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Juvenis – Lição 12- Novos Céus e Nova Terra

O fim da história não é o fim da existência humana. Após o julgamento final, o homem continuará a existir e viverá num novo céu e numa nova terra, em perfeita comunhão com Deus, na santa cidade, a “nova Jerusalém que desce do céu”.

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INTRODUÇÃO

– Ao ser criado por Deus, o homem foi posto para ser o dominador da criação sobre a Terra, mas não se submetia ao tempo, ainda que fosse mortal. Deus estabeleceu que o homem viveria indefinidamente enquanto Lhe fosse obediente.

Seu mandamento foi de que, se comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal, morreria (Gn.2:17), ou seja, enquanto não o fizesse, viveria independentemente do tempo. O ambiente desta eternidade condicional era o Éden, onde Deus havia criado um jardim para nele pôr o homem (Gn.2:8).

– Entretanto, o homem desobedeceu a Deus, passou a sofrer o impacto do tempo e a morte física (Gn.3:19), tendo perdido a oportunidade de viver num lugar onde desfrutasse continuadamente da presença e da companhia do Senhor (Gn.3:22,23).

Entretanto, é importante observar, ao expulsar o homem do Éden, Deus mostrou toda a Sua misericórdia e graça, pois, dali por diante, empreendeu um plano a fim de fazer o homem retornar ao convívio eterno com Ele, numa eternidade irreversível.

O alvo de Deus para o homem é, precisamente, criar este novo ambiente de comunhão, este novo “tabernáculo de Deus com os homens”(cfr. Ap.21:3), que é, precisamente, a Jerusalém celestial, a nova Jerusalém, de que falaremos nesta lição.

I – A REALIDADE DA NOVA JERUSALÉM

– Depois do juízo final, haverá novos céus e nova terra, como nos revela Ap.21:1. Nestes novos céus e nova terra, habitará a justiça (II Pe.3:13).

– Ao lermos o relato da queda do primeiro casal, logo verificamos que Deus deixou bem claro ao homem que providenciaria um meio para reversão daquele triste estado de coisas.

Disse que da semente da mulher nasceria um que esmagaria a cabeça da serpente e, portanto, aniquilaria o pecado, que é o que faz divisão entre Deus e os homens (Is.59:2).

Desta forma, a restauração da comunhão entre Deus e o homem é o propósito de todo o plano divino em relação à humanidade.

A história é apenas uma consequência e um efeito deste plano, mas o fim de Deus está além da história e o homem deve ter também esta perspectiva, se é que crê em Deus e tem, por conseguinte, a mente de Cristo (I Co.2:16).

– Não é por outro motivo que a Bíblia exorta os crentes a darem prioridade em suas vidas ao reino de Deus e à sua justiça (Mt.6:33), a pensar nas “coisas de cima” (Cl.3:1), porquanto, quando nos submetemos ao senhorio de Cristo,

sabemos que o objetivo do homem não se encontra no atual panorama histórico, nem tampouco na melhoria das condições de vida sobre a face da Terra, mas, sim, em algo que está além desta nossa dimensão temporal, num novo céu e nova terra onde habita a justiça e onde desfrutaremos de uma perfeita comunhão com o Senhor (II Pe.3:13).

– Por isso, temos de ter muito cuidado com teologias, doutrinas e ensinamentos que tentam desviar a atenção do crente para esta finalidade que é a finalidade prescrita pelas Escrituras para todo homem: a eternidade.

Verdade é que estamos no mundo (Jo.17:11) e que, neste mundo, temos tarefas a cumprir, em especial, a de sermos instrumentos para que os homens glorifiquem a Deus através de nossas obras (Mt.5:16),

mas é essencial que jamais nos esquecemos que somos crentes e servimos a Deus para morarmos com ele na eternidade, que estamos aqui apenas de passagem, como peregrinos, de forma que não podemos nos prender às coisas desta vida.

Nunca podemos deixar de ter em mira e como alvo o céu. Somos crentes porque queremos ir para o céu!

– Diversas passagens nas Escrituras dão-nos conta desta realidade, de que existe uma dimensão celeste que nos aguarda, que não vivemos aqui senão de forma passageira e temporária e que não podemos nos prender às coisas desta vida.

O primeiro exemplo que temos nas Escrituras é o de Enoque.

A Bíblia diz que este homem andou com Deus (Gn.5:22) e sua intimidade com o Senhor foi tão estreita que Deus para Si o tomou(Gn.5:24), ou seja,

Enoque foi trasladado para o céu(Hb.11:5), para fora desta terra, numa demonstração clara de que este é o destino preconizado pelo Senhor para aqueles que O buscam e que querem ter comunhão com Ele.

É, aliás, interessante observar que, antes de ser trasladado, Enoque deu testemunho de que os homens santos de Deus terão este mesmo destino, pois profetizou que via o Senhor vindo acompanhado de santos (Jd.14).

– Em seguida, vemos outro exemplo bíblico de que a visão do homem de Deus está além deste mundo em Abraão.

Chamado por Deus para sair da sua terra para ir a uma terra que ainda lhe seria mostrada, Abraão peregrinou durante toda a sua vida em Canaã, habitando em tendas e cabanas, mas, como nos dá conta o escritor aos Hebreus, não tinha em mira, em vista a posse da terra, mas, sim,

“…a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus.” (Hb.11:10) e, segundo o texto bíblico, não só ele, mas também Isaque e Jacó.

Assim entendemos porque os patriarcas, em momento algum, são vistos decepcionados ou questionados com relação ao não apossamento da terra de Canaã durante as suas vidas, apesar da promessa divina, pois não tinham a posse da Terra Prometida como objetivo, mas, sim, a posse de uma comunhão eterna com o Senhor, além da história humana, além da atual Terra.

– Esta mesma esperança, aliás, vemos no patriarca Jó, que, embora fosse dotado de uma posição privilegiada sobre a face da Terra, tinha como esperança viver para sempre com o seu Redentor (Jó 19:25-27).

Por isso, a perda de todo o seu patrimônio e até de seus filhos não o impulsionou a deixar a Deus, mesmo incitado por isso pela sua própria mulher (Jó 3:9,10).

– Diversa não foi a conduta de Moisés. Embora sua missão fosse libertar o povo de Israel do Egito e levá-lo a Canaã, onde, por desobediência, não foi autorizado a entrar, o grande líder de Israel não tinha em vista a posse física da terra, mas, como também nos ensina o escritor aos hebreus, o vitupério de Cristo (Hb.11:26), isto é, a humilhação.

Ora, para alguém trocar os tesouros do Egito, a situação privilegiada de que gozava, para sofrer com o povo de Israel, então uma nação escravizada e sem ter sequer um território próprio, só mesmo tendo uma esperança que ia além da história, além das coisas desta vida.

“…Somente a eternidade poderá nos revelar o que a fé pode fazer para honrar a Deus, como a decisão de Moisés em escolher ser maltratado ao lado de um grupo de escravos, sofrendo debaixo do jugo egípcio.…” (SILVA, Severino Pedro da. Epístola aos hebreus: as coisas novas e grandes que Deus preparou para vocês, p.228-9).

– Na própria lei, Deus instituiu uma festividade, a festa dos tabernáculos ou festa das cabanas, que, além de ser uma gratidão a Deus pela colheita, era uma cerimônia em que se reforçava o caráter passageiro de nossa vida sobre a face da Terra.

Os israelitas eram conclamados a habitar em cabanas, para lembrar que haviam sido peregrinos no deserto e que haviam sido escravos no Egito (Lv.23:43), ou seja,

que nunca se esquecessem da fragilidade da vida humana e de que tudo aqui é transitório e que devemos ter como alvo a eternidade, tanto assim que, na regulamentação da festividade, os rabinos determinaram que

“…as folhagens do teto [de cada cabana, observação nossa] deveriam ser colocadas de tal modo que se pudessem ver as estrelas do céu através dos orifícios…” (AUSUBEL, Nathan. Sucot. In: A Judaica, v.6, p.839).

OBS: É sintomático observar que o sétimo dia da festa dos tabernáculos, denominado de Hosha-na Rabah (isto é, a Grande Hosana) tinha como finalidade proclamar triunfalmente a promessa da vinda do Messias e do estabelecimento do Reino justo de Deus na terra.

Vemos, portanto, que a festa dos tabernáculos sempre teve em vista o meditar nas coisas celestiais, no além da história.

– Esta também era a esperança do rei Davi. Como nos dá conta o apóstolo Pedro, Davi alegrou-se no seu coração ao receber a revelação a respeito da ressurreição de Cristo (cfr. At.2:25-27), numa demonstração de que possuía o mesmo objetivo que tinham os patriarcas, ou seja, a pátria celestial.

“…Os patriarcas buscavam uma pátria melhor do que aquela onde tinham nascido e viviam: eles buscavam a pátria celestial.

O objetivo dessa argumentação é mostrar àqueles cristãos e aos demais santos de todos os tempos que a verdadeira pátria dos salvos não é aquela onde eles nasceram ou viveram, mas a pátria celestial.…” (SILVA, Severino Pedro da.

Epístola aos hebreus, as coisas novas e grandes que Deus preparou para vocês, p.220).

– O próprio Jesus ensinou que este deve ser o alvo e o objetivo de todo servo Seu.

Quando confrontado com a euforia dos discípulos que haviam ido, de dois em dois, visitar aldeias, vilas e cidades da Judéia, pela manifestação do poder de Deus,

nosso Senhor e Salvador disse que o que deveria ser motivo de regozijo para o crente era tão somente o fato de que o nome deles estava escrito nos céus (Lc.10:20), ou seja, porque eles tinham o visto, o passaporte para entrar na nova Jerusalém (cfr.Ap.21:27).

– Paulo, por fim, é outro exemplo de que como deve ser o crente em Cristo.

O grande apóstolo afirma que sua aspiração, o seu desejo outro não é senão “…a cidade [que] está nos céus, onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Fp.2:20).

Este era o propósito do apóstolo e deve ser o mesmo sentimento que deve reinar no coração de que todo aquele que se dispõe a servir a Jesus.

– O cristão sincero e verdadeiro é um peregrino nesta terra. Não pode jamais deixar de ter a visão de que está apenas de passagem neste mundo e que o fim de sua vida é morar para sempre com o Senhor.

Devemos olhar para Jesus, o autor e consumador de nossa fé (Hb.12:2), e isto significa que devemos ter a nossa mente no céu, onde o Senhor está (Jo.3:13; Ef.6:9).

O crente deve se comportar como Abraão, andando como peregrino neste mundo e sabendo que aqui não é o seu descanso (Mq.2:10).

– O cristão não deve se envolver pelas coisas desta vida nem mesmo pelos argumentos daqueles que tentam nos fazer descrer da promessa de uma pátria celestial, atitude que, como nos ensina Pedro, é própria daqueles que não têm comunhão com o Senhor (II Pe.3:3,4).

Devemos manter o nosso alvo e, com alegria, dedicação e santidade, prosseguirmos confiantes na promessa de um novo céu e de uma nova terra onde habita a justiça (II Pe.3:13,14).

II – A GRANDE E BENDITA ESPERANÇA DO POVO DE DEUS

– Desde a queda, portanto, Deus tem mostrado ao homem que Seu objetivo é levar-nos para um lugar onde poderemos sempre habitar com Ele.

Esta era a esperança dos patriarcas, dos profetas e dos servos de Deus já no Antigo Testamento e foi reafirmado com a vinda do Senhor Jesus.

– O objetivo de Deus para com o Seu povo é o de criar um ambiente sem pecado, um lugar onde não haja qualquer contaminação do mal ou do que seja resultado do mal e este lugar outro não é senão a nova Jerusalém (Ap.21:27).

– A vida humana é uma caminhada, é um andar, uma carreira que é proposta a cada ser humano (Hb.12:1). Deus, ao criar o homem, propôs para ele uma caminhada, uma carreira e Sua proposta tem, como finalidade, levar-nos até a Jerusalém celestial.

Somos convidados a seguir um caminho, pois, como nos ensinou Jesus, há dois caminhos: o caminho estreito, que nos conduz à salvação, que é o próprio Jesus (Jo.14:6),

cujo fim é a nova Jerusalém, a moradia entre Deus e os homens (Ap.21:3) e o caminho largo, que conduz à perdição, que leva ao lago de fogo e enxofre, que foi feito para o diabo e seus anjos (Mt.25:41; Ap.20:15).

– Nesta caminhada para a nova Jerusalém, devemos, em primeiro lugar, como nos ensina Enoque, andar com Deus. Ora, andar com Deus exige que n’Ele creiamos, pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).

Por isso, Paulo, na iminência de terminar a sua carreira, afirmou que havia guardado a fé (II Tm.4:7).

Se cremos em Deus, cremos em Seu Filho Jesus Cristo ( I Jo.2:23,24) e, se n’Ele cremos e O amamos, fazemos aquilo que Ele manda (I Jo.2:3-6).

Andar com Deus significa andar como Jesus andou, viver como Jesus viveu, fazer o que Jesus fez, pois, “como andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” (Am.3:3).

Só quem anda com Deus, será tomado pelo Senhor e levado até a nova Jerusalém.

– Mas temos, também, o exemplo de Abraão. Ele nos mostra que, para que possamos chegar à cidade celestial, não podemos nos prender às coisas desta vida bem como estar no mundo sem ser do mundo.

Abraão viveu como peregrino na terra de Canaã, nunca fincou raízes na terra, embora ela lhe tivesse sido prometida, sempre habitando em cabanas, ou seja, tendo residência móvel, sem ter qualquer interesse em se fixar.

O único pedaço de terra que lhe pertenceu, na Palestina, foi seu sepulcro, situado em Macpela, e, mesmo assim, comprado junto aos moradores do local, os heteus (Gn.23:1-20).

– Do mesmo modo, quem quiser habitar a nova Jerusalém, não pode se prender às coisas desta vida.

Deve, sim, viver no mundo onde está, relacionar-se com as demais pessoas, exercer as atividades próprias de um ser humano que vive entre seus semelhantes, mantendo sempre a diferença e a sua característica de peregrino, de pessoa que não pertence aos valores desta vida nem se prende por eles (tanto que a palavra “hebreu”, segundo alguns, significa “peregrino”, “nômade” e assim era Abraão conhecidos pelos moradores da Palestina).

Abraão não era um sectário, que se isolava dos moradores da terra, mas, sem se isolar deles, também a eles não se misturava de modo algum.

Sua esperança era a cidade celestial e, para tanto, submetia-se a Deus e se comportava de um modo agradável ao Senhor.

Não cobiçava as riquezas do local (como vemos ao recusar a oferta do rei de Sodoma), como mantinha uma relação de absoluta lealdade e respeito às instituições então vigentes. Este é o porte de quem tem como alvo a cidade celeste, a nova Jerusalém.

– Davi, por sua vez, mostra-nos que, quem quer ir para a nova Jerusalém, deve se esforçar, ser homem e guardar a observância do Senhor (I Rs.2:2,3).

A verdadeira prosperidade, ensina-nos Davi, é observar os mandamentos do Senhor, é esforçar-se para cumprir a vontade de Deus, para cumprir a Sua Palavra.

O caminho para a nova Jerusalém é um caminho estreito, porque já foi previamente fixado, é o caminho da verdade, que não comporta variações nem modificações.

É o caminho da Palavra de Deus que, embora seja doce nos lábios, é amargo no ventre (Ez.3:2,3; Ap.10:9,10), ou seja, é de difícil cumprimento, difícil mas não impossível, pois para Deus não há coisa impossível (Lc.1:37). É o caminho da renúncia, do negar-se a si mesmo (Mt.16:24).

– Esta mesma ideia de Davi é dada por Paulo.

Davi fala que deve haver esforço, ou seja, o caminho para a nova Jerusalém exige o emprego de força, isto é, não é algo automático que se desenvolva naturalmente, mas, bem ao contrário, é uma luta que se faz contra a natureza pecaminosa que ainda habita em nós e que nos tenta, a todo instante, impedir de continuar caminhando para o céu.

É a luta entre a carne e o espírito, tão bem discutida por Paulo na epístola aos Romanos, mas na qual podemos ser mais do que vencedores por Aquele que nos amou.

Paulo disse que combateu o bom combate, ou seja, que teve de lutar, mas que havia alcançado a vitória, porque a vitória nos está garantida (I Co.15:57), pois, como já vimos, a caminhada não pode começar sem fé e a vitória que vence o mundo é, precisamente, a nossa fé (I Jo.5:4).

– A vida só tem sentido na face da Terra se tivermos uma esperança. Como ficou cabalmente provado após o fracasso dos regimes comunistas no final do século XX, não basta a garantia de condições mínimas de subsistência material para fazer com que o homem seja feliz ou se sinta realizado.

Nos países comunistas em que se atingiu até uma certa condição mínima de satisfação das necessidades materiais, viu-se que isto não trouxe felicidade nem satisfação aos homens.

Pelo contrário, mantinha-se um sentimento de vazio, de frustração, de fracasso, a ponto até de haver um desestímulo crescente e contínuo até mesmo na produção, o que foi um dos principais fatores para a própria derrocada deste sistema político.

O homem, tendo sido criado para a dimensão eterna, não se satisfaz jamais com um bem-estar terreno.

O homem não foi feito para viver aqui ou centrar-se nesta vida como seu objetivo último e, por isso, mesmo em meio às classes mais abastadas, vemos o sentimento de vazio espiritual, de angústia e de perda de sentido da vida.

– O homem espera algo mais e, por isso, vai de um lado para o outro buscando saciar esta sede, que é a sede de Deus, a sede do seu objetivo último, que é o de voltar a conviver com Deus num ambiente em que isto seja possível, o que sabemos, pelas Escrituras Sagradas, que é um ambiente onde não há pecado.

Para tanto, devemos, como vimos, ter fé em Deus, crer em Jesus, não se prender às coisas desta vida, esforçarmo-nos para fazer a vontade de Deus, que é cumprir a Sua Palavra.

– Jesus deixou isto bem claro ao dizer aos discípulos que estes, que já criam em Deus, deveriam crer n’Ele, pois só assim iriam morar para sempre com Ele.

Ao formular a promessa de habitarmos na nova Jerusalém, na casa do Pai, Jesus garantiu que iria preparar lugar para os fiéis (Jo.14:1,2).

Era o que faltava para termos a certeza de que a esperança de uma vida com Deus iria se tornar realidade um dia.

Se apenas fizéssemos o que já temos dito, isto ainda seria insuficiente, pois o homem, por si só, não consegue remover a parede de separação que existe entre Deus e os homens.

A cidade celeste existiria, mas não estaria preparada para nos receber. Entretanto, Jesus fez esta preparação, ao oferecer-Se como cordeiro mudo, para tirar o pecado do mundo.

Morreu por nós na cruz do Calvário, pagou o preço do pecado e, assim, tornou a cidade santa preparada para nos receber, a tantos quantos crerem no Seu nome, a tantos quantos aceitarem o Seu sacrifício e se arrependerem dos seus pecados.

– A garantia que temos de que esta esperança se concretizará foi a ressurreição de Jesus.

Jesus morreu, mas, ao ressuscitar, mostrou ao mundo que o sacrifício na cruz havia sido aceito e, portanto, vivo, pode cumprir a Sua promessa de voltar e levar a Sua Igreja para adentrar na nova Jerusalém.

Após vencer a morte e o inferno, Jesus Se apresentou ao Pai, atravessou os umbrais da porta da cidade santa, solitário, assumindo a condição de Rei da Glória (Sl.24:7,8), mas, como é fiel ( I Co.1:9), voltará outra vez a nossa dimensão e, então,

levará conSigo aqueles que nEle creram e adentrará, novamente, na nova Jerusalém, mas, desta feita, acompanhado da Sua Esposa (Sl.24:9,10), este formidável exército com bandeiras (Ct.6:4), entregando os remidos ao Pai, que é o dono da casa, e dizendo:”eis-me aqui a mim e aos filhos que Deus Me deu”. (Hb.2:13b).

OBS: “…No dia do arrebatamento, todos os filhos de Deus comparecerão perante o Pai, conduzidos por Jesus, o Seu primogênito – e ali Ele dirá aos anjos e também ao próprio Pai:’ eis-Me aqui a Mim e aos filhos que Deus Me deu’.

Todos estes filhos eram filhos de Deus, mas, durante a dispensação da graça, foram transferidos por direito e por resgate para nosso Senhor Jesus Cristo.

Ele mesmo afirmou que isso fora feito por um ato da própria vontade de Deus, dizendo: ‘ manifestarei o Teu nome aos homens que do mundo Me deste. Eram Teus, e Tu mos deste, e guardaram a Tua palavra.” (Jo.17.6).…” (SILVA, Severino Pedro da. Epístola aos hebreus: as coisas novas e grandes que Deus preparou para vocês, p.44-5).

– Diante desta garantia, não temos porque não esperar morar na Jerusalém celestial, bem como deixar de desejar ali morar.

Nosso ânimo deve ser o mesmo demonstrado pelo saudoso irmão Samuel Nyström na letra do hino 332 da Harpa Cristã: “ Para o céu eu vou alegre caminhando, breve findará a peregrinação, se cansado neste mundo vou andando, eu repousarei na divinal mansão.

Aleluia! Pro céu vou caminhando, nada me desanimará! Para o céu eu me vou aproximando, sempre meu Jesus me guiará! “(4ª estrofe e coro).

III – O QUE É A NOVA JERUSALÉM

– A Nova Jerusalém é a cidade celestial que foi feita para ser o local onde Deus habitará juntamente com os homens que Lhe foram fiéis e aceitaram a Sua oferta de submissão e obediência à Sua Palavra. A Nova Jerusalém é o local que substituirá o Éden como morada de Deus com os homens.

Ela é explicitamente mencionada e revelada no capítulo 21 do livro do Apocalipse, mas, antes da visão do apóstolo João, já havia referências a ela nas Escrituras.

O próprio Jesus já havia mencionado existir um lugar que seria por Ele preparado para que os Seus servos nele habitassem para sempre com o Senhor (Jo.14:3).

– A Nova Jerusalém apresenta-se, portanto, como o ambiente, o lugar onde Deus morará com os homens.

É a restauração da convivência completa e perfeita entre Deus e os homens que havia antes que o pecado causasse o atual estado de divisão que existe entre Deus e a humanidade.

Somente na Nova Jerusalém, esta comunhão será restabelecida por completo, ocorrendo aquilo que é dito pelo apóstolo, de vermos Deus como ele é (I Jo.3:2).

– As Escrituras afirmam que nenhum homem nascido e criado nesta nossa dimensão viu a Deus (Jo.1:18; I Jo.4:12), porque, no atual estado em que nos encontramos, isto não é mesmo possível, pois é preciso que sejamos glorificados para que possamos contemplar o Senhor na Sua plenitude, ou seja, de forma completa,

dentro das nossas imperfeições, naturalmente, pois sabemos que Deus é infinito e jamais poderemos contemplá-lo em Sua imensidão.

– O objetivo de Deus é fazer com que tenhamos, novamente, um lugar onde possamos habitar com Deus e a Nova Jerusalém é este local.

Mas, se bem analisarmos, veremos que o Senhor é tão maravilhoso que, ao invés de tão somente substituir o Éden, proporcionou um lugar melhor do que o Éden.

Senão vejamos:

a) no Éden, havia, a princípio, apenas minerais (Ez.28:13) e só depois Deus plantou nele um jardim para ali colocar o homem (Gn.2:8,9). Na nova Jerusalém, entretanto, há, desde o início, tanto minerais quanto vegetais (Ap.21:12-21, 22:1,2).

b) no Éden, Deus comparecia na viração do dia para falar com o homem (Gn.3:8), enquanto que, na nova Jerusalém, a convivência será eterna, contínua, pois lá não haverá, inclusive, noite (Ap.21:3). Deus visitava o Éden, mas morará na nova Jerusalém.

c) no Éden, o homem, apesar de viver em delícias, tinha dores, pois Deus disse que à mulher que multiplicaria grandemente as suas dores (Gn.3:16) e só pode haver multiplicação de algo que já exista.

Na nova Jerusalém, porém, é dito que Deus removerá todo pranto, toda dor, toda lágrima, todo clamor (Ap.21:4).

d) no Éden, havia uma restrição ao homem, que era a de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn.2:16,17). Na nova Jerusalém, porém, não há notícia de qualquer restrição ao homem nem de que esta árvore continue a existir ali, mas se faz menção tão somente da árvore da vida (Ap.22:2).

e) no Éden, o homem era meramente um mordomo, com poder apenas sobre a criação. Na Nova Jerusalém, entretanto, o homem, embora continue sendo servo de Deus, participa do governo divino, não é mais simplesmente servo, mas amigo de Deus (Jo.15:15), tanto que lhe será permitido participar do reino divino (Ap.21:5).

f) no Éden, houve espaço para a maldição divina (Gn.3:14-17), mas, na nova Jerusalém, ninguém ou nada jamais poderão ser amaldiçoados (Ap.22:3).

g) no Éden, o governo e a administração eram humanos, sob supervisão divina (Gn.1:26-28; 2:16), mas, na nova Jerusalém, o governo e a administração serão divinos, com participação humana (Ap.22:3,5).

– Por isso, ao vermos que a Nova Jerusalém é superior ao Éden, temos que concluir que os bem-aventurados que nela puderem entrar (cfr. Ap.22:14) reconhecer-se-ão uns aos outros, serão pessoas conscientes de onde estão, de quem são e porque ali estão.

Muitos se indagam se, no céu, nós iremos ter noção de quem somos, de onde estamos e que o que estaremos a fazer.

Muitos acham que, como a Bíblia afirma que não nos lembraremos mais de nossas dores e tristezas deste mundo, seremos pessoas sem noção do que fomos aqui na Terra e não teremos condição de nos reconhecermos uns aos outros nos céus.

Não entendemos assim, entretanto. Por que Deus salvaria milhões e milhões de homens, para com eles habitar, se estes homens não tivessem sequer a noção de quem são, de quem é Deus e de onde estão ?

Como homens que venceram o pecado, que combateram o bom combate, que foram fiéis até o fim, passariam a eternidade sem a mínima noção de quem são ?

Como poderiam homens glorificados terem menos consciência do que quando viviam ainda numa natureza sujeita ao pecado ?

– Certamente que homens e mulheres remidos, vivos para todo o sempre, não terão motivo algum para se lembrarem ou se amargurarem com sofrimentos, pesares, reminiscências do tempo em que viveram nos antigos céus e terra.

Hoje em dia, num mundo de pecado e de miséria, ninguém se martiriza com lembranças desagradáveis do passado não tão remoto assim e se o fazem, são tidos como portadores de alguma doença mental, geradora de traumas, síndromes ou paranoias.

Então, se no ambiente imperfeito que vivemos, o normal é se esquecer do passado sombrio, por que haveria de ser diferente na dimensão sublime da comunhão plena com o Senhor?

Agora, o fato de não nos lembrarmos, de não ficarmos presos a fatos passados, em absoluto significa que seremos verdadeiros “zumbis” no céu, sem saber sequer quem somos.

Deus, pelo Seu caráter, jamais iria realizar um plano para a salvação do homem que quis conhecer o bem e o mal, para ter adoradores inconscientes e sem noção sequer de quem são.

Como poderá o homem, na eternidade, louvar e bendizer ao Senhor, para todo o sempre, sem sequer saber quem é e que existem outras pessoas ali juntamente com ele? Definitivamente, não é esta ideia concordante com o que as Escrituras afirmam ser o nosso Deus.

– É importante verificarmos que a nova Jerusalém já está vindo para ocupar o seu devido lugar no novo universo que será formado. Jesus afirmou que a nova Jerusalém já existia ao tempo de Seu ministério terreno.

Sua assertiva é bem clara: “na casa do meu Pai, há muitas moradas, se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar”.

A cidade santa já existia e já tinha muitas moradas.

Embora ela existisse, porém, o homem não poderia habitá-la, ou seja, o homem não estava preparado para poder ingressar nesta cidade, precisamente porque tinha suas vestes manchadas pelo pecado.

– Sabemos todos que há grandes restrições para que alguém entre nos Estados Unidos da América.

É preciso que a pessoa obtenha visto do governo norte-americano para li ingressar e são várias as modalidades de visto.

Os Estados Unidos existem, têm milhares de cidades, casas, edifícios, mas não há lugar algum preparado para aquele estrangeiro que não tiver visto para ali entrar.

No dia em que lhe for providenciado um visto, ele ali poderá entrar, ele ali terá lugar, enquanto não, não. Pois é exatamente o que ocorre com a Nova Jerusalém.

Jesus afirmou que a cidade já existia, que tinha muitas moradas, mas o lugar ainda não estava preparado, porque não havia como o ser humano conseguir ali entrar.

Era preciso que alguém morresse e pagasse o preço da desobediência e, assim, retirasse a espada que impedia o acesso do homem à árvore da vida (Gn.3:24).

Esta espada foi retirada por Jesus, quando morreu por nós na cruz do Calvário (Lc.2:35) e, assim, nos abriu um novo e vivo caminho que nos introduz à Jerusalém celestial (Hb.10:19-23).

– O primeiro a ingressar na nova Jerusalém foi o próprio Jesus, como nos relata o Sl.24.

O salmista indaga quem poderia subir ao monte do Senhor, ao lugar santo, e aqui se refere a este lugar onde Deus conviverá com o homem, figurado pelos altares, tendas e templos que foram construídos ao longo da história da humanidade (observemos, aliás, que este salmo é anterior à construção do próprio templo de Salomão).

O salmista afirma que somente poderia ali entrar quem fosse limpo de mãos e puro de coração, que não entregasse a sua alma à vaidade, nem jurasse enganosamente(Sl.24:3,4).

Ora, como diz o próprio salmista, em outro salmo, olhando do céu, o Senhor não viu sequer um justo que pudesse preencher estes requisitos (Sl.14:2,3; 53:1).

Por isso, o próprio Deus, na pessoa do Seu Filho, desceu ao mundo, para poder executar este indispensável trabalho, pois só assim o Filho poderia receber a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação e criar uma geração de homens que buscassem a face do Senhor (Sl.24:6).

Aí, sim, tendo feito o Seu trabalho e satisfeito a justiça divina (Is.53:10-12), ressuscitou e foi o primeiro a entrar na cidade santa (Sl.24:7,8), de onde voltará (Jo.14:3), para lá levar a Sua Igreja (Sl.24:9,10).

– Os segundos a ingressarem na nova Jerusalém serão os arrebatados pelo Senhor no momento imediatamente anterior ao início da Grande Tribulação.

Como afirmam alguns estudiosos das Escrituras, entre os quais os pastores Aldery Nelson Rocha e Ailton Muniz de Carvalho, a nova Jerusalém há muito está descendo do céu.

Engana-se quem pense que a nova Jerusalém descerá do céu depois do juízo final, pois ela tem descido desde que teve seus lugares preparados para os homens.

A partir de então, a nova Jerusalém vem continuadamente vindo em direção à Terra.

Chegará à área das regiões celestiais hoje habitadas pelas hostes espirituais da maldade no instante do arrebatamento da Igreja. Depois, já com a Igreja arrebatada em seu interior, continuará a descer e atingirá a atmosfera terrestre exatos sete anos depois, quando, então, ocorrerá a batalha do Armagedom.

Após esta batalha, receberá, em seu interior, os que completarem a primeira ressurreição (as duas testemunhas, os 144.000 e os mártires da Grande Tribulação).

Em seguida, nos ares de nossa atmosfera, pairará durante todo o Milênio, sendo, segundo estes estudiosos, a sua presença uma das principais responsáveis pelas modificações climáticas e físicas que a natureza terá neste período.

Por fim, ao término do Milênio, ocupará o seu devido lugar, nos novos céus e nova terra, que substituirão os antigos céus e terra. A Nova Jerusalém seria, assim, como uma super e gigantesca estação espacial a caminho da Terra.

– A descrição da Nova Jerusalém é sublime e nos enche de gozo e nos faz pensar, como o poeta sacro, que, se é glorioso pensar nas grandezas dali, que não será desfrutá-los e é por isso que o apóstolo Paulo nos conclama a jamais desanimarmos nem desistirmos, por maiores que sejam as provas e as lutas, pois

“…as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” (Rm.8:18).

No entanto, não devemos nos esquecer que a nova Jerusalém é de outra dimensão, da dimensão celestial e que, portanto, muito de sua descrição é figurativa, é alegórica, não pode ser compreendida literalmente, pois se trata de uma descrição feita por Deus aos homens para que pudéssemos compreender, na limitação da nossa mente, o que nos está reservado, pois é algo que está muito além de nossa parca imaginação (I Co.2:9).

– Em primeiro lugar, devemos observar que a nova Jerusalém tem a glória de Deus (Ap.21:11).

A glória de Deus é uma característica típica dos lugares santos, como vimos na lição 5 deste trimestre, e, por isso, a nova Jerusalém é o lugar santo por excelência e nela não haverá necessidade de templo, pois o seu templo será o próprio Deus.

A nova Jerusalém é a morada de Deus com os homens, um lugar onde Deus Se manifestará na Sua glória. Teremos um privilégio que um dia foi do querubim ungido, qual seja, o de contemplar a glória de Deus para todo o sempre.

– Em segundo lugar, vemos que a cidade tem doze portas, com os nomes das doze tribos de Israel e o muro da cidade, doze fundamentos, com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.

Isto, naturalmente, é uma linguagem figurada para nos mostrar que o fundamento, a razão de ser da convivência eterna com Deus é a salvação na pessoa bendita de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

A salvação vem dos judeus e através da fé em Cristo Jesus. Daí porque a cidade ostentar tanto os nomes das tribos de Israel, ou seja, os filhos de Jacó que formaram o povo de onde veio a salvação do mundo, como também os nomes dos doze apóstolos, aqueles que foram os “filhos na fé” de Jesus, que foram escolhidos para iniciar a obra da Igreja, o novo povo de Deus.

Não há outro caminho para a comunhão com Deus senão Jesus, o Messias de Israel, a cabeça da Igreja: “só há um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” (I Tm.2:5).

– Em terceiro lugar, vemos que a cidade é um cubo, com 2.200 km de comprimento(Ap.22:16 NVI), o que dá um volume de 10.648.000.000 km³, ou, em notação científica, 1,0648 .10¹² km³, o que é quase o volume do próprio planeta Terra, que é de 1,081.10¹² km³, ou seja,

a cidade celeste tem praticamente o mesmo volume do planeta, ou seja, há lugar suficiente para quem quiser aceitar a Cristo como Salvador (observando que o planeta não pode ser ocupado pelo homem senão em parte ínfima, já que 2/3 é de água e a crosta terrestre tem uma dimensão extremamente diminuta em relação ao volume do planeta, ou seja, há muito mais lugar na cidade santa do que na própria Terra para o homem).

– Em quarto lugar, a cidade tem um muro, ou seja, é protegida, é organizada. A presença do muro nas cidades antigas era, a um só tempo, demonstração de segurança, de soberania e de organização.

Uma cidade que tinha muros era uma cidade que tinha governo, que tinha alguém zelando pela segurança dos cidadãos, que impunha autoridade e respeito.

Era uma cidade que tinha ordem, que tinha organização. Era uma cidade que protegia os seus cidadãos contra os inimigos. Enquanto no Éden não há notícia de que houvesse muros, tanto que o inimigo ali adentrou, na nova Jerusalém isto não é possível.

Não significa afirmar que haverá um muro literal, físico, até porque, como as Escrituras afirmam, o céu e a terra como conhecemos já não mais existirão a este tempo (Ap.21:1) e a nova Jerusalém é uma cidade que vem do céu, do chamado “Universo absoluto”, não é algo que faça parte da criação relativa que será substituída, que terá desaparecido, como nos descreve o apóstolo Pedro (II Pe.3:10,11) e nos afirma o próprio Jesus (Mt.24:35).

Mas é uma forma clara de o Senhor nos revelar que a nova Jerusalém é um local de ordem, de organização, de proteção divina e onde o Senhor estabelecerá o Seu domínio para todo o sempre.

– Em quinto lugar, a cidade é descrita como contendo pedras preciosas e ouro, ou seja, aquilo que é mais venerado e procurado pelos homens que não têm a perspectiva da eternidade, aqueles que servem às riquezas e, por isso, não podem servir a Deus (Mt.6:24; Lc.16:13), é tão somente adorno, enfeite e material para aspectos secundários e supérfluos na cidade santa.

Os muros são feitos e ornados de pedras preciosas, as ruas, de ouro. Os remidos pisarão em ruas de ouro, ou seja, os valores materiais, aquilo que os homens tanto veneram e respeitam em nossa vida secular, nada representam na vida celestial.

O ouro que é tão procurado, que é alvo de tantas disputas, que faz com que o mundo rode, na conhecida expressão inglesa (“money makes the world go around”, ou seja, o dinheiro faz o mundo rodar), na santa cidade, não passa de chão, de algo que é pisado, nem sequer observado, algo sem qualquer valor. Os valores celestiais, espirituais são muitíssimo superiores aos materiais e é isto que esta alegoria nos revela.

Por isso, enquanto é tempo, desprendamo-nos das coisas materiais, não assumamos nem sejamos coniventes com doutrinas e ensinos ditos cristãos que privilegiam a posse de bens materiais, a prosperidade material, porque, se assim fizermos, não seremos achados dignos de morar na nova Jerusalém, onde nada disso tem valor.

– Em sexto lugar, vemos que, mesmo nesta santa cidade, a Palavra de Deus continuará a ter valor.

Os céus e a terra passaram, mas a Palavra de Deus nunca passará, permanecerá para sempre, mesmo na santa cidade. A cidade não necessitará de sol nem de luz, porque será iluminada pela glória divina e, mais, terá o Cordeiro como sua lâmpada (Ap.21:23).

Ora, o Cordeiro, quando descer desta santa cidade, com a Igreja, para libertar a Israel, mostrará que lâmpada é esta: “…e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus.” (Ap.19:13b), “…lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra e luz para o meu caminho” (Sl.119:105).

Jesus é o Verbo de Deus, a Palavra de Deus e, assim como João viu a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade, ainda que encarnado, nós contemplaremos esta glória eternamente, pois “…a palavra do Senhor permanece para sempre” (I Pe.1:25a) e no céu (Sl.119:89).

Compreendamos, portanto, quão poderosa é a Palavra de Deus, que permanecerá válida e soberana até mesmo na Nova Jerusalém, o que não é de se admirar, já que o Senhor pôs a Sua Palavra acima de Si mesmo (Sl.138:2). Será à luz desta Palavra que as nações seguirão na eternidade com Deus e O adorarão (Ap.21:24).

Pela presença da Palavra é que a cidade se manterá santa e sem coisa alguma que a contamine (Ap.21:27), pois é a Palavra quem santifica (Jo.17:17).

– Em sétimo e último lugar, a cidade apresenta o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procede do trono de Deus e do Cordeiro e, no meio da praça, a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, cujas folhas são para a saúde das nações (Ap.22:1,2).

Esta linguagem, igualmente figurada, fala-nos da eternidade de que desfrutarão os habitantes desta santa cidade.

No Éden, como vimos, o homem possuía uma eternidade condicional, fora feito mortal, mas, enquanto obedecesse ao Senhor, jamais morreria. Aqui, porém, a situação é bem diferente.

O homem tem a vida eterna, esta dádiva que é recebida por todos aqueles que crêem em Jesus Cristo (Jo.3:16; 17:3; I Jo.5:11,12). O texto fala-nos, assim, da vida eterna.

– Fala-nos da vida, porque o rio puro da água da vida que procede do trono de Deus e do Cordeiro é símbolo da comunhão entre Deus e o homem através de Jesus Cristo, resultado da crença em Jesus.

“Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva manarão do seu ventre” (Jo.7:38) e “…aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna (Jo.4:14).

Somente pode morar na Nova Jerusalém quem tem a vida eterna, quem recebeu a água viva oferecida por Jesus e que, recebida em nosso espírito, é distribuída aos homens, levando-nos para a glória celeste.

Quem não tem comunhão com Deus através de Jesus Cristo jamais poderá alcançar a salvação, sendo esta uma das passagens que bem demonstraram que só Jesus é o caminho para o aperfeiçoamento espiritual do homem, para que ele atinja o objetivo de viver eternamente com o seu Criador.

– Mas o texto também nos fala de eternidade, porque nos diz que, no meio da praça, há a árvore da vida que, de mês em mês, dá seu fruto e que seu fruto é restaurador, sarador, é para a saúde das nações.

A vida na nova Jerusalém é eterna, pois Deus Se encarregará de regenerar constantemente o homem, de impedir que o tempo tenha qualquer efeito sobre ele. É o Estado Eterno, ou seja, o tempo não mais existirá.

Os séculos terão se consumado (Mt.28:20), mas o Senhor continuará conosco, providenciando e garantindo a perpetuidade da nossa existência ao Seu lado.

A árvore da vida é o próprio Cristo, o Pão da Vida, “…o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra”(Jo.6:50), “…o pão vivo que desceu do céu [que] se alguém comer (…) viverá para sempre.” (Jo.6:51a).

A comunhão que nos dá a vida eterna, simbolizada na ceia do Senhor, será, então, uma realidade contínua e completa para todo o sempre.

A periodicidade mencionada no texto de Ap.22:2 é figurativa, apenas retrata a constância com que se dará esta comunhão, pois, na nova Jerusalém, não haverá mais tempo, assim como também é figurativa a afirmação concernente à saúde das nações, pois, na nova Jerusalém, não haverá qualquer possibilidade de doença.

O que o texto está a afirmar é que a restauração espiritual operada nos homens que perseveraram até o fim será eternamente sustentada e garantida pelo Senhor, a nossa árvore da vida.

OBS: Por isso, até, muitas denominações, inclusive as Assembleias de Deus, estabeleceram a periodicidade mensal da ceia do Senhor, por entender que ela é uma figura da comunhão eterna da nova Jerusalém, comunhão esta descrita em Ap.22:2.

“…Os simbolismos requerem muitos cuidados nas suas interpretações, eles podem ser revestidos de figuras de linguagem, como podem estar revelando grandes verdades.

No assunto em pauta [o rio e a árvore da vida, observação nossa], preferimos admitir que estejam sendo reveladas grandes verdades, porém de maneira espiritual e não literal.

O próprio Cristo é a árvore da vida que dá vida a todos os homens. Ele é a própria Palavra, o Verbo encarnado. A Palavra de Deus é a fonte de vida para todos que nela crer.(…).

Suas folhas dão saúde, assim como Sua Palavra salva e limpa todos os males espirituais da humanidade.

As folhas de uma árvore revelam sua condição: quando elas estão amarelas, dizem que a árvore poderá estar doente; quando secas, pode estar morta; quando estão verdes e brilhosas, entendemos que está com vida boa.

Assim é o justo que confia no Senhor, quando é nutrido pela Palavra.…” (Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.7, p.195).

– “Conservemos em nossa lembrança as riquezas do lindo país e guardemos conosco a esperança de uma vida melhor, mais feliz.

Pois dali, pois dali, uma voz verdadeira não cansa de oferecer-nos do reino da luz o amor protetor de Jesus.

Se quisermos gozar da ventura que no belo país haverá, é somente pedir de alma pura, que de graça Jesus nos dará.

Pois dali, pois dali, todo cheio de amor, de ternura, deste amor que mostrou-nos na cruz, nos escuta, nos ouve Jesus.” (3ª e 4ª estrofes do hino 202 da Harpa Cristã).

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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