JUVENIS | LIÇÃO Nº 6 – O EVANGELHO DE MATEUS
Como é do conhecimento de todos, o primeiro livro do Novo Testamento está fazendo a conexão entre o Antigo e o Novo Testamentos.
Atribuído a Mateus, também conhecido como Levi, este evangelho foi escrito no período de 70-80 d.C. Ele inicia o texto registrando a genealogia de Jesus com o fim de destacar a sua ascendência judaica, porque Ele é o Messias prometido ao povo judeu.
Mateus faz relatos detalhados de todo o ministério de Cristo Jesus, desde o seu nascimento, apontando aspectos do ministério público até sua morte e ressurreição.
Ele nos faz compreender quem é pessoa de Jesus não apenas pela narrativa das palavras e obras do Mestre, pois interpreta o sentido delas, permitindo a compreensão da parte do leitor.
Demonstra preocupação com o entendimento relativo aos ensinos do Senhor Jesus e, por isto, reserva longas seções do Evangelho para os discursos, parábolas e textos orientativos do Salvador.
Ele veio para apontar os caminhos da salvação e conduzir o homem ao Reino de Deus. Para atender a esta desígnio santo, o Filho do Homem veio instruir-nos quanto aos fatores primordiais para a formação e crescimento da Igreja.
O texto de Mateus demonstra como Cristo agrupou os primeiros discípulos e ensinou como deveriam proceder em seu discipulado e na nova vida cristã.
O evangelho é o sermão de um pastor que está em busca do seu rebanho, mostrando quais são os melhores caminhos pra estar bem nutrido e satisfeito com a trajetória que escolheu seguir.
Champlim (2001, p.533) destaca que Mateus pode ter usado fontes de informações distintas de Marcos e de Lucas para escrever o seu evangelho; no entanto, segue a ordem lógica dos fatos apresentados por Marcos.
Ele enfatiza algumas circunstâncias específicas do ministério de Jesus que os outros evangelistas não citaram. Podemos registrar o Sermão da Montanha, muito mais detalhado e as
parábolas, os evidenciam a preocupação em explicitar o ministério de Cristo como o Profeta que haveria de vir, o Mestre por excelência, que trazia a palavra de Deus para o povo. Era a missão de Moisés. O Messias se apresenta como o Novo Legislador (“Eu, porém, vos digo – Mt 5. 28, 34, 39) para fazer uma leitura da Lei segundo os propósitos da graça.
Quanto às diferenças nos textos, Leonel (2024, p.14) destaca que o texto de Mateus não cita o nome de Jairo no corpo do texto, apenas a tradução ARA o faz no intertítulo como o postaremos numa foto:
Em 9.23-26 a ARA traz em seu intertítulo uma informação que não consta no evangelho de Mateus: o nome do pai da menina ressuscitada por Jesus –Jairo. Na realidade, o nome consta nos evangelhos de Marcos (5.22) e de Lucas (8.41).
Mais uma vez os editores sacrificam a narratividade ao trazer um dado externo ao evangelho, certamente sentindo a necessidade de tornar o texto mais claro aos leitores (Leonel, 2024, p.14)
O vocábulo Lei era o referente ao aspecto legislativo do Antigo Testamento, expresso no Pentateuco e muitos usavam apenas esta parte das Escrituras para decidir em relação às questões de teologia e prática de vida.
Os fariseus, por sua vez, eram oscilantes entre a obediência à autoridade do Pentateuco e os demais livros do Antigo Testamento para a sua vivência teológica e cotidiana. Estavam atentos aos textos escritos e à Tradição.
Quando Jesus prega/ensina no Monte, Ele não invalida o ensino da Lei, mas deixa claro que a aplicação imediata das suas profecias chegou ao fim. A Lei do Senhor é eterna e os seus mandamentos também, não podem ser desobedecidos:
Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido.
Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. (Mt 5:17-19)
O interesse divino está na integridade humana, no compromisso com a sua palavra, na sinceridade do crente, fidelidade aos santos estatutos, enquanto a Legislação do Antigo Testamento apenas se limitava em limitar a duplicidade.
Sendo assim, podemos concluir que o ensino do Mestre contrariava a Lei, pois apontava a necessidade de viver de forma justa enquanto a Lei apenas limitava o mal, mas não proporcionava garantias para que o homem fosse transformado internamente.
No evangelho de Mateus há diversas menções às tradições judaicas, pois ele via, de forma positiva, os que escolhiam viver à luz da Lei e segundo os preceitos do Judaísmo:
Adoração no Templo (Mt 5.23,24);
Doação de Esmolas (Mt 6.2-4);
Prática do jejum (Mt 6.16-18);
Pagamento de taxas no Templo (Mt 17.24-27);
Observação do sábado (Mt 24.20)
No entanto, ele reconhece que as observâncias exteriores são indiferentes para Deus, haja vista que o relacionamento com o Pai Celestial é um assunto do coração que apenas Ele pode avaliar.
Sendo assim, a prática da justiça é um dos temas mais recorrentes no Sermão da Montanha e nas Parábolas.
Os discípulos foram chamados para viver segundo a ética do Reino de Deus, a conduta ideal estabelecida por Ele, que é relevante para a Igreja viver e ensinar:
“Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação do mundo.” (Mt 28:20).
A transmissão dos ensinos de Cristo é proposta numa linguagem relevante para a prática religiosa e cultural judaica, pois foi nesta sociedade que Jesus viveu, realizou seu ministério, elegeu seus primeiros discípulos e fundou a Sua Igreja.
Repetidas vezes o evangelho de Mateus chama a atenção para a importância de respeitar os outros, de ter misericórdia e compaixão, de perdoar e restaurar como marcas distintivas de alguém que fez a vontade de Deus. A ênfase no perdão e na reconciliação é reforçada como prática. Por isto, Cristo recomenda a oração pelos inimigos:
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. (Mt 5.44,45)
A Igreja deve demonstrar de forma vivível a preocupação de Deus em relação à saúde e vitalidade espiritual de seus membros ao confrontar o pecado e ao incitar os desviados a buscar o arrependimento e a restauração.
Assim, da mesma forma que se deve orar em favor das pessoas de fora da igreja que se opõem e a oprimem, também é preciso oferecer oração pelos membros da igreja que, por persistirem no pecado, prejudicam não apenas a si mesmos, mas também à comunhão da qual fazem parte.
Por esses pecadores também, a Igreja toda deve orar confiante de que será restaurado e receberá o perdão que precisa.
O discipulado é uma questão de fé permanente manifesta em obras de misericórdia, cujo padrão é a vida e os ensinamentos de Jesus, a obediência de todo coração: “ Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus. (Mt 5.48).
E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.” (Mt 10.22)
Mateus mostra aos leitores que, a despeito das exortações de Jesus para que vigiem, os discípulos talvez falhem.
Ele não reconta o fracasso dos discípulos em orar no Getsêmani a fim de fornecer motivos para desculpas, mas para mostrar como a capacitação é necessária para que discípulos sujeitos a erros permaneçam fiéis. Revela como a apatia e a indiferença deles pode ser prejudicial para Jesus.
Ele observa o ensino de que devemos fazer o que é certo sem visar a aprovação das pessoas ou à justa recompensa. A confiança em Deus traz recompensas que excede a todas estas alternativas temporais:
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; (Mt 5.8)
E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. (Mt 19.28)
E disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram (Mt 20.4)
Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça (Mt 13.43)
É difícil imaginar felicidade maior do que desfrutar da presença de Deus. A esperança dos servos do Senhor está na pessoa do Altíssimo, de que Ele fará, o que disse que fará. A recompensa é a garantia de Ele é fiel à Sua Palavra e tratará, de forma graciosa, os que são discípulos Seus.
Mateus usa a forma respeitosa ao descrever o que Cristo fez, sem mencionar Seu nome, substituindo o nome de Deus na expressão “reino de Deus” por “reino dos céus”. Apenas usou ”reino de Deus” quatro vezes:
Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus (Mt 12.28)
E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. (Mt 19.24)
Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse- lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus.
[…] Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. (Mt 21. 31,43)
A expressão “reino dos céus” refere-se a um reino que está por vir, um reino futuro. Portanto, aqueles que testemunharam o ministério de Jesus, ouviram a Sua mensagem confrontadora, o Seu chamado para submeter-se ao governo e reinado de Deus, tornaram-se servos do Senhor a partir do instante que decidiram fazer a vontade divina e, assim, adentrar no Reino de Deus.
João Batista não podia fazer uma mudança completa no coração das pessoas, apenas o Senhor Jesus pode fazê-lo:
“O povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; e, aos que estavam assentados na região e sombra da morte, a luz raiou.
Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” (Mt 4.16,17).
Somente o evangelho do Reino traz as boas- novas de salvação: “Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.” (Mt 24:13,14)
O povo israelita foi eleito primeiramente por Deus para divulgar a todas as nações do mundo da época que o Senhor é o Deus verdadeiro, mas este povo falhou na obediência aos propósitos divinos e, infelizmente, aderiu à idolatria, deixando de reconhecer a majestade divina sobre suas vidas.
É por isto que Cristo faz o relato da parábola dos lavradores maus (Mt 21.33-41) na qual descreve a insolência e o egoísmo de Israel. Este povo tinha a missão de administrar os negócios relativos ao reino como representante e proclamadora do governo e do reinado de Deus que estava sendo tirado dela e entregue a outros.
Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?
Dizem-lhe eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe deem os frutos.
Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça da esquina; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos?
Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos.
E, quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó.
E os principais sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas palavras, entenderam que falava deles; (Mt 21.40-45)
O Reino de Deus pode descrever, de forma mais ampla, as bênçãos de Deus associadas à salvação. Entrar no Reino e ganhar a vida eterna são experiências similares (iguais).
Nas suas parábolas, o Senhor destaca que a vida eterna é um tesouro de valor infinito, uma posse digna de se vender, é tudo o que alguém tem, que está disposto a obter e o jovem rico foi capaz de não aceitar (que insanidade!).
Conhecer os mistérios do Reino dos Céus é ter a revelação da verdade do Evangelho, observando o que Deus estava fazendo na vida de Jesus e por intermédio dela.
Entrar neste Reino envolve mudanças materiais e espirituais, porque a manifestação visível da plena autoridade do Jesus ressuscitado e exaltado na Segunda Vinda é explícita nos servos de Deus.
O início do Reino do Filho do Homem parece coincidir com o começo do ministério de Jesus. A parábola do joio nos mostra isto:
“E ele, respondendo, disse- lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do Homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno;” (Mt 13. 37,38) Deve focar no Senhor e no que Seu Filho faz.
Por sua vez, a discussão sobre a salvação está apontando para aquele que salva que é Deus. Falar sobre o Reino de Deus é uma forma de enfatizar o imperativo do viver cristão: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt 6.33)
A última sessão prolongada de ensino no Evangelho de Mateus é referente ao discurso escatológico, no Monte das Oliveiras (Mt 24.4 – 25.46).
Nele, o Mestre traz algumas instruções e advertências sobre a forma como devem conduzir sua vida para os tempos do fim. Cristo se refere aos tempos difíceis, que prenunciam o fim de todas as coisas até o Seu retorno.
O Mestre faz um retrato geral das condições terríveis e caóticas que caracterizarão este período ilustrado pelas dores de parto. Neste período conturbado, o evangelho deve ser pregado. Com a destruição de Jerusalém, que será em 70 d.C., os justos deviam estar prontos para enfrentar tais tribulações.
SUGESTÃO DE ATIVIDADES:
1.Vídeo: MONTE DAS OLIVEIRAS e o Jardim de Getsêmani! Visitando JERUSALEM com uma guia brasileira! Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=f9bAb4PvIZo&feature=sh are. Acesso em 04maio2025.
Outro vídeo: Romildo Garcia. Monte das Oliveiras – Jerusalém – Israelhttps://youtu.be/VmdeVNtQQ-Y?si=A_ijSUlqutD94ZWs. 2.
REFERÊNCIAS:
LEONEL, João. O evangelho de Mateus e a história da leitura em edições bíblicas brasileiras. Bakhtiniana, São Paulo, 19(1): jan./março2024, p.14. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/63484/43663.
Acesso em 02 maio 2025.
LOWERY, David K. Teologia de Mateus. In: ZUCK, Roy B.(ed.) Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro: 2023, p.19-68.
NOVO TESTAMENTO. In: CHAMPLIM, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 5.ed. São Paulo: Hagnos, 2001, p.531-544.
Profª. Amélia Lemos Oliveira
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/juvenis/11438-licao-6-o-evangelho-de-mateus-i
Video: https://youtu.be/P2OKqFYwCpQ