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Juvenis – Lição 07 – Jônatas: O valor da lealdade

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo de personagens bíblicas que nos ensinam sobre o caráter cristão, estudaremos hoje Jônatas, o filho de Saul.

– Jônatas é exemplo de lealdade na Bíblia.

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I – JÔNATAS, O FILHO DE SAUL

– Na continuidade do estudo de personagens bíblicas, estudaremos hoje a vida de Jôntas, o primogênito de Saul, que é um exemplo de lealdade nas páginas sagradas.

– O nome “Jônatas” significa “Jeová tem dado”, “Deus nos deu” ou, ainda, “dado por Deus” nome muito elucidativo, pois, em toda a sua vida, esta personagem tinha pleno discernimento daquilo que Deus tinha dado e a quem o tinha feito, sempre buscando satisfazer e corresponder à vontade do Senhor.

– Jônatas era o filho primogênito de Saul (I Cr.9:39) e, quando seu pai se tornou rei de Israel, naturalmente passou ele a ser o herdeiro presuntivo do trono, ou seja, o príncipe herdeiro e esta condição se verifica logo no aparecimento desta personagem no texto sagrado, vez que ele exsurge nas Escrituras como sendo o responsável por um dos dois batalhões de soldado do recém-formado exército israelita, cuidando da segurança do país em Gibeá de Benjamim (I Sm.13:2).

– T.H. Jones, em o Novo Dicionário da Bíblia, entende que o fato de Jônatas ter sido posto por seu pai como comandante de um dos batalhões do exército de Israel é um indício de que ele já se destacara na primeira ação militar de Saul, quando foi acudir os moradores de Jabes-Gileade contra os amonitas (I Sm.11:1-15), pois não teria sido o mero parentesco que faria com que Saul pusesse Jônatas em posição tão excelente.

O próprio pranto de Davi pela morte de Saul e Jônatas dá a entender que sempre estiveram juntos na batalha desde o início até o fim (II Sm.2:23)

OBS: “…Jônatas aparece pela primeira fez no registro bíblico como vitorioso em Geba, o baluarte filisteu, embora a estratégia de seu pai, naquela ocasião, sugira por analogia que ele talvez tivesse feito parte no alívio de Jabes de Gileade (I Sm.11:11;13:2).…” (JONES, T.H. Jônatas. In: DOUGLAS, J.D.(org.). O Novo Dicionário da Bíblia, p.858).

– Encarregado de comandar parte do exército de Israel em Gibeá de Benjamim, Jônatas já demonstrou todo o seu senso de dever e dedicação.

Não se contentou em apenas ficar aguardando um eventual ataque dos filisteus, mas sabendo que a presença dos filisteus em Geba, uma aldeia, pertencente a tribo de Benjamim, cerca de 11 km ao norte de Jerusalém e 5 km de Gibeá e havia sido dada em sorte aos levitas (Js.21:17; I Cr.6:60), era algo que não era razoável nem se encontrava na vontade de Deus, resolveu atacar aquela guarnição e, assim, entregar aquela terra a quem deveria possuí-la, que eram os levitas, aqueles que tinham como missão servir ao Senhor.

– Jônatas não se conformou em ver uma aldeia destinada à tribo sacerdotal na mão dos inimigos. Não podia compactuar com a lassidão e leniência com que os israelitas, desde o tempo dos juízes, tratava com a presença de estrangeiros na terra de Canaã e, por isso, tratou de expulsar aqueles inimigos que se encontravam em uma verdadeira fortaleza praticamente no centro da terra que Deus tinha dado a Israel.

– Será que temos permitido que o inimigo também tenha fortalezas em áreas centrais de nossas vidas? Será que temos sido permissivos com a intromissão da carne em nossas atitudes e comportamentos?

Não é este o propósito de Deus para nossas vidas, que quer nos dediquemos exclusivamente a Ele, que abandonemos o nosso vão modo de viver recebido por tradição de nossos pais (I Pe.1:18), que crucifiquemos a carne, nossa natureza pecaminosa, com nossas paixões e concupiscências na cruz de Cristo (Gl.5:24).

– Jônatas ficou incomodado com tamanho e consentido atrevimento dos inimigos de Israel e, por isso, conseguiu grande vitória sobre os filisteus em Geba. Este gesto trouxe, porém, uma consequência: Israel se fez abominável aos filisteus (I Sm.13:4).

– Quando tomamos a atitude de fazer a vontade do Senhor, de retirar as fortalezas do inimigo (que pode ser o diabo, a carne ou o mundo) de nossas vidas, “tornamo-nos abomináveis” para o mundo, como o diz conhecido jargão popular, “cutucamos a onça com vara curta”.

Todavia, é esta mesma a posição que devemos ter, pois quem se constituir em amigo do mundo, será inimigo de Deus (Tg.4:4) e o propósito do ministério de Jesus foi o de desfazer as obras do diabo (I Jo.3:8), das quais a primeira foi, precisamente, gerar uma inimizade entre nós e Deus (Gn.3:15).

– Temos de estar conscientes de que, se servimos ao Senhor, não podemos jamais agradar aos homens (Gl.1:10), seremos sempre odiados pelo mundo (Jo.15:19-21) e estaremos em constante batalha contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:11,12), razão pela qual teremos sempre de tomar a armadura de Deus, armas poderosas em Deus, para que possamos destruir tais fortalezas (II Co.10:4).

– O gesto de Jônatas fez com que os filisteus se ajuntassem para pelejar contra Israel e, como era um exército numeroso, muito dos israelitas, vendo-se em aperto, fugiram para as cavernas, espinhais, penhascos, fortificações e covas (I Sm.13:6), tendo, então, Saul convocado o povo em Gilgal para se preparar para a batalha.

– Notamos, aqui, que o povo estava acovardado, temeroso de enfrentar os filisteus.

Estavam acostumados com o domínio dos filisteus sobre a região, o que perdurava desde a morte de Sansão, pois mesmo a vitória militar alcançada sob a intercessão de Samuel não fora suficiente para afastar o predomínio filisteu sobre a região. Jônatas discrepava deste sentimento de covardia.

Não aceitava o predomínio do inimigo sobre o povo de Deus e, por isso, havia tomado aquela iniciativa de lutar e vencer os filisteus que se mantinham em pleno centro de Israel numa fortaleza militar.

Jônatas demonstra aqui, desde já, lealdade, a principal lealdade, que é a lealdade com Deus.

– Mas o que é lealdade? Diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa que lealdade é “respeito aos princípios e regras que norteiam a honra e a probidade, fidelidade aos compromissos assumidos e caráter do que é inspirado por este respeito ou fidelidade”.

– Como dissemos, Jônatas sabia que a região ocupada pelos filisteus era destinada aos levitas, pela repartição da terra.

Que Deus havia prometido dá-la aos israelitas e, portanto, não se podia permitir que estrangeiros a ocupassem, e com forças militares, em total inobservância à vontade de Deus. Jônatas atacou para que se respeitasse o que havia sido estabelecido, o que havia sido determinado por Deus.

Os israelitas deveriam expulsar todos os estrangeiros que ocupassem terras que o Senhor havia dado a Israel, ainda mais uma região destinada à tribo sacerdotal. Jônatas procurou cumprir o que Deus havia determinado e que Israel havia prometido obedecer.

– Reunidos em Gilgal, Saul passou a esperar Samuel, para que este oferecesse sacrifícios a Deus antes que a batalha começasse, até porque, na guerra anterior contra os filisteus, em que os israelitas tinham vencido os filisteus, décadas antes, assim se tinha feito e Deus tinha dado grande vitória a Israel (I Sm.7:2-14).

– O povo, porém, estava acovardado, não compartilhava da mesma ousadia de Jônatas, e, pouco a pouco, começou a abandonar o arraial e, depois de sete dias, Saul, que também passou a ter medo diante do abandono das pessoas, acabou por ele próprio oferecer sacrifícios, o que fez com que fosse rejeitado por Deus (I Sm.13:8-15).

– Saul contava, então, com apenas seiscentos homens, mas, entre eles, estava seu filho Jônatas (I Sm.13:16), que se mantinha confiante em Deus, não havia abandonado o campo de batalha, nem tido qualquer receio por causa do abandono do povo.

Era um pequeno exército, que não tinha sequer espadas ou lanças (só Jônatas e Saul tinham espadas e lanças), já que somente os filisteus tinham o domínio da metalurgia e não tinham permitido que qualquer israelita encomendasse armas de metal (I Sm.13:19-21).

– Que situação desesperadora! Poucos soldados, poucas armas e um rei que acaba de ser rejeitado por Deus! Nada disso, porém, abalou a confiança de Jônatas.

Acampados que estamos de um lado e os filisteus de outro, sem que ninguém tomasse a iniciativa, Jônatas disse ao seu moço para que fossem até a guarnição dos filisteus, sem porém fala-lo a seu pai.

Jônatas percebera que Saul estava sem iniciativa, receoso, além do que fora da direção de Deus, mas que era preciso prosseguir na obra que se iniciara em Geba, era necessário pôr fim ao domínio dos filisteus sobre a Terra.

– A lealdade é cumprir com os compromissos assumidos e, portanto, Jônatas, como um dos comandantes do exército, na verdade, o subcomandante em chefe, tinha o dever de extirpar os povos que Deus não queria que dominassem sobre a terra que Ele havia dado a Israel.

Eram poucos os soldados? Eram. Eram poucas as armas? Eram, mas o mais importante é que se deve fazer a vontade de Deus!

– Jônatas, com seu moço, para passar à guarnição dos filisteus, tinha de passar por uma região onde havia duas penhas agudas, uma chamada Bozez (“altura”) e, outra, Sené.(“rocha pontiaguda”) (I Sm.14:4,5).

Não é fácil passar por rochas pontiagudas. Eram elas altas e íngrimes, ou seja, de difícil escalada e que se tornam facilmente visíveis pelo inimigo, ou seja, exigem grande esforço para se passar por elas e ainda tornam os seus caminhantes vulneráveis ao inimigo.

Mas nada disso dissuadiu Jônatas de ir ao encontro dos filisteus para contra eles lutar e fazer a vontade de Deus.

– Temos esta mesma dosposição? Embora saibamos as dificuldades que enfrentaremos se quisermos agradar a Deus, estamos dispostos a ir ao encontro delas ou, como Saul estava a fazer, ficamos inertes, parados, sem nada fazer, “esperando a voz do Senhor” (pois Saul estava a esperar uma orientação divina por meio de Urim e Tumim, já que sacerdote Aías estava com ele com o éfode – I Sm.14:4).

– É evidente que sempre devemos agir na orientação e na direção de Deus, mas isto não significa, em absoluto, que devamos ser inertes. Jônatas bem sabia o que Deus queria: que Israel cumprisse com o seu dever de extirpar os estrangeiros da terra dada aos israelitas pelo Senhor.

Não se tinha o que fazer senão partir para a batalha, mas Saul, que fora tão apressado em sacrificar, agora, máxime depois de ter recebido a mensagem de que fora rejeitado, nada fazia, permitindo, assim, a continuidade do predomínio do inimigo na terra de Israel.

Quando sabemos o que Deus quer, quando Ele já o disse em Sua Palavra, não devemos ficar apenas clamando, mas ir ao encontro do problema, ir à luta confiando no Senhor. Porventura, não foi isto que Deus disse a Moisés quando estava o povo encurralado às margens do Mar Vermelho (Ex.14:15)?

– Jônatas passou pelas duas penhas agudas e, então, convidou o moço a irem até a guarnição dos filisteus, a quem chamou de “incircuncisos”, para que lutassem contra eles, pois, e aqui vemos a grande confiança de Jônatas: “para com o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos” (I Sm.14:6).

– Jônatas, então, pediu um sinal para Deus e o compartilhou com o seu pajem de armas.

Se, quando forem vistos pelos filisteus, eles mandassem que Jônatas e seu pajem ficassem onde estivessem, eles não atacariam, mas se os “chamassem para a briga”, então eles iriam ao encontro deles, certos de que o Senhor lhes entregaria em suas mãos (I Sm.14:8-10).

Vemos, portanto, que a atitude de Jônatas não era um atrevimento sem sentido, motivado por um sentimento egoísta, mas algo que era motivado pelo zelo à Palavra de Deus, pelo temor ao Senhor.

– Os filisteus, ao virem Jônatas, mandaram que eles viessem ao seu encontro e Jônatas, então, encheu-se ainda mais de confiança, vendo a confirmação do Senhor naquele propósito, e atacou os filisteus, matando vinte homens.

Diante desta matança, houve tremor no arraial, porque Deus trouxe um tremor de terra naquele lugar, o que causou pânico entre os filisteus, que começaram a fugir (I Sm.14:11-15).

– Como dizia o saudoso pastor Severino Pedro da Silva, “quando nós começamos, Deus começa conosco”.

Jônatas começou a lutar contra os filisteus, matou vinte homens, juntamente com seu pajem de armas, e, então, Deus “terminou o serviço”, mandando um terremoto que fez com que os filisteus se acovardassem e começassem a fugir. Quem é fiel ao Senhor, Deus é fiel com ele.

Quem é infiel, Deus permanece fiel, pois não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13).

– O alvoroço foi tão intenso que despertou os israelitas que estavam do lado contrário da região. Saul logo percebeu que havia luta e mandou que se verificasse quem havia saído do acampamento e, então, se descobriu que nem Jônatas nem seu pajem de armas ali estavam.

Saul, então, quis consultar a Deus pelo Urim e Tumim, mas o alvoroço era tanto que Saul e todo o povo resolveram ir para a guarnição dos filisteus e a confusão era tamanha que mesmo israelitas que estavam acompanhando os filisteus nesta batalha acabaram por “mudar de lado” e passaram a lutar contra os filisteus e os israelitas passaram a ter vantagem na batalha (I Sm.14:18-23).

– A atitude de Jônatas retirou a inércia e paralisia do exército de Israel. A ousadia e coragem dele, motivada por sua fidelidade a Deus, fez com que Israel não só finalmente fosse para o campo de batalha, como também proporcionou que israelitas que haviam se aliado aos filisteus deixassem esta atitude e reconhecessem o reinado de Saul e resolvessem defender o seu povo.

– De igual modo, quando nos dispomos a confiar a Deus e a fazer a Sua vontade, trazemos ânimo aos nossos irmãos, estimulamo-los a servir ao Senhor e, inclusive, motivamos muitos a deixarem o pecado e a retornarem para a casa do Pai.

– Saul, entretanto, como estava fora da direção divina, não perdeu a oportunidade de “atrapalhar”.

Não queria ir para a batalha; mesmo diante do alvoroço, ainda quis consultar a Deus antes de entrar na luta e acabou “atropelado” pelas circunstâncias, mas não deixou de dar uma ordem absurda para o seu exército:

seria maldito todo aquele que comesse pão até à tarde. O povo foi para a batalha sem qualquer alimentação e não poderia se alimentar (I Sm.14:24). O resultado é que estavam exaustos depois da luta, fisicamente esgotados.

– Entretanto, no meio da batalha, o povo chegou a um bosque e havia mel na superfície do campo e Jônatas, ao chegar a este local, estendeu a ponta da vara que tinha na mão e a molhou no favo de mel e, tornando a mão à boca, seus olhos se aclararam (I Sm.14:27), sendo, então, repreendido por um do povo que, então, disse a Jônatas o que Saul havia dito e, portanto, estava Jônatas debaixo da maldição de seu pai, embora não tivesse ele ouvido e não soubera da ordem, de modo que não poderia ser acusado de deliberada desobediência (I Sm.14:25-28).

– Jônatas, ao saber desta ordem, não teve “papas na língua”. Considerou a ordem absurda, pois, caso o povo tivesse se alimentado, teriam podido ter uma vitória esmagadora sobre os filisteus, o que não ocorrera precisamente por causa do esgotamento físico.

Foi uma vitória desnecessariamente sofrida, em que o povo desfaleceu em extremo (I Sm.14:30,31).

– O povo, faminto, ao tomar o despojo dos filisteus, acabou por não se controlar e começaram a comer carne com sangue, o que representava grave violação da lei de Moisés (Lv.17:14) (e não apenas da lei de Moisés mas da própria ordem dada por Deus a todos os povos através de Noé – Gn.9:4).

 Diante disso, Saul mandou que o povo mandou revolver uma grande pedra para que ali o povo degolasse os animais, para que o sangue pudesse ser derramado e o povo não pecasse (I Sm.14:33,34).

– Naquele lugar, Saul edificou um altar ao Senhor, tendo sido o primeiro altar que edificou, apesar de ter mais de dois anos de reinado sobre Israel (I Sm.14:35). Foi mais um efeito benéfico da iniciativa tomada por Jônatas. Quando somos fiéis ao Senhor, nós fazemos até Saul edificar altar! Pensemos nisto!

– Vemos como Jônatas tinha razão ao criticar a ordem de seu pai. A determinação de Saul trouxera três consequências:

fraqueza do povo, menor destruição do inimigo e o pecado em comer sangue. Que consequência serviu para o bem do povo? Nenhuma delas!

É sempre isto que ocorre quando nos pautamos por “doutrinas de homens”, por “preceitos de homens”, que não têm base bíblica e que são meros caprichos de alguém, máxime de quem está fora da direção divina, como era o caso de Saul.

– Quando criamos “regras” ou “acréscimos” à Palavra de Deus, o resultado é somente este: o povo acaba transgredindo a Palavra de Deus.

Jônatas era um homem fiel a Deus, um homem leal a Deus e, por conseguinte, jamais pactuava com aquilo que está “além do que está excrito”. Temos agido assim?

– Saul, então, resolveu “correr atrás do prejuízo”. Sabedor de que não tinha causado grande estrago aos filisteus, resolveu retomar a batalha para fazê-lo, mas, então, resolveu antes consultar a Deus, mas o Senhor não respondeu por meio de Urim e Tumim.

Saul, então, interpretou este silêncio divino como sendo a indicação de que havia pecado no meio do povo e, diante disto, resolveu lançar sorte para saber quem era o transgressor.

Pôs-se de um lado, com seu filho Jônatas, e o povo, de outro. Deus, então, mostrou que o povo era inocente. Então foram lançadas sortes entre Saule Jônatas, e a sorte caiu sobre Jônatas.

– Jônatas, então, confessou ter comido o mel mesmo diante da proibição de Saul e o rei, então, resolveu matar Jônatas, o que o povo não permitiu que se fizesse (I Sm.14:36-45).

– Quando lemos esta passagem, é comum ficarmos intrigados. Por que Deus não respondeu e por que Jônatas foi incriminado? Porque Deus é a verdade (Jr.10:10) e nada que é oculto deixará de ser revelado (Mt.10:26; Mc.4:22; Lc.12:2).

– Jônatas não pecou, pois o fez inocentemente, pois o texto sagrado é bem claro em mostrar que ele não sabia da ordem de seu pai (I Sm.14:27), mas um do povo o havia visto provar o mel (I Sm.14:28) e, portanto, esta suposta desobediência seria conhecida do povo, gerando escândalo.

Por isso, Deus quis revelar este fato para todo o povo, até para comprovar que a ordem era absurda e, por causa dela, o povo não tinha tido grande vitória.

Ademais, Deus queria também mostrar que havia se perdido a oportunidade de se destruir os filisteus, precisamente por causa da falta de direção de Saul.

– Saul era o rei de Israel, havia sido posto pelo próprio Deus naquela função e, portanto, deveria ser obedecido.

Esta vitória, aliás, consolidou na sua mão o reino, embora tivesse ele sido rejeitado por Deus. Sua autoridade teria de ser mostrada. Eis os motivos por que Deus não respondeu, porque Jônatas foi descoberto.

– Mas, ao mesmo tempo, o próprio Deus também impediu que Saul matasse Jônatas, pois Jônatas não havia pecado, de modo que se criou uma circunstância em que, embora a autoridade real tenha sido reafirmada, o absurdo da ordem ficou desmascarado, de sorte que o povo não só não permitiu que Jônatas fosse morto como também reconheceu o heroísmo de Jônatas, o que o consolidou como príncipe herdeiro do trono.

Façamos a vontade do Senhor e o Senhor Se encarrega de retirar todos os obstáculos e dificuldades em nossas vidas!

– Demonstrando toda a sua lassidão e leniência, Saul, então, desiste de atacar os filisteus e, com isso, consolida o pequeno estrago feito a eles, desmobilizando o exército.

Logo em seguida, ao ser mandado lutar contra os amalequitas, Saul novamente desobedece a Deus e tem confirmada sua rejeição do reino, o que certamente foi sabido e acompanhado por Jônatas (I Sm.15).

II – JÔNATAS, O AMIGO DE DAVI

– Os anos se passaram. Jônatas, príncipe herdeiro do trono de Israel, mas que, como servo do Senhor, sabia da rejeição de seu pai e que Deus haveria de preparar outro rei para a nação.

– Em novo embate com os filisteus, despontara um jovem como o novo “campeão” dos israelitas, Davi, que derrotara o gigante Golias, o “campeão dos filisteus “ e que, então, a partir daí passou a fazer parte da corte do rei Saul, sendo posto como um dos comandantes do exército israelita.

– Com a vitória sobre o gigante, porém, a situação mudava de figura. Davi se destacara e se tornara um verdadeiro “campeão” dos israelitas, de tal maneira que o rei Saul não mais deixou que retornasse para a casa de seu pai, requisitando seus serviços em caráter permanente (I Sm.18:2).

– Assim que Davi foi levado ao rei Saul e determinado que se mantivesse servindo na corte, a Bíblia dá-nos conhecimento de que surgiu uma amizade à primeira vista entre Davi e Jônatas.

– Jônatas, era o herdeiro da coroa de Israel. Como se não bastasse isso, tratava-se de um valoroso guerreiro, que tinha sido o principal responsável pela vitória de Israel sobre os filisteus na primeira guerra que havia ocorrido entre estes povos sob o reinado de Saul, vitória este que fez com que Jônatas se tornasse extremamente popular entre os soldados, a ponto de ter o exército se voltado contra o próprio Saul quando este, por um voto atrevido, condenou seu próprio filho à morte (I Sm.14).

– Assim como ocorrera com o mancebo que havia anunciado a Saul a respeito de Davi quando o rei estava a procurar alguém que o pudesse livrar do mau espírito que o afligia (I Sm.16:18), Jônatas, também, que a Bíblia indica ter sido um homem fiel e temente a Deus, viu em Davi, logo no primeiro instante, um jovem que era valente, animoso, homem de guerra, sisudo de palavras, de gentil presença e com quem estava o Senhor (I Sm.16:18).

– Vemos, mais uma vez, agora através das impressões de Jônatas, que a visão espiritual é reservada única e exclusivamente para aqueles que temem a Deus, para os Seus servos.

Assim como o jovem mancebo, Jônatas pôde ver em Davi muito mais que um “campeão”, mas alguém com quem Deus era, alguém escolhido pelo Senhor. Seus olhos eram espirituais, sua mente era espiritual.

– Da mesma maneira, nós, que servimos a Deus e que temos o Espírito Santo, temos de ter a mente de Cristo (I Co.2:16), tudo discernindo espiritualmente (I Co.2:13-15).

Nos dias difíceis em que vivemos, onde até mesmo os escolhidos correm risco de ser enganados (Mt.24:24), torna-se indispensável que tenhamos sempre a iluminação provinda da luz do evangelho de Cristo (II Co.4:4).

A falta de comunhão com Deus, a prática do pecado e a carnalidade têm cegado a muitos, entretanto, que não conseguem ter a visão que Jônatas teve em relação a Davi.

– O resultado desta visão espiritual que Jônatas teve em relação a Davi fez surgir entre eles um profundo amor (I Sm.18:1). Este amor entre Davi e Jônatas é uma das mais eloquentes demonstrações bíblicas da sublimidade do amor de Deus sobre todo e qualquer outro sentimento humano a que denominamos de “amor”.

Jônatas tinha todos os motivos para odiar Davi e querer seu mal: o surgimento daquele jovem, que se tornara o “campeão” da segunda guerra entre filisteus e israelitas, que seria extremamente popular não só entre os soldados, mas também entre as mulheres, que viria a se tornar o genro do rei, punha na corte um concorrente direto para o trono de Israel.

Se tinha alguém que deveria se levantar contra Davi na corte seria Jônatas, diretamente ameaçado de se tornar, como tudo indicava, o segundo rei de Israel.

– No entanto, ao longo da história, veremos em Jônatas alguém que sempre esteve disposto a defender Davi, inclusive sabendo que Deus o havia escolhido para suceder seu pai no trono.

Por incrível que possa parecer, será Saul quem perseguirá Davi e não, Jônatas, que, inclusive, se voltará contra Saul na sua defesa de Davi, algo que o rei jamais compreenderá (cf. I Sm.20:30,31).

– Jônatas tinha um amor completamente desinteressado com Davi, e foi correspondido neste sentimento, pois Davi, já no trono, beneficiará Mefibosete, precisamente por ser este filho de Jônatas (II Sm.9:1).

É este um verdadeiro tipo do amor de Deus que todos os filhos de Deus devem ter, visto que foi ele derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5), o amor que levou Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo até a cruz do Calvário, para morrer em nosso lugar, quando nós ainda éramos pecadores (Rm.5:8), o amor que é tão esplendidamente descrito por Paulo em I Co.13.

– Este sentimento que fez o Senhor nascer entre Jônatas e Davi era mais uma providência divina para que se pudesse prosseguir o plano divino não só para Davi mas para a humanidade, uma vez que a escolha de Davi para reinar sobre Israel não estava apenas relacionada com a aliança estabelecida no Sinai entre Deus e Israel, mas com a própria salvação na pessoa de Jesus Cristo, que quis o Senhor fosse descendente de Davi, que tinha de dar início a uma dinastia para que o Cristo fosse, também, Rei de Israel e não somente Rei de Israel mas Rei dos reis e Senhor dos senhores.

– Por isso, constitui-se em uma inominável blasfêmia o que o adversário de nossas almas tem suscitado, inclusive no meio de alguns sedizentes “evangélicos”, qual seja, a de identificar no amor entre Davi e Jônatas um exemplo bíblico de homossexualidade masculina.

Para espanto nosso, não são poucos os que, na atualidade, procuram ensinar que a homossexualidade não é abominável aos olhos do Senhor, buscando em Davi e Jônatas o exemplo de um amor homossexual que teria sido agradável aos olhos de Deus.

– Esta blasfêmia, defendida por estes homens perversos e malignos, muitos travestidos de pregadores e ensinadores da Palavra de Deus (o que não é de se admirar, já que o próprio Satanás se traveste de anjo de luz – II Co.11:13-15), não tem qualquer consistência. Senão vejamos.

– Por primeiro, tanto Jônatas quanto Davi são apresentados, na Bíblia Sagrada, como pessoas heterossexuais. Jônatas foi casado e teve um filho, Mefibosete (II Sm.4:4; I Cr.8:34), enquanto que Davi teve muitas mulheres e concubinas (II Sm.3:2-5; 5:13).

Diante disto, não podemos considerar Davi e Jônatas como homossexuais masculinos. Quando muito, teriam sido “bissexuais”, ou seja, pessoas que, ao longo de sua vida, teriam tido relações sexuais tanto com homens como mulheres.

– Esta circunstância, aliás, destrói outro argumento destes blasfemos, qual seja, o de que a constatação de que Davi e Jônatas eram homossexuais masculinos adviria do que está em II Sm.1:26, quando Davi chora a morte de Jônatas e diz que o amor que tinha para com o filho de Saul era maior que “o amor das mulheres”.

Ora, nesta expressão de Davi se encontra a prova cabal de que o amor existente entre Jônatas e Davi não era um amor carnal, um amor sexual, mas, sim, um amor de outra natureza, um amor muito mais sublime e que independia do contato físico, tanto que superou até mesmo a morte de Jônatas no gesto de Davi para beneficiar Mefibosete.

Um amor bem diferente do que Amnom, filho de Davi, mostrou por sua meia-irmã Tamar, este, sim, um amor carnal, e, por ser carnal, passageiro e que não resistiu ao primeiro relacionamento íntimo (II Sm.13:1-22).

– Dirá alguém, diante destas evidências bíblicas, que Jônatas pode ter se voltado para as mulheres depois de sua separação de Davi, tanto que Mefibosete tinha apenas cinco anos quando Jônatas morreu (como se soubéssemos o tempo entre a unção de Davi e a morte de Saul…) o mesmo ocorrendo com Davi.

Se admitirmos este argumento, por primeiro, estaremos negando a tese do movimento homossexual de que a homossexualidade é uma “orientação sexual”, uma imposição da natureza.

Se Davi e Jônatas eram homossexuais, jamais poderiam ter se sentido atraídos por mulheres depois de sua separação, a menos que admitamos que a homossexualidade (como de fato o é) é um ato de vontade, um ato deliberado de rebeldia contra Deus.

Neste sentido, Davi e Jônatas teriam se convertido e deixado o pecado anteriormente cometido, o que, naturalmente, jamais seria aceito pelos defensores do chamado “movimento gay”.

– Por segundo, Davi se casou com Mical, filha de Saul, sua primeira mulher, antes da sua separação de Jônatas, quando ainda vivia na corte real. Só este fato desmorona também esta tese dos blasfemos.

Nem se diga, ainda, que Davi se casou com Mical apenas por interesse e sem qualquer atração sexual, como um arranjo político, até porque há notícia de uma afeição entre ambos (I Sm.18:20).

Além de irmos além do que está escrito para admitirmos tais circunstâncias, estaríamos desconsiderando que Davi se interessou em casar-se com uma mulher já quando lhe chegaram aos ouvidos a proposta de Saul para quem resolvesse lutar contra o gigante e que, já na corte real, esperava o cumprimento desta promessa, prova de que, jovem como era, tinha interesse sim em casar-se para satisfazer seu nítido instinto heterossexual (cf. I Sm.17:26,30; 18:17,20).

– Como se não bastasse, temos que o amor homossexual, como é carnal, depende tanto de contato físico, para que haja sua satisfação, quanto que seja possessivo, como, aliás, vemos, claramente, nas cada vez mais abundantes ocorrências de pedofilia e de abusos sexuais diariamente veiculadas pela mídia.

Ora, o amor entre Davi e Jônatas era completamente desinteressado, a ponto de Jônatas, mesmo sabendo claramente que Davi sucederia seu pai como rei de Israel (lugar que seria, por direito, de Jônatas, o primogênito de Saul), tudo fez para defendê-lo e impedir que Saul lhe tirasse a vida, como também se desenvolveu e se mostrou mesmo após a separação física entre ambos e, até mesmo, depois da morte de Jônatas.

– O texto sagrado é bem claro ao mostrar que o amor existente entre Davi e Jônatas era de ordem espiritual, pois Jônatas ama a Davi como a sua própria alma (I Sm.18:1,3), ou seja, não se trata de qualquer atração física ou de qualquer inclinação carnal, mas de um amor surgido da sua visão espiritual, que viu em Davi um homem segundo o coração de Deus, um escolhido de Deus.

– Por fim, não podemos deixar de observar que a Bíblia diz que Davi tinha o Espírito Santo e que Deus era com ele.

Ora, jamais o Senhor estaria com alguém que cometesse o pecado do homossexualismo, condenado explicitamente por Deus na lei de Moisés (Lv.18:22).

Jamais Israel admitiria uma conduta desta natureza da parte do príncipe herdeiro de Israel e jamais teria poupado a vida dele junto ao rei que já o condenara à morte se apresentasse uma conduta tão abominável.

– Não há como, pois, sequer mencionar-se tamanha distorção das Escrituras, que só se explica pelo fato de que a Bíblia tem de se cumprir e estar predito na Palavra de Deus não só que, nos últimos dias, surgiriam doutrinas de demônios (I Tm.4:1), como também que a homossexualidade, máxima rebeldia contra o Senhor, seria uma das mais funestas características dos últimos dias (Rm.1:27,28; II Ts.2:3,4).

– Jônatas, diante desta visão espiritual que teve, fez uma aliança com Davi, o que será explicitado mais à frente na narrativa, como também se despojou de sua capa que trazia sobre si e a deu a Davi, como também seus vestidos, sua espada, seu arco e seu cinto (I Sm.18:3).

– Neste gesto, Jônatas demonstrou, claramente, que viu em Davi o ungido de Deus.

Como era o herdeiro do trono, ao perceber que Deus era com Davi, de imediato, discerniu que Davi havia sido escolhido pelo Senhor para suceder Saul. Como Jônatas poderia perceber isto? Por dois motivos: por primeiro, porque, como

2º Trim. de 2017: O caráter do cristão: moldado pela Palavra de Deus e provado como ouro herdeiro do trono, certamente tinha conhecimento daquilo que Samuel havia dito a Saul, ou seja, que o rei havia sido rejeitado e que o Senhor já havia escolhido alguém para sucedê-lo (I Sm.13:14; 15:28); por segundo, por ser um homem temente a Deus, certamente sentiu da parte do Senhor que ali estava quem havia sido “o escolhido” de Deus mencionado por Samuel.

– Dirá alguém que Jônatas não tinha o Espírito Santo, pois, naqueles dias, o Espírito era dado sob medida e, desta maneira, não tinha ele como ter o discernimento espiritual por não ser habitação do Espírito, como têm os salvos na atual dispensação.

No entanto, não podemos deixar de observar que, embora estivéssemos no tempo da lei, havia homens e mulheres fiéis ao Senhor e o Senhor jamais os deixaria à mercê de Seus planos e propósitos.

Deus falava por meio dos profetas e aqueles que criam n’Ele certamente criam no que diziam os profetas. Jônatas teve conhecimento do que Samuel disse a Saul e, portanto, ao ver Davi vitorioso como o foi, em nome do Senhor, assim como aquele mancebo, percebeu nitidamente que Deus era com Davi.

– Esta percepção de Jônatas e do mancebo mostra-nos, claramente, que, em todos os tempos, Deus sempre tem um remanescente que Lhe é fiel. Sempre há aqueles que não dobram seus joelhos a Baal e que, a despeito de posição, classe social, riqueza, erudição, estão atentos ao Senhor e à Sua Palavra.

Tanto o mancebo anônimo que deu notícia da existência de Davi a Saul como o príncipe herdeiro Jônatas tiveram condições de ver em Davi a ação divina em prol de Seu povo.

Que sejamos como eles e, numa época em que este discernimento é muito mais amplo que no tempo da lei, possamos desfrutar da imensa bênção de possuirmos a mente de Cristo e sermos homens espirituais (I Co.2:13-16).

– É triste ver, entretanto, que muitos, nos dias em que vivemos, estão como Saul e Abner, incapazes de saber quem era Davi e que se contentaram em saber quem Davi era tão somente do ponto-de-vista biológico e social, como o filho de Jessé (I Sm.17:55-58).

Quantas vezes, somos levados a desconsiderar e a desconhecer vasos abençoados que o Senhor tem levantado no meio do Seu povo, por vermos neles só um jovem pastor e pajem de armas, não um ungido do Senhor.

– O gesto de Jônatas mostra que o amor de Deus é sempre acompanhado tanto de desapego às coisas materiais quanto de atitudes e não apenas de palavras. Jônatas não foi elogiar Davi, como seria natural.

Como príncipe herdeiro, se assim procedesse, já seria uma grande honra àquele jovem pastor.

– Entretanto, Jônatas não se contentou em apenas falar, mas, como era possuído do verdadeiro amor, do amor provindo da parte do Senhor, não ficou apenas em palavras, mas amou por obra e em verdade e, na frente de todo o povo (ou, pelo menos, de forma a que todo povo tomasse conhecimento, pois não o fez secretamente), despojou-se de tudo aquilo que o distinguia diante de todo o povo. Abriu mão de sua capa, de seus vestidos, até de sua espada (arma com a qual tivera retumbante vitória sobre os filisteus e que somente ele e Saul possuíam em Israel — I Sm.13:22; 14:13,14), de seu arco e de seu cinto, dando-os a Davi.

– Assim como Jônatas, um dia fomos ao encontro de Jesus e entendemos, pelos olhos da fé, que Ele é o Cristo, o Ungido de Deus. Será que fizemos como Jônatas? Será que nós O amamos como a nossa própria alma?

Se o fizemos, certamente não tivemos dificuldade em tudo entregar ao Senhor: a capa, os vestidos, a espada, o arco e o cinto. Será que podemos cantar, do fundo da nossa alma e com sinceridade, o hino 295 do Cantor Cristão (hinário batista) “Tudo entregarei”, de autoria de Judson W. Van de Venter (1855-1939), traduzido por George Benjamim Nind (1860-1932) cuja primeira estrofe e refrão dizem:

“Tudo, ó Cristo, a Ti entrego, Tudo sim, por Ti darei! Resoluto, mas submisso, Sempre a Ti eu seguirei! Tudo entregarei! Tudo entregarei! Sim, por Ti, Jesus bendito, Tudo deixarei!”.

III – JÔNATAS, UM HOMEM LEAL ATÉ A MORTE

– Não demorou muito para que Saul passasse a perseguir Davi, pois viu nele aquele que havia sido profetizado por Samuel.

Ao ver que as mulheres, após uma vitória sobre os filisteus, passaram a cantar “Saul feriu os seus milhares porém Davi os seus dez milhares” (I Sm.18:7), Saul passou a temer e a invejar Davi, querendo, então, tirar-lhe a vida para que pudesse impedir que ele ocupasse o trono (I Sm.18:8,9).

– Nesta perseguição, Jônatas sempre tomou o partido de Davi, apesar de ser, humanamente falando, a pessoa que mais se beneficiaria com eventual vitória de Saul, visto que, como disse o próprio Saul a ele: “Porque todos os dias que o filho de Jessé viver sobre a terra nem tu serás firme nem o teu reino…” (I Sm.20:31).

No entanto, Jônatas era leal a Deus e quem é leal a Deus, faz somente o que Deus quer e Jônatas tinha plena ciência de que Deus escolhera Davi para reinar em lugar de Saul.

– Jônatas renuncia a si mesmo em prol de Davi e isto é uma clara demonstração de que era temente ao Senhor e um exemplo que devemos seguir. Enquanto não renunciarmos a nós mesmos, jamais poderemos nos dizer discípulos de Cristo (Lc.14:33).

– Em meio a seus projetos para tirar a vida de Davi, Saul resolveu dar uma ordem a todos os comandantes militares, inclusive a Jônatas, para que matassem Davi.

– Dada a ordem por Saul, certamente em segredo, para os seus principais assessores, para que matassem Davi, Jônatas não teve como deixar de contá-lo a Davi.

Dirá alguém que Jônatas estava a trair o seu próprio pai, que este não seria um comportamento de um servo de Deus, mas é aqui que vemos os limites da obediência a Deus e da obediência aos homens.

O servo de Deus jamais poderia cumprir uma ordem para matar alguém, pois isto contrariava a lei (Ex.20:13; Dt.5:17). Além do mais, Jônatas já tinha compreendido que Deus era com Davi e, portanto, a unção estava tanto sobre Saul quanto sobre Davi, sendo certo que o servo do Senhor recusa afronta ao seu próximo, bem como despreza aquele que o Senhor reprova e honra aqueles que temem ao Senhor (Sl.15:3,4). Aqui não se tinha traição a Saul, mas, pelo contrário, obediência a Deus.

– Jônatas anunciou a Davi a ordem de Saul para matá-lo e sugeriu a ele que se escondesse, enquanto ele, Jônatas, intercederia a seu favor diante do rei.

Assim foi feito, tendo Jônatas defendido Davi diante de Saul, argumentando com o rei que Davi só lhe havia feito benefícios até então, não só ao rei, mas a todo o povo, não havendo causa alguma para que fosse morto.

Saul, compreendendo que Jônatas não se sensibilizara com a “ameaça do trono”, voltou atrás e jurou que Davi não mais seria morto. Davi, então, retornou, “tudo ficando como dantes no quartel de Abrantes” (I Sm.19:4-7).

– Mas Saul não foi demovido da ideia de matar Davi e acabou por querer ele mesmo dar cabo da vida do seu genro, tendo mandado busca-lo em sua casa. Davi fugiu e, então, Jônatas entrou novamente em ação.

– Davi, então, deixa Naiote e vai ao encontro de Jônatas, o seu fiel amigo, a fim de tentar uma forma de aplacar a ira de Saul.

Não sabemos o que Samuel disse a Davi, mas, muito provavelmente, o velho profeta deve ter confirmado a Davi que ele sucederia a Saul no reino e que deveria perseverar em servir ao Senhor que, a Seu tempo, o poria no trono de Israel.

Davi, então, entra em contato com Jônatas, querendo saber qual era a sua culpa, visto que nada havia feito para merecer a morte (I Sm.20:1).

– Jônatas, a princípio, não acreditou que Saul quisesse matar Davi, mas, ante as evidências apresentadas por este, aceitou mediar o conflito aberto entre Davi e Saul, inclusive verificando se, realmente, Saul queria matar Davi.

Assim, combinaram que Jônatas sentiria o coração do rei durante as solenidades da lua nova, ou seja, as cerimônias estabelecidas pela lei pelo início de cada mês (Nm.28:11-15), o chamado “Rosh Chodesh”.

OBS: “…A tradição emprestava ao Rosh Chodesh, assim como ao Sabath, uma grande dose de santidade.

Na era do Primeiro Templo, ele era celebrado com sacrifícios e orações especiais e com a interrupção de todo trabalho. Sabemos que esse feriado era observado já na época do rei Saul, pois que ele é mencionado em I Samuel 20:18-24.…” (AUSUBEL, Nathan. Rosh Chodesh. In: A JUDAICA, v.6, p.731).

– Saul, porém, tinha já arquitetado matar Davi durante esta solenidade, visto que não cria que fosse faltar a uma cerimônia religiosa, sabedor que era da fidelidade de Davi à lei. No entanto, como Davi dissera a Jônatas, este pôde descobrir o que havia no interior do coração do rei.

Após ter ficado calado no primeiro dia, achando que Davi não estava ritualmente puro, no segundo dia, ao perguntar por Davi e ao receber a resposta de Jônatas de que o havia deixado ir a Belém para participar de uma cerimônia familiar (o que era mentira), Saul se enfureceu e exigiu de Jônatas uma posição a favor da morte de Davi, até para assegurar a sucessão do trono para si.

Ao tentar defender Davi, Jônatas quase foi morto por Saul, que lhe atirou a lança, tendo, então, Jônatas compreendido que não havia mais qualquer chance de Davi retornar à corte (I Sm.20:25-34).

– No dia seguinte, como combinado, Jônatas encontrou-se com Davi e ambos choraram muito, pois ali se separaram, embora a amizade entre ambos tenha perdurado para além da vida de Jônatas.

Ambos prometeram ajudar-se mutuamente e cuidar da descendência de cada qual. Aqui, mais uma vez, o texto bíblico mostra que o amor entre Jônatas e Davi era um amor sublime, um amor provindo da parte de Deus, um “amor de alma” (I Sm.20:17), que nada tem a ver com a abominável blasfêmia propaladas nestes nossos dias que procura ver neste episódio um relacionamento homossexual masculino.

– Jônatas mostra como um servo de Deus deve procurar obter a reconciliação entre os inimigos, deve ser um pacificador, alguém que procura aplacar a ira alheia e que luta pela manutenção da vida.

Quantos que cristãos se dizem ser fazem exatamente o contrário? Não nos esqueçamos que Deus abomina o que semeia contendas entre irmãos (Pv.6:16-19).

– Jônatas e Davi se separaram, não havendo sequer registro de que tenham se visto a partir daí. Jônatas jamais acompanhou seu pai Saul em todas as incursões e investidas que o rei fez atrás de Davi para matá-lo.

Como diz T.H. Jones: “…É por causa da sua lealdade a Davi, entretanto, que ele [Jônatas, observação nossa] é principalmente relembrado, tratava-se de uma lealdade dificultada porque entrava em conflito com seu dever filial e sua afeição a Saul, seu pai e soberano…” (op.cit., p.858).

– Jônatas aqui nos ensina que, em nossa lealdade a Deus e ao Filho de Davi, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, devemos deixar pai e mãe e tudo o mais. Nós temos de, em primeiro lugar, obedecer a Deus, amá-l’O sobre todas as coisas (Mt.10:37; Lc.14:26).

Jônatas bem nos explica que “deixar pai e mãe” não é abandonar o cuidado dos pais, nem deixar de se relacionar com eles, mas jamais compactuar com qualquer atitude deles que contrarie a vontade do Senhor.

Jônatas morreu no campo de batalha ao lado de seu pai, mas jamais permitiu se envolver em toda a cruel e insana perseguição de Saul contra Davi, como também não acompanhou Saul na consulta à feiticeira, mostrando sua fidelidade ao Senhor.

– Somente temos menção de Jônatas na batalha final de Saul, quando ele morre juntamente com o seu pai nas montanhas de Gilboa (I Sm.31:1,2), a nos indicar que, apesar de tudo o que seu pai fez, apesar de ter sido rejeitado pelo Senhor como rei de Israel, Jônatas jamais deixou de exercer as funções de príncipe herdeiro e de comandante do exército de Israel.

– Esta constância até a morte é outra característica de quem é leal, de quem é fiel. Jônatas, como disse Davi ao prantear a sua morte num cântico, que, como todo cântico do Antigo Testamento, é, na verdade, uma profecia, uma mensagem vinda diretamente do Espírito Santo:

“Saul e Jônatas, tão amados e queridos na sua vida, também na sua morte se não separaram; eram mais ligeiros do que as águias, mais fortes que os leões(…) Jônatas nos teus altos foi ferido.

Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas, quão amabilíssimo me eras! Mais maravilhoso me era o teu amor do que o amor das mulheres. Como caíram os valentes e pereceram as armas de guerra!” (II Sm.2:23,25b-27).

– Jônatas, di-lo o Espírito de Deus, era um valente, ou seja, um homem de valor; um homem leal, que morreu ao lado de seu pai a quem prometera servir, desde que no Senhor; um irmão de Davi, a quem ama com amor desinteressado e incondicional, o verdadeiro amor de Deus; alguém que estava mais do que com armas carnais, com armas espirituais que o fizeram triunfar sobre o maligno. Podemos dizer que somos Jônatas em nosso tempo? Pensemos nisto!

– A lealdade de Jônatas não sucumbiu nos montes de Gilboa. Pelo contrário, em virtude de sua lealdade, Davi fez questão de cuidar da sua descendência e, por isso, seu único filho, Mefibosete, apesar de ter ficado coxo dos pés quando da fuga decorrente desta derrota em que Jônatas foi morto (II Sm.4:4), recebeu toda a herança da casa de Saul e passou a compartilhar da mesa real (II Sm.9), tendo sido o único poupado pelo rei quando da necessária vingança aos gibeonitas determinada por Deus (II Sm.21:1-7).

– A lealdade de Jônatas, portanto, permitiu que a sua linhagem permanecesse existindo em Israel, quiçá aguardando a remissão de Israel.

Assim também o Senhor faz com os justos, permite que sua descendência perdure e que alcancem a plenitude do reino de Deus (Hb.2:13; Ap.2:10). Vale a pena sermos leais, amados irmãos!

Ev. Caramuru Afonso Francisco

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