Jovens – Lição 1 – A Doutrina das Últimas Coisas
INTRODUÇÃO
– Estudaremos nesta lição a doutrina das últimas coisas, a Escatologia, que são os ensinos bíblicos a respeito dos “últimos dias”, entendidos estes como o tempo que se passa a partir da vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.
– A promessa da volta de Cristo e o fim do atual período da dispensação da graça é a profecia mais repetida em o Novo Testamento e, por isso, não deve nos surpreender o fato de que se trata de uma das doutrinas contra as quais o adversário tem lutado duramente, buscando, assim, iludir os incautos e roubar-lhes a esperança da glória futura.
I – A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS: ESCATOLOGIA
– Uma das doutrinas bíblicas diz respeito ao ensino do que Deus nos revelou a respeito das profecias relacionadas com o término da dispensação da Igreja e os fatos subsequentes até o final da história humana, ou seja, a chamada “doutrina das últimas coisas”, isto é, o ensino a respeito dos últimos fatos que acontecerão na história da humanidade, doutrina esta que recebeu o nome grego de “Escatologia”, palavra que significa literalmente “estudo das últimas coisas”, pois vem do grego “escata”, que significa, as últimas coisas, e “logos”, estudo.
– Antes de dar início ao estudo da doutrina das últimas coisas, devemos entender, primeiramente, porque e para que Deus quis deixar revelado ao homem o que iria acontecer, que é, precisamente, o objeto desta doutrina bíblica.
Ao mostrar as coisas que ainda iriam ocorrer, Deus quis não saciar uma natural curiosidade do homem a respeito do futuro, que poderíamos, inclusive, dizer que se trata de uma nota da própria natureza humana, mas, sobretudo, mostrar, com isso, pelo menos três coisas, a saber:
a) Deus é soberano e, portanto, O Senhor de todas as coisas, inclusive da história, a ponto de poder dizer, com antecedência, o que irá acontecer.
b) O homem que decide servir a Deus não precisa ficar atônito com relação ao futuro, pois sabe o que irá acontecer, porque certas coisas têm acontecido, diante da revelação divina.
c) O homem que decide servir a Deus, por saber o que, porque e para que as coisas à sua volta estão acontecendo, tem renovada a sua fé, aumentada a sua esperança bem como o seu ânimo em servir ao Senhor enquanto aqui viver.
– Devemos, portanto, ao estudar a doutrina das últimas coisas, não nos deixar levar pela curiosidade pura e simples, nem enxergá-la como um exercício de futurismo ou de adivinhação, mas, sobretudo, como um eficaz e necessário instrumento para que venhamos a servir a Deus com mais fé, esperança e disposição.
– A Escatologia é, portanto, o estudo das coisas que foram reveladas por Deus e que se encontram na Sua Palavra a respeito daquilo que ocorrerá no final dos tempos, no final da história humana.
Daí porque muitos relacionarem os estudos escatológicos ao “fim do mundo”, expressão que não é errada, mas que é uma simplificação muito grande que pode levar a erros.
Os crentes sabem que este mundo em que nós vivemos irá ser substituído por um novo céu e uma nova terra e que, portanto, terá um fim, mas o crente não pode se iludir com discursos que surgem a respeito do “fim do mundo”, como se isto fosse acontecer de forma repentina, através de uma catástrofe, como se dizia no tempo da chamada “guerra fria” (período entre 1947 a 1989, quando Estados Unidos e União Soviética se enfrentaram, sem uma guerra direta, pelo controle do planeta).
Os cristãos devem aprender, pela revelação constante na Bíblia Sagrada, o que ocorrerá antes deste final dos tempos e, no cumprimento das profecias, ter ainda mais alicerçada a sua fé no Senhor.
– Parte considerável das Escrituras Sagradas é formada de textos proféticos, mensagens de Deus aos homens em que, não poucas vezes, o Senhor mostra todo o Seu controle sobre a história da humanidade, revelando, com antecedência de séculos e milênios, fatos que ainda iriam acontecer.
O Senhor mostra, assim, que para Ele o tempo simplesmente não existe, tudo é um eterno presente e que, por isso, é necessário que n’Ele confiemos e Lhe obedeçamos, pois só assim teremos condição de participar da eternidade na Sua companhia, pois nada Lhe foge ao controle.
– Alguns estudiosos da Bíblia, inclusive, dizem que a Escatologia não abrange apenas os fatos históricos que ainda estão por acontecer, dentro de nossa atual dispensação, mas abrange toda a atividade profética constante das Escrituras, pois, as profecias a respeito da primeira vinda de Jesus, por exemplo, são tão escatológicas quanto as profecias que se referem à Sua segunda vinda, uma vez que, nos dois casos, o fato de Jesus já ter vindo a este mundo uma vez não altera a circunstância de que Deus fez as revelações antes que os fatos tenham acontecido, sendo, pois, uma ação divina de igual natureza tanto num caso quanto noutro.
– Embora até concordemos com este ponto-de-vista, temos que o objeto do estudo desta lição diz respeito aos fatos que ocorrerão a partir do instante em que a Igreja se constitui no povo de Deus aqui na Terra, este período de tempo na história humana em que Cristo concluiu a Sua obra de reconciliação entre Deus e o homem e esta boa nova é anunciada a todas as nações, com a plena e livre ação do Espírito Santo sobre a humanidade, pronta a convencê-la dos seus pecados e a fazer prosperar a pregação do Evangelho, que é levada a efeito pela Igreja.
– Dentro desta perspectiva, vemos que a doutrina das últimas coisas tem como profecia-chave, como elemento de base, a revelação feita por Deus, através do anjo Gabriel, ao profeta e grande estadista Daniel, conhecida como a “profecia das setenta semanas”, que se encontra em Dn.9:24-27. É a partir desta revelação que se deve estruturar todo o estudo das últimas coisas.
– O profeta Daniel, como sabemos, estava cativo desde a sua adolescência na corte babilônica. Fiel a Deus, prosperou naquela corte, chegando, mesmo, a atingir o ápice da carreira administrativa, tendo sido o único homem que, em toda a história da humanidade, serviu a três civilizações proeminentes distintas (Babilônia,Média e Pérsia).
Apesar de toda esta proeminência, Daniel jamais se esqueceu de sua condição de judeu, de integrante do povo escolhido por Deus e, até por causa da sua visão de estadista (o estadista é aquela pessoa que, dentro de suas habilidades políticas, enxerga as próximas gerações e não apenas a próxima eleição, como costuma ocorrer com os políticos em geral).
Ao perceber que se completavam os setenta anos profetizados por Jeremias para a duração do cativeiro, passou a indagar o Senhor a respeito do futuro do seu povo, do futuro de Israel, já que não via como, humanamente, no limiar do domínio persa sobre o Oriente, poderia haver a restauração de Israel e o cumprimento das profecias até então existentes a respeito de uma aliança perpétua entre Deus e o Seu povo.
– Em resposta a esta oração sincera de Daniel, Deus, então, enviou o anjo Gabriel, que veio transmitir a mensagem divina relativa às setenta semanas, mensagem esta que só foi entregue após uma luta espiritual entre anjos, a demonstrar que o inimigo tentou (e sempre tentará) impedir que houvesse esta revelação, porquanto o conhecimento a respeito do que vai acontecer traz benefícios espirituais importantíssimos para os servos do Senhor.
Não é por acaso, portanto, que os falsos ensinos têm tido a escatologia sempre como um dos alvos preferenciais, seja com distorções doutrinária, seja com o relegar deste estudo ao último plano.
– Não é nosso objetivo aqui, até porque não é este o tema de nosso estudo nesta lição, dissecarmos a profecia das setenta semanas de Daniel, mas, sim, de demonstrar que é a partir do que está nesta profecia que devemos compreender as profecias bíblicas ainda não cumpridas naquele tempo e, em especial, as que ainda não se cumpriram no nosso tempo, ao mesmo tempo em que destacamos alguns elementos presentes nesta profecia e que são a chave para uma compreensão correta da escatologia bíblica.
– Em primeiro lugar, como vimos, a profecia veio em resposta a um pedido do profeta Daniel, um servo de Deus, sobre o futuro do povo de Deus, vez que se estavam cumprindo os setenta anos anunciados por Jeremias para a duração do cativeiro. Portanto, a escatologia está sempre relacionada com o futuro de Israel depois do cativeiro da Babilônia. A relação, pois, entre a escatologia e o povo de Israel é inevitável e sempre deve estar na mente dos crentes.
– Em segundo lugar, na profecia das setenta semanas, vemos uma revelação destinada a um estadista experimentado, como era o profeta Daniel, e a quem Deus já havia revelado o futuro da humanidade através da revelação e interpretação de sonhos.
Assim, um outro elemento que deve nos chamar a atenção é que a escatologia bíblica se relaciona, também, com o movimento do poder político entre as nações sobre a face da Terra.
Assim sendo, é impossível falarmos em termos escatológicos sem avaliarmos o movimento do poder político entre as nações, ou, para usarmos uma expressão muito em voga nos nossos dias, o cenário político internacional.
– Em terceiro lugar, na profecia das setenta semanas, vemos qual é o objetivo de todos os fatos que ocorrerão no período final da história.
O anjo Gabriel disse ao profeta que “…setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para extinguir a transgressão, e dar fim aos pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos santos…” (Dn.9:24), ou seja, a finalidade de todo este movimento histórico outro não é senão pôr fim ao pecado que separa Deus do homem e, com isto, reinstituir aquela comunhão plena que havia entre Deus e o homem antes que os nossos primeiros pais pecassem.
A história nada mais é do que o período em que Deus e homem viveram separados um do outro por causa do pecado cometido pelo homem e o fim da história será o fim desta separação, com o retorno da comunhão entre Deus e o Seu povo, de forma absoluta, como se descreve em Ap.21:3.
Só então, quando o homem desfrutar desta comunhão plena com o seu Senhor e Criador, não haverá mais necessidade de profecia ou de visão, passando o homem a habitar plenamente no “Santo dos santos”, ou seja, na intimidade com o Senhor, por intermédio do sangue de Jesus que já foi derramado no Calvário.
II – AS LINHAS DE PENSAMENTO DA ESCATOLOGIA NA HISTÓRIA DA IGREJA
– A partir da profecia das setenta semanas, podemos elaborar uma espécie de cronograma dos acontecimentos escatológicos, uma espécie de calendário dos últimos dias, cujos eventos seriam estudados, à luz da Bíblia, na doutrina das últimas coisas, considerando, logicamente, a versão restrita de somente estudarmos aquilo que ainda não aconteceu a partir do nosso momento histórico.
– A profecia das setenta semanas inicia, como não poderia deixar de ser, com o término do cativeiro de Babilônia, que era o objeto da preocupação do profeta Daniel, indagação a que se respondia com esta revelação (cfr. Dn.9:2).
Assim, a revelação dada ao profeta estabeleceu que haveria uma ordem para a restauração e edificação de Jerusalém e que, a partir desta ordem, haveria um tempo de sete semanas para o término da obra.
Efetivamente, da ordem dada por Ciro para a reconstrução de Jerusalém(II Cr.36:22,23 e Ed.1:1) até o término da obra por Neemias(Ne.6:15), houve um período de 49 anos, ou seja, sete semanas de anos.
– Em seguida, a profecia fala de “sessenta e duas semanas” até a vinda do Messias, que era a grande promessa escatológica da época de Daniel, conforme havia sido profetizado desde Moisés, mas, de uma forma direta, através dos ministérios de Isaías e Miquéias.
Quando verificamos os episódios históricos, vemos que, entre a reconstrução de Jerusalém, terminada por Neemias, e a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, passaram-se 434 anos, ou seja, 62 semanas de anos.
– A profecia, então, diz que Messias seria tirado e não seria mais (Dn.9:25). Isto se cumpriu literalmente, pois, realmente, os judeus rejeitaram Jesus, mandando-o à crucificação (Mt.27:23-26), tendo, então, havido a interrupção do relacionamento entre Deus e o povo judeu, que Paulo, em sua carta aos Romanos, figura como sendo a quebra dos ramos naturais da oliveira e o enxerto do zambujeiro (Rm.11:17-32).
Há, então, uma parada na profecia das setenta semanas, pois surge aí um período de tempo que não se refere ao povo de Israel (a profecia das setenta semanas diz respeito ao povo de Daniel, ou seja, a Israel, como se vê de Dn.9:24), que é o período chamado de “dispensação da Igreja” ou “dispensação da graça”.
– Até este ponto, como se trata de fatos já acontecidos ao tempo do surgimento da Igreja como o novo povo de Deus na Terra, não há discussão.
A polêmica aparece quando se trata de perguntar quando haverá o cumprimento da última semana de Daniel e o que está para acontecer.
– Ao longo da história da Igreja, surgiram diferentes linhas de pensamento a respeito destes dois assuntos, o que faz com que tenhamos, necessariamente, diferentes escatologias, sendo necessário apresentarmos as diversas linhas de pensamento e nos posicionarmos, para que venhamos a ter um estudo profícuo e sem confusões.
– Com relação ao período da última semana de Daniel, tem sido ele conhecido pelo nome de “Grande Tribulação”, expressão tirada de Ap.7:14, qualificada como um “tempo de angústia que nunca houve” (Dn.12:1).
Basicamente, três têm sido os pensamentos a respeito de quando ocorrerá este período, a saber:
a) o pré-tribulacionismo – é a linha de pensamento que entende que a Grande Tribulação ocorrerá imediatamente após o arrebatamento da Igreja, ou seja, a Igreja não passará pela Grande Tribulação.
É a posição oficial das Assembléias de Deus.
b) o mídi-tribulacionismo – é a linha de pensamento que entende que metade da Grande Tribulação ocorrerá antes do arrebatamento da Igreja, ou seja, a Igreja não passará pela segunda metade da Grande Tribulação. É a posição que tem sido assumida no período recente por diversos estudiosos da Bíblia, inclusive ensinadores vinculados às Assembléias de Deus.
c) o pós-tribulacionismo – é a linha de pensamento que entende que a Igreja sofrerá toda a Grande Tribulação, negando até a existência do arrebatamento da Igreja como um evento separado da vinda de Jesus em glória. É a posição oficial dos movimentos adventistas.
– Com relação aos fatos que ainda irão acontecer, independentemente do cumprimento da última semana de Daniel, há, ainda, uma discussão a respeito do reino milenial de Cristo.
Como já dissemos, um elemento central da escatologia do Antigo Testamento era o estabelecimento do reino do Messias em Israel, algo que, até hoje, é aguardado com ansiedade pelos judeus. Esta esperança messiânica está patente na própria profecia das setenta semanas, onde o Messias é citado nominalmente.
Nesta mesma profecia, entretanto, é dito que o Messias seria tirado e não seria mais, como a indicar que, na sua primeira aparição, o Messias não cumpriria todas as profecias a respeito de um reino que terá sobre as nações.
– Não foi difícil aos cristãos, então, ante os próprios ensinamentos do Senhor, compreenderem que haveria um reinado de Cristo sobre a Terra, algo que o Senhor deixou claramente para o futuro, quando indagado a respeito pelos discípulos, pouco antes de Sua ascensão (At.1:6,7), e que foi confirmado depois pelos anjos mandados após o desaparecimento físico do Senhor (At.1:11).
Este reino, inclusive, foi revelado à Igreja, duraria mil anos (Ap.20:4), daí, então, passar a ser conhecido como o “reino milenial de Cristo” ou, simplesmente, de “milênio”.
– Pois bem, ao longo da história da Igreja, surgiram, também, três linhas de pensamento a respeito do milênio, correntes estas que também influenciam decisivamente o estudo da doutrina das últimas coisas, a saber:
a) o pré-milenismo – é a linha de pensamento segundo a qual o reino milenial de Cristo é anterior ao julgamento final e ao fim da história humana, ou seja, antes do fim deste mundo, Cristo ainda reinará mil anos sobre a Terra.
É a posição oficial das Assembléias de Deus.
b) o pós-milenismo – é a linha de pensamento segundo a qual o reino milenial de Cristo é posterior ao julgamento final e ao fim da história humana, ou seja, o milênio, na verdade, é o estado eterno, o novo céu e a nova terra onde habita a justiça, sendo a expressão “mil anos”, pois, metafórica, que significa a eternidade. É a posição dos movimentos adventistas.
c) o amilenismo – é a linha de pensamento segundo a qual o reino milenial de Cristo é a própria dispensação da Igreja, ou seja, o reino de Cristo é o domínio da Igreja sobre o mundo, o triunfo da evangelização. Quando todos os homens se converterem, virá o fim da história. É a posição oficial da Igreja Romana.
– Percebe-se, de pronto, que o estudo da doutrina das últimas coisas é difícil e exige muito cuidado por parte do cristão.
Conforme nos posicionamos nesta ou naquela linha de pensamento, a respeito destes dois assuntos que advêm da profecia das setenta semanas, teremos conclusões diferentes e, muitas vezes, contraditórias entre si. A verdade, sabemos, é única, é uma só e, por isso, não podemos admitir interpretações conflitantes.
Admitimos, entretanto, que, em certos pontos absolutamente secundários, poderemos até considerar pontos-de-vista nascidos em linhas de pensamento diferentes, dentro da máxima cunhada por Agostinho, segundo a qual, em teologia, devemos ter unidade nas coisas essenciais; liberdade, nas coisas secundárias e caridade (isto é, o amor “agape”), em todas elas.
As Assembleias de Deus adotaram oficialmente as linhas pré-tribulacionista e pré-milenista.
OBS: O item 11 do Cremos das Assembleias de Deus é bem claro a este respeito, “in verbis”:
“Cremos: Na Segunda premilenial de Cristo, em duas fases distintas. Primeira – invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; segunda – visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos. (1Ts 4.16. 17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5 e Jd 14)”.
III – A NECESSIDADE DO ESTUDO DA DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS
– Mas é necessário estudarmos a “doutrina das últimas coisas”? Em que isto contribui para a vida espiritual do cristão. Não bastaria a ele saber que Jesus vai voltar e se manter preparado para esse grande dia?
– Em primeiro lugar, devemos observar que este estudo é necessário porque Deus não faz coisa alguma sem qualquer propósito ou finalidade.
Se parte considerável das Escrituras está relacionada com a doutrina das últimas coisas, é sinal de que há necessidade de o homem saber as coisas que irão acontecer, pois, se assim não fosse, Deus não “perderia tempo” em revelá-las e em tanta quantidade.
– Em segundo lugar, temos de ter a consciência de que, quando Deus diz ao homem o que irá acontecer, está, sem dúvida alguma, mostrando ao homem que é o Senhor de todas as coisas, que tudo está sob o Seu controle, inclusive a história humana.
A palavra profética mostra ao homem, ser racional e moral, que Deus é, realmente, o Senhor da história e que está no controle de todas as coisas, tanto que, com antecedência, diz o que irá acontecer. Através do estudo da Escatologia, portanto, vemos que Deus é onisciente, porque sabe todas as coisas; onipotente, porque tem poder para realizar aquilo que foi prometido e predito e onipresente, pois está presente tanto no momento da profecia quanto no de seu cumprimento.
OBS: “…O primeiro motivo e mui principal por que Deus costuma revelar as cousas futuras (ou sejam benefícios ou castigos) muito tempo antes de sucederem, é para que conheçam clara e firmemente os homens, que todas vêm dispensadas por sua mão.
Arma-se assim a sabedoria eterna contra a natureza humana, sempre soberba, rebelde e ingrata, ou porque se não levante a maiores com os benefícios divinos, e se beije as mãos a si mesma, como dizia Job, ou porque não atribua a cousas naturais (e muito menos ao caso) os efeitos que vêm sentencia dos como castigo por sua justiça, ou ordenados para mais altos e ocultos fins por sua providência.…” (Antonio VIEIRA. História do futuro. Cap. IV, § II. http://www.google.com/search?q=cache:5PnmW3PGbLYJ:www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/futuro1.html+%22hist%C3%B3ria+do+futuro%2 2,+Vieira&hl=pt-BR Acesso em 16 set. 2004)
– Em terceiro lugar, ao anunciar o que vai acontecer, Deus permite ao homem que tome uma decisão consciente a respeito de seu destino eterno. Deus sabe que o homem não tem condições de, por si só, vislumbrar o futuro e, como ser racional que é, poderia, muito bem, questionar o que viria a ocorrer e, inclusive, de modo legítimo, indagar sobre a justiça divina, uma vez que seria obrigado a confiar em Deus e em Sua Palavra para ter a salvação, sem que Deus desse qualquer garantia de que é, efetivamente, o Senhor de todas as coisas, o Criador do homem.
Através da palavra profética, entretanto, Deus mostra, claramente ao homem, que a Sua soberania atual, que é verificada pelo homem com a sua razão, não é algo passageiro ou pontual, mas é eterna, tanto que profecias têm sido cumpridas infalivelmente e outras estão se cumprindo e outras ainda se cumprirão.
Deus, através da palavra profética, mostra a Sua justiça para com o homem e não lhe permite rejeitá-l’O ou aceitá-l’O inconscientemente.
– Em quarto lugar, Deus revela, nas profecias, os Seus propósitos, os Seus objetivos e para onde deve o homem caminhar se quiser agradá-l’O. Tudo o que acontece tem como objetivo extinguir a transgressão, dar fim aos pecados, expiar a iniquidade e trazer a justiça eterna. Deus tem um plano para o homem e é um plano de bênção, um plano de salvação.
Nada acontece por acaso e Deus já tem revelado ao homem o caminho que percorrerá para tornar a restabelecer a plena comunhão com o homem. A palavra profética, estudada pela Escatologia, mostra-nos este trabalhar de Deus, o Seu imenso amor e misericórdia para com os homens pecadores e Seus propósitos de nos beneficiar imensamente.
– Em quinto lugar, ao revelar o que vai acontecer, Deus nos faz ter discernimento a respeito dos fatos que ocorrem à nossa volta.
O cristão, conhecendo os propósitos divinos constantes das profecias escatológicas, tem condições para ver em cada fato noticiado, neste mundo onde os efeitos dos acontecimentos é cada vez mais imediato, praticamente em tempo real, a mão de Deus e o cumprimento das profecias.
Ao contrário dos demais homens, que não conhecem a Palavra, o crente saberá bem definir o significado deste ou daquele evento, o seu papel dentro do plano divino estabelecido pelo homem e, assim, fazer com que este acontecimento venha a ser assimilado de forma a que se aproxime mais do Senhor e se prepare para a iminente vinda para arrebatar a Sua Igreja.
Através da Escatologia, o homem terá condições de ser, do ponto-de-vista espiritual, tão vigilante e consciente quanto o agricultor em relação ao tempo, uma situação cuja ausência foi criticada por parte de nosso Senhor (cfr. Lc.12:54-56).
– Em sexto lugar, vemos o próprio exemplo das Escrituras, que nos indicam a necessidade do ensino desta doutrina à Igreja.
O maior sermão do ministério de Jesus não é, como alguns pensam, o sermão do monte ou, mesmo, a Sua oração sacerdotal, mas o chamado “sermão escatológico”, presente nos três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), onde Jesus trata das coisas que ainda iriam acontecer e do fim do mundo (Mt.24:1-3).
Não bastasse isso, a mensagem mais repetida no Novo Testamento a respeito de Cristo não é a que Ele é Senhor ou Salvador, mas, sim, a de que Ele voltará, o que é reproduzido “…em 318 vezes em 260 capítulos, numa média de um versículo a cada 25, havendo, na Bíblia, oito vezes mais referências sobre a segunda vinda do que a primeira.” (Cf. ESTUDO 6. A maior festa da humanidade. pequenosgrupos.com.br /Downloads/ESTUDO%206.doc).
– Todos os apóstolos, em seus ensinos à Igreja, sempre fizeram questão de alertar sobre o estudo da doutrina das últimas coisas, como revelam as epístolas de Paulo, Pedro, João, Tiago e Judas, sem se falar no livro do Apocalipse, que é todo ele dedicado “ às coisas que brevemente devem acontecer” (Ap.1:1).
Os escritos dos chamados “pais da Igreja”, ou seja, os grandes líderes e ensinadores dos dois primeiros séculos da Igreja, depois dos apóstolos, contêm sempre referências, quando não se trata do próprio assunto do escrito, à palavra profética e à Escatologia, que, certamente, era um dos fatores que maior ânimo davam aos milhares e milhares de mártires daquele tempo.
– Em sétimo lugar, por fim, vemos que o ensino da Escatologia é necessário para que o crente não deixe de dar prioridade às coisas celestiais, para que o crente não seja iludido pelas coisas desta vida.
Com efeito, a partir do momento que o crente tem descortinado o plano divino para o homem, o que está por vir, percebe que não tem tempo para desperdiçar com as coisas do mundo, muito menos de se prender por elas.
É por isso, aliás, que a pregação da “teologia da prosperidade” dos nossos dias só tem lugar depois da omissão da pregação da doutrina das últimas coisas em nossos púlpitos.
Jesus bem mostrou isto, ao dar o Seu sermão escatológico, precisamente quando os discípulos ameaçaram se deixar deslumbrar com o templo de Jerusalém(Mt.24:1-3).
Imediatamente após perceber que Seus discípulos poderiam dar valor às coisas desta vida, às coisas passageiras, Jesus lançou da palavra profética e, assim, impediu que o foco dos discípulos se perdesse. Assim devemos fazer nos dias em que vivemos: ensinar e pregar a doutrina das últimas coisas, como forma de impedir que os crentes se percam nas coisas desta vida.
– Sem que estudemos a doutrina das últimas coisas, pois, não teremos como conhecer verdadeiramente o Senhor. Não teremos condição de visualizar este Deus amoroso, misericordioso, interessado em que o pecado tenha fim e que vivamos com Ele para sempre.
Não teremos como chegar à conclusão de que Deus é o Senhor eterno de todas as coisas e que tem o controle de tudo. Não poderemos servi-l’O de forma correta e segundo a Sua vontade, vez que não teremos como saber os Seus propósitos e objetivos, já que desconheceremos o Seu plano. Sem a Escatologia, corremos sério risco de não termos qualquer discernimento dos fatos que acontecem à nossa volta e de sermos surpreendidos despercebidos quando da vinda de Jesus.
IV – O CONFORTO ADVINDO DO ENSINO DA DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS
– Já vimos a necessidade de estudarmos a doutrina das últimas coisas, mas há um fator que deve ser destacado dentro desta necessidade, que é o relativo ao conforto, ao consolo que a doutrina das últimas coisas traz ao crente.
– Como já dissemos mais de uma vez neste estudo, ao estudarmos a doutrina das últimas coisas, compreendemos a soberania divina e, mais até do que isto, vemos que Deus, realmente, não é só o Senhor de todas as coisas, mas é o Senhor eterno de todas as coisas, ou seja, não só tem o controle de tudo nas Suas mãos, mas este controle não teve princípio nem terá fim.
– Ora, ao percebermos que o nosso Deus é o Senhor eterno de tudo, isto, naturalmente, nos serve de grande conforto, pois temos a clara noção e consciência de que estamos a servir a um Deus poderoso e que tem tudo sob Seu controle.
Assim, apesar das lutas e dificuldades que estamos a passar, a despeito de todos os fracassos e revezes que experimentamos aqui e ali (e dos quais, frisemos, não estamos livres, sendo mentiroso o ensinamento em contrário, como o propalado pela chamada “teologia da prosperidade” ou “doutrina da confissão positiva”), temos a plena convicção, que é sobremodo potencializada e intensificada quando nos propomos a estudar a Escatologia, de que tudo que acontece conosco está de acordo com a vontade de Deus e não poderá nos abalar no nosso relacionamento com o Senhor, se Lhe formos fiéis e obedientes.
– A palavra profética tem, assim, uma finalidade de consolar o crente, de lhe dar conforto, alívio espiritual e de lhe renovar a fé e a esperança no seu Senhor. Não foi por acaso que a palavra profética sempre foi pronunciada em ocasiões em que se fazia necessário trazer consolo, edificação, exortação e ânimo para os servos do Senhor.
– Na profecia-chave da Escatologia, ou seja, nas setenta semanas de Daniel, a revelação profética foi trazida a Daniel para que ele tivesse renovado o seu ânimo e a sua esperança em Deus e completasse o seu ministério, ainda que em terra estranha.
Tendo dedicado sua vida a administrar um povo estrangeiro com sucesso e tendo tido a oportunidade de participar do máximo poder político de seu tempo, Daniel, ao compreender que estava terminando o tempo do cativeiro, não vislumbrou como Israel poderia ter o destaque profetizado por Isaías, Miquéias e outros, dentro da ordem mundial então existente.
Assim, foi buscar a Deus, para que pudesse ter um rumo na sua vida, para que pudesse compreender o que deveria fazer para agradar a Deus e contribuir para o cumprimento das profecias, para o bem de seu povo, sem deixar de fazer o que estava fazendo no lugar que havia sido posto por Deus.
O Senhor, então, para consolar e animar o Seu servo, fez-lhe a revelação das setenta semanas, mostrando, assim, que um dos objetivos da palavra profética, da Escatologia é, precisamente, o de animar o crente a cumprir o seu ministério. Graças à palavra profética, pôde Daniel ir até o fim (Dn.12:13).
– Quando Jesus foi ocultado dos olhos dos discípulos, que ficaram impactados com este “sumiço”, de imediato o Senhor mandou que dois anjos renovassem aos discípulos a promessa da volta de Cristo (At.1:11), renovação esta que foi suficiente para que mais ou menos 120 discípulos deixassem o monte das Oliveiras e partissem para um período indeterminado de oração no cenáculo, para cumprir a ordem de Jesus.
Foi a palavra profética o fator que os animou a fazê-lo e que permitiu que toda a obra de evangelização do mundo, que prossegue até hoje, tivesse início.
O papel da mensagem escatológica, portanto, como se pode bem ver neste exemplo, é dar a necessária esperança, o ânimo indispensável, para que a obra de Deus tenha seguimento até a volta do Senhor.
Por isso, a ceia do Senhor não só nos faz recordar o sacrifício de Cristo no Calvário, não só atesta a nossa comunhão uns com os outros e com o Senhor, como também aponta para a vinda do Senhor, a fonte de nossa esperança (I Co.11:26).
– Ao escrever para os tessalonicenses, Paulo deixa explícito este papel da palavra profética, da doutrina das últimas coisas para a Igreja.
Ao saber do desespero que tomara conta dos crentes de Tessalônica em virtude da morte de alguns irmãos antes do retorno de Cristo, Paulo, na carta que lhes escreveu, faz uma recapitulação dos seus ensinos anteriores a respeito das últimas coisas (I Ts.1:9,10), dizendo, nesta “revisão”, que aqueles ensinos deveriam servir-lhes de consolação (I Ts.4:13-18).
Aliás, não é à toa que, nos cultos fúnebres, via de regra, estas palavras de Paulo sempre sejam repetidas e pregadas, pois não há maior consolo para uma família cristã enlutada do que a certeza de que esta separação do ente querido será passageira, se todos se mantiverem fiéis até o dia do arrebatamento da Igreja !
– A palavra profética, ou seja, a doutrina das últimas coisas dá sentido e razão de ser para os sofrimentos e perseguições sofridas pelos cristãos.
Diz-nos o escritor aos hebreus que Jesus suportou a cruz porque via o gozo que Lhe estava proposto (Hb.12:2). Assim também, o crente que conhece o que vai acontecer no futuro, sabe o que está reservado para quem se manter fiel e, por isso, pode agir como os mártires do passado, como, por exemplo, o apóstolo Paulo que, em sua última epístola, podia dizer que “…desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda.” (II Tm.4:8).
Como um crente pode ter esta confiança, se não tiver aprendido a doutrina das últimas coisas ?
– A doutrina das últimas coisas, por fim, dá ao crente o que Pedro denominou de “ânimo sincero” (II Pe.3:1). Quando o crente tem consciência das coisas que devem acontecer, não há como deixar de o crente ter ânimo, pois sabe que o Senhor é o dono de todas as coisas para todo o sempre.
Como diz Pedro, quando lembramos dos ensinos a respeito da vinda do Senhor, compreendemos quem são os apóstatas e não nos deixamos levar por eles, tendo nossa confiança apenas em Deus.
Suportamos as afrontas, os sofrimentos e as perseguições e caminhamos, com muita esperança e alegria, ao encontro do Senhor.
Por isso, a palavra do crente que conhece Escatologia só pode ser a veiculada por Paulo: “maranata”, ou seja, ora vem, Senhor Jesus!
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
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