Lição 08 – O legado de Elias
22 de fevereiro de 2013
Elias foi instado por Deus a providenciar a continuidade de seu ministério após a sua saída deste mundo.
INTRODUÇÃO
– Na sequência de estudos sobre os ministérios de Elias e de Eliseu, veremos o trabalho do profeta Elias para a continuidade do ministério após a sua partida.
– Todo servo de Deus deve se preocupar na continuidade da obra do Senhor após a sua partida desta Terra.
I – ELIAS FOI CONSCIENTIZADO POR DEUS A RESPEITO DA CONTINUIDADE DA OBRA DO SENHOR
– Na sequência do estudo dos ministérios dos profetas Elias e Eliseu, estudaremos hoje o “legado de Elias”, ou seja, o trabalho que Elias fez para que a obra do Senhor tivesse sua continuidade após a sua partida deste mundo. Como afirma o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “legado” é “o que é transmitido às gerações que se seguem”. Elias foi conscientizado pelo Senhor de que sua obra de manter a identidade de Israel como povo de Deus não se esgotaria com ele, mas deveria ter continuidade.
– Ao longo do trimestre, temos visto que o profeta Elias era extremamente zeloso com a Palavra de Deus, que se angustiou a tal ponto com a apostasia generalizada vivida por seu povo que pediu ao Senhor que se permitisse não chovesse, tendo sido atendido pelo Senhor (Tg.5:17).
– Este zelo fez com que o profeta, depois de devidamente experimentado pelo Senhor, voltasse a se apresentar ao rei Acabe e fizesse o desafio com os profetas de Baal e de Asera, de tal maneira que Deus atendeu à sua oração e fez com que fogo do céu descesse a fim de demonstrar a Israel que só Ele era o Senhor.
– Ainda neste zelo, o profeta, então, saindo da direção de Deus, correu até Jizreel, esperando o destronar de Jezabel e, decepcionado, caiu em depressão, tendo, porém, o Senhor o levantado, como tivemos ocasião de estudar na lição 5.
– No monte Horebe, “o monte de Deus” (Ex.3:1), local onde Deus Se manifestara a Moisés para iniciar a libertação do povo (Ex.3) e, também, o local onde o povo firmou com Deus o compromisso de servi-l’O e de ser Seu reino sacerdotal e povo santo (Ex.19,20), Elias aprendeu a importante lição de vencer o seu “eu” e de entender que a obra de Deus não se faz solitariamente, como ele tinha achado até então.
– Conforme já vimos na lição 5, o profeta estava equivocado ao achar que somente ele servia ao Senhor naquele tempo. Esquecera-se de que Obadias, o mordomo do rei Acabe (e ele próprio um servo do Senhor – I Rs.18:3), noticiara a existência de pelo menos cem profetas do Senhor que haviam escapado das mãos de Jezabel (I Rs.18:13), a indicar, portanto, que não estava sozinho, como entendia e, por duas vezes, assim declarou a Deus (I Rs.19:10,14).
– Elias tinha de ter aquela experiência da decepção com a expectativa frustrada do destronar de Jezabel para que aprendesse algumas lições importantíssimas da parte do Senhor, absolutamente necessárias para quem tinha alcançado a estatura espiritual que o profeta alcançara com as experiências tidas durante o longo período da seca.
– A primeira lição que Elias tinha de aprender é a de que Deus efetua a Sua obra segundo os Seus desígnios e não segundo o pensamento do homem, ainda que seja o homem escolhido por Deus para ser o protagonista na Sua obra.
– Elias havia pedido a Deus que não chovesse para que o povo de Israel reconhecesse que só o Senhor era Deus e não, Baal. O Senhor consentiu com aquele pedido e houve a longa seca sobre a Terra. Todavia, o fato de Deus ter consentido com o pedido do profeta não significava que deveria fazer as coisas como o profeta imaginava.
– Eis um grande erro que, até hoje, os servos do Senhor cometem, qual seja, o de acharem que Deus está submetido a nossa lógica, ao nosso modo de pensar e de agir. Ainda que Deus consinta com aquilo que pedimos ou pensamos, jamais achemos que conseguimos reduzir Deus a nossos parâmetros, ilusão que tem sido intensificada no meio do povo de Deus em virtude dos falsos conceitos da teologia da confissão positiva.
– Deus é o Senhor, nós, os seus servos; Deus manda e determina, nós confiamos e obedecemos. A longa seca não serviu apenas para que Israel se desse conta de que só o Senhor era Deus, mas também serviu para que o profeta experimentasse a soberania divina, vivesse integralmente na dependência do Senhor.
– Depois do fim da longa seca e da vinda da chuva, Elias achava, dentro de seu conceito, que o culto a Baal seria totalmente exterminado, mas o Senhor, que conhecia bem os corações, algo que o profeta não tinha condições de conhecer (I Sm.16:7), sabia muito bem que só o sinal do fogo do céu bem como a vinda da chuva eram insuficientes para a promoção da restauração espiritual de Israel.
– Por isso mesmo, quando verificou que tudo o que ocorrera não abalara o poder de Jezabel, Elias viu a sua impotência, compreendeu que o que pensara não era o correto e, em vez de correr aos pés do Senhor, para pedir-Lhe orientação, entendeu que havia fracassado e pediu a morte, entendendo estar findo o seu ministério.
– No entanto, o Senhor queria mostrar a Elias que não era ele quem dizia como deveria ser feita a restauração espiritual de Israel, nem tampouco quem determinava como devia ser seu ministério, mas, sim, o Senhor é quem dita as ordens e regras, devendo nós apenas nos submetermos à Sua vontade.
– Elias foi levado a Horebe para bem compreender que Deus está acima de nossos conceitos e de nossos pensamentos. Ao chegar ao monte de Deus, Elias pôde, primeiramente, compreender que Deus não está onde aparentemente entendemos que Ele esteja, como no vento, no terremoto ou no fogo, mas, sim, em condições inimagináveis para nós, como na voz mansa e delicada que se lhe apareceu.
– A segunda lição que Elias aprende com Deus no monte Horebe é a de que o ministério do homem de Deus é determinado pelo Senhor. O mesmo Deus que chama o homem é o que põe fim ao serviço do homem para Ele. O mesmo Deus que admite é o que demite.
– Elias pôs-se à disposição do Senhor para ser o protagonista da obra da restauração espiritual do povo, ao pedir, em oração, que não chovesse sobre a Terra. Isto nos mostra que não é errado nos pormos à disposição do Senhor, tanto que o apóstolo Paulo diz que quem deseja o episcopado, excelente obra deseja (I Tm.3:1).
– No entanto, pôr-se à disposição do Senhor não significa impor-se ao Senhor, mas, sim, reconhecer a soberania divina, reconhecer que Deus chama quem quer e que, em sendo chamados pelo Senhor, também somente serem dispensados do encargo quando Ele assim o desejar.
– Se Elias poderia se pôr à disposição do Senhor, uma vez chamado por Deus e mandado a Acabe para profetizar a respeito da seca, não poderia entender que poderia dar fim ao seu ministério. Ao pedir a morte, “por não ser melhor do que seus pais” ( I Rs.19:4), Elias foi além do que podia, pois somente Deus poderia dizer a ele quando seu ministério estaria terminado.
– Muitos estão a agir da mesma maneira insensata que Elias em nossos dias. Põem-se à disposição do Senhor, mas, quando não são chamados, tratam de se arrogarem posições no ministério que nunca lhe foram dadas por Deus. Lamentavelmente, existem também aqueles integrantes do ministério que, de forma totalmente atrevida, consagram tais pessoas não chamadas pelo Senhor, apenas em razão de interesses políticos, pessoais, econômico-financeiros e até administrativos.
– Há, também, aqueles que, tendo sido chamados, entendem que são eles quem determinam o momento que devem terminar o seu ministério. Como Elias, diante de uma decepção, de um dissabor, tudo abandonam, como se o ministério para o que foram chamados dependesse de sua vontade e não da vontade d’Aquele que os chamou. Outros, quando o Senhor indica que tem terminado o seu tempo, insistem em se manter na posição em que se encontram, passando a agir sem a presença e contra a vontade de Deus.
– No monte de Deus, o profeta entende esta dura realidade. Enquanto pedia a morte por achar que havia fracassado na sua tarefa de restabelecimento espiritual do povo de Israel, o Senhor lhe diz que ainda deveria prosseguir em sua jornada, pois Hazael deveria ser ungido rei da Síria; Jeú, filho de Ninsi, deveria ser ungido rei sobre Israel e Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá deveria ser ungido profeta em seu lugar (I Rs.19:15,16).
– Deus ainda informa ao profeta que os inimigos do Senhor seriam exterminados totalmente por estes três ungidos, ou seja, o Senhor deixa bem claro a Elias que o trabalho para a completa destruição do culto a Baal não estava a cargo dele, Elias, mas o Senhor já estava providenciando que outros completassem aquela obra. Em outras palavras: Deus havia chamado Elias para dar início à restauração espiritual, mas não dependia dele para que tal restauração se fizesse.
– A terceira lição que Elias aprendeu com Deus é a de que a obra de Deus é uma obra que deve ser feita coletivamente. Elias achava que, sozinho, poderia dar cabo da restauração espiritual de Israel, mas Deus não trabalha na solidão, pois “não é bom que o homem esteja só” (Gn.2:18). Deus sempre trabalha com um povo, com um conjunto de homens.
– Por isso, ao contrário do que pensava o profeta, Deus ainda possuía sete mil servos fiéis, que não haviam dobrado seus joelhos a Baal nem o haviam beijado, ou seja, pessoas que não adoravam a Baal e se mantinham fiéis ao Senhor (I Rs.19:18).
– Deus sempre tem um remanescente fiel no meio do Seu povo. Remanescente que é minoritário, mas que existe e que mantém a obra de Deus. Não nos iludamos, achando que estamos sós, como quer fazer crer o inimigo de nossas almas, mas saibamos que Deus cuida dos Seus e que estes, estando com Deus, são maioria (I Jo.4:4).
– A quarta lição que Elias aprendeu com Deus é de que a obra de Deus, o nosso serviço a Deus é maior do que as nossas pessoas, do que nós mesmos. Elias achava que, não tendo Jezabel sido destronada em função de tão só estar presente na porta de Jizreel, havia fracassado, nada mais poderia fazer pela restauração espiritual de Israel.
– No entanto, o Senhor quis mostrar a Elias que o seu ministério e a própria obra de restauração espiritual eram maiores do que a pessoa do profeta. Tanto assim é que Deus queria que Elias prosseguisse em seu ministério, pois era no seu serviço que estava o desígnio divino para a erradicação do culto a Baal.
– Tanto é assim, amados, que, quando vemos a história sagrada, percebemos que das três unções mencionadas pelo Senhor a Elias, Elias tão somente participou pessoalmente da unção de Eliseu (I Rs.19:19), sendo que Jeú foi ungido por um filho do profeta mandado por Eliseu (I Rs.9:1-10) e Hazael, pelo próprio profeta Eliseu (II Rs.7:8-13).
– Alguns procuram ver nesta circunstância uma “contradição bíblica”, mas, na verdade, o que se tem aqui não é contradição alguma. As três unções não foram feitas pessoalmente por Elias, mas foram resultado da continuidade do seu ministério, ou seja, o Senhor mostrou a Elias que o seu serviço de erradicação do culto a Baal teria prosseguimento, não se findaria com ele. Assim, quando Elias ungiu a Eliseu, este prosseguiu o trabalho do homem de Deus, a ponto de ter ungido Hazael e de um dos filhos dos profetas, já discípulo de Eliseu, ter ungido a Jeú.
– É o que ocorre em nossos dias. A Igreja, que é o corpo de Cristo, está a prosseguir com o ministério de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Jesus deu início ao trabalho e a Igreja tão somente prossegue este serviço do Salvador, sendo, aliás, este um dos motivos pelos quais o Senhor disse que faríamos obras maiores que as que Ele fez (Jo.14:12). Não é que sejamos maiores do que o Senhor, mas o fato é que a Igreja prossegue o que foi iniciado por Cristo e, em sendo obras de Cristo, elas, podem, sim, ser maiores do que as inicialmente feitas pelo Senhor Jesus, já que partem da mesma fonte infinita.
– Elias aprendeu estas quatro lições e, sem se preocupar com a manutenção de Jezabel no trono e com o fracasso do plano que havia imaginado em sua mente, partiu para Abel-Meolá, onde achou a Eliseu, filho de Safate, demonstrando, assim, que reconhecia a soberania divina e que estava disposto a prosseguir o seu ministério, de modo coletivo e com a convicção de que não era a ele que incumbia erradicar o culto a Baal de Israel.
II – A CHAMADA DE ELISEU
– Elias partiu de Horebe diretamente com destino a Abel-Meolá, aldeia próxima do rio Jordão, onde o Senhor dizia que vivia Eliseu, filho de Safate, que seria o sucessor do profeta. Não pensou duas vezes, não instou com o Senhor a respeito da continuidade do seu ministério. Tão somente obedeceu e, diante da circunstância de que o Senhor lhe dissera que Eliseu seria profeta em seu lugar, foi direto para Abel-Meolá separar o seu sucessor.
– Que bom seria que os homens de Deus de nossos dias, cientes de que seus ministérios são maiores do que suas pessoas, não negligenciassem o aspecto da sua sucessão, da necessidade de irem ao encontro daquele que lhe sucederá e que deve ser indicado pelo Senhor e não por laços de sangue, parentesco ou quaisquer outras afinidades.
– Elias entendia que não poderia haver a unção de novos reis enquanto não se resolvesse o problema decorrente da função profética. Acima dos futuros governos que se estabeleceriam, era preciso de que houvesse um novo homem de Deus. A obra de Deus tinha prioridade e dela decorreria a transformação do país. Por isso, não foi atrás de Jeú nem de Hazael, mas, sim, de Eliseu.
– Temos tido esta mesma perspectiva do profeta? Será que temos consciência de que mudanças sócio-político-econômicas em nossa nação dependem, em primeiro lugar, de bem cuidarmos da continuidade da obra do Senhor? Será que temos conhecimento de que um bom testemunho nosso diante de Deus e dos homens é o primeiro passo para que haja uma transformação operada pelo Evangelho em nosso querido Brasil?
– Muitos, infelizmente, estão correndo atrás de governantes, de nomes expressivos da sociedade, buscando, com isso, levar o Evangelho à sociedade, como se pudessem, através destes veículos, cumprir a contento a missão que lhes foi confiada por Cristo. É preciso, por primeiro, fazer com que a obra do Senhor esteja sendo realizada a contento, é preciso buscarmos a presença de Deus para que, aí, então, tenhamos condições de, com nosso testemunho eficaz, levarmos as camadas da sociedade ao conhecimento de Jesus.
– Ao encontrar Eliseu, o profeta viu que ele estava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, e ele próprio estava com a duodécima. Elias viu, de pronto, uma qualidade que é indispensável para quem é chamado por Deus: Eliseu era um homem trabalhador.
– Observemos que, em todas as páginas do livro sagrado, não há uma única oportunidade em que o Senhor chama alguém que estivesse desocupado, sem ter o que fazer. O trabalho é um fator que nos faz semelhantes ao Criador, pois o Senhor exsurge na revelação divina trabalhando na criação dos céus e da Terra (Gn.1:1). Assim, se não somos capazes de, pelo trabalho, nos fazermos semelhantes ao Senhor, como é que poderíamos servi-l’O?
– Eliseu, apesar de pertencer a uma classe social superior (pois o fato de ter doze juntas de bois mostra que seu pai era um grande proprietário da região), não apenas dirigia os empregados e servos de seu pai, mas também trabalhava com eles, tanto que estava com uma das juntas de bois. Era um trabalhador, primeiro requisito para ser chamado por Deus.
– O profeta Elias, então, lançou a sua capa sobre Eliseu (II Rs.19:19 “in fine”). Este gesto tinha um significado claro: Elias o estava chamando para que o seguisse, para que fosse profeta em seu lugar.
– Eliseu não titubeou. Entendeu a mensagem dada por Elias, a demonstrar, portanto, que, naquele instante, o Espírito Santo também se apossava de Eliseu. Não houve troca de palavras, não houve qualquer cerimonial solene, mas o importante existia: Eliseu sabia que havia sido chamado por Deus e correspondia àquele chamado.
– O texto bíblico diz que, assim que Elias lançou sua capa sobre o jovem Eliseu, este deixou os bois e, correndo em direção ao profeta, apenas lhe pediu que beijasse seu pai e sua mãe e então o seguiria (II Rs.19:20).
– Quando se atende ao chamado de Deus, deixa-se tudo quanto pode significar obstáculo para que se faça a vontade do Senhor. Eliseu entendeu que havia sido chamado pelo Senhor e que, como profeta, teria de deixar tudo para seguir a Elias. Não poderia dividir a sua vida entre sua atividade profissional como proprietário rural e a sua vida de profeta.
– Devemos ter esta compreensão que, infelizmente, não tem sido seguida por muitos que cristãos se dizem ser nos dias hodiernos. A situação econômico-financeira difícil que vivemos em nossos dias faz com que muitos que são chamados por Deus não deixem “os seus bois”, mantenham uma vida dividida entre a obra do Senhor e a sua vida anterior à chamada.
– O Senhor exige dedicação integral daqueles que chama para um serviço integral. Assim como, em certas áreas do serviço público, há a exigência da “dedicação integral” para que se desempenhem certas funções, também, na obra do Senhor, certas pessoas precisam deixar tudo o que tenham, tudo o que sejam para servir a Deus.
– Não são todos os que estão na obra de Deus que têm tal “dedicação integral”, assim como não são todos os servidores públicos que estão submetidos a tal regime, mas não podem aqueles que são chamados com este requisito quererem dedicar-se apenas parcialmente. Eliseu tinha consciência de que seu chamado exigia dedicação integral e, por isso, assim que se lhe foi lançada a capa, deixou os bois.
– De igual modo, os apóstolos pescadores, assim que chamados pelo Senhor, deixaram as redes, os barcos e os peixes para seguirem o Mestre (Mt.4:20) ou Mateus, deixando a alfândega, também seguiu a Cristo (Mt.9:9). Qual tem sido a nossa atitude, amados irmãos?
– Eliseu, porém, embora tenha deixado os bois, pediu a Elias que, antes de partir, pudesse ir beijar seu pai e sua mãe. Nesta atitude, o profeta Elias pôde ver que Eliseu tinha outra virtude: era obediente e honrava os pais. Par ser um bom discípulo, é preciso que se tenha sido um bom filho, pois o primeiro discipulado que temos é em nossa família.
– Eliseu seria um excelente aprendiz, porque era um bom filho. Em seu gesto de honrar pai e mãe, mostrava que era um cumpridor dos mandamentos do Senhor e que, portanto, por ser um bom servo de Deus, poderia ser um bom profeta.
– Deus o havia chamado porque Eliseu reunia características que o credenciavam a ser o sucessor de Elias. A separação dele para o ministério era resultado de uma vida de comunhão com Deus. A unção que receberia de profeta era consequência de uma vida de obediência à Palavra de Deus. Não podemos inverter a ordem das coisas. Há muitos, entretanto, que, primeiramente são “separados”, para, então, depois, buscarem a conversão…
– Elias bem compreendeu o pedido de Eliseu. Viu nesta circunstância uma virtude do seu sucessor, uma comprovação de que Deus havia escolhido bem, por isso não impediu que Eliseu fosse se despedir de seus pais, enfim, “arrumar a casa” para ir para a obra.
– Esta mesma compreensão devem ter os ministros de Deus em nossos dias quando, dirigidos pelo Senhor, chamarem para o ministério pessoas que estejam envolvidas com certas circunstâncias que os impedem de um desvencilhamento imediato. Se há disposição de atender ao chamado divino, não impeçamos as pessoas de bem saírem da vida secular em que estão, tudo bem fazendo para que seu bom testemunho não seja maculado.
– Eliseu não só se despediu de seus pais, mas também tomou uma decisão radical: matou a junta de bois com que estava a trabalhar, destruiu os aparelhos com que trabalhava e, então, convidou todos para que comessem da carne do boi, que cozeu. Fez um “churrasco de despedida”, mostrando a todos os seus que estava abandonando de vez aquela vida de proprietário rural e que, a partir de então, viveria exclusivamente para Deus.
– O gesto de Eliseu mostra-nos que, quando chamados para uma “dedicação integral” ao Senhor, devemos ser radicais: devemos abandonar a vida anterior e, de forma cabal, impedir que qualquer fator possa nos induzir a voltar atrás. Devemos vigiar e fazer como Eliseu: destruir completamente tudo aquilo que pode nos tentar a retroceder em nossa decisão de atender ao chamado do Senhor. Temos feito isto?
– Lembremo-nos de Pedro. Ele deixou as redes e seguiu a Jesus, mas não destruiu o barco e, num momento de fraqueza, não resistiu à tentação e tudo deixou para voltar a pescar, sendo seguido por alguns discípulos (Jo.21:2,3). Não tivesse o Senhor compaixão dele, poderia ter ali perdido o seu ministério e, quiçá, a sua salvação. Tomemos, pois, muito cuidado, amados irmãos!
– Depois do “churrasco de despedida”, Eliseu partiu e seguiu a Elias, iniciando uma nova vida, uma vida de aprendizado para suceder o grande profeta.
III – O DISCIPULADO DE ELISEU
– Eliseu não iniciou como “sucessor de Elias”. É bem provável que o profeta lhe tenha dito, desde o limiar de sua trajetória conjunta, de que ele fora escolhido por Deus para sucedê-lo. Entretanto, Eliseu sabia que não poderia começar como “sucessor do profeta”, mas, sim, que deveria começar como um simples “moço do profeta”, como um mero “filho do profeta”.
– O fato de sermos chamados por Deus para uma determinada tarefa não nos autoriza a querer já desempenhar tal tarefa de pronto. Nosso Deus é um Deus de ordem e, por isso, não “queima etapas”. Muito pelo contrário, são aos que são chamados a estar no topo que Deus faz questão de exigir que superem uma a uma as etapas necessárias para que exerçam a função a contento no momento apropriado e certo.
– Moisés quis “queimar etapas” e, quando já era notável na corte de Faraó, tendo, de algum modo, noção de que o Senhor o usaria para a libertação de Israel, quis, com sua posição, livrar o povo. O resultado foi frustrante: Moisés perdeu a posição e teve de fugir do Egito para não ser morto. Somente quarenta anos depois, quando aprendeu a ser pastor das ovelhas de seu sogro no deserto, é que Moisés seria chamado por Deus para efetuar a obra da libertação.
– Depois desta partida de Eliseu juntamente com Elias de Abel-Meolá, não se menciona mais o nome de Eliseu a não ser no momento em que a Bíblia passa a narrar a trasladação de Elias. Não sabemos quanto tempo durou este discipulado de Eliseu por Elias, mas, certamente, foram anos, já que houve a guerra entre Acabe e Bene-Hadade, rei da Síria, depois mais três anos de paz entre Israel e Síria (I Rs.22:1), tendo havido a guerra em que Acabe morreu e, depois, mais dois anos de reinado de Acazias (I Rs.22:52).
– O fato de Eliseu não ser mencionado mostra-nos, com absoluta clareza, que foi um tempo em que Eliseu nada fez senão seguir a Elias, aprender com este grande homem de Deus, que também passou a se dedicar com prioridade à preparação do seu sucessor.
– Após a escolha de Eliseu, o próprio profeta Elias foi “poupado” por Deus no dia-a-dia do reino de Israel. Quando da guerra entre Acabe e Bene-Hadade, rei da Síria, o Senhor usou outro profeta para dar mensagem ao rei de Israel (I Rs.20:13,22,28). Ao final da terra, foi usado um dos filhos dos profetas para levar mensagem a Acabe (I Rs.20:41,42).
– Elias somente foi chamado por Deus em dois episódios, a saber: no caso da vinha de Nabote e no episódio da doença de Acazias (veja apêndice nº 1 deste trimestre no Portal Escola Dominical). Em ambos os casos, tais chamados eram mais uma “satisfação” divina ao profeta, para que soubesse tanto o destino de Jezabel quanto a circunstância de que o Senhor continuava a tratar com a casa de Acabe, cujo extermínio já estava profetizado pelo próprio Elias.
– Verdade é que, também, recebeu uma mensagem a respeito do rei de Judá, Jeorão, filho de Josafá (II Cr.21:12-15), que foi reduzida a escrito e guardada até o tempo oportuno, quando foi enviada ao rei. Mas o fato de Deus ter mandado Elias reduzi-la a escrito e só no tempo oportuno ser enviada a Judá, o que se deu após a trasladação de Elias, é mais uma demonstração de que o Senhor não queria que Elias ocupasse seu tempo a não ser com a preparação de Eliseu e dos filhos dos profetas.
– Enquanto Elias ensinava Eliseu, Deus realizava a Sua obra através de outros profetas, como a indicar para o profeta Elias de que não só não era ele o único profeta remanescente, como que, também, a partir do trabalho que Elias já havia efetuado, outros profetas publicamente já estavam sendo usados pelo Senhor. O trabalho de Elias, portanto, não tinha sido em vão.
– Notamos, pois, que, desde que Eliseu foi chamado, o Senhor deu a Elias tempo para que se dedicasse à preparação do seu sucessor, como também às escolas dos profetas, visto que, como nos mostra o texto bíblico da trasladação, Elias, a partir de então, estava envolvido no cuidado dos filhos dos profetas, entendendo que a obra de Deus deveria prosseguir além de sua pessoa, além de sua geração.
– Este comportamento divino é algo que devemos imitar. Não damos ao discipulado, à formação e preparação dos servos do Senhor o devido e necessário cuidado. Elias passou a se dedicar à formação e preparação não só de Eliseu mas de outros “filhos dos profetas”, pois entendeu que a obra de Deus não está jungida a nossas pessoas mas deve prosseguir ao longo das gerações.
– É com tristeza que vemos, em nossos dias, que as gerações que estão chegando ao governo de nossa denominação não estão tão bem preparadas para tal encargo como esteve a geração que hoje já está a passar, comprometendo o futuro das Assembleias de Deus. As gerações mais jovens, então, estão resvalando à ignorância bíblica, a um profundo desconhecimento da Palavra de Deus. É urgente que se mude tal circunstância, senão teremos uma “geração perdida” que, a exemplo do que ocorreu em Israel após a morte da geração da conquista, podem comprometer a salvação e própria identidade do povo do Senhor (Jz.2:10-12). Ajamos enquanto é tempo!
– A primeira nota que temos a respeito do discipulado de Eliseu por Elias é de que Eliseu, a partir de sua saída de Abel-Meolá, jamais deixou Elias. Era seu companheiro inseparável. Tanto assim é que, em II Rs.2, vemos que Elias foi a diversos lugares, mas Eliseu sempre o acompanhou, tendo sido necessário que um carro de fogo vindo do céu os separasse (II Rs.2:11).
– Discípulo e mestre devem ser companheiros, não podem viver separadamente, devem compartilhar experiências, perguntas, dúvidas. Assim o Senhor Jesus agiu com Seus discípulos, assim devemos fazer. A interatividade entre discípulo e mestre, que é uma das características marcantes da Escola Bíblica Dominical, é indispensável para que haja aprendizado e transmissão do conhecimento de Deus de uma geração para outra.
– Não há possibilidade de “ensino à distância” no discipulado, na transmissão do conhecimento divino para a próxima geração. É preciso convivência, aplicação prática de tudo quanto se ensina teoricamente. Temos feito isto com nossos filhos na fé? Temos feito isto com os jovens obreiros?
– A segunda nota que temos a respeito do discipulado de Eliseu por Elias é a de que tal tarefa deve ser dirigida pelo Espírito Santo. Não é o mestre humano que tem a última palavra, mas, sim, o Senhor. Elias, em Gilgal, mandou que Eliseu ficasse ali, pois o Senhor o mandara para Betel. Porém, Eliseu disse que não deixaria Elias de modo algum. Por que Eliseu desobedecia a esta ordem de Elias? Não era ele obediente? Sim, Eliseu era obediente, mas importa mais obedecer a Deus do que aos homens (At.5:29) e se o Senhor o havia escolhido para suceder a Elias, não poderia deixá-lo em momento algum, ainda que Elias assim o dissesse. É por isso, aliás, que o Senhor Jesus disse ser Ele o único e verdadeiro Mestre (Mt.23:8).
– O Espírito Santo é quem deve nos ensinar todas as coisas (Jo.14:26), de sorte que, no discipulado, tanto mestre quanto discípulo devem compreender que são irmãos, que estão ali para fazer uma tarefa determinada por Deus e que por Ele deve ser guiada e dirigida. Temos feito isto?
– A terceira nota que temos a respeito do discipulado de Eliseu por Elias é que Eliseu sempre esteve pronto a servir ao profeta nas mínimas coisas. Em II Rs.3:11, ficamos a saber que Eliseu era conhecido como aquele que “deitava as águas sobre as mãos de Elias”, ou seja, alguém que servia o profeta até mesmo a ponto de providenciar a higiene pessoal do profeta. O aprendiz deve ser um servidor, pois é servindo que aprenderá a servir os demais. Aprender é servir e ensinar também é servir. Afinal de contas, devemos ser como o Senhor Jesus que não veio para ser servido, mas para servir (Mc.10:45).
– É elucidativo que o primeiro passo do término do discipulado de Eliseu por Elias tenha se dado em Gilgal, o lugar onde Israel entrou na Terra Prometida (Js.5:9), o lugar onde Israel foi circuncidado depois que saíra do Egito. Assim como Elias aprendera com Deus no monte Sinai, começava a sua última peregrinação em Gilgal, lembrando-se da aliança firmada entre Deus e Abraão.
– Todo o aprendizado deve começar e terminar no compromisso que firmamos com o Senhor. Toda atividade de ensino das coisas de Deus deve ter como ponto alto a aliança que temos com Deus. Nenhum aprendizado da parte de Deus se poderá dar sem que tenhamos sempre a consciência de que temos um compromisso firmado com o Senhor. Não há sentido de conhecimento de Deus sem que tudo esteja debaixo da perspectiva de nossa salvação, da “nova aliança firmada no sangue de Cristo Jesus” (Mt.26:28;Hb.9:15).
– De Gilgal, Elias parte para Betel, onde havia uma escola de profetas, tanto que filhos dos profetas se apresentaram ali (II Rs.2:3), a comprovar o que já dissemos, ou seja, que Elias não só estava a cuidar de Eliseu mas dos filhos dos profetas em geral durante todo este tempo.
– Em Betel, local onde Deus havia confirmado a Jacó que era ele o herdeiro das promessas de Abraão (Gn.28:10-22) e onde Jacó finalmente completou a sua conversão ao Senhor (Gn.35:1-7), Eliseu recebeu uma mensagem dos filhos dos profetas, qual seja, a de que Elias seria tomado de cima da sua cabeça (II Rs.2:3).
– Para surpresa dos filhos dos profetas, Eliseu mostrou que bem sabia aquilo que lhe estava sendo revelado e pediu aos filhos dos profetas que se calassem. Isto nos mostra, claramente, que, na atividade do discipulado, há sempre um consenso determinado pelo Espírito Santo. O mesmo Espírito que falara aos filhos dos profetas, também falara a Eliseu.
– Em Betel, cujo significado é “a casa de Deus”, Deus fala com cada um de Seus servos, não havendo necessidade de alvoroço nem de propaganda. Eliseu pediu que os filhos dos profetas se calassem, porque não havia necessidade alguma de alarde. Eliseu havia bem aprendido com Elias de que devemos deixar Deus realizar a Sua obra, mantendo tão somente a nossa posição.
– Este consenso do Espírito Santo entre os que servem a Deus, algo limitado nos dias de Eliseu, tem de ser uma característica marcante na Igreja do Senhor. Esta é a “comunhão dos santos”, ou seja, “…Como esta Igreja é governada por um só e mesmo Espírito, todos os bens que ela recebeu se tornam necessariamente um fundo comum.…” (§ 947 do Catecismo da Igreja Romana).
– Eliseu não se surpreendeu com o que disseram os filhos dos profetas, pois era também um filho dos profetas e tinha a convicção de que o que o Senhor revelasse aos outros a seu respeito, deveria também ter de Deus a revelação. Eliseu mostra que um discípulo maduro, pronto a exercer a tarefa que lhe foi confiada pelo Senhor deve ser alguém que tem intimidade com Deus, com quem Deus já fala. Não pode ser alguém que corra atrás de alguém para obter alguma orientação da parte do Senhor.
– Eliseu, com aquela manifestação dos filhos dos profetas, teve uma comprovação divina de que estava na direção do Senhor e que não poderia, mesmo, deixar de seguir a Elias. Teve o novo profeta a confirmação que estava chegando a hora de assumir o seu lugar, mas não fez alarde disso, nem permitiu que se fizesse. Era humilde, assim como o seu mestre. Temos esta mesma temperança? Temos este mesmo sentimento?
– Elias, então, mandou que Eliseu ficasse em Betel, pois tinha de ir a Jericó (II Rs.2:4). Eliseu, uma vez mais, não atendeu a esta recomendação, de forma que partiram para Jericó.
– Em Jericó, também havia uma escola de profetas. Ao contrário dos dois outros lugares, conhecidos pela presença de Deus e por compromissos assumidos com Israel, Jericó era a “cidade maldita” (Js.6:26), cidade que só fora reconstruída no reinado de Acabe, como um sinal, mesmo, da apostasia generalizada de Israel (I Rs.16:34).
– Entretanto, uma vez que Jericó havia sido reconstruída, cuidou Elias de ter ali uma escola de profetas, numa visão missionária que muitos não têm em nossos dias. Embora a cidade fosse “maldita”, não poderia se deixar que ali estivesse um espaço única e exclusivamente dedicado aos incrédulos, aos apóstatas. Não, não e não! Elias tratou de ali ter uma escola dos profetas e para lá se dirigiu.
– Eliseu também acompanhou o profeta em Jericó. Isto nos mostra que o companheirismo entre discípulo e mestre não deve existir apenas nos momentos e lugares de bênção, mas, também, nos momentos e lugares de dificuldades, de adversidades, de maldições. Trata-se de um companheirismo verdadeiro e sincero, de uma amizade mais chegada do que a de um irmão (Pv.18:24). Professor da Escola Dominical, é assim que tem sido seu relacionamento com seus alunos?
– Em Jericó, mais uma vez Eliseu recebe a mensagem dos filhos dos profetas e, uma vez mais, manda que eles se calassem. Eliseu demonstra todo o seu equilíbrio, toda a sua sobriedade e convicção. Tanto no “lugar da bênção” como no “lugar da maldição”, mantém a mesma conduta, o mesmo comportamento. Que exemplo a ser seguido!
– Elias, então, pela terceira vez, manda que Eliseu fique em Jericó, pois teria de ir até o Jordão. Eliseu, como das vezes anteriores, nega-se a deixar o profeta e segue com ele até o Jordão, o lugar da passagem do povo na entrada da Terra Prometida, o lugar do milagre. Eliseu foi junto com Elias, a comprovar o seu companheirismo, a sua comunhão com o velho profeta.
– Nesta ocasião, cinquenta dos filhos dos profetas resolveram acompanhar Elias e Eliseu, ficando, porém, a uma certa distância. Deus punha aqueles filhos dos profetas para serem testemunhas do que iria acontecer a partir de então. Nunca nos esqueçamos de que, em nosso trabalho para Deus, sempre estamos rodeados de uma “tão grande nuvem de testemunhas” (Hb.12:1).
– Eliseu tinha tido muitas experiências com Elias durante todos aqueles anos, mas é fato que, desde que Elias havia iniciado seu discipulado com Eliseu, jamais havia feito milagres na presença do seu discípulo, pois tudo indica que o episódio da descida de fogo do céu que consumiu a cem soldados e dois capitães se deu na ausência de Eliseu, visto que o texto de II Rs.1:9-14 dá a entender que Elias estava sozinho naquela oportunidade, tendo-se deslocado para o caminho de Ecrom por ordem divina sem qualquer companheiro. Eliseu não tinha tido aquela experiência ainda. Seria, pois, esta a última lição a ser dada ao discípulo pelo mestre.
– Elias tomou a sua capa, como que lembrando a Eliseu o seu chamado, pois foi com a capa que havia sido separado para o ministério, dobrou-a e feriu as águas, que se dividiram para as duas bandas, tendo, então, tanto Elias quanto Eliseu passado o rio em seco (II Rs.2:8).
– Após terem passado o rio Jordão, Elias, então, pela vez primeira, trata de falar com Eliseu a respeito de sua partida. Elias também sabia que seria tomado de Eliseu. Que consenso maravilhoso que o Espírito Santo estabelece no meio do Seu povo!
– Elias, então, pediu que Eliseu pedisse algo antes que fosse tomado. O mestre sempre deve estar disposto a dar algo para o discípulo. Afinal de contas, como dizem as Escrituras, são os pais que entesouram para os filhos e não, o contrário (II Co.12:14).
– Infelizmente, em nossos dias hodiernos, os mestres estão mais preocupados em manter suas posições, deixando de ensinar tudo para seus discípulos, reservando para si o “pulo do gato”, do que proceder como Elias e como o Senhor Jesus, que declarou ter feito os Seus discípulos conhecer tudo que ouvira de Seu Pai (Jo.15:15).
– Eliseu, então, diante desta declaração de seu mestre, pediu que se lhe fosse dada “porção dobrada do seu espírito sobre ele” (II Rs.2:9), ou seja, Eliseu queria ter o dobro da unção de Elias em sua vida, desejava fazer o dobro que Elias havia feito em seu ministério. A “porção dobrada” representava o aprendizado completo de Eliseu, qual seja, o de que se deveria prosseguir o ministério de Elias e se fazer o dobro do que havia sido feito até então.
– Elias entendeu que o pedido era demasiado, ousado. Para que ele recebesse o que estava a pedir, seria necessário que visse quando Elias fosse tomado dele, ou seja, Eliseu, para prosseguir o ministério de Elias e ainda efetuar o dobro, tinha de perseverar até o fim. Temos esta consciência de que o êxito de nosso ministério está em sermos fiéis até o fim?
– Elias e Eliseu, então, prosseguiram “andando e falando”. Eliseu, certamente, prestava muita atenção ao que era falado pelo profeta. Estava aprendendo, mas também estava vigilante, até que, de repente, um carro de fogo separou os dois e Elias foi levado por um redemoinho para o céu (II Rs.2:11).
– Eliseu, de imediato, exclamou “Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seus cavaleiros!”, a demonstrar que havia visto o instante em que fora separado do profeta. Elias, então, lançou a capa sobre Eliseu, pois ele havia perseverado até o fim. Estava feita a sucessão, Eliseu terminara com êxito a sua preparação.
IV – ELISEU, O SUCESSOR DE ELIAS
– Há quem veja na exclamação de Eliseu uma “comprovação” da falsa doutrina da “paternidade espiritual”. Segundo tais pessoas, ao exclamar “Meu pai, meu pai!”, Eliseu teria se credenciado a ser profeta, já que reconhecera em Elias o seu “pai espiritual” e que somente desta maneira pode haver “transmissão de poder”. Nada mais falso, porém!
– Por primeiro, Eliseu se dispôs a obedecer a Elias e a tê-lo como “pai espiritual”, como seu “senhor” desde o instante em que passou a segui-lo. Não fosse assim, não teria pedido ao profeta que se despedisse de seu pai e de sua mãe. Este gesto mostra, claramente, que, a partir de então, Eliseu viveria em função de Elias, seria um “filho do profeta”.
– Por segundo, a “paternidade espiritual” não é uma situação em que alguém se possa pôr de “mediador”, “intermediário” entre Deus e o “filho espiritual”. Muito pelo contrário, trata-se de uma função em que devemos nos tratar como “irmãos” (Cfr. Mt.23:8).
– Tanto assim é que Eliseu, mesmo diante das ordens de Elias para que ficasse em Gilgal, Betel e Jericó, não atendeu à recomendação do profeta e prosseguiu seguindo a Elias, pois o Senhor lhe dissera, assim como aos filhos dos profetas, que Elias seria tomado dele naquele dia. Isto é a demonstração evidente que, já no tempo da lei, o Espírito Santo atuava diretamente nos “filhos espirituais”, sem precisar do “pai espiritual” para fazê-lo.
– Por terceiro, a “transmissão do poder” não estava na capa que foi lançada por Elias, pois não foi algo dado por Elias a Eliseu. O lançamento da capa era apenas a confirmação do profeta de que o pedido de Eliseu havia sido atendido e que o próprio Espírito, que já estava em Eliseu, iria operar nele a partir de então.
– Tanto é assim que, assim que Eliseu pegou da capa de Elias, voltou e foi até a borda do rio Jordão. Ali chegando, de posse da capa, feriu as águas e indagou: “Onde está o Senhor, Deus de Elias?”. Neste momento, como diz o texto da Septuaginta, o rio Jordão não se abriu. Reproduzamos o texto, usando da Versão Antonio Pereira de Figueiredo: “E pegando na capa, que Elias lhe tinha deixado cair, feriu as águas e elas não se dividiram, e disse: Onde está ainda agora o Deus de Elias? E feriu as águas, e elas se dividiram de uma, e de outra parte, e Eliseu passou” (II Rs.3:14).
– Na Versão Almeida Revista e Corrigida, não se encontra a expressão “e elas não se dividiram”, mas é elucidativo que, no texto, há duas menções ao ferimento das águas. Por que Eliseu teria ferido duas vezes as águas? Naturalmente, porque, na primeira vez em que feriu as águas, elas não se dividiram.
– Eliseu confiara na capa de Elias e, usando dela, achava que, como havia acontecido com o profeta pouco tempo antes, com o simples uso da capa, Eliseu passaria o Jordão em seco. No entanto, as águas não se dividiram, porque Eliseu não derivara seu poder de Elias, o poder veio diretamente de Deus.
– Diante do aparente fracasso, Eliseu, então, clama a Deus. Exclama: “Onde está o Senhor, o Deus de Elias?” e, aí então, fere as águas, que se abrem e pôde ele, então, passar a seco o rio Jordão, fazendo o seu primeiro milagre. A última lição aprendida, a do milagre, fora a primeira a ser posta em prática.
– Eliseu, ao clamar a Deus, teve a pronta resposta do Senhor. Estava, agora, em pleno exercício do ministério do profeta Elias, o ministério prosseguia, a obra de restauração espiritual de Israel e de erradicação do culto a Baal tinha um novo capítulo.
– Os cinquenta filhos de profetas que haviam visto Elias abrir o Jordão, agora viam que Eliseu fizera o mesmo. Eram testemunhas da sucessão e passaram a dizer: “O espírito de Elias repousa sobre Eliseu” (II Rs.2:15). Não há qualquer necessidade de alardearmos que Deus nos escolheu ou que a posição em que estamos foi dada pelo Senhor. O próprio Deus Se incumbirá de trazer testemunhas para testificar do que tem feito em nossas vidas.
– Em reconhecimento da autoridade que agora Eliseu ostentava, pediram os cinquenta homens que lhes fosse permitido procurar por Elias. Eliseu relutou em atendê-los, pois vira que Elias fora levado ao céu em um redemoinho, mas, ante a insistência daqueles homens, acabou por permitir-lhes que procurassem a Elias e, depois de três dias de buscas, voltaram sem tê-lo encontrado, tendo, então, Eliseu dito que estava certo em não querer que fossem.
– O gesto de Eliseu em deixar os cinquenta homens irem após a insistência mostra-nos que Eliseu adotou a mesma linha de companheirismo de Elias, não quis ser um “ditador”, mas um líder verdadeiro e genuíno, que compartilhava e convivia com os seus liderados. Temos feito isto?
– A sucessão estava feita e o trabalho de Elias prosseguiria através de Eliseu, e com “porção dobrada”, como analisaremos nas últimas quatro lições deste trimestre.
Colaboração para o portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: PORTALEBD
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