JOVENS – LIÇÃO 7 – DEUS ABATE O CORAÇÃO ORGULHOSO
INTRODUÇÃO
O capítulo 4 de Daniel, um dos mais extensos do livro, narra parte da biografia de Nabucodonosor e pode ser descrito como o julgamento ou a humilhação do rei da Babilônia.
Neste testemunho pessoal, veremos como Deus abateu o seu orgulho e conduziu-o à humilhação e ao arrependimento.
Veremos como a sua soberba levou-o, por divina sentença, a uma condição de insanidade, fazendo-o viver como um animal selvagem por um período conhecido como “sete tempos”, até que Deus redimiu-o dessa situação.
Ao fim desse período, Nabucodonosor experimentou uma profunda transformação, reconhecendo a soberania do Deus Altíssimo.
Além do aspecto pessoal, este capítulo tem, segundo alguns autores, um caráter tipológico,1 pois é possível ver no monarca um tipo de poder gentílico neste mundo, que será subjugado no fim pelo poder de Cristo.
I. O EDITO E O SONHO DO REI
O quarto capítulo começa com um edito de Nabucodonosor, uma espécie de pronunciamento oficial para conhecimento de todos. O documento pode ser considerado não como uma lei, mas uma confissão feita em uma espécie de carta aberta.
Nele, o rei declara a grandeza de Deus: “Quão grandes são os seus sinais, e quão poderosas, as suas maravilhas! O seu reino é um reino sempiterno, e o seu domínio, de geração em geração” (4.3).
Contudo, como veremos, o reconhecimento da grandiosidade de Deus pelo rei somente se deu depois da experiência dramática que ele narra a seguir (4.37).
Um ponto interessante acerca dessa passagem é sobre a sua autoria4. Conforme John Walvoord, quer o capítulo tenha sido escrito pelo próprio Nabucodonosor, quer por um dos seus escribas, quer possivelmente pelo próprio Daniel, sob a orientação do rei, o relato possui inspiração divina.
A satisfação momentânea do rei e o seu sonho
Nabucodonosor conta como ele foi despertado da sua falsa segurança em que viveu por tanto tempo. O rei estava satisfeito e próspero no seu palácio (4.4).
Com as suas conquistas, ele havia estendido o domínio do seu vasto império, alcançando grande sucesso.
Nabucodonosor gozava de riqueza e fama. A sua cidade, Babilônia, era um esplendor, e ele sentia-se sossegado. Como na parábola de Jesus (Lc 12.13-21), a sua alma descansava na confiança da sua riqueza.
Não é esse o mesmo sentimento daqueles que vivem sem Deus e confiam na prosperidade material? No entanto, a paz e a satisfação do rei foram abruptamente interrompidas por um sonho perturbador.
Diz o texto: “Tive um sonho, que me espantou; e estando eu na minha cama, as imaginações e as visões da minha cabeça me turbaram” (4.5).
A expressão “me espantou” indica um terror extremo ou pavor. O homem sem Deus, quando confrontado pela revelação divina e ao enxergar a sua real situação, é invadido pelo pavor da sua condição miserável.
Convocados para darem a interpretação do sonho, mais uma vez os sábios da corte não tinham uma explicação para oferecer ao rei (vv. 6,7). Nabucodonosor, então, manda chamar novamente Daniel.
O monarca sabia que Daniel era diferente, em quem habitava o espírito de um ser divino (vv. 8,9). Diante das dificuldades, os descrentes buscam o socorro daqueles que dão testemunho de Deus.
A descrição do sonho
Ao narrar o sonho, o rei diz ter visto uma árvore frondosa, que crescia cada vez mais até a sua copa chegar ao céu.
As suas folhas eram belas, e muitos eram os seus frutos. Os animais do campo abrigavam-se debaixo dela, e os pássaros faziam ninhos nos seus ramos (vv.10-12).
No sonho, surge uma sentinela, um anjo que descia do céu que dava ordem para que a árvore fosse derrubada, deixando somente o toco e as suas raízes, presos com ferro e bronze.
Ele deveria ser molhado como orvalho do céu e viveria com os animais selvagens. Durante sete tempos, teria a mente de um animal selvagem em vez de mente humana (vv. 15-17).
II. DANIEL INTERPRETA O SONHO E ACONSELHA O REI
Após ouvir a narrativa do sonho, Daniel permaneceu profundamente perturbado por um período (v. 19) a ponto de o próprio rei tentar acalmá-lo.
Entretanto, Daniel, ciente do significado do sonho, talvez estivesse preocupado com a maneira de comunicar a interpretação ao rei.
Mesmo ao compartilhar a verdade, é essencial exercer prudência e escolher as palavras apropriadas. A Bíblia destaca: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Pv 25.11).
O assombro do profeta mostra o seu lado humano e afetivo. Daniel, como qualquer um de nós, não estava blindado contra fortes emoções de medo e pavor.
O fato de querer bem ao rei e saber o que haveria de suceder-lhe, pesou no coração do jovem hebreu. Mesmo assim, além da inteligência espiritual, Daniel teve inteligência emocional para enfrentar a delicada situação.
“Senhor meu, seja o sonho contra os que te têm ódio, e a sua interpretação aos teus inimigos” (4.19), começou Daniel com toda a cautela, passando a contar ao rei a interpretação do sonho:
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A árvore majestosa (vv. 11,12). A árvore simbolizava a formosura, a grandeza, o poder e a riqueza do reino de Nabucodonosor. De fato, este rei que governou a Babilônia no período de 605 a 562 a.C. foi um dos mais poderosos da história da Mesopotâmia. Daniel foi enfático ao dizer que a árvore era o próprio rei: “És tu, ó rei” (v. 22).
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O juízo divino. O semblante do rei deve ter caído ao ouvir o restante da interpretação. O seu reino estava com os dias contados. Isso porque a árvore deveria ser cortada, deixando somente o tronco com as suas raízes, presas com ferro e bronze. O verso 15 mostra que a intenção não era a destruição completa de Nabucodonosor, e sim lhe dar a oportunidade de converter-se. A expressão “[…] o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o céu reina” (4.26) mostra que o Senhor é Deus de juízo, mas também de misericórdia.
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Vivendo entre os animais. Daniel ainda diz que o entendimento do rei seria afetado, passando a viver e a comer entre os animais durante sete tempos, interpretado pela maioria dos comentaristas como sete anos.6 Isso indicava a perda do discernimento mental por algum tipo de insanidade.
O conselho de Daniel
Após a interpretação do sonho, Daniel não se limitou a explicar o seu sentido. Como profeta, ele também aconselhou o rei a deixar a sua soberba e a renunciar os seus pecados:
Portanto, ó rei, aceita o meu conselho, e põe fim aos teus pecados, praticando a justiça, e às tuas iniquidades, usando de misericórdia com os pobres, pois, talvez se prolongue a tua tranquilidade. (4.27)
Daniel é um modelo de pregador misericordioso e equilibrado. Ele enfatiza tanto a queda humana e as suas consequências, como também a possibilidade de redenção para o ser humano caído. Ele mostra o erro, porém enfatiza a graça divina capaz de reconciliar o homem.
Nessa passagem do versículo 27, nas palavras de Joyce Baldwin, não temos um determinismo passivo, e sim um incentivo a uma mudança de estilo de vida.7 Não se tratava, portanto, de uma teologia do tipo toma-lá-dá-cá, pela qual o rei poderia ser salvo pelas suas obras.
Nabucodonosor não recebeu uma promessa de perdão com base em boas obras ou esmolas aos pobres; antes, a questão era que, caso fosse um rei sábio e benevolente, ele atenuaria a necessidade da intervenção de Deus por meio do juízo imediato em razão de seu orgulho.
A mudança de postura exigida por Deus envolvia a prática da justiça e o abandono da iniquidade, usando de misericórdia com os pobres. Isso mostra que a disciplina sobre o imperador também se devia à sua negligência e falta de misericórdia com os menos afortunados. O Senhor considerou essas falhas tão graves que o rei teria de passar por um período de disciplina, comendo com os animais do campo.
Daniel era um conselheiro de valor e não estava preocupado em satisfazer o rei para manter o seu cargo na corte, razão pela qual admoestou Nabucodonosor sobre os seus vícios de caráter.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Telma Bueno
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
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Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2024/08/14/licao-7-deus-abate-o-coracao-orgulhoso/