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LIÇÃO Nº 8 – OS IMPÉRIOS MUNDIAIS E O REINO DO MESSIAS

lição 08

Deus deu visões a Daniel a respeito do futuro de Israel.

Leitura Diária, com o Pr. José Serafim de Oliveira

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do livro do profeta Daniel, iniciaremos o estudo da sua “parte escatológica” ou “parte profética”, analisando o capítulo sete.

– Deus deu visões a Daniel a respeito do futuro de Israel, a fim de seu povo mantivesse a esperança messiânica.

I – DEUS COMEÇA A DAR VISÕES A DANIEL SOBRE O FUTURO DE ISRAEL

– Na sequência do estudo do livro do profeta Daniel, damos início hoje ao segundo bloco do trimestre, que estudará a segunda parte do livro, dos capítulos sete a doze, quando o profeta relata visões que teve da parte de Deus a respeito do futuro de Israel, ao longo de sua vida na Babilônia e em Susã, capital do Império Persa.

– Daniel foi escolhido por Deus para trazer revelações a respeito do futuro de Israel, a fim de que o povo judeu mantivesse a esperança messiânica e ficasse consciente que, apesar do cativeiro da Babilônia, estavam completamente imutáveis os projetos de Deus para Israel, a fim de torná-lo reino sacerdotal e povo santo.

– Daniel passa a relatar as visões que teve da parte de Deus, visões que falavam sobre o futuro de Israel, uma vez que, pelo que observamos do início do capítulo nove deste livro, era a preocupação principal de Daniel em sua vida de comunhão com o Senhor.

Nem poderia deixar de ser de outra maneira, pois Daniel, desde antes de ser levado cativo para a Babilônia, era profundo conhecedor das Escrituras e sabia das profecias messiânicas, que indicavam que Israel seria redimido por Deus por intermédio de um descendente da casa de Davi, cumprindo-se, assim, o desiderato divino de Israel ser reino sacerdotal e povo santo, como estabelecido na aliança firmada com o Senhor no monte Sinai (Ex.19:5,6).

– Tudo indica que, após a morte de Nabucodonosor e a deposição de Evil-Merodaque, o filho de Nabucodonosor que o sucedeu, Daniel foi “esquecido” na corte de Babilônia, que passou momentos de instabilidade política, pois, segundo a história, Evil-Merodaque foi morto pelo seu cunhado Nerglissar, que reinou por cerca de quatro anos, tendo sido sucedido por seu filho Labashi-Marduk, que, após reinar apenas nove meses, foi, também, deposto, sendo sucedido por Nabonido, outro genro de Nabucodonosor que, após três anos de governo, passou a dividir o governo do reino com seu filho Belsazar.

– Naturalmente, os judeus, que haviam sido prestigiados por Nabucodonosor e por Evil-Merodaque, foram afastados das principais funções do reino por Nerglissar, o que envolveu o próprio Daniel, já, então, seguindo-se a cronologia de Edward Reese e Frank Klassen, já com 74 anos de idade.

– Como se não bastasse esta situação, a história registra-nos que Nabonido, ao assumir o governo (governo que durou 16 anos), passou a tentar intensificar a religião babilônica, entendendo que os problemas políticos, econômicos e sociais que Babilônia começava a passar era em virtude de uma certa negligência na adoração aos deuses babilônios, não devendo nos esquecer de que Nabonido havia subido ao poder com apoio da classe sacerdotal, o que justifica esta linha de pensamento que, naturalmente, afastava qualquer possibilidade de participação dos judeus no dia-a-dia do governo.

– Tal situação, certamente, fez com que Daniel passasse a questionar o que estava a ocorrer na corte de Babilônia e o que seria do seu povo, que estava cativo ali há décadas. Afinal de contas, o povo judeu havia mudado a sua condição em Babilônia, já que, com as mudanças de governo, não havia mais judeus influentes na corte babilônica.

Estaria Judá correndo risco de sofrer represálias por parte dos novos governantes de Babilônia? Como poderiam os judeus retornar à sua terra, como prometido através do profeta Jeremias? Como Judá, que continuava cativo e agora perdia posições importantes na corte babilônia poderia ver cumpridas as profecias messiânicas, já que o quadro político internacional era totalmente adverso a isto?

OBS: “…Antes de tudo, devemos tentar entender o desígnio do Espírito Santo; ou, seja, o fim e o uso para os quais ele revelou a Daniel o conteúdo deste capítulo. Todos os profetas insistiram com o povo eleito sobre a esperança de livramento, depois que Deus houvera castigado neles sua ingratidão e obstinação. Ao lermos o que outros profetas anunciaram concernente a sua redenção futura, presumiríamos que à Igreja fora prometido um estado feliz, tranquilo e completamente pacífico, depois que o povo houvesse regressado do cativeiro.

A história, porém, testifica quão diferente foi tal regresso. Pois os fiéis teriam caído exaustos e teriam apostatado, a menos que fossem admoestados sobre as diversas perturbações que estavam por vir.

 Eis aqui, pois, a primeira razão por que Deus revelara a seu Profeta o que logo veremos; ou, seja, que ainda restavam três monarcas, cada um dos quais sucederia o anterior, e que durante seu governo todos os fiéis teriam que perseverar em permanente e constante confiança nas promessas, ainda que vissem o mundo inteiro estremecer e severas e angustiantes convulsões prevalecendo por toda parte. Por essa razão, aqui se apresenta a visão de Daniel concernente aos quatro impérios.…” (CALVINO, João. Trad. de Valter Graciano Martins. Digitaliz. por jogois2006. Daniel, v.2, pp.9-10).

– Diante destas circunstâncias tão adversas, o Senhor começa a dar visões ao profeta Daniel, lembrando-lhe que ele havia sido escolhido para trazer ao povo judeu o “roteiro” de seu futuro, a fim de que não deixasse de crer na veracidade das profecias messiânicas nem perdesse a esperança de que se tornaria o reino sacerdotal e o povo santo, como prometido desde a aliança firmada no monte Sinai.

– São estas visões que Daniel passa a descrever a partir do capítulo sete do seu livro, fazendo questão de datá-las, a fim de que todos os judeus e os que viessem a ler suas visões mantivessem a esperança messiânica e tivessem uma vida de fidelidade a Deus.

II – A VISÃO DOS QUATRO ANIMAIS SIMBÓLICOS

– A primeira visão descrita pelo profeta Daniel deu-se no primeiro ano de Belsazar, rei de Babilônia, ou seja, segundo Edward Reese, em 550 a.C., quando o profeta já contava com 78 anos de idade.

– Era um momento em que Daniel verificava que os judeus não teriam mais espaço no reino de Babilônia, visto que Belsazar, que el vira nascer na corte de Babilônia, era pessoa completamente alheia às coisas de Deus, alguém que só “ouvira falar” de Daniel, que não tinha interesse algum em servir a Deus, em aprender com o que havia sofrido o seu avô Nabucodonosor (Dn.5:1-4,13,14). É neste instante, em que a perplexidade domina o profeta que Deus começa a revelar-lhe o futuro da sua nação.

– Devemos ter isto bem em conta pois as profecias de Daniel devem ser entendidas neste contexto a respeito do futuro de Israel. Daniel foi levantado por Deus para falar a respeito do futuro do povo judeu, de modo que não temos que procurar, em suas profecias, coisas relacionadas com a Igreja, residindo aqui um dos principais equívocos que têm levantado teorias sem respaldo bíblico, muitas, aliás, tendo dado origem a heresias.

– Deus vem a Daniel para revelar-lhe as coisas concernentes a Israel e esta visão dos quatro animais simbólicos, a primeira visão recebida por Daniel e que dá início à segunda parte de seu livro, mostra, claramente, que o sonho dado ao rei Nabucodonosor, o sonho da estátua, não se tratava apenas de uma revelação ao rei, mas, sobretudo, tinha sido uma revelação ao próprio Daniel, então um iniciante na corte babilônia.

OBS: “…O que Deus revelou ao Rei Nabucodonosor no capítulo 2, cujo sonho foi interpretado por Daniel, no capítulo 7, o Senhor revelou a Daniel com imagens diferentes. Foi a mesma revelação.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. Panorama histórico e teológico do livro de Daniel e Apocalipse, p.23) (cópia para revisão, no prelo).

– Não se trata, entretanto, de uma mera repetição. Como afirma Sir Isaac Newton, o grande físico, que também escreveu um livro que comenta as visões de Daniel e de Apocalipse (prova de que se tratava de um cientista temente a Deus): “…na visão seguinte, que é a dos quatro animais, a profecia dos quatro impérios é repetida, com diversos acréscimos novos, tais como as duas asas do leão, as três costelas na boca do leão, as quatro asas e as quatro cabeças do leopardo, as onze pontas do quarto animal, e o filho do homem vindo nas nuvens do céu para o ancião de dias assentado para o juízo…” (Observações sobre as profecias de Daniel e do Apocalipse de São João. https://www.blueletterbible.org/Comm/newton_isaac/prophecies/daniel04.cfm Acesso em 15 set. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).

De igual modo, assim se expressa o pastor Antonio Gilberto: “…No capítulo 2, por meio de Nabucodonosor, Deus revelou o lado político desses últimos impérios mundiais. A Daniel, nesse capítulo, Deus revelou o lado moral e espiritual através de quatro bestas…” (Daniel e Apocalipse: como entender o plano de Deus para os últimos dias. Digitaliz. por Escriba Digital, p.33).

– Esta visão dos quatro animais simbólicos, além de repetir o sonho da estátua, teve o propósito de dar a Daniel uma segurança, uma convicção de sua posição na corte de Babilônia e de seu papel no plano divino. Daniel percebe, com esta visão, que havia sido escolhido pelo Senhor para trazer ao povo o futuro de sua nação, bem como que era ele o principal alvo do sonho que, décadas antes, fora revelado a Nabucodonosor, pois, como disse o profeta Amós, o Senhor revela Seus segredos aos Seus servos, os profetas (Am.3:7).

– Daniel estava em sua cama, quando teve um sonho e visões da sua cabeça, tendo, então, escrito logo o sonho e relatado a suma das coisas (Dn.7:1). Vemos aqui a importância de sermos ágeis ao recebermos uma revelação da parte de Deus.

Assim que Daniel teve o sonho e as visões, não perdeu tempo, anotou o que havia sonhado e visto, para que isto não se perdesse. Como seria importante nós também anotarmos aquilo que recebemos da parte de Deus, não só em sonhos ou visões, mas aquilo mesmo que o Senhor nos dá através da exposição da Sua Palavra. Não podemos confiar na memória, nem tampouco desperdiçar os banquetes espirituais que o Senhor nos tem dado ao longo de nossa caminhada de fé.

– Daniel viu quatro ventos do céu que combatiam no mar grande e quatro animais grandes, diferentes uns dos outros, que subiam deste mar. Como sabemos, o mar grande revela o mundo onde vivemos, o sistema mundano, repleto de nações e de povos, que vive em constante agitação (os “quatro ventos do céu que combatiam”).

No mundo, não há uma verdadeira paz, como nos ensina o Senhor Jesus (Jo.14:27), o que explica toda a conturbação que sempre há na política internacional, máxime nestes dias que antecedem o arrebatamento da Igreja, quando Nosso Senhor disse que haveria ainda maior aumento de instabilidade (Mt.24:6).

– Neste mar agitado das nações e dos povos, ou seja, entre os gentios, o profeta Daniel viu surgir quatro animais, diferentes uns dos outros, que emergiam do mar, indicando, assim, que se tratavam de poderes que iriam se sobressair dentre as nações, que dominariam sobre os povos, que são os impérios mundiais.

– O primeiro animal era como o leão, que tinha asas de águia. Estas asas foram arrancadas do leão, foi levantado da terra e posto em pé como um homem, tendo-lhe sido dado um coração de homem (Dn.7:4).

– Em seguida, surgiu o segundo animal, que era semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado, tendo na boca três costelas entre os dentes, tendo-lhe sido dito que se levantasse e devorasse muita carne.

– Na sequência do sonho, Daniel viu um terceiro animal, semelhante a um leopardo, que tinha assas de ave nas suas costas, tendo, ainda, quatro cabeças, tendo, então, lhe sido dado o domínio.

– Mas o sonho e visão não terminava aí. Surgia um quarto animal, terrível e espantoso, muito forte, que tinha dentes grandes de ferro, que devorava e fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobejava, sendo diferente de todos os animais que apareceram antes dele, tendo dez pontas.

– Quando Daniel contemplava as pontas deste animal, eis que entre elas subiu outra ponta pequena, diante da qual três das pontas primeiras foram arrancadas e, nesta ponta, havia olhos como olhos de homem, e uma boca que falava grandiosamente.

– Mas o sonho e visões não terminou aí. Daniel, então, viu que foram postos uns tronos e um ancião de dias se assentou, cujo vestido era branco como a neve e o cabelo da sua cabeça como a limpa lá e o seu trono tinha chamas de fogo e as rodas dele fogo ardente. Do trono saía um rio de fogo e milhões e milhões estavam diante dele e milhares e milhares O serviam, tendo se assentado o juízo e sido abertos os livros.

– Daniel observava que grandes palavras provinham da ponta que havia se sobressaído daquele animal terrível e espantoso, mas o animal foi morto e o seu corpo desfeito e entregue para ser queimado pelo fogo.

– Havia sido dado domínio aos outros animais, mas apenas por um certo espaço de tempo, mas, das nuvens, viu o profeta que vinha um como o filho do homem, que se dirigiu ao ancião de dias e a quem foi dado do domínio, a honra e o reino, para que todos os povos, nações e línguas O servissem, num domínio eterno, que não passaria e um reino único que jamais seria destruído.

– Ao ver tudo isto, Daniel teve abatido o espírito em seu corpo e ficou espantado com estas visões e, então, aproximando-se de um dos que estavam perto, pediu a interpretação de tudo quanto vira.

– Este gesto de Daniel de pedir a interpretação de tudo quanto vira revela a grande humildade do profeta e nos demonstra como estava ele preocupado com o futuro do seu povo e como era uma pessoa interessada em receber de Deus a explicação a respeito daquilo que lhe causava perplexidade.

– Trata-se de mais uma conduta de Daniel que devemos seguir, pois é, sem dúvida, o comportamento daquele que é fiel a Deus e que, em sua fidelidade, não perde a esperança de ver cumpridas as promessas de Deus não só a seu respeito, mas a respeito do povo que serve ao Senhor.

Para se manter viva esta esperança e não ser confundido com as circunstâncias, é mister que estejamos sempre, a exemplo de Daniel, vivendo uma intensa comunhão com o Senhor, através da oração e da meditação nas Escrituras. Assim agindo, o Senhor certamente nos dará o discernimento de tudo o que está a ocorrer à nossa volta, fazendo-nos entender tudo o que se passa à luz das profecias da Bíblia Sagrada. Temos feito isto, amados irmãos?

– Deus quer revelar Seus segredos aos Seus servos. Fê-lo em relação aos profetas do Antigo Testamento, que eram aqueles que o Senhor utilizava para serem depositários do Espírito Santo, ainda que ocasionalmente, como vemos neste episódio do profeta Daniel, mas também quer fazer com cada um de nós, que somos templo do Espírito Santo (I Co.6:19), com muito maior razão, já que somos habitação permanente do Seu Espírito.

– Entretanto, não são poucos os que têm negligenciado este grande privilégio e vivem totalmente alheios ao que ocorre à nossa volta, acontecimentos que são sinais evidentes do cumprimento da Palavra de Deus e que poderiam, sendo devidamente entendidos, fortalecer a nossa fé e nos dar forças para superarmos os obstáculos e impedimentos que sempre temos em nosso dia-a-dia.

 Este é o principal papel da profecia na vida espiritual: dar-nos a garantia, a segurança de que nosso Deus tem o absoluto controle de todas as coisas e que, por isso, podemos confiar mais e mais n’Ele e na Sua Palavra.

III – A INTERPRETAÇÃO DA VISÃO DOS QUATRO ANIMAIS SIMBÓLICOS: OS TRÊS PRIMEIROS ANIMAIS

– Esta personagem que estava perto de Daniel não nos é identificada. Tudo indica que se trata de um ser angelical, que acompanhava a visão de Daniel, escalado diretamente pelo Senhor para explicar ao profeta tudo quanto havia visto. Certamente, não se trata do Senhor Jesus, visto que Ele é uma das personagens da própria visão e que teria sido identificado por Daniel, caso o fosse.

Ademais, não devemos nos esquecer que “anjo” significa, precisamente, “mensageiro” e o que faz esta personagem é, precisamente, trazer a mensagem divina referente à visão dada ao profeta.

– Alguns, como o pastor Antônio Gilberto, entendem que se trate do anjo Gabriel, que é identificado tanto na visão do carneiro e do bode (Dn.8:16) quanto na revelação das setenta semanas (Dn.9:21), razão por que se entende que tenha sido ele também quem interpretou tal visão a Daniel, embora, desta feita, Daniel não o tenha visto e nem lhe tenha sido dada a identidade, dentro da costumeira “revelação progressiva” com que Deus age no tocante ao Seu relacionamento com o homem.

– Os quatro animais, então, são identificados como quatro reis que se levantariam da terra, o que, de imediato, nos faz lembrar a estátua do sonho de Nabucodonosor, onde, também, havia quatro reinos que dominariam a Terra (Dn.2:36-40).

Vemos, pois, que, nesta visão, o Senhor está a rememorar ao profeta aquilo que já lhe havia sido revelado cerca de 50 anos antes, como a indicar a Daniel que não havia deixado de ter o absoluto controle sobre todas as coisas, apesar das mudanças políticas ocorridas em Babilônia.

– Aliás, a propósito, é interessante observar que Daniel vivia sob o reinado do quarto soberano após Nabucodonosor em Babilônia (Evil-Merodaque, Nerglissar, Labashi-Marduk e Nabonido) e que Belsazar havia acabado de se associar ao reinado de seu pai Nabonido.

 O Senhor parece, também, mostrar que este número “quatro” era não só o número de impérios mundiais que surgiriam até o estabelecimento do reino eterno de Deus mas, também, que era o número que faltava para o fim da própria Babilônia, mesmo diante da associação de Belsazar ao reino de seu pai, como a indicar que Belsazar jamais se tornaria rei absoluto, devendo ficar, até o fim de sua vida, apenas como “segundo dominador do reino”.

– Pois bem, este ser angelical que interpretou a visão para Daniel disse que estes quatro animais seriam quatro reinos que se levantariam da terra mas que os santos do Altíssimo receberiam o reino e o possuiriam para todo o sempre, e de eternidade em eternidade (Dn.7:18).

– Daniel não deveria, pois, preocupar-se nem com as mudanças políticas ocorridas na Babilônia, nem tampouco com o desenrolar da história, pois o seu povo, os “santos do Altíssimo”, haveria de se tornar reino sacerdotal e povo santo e de participar do reino eterno de Deus. Deus haveria de reinar sobre a face da Terra e Seu reino não teria fim, duraria para todo o sempre.

– Esta mesma esperança e convicção devemos ter nós, os salvos na pessoa de Cristo Jesus, que fomos enxertados na raiz e na seiva da oliveira (Rm.11:17), passando, desta forma, a fazer parte dos “santos do Altíssimo”, a sermos povo de Deus, nós, que, antes, não éramos povo de Deus (I Pe.2:10). Não é por outro motivo que o Senhor Jesus, quando nos ensinou a orar, mandou que pedíssemos que viesse o Seu reino (Mt.6:10).

OBS: Por sua biblicidade, aliás, reproduzimos aqui o que diz a respeito o Catecismo da Igreja Romana: “Na Oração do Senhor, trata-se principalmente da vinda final do Reinado de Deus mediante o retorno de Cristo.

Mas este desejo não desvia a Igreja de sua missão neste mundo, antes a empenha ainda mais nesta missão. Pois a partir de Pentecostes a vinda do Reino é obra do Espírito do Senhor “para santificar todas as coisas, levando à plenitude a sua obra”” (§ 2818 CIC).

– Daniel logo compreendeu que a sequência dos quatro animais representava o sonho do rei Nabucodonosor, tanto que não perguntou sequer o que significavam aqueles reinos, tendo indagado a respeito do quarto animal, terrível e espantoso. Mas, antes de falarmos a respeito da interpretação que o ser angelical deu a Daniel a respeito deste quarto animal, analisemos os três outros animais.

– O primeiro animal era um leão alado. Ora, o símbolo de Babilônia era, precisamente, o leão alado, como nos mostram diversos achados arqueológicos. Não havia, para Daniel, portanto, qualquer dúvida de que este leão alado era o próprio império babilônico, onde ele vivia há mais de 50 anos.

OBS: “…Três composições nas visões de Daniel que representam Babilônia e o monarca, foram um simbolismo evidentemente perfeito: 1) A cabeça de ouro. 2) o leão. 3) a águia. A cabeça é a parte mais nobre do corpo humano e, sendo de ouro, é mais evidente. O leão e a águia são dois animais nobres da fauna: o primeiro, como o rei dos animais terrestres, e a águia, como a rainha das aves do céu. Esse simbolismo sempre representou Babilônia, em várias conexões das Escrituras Sagradas.

O leão, majestoso, corajoso, representa perfeitamente essa grande cidade. Babilônia, de fato, era representada em seu escudo por um leão com asas de águia. A águia é outro animal majestoso, a rainha das alturas, como o leão o é das planuras. O leão representa a brutalidade, a força e a violência.

 É fera de mandíbula trituradora. Na simbologia profética das Escrituras Sagradas é o Império Babilônico, ‘um destruidor de nações’ (Jr.4:7). A águia, por sua vez, metaforiza a rapidez e a voracidade. Esse Império é considerado nas Escrituras como ‘uma nação feroz’ que voa como a águia (Dt.28:49,50; Mq.1:6-8).…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, pp.127-8).

– O fato de ter tido suas asas arrancadas e ter sido levantado da terra e posto em pé como um homem está relacionado à própria experiência da conversão de Nabucodonosor. Diz-nos o saudoso pastor Severino Pedro da Silva: “…A presente passagem descreve, em resumo, a humilhação, a doença, a exaltação do poderoso monarca babilônico, o rei Nabucodonosor(…).

O texto em foco descreve, em resumo, o estado normal e o restabelecimento do rei Nabucodonosor e, com certeza, também o seu restabelecimento no posto e trono (…). O coração deste monarca estava muito endurecido no início do reinado, era realmente ‘um coração de leão’ (Jr.4:7) (…).

O juízo de Deus caiu também sobre Nabucodonosor quando se exaltou (…). Nabucodonosor se humilhou. Teve seu ‘coração’ mudado de ‘leão’ para ‘coração de homem. Nabucodonosor morreu e seus dois sucessores, as asas, foram arrancadas, terminando, assim, aquela dinastia babilônica 9Dn.5:30; 7:4)…” (Daniel versículo por versículo, pp.128-9).

– Outros, como João Calvino, entendem que o arrancar das asas e a transformação do coração de leão em coração de homem tem a ver não com a experiência de Nabucodonosor, mas, sim, com a perda da glória do reino de Babilônia.

 Diz o reformador: “…Por meio dessa forma de expressão, ele pretendia realçar a redução dos assírios e caldeus a sua ordinária condição, e que não mais eram como um leão, mas como homens individuais privados de seu poder e força.

 Daí a expressão e lhe foi dado um coração como de homem não deve ser entendida à guisa de louvor, mas por “um homem” ele tinha em mente alguma pessoa em particular; como se quisesse dizer: o aspecto dos caldeus e assírios não mais era terrível, visto que, enquanto prevalecia seu domínio, todos os homens eram terrificados por seu poder.

Daí Deus remover do mundo o rosto desse animal, substituindo-o por um rosto de homem, e o fez pôr-se de pé. Anteriormente planavam no ar e desprezavam a terra, pondo tudo sob seus pés; Deus, porém, os fez erguer sobre seus pés, ou, seja, não se conduziram segundo seus costumes e postura antiga, mas simplesmente no nível comum, depois de Deus os privar de seu império. Esse, em meu juízo, é o significado simples do Profeta…( Daniel, v.2, pp.16-7).

– Seja como for, a visão mostra, claramente, o término do poder babilônico e a sua substituição por um novo reino, o que, segundo João Calvino, era algo absolutamente necessário para manter a esperança messiânica no meio do povo judeu, pois, “…Antes que os medos e persas transferissem o império caldaico para si, os profetas foram instruídos sobre este assunto, para que os judeus pudessem reconhecer o cumprimento parcial do que Deus lhes havia com muita frequência prometido, a eles a seus pais.

 Pois se seus inimigos houvessem possuído Babilônia sem alguma nova predição, talvez os judeus não atentassem bem para aquelas profecias que outrora foram pronunciadas em seu favor. Daí Deus querer arejar suas memórias, e então, quando vissem a queda daquele império que todos criam ser inexpugnável, perceberiam o domínio dos conselhos secretos de Deus, domínio parcial, se não completo, cujo cumprimento fora testificado pela instrumentalidade de seus profetas…” (Daniel, v.2, p.10).

– O segundo animal visto por Daniel era um urso. Como afirma o pastor Abraão de Almeida, “…Embora o urso não seja considerado o rei dos animais, atinge maior estatura e peso que o leão. “Diz-se que sua maior espécie foi encontrada na Média, país montanhoso, acidentado e frio.

 Os seus 42 dentes, as suas formidáveis grandes garras aguçadas, o seu grande peso, a sua coragem e a sua astúcia, fá-lo grandemente terrível. No que respeita à sua crueldade, ferocidade e sede de sangue, não tem rival.

 Ao andar, não rapidamente, senta a planta do pé no chão (ao contrário dos pés de cachorro e do leão), dando a impressão de amassar tudo onde quer que pise ou passe, como se fora um rolo compressor que tudo arrasa. É em seus pés que reside a sua maior força de domínio e destruição… Assim, seu tríplice poder concentrado em seu peso, sua boca e seus pés, faz do urso o segundo em seu reino, só vencido pelo leão após renhida batalha.

Não podendo o urso ser o rei dos quadrúpedes, parece pretender sê-lo. Não alcançando, todavia, supremacia absoluta, é obrigado a cometer destruição para impor-se, como se supremo fora, sem contudo lograr o seu objetivo…” (Visões Proféticas de Daniel. Rio de Janeiro: CPAD, s.d. Digitaliz. por Pregador Jovem, p.16).

– Este urso, como interpretou o ser angelical a Daniel, representavam um outro reino, a quem fora permitido dominar o mundo por um espaço de tempo. Ele se levantou de um lado, a indicar que vinha de uma determinada região geográfica, sendo certo que veio do sudeste de Babilônia, precisamente da Média e da Pérsia, pois este segundo animal é o Império Medo-Persa, aquele que tomaria o domínio mundial das mãos de Babilônia.

– O urso possuía três costelas entre os dentes, indicando, assim, que haveria de se constituir em império mundial após vencer três reinos. Foi efetivamente o que ocorreu, pois o Império Medo-Persa se estabeleceu depois de ter conquistado a Babilônia, a Lídia e o Egito, que foram conquistados pelos exércitos deste império, que, como os dentes do urso, foram a grande força que construiu este império.

– Ao urso, na visão de Daniel, foi dito que se levantasse e devorasse muita carne (Dn.7:5). Como afirma Abraão de Almeida, “…De fato, os soberanos medo-persas, inábeis para governar o mundo, cometeram as maiores e mais vis atrocidades.

Em suas conquistas procuraram vencer, não mediante categorias bélicas, mas pela avalancha de suas tropas, daí o massacre a quaisquer povos que lhe opusessem a menor resistência. Somente para o transporte de víveres, usavam os persas uma frota de 1.200 barcos, com uma tripulação de 300 mil homens!

Os exércitos medo-persas passaram à História como profundamente sanguinários, devoradores de muita carne, conforme anunciava a profecia. Afirma-se que Tomires, rainha dos citas, mandou’ cortar a cabeça de Ciro e mergulhou-a num odre cheio de sangue humano, dizendo: “Farta-te de sangue, de que

sempre viveste sequioso”.…” (Visões Proféticas de Daniel, pp.16-7).

– Este comportamento sanguinário de Ciro estava, inclusive, profetizado por Isaías. No texto de Is.45:1,2, o profeta já dissera que Ciro seria levantado por Deus precisamente para “abater as nações diante de sua face” e que o Senhor soltaria o lombo dos reis, para abrir diante dele as portas e as portas não se fechariam, sendo que o Senhor iria adiante de Ciro para quebrar as portas de bronze e despedaçar os ferrolhos de ferro.

– O terceiro animal era semelhante ao leopardo, tendo quatro asas de ave nas suas costas, como também quatro cabeças, tendo-lhe sido dado o domínio. Este terceiro animal representava o terceiro reino do sonho da estátua de Nabucodonosor, representando o Império Greco-Macedônio, conquistado por Alexandre, o Grande, mas dividido por seus quatro generais, após a sua morte, quando tinha ele apenas 33 anos de idade.

– “…Ele compara esse reino a um leopardo, ou, como alguns o traduzem, a uma pantera, visto Alexandre haver granjeado seu grande poder unicamente por sua rapidez. E ainda que ele não fosse de modo algum um animal notável, todavia conduziu-se com extraordinária rapidez e subjugou todo o Oriente.…” (CALVINO, João. Daniel, v.2, p.22).

– “…O simbolismo usado na presente passagem se coaduna com a etimologia da palavra que dá nome ao animal do texto em foco. ‘Leo’ (leão) e ‘pardo” ( pantera). É realmente perfeito o que foi o reino de Alexandre Magno: duas naturezas interligadas deste Império Greco-Macedônio eram vistas em vários aspectos, mas tomemos como exemplo:

1) Os dois povos (gregos e macedônios) eram diferentes em temperamento: os gregos sempre foram diferentes dos macedônios, isto pode ser visto e examinado em Atos dos Apóstolos e nas Epístolas de Paulo.…” (SILVA, Severino Pedro da., op.cit., p.132).

– As quatro asas e as quatro cabeças do leopardo, como já dissemos, significam os quatro reinos que surgiriam depois da morte de Alexandre, como legítimos sucessores do Império Greco-Macedônio.

 Com efeito, após a morte de Alexandre, seu império foi dividido por seus quatro generais Ptolomeu, que reinou no Egito; Seleuco, que reinou na Síria; Lisímaco, que reinou sobre a Trácia (região que corresponde hoje a partes da Grécia, Turquia e Bulgária) e a Chersonésia (atual Crimeia, que recentemente foi anexada pela Rússia, fazendo parte anteriormente da Ucrânia) e Cassandro, que governou parte da Grécia.

– Este império, como também seus quatro sucessores, tiveram o domínio por um espaço de tempo, domínio dado pelo próprio Deus, que tinha controle sobre tudo, como estava a mostrar ao seu profeta.

IV – A INTERPRETAÇÃO DA VISÃO DOS QUATRO ANIMAIS SIMBÓLICOS: O QUARTO ANIMAL

– Daniel pôde compreender naqueles quatro animais a própria profecia do sonho do rei Nabucodonosor, tanto que não inquiriu o ser angelical a respeito dos três primeiros animais, pois os identificara com os reinos que sucederiam a Babilônia. No entanto, o quarto animal lhe causou perplexidade, porquanto era um animal terrível e espantoso, que ele não teve condições de identificar que animal seria.

– Vemos, na própria descrição do sonho, que Daniel pudera ver que o primeiro animal era um leão alado; o segundo, um urso e o terceiro, um leopardo. Entretanto, o quarto animal era apenas apontado como “terrível e espantoso” e, como se não bastasse, tal animal tinha dez pontas e dentre elas, surgia uma ponta que se tornava grande, abatia três pontas e ainda falava coisas grandiosas, tendo sido especificamente abatido, queimado pelo fogo, o que não ocorrera com os animais anteriores.

– Tal revelação era nova para Daniel que, embora tivesse atentado para o fato de que, no sonho da estátua, também havia um quarto reino, nesta visão algo novo lhe era revelado e, por isso mesmo, o profeta perguntou àquela personagem que estava perto que significava este quarto animal.

– O quarto animal era diferente de todos os outros, muito terrível, com dentes de ferro e unhas de metal, que devorava e fazia em pedaços e passiva a pés o que sobrava. Além disso, a ponta que se sobressaíra e abatera três outras, tinha olhos e uma boca que falava grandiosamente, cujo parecer era mais firme que os das suas companheiras e esta ponta fazia guerra contra os santos e vencia, até que o ancião de dias e, então, os santos possuíam o reino.

– A personagem, então, disse a Daniel que o quarto animal seria o quarto reino da terra, que a devoraria e a pisaria aos pés e a faria em pedaços. Daquele reino se levantariam dez reinos e, depois deles, um outro, o qual seria diferente dos primeiros e abateria três reis.

Este rei proferiria palavras contra o Altíssimo, cuidaria em mudar os tempos e a lei e os santos seriam entregues na sua mão por um tempo, e tempos, e metade de um tempo. Somente depois, o reino lhe seria tirado e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu seriam dados ao povo dos santos do Altíssimo e, então, se teria o estabelecimento do reino eterno.

– Este quarto animal, que Daniel não conseguira identificar, representa o Império Romano, que sucedeu ao Império Greco-Macedônio. “…O Império Romano foi, de fato, ‘terrível’ em todos os seus aspectos: Jesus Cristo, o nosso Senhor, foi morto sob a força brutal deste terrível poder.

Os próprios judeus sofreram muito sob esse sistema de governo desumano.(…). A própria história secular diz que este Império deixou atrás de si um rastro de sangue. Ele era espantoso até mesmo para seus próprios governantes; ali havia muita traição e maldade. Só em falar na palavra ‘romano’ todo o mundo tremia (ver Jo.19:12,13; At.16:37-39)…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.135).

– “…Portanto, eis o quarto animal, o qual era formidável e feroz e fortíssimo. Não temos notícia de uma tal monarquia antes desta. Ainda que Alexandre subjugasse toda o Oriente, sua vitória, bem o sabemos, não foi estável.

Ele apenas se contentou com a fama; concedeu liberdade a todo mundo; e enquanto fosse bajulado por todos, nada mais lhe importava. Sabemos, porém, que os romanos se tomaram soberanos até mesmo sobre Babilônia; sabemos ainda que os seguintes países foram subjugados por eles: Ásia Menor, Síria, Cilicia, Grécia e Macedônia, tanto a Espanha, a Gália, o Ilírico como parte da Alemanha.

Por fim, a Bretanha foi subjugada por Júlio César. Não surpreende que esse animal fosse denominado de formidável e fortíssimo! Pois antes que Júlio César se tornasse soberano do império, todo o Mar Mediterrâneo se tornou, em todas suas partes, sujeito ao império romano. Sua espantosa extensão é bem notória…(CALVINO, João. op.cit., p.27).

– “…Que este quarto animal corresponde à quarta divisão da estátua de Nabucodonosor não há dúvida. Além da explicação dada pelo anjo a Daniel, os dentes dessa fera, de ferro, correspondem a um dos elementos da estátua.

Por outro lado, a existência do cobre (cujas unhas eram de cobre) revela que o quarto reino conservaria características do reino anterior, dos gregos. Realmente, o mundo romano experimentava a influência das letras e da filosofia gregas.

O império mundial dos gregos, que teve domínio “sobre toda a terra”, Dn 2.39, fez com que sua cultura prevalecesse mesmo durante a supremacia dos césares, levando muitos a denominar o último grande império mundial de greco-romano. Se os latinos governavam pela força das suas armas, os gregos o faziam pelo poder das suas letras.…” (ALMEIDA, Abraão de. op.cit., pp.40-1).

– Deste animal terrível e espantoso saíram dez pontas, que o ser angelical disse a Daniel tratar-se de dez reis que se levantariam daquele reino, ou seja, dez governantes que têm seu poder oriundo do Império Romano. Vemos, portanto, que estes dez reis são governantes que surgirão deste mundo cultural greco-romano que se estabeleceu por causa do próprio Império Romano.

– Trata-se do que os estudiosos das Escrituras denominam de “Império Romano restaurado”, ou seja, de uma potência política que, tendo dominado a região do Mar Mediterrâneo, envolvendo Europa, Norte da África e Oriente Médio, voltaria a ter domínio como antes. Tratar-se-á, pois, de uma potência que tornará a ter o mesmo poder que tinha o Império Romano, ainda que sob nova roupagem ou denominação.

OBS: “…O reino dos dez chifres (7.24). Esse futuro reino é equivalente ao da primeira besta de Apocalipse 13.1-8, e 17.12-17. Até hoje não ocorreu esta forma de governo do Império Romano. Não se trata do próprio império restaurado, como muitos precipitadamente afirmam. O texto de Daniel 7.24 afirma que esses países se formarão “daquele” mesmo reino.…” (GILBERTO, Antonio. op.cit., pp.38-9).

– Sabemos todos que o Império Romano, dividido em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente, em 395 d.C., deixou de existir em 476 d.C., com relação ao Império Romano do Ocidente e, em 29 de maio de 1453, com relação ao Império Romano do Oriente, também chamado de Império Bizantino. Desde então, embora diversos países da Europa tenham tentado conquistar a supremacia política mundial, nunca mais a Europa, norte da África e Oriente Médio ficaram sob o domínio de uma só potência.

OBS: “…- “…O chifre pequeno (7.8) representa o futuro Anticristo. Ele, ao emergir entre os dez reinos, abaterá três reis. Essa expressão do Império Romano em dez reinos ainda não ocorreu, pois quando esse império deixou de existir tinha apenas duas formas, correspondentes às duas pernas da estátua do capítulo 2, isto é, o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente.

O primeiro caiu em 476 d.C. O segundo, em 1453. A divisão do império em dois deu-se em 395 d.C. Portanto, os fatos proféticos do versículo 8 são ainda futuros, como bem mostra o livro de Apocalipse.…” (GLBERTO, Antonio. Daniel e Apocalipse: como entender o plano de Deus para os últimos dias, p.38).

– Esta diversidade de potências e de poderes é aqui retratada na visão do quarto animal, pois dele surgiram dez pontas, que representam dez reis. Estes dez reis, que têm a origem comum neste substrato cultural romano, acabaram sendo ofuscados por uma décima primeira ponta, que, surgindo no meio das dez, ou seja, tendo o apoio nestes dez governantes, abaterá três deles e, desta maneira, retornará a ter o mesmo domínio do quarto animal, ou seja, reeditará o poderio do Império Romano, motivo pelo qual falamos que se trata de um “Império Romano restaurado”.

– Temos aqui, então, uma nítida correspondência da visão com os dez pés da estátua do sonho de Nabucodonosor, que também representam estes mesmos dez reis, reis estes que estarão no poder, num ambiente que tanto retrata a força e brutalidade já existentes no Império Romano (daí o elemento ferro que estava nos pés e nos dedos da estátua, que correspondem aos dentes de ferro deste quarto animal terrível e espantoso), quanto que eleva o homem a uma condição de grande presunção, vivendo como se Deus não existisse (daí o elemento barro que estava nos pés e nos dedos da estátua).

– Este décimo primeiro rei será “diferente dos demais”, ou seja, alcançará o poder de modo diverso daqueles reis e terá um objetivo precípuo, que é o de destruir os santos do Altíssimo e se levantar contra o Altíssimo.

Seu poder, como se vê, não resultará apenas de articulações políticas ou de estratégias humanas, como é o caso dos dez reis que o antecederam, mas, sim, terá uma origem satânica, visto que imbuído do desejo de “matar, roubar e destruir” (Jo.10:10), de eliminar tanto o povo de Deus quanto o de se rebelar contra o próprio Deus.

– Bem se vê, então, que este rei outro não é senão o Anticristo, aquele que virá, como diz o apóstolo Paulo, como “…o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou se adora…” (II Ts.2:3,4).

Neste seu intuito, ele cuidará de mudar os tempos e a lei, ou seja, alterará o calendário, que hoje é baseado no nascimento de Cristo, bem como não permitirá que se siga a Palavra de Deus, que é a lei do Senhor (Sl.1:2), bem como procurará destruir o povo judeu, que estarão sob sua perseguição durante três anos e meio (um tempo, tempos e metade de um tempo), exatamente como o Senhor Jesus revelou a João no Apocalipse, como se verifica de Ap.12:14.

OBS: “…O Anticristo tratará de inaugurar uma nova era. “Cuidará em mudar os tempos e a Lei” (v. 25). Um dos seus nomes no Novo Testamento é “o iníquo” (2 Ts 2.8), que no grego é “anomos”, isto é, aquele que é oposto à ordem estabelecida; o subversivo, o desordeiro; aquele que se opõe à Lei. Haverá, pois, mudança na ordem das coisas e da lei estabelecida.…” (GILBERTO, Antonio. op.cit., p.39).

– Como se não bastasse, esta ponta pequena tinha “olhos, como olhos de homem”. “…O Anticristo (…) possuirá, no campo cultural, um notável saber (ver [Dn.]7:8,20; Ap.13:5); ele será um elemento altamente inteligente, por isso será um grande orador e, em dúvida, um filósofo notável (comp. [Dn.] 7:23 e 11:34), e um político habilidoso (Ap.13:4), tudo isso, e mais ainda, são características que farão dele um super-homem de Satanás; ele será possuído por forças invisíveis do mal, pois, nos é dito, em Ap.13:2, que o dragão ‘lhe deu o seu poder, e o seu trono, e grande poderio’.

Todas essas habilidades possuídas pelo homem do pecado, são verdadeiros ‘olhos da inteligência’ (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.144).

– No entanto, apesar de toda a perseguição sofrida, os santos do Altíssimo não seriam destruídos, mas se estabeleceria o juízo por parte do ancião de dias e este entregaria o reino nas mãos do filho do homem, o qual haveria de estabelecer o reino, o domínio e a majestade para todo o sempre, num reino que jamais seria destruído.

– Daniel, então, certamente compreendeu que aquele como o filho do homem, que vinha das nuvens do céu e se apresentava perante o ancião de dias e que estabeleceria o reino e domínio eterno sobre toda a terra era a mesma pedra que esmiuçara a estátua do sonho do rei Nabucodonosor, era o Messias, que tanto o profeta quanto o povo judeu esperavam.

– A preocupação de Daniel de como poderia surgir o Messias depois que a casa de Davi havia sido destronada era explicada. Este filho do homem viria nas nuvens dos céus e receberia do ancião de dias o reino. Seria este próprio filho do homem, juntamente com o ancião de dias, que desfaria o corpo do quarto animal, que seria entregue para ser queimado pelo fogo.

 Temos aqui um nítido paralelo com a descrição da derrota do Anticristo e do Falso Profeta na batalha do Armagedom, como se verifica em Ap.19:11-21, notadamente o v.20, quando se fala explicitamente que o Anticristo e o Falso Profeta serão lançados vivos no lago de fogo e enxofre.

– Daniel não compreendera como e porque teria de vir nas nuvens do céu este filho do homem para que o corpo do quarto animal fosse desfeito. Era ainda algo um tanto quanto nebuloso, mas Daniel, mesmo pensativo, guardou estas coisas no seu coração, sabendo que, apesar de todas as mudanças governamentais ocorridas na Babilônia, tudo estava sob estrito controle de Deus e que as Suas promessas não haviam sido esquecidas e tudo estava sendo conduzido para o Seu cumprimento.

– Este reino é o reino milenial de Cristo, profetizado já por Isaías, Miqueias e tantos outros profetas, a esperança messiânica que era compartilhada por todo o povo judeu.

Este reino haveria de se estabelecer, apesar de todas as circunstâncias geopolíticas que eram adversas e não apontavam para isto, o que era nítido para um estadista como Daniel. Entretanto, Deus estava no controle de tudo e tudo haveria de se cumprir no seu devido tempo.

– O enigma começava a se desfazer, mas era esta só a primeira visão a respeito do futuro. Outras se seguiriam, como haveremos de estudar nas próximas lições.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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