenas aguardando a execução de sua condenação pelo Senhor e não representam qualquer afronta à soberania divina.

– O livro de Jó é uma demonstração inequívoca de que todo o poder de que goza o diabo não o coloca, em absoluto, fora do controle do Senhor.

É por este motivo que o apóstolo Tiago afirma que, quando pecamos, cedemos a nossas próprias concupiscências (Tg.1:14), pois o diabo não tem poder de nos atingir e nos escravizar, a menos que o queiramos.

– O que o diabo faz é nos induzir à tentação, ou seja, incitar em nós a natureza pecaminosa que temos, a fim de que, por nossa vontade, desobedeçamos ao Senhor. É o que tem feito desde o primeiro pecado da humanidade (Cf.Gn.3:4-6).

– É por isso que Jesus, na oração-modelo, ensina-nos a pedir ao Pai que “não nos induzas à tentação” (Mt.6:13a) , numa clara demonstração de que devemos pedir a Deus que não nos permita enfrentar a tentação, fazendo com que, tal qual o patriarca Jó, possamos nos desviar do mal.

OBS: Ë interessante observar que a visão muçulmana a respeito do diabo coaduna-se, perfeitamente, com este ponto de vista encontrado no livro de Jó.

No Corão, Satanás (ali chamado de Satã) é apresentado, também, como um ser rebelde contra Deus, que detesta o homem e que não tem poder algum sobre os homens, que o seguem por livre e espontânea vontade.

É o que verificamos em alguns trechos corânicos: “…Todos comparecerão diante de Deus!(…). E quando a questão for decidida, Satanás lhes dirá: Deus vos fez uma verdadeira promessa; assim, eu também vos prometi; porém, faltei à minha, pois não tive autoridade alguma sobre vós, a não ser convocar-vos, e vós me atendestes.

Não me reproveis, mas reprovai a vós mesmos. Não sou o vosso salvador, nem vós sois os meus.(14:21,22)/

“…Quando leres o Alcorão, ampara-te em Deus contra Satanás, o maldito. Porque ele não tem nenhuma autoridade sobre os fiéis, que confiam em seu Senhor.

Sua autoridade só alcança aqueles que a ele se submetem e aqueles que, por ele, são idólatras…”. (16:98-100)/ “…Disse-lhe (Deus): Vai-te, (Satanás)!

E para aqueles que te seguirem, o inferno será o castigo bem merecido! Seduze com a tua voz aqueles que puderes, dentre eles; aturde-os com a tua cavalaria e a tua infantaria; associa-te a eles nos bens e nos filhos, e faze-lhes promessas! Qual! Satanás nada lhes promete, além de quimeras. Não terás autoridade alguma sobre os Meus servos, porque basta o teu Senhor para Guardião….”(17:63-65).

– Este pensamento dualista não se circunscreveu ao “zoroastrismo” e esteve, também, presente em doutrinas como o taoísmo, de onde surgiram as noções de “Yin” e “Yang”, que foram acolhidas, vigorosamente, pelo movimento Nova Era e que tanta popularidade tem alcançado nos nossos dias,

gerando uma série de concepções totalmente alheias aos ensinos da Palavra de Deus, como “energias positivas”, “astral”, “bons fluidos” etc. etc. e que, pasmemos todos, têm conseguido até guarida entre supostos teólogos, pois, a isto se resumem doutrinas tão em voga nos dias de hoje como os de “maldição hereditária” e outras mais. É o espírito do anticristo que já está operando ativamente no mundo (I Jo.4:3).

OBS: ” …O taoísmo é uma das principais religiões ou filosofias da China. Foi fundada em cerca de 500 a.C. por Lao-Tsé, o qual ensinava que a felicidade pode ser adquirida mediante a obediência aos requisitos da natureza humana e a simplificação das relações sociais e políticas, de acordo com o Tao ou Caminho, o princípio básico do cosmos, de onde procede a natureza inteira.(…).

O indivíduo venceria através do quietismo deixando as coisas continuarem, mantendo-se na tranquilidade, deixando de lutar, procurando encontrar a harmonia da natureza.

Haveria dois conjuntos de qualidades opostas, denominados o yin e o yang, que ajudariam a estruturar o universo e governariam todas as coisas. No indivíduo, essas forças encontrariam seu devido equilíbrio.…”( CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.319-20).

– Muito feliz, a este propósito, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus ao afirmar: “…O poder de Deus sobre Satanás e seus demônios é total e absoluto [Jó 1:2; 2:6].

Jesus venceu o diabo logo no início de Seu ministério terreno [Mt.4:10,11; I Jo.3:8], e o reino de Deus foi manifestado também pela expulsão de demônios [Mt.4:24; 12:28].

Os demônios sabem quem é Jesus [At.19:15] e reconhecem que Ele é o Filho de Deus [Mt.8:29]; entretanto, milhões de homens e mulheres ainda não descobriram essa verdade.

Esses espíritos imundos conhecem a grandeza do poder de Jesus a ponto de nem mesmo o maioral deles poder confrontá-lo.

Jesus disse que Satanás já está julgado: ‘e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado’ (Jo.16:11), aguardando o dia do tormento eterno no lago de fogo, tão temido pelos demônios [Mt.25:41]…” (Cap. VIII –
Sobre as criaturas espirituais, n.7, pp.90-1).

– A total ausência do diabo nos discursos, debates e lamentos de Jó define bem que, na vida espiritual do crente, devemos ter este comportamento com relação ao inimigo: de total desconsideração, mas sem indiferença.

Embora não tenhamos qualquer comunhão com o adversário e ele nada represente em nossa vida, não devemos deixar de reconhecer a sua existência e a sua força, buscando, assim, sempre nos mantermos debaixo da proteção do Senhor (Sl.91:1), para que, assim, alcancemos a vitória sobre o mal.

– Diante do que temos dito, é oportuno mostrar como estão fora dos padrões bíblicos os verdadeiros espetáculos deprimentes que temos observado em supostos cultos divinos, onde o diabo tem verdadeira proeminência, pois é ele o invocado, o procurado, o buscado, a fim de que se tenham exorcismos, diálogos, “sessões de descarrego” e outras inovações, fazendo do adversário a principal personagem de um culto que deveria adorar a Deus…

– Ao mesmo tempo, existem aqueles que têm se tornado obcecados investigadores do satanismo, que têm aumentado grandemente nos nossos dias, mas nesta obsessão tem até se esquecido de pregar a Palavra de Deus e de pregarem o Evangelho, pois é assim que iremos levar a luz e onde a luz chega, as trevas dissipam-se (I Jo.2:8).

– Também devemos refutar o pensamento contrário, segundo o qual o diabo é uma ficção, um ser imaginário, ou algo semelhante, como tem chegado a defender alguns supostos teólogos.

– O diabo existe, sim, é um ser real e deve ser tratado como um ser que, embora tenha perdido a posição que detinha na glória divina, ainda não foi executado e está a vaguear pelo universo, em suas “atividades contra o ser humano”, como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus (cap. VIII.7, p. 90),
buscando enganar os homens, a fim de que tenham o mesmo triste fim que lhe está reservado.

OBS: “…Sem importar o termo empregado acerca desse ser, em todas as descrições bíblicas está em vista um ser real, vivo, e não meramente um símbolo do mal.…” (CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.102).

– A propósito, como afirma a mencionada Declaração de Fé, “…O modus operandi dos demônios e do seu maioral é a mentira, o erro [II Ts.2:11; I Jo.4:6] e o engano [II Co.4:3,4].

A mentira é uma das características da natureza satânica. Jesus disse que o diabo é o pai da mentira: ‘[…] ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira’ (Jo.8:44). Com o engano, ele começou as suas atividades contra o ser humano [Gn.3:13; II Co.11:3].

É com essa arma que ele e seus agentes seduzem as pessoas: ‘E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o diabo e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele’ (ap.12:9)…” (cap VIII, n.7, p.90).

– Ao mesmo tempo em que Jó não dava guarida ao diabo em sua vida, seus amigos, ou pelo menos, um deles, Elifaz, se deixou impressionar por um ardil do inimigo e, nesta trajetória, viria a falar equivocadamente de Deus e a acusar injustamente o servo de Deus, transformando-se em verdadeiro agente do inimigo, como haveremos de estudar ao longo do trimestre.

– Com efeito, todo o discurso de Elifaz, que parece ser o mais proeminente dos amigos do patriarca, parte de uma aparição consoante se vê de Jó 4:13-21, a nos revelar que se tratou, sim, de uma manifestação do próprio diabo. Tomemos, pois, irmão, muito cuidado nestes dias que antecedem o arrebatamento da Igreja para que não venhamos a ser mais alguns seduzidos pelo inimigo. Que Deus nos guarde e que ajamos sempre como Jó.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5835-licao-3-jo-e-a-realidade-de-satanas-i-e-apendice-1-satanas-considerando-os-santos

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