JUVENIS | LIÇÃO Nº 4 – CRONOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO
A finalidade deste comentário é destacar de que forma se organizam, cronologicamente, os livros do Novo Testamento.
Para compreender os objetivos do autor, a intenção de sua mensagem, o estilo, o conteúdo e a estrutura do texto, recomenda-se observar o período no qual foram escritos.
Meu Deus! Quanta informação em apenas um parágrafo! Tenhamos calma, vamos desenvolver estes temas ao longo do trimestre, meu querido professor (a).
Somente assim, poderemos interpretar melhor os textos do Novo Testamento e não ficar partindo de suposições.
As Escrituras Sagradas são portadoras de mensagens inspiradas pelo próprio Deus, mensagens que têm alvos direcionados, uma só interpretação. O nosso papel é descobrir a referência destas mensagens.
Vejamos o que diz Mt 26.54:
“Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça? “ O estudioso precisa atentar para o fato em questão, o qual é o momento da prisão de Cristo, haja vista que o Cordeiro foi dado para entregar a vida para a salvação do mundo.
O texto, em si, refere-se a este fato e a nenhum outro. Cristo falava, de si mesmo, comprovando, nas Escrituras, o que estava escrito sobre Ele especificamente: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras. […]
Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos.” (Lc 24. 27, 45-46)
Os discípulos de Jesus conheciam as Escrituras, foram educados na Sinagoga, que funcionava apenas para meninos, os quais começavam a estudar em torno dos sete anos. As crianças aprendiam a Shemá (Dt 6.4) desde pequenas e, a partir dos três anos, começavam a aprender os princípios da lei judaica nos seus lares. No entanto, apenas os meninos apreendiam as Escrituras de forma sistematizada quando
eram enviados à Sinagoga e tinham que assimilar o que a Lei, os Salmos e os Profetas diziam, além de se comprometer publicamente de ser fiel à Lei de Deus. Portanto, os discípulos eram conhecedores do Antigo Testamento, da Bíblia Hebraica, como todo homem judeu o era.
Quando Jesus, por diversas vezes, em seu ministério, menciona fatos bíblicos ocorridos no Antigo Testamento, está se referindo a situações que eram do conhecimento da maioria.
Todos conheciam a história de Jonas (que é tipificado pelo próprio Cristo como Ele mesmo) que passa três dias e três noites no ventre da baleia:
“Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no coração da terra.” (Mt 12:40) Jonas conquistou uma nação para Deus, enquanto Cristo conquistou o mundo.
Quem não tinha ouvido falar da rainha de Sabá? Muitos ainda se lembravam do justo Abel e de Zacarias que morrera no templo.
No contexto de homens que conheciam as Escrituras Sagradas, mas não temiam verdadeiramente a Deus, viviam em pecado e, verem Jesus, descreram nEle como Messias, o Mestre veio provar não apenas o Seu conhecimento de todas as ocorrências escriturísticas como, também. deixar claro que Ele é antes de todas estas coisas, o Verbo Divino:
Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se. Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão?
Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.
Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou. (João 8:56-59)
Jesus não foi o único a fazer referências ao Antigo Testamento em seus ensinos. Um antigo fariseu, exímio conhecedor das Escrituras Hebraicas, o apóstolo Paulo, recebeu revelações do Espírito Santo sobre o que estava previsto pelo Senhor e que veio se cumprir no novo pacto:
que ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um remanescente dele se converterá; uma destruição está determinada, transbordando em justiça. Porque determinada já a destruição, o Senhor Deus dos Exércitos a executará no meio de toda esta terra. (Is 10:22,23)
Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo (Rm 9:27)
O que diremos, pois, da completa revisão das narrativas do Antigo Testamento contida em Hebreus 11, na galeria dos Heróis da Fé?
Esta é uma prova de que as Escrituras se cumprem, nelas mesmas, e em nossas vidas. Não podemos negar a eficácia da mensagem do Antigo Testamento, porque o Novo Testamento a comprova.
Tudo o que aconteceu, no Antigo Testamento, tinha a finalidade de promover os fatos que ocorreriam no Novo Testamento e explicá-los, tal como está expresso na carta aos Hebreus:
Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou. (Hb 8:5)
Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. (Hb 10:1)
O apóstolo Paulo também destaca que os fatos do AT são figurativos e projetavam sombras para o que haveria de vir: “Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” (Col 2:17)
https://pt.scribd.com/document/406705632/A-SOMBRA-DA-CRUZ-E- O-TABERNACULO-pdf. Acesso em 19 abr.2025.
O Pr. Antônio Gilberto (2022, p.194) destaca que há inconsistência no registro da cronologia bíblica, inclusive na cronologia antiga.
Contava-se as datas, observando-se os eventos importantes no seio do povo. Os escritores não se preocupavam com datas, apenas com fatos. Quando havia datas, elas estavam relacionadas a eventos importantes e particulares.
Um outro recurso para se verificar a cronologia está na avaliação das descobertas arqueológicas. Muitos utilizam as datas das notas de rodapé de Bíblias de Estudo para pesquisa; no entanto, tais datas não pertencem ao texto original. Elas resultam do cálculo do Arcebispo Anglicano Usher (1580-1656), em 1650.
Tal cronologia foi aceita e as datas foram inseridas na Bíblia pela primeira vez em 1701. Esta cronologia sofreu críticas. As divergências surgiram a partiram dos estudos e pesquisas arqueológicas.
O registro de números e datas foi uma necessidade. Entretanto, é preciso constar que a Bíblia não é um tratado de História e Geografia ou outro ramo da Ciência, embora ela faça menções a isto. Sua principal função e revelar Deus ao homem, mostrar-lhe o caminho de salvação para que o homem seja conduzido ao Senhor.
O erro do nosso calendário – o calendário atual
O uso do calendário é tão antigo quanto a própria humanidade. Há calendários diversos. Nestas concisas e incompletas notas, reportamo-nos unicamente ao calendário cristão, do qual, o calendário atual é continuação.
No ano 526 d.C, o imperador romano do Oriente, Justiniano I, decidiu organizar um calendário original, entregando a tarefa ao abade Dionysius Exiguus, o qual, em seus cálculos, cometeu um erro, fixando o ano 1 a.C. com um atraso de 5 anos.
Daí dizer-se que Cristo nasceu 5 anos antes da Era Cristã será um absurdo, se não houver explicação. Nossos livros apenas declaram o fato do erro, mas não o explicam.
As datas atuais estão, portanto, atrasadas 5 anos. Para termos datas mais ou menos exatas é preciso acrescentar-lhes 5 anos.
É também oportuno dizer que o calendário atual chama-se Gregoriano, porque em 1582 o papa Gregório XIII alterou o calendário de Dionysius, subtraindo 10 dias (determinou que o dia 5 de outubro passasse a ser 15 do mesmo mês), a fim de corrigir a diferença advinda do acúmulo de alguns minutos a partir de 46 a.C., quando César reformou o calendário então vigente. (Gilberto, 2022, p.197)
O TEMPO E A CONTAGEM DE TEMPO NO NOVO TESTAMENTO
Vejamos, primeiramente, como os judeus faziam a contagem das horas durante o dia. Depois, observaremos os fatos anuais ocorridos nas Escrituras e fora dela e estão relacionados à História da Igreja no Novo Testamento.
Todo o período no qual houvesse luz era caracterizado como dia. Os judeus e os romanos o dividiam como um período de 12 horas: “Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;” (Jo 11.9)Pri
meira hora do dia – 6 horas da manhã Terceira hora do dia – 9 horas da manhã
Sexta hora do dia- 12 horas de hoje (Jo 4.6; At 10.3,9; Mt 20.6);
Nona hora do dia – 15 horas em ponto eram dedicadas à oração e à adoração (At 3.1; 10.3,9);
Antes da hora terceira os judeus não comiam nem bebiam (At 2.15).N
os tempos do Antigo Testamento, o dia era simplesmente dividido em 3 períodos:
– manhã, das 6 às 10 horas; – calor do dia, das 10 às 14 horas; e-
frescor do dia, das 14 às 18 horas. Gilberto prossegue informando (2022, p. 197-198):
O dia civil era contado de um pôr do sol a outro (Lv 23.32). Entre os romanos, o dia compreendia de uma meia-noite a outra, isto é, o dia civil.
No Evangelho Segundo João, o evangelista emprega o calendário romano; os demais evangelistas usam o judaico. João escreveu de
Éfeso que, sendo território romano, empregava o citado calendário. Por isso ele cita as horas de modo diferente.
Marcos, por exemplo, usando o calendário judaico, declara (Mc 15.33) que, estando Jesus na cruz, vieram trevas sobre a terra na hora sexta (meio- dia). João por sua vez, afirma que o julgamento de Jesus terminou na hora sexta, o que é uma discrepância!
Porém, no calendário romano usado por João, a hora primeira do dia era a meia-noite, sendo a hora sexta. 6 horas da manhã – a hora em que terminou o julgamento de Jesus!
Antônio Gilberto (2022, p. 205-206) fez uma relação dos fatos bíblicos no Novo Testamento de acordo com a cronologia, ou seja, a ordem temporal destes fatos:
Período do Novo Testamento:
Dando prosseguimento à análise cronológica, veremos como os livros do Novo Testamento estão organizados cronologicamente:
No primeiro século, todo o Novo Testamento já estava formado e a vontade divina de fechar o cânon das Escrituras se realizou, o que demonstra a celeridade da escrita destes livros.
Quando avaliamos este quadro com o comentário do autor na revista, verificamos que há divergências. Aconselhamos que o querido (a) professor (a) priorize a revista, apenas apresentamos a cronologia de Antonio Gilberto (2022, p.208,209).
No entanto, boa parte dos estudos em Novo Testamento apontam as cartas aos Tessalonicenses como as primeiras a serem escritas. Por isto, ficamos “cismados” com a apresentação de Tiago como o primeiro texto a ser escrito.
Quando foi estabelecido que estes livros ficaram organizados de acordo com o critério que estão dispostos?
O CONCÍLIO DE CARTAGO (3C7 d.C.)
https://pesquisarnabiblia.com.br/linhadotempo/concilios.php.
O Concílio de Cartago foi realizado na África do Norte e um de seus propósitos foi reafirmar o cânone bíblico e seu conteúdo de vinte e sete livros no Novo Testamento, sob a direção do Papa Sirício e de San Aurelio, o bispo de Cartago,. Naquela época, havia necessidade de um consenso acerca dos livros que
deveriam compor as Escrituras. Ainda havia muitos debates sobre questões doutrinárias, tais como a trindade, a natureza de Cristo e outras controvérsias doutrinárias.
Sendo assim, o estabelecimento de um cânone contribuiria para padronizar a doutrina, que estaria centrada apenas nas Escrituras Sagradas, haja vista que alguns utilizavam outros textos para introduzir no meio do povo de Deus.
O cânon foi proposto por Atanásio de Alexandria em 367 d.C., foi proposto novamente no Concílio de Hipona em 393 d.C. e reafirmado em Cartago em 397 d.C.
Os objetivos dos propósitos do Concílio de Cartago se resumiam nas declarações acerca da Bíblia com o cânon bíblico:
1.Estabelecimento da autoridade canônica – livros inspirados pelo Espírito Santo que devem ser a fonte de ensino da Igreja.
2.Reafirmação da tradição Católica;
3.Inclusão de livros deuterocanônicos (apócrifos);
4.A autoridade da Igreja na definição do Cânon.
A organização dos textos bíblicos, que consta no cânon, segue um padrão já estabelecido, o que já observado na lição anterior. Os evangelhos, por exemplo, não estão postos em ordem cronológica (período da escrita).
Mateus, por exemplo, faz uma conexão com o Antigo Testamento em seus textos, exatamente onde se encontra, fazendo o elo entre o AT e o NT (falaremos mais sobre este assunto posteriormente); Marcos destaca o trabalho dinâmico do ministério do Mestre e Lucas ressalta a humanidade de Cristo.
Para isto, ele vai mencionar a sua família e inicia pela citação de Zacarias (pai de João Batista, o precursor), cuja esposa, Isabel, era prima de Maria, mãe de Jesus. Ambas ficaram grávidas de homens extraordinários.
O destaque aos pormenores, do nascimento deles, foram aspectos específicos que apenas Lucas mencionou. João, por sua vez, conta histórias que nenhum evangelista abordou: samaritana, Nicodemos, cego de nascença, paralítico de 38 anos, Lázaro, filho do centurião etc.
Tais histórias não podiam ter projeção antes dos anos 90 d.C. Sendo assim, o Espírito Santo velou por Sua palavra, orientando os escritores para que ficasse registrado tudo o que fosse de Sua vontade, no tempo que Ele determinou.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES:
1.Faça fichas com os nomes dos livros bíblicos do Novo Testamento e forme quantos grupos puder em tua sala. Em seguida, entregue as fichas e peça para os teus alunos colocarem os nomes dos livros em ordem. Será que eles conseguem fazer sem consulta?
2.Peça para cada aluno citar o nome de um livro e falar sobre um fato interessante que lá aconteceu. Ex. Filemon: Paulo manda Onésimo com uma carta para que o seu patrão o perdoe e o liberte.
REFERÊNCIAS:
APOSTOLES de La Palavra. El Concilio de Cartago del año 397 y su impacto en la definición del Canon Bíblico. Disponível em: https://www.apostolesdelapalabra.org/el-concilio-de-cartago-del-ano-397-y-su- impacto-en-la-definicion-del-canon-biblico/. Acesso em 20abr.2025.
GILBERTO, Antonio. A Bíblia através dos séculos: a história e formação do livro dos livros. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
Profª. Amélia Lemos Oliveira
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/juvenis/11405-licao-4-cronologia-do-novo-testamento-i
Vídeo: https://youtu.be/xS859fmUu3U