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Lição 1 – A Igreja diante do Espírito da Babilônia

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Agradecemos ao Senhor por estarmos dando início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, quando estaremos a estudar o tema “A Igreja de Cristo e o império do mal: como viver ”.

Após termos estudado sobre os relacionamentos familiares, que, como vimos, é uma condição “sine qua non” para que tenhamos uma vida espiritual sadia, falaremos do embate que há entre a Igreja de Cristo e este mundo onde ela está inserida.

No ano passado, precisamente no terceiro trimestre, estudamos sobre as “sutilezas de Satanás”, que são os falsos ensinos, as distorções da Palavra de Deus que o inimigo semeia no meio do povo de Deus, por meio de agentes infiltrados, lobos vestidos de ovelhas (Cf. Mt.7:15), que introduzem heresias no meio dos servos do Senhor (II Pe.2:1).

São forças malignas que atuam no interior do rebanho do Senhor, que procuram fazer tropeçar os servos de Deus, digamos assim, “dentro das quatro paredes do templo”.

Entretanto, não é esta a única forma de atuação do maligno. A Igreja de Cristo foi edificada na Terra, Jesus veio a este mundo, fez-Se homem para edificar a Sua Igreja e, por isso mesmo, embora o Seu reino não seja deste mundo (Cf. Jo.18:36), a Sua Igreja foi edificada neste mundo e, neste mundo, peregrina até o dia em que daqui for levada para Se encontrar com o Seu Senhor nos ares (Jo.17:11,14,15; I Pe.1:17; I Ts.4:17).

Ora, o mundo de que estamos a falar não é o mundo físico, criado por Deus (Gn.1:1; Hb.11:3; Sl.24:1), mas o sistema dominado pelo maligno, que tem como príncipe Satanás, que escraviza o homem que está no pecado (Jo.8:34; 12:31; Ef.2:2; I Jo.2:15-17; 5:19).

Como afirma, com muita propriedade, o item 8 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus, a Igreja é “…o corpo de Cristo, coluna e firmeza da verdade, una, santa, universal assembleia dos fiéis remidos de todas as eras e todos os lugares, chamados do mundo pelo Espírito Santo para seguir a Cristo e adorar a Deus…”.

Ainda a mesma Declaração de Fé afirma que: “…A Igreja é um grupo de pessoas chamadas por Cristo para fora do mundo a fim de pertencer a Jesus [Rm1:6], ter comunhão com Ele [I Co.1:9] e fazer parte da família espiritual de Deus [Ef.2:19] …” (DFAD XI.1, p.68).

Logo se verifica que há uma oposição entre a Igreja e o mundo, oposição esta muito bem explicada pelo Senhor Jesus, que disse que o mundo O havia odiado e odiaria a todos os Seus seguidores (Jo.15:17-20).

Isto nos faz lembrar a missionária e poetisa sacra Hedwig Elisabeth Nordlund (esposa do missionário Gustav Nordlund, pioneiro das Assembleias de Deus no Rio Grande do Sul), que afirmou em seu poema:

“O mundo de ilusão deixei, a senda de pecado e dor, pra ir ao meu glorioso lar, ali há gozo, paz e amor. No mundo não está meu lar, aqui não posso descansar, mas quero sempre avançar, no céu em breve hei de entrar” (primeira estrofe e estribilho do hino 203 da Harpa Cristã).

O mundo é inimigo de Deus (Tg.4:4) e, deste modo, não pode haver qualquer comunhão ou acordo entre a Igreja e o mundo.

Não é, pois, por acaso, que o mundo é denominado “império do mal” no título do nosso tema do trimestre, porque é, efetivamente, o sistema dominado pelo maligno, por Satanás, que as Escrituras dizem ter “o império da morte” (Hb.2:14).

A Igreja saiu do mundo, não quer mais viver segundo o curso do mundo, abandonou o pecado e o mal e, portanto, como ainda está no mundo, torna-se um “corpo estranho” e, como tal, será atacado pelo mundo, assim como nosso organismo ataca todo e qualquer elemento estranho que nele ingresse como, por exemplo, bactérias, protozoários ou vírus.

Este mundo busca, pois, atacar a Igreja, assim como atacou o Senhor Jesus, mas, assim como Nosso Senhor (Jo.16:33), também venceremos o mundo, se nos mantivermos fiéis a Deus até o fim (I Ts.1:9,10; Mt.24:13).

Aliás, por conta desta luta incessante entre a Igreja e o mundo é que o Senhor nos diz que no mundo sempre teremos aflições (Jo.16:33).

Estas aflições são o resultado deste embate, jamais haverá uma boa convivência entre a Igreja e o mundo, sendo, bem por isso, extremamente enganoso e perigoso buscar-se uma felicidade terrena ou confundir a salvação com um estado de bem-estar material ou terreno, como tem muitos pregado, como os arautos da teologia da prosperidade e de sua coirmã, a teologia da confissão positiva.

Este mundo é, também, chamado nas Escrituras de “Babilônia” (Ap.17:5; 18:1,2), porque, em Babel se iniciou a rebeldia deliberada contra o Senhor.

No episódio da torre de Babel (Gn.11:1-9), toda a humanidade se rebelou contra Deus, sob o comando de Ninrode, querendo construir uma civilização sem Deus, em desafio ao Senhor e o resultado disto foi a confusão das línguas e a destruição de toda aquela comunidade única pós-diluviana, que deu origem às diversas nações que hoje existem (Cf. Gn.10), que são os “gentios” ou as “gentes” mencionados no texto sagrado.

O “espírito da Babilônia” mencionado no subtítulo de nosso trimestre nada mais é, pois, que este espírito maligno de rebeldia contra Deus, fomentado pelo primeiro rebelde, o querubim ungido que se tornou “Satanás”, i.e., o adversário, que domina sobre toda a humanidade sem Deus e sem salvação, os “filhos do diabo”, como o disse o Senhor Jesus (Jo.8:44) e foi repetido pelo apóstolo João em seus ensinos (I Jo.3:8-10).

Por isso, não podemos amar o mundo nem o que no mundo há (I Jo.2:15) e, por consequência, devemos viver de tal maneira que sempre nos oponhamos a este mundo, pois, assim o fazendo, estaremos nos credenciando para viver com o Senhor eternamente.

Quem é amigo do mundo constitui-se em inimigo de Deus (Tg.4:4) e, diante deste espectro, torna-se indispensável sabermos como nos conduzir para que aborreçamos o mundo e amemos a Deus.

A capa da revista do trimestre mostra um farol, que, no meio das trevas, mostra luz aos que estão a navegar, sinalizando o lugar, dando rumo e direção aos que estão em viagem.

Sem dúvida, esta ilustração nos lembra que, como povo de Deus, somos a luz do mundo (Mt.5:14), refletindo, pelo Espírito Santo, a glória de Jesus (II Co.3:18; Fp.2:15), Que é a luz do mundo (Jo.8:12; 9:5).

Esta oposição entre luz e trevas está na própria circunstância criada pela vinda de Cristo a este mundo. O apóstolo João mostra-nos que Jesus é a vida e, como vida, é a luz dos homens (Jo.1:4) e que, portanto, quem O segue anda na luz.

Aliás, como o Senhor disse a Paulo, o papel da Igreja nada mais é que abrir os olhos dos homens e os converter das trevas à luz e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam a remissão dos pecados e sorte entre os santificados pela fé em Jesus (Cf. At.26:18).

Como disse o apóstolo Pedro, a Igreja é a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido que anuncia a virtude d’Aquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz (I Pe.2:9).

A Igreja foi posta como a sentinela mencionada pelo profeta Isaías no capítulo 21 de seu livro, que ficava sobre a torre de vigia durante noites inteiras (Is.21:6,8).

Devemos, em meio às trevas espirituais do mundo, anunciar a luz, brilhar como luz, não se envolver com o pecado e apontar à humanidade Jesus Cristo, para que elas venham a andar na luz, como na luz estamos (Cf. I Jo.1:5-7).

Éprecisamente esta manutenção nossa na luz em meio às trevas espirituais deste mundo que se constitui no tema a estudarmos neste trimestre.

Depois de uma lição introdutória, teremos quatro blocos no trimestre e uma conclusão.

No primeiro bloco, analisaremos a visão distorcida do mundo com relação a Deus e ao pecado, estudando a deturpação da doutrina bíblica do pecado, bem como a falsa ideia do progressismo (lições 2 e 3).

No segundo bloco, analisaremos como o mundo, a pretexto de valorizar o homem, querendo sobrepor-lhe a Deus, na verdade o desvaloriza e à vida (lições 4 e 5).

No terceiro bloco, analisaremos as deturpações mundanas a respeito da sexualidade (lições 6
a 8).

No quarto e último bloco, veremos como devemos, enquanto Igreja, enfrentar os valores mundanos (lições 9 a 12).

Por fim, teremos uma lição conclusiva (lição 13).

O comentarista deste trimestre é o pastor Douglas Roberto de Almeida Baptista, presidente da Assembleia de Deus de Missão do Distrito Federal e do Conselho de Educação e Cultura da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, tendo sido o relator da Comissão Especial que redigiu a Declaração de Fé das Assembleias de Deus e que já há alguns anos comenta as Lições Bíblicas.

B) LIÇÃO Nº 1 – A IGREJA DIANTE DO ESPÍRITO DA BABILÔNIA

INTRODUÇÃO

-Neste trimestre, estaremos a estudar o tema do embate entre a Igreja e o mundo, denominado no título deste estudo como “o império do mal”.

-A Igreja é um corpo estranho neste mundo dominado pelo maligno.

I – A OPOSIÇÃO ENTRE A IGREJA E O MUNDO

-Estamos dando início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, um trimestre temático, onde estaremos a estudar o embate entre a Igreja e o mundo, que o título denominou de “império do mal”.

-Quando nos utilizamos da expressão “mundo”, devemos, antes de mais nada, não confundirmos os dois principais significados desta palavra. “Mundo”, por primeiro, significa o universo físico, todas as coisas que foram criadas por Deus. Neste sentido, aliás, o escritor aos hebreus fala em “mundos” (Hb.11:3).

Este mundo é a criação de Deus (Sl.24:1).

-O outro significado de “mundo”, que é o que será utilizado no estudo deste trimestre, tem a ver com o sistema contrário a Deus, liderado por Satanás, uma organização rebelde contra o Senhor, que busca ter uma vida independente do senhorio divino, em que prevalece a maldade e o pecado.

-Este sistema é liderado pelo diabo, que, por isso mesmo, é chamado pelo Senhor Jesus de “princípio deste mundo” (Jo.12:31; 14:30; 16:11), formado por todos os seres, demônios e homens, que rejeitam obedecer a Deus e que pretendem ter uma vida independente, querendo dizer a si mesmos o que é o bem e o que é o mal.

-Este “mundo” está no maligno (I Jo.5:19), precisamente porque os seus componentes estão escravizados pelo pecado (Jo.8:34), fazendo a vontade do seu pai, que é o diabo (Jo.8:44), razão pela qual se trata de um

“império da morte” (Hb.2:14) e um ambiente dominado pelo engano e pela mentira.

-Neste “mundo”, todo ser humano ingressa quando adquire a consciência, pois é portador de uma natureza pecaminosa, nasce à imagem e semelhança de Adão (Gn.5:3), é formado em iniquidade (Sl.51:5), de forma que, quando é apto para escolher entre o bem e o mal, inevitavelmente escolhe o mal, pecando e se tornando, com isso, escravo do pecado (Jo.8:34).

-É preciso, pois, que creiamos em Jesus Cristo e, assim o fazendo, Ele nos livra do pecado (Jo.8:36), libertação esta que é tríplice: somos libertos do poder do pecado (At.26:16,17), do corpo do pecado (Rm.7:24,25) e da natureza do pecado (II Co.5:17).

-Bem se vê, portanto, que, quando alguém é salvo na pessoa de Jesus e passa a pertencer à Igreja, já que é inserida no corpo de Cristo (I Co.12:13), é liberto do mundo, é retirado dele, sai do mundo, e, por isso mesmo, o Senhor Jesus diz que está no mundo, mas não é mais do mundo (Jo.17:11,14,16).

-Aliás, a própria expressão “igreja”, em grego “ekklesia”, significa “chamados para fora”. Se alguém crê em Jesus, simplesmente deixa de pertencer ao mundo, sai dele, embora permaneça fisicamente no ambiente dominado pelo mundo.

-Percebe-se, portanto, que, por definição, há uma oposição entre o mundo e a Igreja. Quem passa a pertencer a Igreja deixa de pertencer ao mundo e quem não pertence à Igreja, pertence ao mundo.

-Quem crê em Cristo como Senhor e Salvador, como diz o próprio Jesus, passou da morte para a vida (Jo.5:24) e, como o mundo é o “império da morte”, há evidente contradição entre o mundo e a Igreja.

-Jesus disse que foi odiado pelo mundo e o que mesmo aconteceria com Seus discípulos (Jo.15:18,19). Por isso, o verdadeiro cristão não ama o mundo, pois amar o mundo é testemunhar que não temos o amor de Deus em nós (I Jo.2:15).

-Nem poderia ser diferente, porque a Igreja é o corpo de Cristo (I Co.12:27) e o mundo é dirigido pelo diabo, que não tem ponto algum em comum com o Senhor Jesus (Jo.14:30), havendo, assim, uma total incompatibilidade entre a Igreja e o mundo.

-A Igreja é a “luz do mundo” (Mt.5:14), porque tem comunhão com Jesus Cristo, Ele próprio a luz do mundo (Jo.1:4; 8:12; 9:5), enquanto o mundo é treva e as trevas não compreendem a luz (Jo.1:5). Não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14) e quem anda em trevas não pode estar em comunhão com o Senhor (I Jo.1:6).

-Deus é luz e não há n’Ele trevas nenhumas (I Jo.1:5), de sorte que quem tem comunhão com o Senhor vem para a luz (Jo.3:20,21).

-A Igreja é a “coluna e firmeza da verdade” (I Tm.3:15), enquanto o mundo é dominado pelo pai da mentira (Jo.8:44), de modo que é o ambiente onde impera o engano e a ilusão (Ef.4:22; II Tm.3:13; Tg.1:22; Ap.12:9).

-A Igreja é “o sal da terra” (Mt.5:13) e, como tal, dá sabor ao mundo, ou seja, traz ao mundo o que agrada a Deus, traz ao mundo sabedoria, os valores determinados pelo Senhor, o que é bom, o que é verdadeiro, o que tem virtude (Cf. Fp.4:8), enquanto que, no mundo, só há corrupção (Gn.6:11.12; Mq.2:10; Rm.8:21; Gl.6:8; Fp.2:15; Tg.1:27; II Pe.1:4), ou seja, a degeneração e a deterioração do que é bom, verdadeiro e belo, com a prevalência da maldade e de tudo o que não convém (Os.4:1,2).

-Assim, não há mesmo como deixar de haver ferrenha oposição entre a Igreja de Cristo e o mundo e o resultado disto é uma luta incessante que faz com que, neste mundo, os servos de Jesus tenham sempre aflições (Jo.16:33).

-“Aflição” é a palavra grega “thlipsis” (θλίψις), cujo significado é o de “pressão, aflição, angústia, perseguição, problema, dificuldade” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 2347, p.2234). O que Jesus nos fala é que, dia e noite, noite e dia, o servo do Senhor estará sob constante pressão, sendo atacado pelo mundo, por ser um “corpo estranho” neste “império do mal”.

-Por isso mesmo, não podemos, de forma alguma, admitir qualquer pensamento ou ideia que venha a defender uma amizade com o mundo, uma “trégua”, um acordo. São dois corpos completamente incompatíveis, que não podem se interpenetrar, assim como a água nunca se mistura com o óleo ou a luz com as trevas.

-O único ponto de contato entre Igreja e império do mal é a convivência física no planeta, enquanto estamos nesta peregrinação, pois a Igreja precisa pregar o Evangelho, ganhar almas para Jesus e esta tarefa é feita no mundo, entre as nações (Mc.16:15; Lc.24:47; At.1:8), daí porque o Senhor interceder por nós não para que sejamos tirados do mundo, mas, sim, libertos do mal (Jo.17:15).

-Devemos, então, seguir o exemplo de Abrão, o amigo de Deus (Is.41:8) e, portanto, inimigo do mundo (Cf. Tg.4:4), que, habitando na terra de Canaã, convivia bem com os seus vizinhos, mas com eles não comungava, mantendo uma vida independente e diferente, tanto que era conhecido como “o hebreu” (Gn.14:13), ou seja, “aquele que tinha vindo dalém do rio” e que não havia se misturado com os moradores de Canaã.

-Abrão tinha convivência com os vizinhos, tanto que Aner, Escol e Manre foram com ele lutar para libertar

Ló (Gn.14:24), mas havia entre eles uma “confederação” (Gn.14:13), ou seja, uma aliança em que cada um mantinha a sua independência, a sua liberdade de atuação.

-Assim deve ser a Igreja de Cristo. Por estar no mundo e ser, neste mundo, a luz, o sal e a coluna e firmeza da verdade, a Igreja deve conviver com os homens, não pode se furtar a este convívio (I Co.5:9,10), mas não pode se comprometer com o mundo, misturar-se com a corrupção que há no mundo, mas dela se guardar (Tg.1:27), depois de ter escapado dela (II Pe.1:4).

II – O ESPÍRITO DA BABILÔNIA

-Na Igreja de Cristo, temos o Espírito Santo. Todo aquele que crê em Jesus recebe o Espírito Santo (Jo.7:38,39; I Co.12:13; Ef.1:13,14). Este Espírito foi mandado para nós para que nos ensine todas as coisas (I Co.14:26), nos lembre o que disse Jesus (I Co.14:26), nos guie em toda a verdade (Jo.16:13), glorifique a Jesus (Jo.16:14) e anuncie o que é de Cristo e o que há de vir (Jo.16:13,14).

-No mundo, porém, tem-se um outro espírito, que, muito propriamente, foi chamado de “espírito da Babilônia”, uma vez que este sistema mundano é assim denominado no livro do Apocalipse (Ap.14:8; 16:19; 17:5; 18:2,10,21), sendo que já no livro do profeta Daniel, Babilônia era apresentada como a cabeça daquela estátua do sonho do rei Nabucodonosor, revelado e interpretado pelo profeta, estátua esta que representa precisamente este sistema gentílico rebelde contra Deus (Dn.2:32,37,38).

-Na verdade, o mundo começou a tomar a forma de “Babilônia” quando da rebelião ocorrida na comunidade ´punica pós-diluviana, governada por Ninrode, bisneto de Noé, no episódio da torre de Babel (Gn.11:1-6), quando se cristalizou a organização deste mundo contrário a Deus.

-Ninrode “foi poderoso caçador diante da face do Senhor” (Gn.10:8,9) e resolveu “edificar uma cidade e uma torre cujo cume tocasse nos céus e fizessem um nome para que não fossem espalhados sobre a face de toda terra” (Gn.11:4), num claro desafio contra a ordem divina de se espalharem pela Terra para povoá-la (Cf. Gn.9:7).

-Em Babel, portanto, há a organização do sistema para afrontar ao Senhor, para tentar construir uma vida independente de Deus, um sistema fundado na mentira satânica de que o homem pode viver sem Deus e determinar o que é o bem e o mal (Gn.3:5).

-Como nos ensina o pastor Abraão de Almeida, que muito bem estudou este tema no seu livro “Babilônia ontem e hoje”, “…Babel é a forma grega de Babilônia e significa Porta de Deus, título que se apropria por haver influenciado poderosamente o desenvolvimento da religião pagã no mundo antigo durante dezessete séculos…” (op.cit., p.14).

-“Babel” dizia-se a “Porta de Deus”, mas em vez de se buscar o acesso a Deus, resolveu-se afrontá-l’O, rejeitá-l’O, querendo construir um poder à margem do Senhor, como se isto fosse possível. Flávio Josefo mostra bem o espírito de rebeldia que tomou conta dos homens em Babel.

-Diz este historiador judeu: “…Deus ordenou que mandassem colônias a outros lugares, a fim de que, multiplicando-se e estendendo-se, pudessem cultivar mais terras, colher frutos em maior abundância e evitar as desinteligências que de outro modo poderiam ser suscitadas entre eles.

Mas esses homens rudes e indóceis não obedeceram e foram castigados pelo seu pecado, com os males que lhes sucederam. Deus vendo que seu número crescia sempre, ordenou-lhes segunda vez que formassem outras colônias.

Mas esses ingratos que se haviam esquecido de que eram devedores de todos os seus bens a Ele, e os atribuíam a si mesmos, continuaram a desobedecer-Lhe e acrescentaram à sua desobediência, a impiedade de imaginar que era cilada que se lhes armava, a fim de que, estando divididos, pudesse Deus mais facilmente perdê-los. Ninrode, neto de Cão, um dos filhos de Noé, foi quem os levou a desprezar a Deus desta maneira.…” (Antiguidades Judaicas, I,4, 16.
In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, pp.28-9).

-Esta rebelião contra Deus amolda-se perfeitamente ao “príncipe deste mundo”, a Satanás, que foi o primeiro a se rebelar contra o Senhor (Is.14:13,14; Ez.28:2), de modo que o “espírito da Babilônia” é mesmo este espírito de rebeldia, de afronta a tudo quanto se refere a Deus ou foi por Ele determinado.

-Babilônia, portanto, apresenta-se como o sistema que faz da desobediência a Deus a sua razão de ser. É toda uma organização para se contrapor à vontade divina, é a insubmissão, a rejeição do que é querido pelo Senhor.

-Enquanto a Igreja conhece o Senhor como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo como o Seu Filho enviado (Jo.17:3), Babilônia quer ser semelhante ao Altíssimo, quer ser como Deus, sabendo o bem e o mal (Gn.3:5). “…A famosa torre de Babel, cujos restos a Arqueologia tem desenterrado nas cercanias da cidade propriamente dita, ficou como símbolo da confusão religiosa, da rebelião contra Deus e do orgulho humano: ‘e façamo-nos um nome’… (ALMEIDA, Abraão de. op.cit., p.14)

-Todas as nações tiveram origem em Babel, com exceção de Israel, e, por isso, os gentios são aqueles que não creem em Deus, não servem ao Senhor e que estão sob o domínio do maligno, vivendo no pecado e regidos por um sistema que, tendo ao próprio diabo como líder, nada mais fazem senão caminhar cada vez mais para a perdição eterna.

-A trajetória deste mundo impiedoso é bem descrita pelo apóstolo Paulo em Rm.1:18-32 e lá vemos como a rejeição a Deus faz com que surja o obscurecimento dos corações, com a criação de uma falsa concepção do mundo que justifica o pecado e a rejeição a Deus e leva o homem a construir uma religiosidade que o leva à idolatria, à imoralidade e à crença na mentira, dando origem a toda sorte de vícios e comportamentos reprováveis.

-Como se isto fosse pouco, temos a construção de um sistema organizado para fazer frente ao próprio governo humano instituído por Deus após o dilúvio. Deus estabeleceu o governo humano ao firmar o pacto com Noé, mandando que se criasse o poder político, construído para castigar o mal e louvar o bem (Gn.9:5-7; Rm.13:1-7).

-Entretanto, este poder político, criado para atuar debaixo do comando divino, a fim de fazer valer o bem e o mal estabelecidos pelo Senhor, foi deturpado e passou a ele próprio se achar “poderoso diante da face do Senhor”, divinizando-se os governantes e fazendo com que eles mesmos dissessem o que era o bem e o mal.

-Este sistema, iniciado com Ninrode, deu nascedouro à idolatria e a toda a religiosidade gentílica, que faz do homem e dos ídolos o alvo da adoração, e que, bem por isso, foi apresentado pelo Senhor a Nabucodonosor, como sendo a estátua que será desfeita pelo Senhor Jesus, “a pedra tirada sem mão”, quando Ele estabelecer Seu reino milenial, sete anos após o arrebatamento da Igreja.

-Um dos sinais de que estamos bem próximos ao arrebatamento da Igreja é que, pelo aludido sonho profético, já nos encontramos no período final, representado pelos dez dedos da estátua, que, em outras revelações dada ao profeta Daniel, bem como ao apóstolo João na ilha de Patmos, vão se unir e dar prevalência ao Anticristo, que será o último imperador deste sistema político rebelde contra Deus, esta Babilônia e que será derrotado precisamente pelo Senhor Jesus.

-Não é de se surpreender, portanto, que vivamos num tempo em que aumenta grandemente esta angústia, estas aflições contra a Igreja de Cristo, o chamado “princípio das dores” de que fala o Senhor Jesus em Seu sermão profético (Mt.24:8), período marcado por intensificação da perseguição (Mt.24:9; Lc.21:12-17).

-Babilônia caracteriza-se precisamente por cooptar os reis da Terra (Pv.18:3), fazer com que eles se prostituam, ou seja, deixem de ser fiéis a Deus, de cumprirem a missão para a qual foram chamados, qual seja, a de castigar o mal e louvar o bem, observar os mandamentos divinos, para construírem eles próprios os seus valores e crenças, para estimularem a rebeldia contra Deus e a prática do mal e do pecado.

-Esta conduta por parte dos governos dos mais diversos países tem sido cada vez mais disseminada. O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho (1947-2022) bem o demonstrou, quando, em debate com o cientista e filósofo político Alexandr Dugin (1962- ), considerado a principal mente política por detrás do presidente russo Vladimir Putin (1952- ), revelou haver, em andamento, na atualidade, três projetos mundiais de poder (globalista ocidental, russo-chinês e islâmico), que têm em comum a destruição da civilização cristã e de seus valores e crenças, ou seja, todos os projetos de poder em execução no mundo são anticristãos.

-Como afirma o pastor Abraão de Almeida: “… Foi em Babilônia, após o dilúvio, que a mesma atitude de negação de Deus se manifestou, particularmente através de Ninrode e Semíramis. Era o mistério da injustiça, referido pelo apóstolo Paulo, mais uma vez operando desde a expulsão de Adão e Eva do Éden.

O objetivo era a organização de uma igreja falsa, estruturada dentro de um sistema religioso no qual fosse adorada uma falsa trindade. Dentro dessa organização o próprio Satanás estava (e está) preparando o mundo para a sua manifestação futura, quando reinará por um pouco de tempo sob a forma do Anticristo.

O princípio é a glorificação do ser humano, divinizador de reis e imperadores, o culto à personalidade. Somente dentro de tal sistema compreende-se a deificação dos césares e dos grandes homens, aos quais se erigiam templos e em sua honra se ofereciam sacrifícios e libações.…” (op.cit., p.16).

-Babilônia não se funda apenas na construção de um sistema político rebelde contra Deus e que procura dissipar das sociedades todos os valores e princípios conformes à vontade do Senhor, mas também busca construir uma economia que, de algum modo, contribua para a corrupção, seja através da diminuição da população, seja através da busca única e exclusivamente do bem-estar material, seja pela própria disseminação da desigualdade e da injustiça sociais.

-Em Babilônia, os “mercadores da terra se enriqueceram com a abundância das suas delícias” (Ap.18:3) e não é novidade que estejamos no período de maior concentração de renda de toda a história1 e de um aumento da desigualdade social2 e da própria fome3, sem se falar na tomada de iniciativas que contribuem para a intensificação de todas estas mazelas, como, por exemplo, a Agenda 2030 promovida pela Organização das Nações Unidas, entidade que, como é sabido, tem um corpo burocrático abertamente anticristão e, inclusive, com segmentos confessadamente satanistas4.

-Babilônia também se caracteriza pela completa desvalorização do ser humano e da vida. Os homens são considerados tão somente como objetos, como mercadorias (Ap.18:13). Babilônia desenvolve o individualismo, o egoísmo e a egolatria, de modo que o próximo é visto tão somente como instrumento para a autorrealização, para a autoglorificação.

-Os homens são amantes de si mesmos (II Tm.3:2), sendo mais amigos dos deleites do que amigos de Deus (II Tm.3:4). Há, assim, um aumento da violência, da crueldade e a total ausência de amor ao próximo.

1CNN Brasil. LUHBY, Tami. 1% mais rico acumulou duas vezes mais riqueza do que resto do mundo em 2 anos. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/1-mais-rico-acumulou-duas-vezes-mais-riqueza-do-que-resto-do-mundo-em-2-anos/ Acesso em 13 maio 2023

2ONU: “aumento espantoso das desigualdades no mundo, como no início do séc. XX”.Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2022-06/onu-aumento-espantoso-desigualdades-mundo-como-inicio-seculo-xxi.html Acesso em 13 maio 2023.

3Fome dispara no mundo e ONU aponta soluções; veja destaques do Brasil e outros países. Disponível em: https://exame.com/mundo/fome-brasil-mundo-2022/ Acesso em 13 maio 2023.

4WHITE, Andrew. A “sala de meditação” pagã na ONU: runas, altares e mistério satânico. Disponível em: https://culturadefato.com.br/a-sala-de-meditacao-paga-da-onu-runas-altares-e-misterio-satanico/ Acesso em 13 maio 2023.

-Babilônia leva o homem a pecar e, bem por isso, o povo de Deus não pode participar dos seus pecados e iniquidades (Ap.18:4), pecados e iniquidades que levarão ao juízo divino, entre os quais se sobressai a soberba, a falsa certeza de que ninguém ou nada lhe levará à condenação (Ap.18:7).

-Nesta cegueira espiritual, Babilônia faz com que as pessoas apenas enxerguem as “coisas desta vida”, tenham como alvo de existência tão somente esta realidade terrena, buscando o comer, o beber, o vestir, a satisfação das necessidades fisiológicas, as “delícias”, desprezando, por completo, a eternidade, a vida do além.

-Os que se preocupam com esta dimensão espiritual, fazem-no de forma totalmente distorcida, desenvolvendo uma religiosidade centrada no mérito do ser humano, na adoração a falsos deuses, na invocação a demônios e ao próprio Satanás.

-Temos, então, a chamada “Babilônia mística”, descrita no capítulo 17 do livro de Apocalipse, “a grande prostituta que está assentada sobre muitas águas” (Ap.17:1).

-Ela também opera mediante a prostituição dos reis da Terra (Ap.17:2), sendo, pois, pode-se assim dizer, uma vertente do mundo, que se apresenta sob uma roupagem piedosa, mas que nada mais é que mais uma mentira e mais um engano para os homens.

-Àqueles que notarem que não se pode viver somente tendo por objetivo esta dimensão terrena, que perceberem que há algo além desta existência física, o inimigo de nossas almas apresenta esta roupagem religiosa, buscando fazê-los crer na mentira e não na verdade.

-Este sistema religioso é também caracterizado pela opulência econômica, tanto que a mulher que foi vista por João em sua visão foi descrita como uma “mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada com ouro, e pedras preciosas, e pérolas, tendo na mão um cálice de ouro” (Ap.17:4).

-Esta mulher tinha na testa escrito o nome “Mistério, a Grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da Terra” (Ap.17:5). É em Babel que surge este sistema religioso enganador, que levou os homens à idolatria, à feitiçaria e até à adoração de demônios e do próprio Satanás.

-Em seu livro, o pastor Abraão de Almeida bem discorre como todas as falsas religiões tiveram seu nascedouro em Babel, quando Ninrode se fez o primeiro governante a se divinizar, assim como sua mulher Semíramis e seu filho Tamuz e, como, dali por diante, se desenvolveram as várias religiões que existem no mundo, as quais todas têm, em comum, a rejeição ao único e verdadeiro Deus e a Seu Filho, Jesus Cristo.

-Este sistema religioso, aliás, não se circunscreveu aos gentios, mas encontrou guarida inclusive em Israel, como bem vemos nos dias do Senhor Jesus, em que fariseus e saduceus se uniram contra Cristo, a mostrar que esta religiosidade falsa já tinha fincado raízes mesmo entre os israelitas, a ponto de eles, enquanto nação, terem rejeitado o Messias (Jo.1:11).

-O espírito da Babilônia, ademais, conseguiu infiltrar-se entre os que cristãos se dizem ser e também fincou raízes no que se denominou de Cristandade, gerando uma grande apostasia espiritual, de que o principal segmento é, indubitavelmente, a Igreja Católica Apostólica Romana, que, como bem ensinam muitos estudiosos das Escrituras, como os pastores Abraão de Almeida(1939- ), José Serafim de Oliveira(1940- ) e Dave Hunt (1916-2013), encaixa-se perfeitamente na descrição da mulher de Apocalipse 17.

-É este espírito, aliás, que está forjando a chamada Nova Era, este movimento que passou a defender a união das religiões e que deu impulso ao chamado diálogo inter-religioso, que hoje tem alcançado grande acolhida no mundo e que já é a base da religião que sustentará a adoração ao Anticristo e a Satanás (Ap.9:20,21; 13:8,12; 16:2), religião, inclusive, que destruirá esta Cristandade apóstata que lhe serviu de instrumento para sua estruturação neste tempo do fim (Ap.17:15-18).

-Diante desta realidade, cumpre à Igreja de Cristo, por primeiro, saber que terá de conviver no mundo, assim como Abraão e os patriarcas viveram em Canaã com os seus ímpios habitantes.

-Esta convivência deve ser com independência, sem comprometimento, sem participação nos pecados e iniquidades, “no meio, porém à parte”, como dizia o saudoso pastor Eugênio de Jesus (1938-2022).

-A Igreja de Cristo deve sempre ter como objetivo retirar as pessoas do mundo, fazer com que creiam em Jesus e abandonem a vida de pecado e passem a crer em Jesus e na Sua Palavra.

-Como corpo de Cristo, a Igreja deve altissonantemente clamar de fora e pelas ruas levantar a sua voz, conclamando as pessoas a deixar a ignorância e cegueira espirituais e se arrepender e se converter, a fim de que recebam o Espírito Santo e o conhecimento da verdade (Cf. Pv.1:20-23).

-Este é o motivo pelo qual Jesus nos deixa neste mundo e, por isso mesmo, não podemos ter outra motivação senão a de levar a mensagem da salvação em Jesus Cristo aos perdidos.

Como diz o poeta sacro Severino Silva:

“O mundo está sem luz, sem paz, levemos paz, consolação, a quem na dor, no luto jaz, sem luz, sem paz, sem salvação” (estribilho do hino 162 da Harpa Cristã).

-A Igreja de Cristo deve estar bem consciente que a única garantia que tem enquanto aqui estiver é a de que terá aflições, que o mundo sempre a aborrecerá e quererá o seu mal, que há uma luta incessante e, por isso, deve revestir-se da armadura de Deus (Ef.6:10-18), portar as armas espirituais, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas (II Co.10:4-6).

-A Igreja de Cristo, tendo de estar devidamente preparada para esta batalha, tem de estar sempre em cada vez mais intensa vida espiritual, crescendo na graça e conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Pe.3:18), tendo uma vida de contínua santificação, buscando conhecer as Escrituras e o poder de Deus (Mt.22:29), ou seja, estudando e meditando na Bíblia Sagrada, orando, jejuando, buscando o revestimento de poder (batismo com o Espírito Santo), os dons espirituais, servindo a Deus e vivendo separado do pecado. Somente assim não sucumbiremos diante dos ataques do mundo. Temos feito isto?

 

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9348-licao-1-a-igreja-diante-do-espirito-da-babilonia-i

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