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Jovens – Lição 02-O problema dos falsos mestres

 

INTRODUÇÃO

Um ambiente religioso pode tornar-se altamente tóxico e pernicioso quando os seus integrantes agem movidos por sentimentos pecaminosos, como a vaidade, o orgulho e a soberba.

Desejos facciosos podem comprometer a saúde de uma co­munidade espiritual, gerando elementos destrutivos, quando deveriam ser edificantes e construtivos.

Nenhuma igreja está livre desse tipo de mal, nem mesmo Éfeso, a principal e maior das igrejas fundadas por Paulo, à qual ele dedicou mais tempo em relação a todas as demais e para quem escreveu uma das mais belas e teológicas cartas.

De acordo com os registros feitos por Lucas em Atos 19, Paulo per­maneceu cerca de três anos em Éfeso por ocasião da sua terceira viagem missionária.

O trabalho de Paulo foi tão produtivo naquela cidade que ali floresceu uma igreja bem alicerçada na doutrina.

Isso pode ser constatado especialmente pelo teor da carta que Paulo escreveu aos efésios durante o seu primeiro aprisionamento em Roma (por volta do ano 62 d.C.).

Para Donald Stamps, Efésios é “um dos picos elevados da revela­ção bíblica, ocupando um lugar único entre as Epístolas de Paulo”.

O teólogo pentecostal ainda ressalta que a carta “não foi elaborada no árduo trabalho da bigorna da controvérsia doutrinária ou dos proble­mas pastorais (como muitas outras epístolas de Paulo)”, mas que, “Ao contrário, Efésios transmite a impressão de um rico transbordar de revelação divina, brotando da vida de oração de Paulo”.

Assim como em Éfeso, o antídoto contra os falsos ensinos é o efetivo pastoreio do rebanho pela transmissão cuidadosa do genuíno ensino verdadeiro (Hb 13.7).

Isso deve ser feito continuamente pelos pastores locais, especialmente em nossos cultos semanais de doutrina. Temos também a Escola Bíblica Dominical como extraordinária ferramenta de defesa da ortodoxia bíblica.

Fama e Poder

A busca de fama nas igrejas ou por intermédio delas não é algo novo. A disputa de poder, consistente na possibilidade de domínio de gru­pos ou das massas, é algo que, infelizmente, sempre ocorreu na seara eclesiástica, e uma das formas de fazer isso é criando teses teológicas distintas do ensino tradicional, apostólico.

O teologizar diferente pode ser atrativo para os incautos, que buscam novidades e passam a desprezar a ortodoxia, a “doutrina dos apóstolos”, citada por Lucas em Atos 2.42. Em Coríntios 11.1-3, Paulo havia feito advertência semelhante à que fez aos presbíteros de Éfeso.

Este era o perigo que também rondava Éfeso: o afastamento da simplicidade de Cristo e do seu Evangelho.

Falsos mestres haviam­-se infiltrado, e, pelo que se percebe, havia a tendência de que outros surgissem; daí a exortação de Paulo para que Timóteo ficasse em Éfeso “para [advertir] a alguns que não [ensinassem] outra doutrina, nem se [dessem] a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais [produziam] questões do que edificação de Deus, que consiste na fé” (1 Tm 1.3,4).

O ensino tradicional e ortodoxo — a transmissão do Evangelho na sua simplicidade e pureza bíblica —, não atrai o homem carnal.

É de nossa tendência pecaminosa o desejo de conhecer e experimentar o diferente, como aconteceu com Eva (Gn 3.1-6).

Sem uma vida de vigilância, de oração e de leitura diária da Bíblia — ou seja, sem que busquemos andar em Espírito (Gl 5.16) —, é muito fácil ser seduzido por “novos ensinos”, “novas teologias”, que se mostram atrativos pelo seu aparente “ineditismo” ou pelas diferenças que apresentam em relação às doutrinas tradicionalmente expostas.

Por vezes exóticas, certas novidades teológicas, apesar de bizarras, encontram não poucos seguidores. Não são poucas as igrejas (ou seitas) que surgiram a partir de interpretações particulares de textos bíblicos!

Bem-Intencionados, mas igualmente errados

Nem sempre os hereges produzem as suas heresias conscientemente interessados em dividir a igreja. Alguns o fazem movidos por um zelo que consideram puro, mas que, ao fim, está igualmente calcado no engano.

O mesmo pode ser dito de muitos profetas. Em meio às profecias verdadeiras, como manifestação do Espírito Santo em nossos dias (1 Co 12.7-10), muitos profetizam sobre o que realmente pensam ter visto — e realmente veem, mas na sua própria imaginação (e isso quando não são influenciados pelo Diabo, o grande enganador).

Mesmo que os hereges identificados por Paulo tivessem índole destrutiva — eram “lobos cruéis”, cf. At 20.29 —, surgiram nos primeiros séculos da Igreja homens e mulheres inicialmente piedosos, que também passaram a produzir heresias.

De igual forma, hoje também surgem bons e cativantes líderes — alguns bem carismáticos; outros, com forte persuasão motivacional — que inicialmente não esboçam intenções nocivas à Igreja, mas que, com as suas práticas, terminam produzindo ensinos teológicos que prejudicam a comunidade cristã, por não estarem de acordo com a sã doutrina.

Como salienta Roger Olson: “Todas as heresias cristãs primitivas continuaram a aparecer em formas diferentes sob nomes diferentes ao longo da história cristã. Todas ainda estão por aí, entre os cristãos, de alguma forma”.

A melhor maneira de identificar os falsos ensinos continua sendo conhecer o verdadeiro. Para isso, temos em nossas mãos as Sagradas Escrituras e farta literatura teológica ortodoxa. Em 2017, o Pentecos­talismo Clássico brasileiro ganhou um documento oficial que reúne sinteticamente todas as doutrinas fundamentais da Bíblia. Trata-se da Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 

Amplamente fundamentada nas Escrituras, a obra apresenta o mais genuíno pensamento teológico dos cristãos bíblicos pentecostais.

O CREMOS assembleiano foi elaborado por uma Comissão Especial composta por vários teólogos da denominação, liderados pelo pastor Esequias Soares.

O texto foi apreciado e aprovado na 43ª Assembleia Geral Ordinária da Con­venção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) em 27 de abril de 2017.

A Missão de Timóteo

A missão de Timóteo em Éfeso era combater os falsos mestres e zelar pela pureza do ensino na igreja, o que Paulo chama seguidas vezes de “sã doutrina” nas Pastorais (1 Tm 1.10; 2 Tm 4.3; Tt 1.9; 2.1); “boa doutrina” (1 Tm 4.6) e “sãs palavras” (1 Tm 6.3; 2 Tm 1.13).

Hoje, de forma semelhante, precisamos estar cada vez mais apegados ao detido estudo das Escrituras em nossa vida devocional e valorizar o genuíno ensino bíblico em nossas Escolas Bíblicas Dominicais, cultos de en­sino e outras oportunidades que temos em nossa igreja local.

Assim fazendo, estaremos bem fundamentados para discernir entre o certo e o errado, o verdadeiro e o falso, no turbilhão de informações e opiniões teológicas que estão ao nosso alcance, especialmente na Web, a rede mundial de computadores, e em todos os demais recursos da Internet.

Fica claro no texto de Paulo a sua pouca preocupação com a des­crição da natureza em si das heresias que estavam sendo pregadas. Ele não as expõe em detalhes.

Duas explicações podem ser dadas para isso:

a primeira é que Timóteo já as conhecia bem. Por isso, era desnecessário ao apóstolo detalhá-las na carta.

A segunda é que não interessaria ao jovem pastor analisar os falsos ensinos, mas transmitir o ensino verdadeiro, o que bastaria para prevenir a igreja de qualquer falsificação doutrinária.

Há, ainda, uma terceira observação que geralmente é feita quanto a esse ponto, que é o fato de Paulo preocupar-se mais em estampar os desvios de caráter dos falsos mestres, na linha do que Jesus já havia dito:

“Por seus frutos os conhecereis” (Mt 7.16).

No caso dos falsos mestres de Éfeso, as suas heresias seriam detectadas pelo resultado produzido: questões, debates e litigiosidade em vez de edificação na fé (1 Tm 1.4).

Se isso já era perceptível naqueles dias — o que exigia, segura­mente, um contato muito próximo com a comunidade cristã local —, o que dizer hoje, com o advento da Internet, quando todos os dias são produzidas novas polêmicas, alimentadas de um ciclo doentio de contendas e debates!

O combate às heresias é necessário, só que é preciso refletir quando, como e onde isso realmente deve ser feito.

Fomentar o debate em torno de declarações ou ensinos heréticos pode representar, na verdade, um verdadeiro desserviço ao Reino de Deus. Sim!

Ir às redes sociais para fazer críticas ou fomentar confrontos a toda e qualquer declaração que destoe da ortodoxia bíblica pode não passar de mais um sinal pecaminoso, qual seja, a revanche contra o irmão para ganhar visuali­zações, likes e mais seguidores.

Verdadeiros “patrulheiros” da doutrina bíblica apresentam-se nas redes aumentando a visibilidade dos que estão trilhando o caminho de teologias exóticas — muitas delas tão sem sentido que sequer mereciam um comentário.

Gastar tempo nas redes sociais para discutir ou assistir discussões sobre questiúnculas teológicas pode tornar-se patológico; é um cos­tume doentio, um vício para roubar nosso precioso tempo, que pode­ríamos estar dedicando à devoção pessoal e à frequência qualitativa aos cultos de nossa igreja local para a busca de comunhão com Deus por intermédio da oração e do estudo das Escrituras Sagradas.

Paulo orava para que os crentes efésios fossem fortalecidos espiritualmente e crescessem no conhecimento de Deus (Ef 3.14-19).

Quanto à avalanche de desvios teológicos vistos na Internet e os inúmeros debates em torno deles, não nos esqueçamos da recomen­dação de Paulo a Tito:

“Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado” (Tt 3.10,11).

Isso deve bastar para não sermos incautos, aplaudindo os que fazem uso do “combate às heresias” em busca de autopromoção.

No fim das contas, o espírito é o mesmo: a busca de popularidade, ou seja, atrair os discípulos após si (At 20.30), para o seu próprio fã-clube. Fazer isso “batendo” forte­mente no herege passa a imagem de uma grande espiritualidade, mas isso nem sempre é verdadeiro.

Um Delegado Apostólico

A expressão “delegado apostólico” é usada por alguns eruditos, como William Hendriksen, para evidenciar a posição e o papel de Timó­teo em Éfeso (assim como de Tito, em Creta).

O jovem ministro não foi enviado para ser um pastor local na exata acepção do termo, tampouco tinha a mesma estatura ministerial de Paulo, que recebera o seu apostolado do próprio Jesus, quando do seu encontro com Ele no caminho de Damasco (At 9.1-6), como viria testemunhar depois, algumas vezes, em defesa do seu ministério apostólico (1 Co 9.1; 1 Co 15.3,4,7,8).

Paulo, portanto, era “apóstolo de Jesus Cristo, segundo o mandado de Deus” (1 Tm 1.1). Sofreu muita resistência, principalmente entre os coríntios, para que o seu apostolado fosse reconhecido, porque as credenciais dos apóstolos da Igreja Primitiva necessariamente incluíam ter estado pessoalmente com Jesus, conforme as palavras de Pedro registradas por Lucas em Atos 1.21,22.

Embora Paulo não tenha convivido com Jesus e os apóstolos do Colégio dos Doze, Jesus apareceu a ele e comissionou-o diretamente para levar o evangelho aos gentios, como disse a Ananias:

“Disse-lhe, porém o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel” (At 9.15).

Agora, Paulo enviava os seus representantes, como Timóteo, Tito, Epafrodito, Epafras, Ártemas, Tíquico, etc., aos quais dava missões especiais junto às igrejas que ele havia fundado.

Os pastores locais eram os anciãos ou presbíteros, que foram or­denados pelo próprio Paulo ou pelos presbitérios locais (At 14.23; 1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6). Outros deveriam ser designados pelos seus representantes apostólicos, como Timóteo (1 Tm 3.1-6; 2 Tm 2.2) e Tito (Tt 1.5). Assim eram organizados os ministérios locais na Igreja Primitiva: com presbíteros e diáconos (Fp 1.1).

Esse, inclusive, é um dado relevante, pois tanto Timóteo quanto Tito eram solteiros (além do próprio Paulo), parecendo, assim, um contrassenso a exigência de que os pastores locais fossem casados (1 Tm 3.2; Tt 1.6).

A explicação está justamente no fato de que o caráter itinerante do ministério desses homens era incompatível com a vida em família.

Por outro lado, era próprio dos pastores locais que fossem, em primeiro lugar, forjados no ambiente familiar, tendo nele o necessário êxito, “porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?” (1 Tm 3.5).

Fato é, contudo, que a igreja católica valeu-se da condição de solteiros de homens como Paulo para instituir o celibato, além de considerações paulinas sobre o casamento, tomadas fora do contexto geral dos seus ensinos (1 Co 7.29). Wycliffe esclarece, todavia, o pensamento filosófico que estava por trás da “teologia” católica do celibato.

Esse engano católico, que se manifesta há milênios também em outras religiões e culturas, produz, na verdade, efeitos contrários à santidade, como se conhece desde os porões do catolicismo medieval.

Muitas obras literárias e cinematográficas descrevem essa negra e brutal realidade, além das inúmeras notícias estampadas em periódicos contemporâneos, que tanto perturbam o Vaticano.

As Heresias em Éfeso

Uma das heresias que estavam sendo implantadas em Éfeso era exata­mente a proibição do casamento, além da abstinência a determinados alimentos (1 Tm 4.3).

As doutrinas estranhas tinham nítidas carac­terísticas das seitas judaicas (“fábulas” e “genealogias intermináveis”), principalmente porque, conforme Paulo, os falsos mestres queriam ser “doutores da lei” (1.7).

Acredita-se ainda que poderia haver, mesmo que bem no começo, certa inclinação gnóstica, o que se extrai da ex­pressão “falsamente chamada ciência”, presente em 1 Timóteo 6.20.

Como já assinalado, Paulo não se preocupou em detalhar as heresias, mas em insistir com Timóteo para que este batalhasse pela preser­vação da sã doutrina.

Ao que se observa, assim como havia ocorrido em outras igrejas desde os primeiros anos da fé cristã, muitos judeus insistiam em misturar a doutrina do Caminho — como o cristianismo era conhecido nos seus primórdios, cf. At 9.2 (NAA); 24.14 — com elementos judaicos, o que, aliás, motivou a ida de Paulo com Barnabé e outros a Jerusalém, para o conhecido Concílio de Atos 15.

Pior ainda se dava quando judeus místicos, influenciados pelo paganismo grego, buscavam trazer as suas religiosidades para o seio do cristianismo, o que produzia um sincretismo ainda mais agudo, corrompendo a fé cristã.

Das muitas e variadas opiniões a respeito das heresias que se infil­traram em Éfeso, John Kelly considera que a característica mais óbvia é a combinação de ingredientes judaicos e gnósticos.

Duas observações feitas por John Kelly e que também são relevan­tes para serem destacadas são:

a primeira é que a indicação de que os falsos mestres judeus que atuavam em Éfeso “não eram judaizantes do tipo que Paulo tinha de combater no seu ministério anterior.

A doutrina deles era ascética, envolvendo, por exemplo, a renúncia ao casamento e a abstinência de certos tipos de alimento, possivelmente também do vinho (1 Tm 4:3; 5:23)”;

a segunda é que, muito prova­velmente, as heresias nada tinham a ver com o gnosticismo, porque “nada há nos indícios esparsos e vagos que recebemos para indicar que a doutrina atacada fosse tão elaborada ou coerente com os grandes sistemas gnósticos”.

Opinião semelhante à de John Kelly é exposta por Mark L. Bailey, para quem “As evidências das epístolas sugerem que o erro não era um sistema de pensamento totalmente desenvolvido” e que “A mensagem dos falsos mestres parece ser uma mistura de tradição judaica e asce­tismo gnóstico”.

O dualismo platônico, que considerava a matéria inerente má, certamente estaria influenciando o pensamento judaico e trazendo inquietações para as igrejas nascentes. No caso de Éfeso, isso ficaria bem evidente poucas décadas depois, quando a igreja foi pastoreada por João, o apóstolo do amor.

Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: QUEIROZ, Silas. Sejam Firmes: Ensino Sadio e Caráter Santo nas Cartas Pastorais. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.

Telmo Bueno.

Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2023/07/05/licao-2-o-problema-dos-falsos-mestres/

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