Lição 1: Apocalipse, a revelação de Jesus Cristo
- A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Neste segundo trimestre letivo de 2012, após termos enfrentado um tema doutrinário, estudaremos um livro do Novo Testamento, o livro do Apocalipse, ainda que de uma forma não sistemática, já que
9 (nove) das 13 (treze) lições são dedicadas aos três primeiros capítulos do livro, que nos falam de revelações de Cristo para o tempo da dispensação da graça, e apenas
4 (quatro) lições abordarão a parte mais substanciosa do livro, que envolve os capítulos 4 a 22, que nos falam da Grande Tribulação, do Milênio e do Estado Eterno.
Assim, embora o título do trimestre dê a entender que o estudo se resumiria aos três primeiros capítulos do Apocalipse, que se referem ao tempo da Igreja sobre a face da Terra, o fato é que há quatro lições que, de forma bem sucinta, procuram englobar a maior parte do livro do Apocalipse, algo que faz com que se tenha um certo hibridismo no trimestre letivo.
Conforme já anunciado no Portal Escola Dominical, procuraremos, mediante estudos em vídeo, trazer maiores subsídios aos amados irmãos e amigos a respeito do livro do Apocalipse, um livro que é, por muitos, evitado, mas que, como se encontra nas Escrituras, precisa ser bem estudado, até porque, além de ser o único livro profético do Novo Testamento, está vinculado a um ponto primordial de nossa fé, qual seja, a esperança da glória, da vitória completa de Cristo, de um novo céu e nova terra onde habita a justiça.
A capa da revista deste trimestre apresenta-nos uma Bíblia aberta e sobre ela uma chave, a nos lembrar que a Palavra de Deus é a única chave que nos abre o futuro, que nos permite saber o que está para acontecer.
Esta chave, também, nos faz lembrar o que o Senhor Jesus disse ao anjo da igreja de Filadélfia, identificando-Se como Aquele que tem a chave de Davi, Aquele que abre e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre (Ap.3:7).
Ao Se identificar desta maneira, o Senhor Jesus mostra que é o Senhor da história, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores (Ap.19:16),
Aquele que venceu a morte e o pecado e tem, nas Suas mãos, as chaves da morte e do inferno (Ap.1:18),
Aquele que tem o senhorio, pois “a chave de Davi” nada mais era que a chave que dava acesso aos tesouros reais em Judá (Is.22:22).
É por intermédio de Cristo que temos acesso aos tesouros celestiais que nós mesmos ajuntamos em nossa peregrinação terrena, local onde também se encontram os nossos corações (Mt.6:19-21).
Ao Se apresentar como vencedor, o Senhor Jesus mostra que está no controle de todas as coisas, tanto que vem ao Seu servo João e lhe revela “as coisas que brevemente devem acontecer” (Ap.1:1), a fim de que não haja qualquer dúvida por parte da Igreja de que, apesar de todas as aflições do tempo presente, a vitória é certa em o nome de Jesus.
A igreja de Filadélfia é, precisamente, a figura da Igreja dos dias do arrebatamento, da Igreja fiel que se encontrará com o Senhor nos ares e será livre da hora da tentação que há de vir sobre o mundo (Ap.3:10).
Ao estudarmos o livro do Apocalipse, entendamos que esta é a revelação d’Aquele que não pode ser vencido, é a mensagem d’Aquele que tem o controle sobre tudo e Aquele em que devemos confiar e Aquele a quem devemos obedecer para, também, participarmos da Sua vitória.
Por isso, ao estudarmos o livro do Apocalipse, devemos estar conscientes que o propósito desta revelação é fazer com que cada um de nós possa estar com Cristo quando a luta terminar, a fim de que O possamos ver na glória Se alegrando da vitória e sermos coroados por Deus, como diz o poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão na estrofe do hino 212 da Harpa Cristã.
O trimestre letivo está dividido em três blocos.
O primeiro bloco é introdutório, havendo a apresentação do livro do Apocalipse (lição 1) e a visão do Cristo glorificado por João (lição 2), visão esta que introduz as cartas que o Senhor Jesus mandou para as sete igrejas da Ásia Menor, a primeira parte da revelação contida no último livro das Escrituras.
O segundo bloco abrange as sete cartas do título do trimestre, as missivas que o Senhor Jesus mandou aos pastores das igrejas da Ásia Menor, igrejas estas que, a um só tempo, simbolizam tanto as diferentes espécies de cristãos como também os seis períodos da história da Igreja. Este estudo abrange as lições 3 a 9.
O terceiro e último bloco do trimestre abrange um sucinto e brevíssimo olhar sobre o restante do livro do Apocalipse, contendo uma lição a respeito do governo do Anticristo, que reinará sobre o mundo durante a Grande Tribulação (lição 10), bem como uma lição que nos explicará como, mesmo durante este tenebroso período, o Evangelho continuará a ser pregado aos homens (lição 11).
Ainda neste bloco derradeiro, teremos uma lição a respeito do juízo final (lição 12) e outra sobre a formosa Jerusalém, o que o Senhor Jesus nos revelou sobre a cidade onde iremos morar (lição 13).
O comentarista deste trimestre é o pastor Claudionor Corrêa de Andrade, gerente de publicações da Casa Publicadora das Assembleias de Deus e que já comentou um trimestre letivo a respeito de escatologia em 2004 e é autor do Dicionário de Escatologia Bíblica, publicado pela CPAD.
Que, ao término deste trimestre, tenhamos podido estudar o livro do Apocalipse e ajudado muitos a vencer o preconceito e medo que têm de estudar este importante livro, que completa a revelação divina à humanidade e cujo conhecimento é fundamental para mantermos viva a nossa esperança, que é a vinda do Senhor Jesus.
B) LIÇÃO 1 – APOCALIPSE, A REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO
O livro do Apocalipse completa a revelação de Deus à humanidade e nos mostra as coisas que aconteceriam após o ministério de Jesus e de Seus apóstolos.
INTRODUÇÃO
– Neste trimestre, estudaremos o livro do Apocalipse, ainda que com ênfase nos seus três primeiros capítulos, que cuidam de um período onde a Igreja ainda estaria sobre a face da Terra após o ministério terreno de Jesus Cristo e de Seus apóstolos.
– No livro do Apocalipse, o Senhor Jesus revela o que restava à humanidade, a fim de que ninguém se dê por escusado no final dos tempos, quando da prestação de contas perante o Senhor.
I – O LIVRO DO APOCALIPSE
– Neste trimestre letivo, retomaremos o estudo de um livro das Escrituras, desta feita um livro do Novo Testamento, o livro do Apocalipse, ainda que com ênfase para os três primeiros capítulos, onde estão as cartas que o Senhor Jesus mandou que João escrevesse para as sete igrejas da Ásia Menor.
– O livro do Apocalipse é o livro profético do Novo Testamento, pois seu conteúdo, como diz o próprio livro em seu limiar é “a revelação de Jesus, a qual Deus lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer” (Ap.1:1), ou seja, o livro tem como objetivo revelar o futuro da Igreja e deste mundo.
– Por ser o único livro predominantemente profético do Novo Testamento, o Apocalipse sempre foi visto com alguma reserva pelos cristãos, não sendo poucos os que, ainda na atualidade, evitam ler o livro, por achá-lo “difícil”, “complicado”.
Há, mesmo, aqueles que sentem medo e evitam ler o livro, manuseando a sua Bíblia apenas de Gênesis a Judas.
– Na própria história da Igreja, vemos que o livro do Apocalipse sempre foi negligenciado, tendo havido, mesmo, certa resistência no reconhecimento de sua inspiração, sendo certo que o interesse em seu estudo aumentou consideravelmente somente a partir do século XIX, como fruto do chamado “dispensacionalismo”, iniciado por John Nelson Darby (1800-1882) e que é uma das raízes do movimento pentecostal.
– O livro do Apocalipse foi escrito pelo apóstolo João, como atesta o próprio livro (Ap.1:1,4,9; 22:8), escrito este que teve ter se dadoentre os anos 90 e 96, visto que o apóstolo João afirma que teve a revelação quando estava preso, por causa da Palavra de Deus, na ilha de Patmos, uma ilha situada no Mar Egeu, mar que separa a Grécia da Turquia, e
que era utilizada como uma espécie de “prisão de segurança máxima” daquela época, o que nos permite considerar que se estava durante a segunda grande perseguição do Império Romano contra os cristãos, o que se deu no reinado do imperador Domiciano (51-96, imperador de 81-96), que reinou precisamente neste período, o que explica o desterro do apóstolo naquela ilha, exatamente por ser, àquela altura, o único apóstolo do Senhor Jesus ainda vivo.
– O título do livro, a exemplo dos títulos hebraicos dos livros do Antigo Testamento, vem da sua primeira palavra, ou seja, “apokalupsis” (αποκαλυπσις), cujo significado é “revelação”, nome, aliás, que é adotado pelas versões em língua inglesa como também pela Tradução Novo Mundo das Testemunhas de Jeová.
O livro, também, é conhecido como “Apocalipse de São João” ou “Apocalipse de João”, título que é feito para distinguir o livro de outros “apocalipses”
apócrifos surgidos seja no período intertestamentário (Apocalipses de Baruque, Adão, Abraão, Moisés e Elias, entre outros),
seja nos primeiros séculos da história da Igreja (Apocalipses de Pedro, Tomé e Paulo, entre outros).
– Esta circunstância, aliás, mostra que, apesar de sua singularidade nas Escrituras, o Apocalipse pertence a um gênero literário que já havia se desenvolvido entre os judeus, que, no período intertestamentário, tiveram um reavivamento da esperança messiânica e da busca da compreensão do mundo vindouro a ser estabelecido pelo Messias.
– Entretanto, somente o “Apocalipse de João” foi inserido nas Escrituras, foi considerado como inspirado pelo Espírito Santo. Por quê? Basicamente por três motivos, a saber:
a) é o único “apocalipse” que não é pseudonímico, ou seja, não foi escrito por um autor que usou um pseudônimo, i.e., um nome falso, escondendo a sua verdadeira identidade.
Os “apocalipses” surgidos no período intertestamentário foram atribuídos a Adão, Abraão, Moisés, Elias e Baruque, ou seja, a personagens que já tinham morrido séculos e milênios antes da elaboração do livro.
Já os “apocalipses” do início da história da Igreja, atribuídos a Pedro Tomé e Paulo somente surgiram séculos depois da morte destes apóstolos, a indicar, também, o uso do pseudônimo.
Como pode ser reconhecido como inspirado pelo Espírito Santo, como parte das Escrituras que são a verdade (Jo.17:17), um livro em que o autor se esconde sob uma falsa identidade?
O Apocalipse de João, porém, além de identificar o autor, apresenta fatos históricos que confirmam a identidade do autor e já era conhecido nos anos bem próximos à sua elaboração, a mostrar que é autêntico.
b) as visões não trazem “novidades” em relação ao texto bíblico– ao contrário dos outros “apocalipses”, que trazem “revelações” e notícias que não se apresentam em parte alguma da Bíblia Sagrada, o Apocalipse de João, embora traga revelações, são revelações que se coadunam perfeitamente com o restante das Escrituras, a mostrar, pois, que, ao contrário dos “apocalipses” apócrifos, é fruto da inspiração do mesmo Espírito Santo que inspirou o restante da Bíblia.
c) há uma relação com o restante da Bíblia– ao contrário dos outros “apocalipses”, o Apocalipse de João mostra, claramente, que se trata de parte das Escrituras, tendo harmonia com o restante da Palavra de Deus, em especial com os livros de Gênesis e Daniel.
O Apocalipse de João complementa nitidamente as Escrituras, fechando com “chave de ouro” a revelação de Deus à humanidade.
– O livro do Apocalipse, ademais, insere-se dentro do contexto trazido pelo próprio Senhor Jesus no final de Seu ministério terreno.
O Senhor, em Suas últimas instruções, indicou que ainda havia coisas a relatar aos Seus discípulos (Jo.16:12), a mostrar que a revelação de Deus aos homens, que assumiu a sua forma final e perfeita no Filho de Deus feito homem (Hb.1:1), não terminaria com a ascensão de Cristo aos céus.
Tais relatos envolvem a produção do Novo Testamento, inclusive uma vinda especial de Cristo ao apóstolo João (Jo.21:22,23), que é precisamente o livro do Apocalipse (Ap.1:9,10). Esta circunstância, aliás, faz cair por terra a tese de que o João que seria o autor do livro seria outro que não o apóstolo.
– O livro do Apocalipse tem três propósitos nitidamente estabelecidos no seu próprio texto.
Em Ap.1:19, o próprio Jesus, glorificado, manda João escrever o livro e indica quais os objetivos do livro, a saber:
a) escrever as coisas “que tens visto”– era a visão do Cristo Glorificado. Como havia prometido ao apóstolo, Jesus veio para mostrar ao Seu discípulo amado o Seu atual estado após a ascensão, mas isto não era apenas para que João soubesse, mas que para escrevesse a todos os salvos, a fim de que tivéssemos renovada a esperança da glória;
b) escrever as coisas “que são”– além do Cristo Glorificado, João tinha visto outras coisas, a saber, as estrelas e os castiçais de ouro, que representavam as igrejas da Ásia Menor e os seus pastores, que ali tipificavam a “totalidade da Igreja”. João tinha de revelar aos salvos como o Senhor via a Sua Igreja e como seria a sua peregrinação perante a face da Terra;
c) escrever as coisas que “depois destas hão de acontecer”– O Senhor também iria revelar ao apóstolo o que aconteceria depois do tempo da Igreja sobre a face da Terra, quais os eventos que encerrariam a história humana nestes céus e terra.
– O livro do Apocalipse tem 22 capítulos e 404 versículos.
Segundo Finis Jennings Dake (1902-1987), contém
9 perguntas,
53 versículos de história,
10 versículos de profecias cumpridas e
341 versículos de profecias não cumpridas.
– Alguns estudiosos da Bíblia identificam o livro do Apocalipse à letra “tav” (ת), a última letra do alfabeto hebraico, cujo significado é de completude, consumação e selo.
Seria um dos três livros das Escrituras cuja mensagem é de “consumação”, o livro que encerra a revelação divina à humanidade e que estabelece o fim de todas as coisas, um verdadeiro contraponto ao “livro dos começos”, ou seja, o livro do Gênesis.
Por isso, aliás, podemos ter a convicção de que, com o Apocalipse, encerrou-se a Bíblia Sagrada e que nada mais resta a ser revelado ao homem por Deus no que toca à salvação e ao plano divino em relação à humanidade.
II – AS CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO DO LIVRO DO APOCALIPSE
– Como já se disse, o livro do Apocalipse sempre foi fruto de discussão e, mesmo, receio e negligência ao longo da história da Igreja, ante a circunstância de que se trata de um livro profético, cuja parte substanciosa é de eventos que ainda não se realizaram na história da humanidade.
– Em virtude desta conduta, que só há pouco mais de dois séculos de alterou (e não sem resistência), desenvolveram-se diversas correntes de interpretação do seu conteúdo, correntes estas que, no mais das vezes, revelam a própria perspectiva escatológica dos diversos segmentos da Cristandade.
– A primeira corrente de interpretação a que faremos alusão é a chamada “preterista”, ou seja, a que entende que o livro do Apocalipse é uma revelação dada ao apóstolo João para o contexto histórico do Império Romano.
Os eventos ali revelados cumpriram-se no passado, não tendo o Apocalipse, portanto, qualquer projeção para o futuro. Alguns menos radicais entendem que os capítulos 19 e 20 se refeririam ao futuro.
– Esta postura “preterista” não pode ser aceita. Quando vislumbramos Ap.1:19, notamos nitidamente que o Senhor Jesus fala de eventos presentes e eventos futuros, não havendo como se dizer que fatos descritos ao longo do livro já tenham ocorrido ao longo dos dias de João ou mesmo ao longo da história do Império Romano.
– A segunda corrente de interpretação é a chamada “historicista”, segundo a qual o livro do Apocalipse descreve a história da Igreja desde os dias de João até o fim da presente era, seria a revelação do tempo da Igreja sobre a face da Terra, que se concluiria com o retorno de Cristo e o estabelecimento de Seu reino.
– Esta postura também não pode ser aceita, visto que a Igreja, presente nos três primeiros capítulos do livro, desaparece completamente a partir do capítulo 4, somente voltando a ser mencionada, e não explicitamente como Igreja, a partir do capítulo 20.
Como poderia, então, o livro do Apocalipse ser o relato da história da Igreja se ela é ausente dos relatos em parte substanciosa do livro?
– A terceira corrente de interpretação é a chamada “idealista”, segundo a qual o livro é simbólico e expressa princípios espirituais, sem limites de tempo, concernentes ao embate do bem e do mal ao longo da história.
Seria um retrato da luta vivida pela Igreja ao longo de sua trajetória terrena, a luta que cada geração vivenciará até a consumação dos séculos.
– Esta postura também não pode ser aceita, pois o Senhor Jesus fala de “coisas que tens visto”, “coisas que são” e “coisas que depois destas hão de acontecer”.
Ainda que tenhamos simbolismo no livro, o que é, aliás, é próprio dos textos proféticos, não podemos dar ao Apocalipse uma interpretação puramente idealista, sem qualquer historicidade, pois seria o único livro profético cujos símbolos e figuras não se traduzissem em acontecimentos futuros, o que revela que não se pode acolher tal visão, pois “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (II Pe.2:20b).
Ademais, esta corrente também não esclarece o “sumiço” da Igreja a partir do capítulo 4 até o capítulo 19, inclusive, como já dito há pouco.
– A quarta corrente de interpretação é a futurista, ou seja, a que entende que o livro do Apocalipse trata de episódios futuros ao momento da revelação a João, como afirma Ap.1:1, “as coisas que brevemente devem acontecer”.
O livro de Apocalipse traz, portanto, a revelação do que resta acontecer na história da humanidade no que concerne ao plano de Deus para a salvação do homem, depois da encarnação e glorificação do Verbo.
– Esta corrente é a que deve ser aceita, porquanto é a que melhor se coaduna com o próprio texto do livro e com o restante das Escrituras.
No livro do Apocalipse, temos a revelação do que aconteceria no tempo da Igreja sobre a face da Terra e o que se sucederá após a retirada da Igreja daqui, quando, então, acontecerão os fatos profetizados em relação a Israel e às demais nações, desde o Antigo Testamento, fatos que ainda não se cumpriram.
– Esta linha de interpretação das Escrituras, além de levar em conta, como se deve fazer na hermenêutica bíblica, o sentido literal do texto em primeiro plano, também esclarece o “sumiço” da Igreja a partir do capítulo 4 do livro, além de ser a corrente que permite a perfeita adequação do livro do Apocalipse a todo o restante da Bíblia Sagrada.
– As Assembleias de Deus, denominação surgida no bojo do movimento pentecostal, que tem no “dispensacionalismo” uma de suas principais influências, adotam a linha futurista, linha esta que, a um só tempo, não só atende às exigências da hermenêutica bíblica, como também aos próprio objetivos traçados pelo Senhor nesta revelação, qual seja, a de manter os salvos conscientes da proximidade da Sua vinda e da esperança da nossa fé.
III – O ESBOÇO DO LIVRO DO APOCALIPSE
– Verificada a linha de interpretação que será adotada no estudo do livro do Apocalipse, torna-se importante traçarmos aqui, ainda que de forma breve e sucinta, um esboço do livro, a fim de que o mesmo seja devidamente compreendido.
Uma das grandes dificuldades encontradas pelos leitores do Apocalipse é, precisamente, a falta de conhecimento a respeito da estrutura do livro.
– Seguindo os melhores estudiosos do livro, podemos dividir o livro do Apocalipse em oito partes, a saber:
a) Introdução (Ap.1:1-8) – É a abertura do livro, em que o livro é identificado como sendo a “revelação de Jesus Cristo”, bem como seu autor é identificado como sendo o apóstolo João.
b) A visão do Senhor Glorificado(Ap.1:9-20) – O apóstolo João narra a “vinda do Senhor Jesus” até ele, em cumprimento ao que fora profetizado por Cristo em Jo.21:22,23, a fim de se mostrar que Aquele que faz a revelação é o Cristo Glorificado, o vencedor sobre o pecado e sobre a morte.
c) As mensagens do Senhor às sete igrejas da Ásia Menor(Ap.2-3) – João registra as cartas que o Senhor Jesus mandou às sete igrejas da Ásia Menor, que são aqui tipos da “totalidade da Igreja”.
Revela-se, nesta oportunidade, como será a história da Igreja sobre a face da Terra. É a esta porção do livro que se dedicará a maior parte deste trimestre.
d) Os sete selos (Ap.4:1-8:6) – Após as mensagens às igrejas, a Igreja desaparece da narrativa. João é levado ao céu, onde vê um livro selado com sete selos. Estes selos são abertos pelo Senhor Jesus e se revela, então, o que irá acontecer após o período da Igreja sobre a face da Terra, manifesta-se a “ira do Cordeiro” (Ap.6:16). Aqui temos o primeiro evento parentético, no capítulo 7, onde são descritas as duas multidões.
e) As sete trombetas(Ap.8:7-11:19) – O sétimo selo, ao ser aberto, revela sete trombetas, trazendo sete juízos sobre os moradores da Terra. Além da descrição das trombetas, temos o segundo evento parentético, que vai de Ap.10:1 até 11:14, onde se fala a respeito do episódio do anjo e do livrinho, como também das duas testemunhas.
f) O conflito entre Deus e o inimigo(Ap.12-19) – Após a revelação da sétima trombeta, o livro do Apocalipse passa a descrever o conflito que haverá entre Deus e o inimigo neste período.
São apresentadas algumas personagens proeminentes deste conflito: a mulher e o dragão, as duas bestas e os cento e quarenta e quatro mil remidos.
Há, depois, um terceiro evento parentético, em que há o anúncio do juízo de Deus sobre a Terra (Ap.14:6-15:8), que é seguido do anúncio das sete taças da consumação da ira de Deus.
Por fim, é revelada a queda de Babilônia, tanto no aspecto religioso quanto comercial (Ap.17 e 18), como também a vitória de Cristo sobre as forças do mal (Ap.19).
g) O resultado do conflito (Ap.20) – Nesta porção, composta de um só capítulo, é revelado que, ante a vitória de Cristo sobre o mal, é instituído do reino milenial de Cristo, com a prisão de Satanás, mas também é anunciado que, ao término dos mil anos, o diabo é solto e volta a enganar as nações, havendo a rebelião final, que é prontamente debelada, sendo então extintos os atuais céus e terra, bem como realizado o Juízo do Trono Branco.
h) Os novos céus e a nova terra (Ap.21-22) – O livro termina com a descrição dos novos céus e terra que são instaurados, em especial da nova Jerusalém onde o Senhor conviverá para sempre com o Seu povo.
– Como se pode perceber pela exposição brevíssima deste esboço do livro, temos, no Apocalipse, por primeiro, a visão do Cristo Glorificado e, com base nesta visão, as mensagens às sete igrejas da Ásia Menor.
Depois, a Igreja desaparece da narrativa, sendo João arrebatado em espírito ao céu onde assiste à abertura dos sete selos, onde se revela o futuro do mundo após a Igreja.
– Após a divulgação dos seis primeiros selos, temos um “evento parentético”, ou seja, um “parêntese” na sequência do livro, com a descrição das “duas multidões”.
Reside aqui uma das dificuldades na compreensão do livro, ou seja, a presença de “parênteses”, ou seja, de episódios que não estão diretamente relacionados com a sequência narrativa.
A identificação destes “eventos parentéticos” é de importância vital para o entendimento do livro, para que, como diz o povo, “não se perca o fio da meada”.
– Retomada a sequência narrativa, é revelado o sétimo selo, que consiste em sete trombetas, que representam os juízos de Deus sobre a Terra por ter rejeitado ao Senhor Jesus.
Após a sexta trombeta, seguindo-se a mesma estrutura já observado após o sexto selo, há um novo “parêntese”, quando é registrada a experiência que o apóstolo teve com o anjo e o livrinho que lhe dado a comer, bem como se fala a respeito das duas testemunhas.
– Segue-se, então, a narrativa da sétima trombeta, quando há o anúncio da vitória de Cristo sobre todos os reinos do mundo. A partir de então, o livro do Apocalipse irá mostrar “como” se dará esta vitória, minudenciando, assim, os fatos até então mencionados na revelação.
– Esta forma como se dará a vitória de Cristo é mostrada como um conflito que se desencadeará na face da Terra entre Deus e as forças do mal, capitaneadas pelo diabo. Por isso, o capítulo 12 começa mostrando a precipitação do diabo sobre a face da Terra e a sua luta contra Israel, o povo de Deus que permanece na Terra após o “sumiço” da Igreja.
– Após a revelação de que há uma luta diabólica contra Israel, que será preservado pelo Senhor neste período, a revelação prossegue, no capítulo 13, com a identificação de duas personagens que serão estratégicas para esta ação maligna contra os israelitas, a saber, as duas bestas, a que sobe do mar e a que sobe da terra.
– Em seguida, no capítulo 14:1-5, ainda na descrição de como se dará o conflito entre Deus e as forças do mal, é mostrado que haverá um povo que servirá ao Senhor mesmo durante este período, mesmo após o “sumiço” da Igreja, a partir dos cento e quarenta e quatro mil, que, aliás, já haviam sido apresentados no primeiro parêntese do livro, no capítulo 7.
– Após a apresentação das personagens do conflito, temos um terceiro “parêntese” em a narrativa, quando três anjos proclamam os juízos de Deus sobre a Terra, o chamado “evangelho eterno”, quando é revelado que se dará a derradeira chance para aquela humanidade impenitente render-se ao Senhor (Ap.14:6-15:8).
– Este juízo derradeiro, então, passa a ser descrito, por intermédio das chamadas “sete taças da ira de Deus” (Ap.16), da “queda da grande prostituta” (Ap.17), da “queda da grande Babilônia” (Ap.18) e, por fim, da vitória de Cristo sobre as duas bestas (Ap.19).
– O resultado da vitória de Cristo é o Seu reino milenial e, posteriormente a ele, a derrota definitiva do diabo, com o término dos atuais céus e terra e o Juízo Final (Ap.20), seguindo-se, então, a descrição dos novos céus e terra, com recomendações finais aos salvos para que perseverem até o fim (Ap.21-22).
– O estudo do livro do Apocalipse mostra-se, assim, importante, não para que se “descubram” os fatos que estão por vir, muito menos para a satisfação de uma curiosidade.
A revelação de Jesus à Sua Igreja a respeito do futuro visa algo muito mais profundo do que a mera informação.
Temos aqui o cumprimento do que o Senhor havia dito em Suas últimas instruções, ou seja, de que a Igreja não era apenas composta de servos, mas de “amigos”, pois tudo quanto ouvira de Seu Pai nos tem feito conhecer (Jo.15:15).
– Ao Se mostrar a João como o Senhor Glorificado, num instante extremamente difícil da vida do apóstolo, solitário, idoso e em meio a uma cruel perseguição, Cristo Jesus quis mostrar que está sempre ao lado daqueles que O amam e O temem e que, apesar das aflições que temos neste mundo (Jo.16:33), algo melhor nos está reservado.
– No livro do Apocalipse, mais do que nos dizer o que vai acontecer, o Senhor Jesus quis comprovar à Igreja de que Ele venceu a morte e o pecado e que, por isso, nós também podemos vencer.
– No livro do Apocalipse, mais do que nos dizer o que vai acontecer, o Senhor Jesus quis comprovar à Igreja que Ele é o Senhor da história e que está no controle de todas as coisas, mesmo aquelas em que parece que o mal vai triunfar.
– No livro do Apocalipse, mais do que nos dizer o que vai acontecer, o Senhor Jesus quis comprovar à Igreja que Ele é fiel e que, portanto, não só não deixará a Igreja passar pelo tempo da ira futura (I Ts.1:10), como também, apesar de rejeitado por Israel, mantém Seu compromisso com aquele povo, impedindo a Sua destruição por parte de Satanás e promovendo a salvação do “remanescente” (Rm.11:26).
– No livro do Apocalipse, mais do que nos dizer o que vai acontecer, o Senhor Jesus quis comprovar à Igreja que vale a pena esperá-l’O e que devemos estar vigilantes e prontos para encontrá-l’O nas nuvens, pois o futuro da humanidade é tenebroso se rejeitarem a salvação em Jesus Cristo.
– Por isso, estudemos com afinco o livro do Apocalipse, sem preconceitos, temores infundados ou, mesmo, preguiça intelectual.
Este livro, que encerra a Bíblia Sagrada, é um importante instrumento para nos mantermos esperançosos em meio aos dias difíceis em que vivemos, a forma pela qual o Senhor, na Sua revelação, quis que tivéssemos nossos corações e mentes unidos ao Espírito Santo na oração registrada neste livro: “Ora vem, Senhor Jesus”! (Ap.22:20).
Ev. Prof. Dr.Caramuru Afonso Francisco