Jovens – Lição 07 – Os perigos do deserto
Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Mostrar que nos períodos de provações (desertos), habitualmente surgem críticas indevidas, como aconteceu com Moisés;
Saber que como aconteceu com Jesus, no deserto a obediência de cada um é testada;
Reconhecer que há instantes, na vida de um servo de Deus, que ocorrerão perdas pessoais irreparáveis, as quais podem contribuir para o surgimento da solidão.
Palavras-chave: Peregrinação no deserto.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Reynaldo Odilo:
INTRODUÇÃO
Depois de o povo de Israel peregrinar, indo e vindo, sem um rumo certo, andando de forma irregular, por estarem cumprindo a sentença divina, ante à rebelião no deserto, cujo ápice se deu em Números 13, completam-se os quarenta anos de jornada (Nm 20).
Neste 40º ano da viagem, acontecem fatos sobremodo decisivos, como, por exemplo, o falecimento de duas pessoas muito queridas de Moisés: seus irmãos Miriã e Arão. Trata também da rejeição e repulsa de um povo coirmão: Edom, que o impediu de passar por seu território.
Matthew Henry, com primor, narra esse momento fundamental para o povo hebreu:
Depois de trinta e nove anos de tediosas peregrinações, ou melhor, tediosos descansos, no deserto, aproximando se e afastando-se do Mar Vermelho, os exércitos de Israel agora, por fim, se voltaram outra vez para Canaã, e não tinham chegado muito longe do lugar onde estavam quando, pela sentença da Justiça divina, foram forçados a dar início às suas peregrinações.
Até aqui, eles tinham sido conduzidos por uma espécie de labirinto, enquanto se fazia a execução dos rebeldes que eram condenados.
Mas agora foram trazidos ao caminho correto outra vez: eles ficaram em Cades (v. 1), não Cades-Barneia, que estava perto das fronteiras de Canaã, mas outra Cades, nas fronteiras de Edom, mais afastada da terra da promessa, mas a caminho dela, a partir do Mar Vermelho, ao qual tinham sido forçados a voltar.
[…]O capítulo teve início com o funeral de Miriã e termina com o funeral de seu irmão, Arão. Quando a morte se abate sobre uma família, em alguns casos ela ataca em dobro. […] Moisés, cujas mãos tinham antes vestido Arão com suas vestes sacerdotais, agora o despe delas.1
Os fatos narrados no capítulo 20 e o longo período de caminhada naquele ambiente inóspito serão analisados sob a ótica do líder Moisés, e os efeitos que lhe ocasionaram.
Mesmo com todos os sinais miraculosos que aconteceram em seu ministério, ele foi constantemente censurado por sua espiritualidade, moralidade e integridade enquanto ser humano. Quais consequências advieram disso?
No meio de todo o caos social e político que, por vezes, transbordava, registre-se, ainda, a dificuldade que Moisés teve em achar amigos verdadeiros.
Não é de se admirar que, diante desse emaranhado de traições, inconformismos e rebeliões, ele, por um instante, fraquejou na fé em Deus, e feriu a glória da santidade divina, vindo, como isso, a perder a autorização para seguir no maior projeto de sua vida: entrar com o povo em Canaã.
Será que esses episódios aconteceram somente na caminhada no deserto, ou frequentemente se desenvolvem também nas comunidades cristãs da atualidade? “Os perigos do deserto” traduzem uma grave advertência para esta geração, como lembrou Paulo (1 Co 10.1-12).
I – NO DESERTO SURGEM CRÍTICAS
1-Quanto à Espiritualidade
Está escrito que os hebreus, no deserto, endureceram os seus corações (Sl 95.8) e tornaram-se cobiçosos (Sl 106.14).
Essas verdades podem ser claramente observadas na rebelião de Corá, Datã e Abirão (Nm 16.3), estudada anteriormente, quando Moisés foi acusado de não possuir autoridade espiritual para conduzir o povo.
Que argumento falacioso! Curiosamente, porém, conseguiu convencer muita gente. Essa mesma artimanha foi utilizada por Satanás, na tentação no deserto, quando quis que Jesus desconfiasse da voz de Deus que bradou dos céus, sobre as águas do Rio Jordão, dizendo que Ele era o Filho amado, em quem o Senhor tinha muito prazer (Mt 4.1-11).
O Diabo foi vencido porque Jesus, mesmo fraco, com fome, nunca duvidou que aquilo que Deus diz é verdade.
Criticar a espiritualidade do líder é um jogo antigo do Diabo. Ora, Moisés, desde os primeiros sinais no Egito, tinha apresentado credenciais suficientes de sua autoridade espiritual, mas, no deserto, até ela foi contestada.
Perfaz-se numa realidade que a espiritualidade de cada cristão é testada fortemente no período em que se caminha no meio da escassez. Faz-se necessário, pois, haver constante comunhão com Deus para não desfalecer.
Em algum momento da trajetória da vida haverá desertos a serem transpostos; é preciso, por isso, ter muito cuidado para não sucumbir ante aos perigos que surgem nesses dias difíceis.
2-Quanto à Moralidade
Inequivocamente, possuir bom caráter é o requisito primordial para uma liderança eficaz, pois sem essa característica o povo perde a confiança e o trabalho não prospera.
O rei Davi, por exemplo, teve um reinado sem sobressaltos político-administrativos até o instante em que traiu seu grande amigo Urias, infringindo-lhe vergonha e morte. Naquele episódio, Davi agiu amoralmente e, a partir de então, as rebeliões explodiram em seu reinado, começando por seu filho Absalão.
A nova geração de hebreus nascida no deserto murmurou sobre a decisão de Moisés em estimular o povo a herdar uma terra que manava leite e mel (Nm 20.5).
Eles questionavam a moralidade de Moisés, que estava sendo acusado de conduzir, com irresponsabilidade histórica, o povo por caminhos sem sentido e com nenhum resultado; pareciam adeptos da teologia da prosperidade!
Eles, no fundo, ao questionarem a moralidade de Moisés, estavam também desqualificando o modo de agir de Deus — sua bondade! Os hebreus não atentavam para as coisas espirituais, eternas, mas apenas às transitórias, materiais.
Eles não compreendiam o processo, os caminhos de Deus, mas apenas eram conhecedores dos feitos do Senhor; Moisés, entretanto, conhecia os seus caminhos (Sl 103.7). Interessantes observações foram lançadas acerca dessa dissensão política:
[…] reclamaram porque não havia água para a congregação (2). Era o mesmo padrão que caracterizava as murmurações do passado. […] Claro que a geração mais jovem não desfrutara os prazeres do Egito nem sofrera plenamente as provações da viagem, mas, sem dúvida, ouviu as histórias.
As reclamações neste momento poderiam ter sido lideradas pelos mais velhos, a quem estes acontecimentos do passado não eram tão remotos.
É evidente que a congregação estava inclinada a se prender a qualquer assunto que lhe desse ocasião para se queixar da dificuldade. A murmuração não se destaca por sua lógica nem está limitada a certo conjunto de circunstâncias ou a qualquer geração.2
Murmurar a qualquer custo, sob os pretextos mais variados, com ou sem nenhuma razoabilidade e lógica, parecia ser esse o mais apurado prazer daquele povo, — um verdadeiro traço cultural.
Por isso a experiência do deserto é insubstituível para quem anda com o Senhor: deixará aprendizados indeléveis, indispensáveis para seguir com fé e confiança pela estrada da vida.
Todas as palavras irrogadas contra Moisés traduziam, na verdade, uma enorme ingratidão. Faltava água? Era isso? Quantas outras vezes esse problema foi resolvido, de maneira miraculosa?
A conduta responsável, moral, consequente, de Moisés e a bondade de Deus não poderiam jamais ser questionadas, pois as circunstâncias cotidianas sempre foram plenamente favoráveis ao povo: nenhum israelita morreu de fome ou sede enquanto atravessava o deserto, nem suas roupas envelheceram ou seus sapatos estragaram (Dt 29.5).
Os que morreram e foram sepultados no deserto foi por causa de desobediência. Deus porém manteve sua fidelidade e sua palavra empenhada. Moisés, inequivocamente, não merecia ser pressionado daquela maneira, recebendo tão injusta acusação!
3-Quanto à Sinceridade
No deserto, de onde menos se espera é que surgem as vãs suspeitas, as acusações, os julgamentos sumários sem provas.
Os liderados de Moisés suscitaram dúvida acerca de seu bom senso, sua responsabilidade moral, o que deve ter lhe causado muita tristeza. Agora, porém, conjecturava-se acerca da integridade do líder. Era uma intriga internacional.
Os irmãos do povo hebreu — os edomitas (descendentes de Esaú), que moravam ao lado de Cades —, não acreditaram que Moisés estava sendo sincero ao pedir que deixassem os israelitas passarem pelo seu território (Nm 20.14-21). Como é doloroso quando nossos irmãos não confiam em nós!
Duvidaram tanto da honestidade, da boa fé, de Moisés que, por isso, arregimentaram um grande exercito para afugentar o povo para longe de suas terras. No deserto, a má fama do líder se propaga, inclusive para além dos limites territoriais; até os seus vizinhos desconfiavam da suas reais intenções.
A integridade, sinceridade, pureza de propósitos, de um líder cristão apresenta-se, sem dúvida, como seu maior patrimônio. Entretanto, no deserto, até esse bem imaterial é frequentemente questionado.
A índole de Moisés, nos quarenta anos de caminhada, deveria ser suficiente para que os edomitas confiassem nele.
Entretanto, no deserto, as coisas acontecem sempre de maneira inesperada, pois num ambiente cheio de perigos espirituais, morais e físicos, as pessoas, em regra, desconfiam de tudo.
II – NO DESERTO A OBEDIÊNCIA É TESTADA
1) Pode-se Perder a Paciência
Les Parrott afirmou que quando uma pessoa adquire a sabedoria do Alto, aprende a lidar bem com os altos e baixos da existência, pois passa a entender como as coisas funcionam no projeto do Senhor.
Aduziu, ainda, que indivíduos sábios geralmente experimentam uma calma quando enfrentam decisões difíceis, haja vista que enxergam a situação como um todo.3 Isso é a mais pura verdade, mas nem sempre! Afinal, está escrito que “a opressão transforma o sábio em tolo” (Ec 7.7, NVI).
Foi precisamente o que aconteceu com Moisés em Números 20.7-13. Ele era considerado o homem mais manso da terra, entretanto, perdeu a paciência e, enraivecido, chamou seus liderados de rebeldes, prometendo resolver a reclamação, atraindo para si e seu irmão Arão “os méritos” pelo milagre (Nm 20.10). Acerca desse funesto acontecimento na vida de Moisés, mister citar:
Deus ficou descontente com a conduta de Moisés e Arão e lhes falou que eles não conduziriam esta congregação à terra que lhes tenho dado (12). O texto não descreve a natureza exata do pecado pelo qual esses dois líderes foram castigados.
Mesmo quando o registro é lido sobre a mais favorável interpretação, a resposta de Moisés não coincide com as ordens que Deus dera. Não há dúvida de que a verdadeira natureza do pecado reside nesta discrepância”.4
O caminho do deserto traz consigo o perigo da desobediência e falta de humildade, as quais podem acarretar sérios transtornos, com consequências prolongadas. Uma longa história de fé e obediência se desfez em um único ato em submissão e arrogância. Todo cuidado é pouco.
2-Pode-se Perder o Equilíbrio
A palavra “equilíbrio” (Hb. miphlas, que também pode ser traduzida como flutuação, balanceamento) aparece no texto bíblico em Jó 37.16: “Tens tu notícia do equilíbrio das grossas nuvens e das maravilhas daquele que é perfeito nos conhecimentos?”.
O Senhor está perguntando a Jó se ele sabe como, nas nuvens, milhares ou até milhões de metros cúbicos de água ficam flutuando. Jó precisava, como Moisés, e todos nós, de equilíbrio. E Deus sabia como promover essa situação.
Equilíbrio — essa condição que acontece em um dado sistema, quando as forças atuantes se compensam, anulando-se mutuamente — foi o que faltou nas emoções de Moisés. Ele se viu coagido pelo povo, com agressões injustas e, em vez de fazer o balanceamento, contrapondo argumentos, perdoando excessos verbais, deixou-se levar, agindo como um tolo. Foi traído por uma forte emoção.
Além de ter trazido para a liderança a responsabilidade pelo milagre, feriu a rocha, que simbolizava Cristo, por duas vezes (Nm 20.11), o que desagradou muitíssimo ao Senhor, o qual tinha determinado que Moisés falasse à rocha,
Os filhos de Deus podem, aqui ou acolá, perder o equilíbrio, como aconteceu com Moisés e Arão, e praticarem algo que, embora não aparente ser um grande pecado, traga graves consequências.
O recomendável, diante disso tudo, é que se evite transgredir contra o Senhor, principalmente quando estiver no exercício de qualquer atividade eclesiástica, pois a presença de Deus exige, de cada pessoa, reverência, solenidade, santidade e um profundo senso se adoração.
Moisés sabia disso tudo e, mesmo assim, com a vara de Deus na mão (denota que ele agia pela autoridade espiritual delegada) cometeu o desatino de querer roubar a glória do Senhor (Is 42.8; 48.11).
3-Pode-se Perder a Promessa (20.12)
Stephen Adei afirmou, com precisão, que “os cemitérios estão cheios de sonhos não concretizados […] porque muitos dos que estão sepultados ali sucumbiram a pressões da sociedade, tradição, e negligenciaram o caminho de Deus”.5
Observe-se que Adei não menciona grandes guerras, terremotos, erupções vulcânicas, como destruidores de projetos de vida, mas ele faz alusão a sucumbir ante às pressões do cotidiano, fazendo-nos desviar do caminho de Deus.
Foi exatamente o que aconteceu com Moisés: um homem que viveu embalado por essa promessa de entrar em Canaã, mas como “a quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lc 12.48, NVI), sua conduta que desonrou a Deus ocasionou-lhe, pela condicionalidade da promessa, o rompimento do pacto (Lv 26.3-12). Aparentemente, foi um fato de pouca rebeldia, mas não para Deus. Por isso, ambos os irmãos levitas perderam a promessa.
Tal fato demonstra a existência de situações que, às vezes, julga-se não terem muito valor, mas, na verdade, para Deus, são extremamente valiosas; há outras, porém, que parecem importantes, mas, na realidade, não possuem grande representatividade para o Senhor.
Moisés perdeu a promessa só porque desobedeceu a Deus e feriu a rocha, pode alguém arrazoar. Não! Foi muito mais.
Ele usurpou, com o auxílio do sumo sacerdote Arão, o lugar da adoração, atraindo para si a glória quanto ao milagre, a qual deve ser dada exclusivamente a Deus, “porque dele, por ele e para ele são todas as coisas”.
CONCLUSÃO
Na jornada da vida, em alguns momentos, deparamo-nos com situações que não têm explicação lógica. Tempos em que faltam significados, e sobram murmúrios, medos e desapontamentos.
Moisés, certamente, enfrentou esses tempos calamitosos, conforme Números 20, neste capítulo brevemente analisado.
Grandes tragédias aconteceram com Moisés: morrem Miriã e Arão, seus irmãos; os vizinhos edomitas (descendentes de Esaú) demonstram aversão; e, por fim, ele é reprovado por Deus, o qual não lhe permite entrar na Terra Prometida. Os perigos do deserto são muitos. É preciso vigilância.
Que Deus o(a) abençoe.
Fonte: http://www.escoladominical.com.br/home/licoes-biblicas/subsidios/jovens/1362-li%C3%A7%C3%A3o-7-os-perigos-do-deserto.html
Video: https://www.youtube.com/watch?v=GUa8mXo4Dgg
1 HENRY, Matthew. Comentário bíblico do Novo Testamento. vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 512, 515.
2 LIVINGSTON, George Herbert; COX, Leo G.; KINLAW, Dennis F.; BOIS, Lauriston J. Du; FORD, Jack; DEASLEY, A.R.G. Comentário bíblico Beacon. vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 364.
3 PARROTT, Les. Você é mais forte do que pensa. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 38.
4 LIVINGSTON, George Herbert; COX, Leo G.; KINLAW, Dennis F.; BOIS, Lauriston J. Du; FORD, Jack; DEASLEY, A.R.G. Comentário bíblico Beacon. vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 364.
5 ADEI, Stephen. Seja o líder que sua família precisa. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 70.