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Jovens – Lição 07 – O Quarto Sinal: A Multiplicação dos Pães e Peixes

INTRODUÇÃO

Uma nova fase foi inaugurada no ministério de Jesus. Agora Ele parte para a Galileia, numa longa incursão, que terá a duração de cerca de um ano.

É justamente o verbo “partir”, utilizado por João, que expressa bem essa guinada missionária: “Depois disso, partiu Jesus para o outro lado do mar da Galileia, que é o de Tiberíades” (6.1).

Essa “fase galilaica do ministério de Jesus”, para usar a expressão de D. A. Carson, reflete a decisão do Mestre de ausentar-se da Judeia, pelo crescimento da oposição em Jerusalém, como vimos no capítulo anterior.

O ódio dos judeus havia crescido tanto que o plano já era matá-lo: “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebran­tava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (5.18).

Foi assim, portanto, que Jesus suspendeu as suas incursões à Judeia e voltou para a Galileia, precisamente para a fase do seu ministério que está bem presente nas narrativas dos sinóticos.

Uma vez mais, portanto, observemos a singular importância do Evangelho de João, que apresenta os cenários introdutórios do ministério de Jesus, tanto na Galileia (desde o milagre nas bodas de Caná, Jo 2.1-12) como na Judeia, nas duas primeiras viagens feitas a Jerusalém (2.13; 5.1), registros que não se encontram nos sinóticos.

Jesus já havia deixado a Judeia uma vez por causa das hostilidades dos judeus. No capítulo 4, o fato determinante foi a notícia de que Ele batizava mais discípulos do que João, o Batista, embora não fosse Ele, mas os seus discípulos, que efetuavam os batismos (4.1,2).

De qualquer sorte, como os fariseus tomaram conhecimento desse crescimento exponencial do seu ministério, e porque já vinham se aproximando dEle com as suas espúrias intenções (2.23-25), decidiu deixar a Judeia e “foi outra vez para a Galileia” (4.3). O quadro era muito mais dramático: procuravam matá-lo (5.16).

Agora Jesus seguirá para a Galileia e ficará por ali por um longo tempo, pregando às multidões e realizando muitos sinais e maravilhas.

Mateus, Marcos e Lucas registram grande parte desses acontecimentos, o que também não passou de largo, pelo menos em parte, da narrativa feita por João.

É por isso que os dois próximos sinais (o quarto e o quinto) têm o compartilhamento narrativo de outros evangelistas, diferentemente dos outros cinco sinais, que foram registrados somente por João. A primeira multiplicação de pães e peixes aparece nos quatro Evangelhos. É desse sinal que passaremos a tratar.

O CONTEXTO DO MILAGRE

O fato dessa fase do ministério de Jesus ter sido registrada pelos quatro evangelistas permite-nos ter uma visão panorâmica dos acontecimentos nos quais o milagre da multiplicação dos pães e peixes está inserido.

Como o propósito de João não estava voltado para a historiografia, mas para a revelação da identidade messiânica de Jesus — o que fez por meio do re­gistro selecionado de sete sinais, sermões e declarações cristológicas —, a narrativa que faz do milagre não é antecedida de qualquer informação sobre a incursão do Mestre na Galileia.

Basta dizer que já começa a tratar de um fato ocorrido do outro lado do mar de Tiberíades, deixando de falar sobre o tempo que passou na parte mais populosa da região, ou seja, nas margens ocupadas por cidades como Cafarnaum e as suas adjacentes.

Em Mateus, esse milagre está registrado no capítulo 14.13-21 e é ante­cedido imediatamente pelo relato do recebimento da notícia da morte de João Batista, decapitado na prisão por ordem de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia (Mt 14.1-12).

Diz Mateus: “E Jesus, ouvindo isso, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde as cidades” (Mt 14.13).

Antes disso, Jesus havia ensinado longa­mente a multidão por intermédio de parábolas (Mt 13). De Marcos podemos destacar os seus ensinos e sinais em Cafarnaum e as pregações que fazia “por toda a Galileia”, além das expulsões de demônios (Mc 1.21-39).

Já de Lucas selecionamos, como fatos antecedentes à primeira multiplicação dos pães e peixes, a cura da mulher que tinha um fluxo de sangue e a ressurreição da filha de Jairo (Lc 8.40-56).

Há certa probabilidade de que fora a notícia da morte de João Batista, aliada à intensidade das ações que vinha desenvolvendo, a motivação para Jesus buscar um lugar deserto para um tempo de refrigério.

Não sabemos quanto à execução do seu precursor afetou-o, sabendo o quanto se de­dicou para apresentá-lo às multidões, cumprindo fielmente a missão que ele recebera desde o ventre da sua mãe, Isabel (Lc 1.13-17).

Na verdade, a narrativa dos evangelistas permite-nos considerar que a sequência imediata dos fatos pode ter sido a notícia da conclusão de Herodes, para quem Jesus seria João Batista, ressuscitado dos mortos (Mt 14.1,2).

Se assim for, a sua decisão de seguir para um lugar deserto ocorreu depois de ter ouvido as notícias vindas de Herodes ao seu respeito, sem uma correlação imediata com a execução de João Batista e o seu sepultamento.

Sendo um ou outro o motivo da sua retirada, o fato é que a multidão seguiu-o ávida pelos sinais que Ele operava sobre os enfermos (6.2).

Diante do quadro espiritual tão trágico que Israel vivia com os seus líderes, que estavam inteiramente afastados da direção de Deus e dos seus propósitos, Jesus via as multidões como ovelhas sem pastor, andan­do desgarradas (Mt 9.36).

Naquela ocasião, portanto, ao ver a multidão, passou a ensinar sobre o Reino de Deus (Lc 9.11) e, “possuído de íntima compaixão para com ela, curou os seus enfermos” (Mt 14.15). Nisso, o fim da tarde chegou, e Jesus não quis despedir a multidão sem que fosse alimentada (Mt 14.15,16; Mc 6.35-37). Estava pronto o cenário para mais um sinal miraculoso.

A GALILEIA DOS GENTIOS

Ainda antes de estudar o milagre propriamente dito, falemos um pouco sobre o contexto geográfico em que estava Jesus, a famosa Galileia dos gentios, situada ao Norte de Israel, a oeste do rio Jordão, em torno e acima do grande lago que leva o mesmo nome.

Em Isaías 9.1, é chamada de “Ga­lileia dos gentios” a terra de Zebulom e a de Naftali, as tribos que herdaram a região nos dias de Josué (Js 19.10-16,32-39). Foi devastada por meio da invasão da Assíria em 733 a.C. e teve a sua ocupação alterada (2 Rs 15.29; 17.24-27).

Embora essa predominância gentílica tenha recebido sensível mudança depois que Herodes anexou a Galileia ao seu reino, isso não eliminou a miscigenação.

Para lá afluíram muitos judeus, e a região tornou-se mais populosa. Segundo Flávio Josefo, tinha cerca de 240 cidades e vilas.

As principais eram Cafarnaum, Nazaré e Tiberíades, a capital.5 Nos dias de Jesus, a região integrava a tetrarquia de Herodes Antipas (4 a.C.—30 d.C) e continuava sendo uma região considerada predominantemente gentia e pagã; por isso que era chamada de Galileia dos gentios ou Galileia das nações (Mt 4.13-15).

Como observa Wycliffe, “os apóstolos de Jesus eram da Galileia (exceto Judas Iscariotes), e a maior parte do seu ministério foi desenvolvida no norte e na extremidade oeste do mar da Galileia, usando Cafarnaum como ponto central”.

Pela sua já mencionada heterogeneidade e o contato com diferentes povos, a Galileia tinha uma cultura bastante influenciada por gregos e romanos. Por isso, o termo galileu ganhou um conceito pejorativo entre os judeus da Judeia.

Esse era um dos motivos que apresentavam para a rejeição de Jesus, que consideravam ser galileu (Jo 1.46; 7.41,52), embora tenha nascido em Belém da Judeia, como sabemos (Lc 2.4-7). Até nesse aspecto vemos a sabedoria divina em ação, confundindo aqueles que, pela dureza do coração, rejeitavam o Salvador.

A hostilidade de Jerusalém exigia que Jesus ficasse um longo tempo na Galileia, pregando, ensinando e realizando sinais e maravilhas pelas muitas cidades da região.

Mais do que isso, a sua atuação em terras tão miscigenadas é mais um sinal da amplitude do plano divino de salvação, que não exclui Israel, mas também não rejeita a qualquer nação. Além da Galileia, Jesus foi às regiões de Tiro e Sidom (Mt 15.21-28; Mc 7.24-30), a Decápolis (Mc 7.31) e a Cesareia de Filipe (Mc 8.27).

A segunda fase do seu ministério, portanto, é uma eloquente demonstração do quanto se dedicou a uma população heterogênea, revelando o caráter universal da sua missão.

SEGUINDO OS SINAIS

A motivação dos galileus para seguir a Jesus eram os sinais que Ele operava (6.2). Isso mostra a fé superficial que tinham, distantes do conhecimento da sua verdadeira identidade.

Era um operador de milagres que procuravam ver. Como vimos pela análise conjunta do relato a partir dos demais evangelhos, Jesus colheu a oportunidade para falar do seu Reino e, somente depois, já com o cair da tarde, é que operou o milagre da multiplicação, embora antes já tivesse operado outros milagres.

Falando sobre a multidão, Mateus usa a expressão “curou os seus enfermos”, levando-nos a crer que muitos foram curados naquele dia (Mt 14.14). A mesma narrativa foi feita por Lucas, quando disse que Jesus “sarava os que necessitavam de cura” (Lc 9.11). Tudo isso era fruto da sua “íntima compaixão” (Mt 14.14).

A permanência da multidão levou Jesus a preocupar-se com a necessidade de alimentá-la, inquirindo a Filipe sobre onde poderiam ser comprados pães suficientes para todos (6.5).

O próprio evangelista João, certamente pelo entendimento espiritual que posteriormente havia obtido, acrescenta que Jesus “dizia isso para […] experimentar [a Filipe]; porque ele bem sabia o que havia de fazer” (6.6).

Diante da necessidade que temos de contemplar a glória de Deus, por vezes o Senhor Jesus cria situações para despertar em nós nossa plena insuficiência e dependência dEle.

Assim, Ele pode demons­trar a sua graça e poder e aperfeiçoar nossa fé. Foi assim naquela ocasião. Mais um sinal miraculoso estava para acontecer, revelando a sua divindade.

A insuficiência humana foi exposta na afirmativa de Filipe, de que nem mesmo duzentos dinheiros seriam suficientes para adquirir alimento para tanta gente (6.7).

Cada dinheiro ou denário representava um dia de trabalho. Assim, o valor a que se refere Filipe correspondia a cerca de dez meses de trabalho.

Além de não terem essa quantia vultosa, todos os evangelhos informam que o lugar era deserto. João informa que partiu de André, irmão de Simão Pedro, a informação de que estava ali um rapaz que tinha cinco pães de cevada e dois peixinhos, já com o reconhecimento do óbvio: que isso não era nada para uma tão grande multidão (6.9).

“Mandai Assentar os Homens”

Um detalhe importante nesse episódio é o cuidado de Jesus com a organi­zação da multidão, revelando o absoluto controle que tinha da situação: Ele mandou-os assentar.

E não se trata de um incidente de pouco valor, tanto que os quatro evangelistas também o registram. Marcos e Lucas especificam que houve uma ordem de repartição em grupos de cem em cem e de cinquenta em cinquenta, no que foi obedecido (Mc 6.39,40; Lc 9.14,15).

Isso nos fala da necessidade de obediência integral a Cristo em todos os momentos, ainda que isso contrarie nossa lógica. Por que e para que aqueles homens ficariam assentados em um lugar deserto se estavam famintos e diante deles havia somente cinco pães e dois peixinhos?

Imaginemos a cena: quase cinco mil homens assentados sobre a relva (“erva verde”, cf. Mc 6.39) em um lugar deserto, sem nenhuma explicação plausível! Alguns estudiosos, como D. A. Carson, consideram que o número de pessoas pode ter passado dos vinte mil, porque também havia mulheres e crianças, que comumente não eram contados (Mt 14.21).9 Diante de todos, Jesus toma os pães e ora, dando graças. O mesmo Carson imagina que: “Se Jesus usava a forma judaica comum de ação de graças, ele disse algo semelhante a isto: ‘Bendito sejas tu, ó Senhor nosso Deus, rei do universo, que produz o pão da terra’”.

Toda essa organização e a forma explícita como apresentou o alimento disponível, seguidas de oração, tornariam inequívoca a multiplicação.

Os discípulos começaram a distribuir os pedaços de pães e peixes dentre os tantos grupos que foram formados e estavam assentados. Ao fim de tudo, o relato joanino traz a mesma informação de saciedade contida nos demais evangelhos, usando a expressão “quanto eles queriam” (6.11), indicando que todos comeram à vontade.

Não foi, portanto, apenas uma distribuição única, mas com direito à repetição, pois isso Mateus, Marcos e Lucas referem-se ao fato de que ficaram saciados ou fartos (Mt 14.20; Mc 6.42; Lc 9.17). Isso reforça ainda mais a grandeza do sinal miraculoso realizado por Jesus.

Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: QUEIROZ, Silas. Jesus, o Filho de Deus: Os Sinais e Ensinos de Jesus Cristo no Evangelho de João. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2022/02/07/licao-7-o-quarto-sinal-a-multiplicacao-dos-paes-e-peixes/

Vídeo: https://youtu.be/-YkM3nrwDf4

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