Sem categoria

LIÇÃO Nº 4 – A ESTRUTURA DA BÍBLIA

INTRODUÇÃO

– Na continuidade do estudo da Bibliologia, analisaremos a estrutura da Bíblia.

– A Bíblia é uma coleção de livros.

I – A BÍBLIA É UMA COLEÇÃO DE LIVROS

– A palavra “Bíblia” é de origem grega e seu significado é “os livros”, ou seja, é um nome plural, que já indica que as Escrituras se constituem de um conjunto de livros, uma verdadeira “biblioteca”.

– “…A unidade e existência física da Bíblia até nossos dias só pode ser explicada como um milagre. Há nela 66 livros, escritos por cerca de 40 escritores, cobrindo um período de 16 séculos (…).

Quanto à unidade física da Bíblia, ninguém sabe ao certo como os 66 livros encontraram-se e agruparam-se num só volume;

isso é obra de Deus Sabemos que os escritores não escreveram os 66 livros de uma só vez, nem em um só lugar, nem com o objetivo de reuni-los num só volume, mas em intervalos durante 16 séculos, em lugares que não de Babilônia a Roma…” (GILBERTO, Antonio. Manual da Escola Dominical, 5. ed. aumentada e melhorada, p.40).

– Os israelitas referiam-se às Escrituras como sendo “a lei e os profetas” (Mt.7:12; Mt.22:40; Lc.16:16) ou “lei de Moisés, profetas e salmos” (Lc.24:44), expressão que até hoje é utilizada pelos filhos de Israel, que se referem aos escritos sagrados do que nós chamamos de Antigo Testamento como sendo a TANACH (Torá – lei; Neviim – profetas e Chetuvim – escritos).

– Também eram conhecidos simplesmente como “Escrituras”, como vemos em Mt.21:42; 22:29, 26:54,56; Mc.12:24; 14:49; Lc.24:27,32,45; Jo.5:39; At.17:2,11; 18:24,28; 15:4; I Co.15:3,4, ou, “Santas Escrituras” (Rm.1:2) ou “Escrituras dos profetas” (Rm.16:26) ou “Escritura” (Mc.12:10; 15:28; Lc.4:21; Jo.2:22; 7:38,42; 10:35; 13:18; 17:12; 19:24,36,37; 20:9; At.1:16; 8:32; Rm.4:3; 9:17; 10:11; 11:2; Gl.3:22; 4:30; I Tm.5:18; II Tm.3:16; Tg.2:8,23; 4:5; I Pe.2:6; II Pe.1:20).

– Numa demonstração de que os textos do Novo Testamento foram reconhecidos pela Igreja com a mesma autoridade do Antigo Testamento, vemos o apóstolo Pedro chamando de “Escrituras” os textos de Paulo (II Pe.3:15,16).

– Inicialmente, aliás, os israelitas mantinham os livros separados entre si, em rolos, o que é mais do que compreensível, uma vez que, antes da invenção da imprensa e do uso do papel, os escritos eram feitos à mão e em materiais como o papiro (resina feita de uma planta abundante no Egito) e o pergaminho (pele de carneiro).

– Mas como eram produzidos estes escritos? Pois bem, desde que o homem sentiu a necessidade de registrar o seu saber, muitas foram as formas pelas quais ele escreveu.

As descobertas arqueológicas têm mostrado que os homens utilizaram vários materiais para escrever, tais como

as tábuas de argila (usadas pelos sumérios e demais povos da Mesopotâmia),

inscrições em cavernas e paredes (como os egípcios nas paredes de seus templos e das pirâmides).

 

– Entretanto, a forma de escrita mais disseminada na Antiguidade foi através do uso do papiro e do pergaminho. O papiro, cujo uso parece ter se originado no Egito, onde era planta abundante, é uma planta aquática, da qual se utilizava o cerne do colmo.

“…O cerne era cortado em fatias de pequena espessura, as quais eram coladas lado a lado a fim de formarem uma ‘página’ com cerca de 25 a 30 cm.

Sobre esta primeira camada era colada uma outra em ângulo reto e tudo isso era submetido à pressão e deixado a secar. Então as folhas eram coladas, formando rolos, algumas vezes bastante longos.(…).

Os gregos chamavam o papiro de biblos e um rolo de papiro era um bíblion, de onde nos vêm as palavras ‘Bíblia’ e ‘livro'(…).

Um rolo de papiro era escrito somente de um lado(…).

O papiro é um material bastante durável, contanto que não umedeça.

E é precisamente por esse motivo que quase todos os manuscritos em rolo de papiro que têm chegado até nós foram preservados no Egito, onde o clima é desértico e seco.” (R.N. CHAMPLIN. Papiro. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.55). A grande parte dos escritos sagrados nas sinagogas era escrita em papiro (Lc.4:17).

– Além do papiro, também era utilizado outro material, mais durável, mas de custo muito mais elevado, motivo pelo qual não era largamente usado:

o pergaminho, cujo nome está relacionado com a cidade de Pérgamo, que era famosa pela sua fabricação.

Os pergaminhos eram formados de peles de animais, sendo material bem mais durável para a escrita. Paulo menciona ter escritos sagrados deste material em II Tm.4:13.

– Devemos observar que Deus mandou que se escrevesse a sua Palavra exatamente para que Sua mensagem pudesse ser transmitida às gerações subsequentes com maior fidelidade e sem as limitações próprias da transmissão oral. Conforme vemos na própria Bíblia Sagrada, a transmissão oral tem dois importantes limites:

(a) o próprio tempo – o homem é mortal e tudo que sabe e apreendeu somente poderá ser transmitido à geração seguinte ou, quando muito, aos filhos dos filhos e, em casos raros, à quarta geração (Sl.78:2-8; 145:4), ao passo que a escrita permite que as gerações posteriores tenham acesso ao registro sem necessidade de contacto verbal;

(b) a fidelidade – a escrita permite um registro que confere maior confiabilidade e dificulta a distorção na transmissão (Cf.Jo.19:19-21).

– Logo no início da história da humanidade, vemos que Eva distorceu a ordem recebida de Deus em seu diálogo com a serpente (Gn.3:3, comparado com Gn.2:17), numa clara demonstração do acerto do dito popular ‘quem conta um conto, aumenta um ponto’.

Por todos estes motivos, como nosso Deus vela pela Sua Palavra (Jr.1:12), entendemos porque determinou fosse Sua revelação reduzida a escrito.

– Dois foram os formatos primitivos da Bíblia:

“…rolos e códices.

Eram esses os formatos dos livros antigos.

O rolo era um rolo de fato, feito de papiro ou pergaminho. Era preso a dois cabos de madeira para facilidade de manuseio.

Cada livro da Bíblia era um rolo em separado. Naquele tempo ninguém podia conduzir pessoalmente a Bíblia como fazemos hoje…

O que tornou isso possível foi a invenção do papel no século II pelos chineses e a do prelo de tipos móveis pelo alemão Gutenberg em 1450, possibilitando o formato dos livros atuais. O códice era uma obra no formato de livro de grandes proporções.…” (GILBERTO, Antonio. op.cit., p.29).

– A Bíblia é dividida em duas partes: o “Antigo Testamento”, que são as Escrituras existentes quando Jesus veio ao mundo, os escritos revelados aos homens de Deus de Israel a partir de Moisés até Malaquias, que compõem o que já dissemos ser chamado de “lei e os profetas”, “lei de Moisés, profetas e salmos”, “Escrituras”, “Santas Escrituras” e “Escritura” e o “Novo Testamento”, que são os escritos efetuados pelos discípulos de Jesus, que completam o “Antigo Testamento”, que, como vimos, Pedro já considerava como tendo a mesma autoridade das Escrituras até então existentes.

– A expressão “Antigo Testamento” foi criada no século II d.C. e popularizada pelos chamados “pais latinos da Igreja” para denominar as Escrituras hebraicas, ou seja, os textos sagrados dos judeus, até então chamados simplesmente de “Escrituras”, exatamente para distingui-los dos escritos recentemente produzidos pelos apóstolos e discípulos de Jesus (as chamadas “Escrituras gregas”), cuja autoridade desde logo foi reconhecida pelos cristãos desses primeiros tempos.

Como podemos ver, portanto, esta expressão é tipicamente cristã e sugere que toda a obra escrita dos judeus fora feita com a perspectiva de que uma outra viria completá-la, que se tratava, pois, de uma obra divinamente inspirada mas incompleta.

 

– A expressão “Antigo Testamento” tem sua origem nas palavras do escritor aos Hebreus (Hb.8:6-13) que, por sua vez, reportam-se a palavras do profeta Jeremias (Jr.31:31-34).

O texto de Jeremias, na versão grega da Septuaginta (que foi a versão utilizada pelo autor da Carta aos Hebreus), usa a palavra grega “diatheke”, que significa pacto ou testamento, tendo sido preferida a expressão “testamento”, já que o ensinamento do escritor aos Hebreus é de que estes pactos somente puderam valer em virtude de derramamento de sangue (Cf. Hb.9:1-8,16,17).

– Vemos, assim, que a expressão “Antigo Testamento”, embora nos seja muito útil, é uma criação cristã e, portanto, não pode ser utilizada como base para eventuais considerações a respeito das Escrituras hebraicas.

– Como afirma o crítico literário Harold Bloom, citado pelo também crítico Robert Alter, a expressão “Antigo Testamento” representa o “triunfo cristão sobre a Bíblia hebraica, um triunfo que produziu uma obra subordinada, o Antigo Testamento” (BLOOM, Harold. Before Moses Was, I am apud ALTER, Robert e KERMODE, Frank. Guia literário da Bíblia, p.24).

Assim, de pronto, devemos rechaçar qualquer ideia que leve à conclusão que chamar as Escrituras hebraicas de “Antigo” ou “Velho” Testamentos é o mesmo que indicar que não estão mais elas em vigor ou não tem qualquer valor ou validade para a Igreja nos nossos dias.

– Os livros do Antigo Testamento já eram identificados, nos dias de Jesus, como sendo os 39 livros que hoje compõem a Bíblia.

Verdade é que, entre os judeus, havia uma dissensão religiosa, pois os saduceus consideravam que somente os livros da lei, ou seja, a Torá, eram autoritários, enquanto que os fariseus davam esta qualidade à “lei e aos profetas”, ou seja, à Tanach, mas havia um consenso com relação aos livros que compunham a Tanach, de modo que a lista surgida por volta do ano 90 numa suposta reunião na cidade de Yavne entre doutores da lei, nada mais é que uma oficialização do que já era adotado pelos judeus.

– O que é importante observar, desde logo, é que esta lista, composta dos 39 livros que fazem parte da nossa Bíblia, não acolhe os chamados “livros deuterocanônicos”, que foram oficializados pela Igreja

Romana como autoritários no Concílio de Trento, depois e em reação à Reforma Protestante, precisamente para dar respaldo a alguns desvios doutrinários combatidos pelos reformadores.

– Os livros do Novo Testamento já eram praticamente reconhecidos poucas décadas depois da conclusão do texto bíblico com o Apocalipse escrito por João por volta do ano 96.

Entretanto, Eusébio de Cesareia, que escreveu no século IV, relata ter havido resistência na aceitação de alguns dos livros, como a segunda epístola de Pedro, a epístola aos hebreus e o Apocalipse, o que, entretanto, acabou por não prosperar.

– O que é importante observar aqui é que, ao contrário do que dizem os romanistas, não foi a “Igreja” quem definiu quais seriam os livros autoritários, seja do Antigo, seja do Novo Testamento.

Os apóstolos simplesmente aceitaram o que já era considerado autoritário pelos judeus, até porque Jesus assim o fez. Deste modo, não foi a Igreja quem definiu o cânon do Antigo Testamento, mas, sim, o próprio Jesus.

– Com relação ao Novo Testamento, enquanto viviam os apóstolos, foram os seus escritos tidos como autoritários, como nos dá conta o texto já mencionado de II Pe.3:15,16.

 

– É emblemático que os questionamentos surgidos a respeito dos três livros (II Pedro, Apocalipse e Hebreus) foram discussões posteriores, ou seja, pessoas que quiseram objetar a autoridade que já era reconhecida, prova de que eles já eram tidos como autoritários.

– E mais, entende-se bem porque eles foram questionados. Senão vejamos. A segunda carta de Pedro foi escrita pelo apóstolo pouco antes de ser martirizado (Cf. II Pe.1:14), num momento de intensa perseguição contra a Igreja, pois se vivia a primeira grande perseguição romana contra os cristãos, sob Nero, a indicar que houve poucas testemunhas a respeito da elaboração desta carta, num instante em que os cristãos estavam com grande dificuldade de comunicação entre si, o que desperta natural desconfiança.

– O Apocalipse, escrito por João enquanto estava numa prisão, incomunicável, já na segunda grande perseguição romana contra os cristãos, sob Domiciano (Cf. Ap.1:9), fez despertas as mesmas desconfianças surgidas quanto à segunda carta de Pedro.

– Por fim, a epístola aos hebreus, em que não há a identificação do autor, leva a discussões que perduram até hoje sobre a autoria e, naturalmente, à própria autenticidade do livro nos primeiros tempos depois de sua divulgação.

– Nos três casos, Eusébio de Cesareia, como bom historiador que era, mostra os argumentos de um e de outro lado, mas deixa bem claro que o que havia eram objeções quanto a uma autoridade já reconhecida, o que, por exemplo, não ocorreu com o livro chamado Pastor, da autoria de Hermas, que o autor da “História Eclesiástica” deixa bem claro que, embora fosse lido, nunca foi considerado autoritário.

II- A ESTRUTURA DO ANTIGO TESTAMENTO

– Conforme já temos visto até aqui, o que os cristãos denominam de “Antigo Testamento” é uma coletânea de escritos dos judeus, produzidos durante mais de 1300 anos, coletânea esta que os judeus denominam de “TaNaCH”, designação que revela a sua estrutura, a saber:

a) Torah – São os Livros da Lei, a Escritura considerada de maior valor entre os judeus, que reúne os cinco livros escritos por Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). É a parte denominada de “lei” e que, até hoje, é lida anualmente em sua íntegra pelos judeus em suas sinagogas. Na época de Jesus, era a única parte das Escrituras aceita pelos saduceus.

b) Neviim – São os Profetas, ou seja, os escritos deixados tanto pelos chamados

Profetas Anteriores (os profetas mais antigos: Josué, Juizes, Samuel e Reis) e os

Profetas Posteriores (os profetas mais recentes: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas Menores).

c) CHetuvim – Os Escritos ou Tudo o mais, ou seja,

livros poéticos (Jó, Salmos e Provérbios),

os chamados “cinco rolos” (Rute, Cantares, Eclesiastes, Lamentações, Ester) e

livros históricos escritos tardiamente, ou seja, após o cativeiro da Babilônia (Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas).

– Esta estrutura judaica pouco foi alterada pelos estudiosos cristãos das Escrituras, que dividiram o Antigo Testamento em quatro partes: a Lei (idêntica à Torah judaica), Livros Históricos (Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias e Ester), Livros Poéticos (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares) e Livros Proféticos (Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Ageu, Sofonias, Zacarias e Malaquias). Em razão desta classificação é que foi feita a disposição dos livros em nossa Bíblia.

– Estes foram sempre os livros reconhecidos como autênticos pelos judeus desde o tempo de Esdras, que a tradição judaica indica ter sido o responsável pela elaboração do “cânon judaico”, ou seja, da relação dos livros considerados provenientes da inspiração divina.

– Esta tradição tem sido contestada ultimamente, mas não vemos razões para dela duvidar, já que a Bíblia informa-nos que Esdras era um escriba, ou seja, alguém cujo ofício era, precisamente, escrever os textos sagrados, bem como que sua missão foi a de organizar o culto a Deus após o retorno do cativeiro da Babilônia (Ed.7:1-6,10), razão pela qual tem sido chamado pelos judeus de “segundo Moisés”.

 

– Assim, se as Escrituras indicam que este era o trabalho de Esdras e a tradição aponta-o como tendo sido o fixador do “cânon”, não vemos porque duvidar disto, até porque se trata de uma tradição que, nos dias de Jesus, foi explicitamente acolhida por Flávio Josefo, o principal historiador judeu.

Este reconhecimento foi repetido em 90 ou 95 d.C. no famoso “concílio judaico de Jamnia ou Iavne”, cidade da Palestina onde se reuniram os principais rabinos e reafirmaram a relação dos livros sagrados, até hoje seguida pela comunidade judaica de todo o mundo.

OBS: “… Não pode haver, de resto, nada de mais certo que os escritos autorizados entre nós, pois que eles não poderiam estar sujeitos a

controvérsia alguma, porque só aprova o que os profetas escreveram há vários séculos, segundo a verdade pura, por inspiração e por movimentos do espírito de Deus.

Não temos, pois, receio de ser entre nós um grande número de livros que se contradizem. Temos somente vinte e dois que compreendem tudo o que se passou, e que se refere a nós desde o começo do mundo até agora, e aos que somos obrigados a prestar fé.

Cinco são de Moisés, que refere tudo aconteceu até sua morte durante perto de três mil anos e a sequência dos descendentes de Adão.

Os profetas, que sucederam a esse admirável legislador, escreveram em treze outros livros tudo o que se passou depois de sua morte até o reinado de Artaxerxes, filho de Xerxes, rei dos persas, e os quatro outros livros, contêm hinos e cânticos feitos em louvor de Deus e preceitos para os costumes.

(…) ninguém jamais foi tão atrevido para tentar tirar ou acrescentar, ou mesmo modificar-lhes as mínimas coisas.

Nós os consideramos como divinos, chamemo-los assim; fazemos profissão de observá-los inviolavelmente e morrer com alegria se for necessário, para prová-lo(…). (JOSEFO, Flávio Contra Ápio. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.3, p.216).

– Verdade é que, além destes livros, e o próprio Josefo reconhece, também eram lidos e estudados outros escritos além destes, mas sem que fossem reconhecidos como tendo sido inspirados por Deus, algo como o que ocorre entre nós, atualmente, com toda a vasta literatura que tem sido produzida ao lado da Bíblia Sagrada, que serve para nosso conhecimento e erudição, mas que não desempenha qualquer papel em termos de alimentação espiritual.

Dentre estes livros estão os chamados “livros deuterocanônicos”, ou seja, os livros do “segundo cânon”, que foi o cânon aprovado pela Igreja Romana no Concílio de Trento (1545-1563), até hoje seguido pelos católicos, cujo Antigo Testamento possui sete adições em relação ao nosso e ao judeu, com o acréscimo dos livros de Tobias, Judite, I e II Macabeus, Baruque (incluído nele a Epístola de Jeremias, que é seu capítulo sexto), Sabedoria, Eclesiástico, capítulos 13 e 14 de Daniel, capítulo 10 a partir do versículo 3, exclusive, de Ester.

Eles serão estudados oportunamente, quando veremos porque não podem, mesmo, pertencer ao cânon das Escrituras.

– É importante, porém, verificar que, antes desta “fixação”, houve a “inspiração” e podemos identificar, basicamente, quatro períodos de inspiração das Escrituras.

– “A primeira onda de inspiração” teve início com Moisés, o profeta que teve um singular relacionamento com Deus, com quem Deus falou “boca a boca” (Nm.12:6-8) e um dos aspectos deste “falar boca a boca” é, sem dúvida, a inspiração para escrever os livros da Torá, o livro de Jó e o Salmo 90.

– Segundo a tradição hebraica, a Torá foi complementada por Josué (na parte que narra a morte de Moisés) e o próprio Josué escreveu o livro que leva seu nome, instante em que se encerra a “primeira onda de inspiração”, que está fundamentalmente ligada à constituição de escritos necessários ao filhos de Israel que se tornavam, então, um povo, a “propriedade peculiar de Deus entre os povos” (Cf. Ex.19:5,6).

– A segunda “onda de inspiração” somente ocorreria quando a Palavra de Deus volta novamente a ser proferida a Israel, depois do tenebroso período dos juízes, quando passa a haver visão manifesta (Cf. I Sm.3:1), que é o período do profeta Samuel, o primeiro dos profetas que, seguidamente, iriam ser levantados por Deus para falar ao povo até os dias de Malaquias.

– Samuel irá redigir o livro de Juízes, Rute e iniciar o livro de Samuel (que seria dividido em dois quando da tradução do Antigo Testamento para o grego no período intertestamentário), que será complementado por Natã e Gade. Assim o diz a tradição judaica, que tem respaldo em I Cr.29:29.

– Nesta mesma época, vemos Davi elaborando os Salmos, juntamente com outros salmistas (Asafe, Hemã, os filhos de Corá, Jedutum) do seu tempo ou anteriores a ele, segundo a tradição judaica. Salomão também compõe Cantares, Provérbios e Eclesiastes.

 

– Com a divisão do reino e a apostasia daí decorrente, somente teremos uma nova “onda de inspiração”, a terceira, nos dias do rei Ezequias, que tratará de compilar todos os escritos sagrados até então produzidos, como é o caso de Provérbios (Cf. Pv.25:1), sendo que, neste período, começam a ser redigidos o livro dos Reis, que foi completado mais tarde por Jeremias.

A partir de então, até o cativeiro da Babilônia, são escritos livros proféticos, como Isaías, Miqueias, Joel, Amós, Obadias, Habacuque, Jonas, Naum, Jeremias. Oseias e Sofonias.

– Com o cativeiro, além de Jeremias escrever Lamentações e completar o livro de Reis (que foi dividido em dois quando da tradução do Antigo Testamento para o grego no período intertestamentário), temos o Senhor inspirando Ezequiel e Daniel.

– Depois do cativeiro, teremos a “quarta onda da inspiração”, que fará com que Esdras escreva o livro que leva seu nome, como também o livro de Crônicas (que será dividido em dois quando da tradução do Antigo Testamento para o grego no período intertestamentário), o livro de Neemias e os livros dos profetas pós-exílicos: Ageu, Zacarias e Malaquias.

– A partir de então, ante a indiferença demonstrada pelo povo, inicia-se o “silêncio profético”, que somente findaria com o aparecimento de João Batista, o precursor de Cristo.

Por isso, todas as obras elaboradas neste período intertestamentário não são inspiradas, porquanto cessou esta atividade do Espírito Santo.

– Como vimos, o Antigo Testamento é formado por livros, que nada mais são que rolos de papiro ou de pergaminho que eram copiados por levitas e sacerdotes, para que pudessem ser lidos ao povo. Disto a própria Bíblia dá-nos indicação em algumas passagens – Dt.17:18; I Cr.24:6; II Rs.12:10.

– Entretanto, estes livros ou rolos eram escritos sem qualquer divisão interna, o que dificultava muito a localização de passagens e o seu estudo (o que mostra a familiaridade de Jesus com as Escrituras em Lc.4:17. Será que podemos dizer que temos esta mesma familiaridade?).

Por causa disso, acabou-se por fazer a divisão dos livros da Bíblia, inclusive do Antigo Testamento, em capítulos e em versículos.

A divisão em capítulos foi feita em 1228 pelo professor parisiense Stephen Langton, que logo depois seria consagrado arcebispo de Canterbury (a principal diocese inglesa na época e, atualmente, sede da Igreja Anglicana) e em versículos, no Antigo Testamento, pelo rabino Mardoqueu Nathan, em 1445. Esta divisão acabou sendo acolhida tanto por judeus quanto por cristãos.

III – OS LIVROS DEUTEROCANÔNICOS

– Apesar desta segurança que nos traz o cânon judaico, cujo alicerce, vimos, repousa na própria operação do Espírito de Deus confirmando a Sua presença na vida dos escritores de forma inquestionável diante do Seu povo e que acabou sendo autenticada pela obra de Esdras e passada para a posteridade, vemos que há divergência na estrutura do Antigo Testamento entre as igrejas que se dizem cristãs, em especial, entre a Igreja Romana, algumas igrejas orientais e os protestantes.

– Com efeito, a Igreja Romana adota, desde o Concílio de Trento (1545-1563), no Antigo Testamento uma diferente relação de livros que considera inspirados, os chamados “livros deuterocanônicos”(isto é, livros do “segundo cânon”),

a saber: Tobias, Judite, I e II Macabeus, Baruque (onde foi incluída a Epístola de Jeremias), Sabedoria, Eclesiástico, acréscimos ao livro de Daniel (capítulos 13 e 14) e ao livro de Ester ( a partir do versículo 4 do capítulo 10, exclusive).

De pronto, vemos que a sua inclusão somente no Concílio de Trento, que foi convocado exatamente para o combate à Reforma Protestante que então se realizava na Europa, é uma demonstração de que estes livros, até então, não desfrutavam na Igreja Romana de reconhecimento como sendo livros inspirados.

– Estes livros não foram, porém, criados pelos católicos romanos. Faziam parte da Septuaginta, ou seja, a versão grega das Escrituras hebraicas e eram lidos pelos judeus que habitavam fora da Palestina, os chamados “judeus da diáspora” (os “judeus gregos” mencionados no Novo Testamento, cf.Jo.12:20, At.6:1).

Até hoje não foram encontrados quaisquer manuscritos destes livros em hebraico, que é a língua dos textos do Antigo Testamento (salvo algumas poucas passagens dos livros de Esdras, Daniel e um versículo em Jeremias, que estão escritos em aramaico), numa demonstração inequívoca de que se tratam de obras elaboradas pelas próprias comunidades judaicas da diáspora, ou seja, depois do período de Artaxerxes, após a compilação de Esdras, o que faz com que não possam, mesmo, ser reconhecidas como inspiradas.

 

– Apesar de ser da colônia judaica de Alexandria, o grande comentarista das Escrituras, Filo, contemporâneo de Jesus, jamais considerou estas obras, que eram de evidente conhecimento seu (a tradução das Escrituras hebraicas para o deu-se no Egito, muito provavelmente na própria Alexandria, que era o principal centro cultural helenístico não só do Egito mas de todo o mundo, sendo famosa a sua biblioteca), como sendo parte das Escrituras, numa clara demonstração de que o fato de serem estes livros lidos pela comunidade judaica da diáspora, não significa, em absoluto, que fossem considerados livros divinos.

O próprio Flávio Josefo menciona estes escritos, mas afirma que são livros que não têm o mesmo valor dos livros considerados divinos, ou seja, os constantes do cânon judaico.

– Mesmo na Igreja Romana, temos o exemplo de Jerônimo, o tradutor das Escrituras para o latim (na versão que ficou conhecida como Vulgata Latina), que, embora tenha traduzido não só os “livros deuterocanônicos” como outros livros que acabaram não sendo incluídos no cânon romano (como II Esdras, por exemplo), fez questão de mantê-los à parte, numa demonstração de que não os considerava como livros inspirados.

– Entre os manuscritos do Mar Morto, descobertos a partir de 1947, não foi encontrado nem um fragmento, nem um pequeno manuscrito de quaisquer dos livros incluídos no cânon romano no Concílio de Trento, numa clara demonstração de que não tinham qualquer consideração, por parte dos essênios, como sendo livros inspirados.

Poderão alguns objetar que esta circunstância é insuficiente, porque apenas quereria mostrar que os essênios não o reconheciam, mas esta objeção não satisfaz, pois todos os livros do cânon judaico, com exceção do livro de Ester, foram encontrados entre os manuscritos. Teria sido isto uma mera coincidência ?

Ademais, este é mais um fator que se vai acrescentar aos outros que nos permitem concluir que estes livros não são inspirados.

– Não bastasse estes dados históricos, que confirmam que estes livros JAMAIS foram considerados inspirados, temos também a própria verificação de que estes livros contêm erros doutrinários e históricos, numa demonstração de que não podem, mesmo, ser considerados como tendo origem divina. Vejamos um a um estes livros.

– TOBIAS – Segundo nos dá conta a introdução da Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, publicação católico-romana, ” O livro de Tobias foi escrito pelo ano 200 a.C.. Apesar das aparências, não conta uma história real, pois os acontecimentos aí descritos dificilmente se enquadram na história desse período.

O livro pertence ao gênero sapiencial e é uma espécie de romance ou novela, destinado a transmitir um ensinamento” (op.cit., p.528). Ora, são os próprios católicos romanos que afirmam que o livro é uma história de ficção, uma como tantas que temos visto no meio da Igreja, alguns com inegável espiritualidade, como, por exemplo, “O Peregrino”, de John Bunyan, mas que não autorizam seja colocada com a mesma autoridade dos livros inspirados.

No caso do livro de Tobias, entretanto, não temos a espiritualidade do livro de Bunyan, mas erros históricos e doutrinários que não nos permitem aceitá-lo sequer como livro para nosso enlevo espiritual.

aliás, além de se ter uma história fictícia, encontramos alguns graves erros doutrinários. No livro de Tobias, é mencionado um anjo chamado Rafael, que em todas as Escrituras só é encontrado aqui.

Apesar de ser chamado de anjo, é mentiroso (Tb.5:4,5) e feiticeiro (Tb.6:1-9). Isto já é o bastante para demonstrar que não se trata de um livro que pertença às Escrituras Sagradas.

– JUDITE – Segundo o já mencionado comentarista católico-romano, ” a grande indiferença que este livro demonstra pela história e geografia indica que seu autor não pretende relatar fatos históricos concretos.

Quer apenas compor uma história para encorajar o povo a resistir e lutar.” (Bíblia Sagrada. Edição Pastoral, p.544).

Temos, portanto, mais uma história fictícia e repleta de erros históricos e geográficos. Começa denominando Nabucodonosor de rei da Assíria e cuja sede seria Nínive (Jt.1:1,7, 2:1,4; 4:1), o que é um rotundo absurdo! Relata também que um general de Nabucodonosor veio atacar os israelitas depois que o povo judeu havia voltado do cativeiro (Jt.5:18-19).

Como entender isto, já que foi Nabucodonosor quem destruiu o templo e que o retorno do povo do cativeiro deu-se setenta anos depois, quando já se estava no domínio persa ? Erros grosseiros que bem demonstram que o livro não é inspirado.

 

– PRIMEIRO LIVRO DOS MACABEUS – É um livro que narra os episódios que envolveram a história judaica entre 175 a 134 a.C., quando os judeus se encontravam sob o domínio dos selêucidas, reis da Síria que sucederam ao general Seleuco, que recebeu o reino após a morte de Alexandre Magno.

Portanto, é um livro que foi escrito depois da compilação feita por Esdras e, segundo o critério adotado, não poderia ser considerado como inspirado.

É um livro que tem valor histórico, que nos traz informações sobre este período da história de Israel, mas não pode ser considerado inspirado, inclusive porque não foi encontrada cópia alguma deste livro em hebraico, língua em que foram escritos os registros inspirados.

Não bastasse isso, é interessante verificar que o livro, mesmo, aponta que apenas se escreveu o que teve interesse. É o que se vê em I Mc..9:22:

“… o resto das ações de Judas, suas batalhas e façanhas e sua grandeza não foram escritas, pois seria assunto demais.” . Percebe-se, pois, aqui, um nítido propósito humano nos registros, o que o invalida como literatura inspirada.

– SEGUNDO LIVRO DOS MACABEUS – É um livro que, para começar, ao contrário dos outros livros duplos do Antigo Testamento (Samuel, Reis e Crônicas), não contém uma narrativa que dá continuidade aos eventos históricos do livro primeiro, mas é uma narrativa paralela aos acontecimentos narrados em I Mc.1-7.

Esta circunstância já destoa o texto de todas as Escrituras. Trata-se, pois, de um caso de narração paralela, nem sempre congruente e que é, confessadamente, inexata. Sim, por incrível que possa parecer, o escritor, ao término do livro, pede desculpas por eventual erro cometido:

“…Por isso, aqui encerro a minha narrativa. Se ficou boa e literariamente agradável, era o que eu queria. Se está fraca e medíocre, é o que fui capaz de fazer.

É desagradável beber só vinho ou só água, ao passo que vinho misturado com água é agradável e gostoso. O mesmo acontece numa obra literária, onde o tempero do estilo é um prazer para o ouvido do leitor. E assim termino.” (II Mc.13:37-39).

Um texto inspirado por Deus iria pedir desculpas ao leitor ? Bem se vê que se trata de um livro sem qualquer inspiração.

Não bastasse isso, é muito caro aos católicos romanos, porque é o único texto que ampara a ideia de sacrifício pelos mortos, pois em II Mc.12:43-45, Judas mandou que se fizesse um sacrifício pelos pecados de quem já havia morrido, o que, à evidência, contraria completamente a lei de Moisés (embora sirva de base ‘bíblica’ para as missas de sétimo dia, para a doutrina do purgatório etc.etc.etc.…).

– SABEDORIA – Livro que foi escrito por volta de 50 a.C., ou seja, também após a compilação feita por Esdras, sendo considerado que foi escrito em Alexandria, em grego, o que já é bastante para não ser considerado inspirado. Trata-se de um livro sapiencial e, por isso, é chamado de “Sabedoria de Salomão”, embora seja evidente que sua autoria não foi daquele rei.

Ainda que procure se alicerçar nos escritos salomônicos, possui o livro algumas impropriedades. Assim, por exemplo, em Sb.1:4 está escrito; “a sabedoria não entra na alma que pratica o mal, nem habita num corpo que é escravo do pecado”,

expressão que denota uma ideia da sabedoria como algo espiritual que vem habitar no homem que contrasta claramente com a imagem que Salomão dá à sabedoria em Pv.8 e que denota uma nítida influência da filosofia platônica, muito apreciada e estudada em Alexandria, a demonstrar que a inspiração do livro, à evidência, não é o Senhor, mas as “filosofias e vãs sutilezas” humanas (Cf.Cl.2:8).

Em Sb.2:24 é dito que “…pela inveja do diabo, entrou no mundo a morte, que é experimentada por aqueles que pertencem a ele”, ensino que discrepa do que dizem as Escrituras, que afirmam que o pecado entrou no mundo pelo homem (Rm.5:12; I Co.15:21; Tg.1:13-15).

Por fim, vemos no livro de Sabedoria uma noção dos elementos da natureza, típico pensamento helenístico, que não é reproduzido em quaisquer dos livros considerados canônicos pelos judeus:

“…Os elementos da natureza trocavam suas propriedades entre si, da mesma forma que na harpa as notas modificam o desenvolvimento da música, mas conservando sempre o mesmo tom.

É o que se pode perceber, olhando o que aconteceu: os seres terrestres se transformavam em aquáticos, e os que nadam saltavam para a terra.

Na água, o fogo aumentava mais ainda a sua força, e a água se esquecia do seu poder de apagá-lo. Por outro lado, as chamas não queimavam a carne dos animais que andavam entre elas, e também não derretiam aquele alimento celeste, parecido com gelo e fácil de derreter.” (Sb.19:18-21).

São palavras em que observamos nítida influência da filosofia grega, em nítido confronto com o restante das Escrituras, onde se verifica apenas a proeminência da figura divina na criação, sem qualquer referência a elementos da natureza ou coisa assim, como se vê, por exemplo, em Gn.1:1, Sl.8:3; Jó 38:4-41, entre outros.

 

– ECLESIÁSTICO – O nome do livro já explica seu caráter de livro não inspirado, pois foi assim chamado pela Igreja Romana exatamente porque este livro não é aceito pelos judeus.

Seu autor teria sido Jesus Ben-Sirac, entre 190 e 180 a.C., mas só se conhece a versão em grego do livro, que seria uma suposta tradução do original nunca encontrado, feita pelo neto de Ben-Sirac.

Estes dados corroboram, portanto, sua não inclusão entre os livros inspirados. Mas não é só ! O próprio livro apresenta-se como uma literatura que não quer se equiparar às Escrituras Sagradas. É o que se vê no prólogo do livro, “in verbis”:

“…Por isso meu avô Jesus, depois de se dedicar intensamente à leitura da Lei, dos Profetas e dos outros Livros de nossos antepassados e tendo adquirido um bom domínio sobre eles, decidiu escrever alguma coisa na linha da instrução e sabedoria.

Desse modo, os que desejam aprender podem familiarizar-se com isso e progredir sempre mais na conduta segundo a Lei…”, ou seja, o próprio neto do autor salienta que o livro é apenas uma literatura de apoio, que não se equipara às Escrituras !

Só isto basta para que não vejamos neste livro qualquer inspiração divina, mas, como se isto fosse pouco, o neto do autor, a exemplo do autor de Segundo Macabeus, pede perdão pelas suas eventuais falhas: “… Vocês, portanto, estão convidados a ler com atenção e benevolência, perdoando se, apesar do esforço, não consegui traduzir bem algumas expressões.

De fato, as coisas originalmente em hebraico não têm a mesma força quando traduzidas para outra língua…” Deus se descuidaria em apresentar o original deste texto para evitar confusões na divulgação da Sua Palavra ?

E, se este descuido fosse possível, por que teria ocorrido apenas com o livro do Eclesiástico e os outros livros incluídos no Concílio de Trento?

Mas não fosse isto, o livro apresenta algumas incongruências inadmissíveis. Em Eclo.3:29b, está escrito que “…a esmola apaga os pecados…”, conceito evidentemente contrário ao ensinamento do restante das Escrituras.

Em Eclo.7:1, temos a reprodução do dogma da retribuição, que é cabalmente desmentido no livro de Jó :” …não faças o mal e o mal não lhe acontecerá…”. Por fim, ao contrário dos ensinamentos do Senhor

Jesus (Cf.Lc.9:52-56, 10:25-37; Jo.4), o sábio Jesus Ben-Sira, apresenta um forte preconceito contra os samaritanos, ao dizer:

” Há duas nações que eu detesto, e uma terceira que nem sequer é nação: os habitantes da montanha de Seir, os filisteus e o povo idiota que habita em Siquém” (Eclo.50:25,26). Podemos considerar um texto deste como inspirado por Deus?

– BARUQUE (com a Epístola de Jeremias)- Este livro, de todos os deuterocanônicos, é o que foi mais citado pelos chamados “pais da Igreja”, ou seja, os estudiosos das Escrituras e líderes que sucederam aos apóstolos nos primeiros três séculos da história da igreja cristã. De qualquer modo, somente no Concílio de Florença (1431-1439) é que foi considerado como um livro e não como parte do livro do profeta Jeremias.

Sua estrutura, entretanto, mostra que é uma reunião de textos bem diferentes, sendo, pois, discutível até se existiu um “livro de Baruque”, ainda que não inspirado, ou se temos uma miscelânea de textos: há um texto em prosa de 1:1 até 3:8. Em seguida, inicia-se um texto poético, desconexo com o texto anterior, de 3:9 até 4:4.

A seguir, tem-se novo texto em prosa, igualmente sem conexão com os textos anteriores, que vai de 4:5 até 5:9, seguindo-se, então, a chamada Epístola de Jeremias, que é outra obra introduzida no Concílio de Trento e que ficou fazendo parte do livro de Baruque, como sendo seu capítulo 6.

Não bastasse isso, apresenta alguns erros históricos. É dito que Baruque teria escrito este livro “…quando estava na Babilônia no sétimo dia do mês no quinto ano da época em que os caldeus tomaram Jerusalém e a incendiaram…” (Ba.1:1). Ora, conforme se vê do livro de

Jeremias, Baruque não foi para a Babilônia mas ficou na terra de Judá com Jeremias (Jr.43:3,7). É certo que a tradição judaica indica que Baruque, após a morte do profeta, teria ido para a Babilônia, mas isto não se teria dado antes do quinto ano após a destruição de Jerusalém e, o que é mais grave, quando isto aconteceu já não havia mais povo algum estabelecido naquela cidade, como dá a entender o livro de Baruque (Cf. Ba.1:5-9, que contraria frontalmente Jr.43:5-7).

Fora este erro grave, há certas passagens do livro que também são inadmissíveis. Diz Ba.3:4: “…Senhor Todo-Poderoso, Deus de Israel, ouve as preces daqueles que já estão mortos em Israel…”.

Ora, este texto conflita com o restante das Escrituras, pois como os mortos irão fazer preces a Deus, consoante nos ensina Ecl.9:10 e Is.38:18,19, e, ainda por cima, em favor do que ocorre aqui na Terra? Mas, como sabemos, os mortos não podem comunicar-se com os vivos! (Cf. Is.8:19).

Com relação à Epístola de Jeremias, além de não haver qualquer notícia no livro do profeta de que ele tenha escrito uma carta aos cativos que estavam indo para a Babilônia, esta suposta carta contradiz a própria profecia de Jeremias, pois ali se afirma que o cativeiro seria de “sete gerações”(Ba.6:2), quando é sabido que a profecia era de setenta anos, ou seja, uma geração (se levarmos em conta o Sl.90:10) ou quase duas gerações, se considerarmos que uma geração é de quarenta anos, como têm feito os estudiosos da Bíblia.

É oportuno observar que a profecia de Jeremias, considerada inspirada por Deus, foi literalmente cumprida nos setenta anos (Cf. II Cr.36:22) e, consoante a regra trazida pelas próprias Escrituras (Dt.18:22), sabemos bem qual é o escrito autêntico e qual é o falso.

 

– ACRÉSCIMO AO LIVRO DE ESTER – Na Bíblia católico-romana o livro de Ester possui acréscimos no primeiro capítulo (1: 1-a – 1-r) e no último capítulo (10:3-a – 3-l), fora os capítulos 11 a 16 (que, por sinal, não constam da Edição Pastoral, mas estão presentes na versão do Padre Antonio Pereira de Figueiredo), passagens que não se encontram em quaisquer das cópias em hebraico deste livro, mas apenas em cópias em grego.

O livro de Ester foi o mais disputado entre os judeus para ser reconhecido como inspirado, já que foi um livro escrito no exílio e onde não consta o nome de Deus, mas Josefo o reconhece como sendo inspirado, assim como Filo.

Esta disputa, talvez, seja a causa de não terem sido encontrados manuscritos do livro de Ester na coleção do Mar Morto.

Ambos os acréscimos, entretanto, correspondem a um suposto sonho que teria tido Mardoqueu, que o texto acrescido coloca como tendo sido um dos exilados na primeira leva de nobres trazidos a Babilônia, ainda por Nabucodonosor, dado que é improvável, já que Assuero é identificado como sendo Xerxes I, que foi o sucessor de Dario I(486-465aC).

A alegação deste acréscimo faz de Mardoqueu contemporâneo de Daniel e Daniel não ultrapassou o reinado de Ciro (Dn.6:28), que durou até 530 aC., de sorte que seria muito improvável que Mardoqueu estivesse em idade compatível para realizar tudo o que se diz dele no livro de Ester se estas informações acrescidas fossem corretas.

Ademais, nos dois acréscimos há a menção do nome de Deus (Et.1:1-h,1-l; 10:3-a, 3-f, 3-g, 3-i, 3-j), o que não ocorre no restante do livro e, como este foi um dos motivos de controvérsia que surgiram para o reconhecimento da inspiração do livro de Ester, naturalmente que se houvesse segurança quanto a estes acréscimos, este debate não teria tido qualquer razão de ser.

Como se não bastasse, o próprio término do capítulo 10 apresenta uma “autenticação” da veracidade do restante do acréscimo (Et.10:3-l), algo que demonstra que o texto não era mesmo aceito como inspirado.

– ACRÉSCIMOS AO LIVRO DE DANIEL – O Concílio de Trento, também, reconheceu como inspirados três acréscimos ao livro do profeta Daniel, que compuseram um acréscimo ao capítulo 3 (a partir do versículo 24 até o 90, quando, então, retoma-se o texto inspirado, que vai até o versículo 100, correspondendo aos versículos 24 até 30 de nossas Bíblias) e os seus capítulos 13 e 14 na Bíblia católico-romana, referentes aos “cânticos dos três jovens” e duas histórias intituladas , “história de Susana” e “Bel e o dragão”, textos que somente existem em grego e que jamais foram reconhecidos pelos judeus como inspirados. Vejamos cada acréscimo separadamente:

– O cântico dos jovens teria sido um louvor entoado pelos amigos de Daniel na fornalha de fogo ardente. O texto bíblico inspirado não diz que os jovens louvaram a Deus na fornalha, o que teria sido digno de nota, pois até explicaria porque o rei Nabucodonosor teria ido até a fornalha para ver os três jovens.

A falta desta menção faz-nos entender que seja improvável que tivesse havido algum louvor como o narrado no texto acrescido. Mas o teor do suposto cântico já revela que seu texto não pode ser mesmo inspirado.

Diz o texto que Azarias (ou seja, Abedenego e a circunstância de ser relatado seu nome hebraico destoa da narrativa, pois, no texto inspirado, neste episódio, só são indicados os nomes babilônicos dos amigos de Daniel), em seu louvor, teria chamado o rei Nabucodonosor de “…injusto e o mais malvado de toda a terra…” (Dn.3:32, parte final, na numeração da Bíblia católico-romana).

Como poderia Abedenego assim se dirigir ao rei Nabucodonosor, a quem servia e de quem era um dos principais assessores(Cf.Dn.2:49) e, o que é mais intrigante, após ter reconhecido, com seus amigos, a autoridade humana do rei ? (Cf.Dn.3:17,18).

Seriam, então, estes homens uns hipócritas e fingidos ? Naturalmente que não e, portanto, o texto acrescido contrasta com o restante do livro do profeta Daniel.

Em Dn.3:49, é dito que …o Anjo do Senhor, porém, desceu na fornalha para perto de Azarias e seus companheiros. Tocou para fora da fornalha as labaredas de fogo e formou no meio da fornalha um vento úmido refrescante…”.

Ora, este texto conflita com o que se encontra em Dn.3:25(nossa numeração, Dn.3:92 na numeração católica), que afirma que o rei viu os jovens andando dentro do fogo. Mas como havia fogo ali se as labaredas tinham sido postas para fora?

E se as labaredas foram postas para fora, por que não se incendiou o palácio real ? (verdade é que a tradução católica troca fogo por fornalha, neste texto, mas nem esta troca consegue explicar o que aconteceu com as labaredas postas para fora…).

 

– Com relação aos outros dois acréscimos, de pronto vemos que o texto inspirado do profeta Daniel foi devidamente encerrado no capítulo 12, inclusive com ordem para que se selassem as palavras ali contidas (Dn.12:9).

Além do mais, a estrutura do livro do profeta contém uma parte histórica, que se esgotou no livro 6, sobrevindo a parte profética. Assim, os acréscimos deveriam, pelo menos, para guardar a estrutura do livro, serem interpolados entre o capítulo 6 e o 7.

A história de Suzana narra uma suposta intervenção de Daniel num julgamento injusto contra Suzana, que teria sido condenada à morte sob acusação falsa de dois homens que queriam cometer adultério com ela.

Aqui há erros históricos, pois retrata Daniel como um jovem que vivia no meio do povo judeu cativo (Dn.13:44), mas, como sabemos, desde tenra idade, Daniel viveu no palácio do rei de Babilônia, portanto fora da comunidade judaica (Cf. Dn.1:3,4).

É dito também que foi prestigiado por Nabucodonosor após o término da preparação e, a partir de então, é que teve prestígio junto aos demais judeus (Dn.1:19-21).

Além do mais, a expressão supostamente utilizada por Daniel às testemunhas que estavam mentindo, a saber, “…o anjo de Deus já recebeu ordem de arrebentá-lo ao meio…” (Dn.13:55b) ou

“…o anjo de Deus está esperando para cortá-lo ao meio e acabar com os dois…” (Dn.13:59b),

além de serem contraditórias, foram desmentidas pelos fatos, segundo a história, pois a narrativa diz que as referidas testemunhas foram condenados à morte, pois “…fizeram com eles o que queriam fazer com Susana, de acordo com a lei de Moisés…” (Dn.13:62).

Então, vemos que Daniel teria mentido ao afirmar que o anjo de Deus iria executar as falsas testemunhas, pois elas acabaram sendo mortas por homens mesmo.

Como, então, confiar num texto que coloca Daniel como um falso profeta (Cf.Dt.18:22), um homem que a Bíblia diz que é um dos mais justos que houve sobre a Terra (Cf.Ez.14:14)?

– O terceiro acréscimo diz respeito à história de “Bel e o dragão”, que está no capítulo 14 do livro de Daniel da Bíblia católico-romana.

Começa o texto com uma incongruência histórica, pois Heródoto, o grande historiador grego (conhecido como o “pai da história”), afirma que Ciro derrubou seu avô Astíages (Dario, o medo, na linguagem bíblica), que o perseguira desde a mais tenra infância. Portanto, como Daniel poderia ser

“…companheiro do rei (Ciro, observação nossa) e o mais íntimo de seus amigos…” (Cf. Dn.14:1), se era pessoa da mais estrita confiança do rei Dario (Cf.Dn.6:3, 6:28)?

Como se não bastasse, na história, é dito que os babilônios obrigaram o rei Ciro a entregar Daniel para ser morto sob ameaça de que matariam o rei e toda sua família.(Dn.14:29,30).

Ora, como crer que o rei da Pérsia poderia ser derrubado pelos babilônios, que haviam sido vencidos há anos pelos persas e pelos medas, tendo sido subjugados ? Seria um caso único de ameaça popular de um povo vencido contra um monarca do povo vencedor.

Ademais, se isto tivesse acontecido, estaria invalidada a interpretação que Daniel deu ao rei Nabucodonosor a respeito da grande estátua (Dn.2:28-47), pois o império medo-persa foi o que sucedeu ao império babilônico (o peito e os braços de prata do sonho real) e teríamos aqui um caso em que os babilônios continuavam mandando, apesar de vencidos pelos persas.

Como se verifica, mais um absurdo! Por fim, relata-se uma segunda ida de Daniel até a cova dos leões (Dn.14:31), onde teria sido alimentado por comida trazida de um certo profeta Habacuque, que morava na Judeia (Dn.14:33-39). Mas como dizer que havia profetas na Judéia neste período após a destruição de Jerusalém?

– Por todos estes motivos, não podemos, mesmo, aceitar que os livros deuterocanônicos sejam inspirados, ainda que muitos escritores católicos esforcem-se para provar-lhes a autenticidade.

– Uma das principais objeções que os católicos fazem às refutações dos protestantes é a que procura mostrar que Jesus jamais citou os textos dos livros deuterocanônicos em Seu ministério, argumento, aliás, que nós não utilizamos neste comentário.

Com efeito, a citação, ou não, por Jesus ou pelos apóstolos de algum texto não inspirado não tem o condão de fazer com que o texto seja, ou não, considerado inspirado.

Os católicos romanos gostam de apresentar uma lista de supostas citações dos livros deuterocanônicos em o Novo Testamento para afirmar sua autenticidade, mas, se é assim, por que também não incluíram no seu cânon o livro de Enoque ou o livro de Assunção de Moisés, que são citados pelo apóstolo Judas em sua epístola?

 

– Ademais, alguns livros do Antigo Testamento não são citados no Novo Testamento (Ester, Eclesiastes, Cantares, Esdras, Neemias, Obadias, Naum, Sofonias).

O certo é que a inclusão na Igreja Romana destes livros se deveu a uma decisão datada de 8 de abril de 1546, no Concílio de Trento, em uma reunião onde estavam presentes menos de cinquenta bispos e cardeais, numa decisão, ademais, que não foi unânime.

Uma simples olhada nos livros incluídos, como fizemos supra, entendemos seja suficiente para espancar qualquer dúvida de que não são textos inspirados.

– É oportuno observar, também, que o cânon romano discrepa da versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, que algumas publicações católico-romanas insistem em dizer ter sido a base de seu cânon.

Com efeito, a Septuaginta tem, ainda, outros livros que não foram incluídos pela Igreja Romana, a saber, I e II Esdras e a Oração de Manassés, que constam do cânon da Igreja Ortodoxa, mas não da Igreja Romana.

Há, ainda, outros livros que são lidos e fazem parte integrante de cânones de outras igrejas orientais menores, notadamente o cânon da Igreja Etíope, que abarca um grande número de livros apócrifos (como o livro de Enoque, v.g.).

IV – A ESTRUTURA DO NOVO TESTAMENTO

– O Novo Testamento começou a ser escrito poucos anos depois da ressurreição e ascensão do Senhor Jesus. Há discussão qual teria sido o primeiro livro a ser escrito.

Uns entendem que foi a carta de Tiago, que teria sido escrita entre 45 e 50; outros acham que foi a primeira carta de Paulo aos tessalonicenses, que teria sido escrita entre 50 e 51.

De qualquer maneira, como Nosso Senhor e Salvador morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus em 29, isto faz com que a inspiração para a redação das Escrituras se iniciou cerca de 20 anos depois do início da evangelização a partir do dia de Pentecostes.

– Tenha sido Tiago ou I Tessalonicenses, o fato é que, em ambos os casos, os autores foram incomodados pelo Espírito Santo a reduzir a escrito os seus ensinos, ensinos que eram a razão de ser da perseverança da Igreja (Cf. At.2:42), tendo em vista o impedimento de continuar a fazê-lo pela forma oral, como se fizera até então.

– Com efeito, Tiago, pastor da igreja em Jerusalém, verificava que a dispersão dos membros da igreja de Jerusalém que decorreu da primeira grande perseguição contra a igreja, chefiada por Saulo de Tarso (Cf. At.8:1,2; 11:19,20) era algo que não haveria de cessar, apresentava-se como circunstância duradoura, sendo, portanto, necessário instruir aqueles irmãos e o faz por meio de uma epístola.

– De igual modo, Paulo, impedido de retornar para Tessalônica, onde deixara inacabado o trabalho do discipulado por causa da perseguição (Cf. At.17:1-10; I Ts.2:17,18), entendeu ser necessário também escrever àqueles irmãos, para completar aquele trabalho, considerando que fora insuficiente a ida de Timóteo até lá (Cf. I Ts.3:1,2).

– O Espírito Santo, então, retomava a ação que empreendera a partir de Moisés, a fim de completar o trabalho de formação das Escrituras, fazendo com que tudo quanto fora ensinado pelo Senhor Jesus ficasse registrado e, desta forma, pudesse a Igreja, com a mesma confiabilidade e longevidade que tivera a revelação dada a Israel, poder anunciar a salvação até a volta do Senhor Jesus.

Afinal de contas, não era papel do Espírito fazer com que os salvos se lembrassem do que Jesus havia dito e anunciar o que dizia respeito ao Filho (Cf. Jo.14:26; 16:13,14)?

– Tem início, então, o momento final da revelação das Escrituras, a “quinta e última onda da inspiração”, que abarca o Novo Testamento entre os anos 50 e 96.

– O Novo Testamento possui uma estrutura similar ao do Antigo. O Antigo começa com a “lei”. Na nova aliança, a “lei” é o “Evangelho” e, deste modo, temos os quatro Evangelhos, que nos apresentam a vida e a obra de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

 

– É emblemático que o Novo Testamento seja consensual entre todos os segmentos que se dizem cristãos, numa comprovação de que nem esta dissensão conseguiu o inimigo de nossas almas fazer prevalecer sobre a Igreja. Trata-se, sem dúvida, de um zelo divino para que se evitasse a confusão.

É também uma demonstração de que nem o Novo Testamento é obra da Igreja, como dizem os romanistas, mas, sim, do Espírito Santo, que, desde os primeiros tempos, como nos mostra o concílio de Jerusalém (At.15), estava ensinando a Igreja, anunciando o que é de Jesus, guiando a Igreja em toda a verdade (Jo.14:26; 16:13,14).

– Os concílios e sínodos que se reuniram e apresentaram as listas dos livros inspirados tão somente certificaram, atestaram o que havia sido ensinado e autenticado pelo Espírito Santo. Assim, não foi a Igreja quem criou a Bíblia, mas Deus que deu a Bíblia à Igreja (Sl.68:11a).

Como afirma a Declaração de Chicago sobre a inerrância bíblica em seu artigo I:

“Afirmamos que as Sagradas Escrituras devem ser recebidas como a Palavra oficial de Deus. Negamos que a autoridade das Escrituras provenha da Igreja, da tradição ou de qualquer outra fonte humana” (Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_chicago.htm Acesso em 03 nov. 2021).

– Os evangelhos são quatro, pois cada um apresenta Cristo sob um aspecto, pois sendo ele a Esperança da Glória (Rm.5:2; Cl.1:27), a o Unigênito do Pai com toda a Sua glória (Jo.1:14), tinha de Se apresentar sob os quatro perfis vistos pelo profeta Ezequiel quando teve as duas visões dos querubins (Ez.1 e 10).

– Assim, Jesus é apresentado como rei (evangelho segundo Mateus – rosto de leão da visão de Ezequiel), como servo (evangelho segundo Marcos – rosto de boi da visão de Ezequiel), como homem (evangelho segundo Lucas – rosto de homem da visão de Ezequiel) e como Deus (evangelho segundo João – rosto de águia da visão de Ezequiel).

– Depois dos Evangelhos, temos o livro histórico, o livro de Atos dos Apóstolos, que narra o início da história da Igreja, assim como temos, no Antigo Testamento, os livros históricos depois da lei.

– Após o livro de Atos, vêm as epístolas, que são as explanações doutrinárias a respeito do Evangelho, os ensinos que os apóstolos davam à Igreja e que quis o Senhor ficassem registrados para as gerações futuras.

Começando das epístolas de Paulo, que são treze (Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito e Filemom), a epístola aos Hebreus (cuja autoria é discutida) e as epístolas de Tiago, Pedro (duas), João (três) e Judas.

– Assim como no Antigo Testamento, após os livros históricos foram postos os chamados livros poéticos, que contém ensinamentos, também se puseram as epístolas após Atos.

– Por fim, vem o livro profético do Novo Testamento, o Apocalipse, que encerra a inspiração, sendo o livro diametralmente oposto ao do Gênesis, onde se encerra tudo quanto lá se iniciou, trazendo as coisas que brevemente devem acontecer.

– No término do Apocalipse, o próprio Espírito indica o final da inspiração, proibindo o acréscimo ou a retirada de tudo quanto foi revelado (Ap.22:18,19).

– É esta estrutura que minudenciaremos nas próximas lições.

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7006-licao-4-a-estrutura-da-biblia-i

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *