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Juvenis – Lição 03 – A segunda vinda de Cristo – O arrebatamento da Igreja

Lição sugerida para o tema:

O arrebatamento da Igreja é o fato que desencadeará o início dos acontecimentos previstos nas Escrituras para o fim da história humana.

INTRODUÇÃO

– Vivemos a época da Igreja, a dispensação da graça, o período em que o amor de Deus se apresenta da forma mais plena e ampla para toda a humanidade, pois Deus mostrou o Seu mistério, que era o de Se humanizar e providenciar, Ele mesmo, através da pessoa do Filho, a salvação do ser humano e a reconciliação entre Deus e a humanidade.

Entretanto, este período, em que todo homem, de qualquer raça, tribo e nação, pode alcançar o favor imerecido de Deus e obter o perdão de seus pecados, não é indeterminado, findará e, a partir de então, começarão os fatos que são chamados pelos estudiosos da Bíblia de “últimas coisas”. O primeiro destes fatos é o arrebatamento da Igreja.

– Nós, os salvos, membros do corpo de Cristo, temos o arrebatamento da Igreja como sendo o nosso alvo, o nosso objetivo, a nossa esperança. Como diz o refrão do hino 300 da Harpa Cristã, “nossa esperança é Sua vinda, o Rei dos reis vem nos buscar. Nós aguardamos Jesus, ainda, ‘té a luz da manhã raiar.”

Que estas palavras do poeta sacro Almeida Sobrinho sejam uma realidade em nossos corações, pois não há mensagem no Novo Testamento que se repita com mais intensidade que a de que Jesus breve virá!

I – A IGREJA PRIMITIVA ESPERAVA A VOLTA DE JESUS

– Como vimos na lição 2, o sermão escatológico de Jesus, o Seu maior sermão registrado nas Escrituras, responde a uma indagação dos discípulos a respeito do tempo em que o templo de Jerusalém seria destruído, como também de quando seria a Sua vinda (cfr. Mt.24:1).

Isto nos mostra, de forma clara, que Jesus, em Seus ensinamentos, sempre deixou claro aos discípulos que Ele haveria de voltar a esta Terra.

– A noção de que Jesus voltaria a esta Terra por uma segunda vez, até a revelação proporcionada por Jesus a Seus discípulos, não era algo tão evidente até então.

Nas profecias messiânicas do Antigo Testamento, havia a promessa da vinda do Messias, que livraria Israel dos seus inimigos bem como estabeleceria um concerto eterno entre o povo e Deus, com o término dos pecados e de toda a transgressão,mas nunca se havia cogitado, de uma forma clara, que o Messias viria duas vezes.

A profecia mais próxima a permitir uma ilação desta natureza é, precisamente, a profecia das setenta semanas, onde se diz que, na sexagésima nona semana, o Messias seria tirado e não seria mais (Dn.9:26), 

mas uma pequena porção que passou despercebida pelos escribas e rabinos israelitas, o que, aliás, foi explicado pelo apóstolo Paulo, que disse ter havido como que um véu cobrindo e cegando o entendimento de Israel (cfr. II Co.3:14-16), para que se abrisse a presente oportunidade para todos os gentios (cfr. Rm.11:25).

– A pergunta dos discípulos, entretanto, mostra que Jesus lhes revelara, durante o Seu ministério terreno, mais este segredo, ou seja, o de que o Messias viria, mas seria rejeitado por Israel e formaria um novo povo, a Igreja (cfr. Ef.3:4-12),

abrindo uma oportunidade a todos os seres humanos para a salvação, num tempo indeterminado em que seria anunciado o Evangelho, tempo que as Escrituras denominam de “hoje” (cfr. Hb.4:6-11), um “hoje”, entretanto, que, como todo dia, findará à meia-noite (cfr. Mt.25:6), quando, então, ocorrer o encontro da Igreja com Jesus, que é, precisamente, o arrebatamento da Igreja.

– O arrebatamento da Igreja é, portanto, o fato que porá fim à dispensação da Igreja, a este tempo que estamos vivendo em que o Espírito Santo atua livremente, através de todos os homens e mulheres que, independentemente de raça, tribo ou nação, aceitam a mensagem do Evangelho, creem que Jesus é o Salvador e se submetem ao Seu senhorio, passando a viver segundo a Sua vontade.

Arrependendo-se de seus pecados e passando a ser novas criaturas, os salvos em Cristo passam a formar a Igreja e a fazer a vontade de Deus, anunciando, através de sua nova vida e de palavras, confirmadas com sinais, que Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e leva para o céu.

Ao mesmo tempo que pregam o evangelho, os membros da Igreja, que é o corpo de Cristo, não cessam de dizer, também, que Jesus breve virá, que há um tempo para aceitarmos o perdão dos pecados oferecido por Deus através de Jesus Cristo, preparando-se e desejando que Jesus venha para nos buscar, pois, então, cessará o “dia aceitável do Senhor”, dando-se início ao “dia da vingança do nosso Deus” (cfr. Is.61:2).

– Pelo que vemos, portanto, Jesus deixou bem claro aos discípulos a respeito da Sua volta, tanto que é esta a mensagem que mais vezes se repete em o Novo Testamento.

A vinda de Jesus é o fato futuro que é aguardado pela Igreja, tanto que, no seu instante mais solene, que é a celebração da ceia, ao tomar do pão e do vinho, símbolos do corpo e do sangue de Jesus, aponta para a vinda do Senhor (cfr. I Co.11:26).

– Os escritos dos apóstolos mostram, também, com clareza, que a Igreja esperava ansiosamente a volta de Jesus, ainda para os seus dias. Paulo discorre sobre o arrebatamento (como teremos ocasião de ver infra) tanto na sua primeira carta aos coríntios, no capítulo 15, como em sua carta aos tessalonicenses, no capítulo 4. João refere-se à vinda do Senhor em suas epístolas, assim como Tiago, Pedro e Judas.

A revelação dada a João na ilha de Patmos, que resultou no Apocalipse, é como que a coroação da esperança da igreja dos tempos apostólicos na vinda do Senhor, esperança esta que não deveria cessar em momento algum da história da Igreja, tanto que a última oração das Escrituras outra não é senão o de pedido de volta do Senhor: “Ora vem, Senhor Jesus” (Ap.22:20 “in fine”).

– Estes escritos dos apóstolos, por sua vez, mostram claramente que os cristãos dos tempos apostólicos tinham uma viva esperança do imediato retorno de Cristo para buscá-los.

O fato de os apóstolos terem escrito a este respeito revela que se tratava de um assunto presente na mente e nos corações dos crentes.

Já em Jerusalém, o fato de os crentes terem vendido todas as suas propriedades e de passarem a viver numa comunidade sem maiores preocupações com a vida secular (cfr. At.4:32-37) é um fator que revela que esperavam Jesus para aqueles dias e com um ímpeto tal que se descuidaram completamente da vida secular (e da própria evangelização do mundo), o que, sem dúvida, havia sido aguçado pelo fato de a mensagem da volta de Cristo ter sido reforçada pela visão angelical que se seguiu à ascensão do Senhor (At.1:10,11).

– Os crentes de Tessalônica, por sua vez, começaram a se desesperar ao perceber que alguns crentes estavam falecendo antes da volta de Cristo, a indicar, portanto, que também esperavam Jesus para os seus dias, o que levou Paulo, em suas duas cartas àquela igreja, a fazer ponderações, reavivando seus ensinamentos a respeito do tema, para que não houvesse, ali também,

exageros que levassem ao descrédito da mensagem escatológica, descrédito este que já foi sentido pelo apóstolo Pedro, como fica claro na sua segunda epístola, e que, assim como naquele tempo, tem sido uma das principais armadilhas do inimigo no meio do povo de Deus (II Pe.3:3,4).

II – A IDEIA DA VOLTA DE CRISTO NA HISTÓRIA DA IGREJA

– Entretanto, até por conta de alguns exageros, a mensagem escatológica, paulatinamente, foi perdendo força no meio da Igreja e, com a assimilação do paganismo, deixou, mesmo, de ser até pregada e ensinada, pois, passou a ser adotada como doutrina oficial da Igreja Romana, o “amilenismo”, ou seja,

a consideração de que não haveria um reino milenial de Cristo, de que o reino de Cristo é o tempo da Igreja, de modo que se passou a dizer que a volta de Cristo somente se daria para o julgamento final, no fim dos tempos, quando viria para julgar os vivos e os mortos.

OBS: Esta ideia foi cristalizada no chamado “Credo dos apóstolos”, que tudo indica tenha sido formulado em Roma por volta do segundo século. Nele é dito:

“… E [creio] em Jesus Cristo, Seu Filho Unigênito e nosso Senhor, o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu ao inferno. 

Ao terceiro dia ressuscitou dentre os mortos. Subiu ao Céu e assenta-Se à mão direita de Deus Pai, Todo-Poderoso. Dali virá para julgar a vivos e mortos.…” (grifo nosso)

– Assim, a expressão “volta de Cristo”, também chamada de “advento” ou, ainda, “segundo advento”, passou a representar apenas o retorno de Jesus para julgar os vivos e os mortos, no final da história da humanidade,

após o “triunfo” da Igreja, que prevaleceria sobre os incrédulos na face da Terra, evangelizando o mundo todo. Seria, para se usar aqui da expressão de Agostinho, o teólogo e filósofo que sistematizou a doutrina amilenista, a vitória da “cidade de Deus” sobre a “cidade do diabo”.

OBS: Não era esta, porém, a ideia seguida pelos cristãos até a cristalização do Credo. Em sua obra Teologia sistemática, Lewis Chafer faz questão de trazer à baila diversos estudos de historiadores que evidenciam a crença da Igreja na segunda vinda de Cristo antes do milênio, num contraste com a opinião adotada pela Igreja Romana.

Entre elas, merece ser transcrito trecho do grande historiador inglês Edward Gibbon, nada simpático ao Cristianismo, em sua obra clássica Declínio e queda do Império Romano: ‘…era universalmente crido que o fim do mundo estava próximo.

A abordagem da proximidade desse evento maravilhoso havia sido predita pelos apóstolos. A tradição dela foi preservada pelos seus discípulos mais antigos, e aqueles que entenderam o sentido literal deles nos discursos do próprio Cristo foram obrigados a esperar a segunda vinda gloriosa do Filho do homem antes que aquela geração fosse totalmente extinta.…’(op.cit., v.1, p.532 apud CHAFER, Lewis. Teologia sistemática, t.II, v.4, p.613).

– Este ponto-de-vista distorcido das Escrituras foi o prevalecente na história da Igreja até o século XIX, pois até mesmo os reformadores protestantes (Lutero, Calvino, entre outros), apesar de já se vislumbrar uma certa preocupação escatológica, não se debruçaram sobre este tema, centrando seus esforços de interpretação e de estudo da Bíblia Sagrada sobre outros assuntos, como a doutrina da salvação.

Entretanto, nunca foi unânime, pois o Senhor jamais deixa que a Sua Palavra venha a ser totalmente sufocada, mormente no período em que vivemos, da dispensação da graça.

Vez por outra, ao longo da história da Igreja, havia avivamentos e, nestes avivamentos, sempre surgia a verdade bíblica concernente à vinda de Jesus para a Sua Igreja, a esperança e razão de ser da vida cristã.

– No século II, ou seja, no mesmo século em que surgiu o Credo dos Apóstolos (vide supra), que cristalizou a visão amilenista, a Igreja foi sacudida pelo chamado “movimento montanista”, assim denominado porque teve em Montano a sua principal figura.

Montano passou a anunciar o retorno iminente de Cristo, reavivando, assim, a esperança da Igreja. Apesar de certos exageros do movimento, o fato é que o movimento voltou a trazer a ideia da vinda de Cristo e de que este seria o evento que desencadearia as últimas coisas.

O movimento, que surgiu por volta de 156, e que chegou a ter entre suas fileiras a proeminente figura de Tertuliano, um dos principais “pais da Igreja” dos primeiros séculos, perdurou até o século VI d.C. no Oriente.

– Com a Reforma, voltou-se a crer na segunda vinda de Cristo como um evento distinto do julgamento final, ou seja, como um acontecimento que antecederia o Milênio.

Lutero, citado por Chafer, afirmou que “…Eu creio que todos os sinais que devem preceder os últimos dias já têm aparecido.

Não pensemos que a vinda de Cristo está longe; olhemos com as cabeças erguidas; esperemos a vinda de nosso Redentor com anelo e mente alegre.…” (apud CHAFER. Lewis. Teologia sistemática, t.II, v.4, p.615), bem como Calvino,

“…a Escritura uniformemente nos ordena a olhar com esperança para o advento de Cristo…”(Institutas da Religião Cristã, cap.25 apud CHAFER, Lewis, op.cit., p.615).

– A ideia da vinda de Cristo foi realçada durante o chamado movimento petista, mais um avivamento da Igreja, ocorrido no século XVII, que, inclusive, deu origem ao grande avivamento morávio.

Um dos principais nomes petistas a resgatar a ideia da volta de Cristo, inclusive com admissão do reino milenar de Cristo, foi o alemão Johann Albrecht Bengel (1687-1752), cujos comentários do Novo Testamento influenciaram muito John Wesley (1703-1791), que foi também responsável por outro grande avivamento na Igreja.

– Foi somente a partir do século XIX, porém, que a ideia bíblica da vinda de Cristo como um evento que antecede o reino milenial e que se desenvolverá em duas fases distintas ganhou corpo, cremos que até como mais um sinal da proximidade da volta do Senhor.

Lamentavelmente, como afirma Chafer, “…devido ao lugar central que a Soteriologia [doutrina da salvação, observação nossa] tem recebido dos reformadores e dos escritos teológicos subsequentes, é que não foi dada a devida consideração à verdade profética…”(op.cit., p.595).

No entanto, até como uma reação ao chamado “movimento crítico bíblico”, que começava a influenciar os meios religiosos europeus, com a sua ideia de que a Bíblia não seria infalível, bem como ao próprio clima de sensação de fim de mundo surgido na Europa com a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas,

alguns teólogos e ministros do Evangelho passaram a se interessar pelo estudo das Escrituras e, particularmente, das profecias bíblicas, tendo, então, se sobressaído alguns movimentos e lideranças, entre os quais os chamados “irmãos de Plymouth”, que teve em John Nelson Darby (1800-1882),

inglês-irlandês, um de seus maiores expoentes e a quem devemos o início do estudo da volta de Cristo sob a visão das dispensações e, muito especialmente, o chamado “pré-tribulacionismo”, que é a linha de pensamento adotada pelas Assembleias de Deus.

OBS: “…Darby acreditava que era essencial que a Igreja tivesse uma correta esperança. Esta esperança ele entendia que era a segunda vinda de Cristo.

Em Sua vinda, sustentava Darby, Cristo levaria os santos para a glória com Ele, para que ela se tornasse a noiva, a esposa do Cordeiro. Darby insiste que ‘ nada é mais proeminente no Novo Testamento do que a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo.’

Ele aponta que é a promessa da volta de Cristo o que foi primeiramente oferecido para consolar os discípulos que testemunharam a ascensão do Senhor como se vêm em At.1:11.

Conseqüentemente, diz Darby, ‘ não é de forma alguma estranho que – imediatamente após a conversão ao Deus vivo – que se passe a esperar pelo Seu Filho que virá da glória para nos livrar da ira futura’ ‘…”( CRUTCHFIELD. Larry. John Darby:defensor da fé. http://www.according2prophecy.org/darby.html Acesso em 13 set.2004) (tradução nossa).

– Não é por acaso que, ao lado de um estudo mais detido sobre este tema, tenha a Igreja passado a experimentar um novo e vigoroso avivamento, que desencadeou o surgimento do movimento pentecostal.

Entretanto, com preocupação, vemos que, nos últimos anos, este mesmo vigor na pregação da vinda de Cristo tem se enfraquecido e cedido seu lugar a outras pregações, em especial a da “teologia da prosperidade”,

de forma que precisamos, mais do que nunca, estudarmos e meditarmos nesta mensagem, que é a esperança da Igreja, a razão de ser da nossa vida cristã. “Jesus breve virá” deve ser um tema constante de nossas mentes e corações.

– Assim, quando falamos em “volta de Cristo”, segundo os ensinamentos revigorados há pouco mais de cem anos (mas que já eram ensinados por Cristo e pelos apóstolos, de forma que não há sentido algum naqueles que procuram desacreditar estes ensinos com o argumento de sua “modernidade”), estaremos falando num episódio que tem duas fases bem distintas, a saber:

a) o arrebatamento da Igreja, bem descrito por Paulo em I Co.15 e I Ts.4, que é o momento em que se põe fim à dispensação da graça, quando Jesus vem buscar a Sua Igreja, nos ares, para que ela não passe pela Grande Tribulação.

b) a vinda em glória ou volta triunfal (em grego, a “parousia”), que é mencionada em passagens como Zc.12:9,10; Ap.1:7; 19:11-21, entre outras, que é o momento em que Jesus descerá no monte das Oliveira e impedirá a destruição de Israel, evento que porá fim à Grande Tribulação e ao reinado do Anticristo, na conhecida “batalha do Armagedom”.

– Nesta lição, trataremos apenas do “arrebatamento da Igreja”, deixando a “vinda em glória” ou “volta triunfal” para a lição 9 deste trimestre.

III – O QUE É O ARREBATAMENTO DA IGREJA

– Conforme temos visto, graças à misericórdia do Senhor e à ação do Espírito Santo, foi resgatada a verdade bíblica de que Cristo reinará literalmente sobre a face da Terra por mil anos, cumprindo-se assim as profecias messiânicas do Antigo Testamento.

Entretanto, para que isto ocorra, é preciso que Israel se converta, pois ele rejeitou a Jesus, abrindo, assim, a oportunidade para a salvação dos gentios.

– Deste modo, faz-se preciso que o tempo dos gentios se complete, ou seja, que termine a dispensação da graça, e, com ela, termine o tempo do povo criado por Deus na Terra para esta dispensação, que é a Igreja.

Esta Igreja, formada tanto por gentios quanto por judeus (cfr. Ef.2:11-22), tem uma promessa de Jesus, qual seja, a de que seria retirada da Terra para viver com o Senhor para sempre (Jo.14:1-3).

– O trabalho da Igreja, portanto, está limitado no tempo pela vinda do Senhor. Jesus mandou que a Igreja pregasse o evangelho, mas, quando houver a conclusão desta obra, “então virá o fim” (Mt.24:14 “in fine”). Estamos no “dia aceitável do Senhor” (Lc.4:19 “in fine”), que é o tempo da Igreja.

– Como já tivemos ocasião de dizer neste trimestre, a doutrina das últimas coisas tem de ser entendida dentro da perspectiva de que, para Deus, a Terra possui três povos, ou seja, os gentios, os judeus e a Igreja (I Co.10:32) e os eventos relativos ao final da história tem de levar em conta esta diversidade de povos.

– A Igreja está esperando Jesus (I Co.1:7; Fp.3:20; Tt.2:13; Tg.5:7; II Pe.3:1-13; I Jo.3:1-3; Jd.21); .

Na ceia, anuncia a volta de Cristo; prega o evangelho para que alcance todas as nações e o fim do seu tempo sobre a face da Terra; faz o seu trabalho enquanto não se dá o início da última semana da profecia das setenta semanas de Daniel; aguarda o livramento prometido pelo Senhor da “ira futura” (I Ts.1:10).

– O arrebatamento da Igreja é, precisamente, este acontecimento em que Jesus retirará a Sua Igreja da face da Terra, no exato instante em que estiver para se iniciar a septuagésima semana de Daniel, quando Deus, então, tratará com os outros dois povos, Israel e os gentios.

Será o “dia da vingança do nosso Deus” (Is.61:2 “in fine”), o “tempo de angústia”, tanto para os judeus (Dn.12:1), quanto para as nações (Lc.21:25), pelo qual a Igreja não passará.

– A palavra “arrebatamento” vem da expressão constante de I Ts.4:17, onde é dito por Paulo aos tessalonicenses que os crentes serão “arrebatados” e se encontrarão com o Senhor nos ares.

Paulo estava ali falando a crentes a respeito da vinda do Senhor, ou seja, o seu ensino dizia respeito à vinda de Jesus para a Igreja, de forma que tudo ao que ele ali se referiu está relacionado com a Igreja, este novo povo criado na dispensação da graça.

– “Arrebatamento” significa “retirada repentina, rápida, de improviso”,normalmente com violência. 

Tem o mesmo significado que “rapto”, que, aliás, é a palavra utilizada para a tradução do termo grego de I Ts.4:17 na Vulgata Latina (a tradução da Bíblia para o latim, a língua dos romanos e que até hoje é a tradução oficial da Igreja Romana).

– O arrebatamento da Igreja, portanto, é a retirada repentina, de improviso, dos membros do corpo de Cristo sobre a face da Terra, antes que se inicie o período mais negro da história da humanidade.

Jesus, então, como diz Paulo, descerá até as nuvens e se encontrará com a Igreja, que é a reunião dos salvos de todos os tempos, daqueles que creram na pessoa de Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador.

OBS: “…O Senhor não teria inaugurado uma Igreja que estava apenas na fundação. Aqueles discípulos que acompanhavam Jesus, e existiam no dia de Pentecostes, não chegavam a mil, eram apenas parte do fundamento da novel Igreja.

Muitos outros foram acrescidos depois daquele dia como fundamento da Igreja Cristã, a exemplo entre eles destacou-se o Apóstolo Paulo.

A Igreja de Jesus Cristo é composta de bilhões vezes bilhões de almas, uma multidão que homem algum jamais poderá calcular.

Com certeza, a Igreja será inaugurada quando todos os remidos, de todos os tempos, juntamente com os santos que morreram desde o princípio da geração, e foram evangelizados por Cristo após a ressurreição, estiverem reunidos em número incalculável, liderados pelo Senhor Jesus Cristo, que irá adiante da grande multidão e nos apresentará ao Pai, dizendo: Hebreus 2.13:

’…Eis-me aqui, e aos filhos que Deus me deu.’…” (SILVA, Osmar José da.Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.110).

Este pensamento do pastor Osmar José da Silva, aliás, dá o real significado para a palavra “igreja”, ou seja, “reunidos para fora” (“ekklesia”). Só no dia do arrebatamento, a Igreja será realmente reunida em sua totalidade e estará para sempre fora deste mundo.

II – QUANDO SE DARÁ O ARREBATAMENTO DA IGREJA

– A realidade do arrebatamento da Igreja, como vemos nas Escrituras, tem também um aspecto importantíssimo: não há como se definir a data deste arrebatamento. Jesus foi bem claro ao afirmar que

“…porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas unicamente Meu Pai.” (Mt.24:36; Mc.13:32).

– Esta afirmação de Jesus sempre intrigou e deixou perplexos os estudiosos da Bíblia ao longo da história da Igreja.

Como diz sabiamente R.N. Champlin, “…para alguns comentaristas, essas são algumas das palavras mais difíceis de entender que Cristo proferiu.

A dificuldade não está em sua interpretação, pois o sentido é perfeitamente claro; o problema está em sua aceitação…” (O Novo Testamento interpretado, v.1, com. Mt.24:36, p.566).

Mas é, precisamente, nestas horas que o estudioso da Bíblia deve demonstrar que, acima da razão, está a sua fé na inerrância das Escrituras.

Jesus disse que ninguém saberia o dia da Sua volta e devemos nos conformar com esta assertiva, se é que cremos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida (Jo.14:6).

– Muitos, na sua resistência a este texto, chegaram, mesmo, a deturpá-lo, tanto que alguns manuscritos eliminaram a expressão “nem o Filho” de Mt.24:26, que, entretanto, é autêntico, até porque são perfeitamente consonantes com o texto de Mc.13:32, onde não há esta omissão.

Segundo estes resistentes, o texto estaria negando a onisciência de Jesus, pois haveria algo que Jesus não saberia, ou seja, o dia da Sua volta e, portanto, Jesus não seria Deus.

– Todavia, não é isto o que o texto diz. O texto afirma que Jesus, enquanto homem, enquanto revelação de Deus à humanidade, não estava autorizado e, por isso, em Sua humanidade,

não tinha o conhecimento (pois o conhecimento de Jesus enquanto homem tinha como único objetivo a revelação do Pai aos homens – Jo.15:15), não ouviu do Pai a data do arrebatamento da Igreja e, portanto, não poderia transmiti-lo aos homens.

Jesus em tudo foi obediente ao Pai (Fp.2:8), despojando-se dos Seus atributos divinos para fazer a vontade do Pai.

Assim, enquanto homem, em obediência ao Pai, privou-se do conhecimento da data da Sua vinda, sem que tenha deixado de, enquanto Deus, ter pleno conhecimento dela.

Tanto que, ainda hoje, pois que continua como homem e Deus no céu, também não revela esta data a quem quer que seja.

– Por que Deus não revelou a data do arrebatamento da Igreja ao Seu povo? Deus não revelou a data do arrebatamento da Igreja para o Seu povo, porque não é Deus de confusão (I Co.14:33).

Sendo um Deus que quer que o homem retorne à Sua imagem e semelhança, e, portanto, seja santo e viva em santidade (I Pe.1:15,16; Ap.22:11), bem como um Deus que determina aos crentes que perseverem até o fim para que alcancem a salvação de suas almas (Mt.24:13; I Pe.1:9) e

que é este instante final que determinará a sorte eterna do homem (Ez.18), como poderia Deus anunciar a que dia viria o Seu Filho para arrebatar a Sua Igreja, permitindo a salvação de todo e qualquer homem sem que se seguisse a recomendação de santidade e de comunhão com Deus? Onde estaria a justiça e a veracidade da Palavra de Deus?

Vemos, portanto, que o caráter de Deus impõe esta incerteza da data do arrebatamento da Igreja.

– Não é por outro motivo, pois, que a dispensação da graça é o “tempo que se chama hoje” (Hb.4:7), pois o crente deve viver na perspectiva de que Jesus pode vir a qualquer momento, a qualquer instante.

Assim como Deus é um eterno presente, a vida de pureza, de santidade e de comunhão do cristão com o seu Senhor deve ser um permanente presente, uma realidade atual a todo tempo, pois Jesus pode vir a qualquer instante.

A vigilância é fundamental para o cristão, é uma atitude indispensável para que alcancemos o fim de nossa fé, que é a salvação de nossas almas, que somente ocorrerá no instante do arrebatamento da Igreja, quando atingiremos a glorificação, de que Paulo fala no capítulo 15 de I Coríntios.

– Não pode haver, portanto, no coração do cristão, um sentimento diverso desta atualidade permanente, deste preparo incessante para subir com Jesus.

Devemos estar preparados, com as nossas lâmpadas cheias de azeite, ou seja, em plena comunhão com Jesus neste momento, agora, para que possamos nos reunir com os santos na hora do arrebatamento. A Bíblia deixa bem claro que não podemos nos iludir com as coisas deste mundo e começar a achar que “Jesus está demorando”.

Este pensamento ou sentimento de “demora de Jesus” é um indicador perigosíssimo para o crente.

É uma atitude típica daqueles que estão se desviando dos caminhos do Senhor, como deixou claro o apóstolo Pedro, que diz que quem assim pensa são “escarnecedores, que andam segundo suas próprias concupiscências” (I Pe.3:3).

– Pouco importa, para o crente fiel e sincero, que se esteja esperando Jesus desde o ano 30 de nossa era e que, quase dois mil anos depois, Jesus ainda não tenha vindo. Isto é irrelevante, pois o crente, como diz o poeta sacro Justus Henry Nelson(1850-1937), tem plena convicção e diz: ‘…É fiel, Sua vinda é certa.

Quando…Eu não sei. Mas Ele manda estar alerta, do exílio voltarei.” (parte da terceira estrofe do hino 36 da Harpa Cristã).

– Apesar do texto bíblico clarividente, não foram poucos os que se aventuraram em marcar a data do arrebatamento da Igreja. Na própria igreja apostólica, vemos que certas atitudes dos crentes foram resultantes de cálculos que foram inadvertidamente feitos pelos crentes quanto à vinda de Jesus.

Como Jesus havia dito que não passaria aquela geração sem que o que Ele havia predito no sermão profético acontecesse (Mt.24:34), certamente houve quem achasse que, até o ano 40, ou seja, dez anos depois da morte, ressurreição e ascensão de Cristo, Jesus voltaria, o que explica, plenamente, o comportamento dos crentes em Jerusalém, como dissemos supra.

Entretanto, veio o ano 40 e nada aconteceu, o que gerou um certo descrédito no meio do povo de Deus.

– Aliás, um dos grandes problemas destas designações de data da volta de Cristo é, precisamente, a decepção que vem sobre a Igreja quando a data não se concretiza (e jamais se concretizará, pelo que vemos nas Escrituras Sagradas).

É uma astuta armadilha do inimigo para fazer arrefecer no meio do povo de Deus a esperança na vinda do Senhor.

Pedro, por isso, foi bem incisivo ao alertar os crentes para que não dessem ouvidos àqueles que desacreditassem na promessa da vinda do Senhor, ainda que isto seja decorrência de precipitadas e atrevidas previsões, previsões estas que jamais terão qualquer respaldo bíblico, pois,

conforme já visto, a Bíblia é clara ao afirmar que ninguém saberá a data do retorno de Cristo, e isto, frisemos bem, é um efeito do próprio caráter de Deus e, portanto, se é algo relacionado com o caráter de Deus, não tem como ser mudado em hipótese alguma.

– A destruição do templo de Jerusalém, certamente, teve um impacto imenso sobre os crentes, que viram, assim, o cumprimento de parte da profecia de Jesus, mas, mesmo assim, apesar disto, não se viu o cumprimento da vinda de Cristo e isto até colaborou para que a visão amilenista acabasse tomando conta de parcela considerável da Igreja.

Com a Reforma, entretanto, o quadro começou a mudar, mas, já no século XIX, em meio ao avivamento experimentado, logo surgiu alguém que se arvorou no direito de marcar a data da volta de Cristo. Surgiu, então, o movimento adventista, liderado por William Miller,

que definiu a volta de Jesus, primeiro para 1847 e, depois, para 1848, gerando mais uma decepção de grandes proporções, além de ter, de quebra, dado origem a uma importante seita, atuante até os nossos dias, que é o sabatismo, que foi construído sobre os escombros desta precipitada designação de data da volta de Jesus.

– Por trás de outra estapafúrdia designação de data da volta de Cristo está o surgimento de outra heresia, no século XIX, a saber, as Testemunhas de Jeová, para quem o milênio se iniciou em 1914, ou seja, a época de paz da humanidade prometida nas profecias messiânicas do Antigo Testamento teria começado no ano em que estourou a Primeira Guerra Mundial!

– Em 1992, pudemos ver, também, a designação de mais uma data para a volta de Cristo e, nesta oportunidade, no Oriente, mais precisamente na Coreia do Sul, um dos países de maior crescimento da Igreja nos últimos tempos.

Ali, um tal de Bang-Ik-Ká, dizendo que o dia e hora da vinda do Senhor não podiam ser revelados, mas que o mesmo não se daria com relação ao “período”, fixou que Jesus voltaria durante a “festa dos tabernáculos” de 1992.

Multidões se reuniram em diversos lugares do mundo e, mais uma vez, nada aconteceu. “Passarão os céus e a terra, mas as Minhas palavras não hão de passar”, disse Jesus e, portanto, fiquemos com a Palavra de Deus, que diz que não temos como saber quando Jesus voltará.

– É certo que sabemos que este dia está muito próximo, pois, como vimos na lição 2, todos os sinais já se cumpriram ou estão se cumprindo, não havendo, aliás, como sabermos quando o evangelho será pregado a todas as gentes.

Ora, precisamente porque não temos de detectar em que instante isto ocorrerá e é este sinal que determina o fim (Mt.24:14 “in fine”), temos mais uma prova de que o tempo da graça é “hoje” e não podemos, por isso, deixar que nossos corações sejam endurecidos, mas que estejamos agora, neste momento, em comunhão com Deus, para que possamos ouvir o clamor da última trombeta.

– Uma outra discussão que surge a respeito do momento do arrebatamento da Igreja diz respeito a se ele se dará antes, no meio ou depois da Grande Tribulação.

Como vimos na primeira lição, conforme se responda a esta questão, teremos as três linhas de pensamento existentes entre os chamados “milenistas”, quais sejam: os pré-tribulacionistas, os midi-tribulacionistas e os pós-tribulacionistas.

– Nosso entendimento, que é o oficialmente adotado pelas Assembleias de Deus, é no sentido de que o arrebatamento da Igreja se dará antes do início da Grande Tribulação.

A Bíblia diz-nos que Jesus prometeu livrar a Igreja da ira futura (I Ts.1:10), guardar da hora da tentação que há de vir sobre o mundo (Ap.3:10), bem como que o diabo e seus anjos serão precipitados sobre a face da Terra, quando, então, agirão com grande ira (Ap.12:7-12), o que somente se explica pelo fato de os ares que hoje são por eles ocupados terem de dar lugar ao encontro de Jesus com a Sua Igreja.

Também é dito que há um que resiste para que o Anticristo ainda não se manifeste e que não haverá tal manifestação enquanto este não for tirado (II Ts.2:7) e sabemos que não há como o Espírito Santo, dentro das obras que Lhe foram confiadas (Jo.14:16-18; 16:13-15),

deixar de atuar livremente sobre este mundo com a Igreja ainda aqui habitando, pois isto contrariaria a promessa solene de Jesus de não deixar a Igreja órfã. Ademais, o clamor pela vinda de Jesus é tanto do Espírito quanto da Igreja (Ap.22:17).

Por tudo isto, embora respeitemos os outros pontos-de-vista, não podemos senão considerar que o arrebatamento da Igreja se dará no momento imediatamente anterior ao início da Grande Tribulação.

III – COMO SE DARÁ O ARREBATAMENTO DA IGREJA

– Como vimos, “arrebatamento” é rapto, retirada de surpresa, retirada rápida, retirada repentina. 

A Bíblia dá-nos uma característica de que como se dá um rapto no episódio narrado no livro de Juízes, a respeito do rapto de mulheres pelos benjaminitas, a fim de impedir que a descendência de Benjamim se perdesse, depois que haviam sido derrotados pelas demais tribos de Israel (Jz.21:13-25).

Diz o texto sagrado que os benjaminitas ficaram nas vinhas, em atitude de emboscada e, quando passaram as mulheres, levaram algumas delas, pegando-as rapidamente, com violência e imediatamente saindo daquele local, levando-as para as suas casas. De igual modo, será o arrebatamento da Igreja.

– Assim como os benjaminitas estavam nas vinhas em atitude de emboscada, ou seja, esperando a chegada do momento para arrebatar as mulheres israelitas, de igual forma, o Senhor Jesus está pronto, aguardando apenas a ordem do Pai para buscar a Sua Igreja.

– Ao ser concedida esta ordem, porém, algo deverá ser feito nas regiões celestiais. Afirmam as Escrituras que o inimigo e as hostes espirituais da maldade habitam os lugares celestiais (Ef.6:12), ou seja,

por permissão divina, uma certa dimensão celestial é habitada pelo adversário e por suas miríades angelicais, que vagam sem local e sem destino por este universo, aguardando a execução da sentença de suas condenações (Jó 1:7).

Para que se faça o encontro de Jesus com o Seu povo nos ares, ou seja, precisamente nesta região, que se encontra abaixo da glória divina, será preciso que o diabo e seus anjos sejam dali retirados, o que será feito pelo arcanjo Miguel, como se vê de Ap.12:7-9.

Esta batalha no céu fará com que o diabo seja precipitado sobre a Terra, ou seja, deixará os ares livres para o encontro de Jesus com a Sua Igreja.

Simultaneamente, como se revela no livro do Apocalipse, se iniciará uma época terrível sobre os homens que aqui ficarem, pois o diabo atuará como nunca sobre a face da Terra, irado e sabendo que tem pouco tempo (Ap.12:12).

– Dada a ordem pelo Pai, Jesus descerá do céu com alarido, com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus, ou seja, Jesus, uma vez mais, ingressará na nossa dimensão e, assim como uma nuvem O ocultou, ou seja, impediu que Ele fosse visível a Seus discípulos (At.1:9),

agora voltará a ser visto pela Sua Igreja, igualmente nas nuvens. É interessante observar que a promessa da volta de Cristo para a Sua Igreja, feita logo após a Sua ascensão, é que Jesus “…há de vir assim como para o céu O vistes ir…” (At.1:11 “in fine”).

As Escrituras combinam-se em cada detalhe e nada deixará de ser cumprido. No dia da ascensão, Jesus foi visto pelos Seus discípulos (eram mais de quinhentos irmãos, diz-nos Paulo em I Co.15:6) e, num primeiro instante, também só será visto pela Sua Igreja, pois assim como subiu, irá descer,. Aleluia!

– Estes alarido, voz de arcanjo e trombeta de Deus mencionados por Paulo (I Ts.4:16) estão de acordo com o que Jesus fala na parábola das dez virgens, quando diz que, à meia-noite, ouviu-se um clamor, que dizia: “Aí vem o esposo”.

Por isso, alguns estudiosos das Escrituras, entre os quais se inclui o saudoso pastor Severino Pedro da Silva, entendem que, no dia do arrebatamento, os crentes fiéis serão, sim, avisados do evento, pois os textos bíblicos falam a respeito de um clamor, de um aviso, de um chamado no instante do arrebatamento.

Jesus, mesmo, afirmou que as Suas ovelhas conhecem a Sua voz (Jo.10:4). A presença do arcanjo, neste instante, como vimos, justifica-se pelo fato de ter ele liderado a batalha contra o diabo e os seus anjos, para a limpeza dos ares, a fim de que se tenha o encontro entre Jesus e a Sua Igreja. Seria, assim, também um brado de vitória do arcanjo.

– De qualquer modo, o texto fala-nos, claramente, que Jesus, como um verdadeiro comandante e líder, estará convocando o Seu povo para uma reunião, sendo este o sentido do alarido, da voz de arcanjo e da trombeta de Deus.

Lembremo-nos de que Moisés, para reunir o povo, tocava trombetas especialmente fabricadas para esta finalidade (Nm.10:1-10) e, agora, Jesus, a cabeça da Igreja, irá convocar, reunir todo o Seu povo.

Esta descrição do arrebatamento, portanto, permite-nos ver, claramente, que se trata de um evento peculiar à Igreja, pois se trata de chamar ao encontro do líder o povo, uma atração até os ares, quando Jesus se faz acompanhar apenas do arcanjo (provavelmente Miguel, o único na Bíblia a ser assim denominado).

– Muitos intérpretes discutem a respeito de eventual distinção entre o alarido, a voz de arcanjo e a trombeta de Deus. Entendem alguns que tudo é uma figura da ideia da convocação de toda a Igreja, de todos os santos.

Outros já acham que o alarido, ou seja, o grito, seria um chamado aos mortos para a sua ressurreição (reportando-se aqui ao episódio da ressurreição de Lázaro, em que Jesus clamou com grande voz – Jo.11:43);

a voz de arcanjo se referiria ao chamado dos crentes vivos, aqueles que estiverem vigilantes, aguardando o Senhor com as lâmpadas cheias de azeite; enquanto que a trombeta de Deus representaria a ordem de reunião dos vivos e dos mortos na presença do Senhor nos ares.

– Com relação à trombeta de Deus aqui mencionada, não podemos confundi-la com nenhuma das trombetas mencionadas no livro do Apocalipse.

Aqui se está falando da “trombeta de Deus”, que tem a função de convocar a Igreja, para encontrar-se com Jesus nos ares.

As sete trombetas que se encontram no livro do Apocalipse fazem parte do sétimo selo (Ap.8:1,2) do livro que fora aberto pelo Cordeiro (Ap.5:5), ou seja, são episódios e acontecimentos que se dão “depois destas coisas” (Ap.4:1), ou seja,

depois dos episódios profetizados por Jesus para a Igreja nas cartas das igrejas da Ásia, em especial, a carta dada a igreja em Filadélfia, onde Jesus prometeu “guardar da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap.3:10b).

Portanto, as sete trombetas dizem respeito aos juízos de Deus sobre Israel e os gentios na Grande Tribulação, nada tendo que ver com a trombeta de que estamos agora a tratar, que é a última trombeta da dispensação da graça.

– Feita a convocação, ocorrerá a ressurreição dos crentes que morreram no Senhor, daqueles que estão dormindo no Senhor (I Ts.4:13).

É importante observar que a Bíblia nunca diz que o crente morre, mas, sim, que dorme no Senhor. Este “dormir no Senhor”, ademais, não tem o significado de que o crente fiel que já morreu esteja inconsciente, não tenha noção do que está se passando, como defendem, entre outros, os adventistas.

Jesus deixou claro, no episódio do rico e Lázaro (Lc.16:19-31), que os fiéis, ao morrerem, têm a separação do homem interior (alma e espírito) e do homem exterior (corpo).

Entretanto, permanecem conscientes e estão aguardando a ressurreição no seio de Abraão, ou seja, no Paraíso, como Jesus disse ao ladrão da cruz (Lc.23:43).

– Nesta ressurreição, os crentes que estavam mortos, terão a reunião do seu homem interior (alma e espírito) com o seu homem exterior (corpo).

Só que este novo corpo não será o mesmo corpo que tinham antes de sua morte física, mas, a exemplo do que ocorreu com o Senhor Jesus na Sua ressurreição, receberão um corpo glorificado, um corpo espiritual, um corpo celestial. Paulo bem explica isto em I Co.15:40-50.

Completar-se-á, então, o processo da salvação e os fiéis atingirão a glorificação, que é o estágio final da salvação. Dotados de um corpo glorificado, a exemplo do seu Salvador, poderão, assim como Ele o fez, adentrar nas mansões celestiais.

– Todos os que morreram em Cristo, ou seja, aqueles que creram em Jesus como seu Senhor e Salvador e que já estiverem mortos no dia do arrebatamento da Igreja, ao ouvirem o alarido, ressuscitarão e, novamente, serão corpo, alma e espírito, mas, como vimos, terão um corpo glorificado, um corpo que não estará mais submetido às leis físicas, um corpo igual ao de Jesus após a Sua ressurreição.

Por isso, poderão encontrar com Jesus nos ares, pois a lei da gravidade não poderá mais ter qualquer efeito sobre seus corpos, como também poderão, doravante, participar da dimensão da eternidade.

E, assim como Cristo Se tornou invisível aos homens, os crentes, apesar de serem milhões de milhões, milhares de milhares, não serão vistos nem notados pelos demais seres humanos.

– Discute-se, aqui, se ressuscitarão apenas os que morreram na dispensação da graça ou todos aqueles que creram em Jesus, em todas as épocas, ou seja, aqueles que “todos estes, [que] tendo testemunho pela fé, não alcançaram a promessa; provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados” (Hb.11:40).

A questão é polêmica, mas o texto que mencionamos, no nosso modesto entendimento, permite-nos observar que todos os fiéis a Deus, de todas as épocas, estão envolvidos no arrebatamento, até porque consideramos que a ida de Jesus ao Hades foi com o objetivo de dar testemunho da salvação a todos os mortos e, assim, fazer os fiéis conscientes de em que haviam crido.

Mas é questão polêmica, que comporta várias interpretações, sendo um assunto nitidamente secundário e no qual, como já ensinava Agostinho, deve haver liberdade.

– Completada a ressurreição dos crentes mortos, segue-se a transformação dos crentes que estiverem vivos no dia do arrebatamento da Igreja. Paulo diz que, de modo algum, os crentes vivos precederão aos que já haviam morrido (I Ts.4:15; I Co.15:52).

Assim que todos os mortos ressuscitarem, os crentes que estiverem vivos serão transformados, ou seja, os seus corpos físicos, corruptíveis, de carne e osso, serão revestidos da incorruptibilidade, o corpo material será absorvido por um corpo glorioso, um corpo espiritual,

um corpo celestial que substituirá o corpo anterior e, assim, os crentes vivos serão, igualmente, glorificados e postos em condição de se encontrarem com Jesus e com os crentes ressuscitados nos ares. Este processo de transformação é descrito por Paulo em I Co.15:51-54.

Não é de admirar que isto ocorra. Não bastasse o fato de estar narrado na Bíblia e de nosso Senhor ser onipotente, a própria ciência, desde a teoria da relatividade, tem afirmado que a matéria pode ser transformada em energia,

quando estiver na velocidade da luz, tendo havido, também, um exemplo de absorção da matéria pelo corpo glorificado, no episódio do alimento consumido por Jesus quando jantou com os discípulos em Jo.21:13-15.

– Operada a transformação dos crentes vivos, todos os crentes se encontrarão com Jesus nos ares, ou seja, na região celestial que antes fora ocupada pelo adversário e seus anjos, num encontro maravilhoso, onde haverá a reunião da Igreja, onde a Igreja se tornará, efetivamente, o conjunto dos “reunidos para fora do mundo” (“ekklesia”).

Esta reunião é o resultado da colheita de almas feita durante a história da humanidade, a ceifa produzida pelo amor de Deus (Jo.4:34-38), o que nos faz lembrar da “festa das trombetas” (Nm;29:1),

o Ano Novo Judaico (Rosh Hashanah), celebrada no início do sétimo mês (setembro/outubro em nosso calendário), a primeira de um ciclo de festas que ocorria neste mês, que, consoante os rabinos judeus, é também chamado de “Iom Há-Zikaron”, ou seja,

“Dia da Recordação”, quando

“…Deus Se recorda ‘das ações e do destino de cada homem, de suas obras e seus caminhos, seus pensamentos e planos, suas fantasias e sucessos’… (AUSUBEL, Nathan. Rosh Hashanah. In: A JUDAICA, v.6, p.732), a indicar, portanto, o início do juízo divino. Era um dia de jubilação, ou seja, um dia de alegria, porque o povo de Deus tinha de lembrar da misericórdia divina e de que, por ela, escaparia ao juízo divino.

– “…O dia 1 de Tishrei inicia a Festa das Trombetas ou Yom Teruah (O Dia do Estrondoso Despertar) ou ainda o Rosh Ha’Shanah (Cabeça do Ano, o dia do Som do Shofar).

Essa é a única Festa que começa com a Lua Nova. O Shofar [isto é, a trombeta – observação nossa] tinha suma importância na celebração do Ano do Jubileu.

Como todos os meses do calendário, o primeiro dia de Tishrei começa com o brilho de uma lua nova. Os vigias no oriente de Israel ficavam observando até que surgisse o primeiro raio ou sinal da lua nova e esse sinal era transmitido rapidamente de vigia em vigia até chegar no Templo.

O sacerdote ficava em pé no parapeito a sudeste do Templo e soava o Shofar para que fosse ouvido em todo vale ao redor.

Assim que o sacerdote soava o Shofar, os tementes a Deus, verdadeiros servos, interrompiam imediatamente a colheita, mesmo que ficasse ainda mais para ser colhido, deixavam tudo lá mesmo, no campo.

Era época de trigo e eles paravam tudo e se dirigiam para o Templo, para adoração do dia de ano novo, a Festa das Trombetas.

Jesus usou essa ilustração para descrever a sua Segunda Vinda. Paulo associa claramente o “soar das trombetas” com a Segunda Vinda de Cristo sobre as nuvens (1 Tessalonicenses 4.16-17 e 1 Coríntios 15.51-52).

Isaías associou o uso do Shofar com a vinda do Messias (Isaías 51.9 e 60.1). Paulo associou o despertamento estrondoso com o Shofar e com o arrependimento dos pecados e citou Isaías 60.1 em Efésios 5.14-17.

O Rosh Ha’Shanah é também chamado de Yom Ha’Din, o Dia do Juízo, uma época em que as cortes celestiais se reúnem e fazem uma análise completa da vida de cada pessoa.

Os 30 dias de Elul, antes do primeiro dia de Tishrei é, então, tempo de se voltar para Deus e os 10 dias que precedem ao Yom Kippur (Dia do Temor, Expiação), são chamados de Dias de Temor ou “Os Dias Terríveis”.

Exatamente como o Judeu faz anualmente, vemos que precede o encerramento do Rosh Ha’Shanah e que inaugura o “Dia do Senhor” (Sofonias 2.1-3). .…” (VIEIRA, Dionei Cleber. Escatologia – As festas judaicas e seus significados. Disponível em: http://dcvcorp.com.br/?p=230 Acesso em 16 nov. 2015).

OBS: Os 30 dias antes do Rosh Hashanah, ou seja, os 30 dias do mês do mês de Elul, o sexto mês, são uma figura do tempo da Igreja e do comportamento que devem ter os crentes, pois, como diz Nathan Ausubel:

“…Cada pessoa, diziam eles (os Sábios Rabínicos da Era Pós-Destruição do Segundo Templo, observação nossa), para poder alcançar aquele estado de elevação em Rosch Hashanah, tinha que se preparar, primeiro, por meio de orações constantes, de introspecção, e — ainda mais — pela prática diária entre seus semelhantes de atos de benevolência (em hebraico: guemilut chasadim).

Em consequência, durante todo o mês de Elul, que precede a Rosh Hashanah, o homem devoto deveria ocupar-se da contabilidade de sua alma.

Tinha que se examinar destemidamente, perscrutar todas as suas ações com isenção escrupulosa, e verifica-las, item por item, em confronto com os 613 mandamentos das Escrituras (mitzvot) para descobrir onde havia falhado, ou que leis morais havia violado.

Era costume (e ainda é até cento ponto) entre os devotos, nesses trinta dias preliminares de autopurgação, meditar e manter grave silêncio, estudar a Torah e pronunciar orações de penitência, entoar hinos do saltério hebraico e suplicar sem cessar o perdão de Deus.…” (op.cit., pp.733-4).

– É por isso que não se pode admitir a “teoria do arrebatamento parcial”defendida por alguns estudiosos, que dizem que somente os crentes que “amarem a vinda do Senhor” e que estiverem “vigilantes” serão arrebatados e os demais ficarão para a Grande Tribulação.

Não há sentido algum nesta teoria, pois o corpo de Cristo é uno (Rm.12:5; I Co.10:17; I Co.12:12; Ef.4:4), não admite ser dilacerado, ser separado. A propósito, como prova desta unidade, em verdadeira figura, o corpo físico de Jesus Cristo não foi quebrado quando da Sua morte (Jo.19:33-36), como, aliás, já havia sido predito (Sl.22:17).

– O texto bíblico é claríssimo ao dizer que todos os crentes, sem qualquer exceção, serão arrebatados e se reunirão com o Senhor nos ares( I Ts.4:16,17).

Os que não estiverem vigiando, os que não amarem a vinda do Senhor não serão arrebatados, porque não serão verdadeiros e genuínos servos de Deus, não fazem parte da Igreja, sendo, apenas, “falsos irmãos” (II Co.11:26; Gl.2:4),

pessoas ou que nunca creram verdadeiramente no Senhor, verdadeiro joio no meio do trigo, ou que, apesar de terem crido, negaram o Senhor que os resgatara, apostatando da fé (II Pe.2:1-3; I Tm.4:1; II Tm.4:3,4).

– É oportuno aqui observar que este processo de ressurreição, de transformação e de reunião dos crentes será efetuado pelo Espírito Santo, que levará a Igreja ao encontro do Senhor Jesus nos ares, entregando-Lhe a Noiva, como o pai da noiva ou o padrinho, na falta do pai, costumam fazer nas cerimônias de casamento que estamos acostumados a assistir.

É obra do Espírito Santo o mover, o movimentar (Gn.1:2) e o ressuscitar e transformar (Rm.8:11). Após a reunião e a realização tanto do Tribunal de Cristo e das Bodas do Cordeiro, o Filho, então, entregará a Igreja ao Pai (I Co.15:28; Hb.2:13).

– Todos estes eventos ocorrerão em tempo ínfimo, pois a Bíblia diz que isto se dará “num abrir e fechar de olhos” (I Co.15:52a), expressão que, no grego, é “atomo”, ou seja, unidade que não pode ser dividida.

Todos estes episódios se darão num intervalo de tempo mínimo, dentro da dimensão humana, de forma repentina, imediata, como convém ocorrer num rapto.

Aliás, podemos fazer um paralelo da exiguidade de tempo com os chamados “sequestros-relâmpago” que tanto têm trazido desassossego e intranquilidade aos moradores das cidades brasileiras.

Se homens perversos, limitados e, no mais das vezes, sob tensão, somem com pessoas repentinamente, para fazer-lhes mal, que podemos dizer do Senhor dos senhores e Rei dos reis, quando tiver o propósito de libertar o Seu povo da fúria do inimigo e da provação divina que se abaterá sobre a Terra?

– Jesus disse que o Filho do homem virá como o relâmpago (Mt.24:27) e, como hoje sabemos, pela física, a maior velocidade que existe é a velocidade da luz, na qual a própria matéria se transforma em energia. Na velocidade da luz, como demonstrou Einstein, o tempo simplesmente não passa, não existe.

Por isso, a Bíblia afirma que o arrebatamento da Igreja se fará “num abrir e fechar de olhos”, num instante que não será sequer notado ou percebido pelos homens.

Por isso, não há como fugirmos desta realidade: o arrebatamento será instantâneo e não haverá tempo para reconciliações nem para acertos de contas com Deus.

Ou estejamos preparados a todo instante, sem qualquer pestanejar, ou estaremos praticamente condenados a sofrer as agruras da Grande Tribulação! Ora vem, Senhor Jesus!

 Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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