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JOVENS – LIÇÃO 11 – A LIDERANÇA DE BARNABÉ

INTRODUÇÃO

Por mais importante que alguém seja — principalmente um líder —, não há quem não precise de pessoas ao seu lado para auxiliá-lo e apoiá-lo; ou ainda, ninguém alcança grandes posições ou o sucesso sozinho, pois há sempre alguém que lhe estendeu a mão, acreditou e investiu nessa pessoa.

Dedicar-se a uma leitura na História da Igreja confirma isso de maneira cabal e inquestionável, já que há espaço para todos os que desejam ser úteis no Reino de Deus, e, embora haja aqueles personagens vultuosos e famosos, todos eles foram auxiliados por pessoas igualmente relevantes e usadas por Deus.

A Bíblia Sagrada registra inúmeras histórias de líderes importantes, dando ênfase aos seus feitos, ao perfil de liderança de cada um deles, às suas vitórias e aos seus fracassos;

a Palavra de Deus, entretanto, não esconde a história de outros personagens que, se comparados a outros, não serão considerados tão famosos assim, mas que certa­mente exerceram o seu papel individualmente e cooperaram direta e efetivamente na construção da história de líderes famosos.

Um dos personagens que melhor representam essa verdade é Barnabé, cujo testemunho bíblico coloca-o como representante da ação do Espírito Santo num momento em que muitos cristãos estavam desfazendo-se das suas propriedades com o propósito de depositá-las aos pés dos apóstolos (At 4.36,37).

Este capítulo mostra que, além desse aspecto da vida cristã de Barnabé, há outros elementos que reafirmam a sua maturidade cristã e a sua posição de referência como líder espiritual, servindo, assim, de modelo à liderança cristã na atualidade.

Os pontos que são levantados aqui sobre a liderança de Barnabé partem de uma análise inicial sobre a sua pessoa; em seguida, a ênfase recai sobre o seu perfil de liderança, concluindo, assim, com apontamentos práticos dessa liderança.

A PESSOA DE BARNABÉ

Infelizmente, não há muito material literário sobre a vida e o ministério de Barnabé, o que não significa que ele não seja um personagem relevante e com muito a ensinar.

No entanto, as informações bíblicas a respeito desse ilustre missionário e pioneiro da Igreja apontam para a grandeza do seu ministério e para a sua contribuição no avanço do evangelho nos momentos iniciais da Igreja de Cristo, cujos frutos são eternos.

Quem Foi Barnabé?

Embora não seja considerado protagonista nos relatos em que aparece, as suas participações sempre mostram Barnabé equilibrado, sensato e maduro.

Judeu helenista, da tribo de Levi, nascido na ilha de Chipre, Barnabé dirigiu-se a Jerusalém, muito provavelmente com a intenção de estudar a Torá e tornar-se um doutor da Lei, passando por todo o longo processo a que deveria ser submetido, evidentemente.

Barnabé foi um apelido que os apóstolos deram a José, o seu nome de nascimento (At 4.36). Os apóstolos tinham como hábito apelidar pessoas que conviviam com eles a fim de sublinhar a personalidade da pessoa apelidada, ou mesmo acentuar as suas principais qualidades.

Nesse caso, Barnabé — que quer dizer “homem da consolação”, “filho da conso­lação”, “filho da exortação” ou ainda “filho da profecia” — contribuiu significativamente com a igreja, de maneira coletiva, mas também com o desenvolvimento ministerial de algumas pessoas, de maneira individual.

No que tange à sua generosidade, o texto de Atos 11.24 dá o seguinte testemunho a respeito de Barnabé: “Porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé.

E muita gente se uniu ao Senhor”. Ao dizer que ele era “homem de bem”, é evidente que Lucas está fazendo menção da generosidade do seu coração.

Historicamente, há muitos relatos sobre possíveis ações de Barnabé que confirmariam a sua generosidade, como se pode notar em estudos que indicam que ele, na condição de doutor da Lei, dedicava parte do seu tempo para auxiliar pessoas nas mais diversas necessidades com relação à Lei.2

O que se pode afirmar é que Barnabé foi um homem bom e que buscou fazer o bem. Há muitas especulações acerca de como ele teve acesso à mensagem do evangelho e sobre a sua conversão. Isso é importante, só que o mais importante é enfatizar que ele foi conduzido a Cristo pelo Espírito de Deus e tornou-se fundamental ao crescimento e à edificação da Igreja nos seus primeiros dias.

Barnabé, um Homem Generoso

É, no mínimo, intrigante que a Bíblia apresenta Barnabé em conjunto com a informação da venda que ele fez de uma propriedade que tinha e que depositou todo o valor que ganhou diante dos apóstolos (At 4.37).

O termo usado para referir-se ao bem do qual ele desfez-se para entregar aos apóstolos é “herdade”, que denota uma grande propriedade rural, com recursos naturais e com lugares de habitação.

A respeito do ato de “depositar aos pés dos apóstolos”, ao que tudo indica, trata-se de algo que era comum na Igreja Primitiva, embora não obrigatório.

Esses bens eram administrados pelos próprios após­tolos, e entre as finalidades estava o favorecer os menos favorecidos, atendendo-lhes às suas necessidades. Sendo assim, ao depositar o que recebeu da venda da sua herdade, Barnabé demonstrou ser alguém desprendido e pronto a abençoar e ajudar aos que mais precisam.

A generosidade de Barnabé (At 4.36,37) contrasta com a tentativa de Ananias e Safira de enganar os apóstolos ao dizerem que estavam entregando todo o valor, quando, na verdade, estavam depositando apenas parte dele (At 5.1-11).

Barnabé alcançou prestígio entre os membros da comunidade cristã, inclusive diante dos apóstolos, mas isso foi resultado de uma construção, cujo início passou, inevitavelmente, por uma atitude que, além de refletir a generosidade do seu coração, mostra que o seu coração esteve livre da ganância humana desde cedo.

A ganância é um sentimento principalmente caracterizado pelo desejo desenfreado de apropriação — inclusive por meios duvidosos do ponto de vista ético — de tudo o que for possível com vistas ao prazer pessoal.

Esse sentimento é condenado pelas Escrituras (Êx 20.17; Sl 119.36; Pv 16.8), sobretudo porque o homem ganancioso opta pelos bens como fonte de satisfação em vez de deleitar-se em Deus, ou seja, a ganância leva o homem a substituir o Doador de todas as coisas pelas coisas doadas pelo Doador.

O apóstolo Paulo previu uma época que foi chamada por ele de “tempos trabalhosos”, na qual os homens desviar-se-iam da verdade desenfreadamente, e uma das características desse tempo é exatamente a ganância (2 Tm 3.1-7).

Noutro texto paulino, é possível notar que uma das exigências para quem é chamado a liderar a igreja é que não seja ganancioso, conforme se lê:

“Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja […]; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado […]” (1 Tm 3.1,3).

Um dos muitos antônimos de ganância é exatamente “despren­dimento”. Nesse caso, Barnabé foi um homem desprendido — ou, dito de outra forma, generoso.

Portanto, desde o início da sua vida cristã, ele foi um homem com qualidades inerentes a um líder ge­nuinamente cristão.

Barnabé, um Homem Fiel

Assim como o desprendimento das coisas materiais é uma das qua­lidades condicionais a um líder cristão, a fidelidade também é uma das principais virtudes que se espera de um líder espiritual. Paulo escrevendo aos Coríntios adverte: “Além disso, reque-se nos despen­seiros que cada um se ache fiel” (1 Co 4.2).

O termo “fidelidade” origina-se do latim fidelitas ou fidelitate e aponta para alguém que é fiel, que é fidelis no latim, referindo-se ao ato de conservar ou preservar compromissos e referências originais.

Nesse caso, um líder cristão fiel pode ser definido como alguém que se mantém firme — em quaisquer circunstâncias — no seu com­promisso com Deus, com as Escrituras e com os liderados que ele serve na liderança.

A vida cristã é testada mais nas reações do que nas ações, isto é, dependendo da maneira como o cristão reage diante dos diferentes desafios inerentes à sua vida, ele demonstra o nível da sua fidelidade a Deus (Mt 5.39-41; Lc 6.29; Rm 12.20).

Do mesmo modo como ocorre com os que exercem liderança, a sua fidelidade sempre será colocada à prova, e o quão profundas são as suas raízes e o quão fiel ele é poderão ser conhecidos na maneira como ele reage em, pelo menos, duas situações:

I) Em tempos de adversidade, de impopu­laridade e de rejeição da pessoa a quem se deve lealdade; e

II) Na ausência da pessoa a quem se deve lealdade.

Já foi destacado que o líder cristão é chamado a ser fiel a Deus, às verdades da Palavra de Deus e aos seus liderados; todavia, com o propósito de ampliar a reflexão aqui proposta, é preciso pensar que o líder espiritual deve manter-se fiel ao projeto original, ou seja, ele é desafiado a manter o fervor e as mesmas convicções iniciais, independentemente da situação.

Davi já havia sido ungido rei de Israel (1 Sm 16.1-13), mas diante da ordem do seu pai para que fosse até o campo de batalha para levar alimento aos seus irmãos que lá estavam e para que tivesse notícias a respeito deles, ele não recusou fazê-lo.

Pelo contrário, sem questionar — já tendo recebido a unção para ser rei — ele foi e cumpriu a ordem do seu pai; afinal de contas, o propósito original para a sua vida foi o de servir, independentemente se for como rei, como pastor de ovelhas ou até mesmo como alguém que leva comida aos que estão em guerra.

Além de a fidelidade ter relação com a preservação do propósito inicial, ela também aponta para o respeito às pessoas, principalmente quando estão ausentes. Um exemplo de uma fidelidade nesse nível é Moisés.

Observe duas importantes lições:

I) Diante da oportunidade de tornar-se pai de um novo povo, Moisés optou por preservar a “ima­gem” de Deus diante dos outros povos; e

II) Diante da oportunidade que lhe chegou, Moisés lembrou-se de Abraão, Isaque e Jacó como clara demonstração de lealdade, até mesmo com aqueles que nem vivos estavam.

Conclui-se, portanto, que ser fiel a alguém cuja popularidade está em alta não é tarefa tão difícil; da mesma forma que — em certa me­dida — ser leal a alguém na sua presença não se trata de algo difícil de fazer.

No entanto, voltando ao referencial de estudo deste capítulo, Barnabé caminha exatamente na contramão disso, pois ele foi leal a Saulo, apresentando-o insistentemente aos apóstolos e andando junto dele em um momento em que ele, Saulo, era temido pelas pessoas, os helenistas buscavam matá-lo e a igreja em Jerusalém não queria rece­bê-lo (At 9.26,28,29).

Barnabé também foi leal a João Marcos mesmo na sua ausência, insistindo com Paulo e defendendo a utilidade do jovem obreiro a fim de que pudessem levá-lo com eles (At 15.36-39).

A LIDERANÇA DE BARNABÉ

Além de ter sido um bom crente, Barnabé também desempenhou um papel imprescindível como parte da liderança da igreja no seu nascedouro.

Algo que também deve ser destacado de antemão e que será abordado mais amplamente dentro dessa seção são as ações de Barnabé enquanto líder cristão, que nada mais foram que desdobramentos da sua vida cristã, isto é, do seu compromisso com Deus e com a Igreja de Cristo.

De fato, o pouco que se tem de informações sobre a liderança desse líder brilhante é tão significativo e intenso que, sem dúvidas, oferece lições extremamente atuais aos que trabalham na liderança cristã hoje.

Um Líder Experiente

A liderança cristã é apenas mais uma forma que um determinado cristão tem de servir a Deus e agradá-lo.

Desempenhar uma função de liderança na igreja não faz dessa pessoa parte de uma classe su­perior e nem mais importante, mesmo porque, dentre as qualidades exigidas aos que são chamados para o presbitério, só há duas que não se destinam aos cristãos em geral, sendo elas:

I) Ser apto a ensinar (1 Tm 3.2); e

II) Não ser neófito (1 Tm 3.6).

Paulo escreveu aos irmãos gálatas: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós” (Gl 4.19).

Esse texto define bem, tanto o processo (difícil e doloroso) quanto o resultado (a vida de Cristo) da maturidade cristã.

Aos irmãos que estavam em Éfeso, o apóstolo destacou de outra forma as evidências de uma vida cristã madura como fruto do trabalho dos que exercem os chamados “dons ministeriais”, conforme se lê em Efésios 4.11-16.

Essas palavras inspiradas pelo Espírito Santo e escritas por Paulo sinalizam de maneira impressionantemente completa o modelo de maturidade a ser perseguido e alcançado por todo cristão que deseja agradar a Deus.

Há muito o que se dizer sobre as verdades elencadas pelo apóstolo; porém, com vistas à contri­buição com o propósito do que está sendo tratado aqui, observe que, pela verdade em amor e como resultado da ação do Espírito de Deus mediada pela exposição da Palavra, o corpo de Cristo cresce, e cada membro desse corpo conhece o seu lugar, desem­penha o seu papel e é capaz de aceitar e contribuir para que os outros membros também cumpram as suas respectivas funções.

Uma das faces da maturidade cristã é demonstrada, portanto, na capacidade de o cristão honrar ao seu irmão e a promover a unidade do Corpo de Cristo.

Nesse caso, Barnabé representa bem a figura de um cristão maduro e, consequentemente, de um líder maduro; afinal de contas, ele é apresentado na Bíblia como um cristão correto e verdadeiramente convertido, principalmente no registro de que ele renunciou a um bem material para doá-lo em benefício de outros, já abordado nesta reflexão (At 4.37; Mt 6.19-21,24; Lc 12.15).

Além disso, Barnabé foi um líder capaz de reconhecer o valor em pessoas que estavam sob a análise de outras e, não somente isso, as que estavam sendo questionadas quanto à sua honestidade cristã, como foi no caso de Paulo diante da liderança em Jerusalém, e quanto à sua capacidade ministerial, como foi no caso de João Marcos, que foi rejeitado, em um primeiro momento, pelo próprio Paulo (At 9.27,28; 15.36-39).

O exemplo de Barnabé reforça a verdade de que a maturidade cristã de um líder é capaz de levá-lo a insistir com pessoas impro­váveis aos olhos da maioria e a acreditar em outras pessoas, ainda que tenham fracassado ou cometido algum erro.

Observe que Paulo menciona Barnabé em outras duas ocasiões: uma à igreja em Corinto, sobre a questão que envolvia o sustento do obreiro (1 Co 9.6), e a outra em que ele relembra os irmãos que estavam em Colossos sobre a sua importância, além de recomendá-lo (Cl 4.10).

Barnabé, portanto, é modelo de uma liderança madura e que deve ser imitado.

Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Liderança na Igreja de Cristo: Escolhidos por Deus para servir. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

Telma Bueno

Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2022/12/09/licao-11-a-lideranca-de-barnabe/

Vídeo: https://youtu.be/drzrGVUuiSs

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