Sem categoria

LIÇÃO Nº 6 – SANTIFICAÇÃO: COMPROMETIDOS COM A ÉTICA DO ESPÍRITO

A vida cristã somente pode progredir e se desenvolver se houver separação do pecado, o que deve ser perseguido até o dia do arrebatamento da Igreja.

INTRODUÇÃO

– A justificação do salvo dá-se mediante a fé em Cristo Jesus, mas esta fé precisa ser demonstrada a cada momento, não se esgotando apenas no ato da regeneração.

A salvação é um contínuo processo que, iniciando-se na regeneração, fruto do arrependimento e da conversão, prossegue, após a justificação, mediante a santificação, até o instante final da glorificação.

– A vida cristã somente pode progredir e se desenvolver se houver separação do pecado, o que deve ser perseguido até o dia do arrebatamento da Igreja.

I – A SANTIFICAÇÃO POSICIONAL E O INÍCIO DO CONFLITO ENTRE A CARNE E O ESPÍRITO

– Na epístola que Paulo escreveu aos romanos, o principal texto bíblico a respeito da salvação, um dos pilares da Reforma Protestante, o apóstolo discute como o homem alcança a sua justificação, uma vez que é um contumaz pecador e, por causa disto, merecedor da condenação divina, vez que se trata de um ser que, por natureza, é injusto, já que pecado é iniquidade, é injustiça (I Jo.3:4).

– O apóstolo demonstra que esta justificação é devida única e exclusivamente à fé que temos em Jesus Cristo que, por nós, pagou o preço da salvação, morrendo na cruz do Calvário em nosso lugar, embora jamais tenha pecado, a fim de permitir que, mediante a fé n’Ele, sejamos perdoados dos nossos pecados e postos numa posição de justiça, uma vez que os nossos pecados são imputados ao Senhor e a justiça do Senhor é dada, gratuitamente, a cada um daqueles que crê em Jesus.

– É esta imputação da justiça de Cristo em nós em que consiste a justificação. Por isso, a partir do momento em que cremos em Jesus, passamos a ser justificados e mudamos de posição diante de Deus que não nos vê como éramos, mas que, agora, por causa de Cristo, nos vê como pessoas justas.

– Ao mudarmos de posição diante de Deus, alcançamos o que os estudiosos da Bíblia denominam de
“santificação posicional”, “…ato soberano de Deus, mediante a obra de Cristo (Hb.10:9-10)…” (GONÇALVES, Jayro. O papel da Igreja no século XXI(3). Vigiai e orai. Disponível em < http://www.google.com/search?q=cache:vEcdkMOmKsAJ:www.irmaos.com/vigiaieorai/103.2.jsp+%2 2santifica%C3%A7%C3%A3o+posicional%22&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=1> Acesso em 21 jun. 2006).

– Esta santificação não se deve a qualquer obra humana, mas à vontade de Deus (Hb.3:1; Rm.1:7) e, por isso, é perfeita e completa. A partir do instante em que aceitamos a Cristo como nosso Senhor e Salvador, nossos pecados são perdoados, somos justificados e, por isso, passamos a ser “santos de Deus”.

Por isso, todo pecador arrependido e remido pelo Senhor Jesus é um “santo”, não tendo, pois, cabimento, procedimentos como os de “canonização” ou “beatificação”, como vemos em alguns segmentos religiosos.

– Esta circunstância, porém, não retira o fato de que permanecemos com a “velha natureza”, ou seja, embora, ao crermos em Jesus, estejamos, de pronto, livres do poder do pecado, pois Jesus nos liberta (Jo.8:36), bem como adquirimos uma nova natureza, pois nascemos de novo (Jo.3:5), o fato é que não nos livramos, de imediato, do “corpo do pecado”, ou seja,

embora nasçamos de novo, este “corpo da morte” (Rm.7:24) ainda continua convivendo com o homem, pois ainda ele não alcançou a glorificação, o instante em que ingressaremos na dimensão celestial, sendo como o Senhor Jesus já é desde a Sua ressurreição (I Jo.3:2).

– É esta situação de conflito que se cria a partir do momento da nossa justificação que levou o apóstolo Paulo a tratar do conflito entre a carne e o espírito, também na sua carta aos Romanos.

– Este conflito entre as duas naturezas que passam a conviver no homem que se arrepende, se converte, é gerado de novo e justificado pela fé em Cristo é um dos pontos principais para que entendamos o significado da salvação e da vida do cristão enquanto estiver sobre a face da Terra.

– Muitos não conseguem compreender perfeitamente o significado da vida cristã e, por isso, acabam se envolvendo com o pecado, porque não apreendem este precioso ensinamento das Escrituras.

O próprio Jesus, certa feita, disse que havia trazido para o mundo paz, mas, sim, espada, ou seja, guerra, conflito (Mt.10:34), passagem bíblica que causa algum desconforto em muitos, já que parece contradizer o profeta, que afirma que Jesus seria o Príncipe da Paz (Is.9:6) e a própria palavra do Senhor, que afirmou que trazia uma paz perfeita (Jo.14:27).

– No entanto, dentro do prisma trazido pelo apóstolo neste instante de sua argumentação, podemos bem compreender o sentido das aparentemente contraditórias afirmações bíblicas relativas ao papel da missão de Jesus.

Jesus veio reconciliar o homem com Deus e, quando n’Ele cremos, somos justificados pela fé e passamos a ter paz com Deus (Rm.5:1).

– Por isso, Ele é o Príncipe da Paz, porque, por Sua obra, obtém a paz entre o homem e Deus, paz que havia se perdido por causa do pecado, daí dizer o apóstolo Paulo que Cristo é a nossa paz (Ef.2:14).

Além da paz com Deus, Jesus permite-nos a paz de Deus, que é uma das qualidades do fruto do Espírito (Gl.5:22), esta paz diferente que Ele mesmo afirma ter nos deixado (Jo.14:27).

– No entanto, ao mesmo tempo em que Jesus nos trouxe a paz com Deus e a paz de Deus, também trouxe a inimizade entre nós e o pecado, como, aliás, Deus já havia predito no Éden ao primeiro casal (Gn.3:15).

– A obra de Cristo separou-nos do pecado e gerou um conflito, uma luta entre nós e o maligno, entre nós e as portas do inferno, entre nós e as hostes espirituais da maldade.

Este conflito inicia-se em nós mesmos, visto que passamos a ter duas naturezas: a “velha natureza”, ou seja, a natureza pecaminosa, herdada de Adão, que está dominado pelo pecado e a “nova natureza”, surgida com a regeneração, com o novo nascimento, resultado da nossa fé em Cristo Jesus, do arrependimento dos nossos pecados, da conversão e do perdão dos pecados por conta do sacrifício de Cristo e da nossa consequente justificação.

– A “velha natureza”, que Paulo chama de “carne”, herdada de Adão, obedece à “lei do pecado e da morte” (Rm.8:2).

Com efeito, a Bíblia diz-nos que Adão gerou descendente conforme a sua semelhança (Gn.5:3) e, a partir de então, vemos que o homem, assim que adquire a consciência, submete-se ao pecado, fazendo aquilo que sabe ser errado e que não queria fazer (Rm.7:16-18).

– Esta “velha natureza”, este “velho homem” não abandona o ser humano quando ele aceita a Cristo como seu Senhor.

Quando somos salvos, esta “velha natureza” não mais tem domínio sobre o homem, como também ganhamos uma “nova natureza”, pois nascemos de novo, mas a “velha natureza” permanece em nós, o que continuará ocorrendo até o instante em que alcançarmos a glorificação, quando, aí, sim, seremos semelhantes a Cristo, adquirindo a condição de justos aperfeiçoados, passando a ter comunhão plena com o Senhor, não havendo mais qualquer separação (I Co.15:54).

– Surge, portanto, um conflito, uma luta incessante na vida do cristão, que terá de conviver com esta dualidade em seu próprio interior.

De um lado, a “carne”, que foi subjugada por Cristo, mas que está ali, presa, mas pronta para se manifestar à primeira vacilação, visto que está crucificada com Cristo (Rm.6:6; Gl.2:20; 6:14), mas ainda não tragada(I Co.15:54); de outro, o “espírito”, que é a nova natureza surgida com a regeneração, a vivificação do espírito humano, que faz a ligação entre Deus e o homem, que se encontrava separado (i.e., morto) de Deus por causa do pecado.

– Com a remoção dos pecados, o espírito se religa a Deus e passa a dominar o homem, vez que entra em comunhão com o Espírito Santo, que infunde, no ser humano, as virtudes do amor, da fé e da esperança, numa completa transformação. O homem, então, passa a servir a “lei do espírito de vida” (Rm.8:2).

– É importante observar, portanto, que, conforme nos ensina o apóstolo Paulo, este conflito entre as duas naturezas somente começa a existir no exato instante em que somos justificados pela fé em Cristo.

– Não é verdadeira, portanto, a imagem que se criou, inclusive entre os judeus, de que o homem nasce com duas “inclinações”, uma “inclinação para o bem” (que os rabinos judeus denominaram de “ietzer tov”) e uma “inclinação para o mal” (que os rabinos judeus denominaram de “ietzer ha-ra”), conceitos que estão hoje muito em voga, pois disseminados pelo movimento Nova Era e que encontra nos princípios “yin-yang” uma das expressões mais conhecidas na atualidade.

Na verdade, o homem, enquanto não crer em Cristo, não poderá se libertar da sua natureza pecaminosa que, inevitavelmente, o leva para a morte assim que adquire a consciência.

OBS: “…No judaísmo pós-exílico, bem como na crença religiosa do zoroastrianismo , o bem e o mal estavam emparelhados numa unidade de oposição contrastante. É quase certo que os judeus tenham herdado essa noção dualística dos persas.

Durante muitos séculos, depois do Cativeiro da Babilônia, que havia começado em 586 a.C., os judeus tinham vivido em grandes concentrações permanentes entre os babilônios e os persas, formando uma população de mais de um milhão, mesmo antes da era cristã.

É natural que houvessem assimilado muito da cultura alienígena em cujo seio viviam, inclusive certas crenças religiosas, pois havia um intercâmbio livre e esclarecido entre os ‘sábios’ persas ou ‘magos’ e os ‘mestres de sabedoria’ judeus — os Sábios Rabínicos…” (Nathan AUSUBEL. Ietzer tov e ietzer ha-ra. In: A JUDAICA, v.5, p.364). Como se percebe, esta idéia de uma dupla inclinação ínsita ao homem é fruto de influência externa sobre o judaísmo, algo alheio às Escrituras.

– O homem é dominado pelo pecado, devido a sua natureza distorcida, passando a pecar assim que adquire a consciência.

Em virtude disto, só se nascer de novo, o que se faz somente mediante a fé em Cristo Jesus, ganha uma nova natureza, uma natureza livre do pecado. Só, então, surge o conflito entre a carne e o espírito, que é descrito por Paulo como uma consequência da justificação, um resultado da salvação.

– A justificação permite-nos dizer que não seremos condenados pelo Senhor, apesar dos pecados cometidos antes do nosso arrependimento. Esta convicção é externada em Rm.8:1, que nos afirma que nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.

– “Estar em Cristo Jesus” é o estado decorrente da justificação, é estar em paz com Deus (cf. Rm.5:1).

“Estar em Cristo Jesus” é ter comunhão com o Senhor, ou seja, nos tornamos participantes da natureza divina, passamos a ser um com o Senhor (Jo.17:21).

Comunhão significa um estado em que há comunidade, ou seja, em que o que é de Deus passa a ser nosso e o que é nosso passa a ser de Deus. Esta comunidade é o contrário do que havia antes, ou seja, da separação que havia entre o homem e Deus por causa do pecado (Is.59:2).

– “Estar em Cristo Jesus” é o estado resultante da salvação, estado que já havia sido descrito pelo Senhor nas Suas últimas instruções aos discípulos, quando Se comparou a uma videira verdadeira e aos Seus seguidores, aos ramos (Jo.15:5).

Nesta figura, Jesus demonstra, claramente, que é preciso que haja um relacionamento interdependente entre Jesus e os salvos, um relacionamento que se dá entre seres da mesma natureza, que se comunicam diretamente, sem qualquer distinção essencial.

– A justificação é uma absolvição, é uma não condenação, mas isto só é possível porque adquirimos a mesma natureza de Cristo, ou seja, uma natureza sem pecado, separada do pecado, onde predomina o amor, a fé e a esperança, que nos são trazidas pelo Espírito Santo, o mesmo Espírito que ungiu a Cristo e que O manteve separado do pecado durante toda a Sua existência terrena (At.10:38; Hb.4:15).

– “Estar em Cristo Jesus” é, portanto, o resultado da vitória de Cristo sobre o pecado, vitória esta alcançada mediante uma vida humana sem pecado (Rm.8:3), caracterizada pela obediência até a morte e morte de cruz (Fp.2:8).

– Jesus, ao viver separado do pecado durante a Sua vida terrena, cumpriu a lei (Mt.5:17), tornando possível que aqueles que n’Ele cressem também pudessem cumprir a justiça da lei, mediante uma vida debaixo da lei do espírito de vida, mediante uma vida de santidade, que o apóstolo Paulo denomina de “andar segundo o espírito” (Rm.8:4).

– “Estar em Cristo Jesus”, pois, não é apenas um instante, um momento, quando somos justificados por crermos em Jesus, mas um estado que deve perdurar no tempo, assim como Jesus Se manteve separado do pecado durante toda a Sua existência terrena. A obediência deve ser até a morte, até o fim.

– É por isso que o apóstolo afirma que “estar em Cristo Jesus” é “andar segundo o espírito”, ou seja, é um processo de continuidade, um processo diário, sem qualquer interrupção, que depende de cada uma de nossas atividades.

A palavra “andar” (no original grego – ‘peripateuein’-περιπατευειν) traz-nos a ideia de um deslocamento, de uma caminhada, de uma jornada, que outra não é senão a jornada da nossa própria vida terrena.

– Foi por isso que Martinho Lutero afirmou que esta luta entre a carne e o espírito obriga-nos a conter a “velha natureza” “tanto tempo quanto nós vivermos” (cf. “Prefácio a Romanos”).

OBS: “…Andamos segundo a carne significa seguir os desejos pecaminosos da antiga vida de uma pessoa. Andar segundo o Espírito significa seguir os desejos do Espírito Santo, viver de uma maneira que O agrade.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, nota a Rm.8.4, p.1160) (destaques originais).

– O apóstolo, pois, apresenta-nos que um efeito, que é a necessidade de termos uma continuidade no estado que o Senhor nos pôs pela nossa justificação. Esta continuidade é o que os estudiosos da Bíblia Sagrada chamam de “santificação progressiva ou prática”.

– Como diz a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “…Ensinamos que, já salvo, justificado e adotado como filho de Deus, o novo crente entra, de imediato, no processo de santificação, pois assim o requer a sua nova natureza em Cristo: ‘agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna’ (Rm.6:22); ‘esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição’ (I Ts.4:3).

Todos os crentes em Jesus são chamados santos [I Co.1:2]. Ele exige santidade de Seus filhos: ‘como é santo Aquele que vos chamou, sede vós, também, santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo’ (I Pe.1:15,16); pois sem a santificação ninguém verá o Senhor; ‘Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor’’ (Hb.12:14)…” (DFAD X.3, p.112).

II – A SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA E O PROSSEGUIMENTO DO CONFLITO ENTRE A CARNE E O ESPÍRITO

– Vemos, pois, que a salvação traz “para dentro do homem” o conflito entre duas naturezas opostas: a “carne”, ou seja, a “natureza pecaminosa” e o “espírito”, ou seja, a nova natureza, a “participação na natureza divina” (cf. II Pe.1:4).

– Quando aceitamos a Cristo e nascemos de novo, começa a haver uma luta, um conflito entre estas duas naturezas, mas, diante da salvação, passa o salvo a “andar segundo o espírito”, ou seja, está livre da lei do

pecado e da morte, não está mais sob o domínio do pecado, e a sua nova natureza prepondera sobre a “velha natureza”, fazendo com que a pessoa se mantenha separada do pecado.

– A sua absolvição, obtida no instante em que creu em Jesus, permanece, porque a pessoa persiste se mantendo separada do pecado. Este processo de separação do pecado é o que se chama de “santificação progressiva ou prática”, um processo diário e contínuo, que deve perdurar até o fim, seja este fim a nossa morte física, seja o dia do arrebatamento da Igreja, se vivos estivermos nesta ocasião.

– Quem não vive separado do pecado, quem não se santifica, peca. Santificar-se é se manter separado do pecado e isto precisamos fazer a cada dia, a cada minuto, a cada segundo.

Como disse o escritor aos hebreus (Hb.12:14), devemos seguir a santificação, ou seja, é necessário se separar do pecado e continuar dele se separando, para que tenhamos condição de ver o Senhor Jesus.

– Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, “…Santificação é o ato de separar-se do pecado e dedicar-se a Deus´[Rm.12:1,2]…” (DFAD X.3, .112).

– Se, entretanto, não nos separarmos do pecado, ou seja, se pecarmos, certamente voltaremos a ficar sob o domínio do pecado. Jesus foi claro ao afirmar que quem pratica o pecado é servo do pecado (Jo.8:34) e não é por outro motivo que, no dia do juízo, quando estiverem diante d’Ele pessoas que chegaram a invocar o Seu nome, Ele os rejeitará, precisamente porque “praticaram a iniquidade”, ou seja, pecaram, não se separaram do pecado (Mt.7:22,23).

– “Os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne, mas os que são segundo o espírito, para as coisas do espírito” (Rm.8:5).

O apóstolo aqui é enfático ao mostrar que “andar segundo a carne”, ou seja, submeter-se ao pecado, ser dominado pelo pecado, é algo incompatível com o filho de Deus, com o verdadeiro salvo. O salvo não vive sob o domínio do pecado, não tem inclinação para a carne, para a morte. A santificação é uma medida que não nos permite ficar atraídos ou com propósitos pecaminosos.

– Paulo não está a dizer que o salvo não mais peca. Ainda estamos neste mundo e, por causa disto, estamos sujeitos a pecar, mesmo tendo aceitado a Cristo como nosso Senhor e Salvador.

O apóstolo João aprofundou-se nesta questão e demonstrou que os homens não estão livres totalmente do pecado (I Jo.1:8-2:2), pois ainda não foram libertos do “corpo do pecado”.

– No entanto, e é isto que o apóstolo nos mostra, o verdadeiro salvo não é uma pessoa que tenha um modo de vida voltado para as coisas pecaminosas, cujos propósitos e tendências sejam todas no sentido da separação de Deus mediante a prática da iniquidade.

– Os que se inclinam para as coisas da carne, os que têm intenções e objetivos pecaminosos, estes, diz o apóstolo, “são segundo a carne”, ou seja, continuam sob o domínio do pecado, ainda que possam se dizer “crentes”, “evangélicos” ou seja lá o título que assumirem. O fato é que seu alvo não é a comunhão com Cristo, mas, sim, tudo aquilo que nos separa de Cristo.

– A palavra “inclinar” tem o significado de “estar disposto”, “pensar”, “ter atitudes” num determinado sentido. No texto original grego, é a mesma palavra que, na nossa versão em português, é traduzida por “mesmo sentimento” em Fp.2:5, quando se fala da atitude de Cristo, de Seu propósito quando veio a este mundo para fazer a vontade do Pai.

– Assim, se o propósito, a intenção, o objetivo de alguém é o pecado, é tudo aquilo que desagrada a Deus e/ou está em desacordo com a Sua Palavra, temos a comprovação de que esta pessoa não é salva, pois, como diz o apóstolo, “é da carne” e, por isso, “inclina-se para as coisas da carne”.

OBS: “…’Os que se inclinam para a carne’ (…) indica o indivíduo que não tem contactos específicos com o Espírito Santo, o indivíduo não-regenerado, que não sabe o que é a conversão e que, muito menos ainda, sabe o que é a presença habitadora do Espírito Santo. Os indivíduos aqui referidos ‘se inclinam para a carne’ porque são totalmente dominados pelos apetites da carne.…”( CHAMPLIN., R.N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. v.3, com. Rm.8:5, p.705).

– Quais são os nossos objetivos na vida? Quais têm sido as nossas intenções? Por que e para que estamos a praticar estes ou aqueles atos? Isto nos mostra se andamos segundo a carne ou segundo o espírito.

O justificado pela fé em Cristo Jesus age sempre por motivos e propósitos que estão de acordo com a vontade de Deus, que nos mantêm separados do pecado e que, por isso, não nos impede de prosseguir na nossa comunhão com o Senhor.

– A “inclinação da carne” é inimizade contra Deus e os que são segundo a carne não podem agradar a Deus (Rm.8:7,8).

Temos aqui uma contundente declaração das Escrituras que desmente todo e qualquer movimento de tolerância e convivência com o pecado, movimentos estes que, lamentavelmente, estão presentes e em número cada vez maior no meio do segmento dito evangélico.

– Quantos não estão a dizer que “Deus só quer o coração”? Quantos não têm procurado se basear em “doutores conforme as suas próprias concupiscências” (cf. II Tm.4:3) para justificar as suas condutas pecaminosas e a prática da iniquidade?

Os dias de hoje são difíceis e não são poucos os que têm se esforçado em encontrar guarida para as suas “inclinações da carne”, mas o Senhor, na Sua Palavra, é bem claro, é claríssimo: “os que estão na carne, não podem agradar a Deus” (Rm.8:8)!

– Quem se diz de Cristo Jesus, quem diz que está em Cristo Jesus, continua o apóstolo, não pode estar na carne.

Se o Espírito de Deus habita em nós, é porque o pecado foi extirpado de nós, porque não mais estamos separados de Deus por causa do pecado. Para o Espírito Santo fazer morada em nós, torna-se necessário que o Cordeiro de Deus tenha tirado o pecado que havia em nós, o que ocorre quando somos justificados.

E, ao nos tornarmos morada de Deus no Espírito (Ef.2:22), ou seja, templo do Espírito Santo (I Co.6:19), devemos nos manter separados do pecado, para que não venhamos a perder esta comunhão, pois devemos ser santos em toda a nossa maneira de viver (I Pe.1:15).

– A santificação progressiva ou prática surge, então, em primeiro lugar, como uma separação do pecado, uma manutenção do estado de separação do pecado que alcançamos no instante em que somos alcançados pela graça de Deus e recebemos a salvação na pessoa de Cristo Jesus. Este é o primeiro aspecto da santificação: a separação do pecado.

– Neste ponto, devemos nos distanciar da “inclinação da carne”, distância que tende a aumentar a cada instante de nossas vidas. Estamos mortos para o pecado (Rm.6:2) e, segundo o apóstolo, isto é uma necessidade, pois, “se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado” (Rm.8:10a).

Aqui, ao contrário dos que muitos pensam, não se está defendendo a “mortificação do corpo”, ou seja, que se menospreze o corpo físico, o que seria uma influência do pensamento filosófico de Platão (filósofo grego, que viveu entre 427-348 ou 347 a.C.), pensamento também existente nas filosofias orientais, notadamente a hinduísta e as dela provenientes, segundo o qual o corpo, a matéria são um mal na vida espiritual, mas, sim, a necessidade de contermos e de anularmos a influência do “corpo do pecado”, ou seja, da “natureza pecaminosa”, do “velho homem” no nosso dia-a-dia.

OBS: “Não o corpo distinto da alma, mas o homem inteiro agindo em e por seu corpo, lugar necessário de sua existência, de sua ação, de sua presença no mundo (…).

As duas expressões do versículo [Rm.6:6, observação nossa] corpo de pecado e homem velho são, portanto, equivalentes…” (BÍBLIA SAGRADA – TRADUÇÃO ECUMÊNICA BRASILEIRA, nota y, p.2181, remetida pela nota v, p.2185)

– Não é possível dizermos que “estamos em Cristo Jesus”, se nós não nos separarmos do pecado, se não mudarmos de atitude a partir de nossa conversão.

A transformação deve ser radical e tudo aquilo que buscávamos na “velha vida” deve ser abandonado. Não é possível sermos uma nova criatura sem que venhamos a ter novos objetivos, novos propósitos, novas motivações, novas intenções.

– Antes, vivíamos para fazer a vontade da nossa carne, ou seja, queríamos tão somente saciar nossos apetites, nossos desejos desmedidos, as nossas concupiscências.

Agora, porém, porque estamos em Cristo, nosso propósito passa a ser fazer somente a vontade de Deus, obedecer-Lhe e render-Lhe glória. De instrumentos de iniquidade passamos a ser instrumentos da glória de Deus. É isto uma realidade na nossa vida?

OBS: “…É impossível obedecer à carne e ao Espírito ao mesmo tempo (vv.7,8 [Rm.8:7,8]; Gl.5.17,18). Se alguém deixa de resistir, pelo poder do Espírito Santo, a seus desejos pecaminosos e, pelo contrário, passa a viver segundo a carne (v.13[Rm.8.13]), torna-se inimigo de Deus ([Rm]8.7; Tg.4.4), e a morte espiritual e eterna o aguarda (v.13[Rm.8.13]). Aqueles cujo amor e solicitude estão prioritariamente fixados nas coisas de Deus podem esperar a vida eterna e a comunhão com Ele (vv.10,11,15,16[Rm.8.10,11,15,16]).” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a Rm.8.5-14, p.1711).

III – A SANTIFICAÇÃO COMO SEPARAÇÃO PARA DEUS

– Mas, embora a santificação seja, em primeiro lugar, uma separação do pecado, não se esgota aí esta figura que é descrita pelo apóstolo ao tratar dos efeitos da justificação.

A separação do pecado é, sem dúvida, um importantíssimo prisma da santificação, mas se a isto se reduzisse a vida espiritual, não teríamos a “vida em abundância” prometida pelo Salvador (Jo.10:10b).

– Jesus não só afirmou que Seus discípulos estariam em comunhão com Ele, sendo ramos da videira verdadeira, como também disse que estes ramos produziriam fruto (Jo.15:2,16).

Não temos, portanto, apenas um comportamento negativo, uma abstinência que é importante e base para estabelecer a unidade entre Deus e o salvo, através de Cristo, mas, além deste “não-fazer”, existe também um “fazer”, um conjunto de ações positivas, de atitudes afirmativas, que caracterizam o servo do Senhor.

– Por isso, os estudiosos da Bíblia, ao falar da santificação, afirmam que, ao mesmo tempo em que ela é uma separação do pecado, é, também, uma separação para Deus.

O salvo não apenas é mantido separado do pecado, não apenas é liberto do pecado, mas também é posto numa posição de serviço, de destaque e de designação por parte do Senhor, para que produza obras que levem à glorificação do Seu nome.

– Jesus, gerado por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:35), manteve-Se sem pecado durante toda a Sua existência terrena, mas, além de viver separado do pecado, também foi separado para Deus, a fim de fazer bem e curar a todos os oprimidos do diabo (At.10:38), para consumar a obra da salvação, glorificando o nome do Pai (Jo.17:4). Nós, como membros do corpo de Cristo (I Co.12:27), devemos, igualmente, repetir o que fez o nosso Mestre, seguindo as Suas pisadas (I Pe.2:21).

– A santificação envolve a nossa disposição para produzir fruto, ou seja, para sermos instrumentos nas mãos do Senhor para a glória do Seu nome.

Isto somente se dará se tivermos atitudes que denunciem a nossa nova natureza. A conduta do cristão deve ser totalmente diferente das dos demais homens, porque temos um propósito, que é o de fazer com que os homens glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus (Mt.5:16).

– Em Lv.20:26, Deus diz a Israel que o havia separado dos outros povos para que eles fossem Seus. Vemos aqui as duas dimensões da santificação: de um lado, a separação dos outros povos, ou seja, a separação do pecado; de outro, a separação para que Israel fosse propriedade peculiar de Deus entre as nações (cf. Ex.19:5,6), i.e., uma separação para Deus.

– Esta separação para Deus envolve, portanto, num primeiro instante, a consciência por parte do salvo de que ele agora não mais vive, mas é Cristo que vive nele (Gl.2:20). Quando somos salvos, devemos estar conscientes de que a salvação traz a nós um propósito divino para nossas vidas.

– Não mais andamos segundo a nossa vontade, mas, sim, segundo a vontade d’Aquele que nos salvou. Deixamos de ter querer e o nosso querer passa a estar submetido à vontade divina.

Passamos a ser guiados pelo Espírito de Deus (Rm.8:14), passamos a ter uma vida dirigida por Deus. É, aliás, neste sentido que Jesus diz que o nascido da água e do Espírito é como o vento que sopra, que não sabe de onde veio nem para onde vai (Jo.3:8). Não dependemos mais dos nossos planos nem de nossas ideias, mas estamos, sempre, à disposição do Senhor e da Sua vontade.

– Somos propriedade peculiar de Deus, passamos a pertencer-Lhe e isto nos faz com que ajamos e estejamos onde, como e quando Ele assim desejar no cumprimento da Sua vontade. O lado positivo da santificação, o lado positivo da salvação exige, portanto, obediência e submissão ao Senhor.

– Coisa bem diversa do que ensinam os arautos da chamada “confissão positiva”, que veem uma absurda e antibíblica subordinação de Deus ao crente através de “determinações”, “declarações” e outras fábulas criadas para mostrar um “lado positivo” da salvação, repleto de “direitos” dos salvos.

– No entanto, como vemos, o lado positivo da santificação traz-nos deveres, obrigações, tarefas que nos são cometidas pelo nosso Senhor, pelo nosso Dono, pois fomos separados para sermos de Deus. É, por isso, que o apóstolo Pedro é enfático ao afirmar que fomos salvos “…para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (I Pe.1:2 “in medio”).

– A separação para Deus, também, tem o objetivo de nos conservar irrepreensíveis para a vinda de Jesus (I Ts.5:23). Um dos objetivos da santificação, nesta separação para Deus, é a de nos tornar insuscetíveis a qualquer censura ou repreensão, ou seja, de nos tornar exemplos e referências para todos os homens com quem convivemos.

– Quando somos separados para Deus, somos separados para sermos exemplo aos outros homens, para sermos testemunhas da transformação que Cristo opera no ser humano e, assim, sermos instrumentos para que os homens glorifiquem a Deus, reconheçam Sua soberania e Seu poder.

Assim como os tropeços dos salvos contribuem extremamente para o descrédito em Deus e na Sua Palavra (e os tropeços são chamados de “escândalos”, que é a palavra grega para tropeço), assim também a conduta irrepreensível de um salvo é uma grande pregação e demonstração do poder de Deus aos homens.

– Além de nos fazer instrumentos para a glorificação do Senhor, a separação para Deus permite-nos conservar separados do pecado, aguardando o instante final de nossa salvação, que é a glorificação, daí porque o apóstolo Paulo ter dito que esta conservação é para a vinda do Senhor, pois, a partir de então, seremos transformados e, glorificados, ficaremos para sempre livres do “corpo do pecado”.

A santificação é um dos fatores que nos mantêm preparados e vigilantes para a volta de Cristo (Hb.12:14; I Ts.5:23; Ap.19:7,8).

– É neste sentido que a santificação se equipara à “consagração”, termo muito utilizado pelos crentes pentecostais.

– Se formos ao Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, veremos que “consagração” vem do latim tardio “consecratio”, que era o ato de tornar sagrado, o oferecimento aos deuses. Sagrado é aquilo que é separado para o culto, algo cujo uso é destinado tão somente ao culto de uma divindade.

– O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), considerado o primeiro sociólogo enquanto tal, ensinava que uma das principais tarefas de uma religião era a distinção entre o que era sagrado e o que era profano, ou seja, aquilo que estava destinado ao uso no culto e o que poderia ser usado para qualquer outro fim, distinção, aliás, que nos remete, na Bíblia Sagrada, a Lv.10:10, Ez.22:26 e 44:23, textos que deveriam ser do conhecimento deste sociólogo, que era judeu.

– A consagração é, como se verifica, pelo próprio significado da palavra, a destinação exclusiva para o uso da divindade ou para fins de culto, ou seja, a consagração significa a entrega total ao Senhor.

– Na lei de Moisés, a consagração se encontrava regrada em Lv.27:28-34, onde se verifica que havia uma dedicação integral dos bens ou das pessoas ao Senhor, de modo perpétuo e irrevogável.

A consagração faz com que o bem ou pessoa não mais pertença a quem quer que seja, mas, sim, a Deus. Neste sentido, consagração corresponde ao lado positivo da santificação, ou seja, a santificação enquanto destinação de algo para uso exclusivo do Senhor.

OBS: “…Consagração era um depósito total, completo, sem retorno. Não se podia arrepender depois do ato de consagração, não havia retorno. Aquilo que se consagra não se redime, não se resgata.(…). Consagrar é entregar tudo(…)é entregar o todo da promessa a Deus.…” (ROCHA, A. Nelson. Quando a consagração é o voto da falência, p.32,37) (destaque original).

– Aquilo que é consagrado, pertence a Deus e não pode ser utilizado para qualquer outro fim. Por isso, não podemos consagrar bens ou pessoas e utilizá-los fora dos propósitos de louvor e adoração a Deus.

Os crentes, também, estão consagrados ao Senhor, foram ungidos sacerdotes reais e, portanto, não podem, em hipótese alguma, em suas vidas, servirem a outro propósito que não seja a glória de Deus. Será que somos realmente consagrados a Deus?

III – A SANTIFICAÇÃO COMO REVESTIMENTO DA PLENITUDE DE CRISTO

– Mas a santificação envolve também um outro aspecto, qual seja, o revestimento da plenitude de Cristo.

“…A santificação também significa um revestimento da plenitude de Cristo. A mesma vida que foi separado do mundo e entregue a Deus, fica cheia da plenitude de Deus…” (BÉRGSTEN, Eurico. Teologia sistemática: doutrina do Espírito Santo, do homem, do pecado e da salvação, p.147) (destaque original).

– Há um intervalo de tempo entre o instante em que aceitamos a Cristo como Senhor e Salvador de nossas vidas e, por isso, somos justificados pela fé em Cristo, e o momento em que alcançaremos a glorificação.

Neste intervalo, enquanto estamos separados do pecado e, simultaneamente, separados para Deus, não permanecemos estáticos, pois a vida jamais comporta a imobilidade ou a paralisia. Vida é constante movimento, é dinâmica, é contínua mobilidade.

Por isso, mesmo, as Escrituras estão repletas de passagens em que nos fala do crescimento espiritual e do aperfeiçoamento dos santos.

– O crescimento espiritual do salvo, o seu aperfeiçoamento faz parte deste revestimento da plenitude de Cristo de agora se está a tratar.

O salvo tem como meta atingir a estatura completa de Cristo, a qualidade de varão perfeito (Ef.4:13), não sendo por outra razão que Jesus destacou, na Igreja, os dons ministeriais, cuja função é, precisamente, promover o aperfeiçoamento dos santos (Ef.4:11,12).

– A igreja, enquanto organismo vivo, deve crescer (Ef.4:15,16), crescimento que se deve dar tanto na graça quanto no conhecimento de Cristo Jesus (II Pe.3:18).

Este crescimento é um dos aspectos da santificação, crescimento este que tem como objetivo tornar-nos cada vez mais semelhantes a Cristo, cada vez mais parecidos com Ele (Rm.8:29).

Esta semelhança somente se torna possível quando nos arraigamos e fundamos em amor e conheçamos o amor de Cristo, que excede todo o nosso entendimento (Ef.3:16-19).

– É absolutamente necessário que desenvolvamos a nossa fé, mediante o conhecimento de Cristo, conhecimento este que somente se dará por intermédio da Sua Palavra.

O Senhor disse que as Suas ovelhas conhecem a Sua voz (Jo.10:14) e só conheceremos a voz do Senhor se conhecermos a Sua Palavra (Jo.5:39).

OBS: “…Uma vez que tenhamos respondido sim a Ele [Jesus, observação nossa], continuaremos a segui-lO porque Seu caminho nos traz a vida e a paz.

Devemos diariamente preferir conscientemente centralizar nossa vida em Deus. Leia a Bíblia para descobrir as diretrizes divinas e passe a segui-las.

Em cada situação de perplexidade, pergunte a si mesmo: o que Jesus gostaria que eu fizesse? Quando o Espírito Santo indicar o que é certo, faça-o imediatamente.…” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, nota a Rm.8.5,6, p.1565).

– A vida espiritual, assim como a vida material, tem de se submeter a um contínuo crescimento. Não é à toa que Jesus compara o início da vida espiritual como sendo o novo nascimento.

Assim como a vida física se inicia com a geração, também a vida espiritual é iniciada pela nova geração, a “regeneração”, a partir da qual se inicia todo o processo de crescimento espiritual. Por isso, a Bíblia fala em meninos em Cristo (I Co.3:1) e a pessoas que têm maturidade, a ponto de produzir fruto (Jo.15:16).

OBS: “…Regeneração é a transformação do pecador numa nova criatura pelo poder de Deus, como resultado do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário [Ii Co.5:17-19]…” (DFAD X.3, p.112).

– A santificação, tomada neste aspecto, foi a mencionada pelo Senhor na Sua oração sacerdotal (Jo.17:17), quando nos mostra que o principal meio de santificação do salvo sob este aspecto se encontra na Sua Palavra.

A Palavra de Deus não só nos promove a lavagem da regeneração (Tt.3:5), como também nos permite, pela sua contínua meditação (Sl.1:2), sermos constantemente orientados, guiados e dirigidos pelo Espírito de Deus.

– Através da santificação mediante o conhecimento incessante do Senhor (Os.6:3), a iluminação que recebemos do Senhor, quando do encontro com Ele por ocasião de nossa salvação, aumenta a cada dia, a cada momento.

Daí porque o profeta Oseias ter dito que o conhecimento do Senhor é como a alva, ou seja, como o amanhecer, quando a luz do Sol desponta e, embora traga a claridade, dissipando a escuridão, é pequena perto do esplendor que se dá ao meio-dia, o que, aliás, é ensinado também pelo proverbista (Pv.4:18).

Dentro deste sentido, também, o apóstolo Paulo diz que o salvo é um espelho que, transformado de glória em glória, reflete a imagem de Cristo (II Co.3:18).

– Na antiga aliança, dois episódios bem figuram esta realidade espiritual. Tanto na dedicação do tabernáculo por Moisés (Ex.40:34,35), quanto na dedicação do templo por Salomão (I Rs.8:10,11), após a inauguração destas casas, é dito que a glória de Deus as encheu, de tal maneira que se tornou impossível entrar no local, tornando-se estes locais de adoração semelhantes ao céu, onde está o Rei da Glória (Sl.24:7-10).

– Assim como o tabernáculo de Moisés ou o templo de Salomão, o salvo, que é o templo do Espírito Santo, necessita ser, também, cheio da glória de Deus, para que os homens possam contemplar, a exemplo dos israelitas, a presença de Deus no seu meio, por nosso intermédio.

– E aqui, ainda aludindo aos dois episódios mencionados, vemos que, quando da inauguração do segundo templo, construído por Zorobabel, não houve a manifestação da glória de Deus, o que talvez tenha sido a razão pela qual os idosos lamentaram e choraram naquele dia, porque tivessem achado que o Senhor ou não aprovara a reconstrução, ou os abandonara (Ed.3:12).

– No entanto, o profeta Ageu retirou toda e qualquer dúvida a respeito, ao dizer que a glória da segunda casa seria maior que a da primeira (Ag.2:9), porque nela haveria de comparecer o Desejado de todas as nações (Ag.2:7).

– Efetivamente, foi este segundo templo frequentado por Jesus, a mostrar que esta segunda casa viu a glória de Deus na sua plenitude, o que nos mostra como o salvo em Jesus, sendo morada do Senhor (Jo.14:23), é o receptáculo da glória de Deus, tem de, necessariamente, refletir a glória divina (Mt.5:16; I Co.3:18).

– Isto somente se dará se houver a santificação, o crescimento espiritual que nos tornará cada dia mais semelhantes a Cristo (Pv.4:18; Rm.8:29; Ef.4:12,13), num desenvolvimento que não tem fim, vez que a perfeição é inatingível enquanto estivermos neste mundo.

O instante final desta jornada será a glorificação propriamente dita, o que ocorrerá quando da vinda de Jesus para arrebatar a Sua Igreja.

– A santificação, como se percebe, portanto, é um processo contínuo e progressivo. Santificamo-nos a cada dia, a cada instante devemos buscar mais da glória do Senhor, brilhar mais e mais, pois ainda não é dia perfeito.

Por isso, não podemos jamais pensar em parar a nossa jornada, nem “estacionar” do ponto-de-vista espiritual, pois a nossa vida é uma carreira, que só terminará na volta do Senhor.

– “Parar”, “estacionar” nada mais é que “regredir”, “recuar”, “retirar-se para a perdição” e a Bíblia é clara ao dizer que quem assim procede desagrada a Deus (Hb.10:38,39).

OBS: “…ser ‘guiado pelo Espírito de Deus’ envolve mortificar progressivamente os apetites pecaminosos de natureza inferior. Isso implica que, enquanto todos os cristãos estão, de forma geral, sendo ‘guiados pelo Espírito de Deus’, existem graus crescentes de ser guiado pelo Espírito.

Quanto mais completamente as pessoas forem guiadas pelo Espírito Santo, mais completamente obedientes a Deus elas serão e se viverão conforme seus padrões de santidade. Visto que a palavra grega traduzida por guiados é um particípio presente, pode ser traduzida por ‘tantos quantos estão continuamente sendo guiados pelo Espírito de Deus’.

Esta direção não deve se restringir ao conhecimento objetivo dos mandamentos das Escrituras e ao esforço consciente para obedecer-lhes (embora mais certamente o inclua).

Ao invés disso, inclui mais completamente o fator subjetivo de ser sensível às inspirações do Espírito Santo durante todo o dia, inspirações que, se genuínas do Espírito Santo, nunca nos estimularão a agir contrariamente às Escrituras.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, nota a Rm.8:14, p.1160) (destaque original).

– Quanto a este aspecto, ainda, é importante verificarmos que a santificação importa em revestimento da plenitude de Cristo, ou seja, quanto mais santificados formos, menos apareceremos, mas refletiremos a imagem do Senhor.

– Um dos grandes erros tem sido o de confundir a santificação neste sentido de crescimento espiritual com a exaltação do salvo e não do Salvador.

A verdadeira santificação faz com que tenhamos o mesmo sentimento de João Batista, ou seja, do de diminuirmos para que Cristo cresça (Jo.3:30), tanto que Paulo diz que, em o nosso crescimento espiritual, há a formação de Cristo em nós (Gl.4:19).

Portanto, quando crescemos espiritualmente, assumimos a forma de Cristo, ou seja, o jeito de Cristo, a ponto de as pessoas não nos verem, mas, sim, a Cristo.

– É por isto que é dito que a santificação nos faz participantes da natureza divina. Passamos a não ter mais pecado, em virtude do perdão recebido pelo sacrifício de Cristo no Calvário e a cada dia mais termos semelhança da imagem de Deus, que é a própria imagem de Cristo, Deus feito homem.

– Em razão disto, o salvo externa a própria natureza divina, daí porque ser chamado de “filho de Deus”

(Rm.8:16), filho por adoção, já que não o era por natureza, vez que possuía a natureza pecaminosa, agora crucificada com Cristo.

Esta filiação divina mostra que somos herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:17), que temos a mesma natureza do Pai e do Filho, fazendo jus à vida eterna, a morar na casa do Pai (Jo.14:1-3).

– Não é verdadeiro crescimento espiritual, portanto, aquele que traz a exaltação da figura humana. Quantos não têm se apresentado, no meio evangélico, como “patriarcas”, “apóstolos”, “paipóstolos”, “anjos de fogo” e tantas coisas mais, aparecendo mais do que Cristo? Quantos, inclusive, não têm defendido que devem ter, sim, discípulos seus, esquecendo-se que devemos, todos, ser discípulos e servos de Cristo Jesus?

– Isto tudo é uma eloquente demonstração de que esta santificação não existe, que as pessoas não estão a trilhar o correto caminho bíblico, que não passam de falsos mestres, de falsos apóstolos, vez que não estão refletindo a glória de Deus, nem tampouco se assemelham a Cristo, mas, antes, comportam-se como os homens amantes de si mesmo e arrogantes que surgiriam nos tempos trabalhosos dos últimos dias (cf. II Tm.3:1-5).

– Vemos, assim, que distorções que têm invadido o segmento evangélico, como o “movimento apostólico”, o “movimento celular”, “movimento de discipulado apostólico”, como se fossem ramificações ou radicalizações do pentecostalismo são, na verdade, o avesso da verdade bíblica, verdadeiras heresias que devem ser rechaçadas e combatidas.

– A santificação enquanto crescimento espiritual, também, não pode se fazer sem a Palavra de Deus. Todo crescimento espiritual está firmado no conhecimento de Jesus Cristo e este conhecimento se dá, especificamente, pela Palavra do Senhor.

– Portanto, sem qualquer cabimento as inovações que se fazem, nos últimos dias, em nome do “crescimento espiritual”, com base em “novas visões”, “nova unção” ou “novos dons”.

Nada disso pode trazer real e verdadeiro crescimento espiritual, pois o crescimento é a formação de Cristo em nós, é o crescimento no conhecimento de Cristo Jesus.

– A santificação dá-se na verdade, verdade que é a Palavra de Deus (Jo.17:17). A Palavra que lavou para a regeneração é a mesma água que dá o crescimento da planta nascida (I Co.3:6).

A água é a Palavra, Palavra esta que foi a utilizada na evangelização e que permanecerá para sempre (I Pe.1:25). Sem a Palavra, jamais alcançaremos o dia perfeito, jamais teremos condição de ver a luz do meio-dia (Is.8:20).

IV – A SANTIFICAÇÃO NÃO É SEPARAÇÃO DO CONVÍVIO SOCIAL

– A santificação significa separação do pecado e não, separação dos pecadores, como muitos têm confundido. Santificação não é isolacionismo nem tampouco sectarismo.

– Há muitos que têm, ao longo da história da Igreja, confundido a santificação com o isolamento social. Foi, aliás, em virtude desta confusão, que já existia nos tempos de Jesus entre os judeus, que surgiu o “monasticismo cristão”, ou seja, o movimento que defendeu que a santidade deveria ser obtida mediante a vida solitária, mediante o isolamento do convívio social.

– A ideia de isolamento dos outros para se obter a santidade ou o crescimento espiritual não é própria do cristianismo. Muito pelo contrário, já era prática corrente entre os hinduístas e os budistas bem antes do seu próprio aparecimento entre os judeus.

– Nos dias de Jesus, havia um segmento religioso, os essênios, que era adepto deste isolamento, como nos mostram os escritos descobertos em Qunram, no Mar Morto, onde se acharam os mais antigos manuscritos dos textos sagrados, local onde existiu uma comunidade destes judeus que buscavam, no isolamento, a obtenção da santidade.

– Os próprios fariseus, ainda que não se isolassem da comunidade, faziam questão de se mostrar separados dos segmentos sociais considerados “impuros”, como os publicanos e as meretrizes, tanto que a palavra “fariseu”, segundo a maior parte dos estudiosos, significa “separado”, ou seja, alguém que faz questão de se isolar de outras pessoas.

– Esta prática, que se disseminou entre os cristãos por volta do terceiro ou quarto século, no entanto, tem um grande equívoco.

A Bíblia exige a separação do pecado, não dos pecadores. Com relação a isto, aliás, o próprio Jesus foi enfático em Sua oração sacerdotal, ao dizer que não pedia ao Pai que tirasse os salvos do mundo, mas tão somente que os livrasse do mal (Jo.17:15).

Ele próprio deu o exemplo: em todo o Seu ministério, jamais se isolou dos pecadores, tanto que isto foi um dos pontos principais da censura dos fariseus ao Senhor (Mt.9:10,11), censura que foi repelida por Cristo (Mt.9:12,13).

– A igreja, feita para evangelizar o mundo, para continuar a obra de Cristo, não pode se isolar da comunidade, pois, se o fizer, estará negando a sua própria missão. Quem deve ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda a criatura, não pode, em absoluto, isolar-se de pessoas.

– No entanto, esta prática tem sido encontrada em diversas igrejas locais que, embora não se denominem de monges ou seus templos, de conventos, estão verdadeiramente enclausurados no seu “mundinho”, isolando-se dos “ímpios” e dos “pecadores”, negando a própria razão de ser de sua existência.

Jesus foi claríssimo ao afirmar que, como luzes do mundo, Seus discípulos não poderiam se esconder do mundo, mas, antes, aparecer para mostrar a glória do Pai (Mt.5:14-16).

– Um comportamento que confunde a santificação com o isolamento do mundo descamba para a “santarronice”, para o farisaísmo dos dias de Jesus.

Devemos ser sal da terra e a função do sal é infiltrar-se no meio dos alimentos, a fim de lhes dar sabor, de permitir a sua conservação, evitando a sua deterioração, como também , no caso de feridas e machucados, naquela época, servir para a cicatrização, para o restabelecimento dos tecidos rompidos.

– Como filhos de Deus, herdeiros do Pai e coerdeiros de Cristo, temos, também, a mesma responsabilidade que tinha o Senhor, qual seja, a de levar saúde aos doentes, de sermos médicos para os enfermos.

– Não nos esqueçamos que o herdeiro sucede tanto nos direitos, quanto nas obrigações. Se ganhamos, por sermos filhos de Deus, o direito de entrarmos na cidade santa, onde Jesus já está e para onde Ele nos levará, também, enquanto estivermos aqui na Terra, também recebemos a mesma responsabilidade que esteve sobre os ombros de Cristo: o de glorificar o nome do Pai na Terra consumando a obra que Ele nos deu a fazer (Jo.17:4).

– Esta obra era, entre outras coisas, fazer bem e curar os oprimidos do diabo (At.10:38), evangelizar os pobres, curar os quebrantados do coração, apregoar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e anunciar o ano aceitável do Senhor (Lc.4:18,19).

Foi para isto que fomos salvos, para isto que fomos separados do pecado, separados para Deus e revestidos da plenitude de Cristo.

– Bem se vê como esta proposta divina de santificação nada tem que ver com o isolacionismo defendido por muitos.

Esta visão distorcida da santificação é uma das principais responsáveis pelo “moderno farisaísmo”, que tem dominado, infelizmente, muitas igrejas locais e que só tem trazido a repugnância do Senhor e uma opressão desmedida sobre os ombros de milhares, quiçá milhões de crentes.

– Que bom seria se voltássemos à simplicidade que há em Cristo Jesus (II Co.11:3) e não nos deixássemos enganar pela hipocrisia, que é a essência do farisaísmo, como o Senhor deixou evidente no Seu mais duro discurso, precisamente contra os fariseus e sua hipocrisia (Mt.23). Devemos viver separados do pecado, não pecar, mas isto nada tem que ver com viver longe dos pecadores ou evitá-los.

Como os pecadores se arrependerão, se não houver quem pregue? E quem pode pregar a não ser os salvos? (Rm.10:14).

– A santificação não se confunde com o isolamento da sociedade, mas isto também não pode dar guarida àqueles que, em nome de uma atividade evangelizadora, misturam-se com os pecadores e, o que não é correto, com o pecado dos pecadores.

Quantos, na atualidade, sob pretexto de evangelizar, não pecam juntamente com os pecadores ou consentem com o pecado dos ímpios, que deveriam denunciar? Quantos, a pretexto de evangelizar, não praticam as mesmas coisas que os que deveriam ser evangelizados?

– Para estes que, aproveitando-se do erro dos “santarrões”, tornam-se os “modernos nicolaítas”, aceitando a vida de pecado, o apóstolo Paulo, na carta aos romanos, afirmou:

“de maneira, irmãos, somos devedores, não à carne, para viver segundo a carne, porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” (Rm.8:12,13).

– Assim, se toda e qualquer “evangelização”, levar as pessoas a praticar as obras da carne, descritas pelo apóstolo em Gl.5:19-21, estaremos diante de um engano, de uma mentira satânica, pois, em vez de “evangelização”, estaremos, mesmo, diante daqueles que pertencem à sinagoga de Satanás (cf. Ap.2:9; 3:9), que se dizem crentes, mas mentem, pois não o são.

– Que Deus possa nos abençoar e que saibamos, precisamente, viver em santidade e, assim, prosseguirmos no nosso processo de salvação, até o instante da glorificação, que também é chamada de “santificação futura”.

V – A SANTIFICAÇÃO NÃO É DEMONSTRAÇÃO DE PODER, SINAIS OU MARAVILHAS

– Um dos principais problemas que têm acompanhado o atual avivamento da Igreja por intermédio do movimento pentecostal mundial, iniciado em 1906 na rua Azusa, é o fato de que muitos têm confundido a santificação com a demonstração do poder de Deus.

– A partir do momento que a Igreja se despertou para a realidade atual da operação do Espírito Santo com poder, a partir do batismo com o Espírito Santo e da manifestação dos dons espirituais, o Senhor, cumprindo a Sua Palavra, passou a demonstrar como permanece o mesmo, como nos tempos apostólicos e, em virtude disto, muitos sinais e maravilhas, que muitos achavam que se circunscreviam apenas às páginas do Novo Testamento, passaram a ocorrer diariamente, em todos os lugares deste planeta, numa evidência de que Deus não muda e que está disposto a confirmar a Sua Palavra com sinais e maravilhas (Mt.16:20).

– Esta circunstância, porém, fez com que, cedo, muitos passassem a confundir a santificação com a posse seja do dom do Espírito Santo (o batismo com o Espírito Santo), seja dos dons espirituais, como se a presença destas bênçãos na vida das pessoas significasse que ela se encontrava em um nível superior de santidade.

– As manifestações espirituais de poder de Deus, em especial, as que passaram a ser buscadas com grande intensidade pelos crentes pentecostais, são, sim, manifestações provenientes de um Deus santo e que somente pode habitar e operar em vidas santas, em vasos de honra apropriados para o Seu uso (II Tm.2:21).

– No entanto, devemos observar que as manifestações espirituais são esporádicas, instantâneas e momentâneas, que acontecem por causa de propósitos do Senhor, propósitos estes que serão atingidos ainda que não haja algum servo que esteja disposto a contribuir para que sejam alcançados.

– Desta maneira, a operação divina se utiliza de vasos de honra, que se encontram em santidade, para que sejam alcançados os propósitos estabelecidos pelo Senhor, mas não há uma limitação de Deus para que a operação se realize, caso não se tenha um vaso de honra para fazê-lo.

O próprio Jesus, certa feita, deu conta disto ao dizer que, se mandasse as pessoas que O louvavam se calar, as próprias pedras, se necessário fosse, clamariam em lugar das pessoas, pois era propósito de Deus que houvesse aquele louvor (Lc.19:40).

– O que se verifica, portanto, que não é a santidade do instrumento escolhido para a manifestação espiritual o principal fator para que ocorra uma demonstração de poder de Deus, mas, sim, a existência de um propósito divino naquela operação.

– Como não podemos entender os desígnios divinos (Is.55:8,9), não se pode, pois, considerar que uma manifestação espiritual, uma operação sobrenatural seja critério para aferição de santidade de alguém.

– Santificação, portanto, não se confunde com a demonstração de poder e tanto assim é que Jesus, em Seu sermão profético, fez questão de alertar os crentes para que não se deixassem iludir pelos sinais e prodígios que se fizessem nos últimos dias, porque seriam realizações de falsos cristos e de falsos profetas (Mt.24:24-26), muitos que estariam no próprio “interior da casa”, ou seja, entre nós, nas igrejas locais.

– Com efeito, devemos lembrar que, além de as manifestações espirituais ocorrerem segundo os propósitos divinos e não segundo a santidade do instrumento utilizado para a demonstração do poder divino, o inimigo também opera e de forma sobrenatural, como nos dão conta, por exemplo, os magos de Faraó, que repetiram, até a praga dos piolhos, todos os sinais que foram produzidos por Deus por intermédio de Moisés.

Aliás, os sinais anunciados por Jesus no sermão profético são, precisamente, manifestações da eficácia de Satanás, que atingirá seu ápice e apogeu com o Anticristo (II Ts.2:9).

Vivemos, mesmo, um período em que aumentam as manifestações sobrenaturais malignas, de forma que todo cuidado é pouco quando nos defrontarmos com algum prodígio.

– Assim, além de a manifestação sobrenatural, em si, não ser prova alguma da santidade do instrumento utilizado para a sua realização, o fato de ela ser esporádica e instantânea já nos mostra, também, que não é de santificação de que se trata, pois, como vimos, a santificação é uma continuidade, é um processo longo e duradouro, que somente terminará com a volta do Senhor.

– Não é outro o motivo pelo qual o Senhor nos manda olhar para os frutos das pessoas que nos cercam, para sabermos se se trata de um profeta verdadeiro ou não (Mt.7:15-20).

Não existe outro critério mais claro de se verificar a natureza de uma árvore que o de observar o seu fruto e é por isso que Jesus nos manda observar os frutos produzidos pelos “santos” para saber se se trata, verdadeiramente, de santos ou se se trata de falsos profetas, lobos cruéis travestidos de ovelhas e que devoram o rebanho do Senhor.

– Por isso, muito mais importante do que saber se alguém tem este ou aquele dom espiritual, se é, ou não, batizado com o Espírito Santo, deve-se atentar para os frutos que são produzidos por estas pessoas, pois é aí que observaremos se são, ou não, pessoas que vivem separadas do pecado, pessoas que se santificam e que, por isso mesmo, são candidatas ao arrebatamento da Igreja.

– De tudo o que vimos, pois, resta-nos tão somente seguir o conselho das Escrituras, que mostra quão importante é seguirmos a santificação, sem a qual ninguém verá a Deus:

“Quem é injusto, faça injustiça ainda e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda e quem é santo, seja santificado ainda.” (Ap.22:11). Qual tem sido a nossa conduta?

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6176-licao-6-santificacao-comprometidos-com-a-etica-do-espirito-i

Vídeo 02: https://youtu.be/yPa8k_aQ68c

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *