Lição 10: Há um milagre em sua casa
Os sinais no ministério de Eliseu evidenciam que milagre é feito em virtude do amor de Deus ao homem e da necessidade de o homem glorificar a Deus.
INTRODUÇÃO
– Iniciamos o segundo bloco do trimestre, dedicado ao ministério do profeta Eliseu, que fez o dobro de milagres que Elias.
– O milagre, entendemos no ministério de Eliseu, é uma demonstração do amor de Deus ao homem, mas também da necessidade que o homem tem de glorificar a Deus.
I – O QUE É E QUAL A FINALIDADE DO MILAGRE NA OBRA DE DEUS
– Estamos dando início ao segundo e último bloco deste trimestre, dedicado ao estudo do ministério do profeta Eliseu.
Por ter Eliseu se sobressaído na história sagrada como o profeta que mais milagres fez em Israel depois de Moisés, entendeu nosso comentarista de, na primeira lição, sem observar a ordem cronológica, estudar o milagre da multiplicação do azeite da viúva de um dos filhos dos profetas pela instrumentalidade de Eliseu, a fim de que tenhamos ideia do significado dos milagres na obra de Deus.
– O milagre é elemento indispensável na obra de Deus, pois, através dele, percebemos que Deus intervém na ordem natural das coisas por amor ao homem, sente por ele compaixão.
É um dado que confirma que Deus ama o ser humano e que está disposto a salvá-lo. Não é à toa que o profeta cujo nome significa “Deus é salvação” ou “Deus salva” (Eliseu) tenha sido o profeta que mais milagres fez no Antigo Testamento depois de Moisés.
– No entanto, embora seja elemento indispensável e necessário para a realização da obra de Deus, o milagre não vale em si mesmo, não pode ser considerado separadamente, nem como elemento autenticador isolado da presença e do agrado de Deus no ministério de alguém. Faz-se absolutamente necessário que o milagre sirva para a glorificação do Senhor e como sinal confirmador da Sua Palavra.
– “Milagre” é uma palavra de origem latina, de “miraculum”, “algo espantoso, admirável, extraordinário”. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “ato ou acontecimento fora do comum, inexplicável pelas leis naturais”.
Na Bíblia On Line da Sociedade Bíblica do Brasil, milagre é conceituado como “fato ou acontecimento fora do comum, que Deus realiza para confirmar o Seu poder, o Seu amor e a Sua mensagem.”
OBS: É interessante a definição dada por um texto islâmico de milagre que, por sua biblicidade, aqui transcrevemos: “Um milagre é definido como um acontecimento extraordinário que não seria possível sob condições normais e que é realizado por Deus através dos Profetas que Ele enviou como Seus Representantes para confirmar sua veracidade.…” (ZIAD, Mohamad. Que é um milagre? Disponível em: http://br.geocities.com/slidesislamicos/jesus_missao1.htm Acesso em 10 jan. 2008)
– A palavra “milagre”, na Versão Almeida Revista e Corrigida, surge apenas seis vezes (Ex.7:9; Mc.6:52;9:39; Jo.4:54; 6:14 e At.4:22), mas a Bíblia registra, no Antigo Testamento, 67 milagres e, em o NovoTestamento, 20 milagres dos discípulos de Jesus, além de descrever 36 milagres de Jesus, embora faça menção a milagres do Senhor em outras 17 oportunidades, sem mencionar os milagres não registrados.
Os milagres, entretanto, nem sempre são traduzidos para “milagre”, sendo comum o emprego de outras palavras como “maravilhas”, “sinais”, “prodígios” e “obras”.
– Em Ex. 7:9, a palavra “milagre” é tradução do hebraico “môphet” (מןפת), cujo significado é, precisamente, o de “algo admirável”, “uma demonstração do poder de Deus”.
Em Mc. 9:39, a palavra “milagre” é tradução de “dynamis” (δύναμις), que tem o significado de “poder”, “poder em ação”, enquanto que, nas outras três referências (Jo.4:54; 6:14 e At.4:22), a palavra “milagre” é tradução de “semeion” (σημειον), cujo significado é “sinal”, “marca”, “acontecimento extraordinário, incomum que manifesta que alguém é vindo da parte de Deus”.
OBS: Não fizemos menção de Mc.6:52, pois a palavra “milagre”, neste texto, não se encontra no original, tanto que está em itálico na Bíblia, pois é um acréscimo feito pelo tradutor para que o texto tivesse sentido claro na língua portuguesa.
– O que se percebe, pois, é que “milagre” é um acontecimento que causa admiração, que não é comum.
Por quê? Porque é um fato que foge à explicação das leis naturais, é uma ocorrência que não se consegue explicar, que aparentemente contradiz a ordem natural das coisas.
Por isso, o milagre é uma demonstração de que Deus criou o mundo, não Se confunde com a Sua criação e, além disso, participa desta criação, fazendo intervenções que modificam as leis por Ele mesmo estabelecidas, quando isto é da Sua vontade e atende aos Seus sublimes propósitos.
– Não é por outro motivo, aliás, que os que não reconhecem a existência de Deus (ateus), ou entendem que Deus e natureza se confundem (panteístas) ou, então, que Deus, embora seja distinto da natureza, nela não intervém (deístas) sejam, também, pessoas que não admitem a existência de milagres, incluídos nestes grupos, pasmemos todos, até supostos “evangélicos” e “teólogos”.
– Usando de argumentos aparentemente lógicos, muitos dizem não ser possível a existência de milagres, pois, sendo Deus imutável e não contradizente, não poderia mudar as leis que criou.
Se o milagre é uma mudança, uma alteração das leis da natureza, um acontecimento extraordinário, fora do normal, tem-se que não pode existir, diante da imutabilidade de Deus.
Assim, ou o milagre é um acontecimento natural, que o homem não tem conhecimento suficiente para explicar e, portanto, rigorosamente não é um milagre, mas um fato natural que o homem, por ignorância, não sabe explicar, ou, então, é apenas uma fantasia, uma ilusão, pois Deus não pode negar-Se a Si mesmo e, portanto, não pode modificar as leis que criou.
– Este argumento, que não é novo, mas se encontra muito em voga em nossos dias, notadamente naquilo que o pastor Ciro Sanches Zibordi denominou de “evangelho filosófico” e “evangelho teologicocêntrico”, embora tenha a sua lógica, não corresponde à verdade dos fatos.
Por primeiro, a própria ciência admite a sua insuficiência e precariedade, tanto que muitos filósofos da ciência estão a dizer que a “verdade científica” é, por natureza, “provisória”.
Se assim é, não há como considerar que a ciência possa invalidar os milagres ou negá-los, se admite a sua própria ignorância sobre tudo o que ocorre no universo. Como dizia Shakespeare, “há entre os céus e a terra mais mistérios do que possa imaginar a nossa vã filosofia”.
Assim, como considerar que os milagres não existem porque não se podem violar as leis naturais, se nem conhecemos estas mesmas leis?
OBS: “…Enquanto o evangelho teologicocêntrico (…) se fundamenta no que os teólogos dizem de Deus e Sua obra, o filosófico se baseia no conhecimento adquirido por meio do exercício do raciocínio humano.
No entanto, estes evangelhos se misturam, haja vista terem como principal característica a negação parcial das verdades da Palavra de Deus…” (ZIBORDI, Ciro Sanches. Evangelhos que Paulo jamais pregaria, p.117).
– Por segundo, este raciocínio parte do princípio de que Deus não pode mudar as leis que estabeleceu, como se a criação não tivesse como pressuposto o fato de que o Criador é o dono da criação (Sl.24:1).
Ora, a soberania divina não pode ser anulada pelo Senhor, pois Ele não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13).
Portanto, a intervenção de Deus na criação é sempre uma possibilidade, pois Deus está acima da criação, visto que ela Lhe é sujeita (I Co.15:27,28).
Deus tem propósitos que, ou nos são revelados, ou permanecem ocultos para nós, mas o fato é que, para cumpri-los, mantendo a Sua fidelidade e senhorio, sem qualquer dificuldade altera as leis naturais, pois acima delas está o caráter divino e a Sua soberania.
Tanto assim é que este universo desaparecerá (Ap.21:1), para que o Senhor cumpra o Seu propósito de habitar com os homens num ambiente sem qualquer injustiça (Ap.21:3).
OBS: “…Deus indica, com os milagres, os limites do conhecimento e a tecnologia que o gênero humano pode alcançar.
A diferença entre um milagre e os avanços tecnológico-científicos é que, enquanto os Profetas são capazes de realizar milagres sem instrumentos ou tecnologia, as pessoas simples e normais podem ter sucesso em atos similares somente com ajuda do material e a tecnologia que eles produziram.…” (ZIAD, Mohamad. op.cit.)
– Os milagres existem, pois estão narrados na Bíblia Sagrada, que é a verdade (Jo.17:17), sendo, ademais, uma demonstração de que Deus não só existe, é distinto da Sua criação, como também é um participante dela.
Os milagres mostram, assim, a participação divina na criação e, mui especialmente, na vida dos seres humanos, a coroa da criação terrena. São uma prova do desejo de Deus de nos fazer companhia e de estabelecermos com Ele um relacionamento pessoal e eterno.
OBS: Por sua biblicidade, transcrevemos aqui o que diz a respeito o Catecismo da Igreja Romana: “156.
O motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz de nossa razão natural. Cremos ‘por causa da autoridade de Deus que revela e que não pode nem enganar-se nem enganar-nos’. ‘
Todavia, para que o obséquio de nossa fé fosse conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados das provas exteriores de sua Revelação.
Por isso, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, sua fecundidade e estabilidade ‘constituem sinais certíssimos da Revelação, adaptados à inteligência de todos’, ‘motivos de credibilidade’ que mostram que o assentimento da fé não é ‘de modo algum um movimento cego do espírito’.
– Assim, não é coincidência que os ministérios de Elias e de Eliseu tenham sido caracterizados pela ocorrência de sinais, prodígios e maravilhas.
Conforme temos visto ao longo do trimestre, estes dois homens de Deus foram levantados para promover a restauração espiritual do povo de Israel e a presença de sinais era uma demonstração do amor de Deus para com o povo, algo fundamental para que Israel voltasse a servir ao Senhor.
Ambos os profetas realizaram, conjuntamente, 21 sinais, sendo 7 de Elias e 14 de Eliseu, a saber:
Milagres de Elias
1. Orou para não chover (I Rs.17:1; Tg 5:17)
2. Aumentou o azeite e farinha da viúva (I Rs.17:14,16);
3. Deu vida ao filho da viúva de Sarepta de Sidom (I Rs.17:21-23)
4.Orou para chover (I Rs.18:42,45; Tg.5:17)
5. Orou e 51 homens são consumidos pelo fogo (II Rs. 1:10)
6. Orou e mais 51 homens são consumidos pelo fogo (II Rs.1:17)
7. Com sua capa abriu o rio Jordão (II Rs. 2:8)
Milagres de Eliseu
1. Abriu o rio Jordão (II Rs.2:14)
2. Sarou as águas de Jericó (II Rs.2:22-23)
3. 42 adolescentes despedaçados por duas ursas (II Rs. 23:24)
4. Providenciou água a três reis e seus exércitos (II Reis 3:15, 16, 20)
5. Aumentou o azeite da viúva de um dos filhos dos profetas (II Rs. 4:6,7)
6. Ressuscitou o filho da sunamita (II Rs. 4:19,35)
7. Tirou a morte da panela (II Rs.4:41)
8. A multiplicação dos pães (II Rs.4:42-44)
9. Curou Naamã da lepra (II Rs. 5:14)
10.Colocou lepra de Naamã em Geazi, seu auxiliar (II Rs.5:27)
11. Fez flutuar um machado (II Rs.6: 6,7)
12. Cegou o siros (II Rs. 6:18)
13. Devolveu-lhes a visão (II Rs.6:20)
14. Depois de morto ressuscitou um defunto (II Rs.13:21).
Fonte em que se baseou a listagem: VILLON, Samuel. Elias e Eliseu – Unção dobrada. Disponível em:http://teologiatotal.blogspot.com.br/2010/07/elias-e-eliseu-uncao-dobrada.html Acesso em 02 jan. 2013.
– A ocorrência de sinais nos ministérios de Elias e de Eliseu, portanto, tinha o propósito de mostrar a Israel que, ao contrário do que eles pensavam, o Senhor estava, sim, interessado no dia-a-dia dos Seusfilhos na terra de Canaã, o Senhor os amava e queria que eles O servissem em retribuição a este amor incondicional.
– Em vez de um “toma-lá-dá-cá” que caracterizava o culto a Baal, como, aliás, todas as religiões politeístas, em que a divindade somente agiria em favor do homem se fosse devidamente “presenteado” pelo ser humano por meio de ofertas e sacrifícios, o Senhor mostrava, através dos milagres, que tinha o absoluto controle de todas as coisas, que não dependia do homem para fazer algo, mas que estava interessado em ter com o homem comunhão, exigindo-lhe apenas a santidade e a adoração.
– Da mesma forma, nos dias em que vivemos, o Evangelho precisa ser confirmado com sinais e maravilhas, para que, de forma concreta, o homem veja que o Senhor não está distante de nós, ama-nos e quer que O sirvamos de todo o nosso coração, precisamente para que com Ele possamos desfrutar de uma eternidade de delícias e de glória.
II – UMA VIÚVA DE UM DOS FILHOS DOS PROFETAS VAI À PRESENÇA DO PROFETA ELISEU
– Depois de termos visto o papel do milagre, vamos, então, estudar o milagre que o nosso comentarista selecionou para analisarmos nesta lição, saindo, assim, da ordem cronológica, já que este é o quinto milagre de Eliseu mencionado nas Escrituras Sagradas.
– Após ter ganhado notoriedade nacional por ter milagrosamente obtido água para os exércitos de Israel, Judá e Edom na guerra que eles empreendiam contra Moabe e, portanto, ter sedimentado a sua condição de sucessor de Elias, o profeta Eliseu se vê envolvido em uma situação assaz delicada.
– A Bíblia diz que uma mulher das mulheres dos filhos dos profetas foi ao encontro do profeta para clamar-lhe pois se encontrava em uma situação extremamente delicada.
Seu marido havia morrido e deixado dívidas que eram impagáveis e, por isso, os credores estavam para levar os seus filhos como escravos, em pagamento da dívida (II Rs.4:1).
– A tradição judaica diz que este “filho dos profetas” seria Obadias, o mordomo do rei Acabe, que teria contraído as referidas dívidas quando da longa seca sobre Israel, a fim de que sustentasse os cem profetas do Senhor (cfr. I Rs.18:4,13).
É o que afirma o historiador judeu Flávio Josefo, em trecho que transcrevemos:
“…A viúva de Obadias, mordomo do rei Acabe, veio dizer ao profeta que não tendo meios de restituir o dinheiro que seu marido tinha emprestado para alimentar os cem profetas que certamente sabia ter ele salvo da perseguição de Jezabel, seus credores queriam tomá-la como escrava e aos seus filhos também.
E na dificuldade em que se encontrava recorrera a ele e rogava-lhe que tivesse piedade dela.…” (Antiguidades Judaicas IX, 2, 378. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.202).
– Por primeiro, é importante observar que a dívida de que se trata aqui é, mesmo, do finado marido, um filho de profeta que temia ao Senhor.
Desta maneira, vemos, de pronto, que o fato de alguém morrer deixando dívidas não quer dizer que se tratava de uma pessoa ímpia ou amaldiçoada, como defendem os falsos ensinadores da teologia da prosperidade.
Ter dívidas não significa que a pessoa está em pecado. Aquele homem morreu devendo, mas era servo de Deus.
– Por segundo, vemos, também, que, embora ter dívidas não seja um elemento que comprometa a salvação de alguém, é, certamente, uma situação que se deve evitar ao máximo, pois causa danos a terceiros que, muitas vezes, sofrerão por causa de nosso mau planejamento.
Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo recomenda que não devamos dever nada a não ser o amor (Rm.13:8).
– Em dias de consumismo desenfreado, em que as pessoas são avaliadas pelo que compram e adquirem, é essencial que os servos do Senhor, que amam a Deus e não às riquezas (Mt.6:24), fujam deste laço maligno e não comprometam o seu orçamento com futilidades e coisas desnecessárias,
que somente causarão males aos seus familiares, caso ocorra uma situação como a que enfrentava aquela viúva, ou seja, a morte daquele que sustentava a casa e que deveria providenciar o pagamento das dívidas.
– Deve-se, aliás, verificar que, em sendo acolhida a versão da tradição judaica, a dívida contraída tinha por objetivo salvar a vida de servos de Deus, era uma atitude que visava o bem-estar da obra de Deus, levava em conta pessoas e não, coisas, tinha em vista o amor ao próximo e não o sentimento egoísta que vemos no consumismo de nossos dias, de sorte que também não serve este episódio como justificativa ou desculpa para comportamentos totalmente contrários à vontade de Deus como vemos em nossos dias.
Como afirma o comentarista bíblico Matthew Henry (1662-1714): “…ele morreu pobre e devia mais do que possuía.
Ele não contraiu suas dívidas por prodigalidade, luxúria ou uma vida devassa, porque ele era alguém que temia o Senhor e, portanto, não se atreveu permitir a si mesmo tais condutas:
mas não somente isto, a religião obriga os homens a não viver acima do que têm, nem gastar mais do que Deus os dá, não, não em despesas, ainda que legítimas…” (Comentário bíblico completo. I Rs.4:1-7. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/2-kings/4.html Acesso em 02 jan. 2013) (tradução nossa de texto original em inglês).
– Diz a Bíblia que devemos o amor às pessoas e este amor nos leva a ajudar os necessitados (I Jo.3:16-18) e era isto o que havia feito o finado marido daquela viúva.
Assim, a dívida material era decorrência da dívida de amor e, por isso, é que o Senhor interveio, através do profeta, para solucionar a questão, pois o Senhor honra aqueles que O honram (I Sm.2:30).
Não há, pois, qualquer base bíblica para se utilizar esta passagem para devedores que se endividaram única e exclusivamente por amor próprio, por egoísmo e desejo de desfrutar de prazeres e conforto que não estavam ao alcance de seu nível econômico-financeiro.
– Há uma interpretação segundo a qual a dívida seria da mulher que, diante da viuvez, teria feito dívidas que não teria conseguido honrar e daí a situação que estava a passar. Entendem os que assim pensam que não seria possível que um homem temente a Deus deixasse sua casa em má situação econômico-financeira.
– Com o devido respeito a quem assim pensa, não compartilhamos deste raciocínio, por duas razões, a saber:
a primeira é que a tradição judaica entende que a dívida era do marido e, mais ainda, de Obadias, o mordomo do rei Acabe, a indicar a razão sublime de tal endividamento;
a segunda é que a viúva não teria condições de causar tal endividamento, diante da situação da mulher naquele tempo, que torna irrazoável pensar que pudesse ter crédito na praça, naquela condição, para causar um tão grande endividamento.
– Por terceiro, esta circunstância mostra-nos, também, que, ainda que tementes a Deus, não podemos fugir da realidade de que nossa vida sobre a face da Terra é temporária e não temos como assegurar que viveremos até tal tempo ou até tal época.
A morte, quase sempre, vem inesperadamente a cada um de nós e, por isso, cientes desta condição do ser humano, temos de ter cuidado para que, em vindo a morte, não venhamos a desamparar de um dia para outro os nossos familiares, aqueles que dependem de nós para a sua sobrevivência.
– Assim sendo, devemos cuidar para que haja sempre uma reserva financeira para a subsistência imediata de nossos familiares, de nossos dependentes, em havendo a nossa falta.
Muitos interpretam erroneamente a fala de Cristo Jesus dizendo que “basta a cada dia o seu mal” (Mt.6:34), como sendo uma “senha” de Nosso Senhor para que não poupe, para que não haja a formação de um patrimônio para ser usufruído no dia da adversidade. Nada mais falso, porém!
– A Bíblia Sagrada diz claramente que os servos do Senhor devem ser previdentes, prudentes e isto inclui a formação de um patrimônio que possa ser desfrutado em momentos de adversidade, até porque o dia da adversidade é uma realidade na vida de todo ser humano sobre a face da Terra, inclusive para que saibamos do caráter passageiro que temos nesta vida (Ec.7:14).
– Como se não bastasse isso, o proverbista ensina-nos que devemos observar as formigas, imitando-as, para que saibamos armazenar no momento da prosperidade para que, quando da adversidade, não venhamos a sofrer carências e necessidades (Pv.30:25).
– Por fim, a atitude previdente e prudente de armazenarmos o necessário para o dia da adversidade quando estamos no momento da prosperidade revela, sobretudo, o amor que temos ao próximo, é uma demonstração da dívida de amor que temos para com os outros, em especial, dos nossos familiares, pois quem não cuida dos seus é pior do que o infiel (I Tm.5:8).
Não se trata de uma inquietação pelo futuro, de falta de confiança em Deus, mas, sobretudo, de reconhecimento de que Deus tanto cuida de nós que nos providencia que tenhamos alguma sobra nos dias da abastança para que seja utilizada no dia da adversidade, como é o dia em que o arrimo de família parte para a eternidade para os seus familiares.
– Por quarto, é importante verificar que a viúva vai até Eliseu não para denunciar uma injustiça, mas para pedir a compaixão do profeta, uma orientação, visto que a situação em que se encontrava era plenamente coberta pela lei de Moisés.
– A escravidão por dívidas era permitida na lei mosaica, sendo, aliás, o único caso em que se permitia a escravidão de israelitas, escravidão esta que deveria durar seis anos (Ex.21:2-6; Jr.34:8-11; Ne.5:1-5).
Desta maneira, não se podia dizer que os credores da viúva estavam sendo injustos, conquanto, sem dúvida, não estivessem a exercitar o amor e a misericórdia. Mas o fato é que estavam dentro da lei.
– Além da lei, a viúva dos filhos dos profetas corre até Eliseu, a fim de ter uma solução que revelasse todo o amor de Deus, toda a Sua misericórdia, toda a Sua graça. Recorrer a Eliseu era recorrer a Deus.
Aquela viúva sabia que Eliseu era o homem de Deus de seus dias, era o instrumento levantado pelo Senhor para o povo de Israel. Aquela viúva tinha consciência de que Eliseu traria a ela a necessária compaixão divina, algo que estava além do rigor da lei.
– A salvação do homem está além da lei. Pela lei de Moisés, ninguém pode obter a salvação (Gl.3:11). É preciso ir além, é preciso que o amor de Deus se manifeste em prol do homem.
Por isso, os milagres de Eliseu, como afirma o comentarista bíblico Matthew Henry, são sempre “…milagres para uso, não para demonstração; este aqui lembrado [o milagre da multiplicação do azeite da viúva, observação nossa] foi um ato real de amor.
Assim também foram os milagres de Cristo, não apenas grandes maravilhas, mas grandes favores para aqueles pelos quais eles foram realizados. O Senhor magnífica Sua bondade com o Seu poder…” (HENRY, Matthew. Comentário bíblico completo. I Rs.4:1-7. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/matthew-henry-complete/2-kings/4.html Acesso em 02 jan. 2013) (tradução nossa de texto original em inglês).
– Por quinto, devemos aqui assinalar é que a viúva dos filhos dos profetas foi ao encontro de Eliseu não apenas porque ele fora nacionalmente reconhecido como o sucessor de Elias, mas, também, porque se tratava de alguém que conhecia o finado marido daquela mulher.
Como bom líder, Eliseu tinha conhecimento daqueles que estavam com ele. A mulher sabia que Eliseu sabia do bom testemunho de seu marido e, por isso, teve a ideia de, no momento de desespero, recorrer ao homem de Deus.
– É imprescindível que o líder tenha conhecimento de seus liderados, seja uma pessoa que se relaciona com eles.
Já dissemos, na lição 8, que Eliseu, logo no limiar do seu ministério, soube ter empatia com os filhos dos profetas, que queriam procurar o corpo de Elias.
Um bom líder é aquele que estabelece relações com os seus liderados, que não se distancia deles, que sabe ouvi-los, pois só assim terá credibilidade diante deles.
III – ELISEU DÁ A ESTRATÉGIA PARA A VIÚVA DE UM DOS FILHOS DOS PROFETAS
– Assim que ouviu o relato desesperado daquela viúva, o profeta Eliseu disse àquela mulher: “Que te hei de eu fazer? Declara-me que é o que tens em casa” (I Rs.4:2a). Nesta simples declaração do profeta, temos grandes lições a aprender.
– A primeira lição é a de que o profeta entendeu que deveria agir com amor, com compaixão para com aquela mulher.
Ele conhecia o bom testemunho do finado marido, que era um homem temente a Deus e que, portanto, aquela dívida não era fruto de qualquer atitude pecaminosa.
Atender àquela mulher era imperioso, pois estava em jogo a própria fidelidade a Deus. Estávamos diante de uma “causa justa”.
– É preciso termos o mesmo raciocínio do profeta, em dias tão difíceis como os que estamos a viver.
Eliseu percebeu que a escravização dos dois filhos daquela viúva levaria a um escândalo no meio dos servos do Senhor, particularmente entre os filhos do profetas.
Conquanto fosse legal a atitude do credor, tal circunstância seria um demérito à obra do Senhor, num momento em que Israel ainda não havia se libertado do culto a Baal.
– Eliseu compreendeu que deveria demonstrar o amor de Deus mediante uma atitude de amor ao próximo àquela mulher, para que todos entendessem, a começar do próprio credor, que Deus amava Israel e que valia a pena servi-l’O.
Se razão tiver a tradição judaica, então, era uma questão de singular importância mostrar que Deus não desamparava a descendência do justo Obadias, que Deus continuava a cumprir a Sua Palavra, segundo a qual jamais a descendência do justo viria a mendigar o pão (Sl.37:25).
Era imperioso mostrar que vale a pena servir a Deus, manter-se fiel a ele num período de grande apostasia.
– O amor ao próximo, que traduz o nosso amor a Deus em termos concretos e visíveis aos olhos dos demais homens (I Jo.4:20,21), exige que tenhamos atitudes, que façamos algo.
Não se pode amar senão por meio da realização de obras, não por simples palavras. Em sendo assim, Eliseu foi bem objetivo: “que te eu hei de fazer?” Para ajudar aquela mulher, o profeta tinha de FAZER alguma coisa.
Temos demonstrado amor ao próximo deste modo, ou somos apenas pessoas que FALAM de amor, mas não fazem coisa alguma para demonstrar este amor. Pensemos nisto!
– A segunda lição que aprendemos com Eliseu nesta passagem bíblica é que, para que Deus intervenha em nosso existir, para que realize o milagre, é absolutamente necessário que se parta do que temos em nós.
Deus é Deus e pode do nada criar todas as coisas, como, por exemplo, quando criou o mundo, mas como Seu objetivo é que tenhamos comunhão com Ele, Ele prefere fazer o milagre a partir daquilo que temos, daquilo que pomos à Sua disposição.
– Os milagres de multiplicação sempre partem daquilo que já possuímos, daquilo que já temos.
Lembremo-nos de que a aritmética nos ensina que o zero é o elemento nulo da multiplicação, ou seja, qualquer número multiplicado por zero resulta em zero.
Assim, jamais haverá multiplicação a partir do nada, é preciso que o pouco que temos seja posto à disposição do Senhor para que, então, haja a multiplicação. Deus tem prazer em que contribuamos para que o milagre aconteça.
– Sabendo deste princípio, o profeta pergunta àquela viúva o que tinha em sua casa, pois sabia o profeta que Deus operaria a partir daquilo que a viúva pusesse à disposição do Senhor.
A mulher, diante desta indagação do profeta, num primeiro instante, entendeu que nada tinha em casa, que o que tivesse em casa era insignificante, nada representaria para a solução do seu problema.
Por isso, disse ao homem de Deus: “Tua serva não tem nada em casa”.
– Muitos, em nossos dias, também são dotados deste sentimento equivocado que tomou conta da viúva num primeiro momento.
Devemos saber que sempre temos algo que podemos pôr nas mãos de Deus para que o Seu poder se demonstre em nossas vidas e Seu amor seja evidente para todos os que nos cercam. Nossa impotência não pode nos levar à incredulidade.
– Muitos agem como esta viúva, como, por exemplo, Filipe, o apóstolo de Cristo Jesus.
Uma das características deste discípulo do Senhor era a incredulidade decorrente da impotência.
Filipe sempre agia pela razão, entendendo que não era possível ir além daquilo que o raciocínio humano poderia explicar ou esclarecer. Assim, quando confrontado por Natanael se poderia o Messias vir de Nazaré, não teve o que responder, tendo apenas dito a Natanael que fosse ver a Jesus (Jo.1:45,46).
– Quando da multiplicação dos pães, Filipe, uma vez mais, mostrou seu raciocínio humano prevalecer, ao fazer um cálculo de que duzentos dinheiros não seriam suficientes para adquirir mantimento para toda aquela multidão (Jo.6:5,7), em vez de fazer como André, que levou aqueles poucos pães e peixes do menino nas mãos do Senhor.
Não podemos nos deixar guiar pelo raciocínio humano, mas, tão somente, entregar o que tivermos nas mãos do Senhor. Milagre é coisa de Deus e, como tal, não cabe a nós querer controlá-lo ou entendê-lo.
– Num segundo momento, porém, a viúva se lembrou de que havia, sim, algo em sua casa, algo muito insignificante, mas que foi declarado por ela: uma botija de azeite (I Rs.4:2 “in fine”).
– Alguns estudiosos entendem que este azeite, ao contrário do azeite da viúva de Sarepta, não era um azeite comestível, mas, sim, seria um azeite utilizado pelos filhos dos profetas para realizar unções (cfr. II Rs.9:1), o único bem que havia restado para a viúva, uma espécie de lembrança do seu finado marido.
Não podemos afirmar se tal linha de pensamento é a correta, ou não, mas o fato é que era algo que, aos olhos daquela viúva, era assaz insignificante para a resolução de seu tão grande problema.
Mas ela não deixou de declarar a posse deste bem, era o “algo” que precisava ser dito ao profeta para que, através dele, pudesse ser feita a multiplicação.
– Diante da declaração da viúva, o profeta pôde ver que a solução estava encontrada. Como aquela mulher havia declarado o que tinha, posto à disposição do Senhor o que possuía, possível era a multiplicação, o milagre tornava-se adequado.
– A declaração feita pela viúva do que possuía era uma atitude de fé, de confiança em Deus. Ao declarar que tinha aquela botija de azeite, a mulher afirmava que cria que Deus, daquele pouco tido por insignificante, poderia operar.
Não há como agradarmos a Deus se não tivermos fé (Hb.11:6). A incredulidade impede que Deus realize milagres em nossas vidas (Mt.13:58). Será que este é um fator em nossos dias para explicar a raridade dos sinais em nosso meio?
– É oportuno, também, verificar que a declaração da mulher de que não tinha coisa alguma a não ser uma botija de azeite também demonstrava a honestidade daquela viúva.
Ela não estava a esconder bem algum, ela realmente não tinha condições de pagar a dívida deixada pelo seu marido.
Era justa e estava na integral dependência de Deus. O milagre era absolutamente necessário.
– Ante esta declaração da viúva, o profeta, então, passa a dar a devida orientação para aquela mulher. Mandou que ela fosse até os vizinhos e pedisse vasos emprestados, vasos vazios e não poucos (II Rs.4:3).
– Temos aqui mais uma demonstração da integridade daquela mulher. Ela tinha uma ótima convivência com os seus vizinhos, sabia se comportar na sociedade, tinha bom testemunho.
Não fosse assim, como poderia ela obter vasos vazios, não poucos da vizinhança?
Ela se encontra em estado pré-falimentar, o credor já estivera em sua casa para pegar seus dois filhos, numa clara demonstração de que estava ela sem qualquer condição econômico-financeira. Como, neste estado, conseguir emprestados muitos vasos junto a seus vizinhos?
– O fato é que esta mulher gozava de boa reputação junto à vizinhança. Ninguém negou emprestar-lhes os vasos, apesar de sua situação.
Ninguém desconfiou que ela fosse vender os vasos para “fazer dinheiro” e, com isso, tentar pagar o credor. Todos confiavam nela, porque ela sempre vivera de modo honesto e justo.
Não era apenas uma viúva de um filho de profeta, mas era uma serva de Deus genuína e autêntica.
– Como estão nossos relacionamentos na sociedade? Qual é o nosso comportamento frente aos nossos vizinhos, colegas de trabalho, colegas de escola, irmãos em Cristo, familiares?
Somos dignos de confiança? Somos louvados diante daqueles que nos cercam, como aquele irmão anônimo que acompanhou Tito para buscar as ofertas recolhidas em Corinto (II Co.8:18)?
– Todos os vizinhos emprestaram aqueles vasos vazios, não poucos, para a viúva, numa clara demonstração da confiança e credibilidade que ela desfrutava em sua comunidade.
Como luz do mundo e sal da terra, todo servo de Cristo Jesus deve ter esta mesma reputação no meio em que vive.
Como diz o apóstolo Pedro, nosso viver deve ser honesto entre os gentios, “…para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (I Pe.2:12).
– Depois de conseguir os vasos vazios, não poucos, a viúva deveria entrar na sua casa, fechar a porta sobre ela e sobre seus filhos e deitar o azeite em todos aqueles vasos, e pôr à parte o que estivesse cheio (II Rs.4:4).
– Tendo desfrutado da confiança e credibilidade que seu bom testemunho gerara na comunidade, a viúva deveria, então, recolher-se à intimidade do seu lar e das sua intimidade com Deus. É absolutamente necessário que, para que o milagre de Deus opere, tenhamos um círculo de intimidade pessoal e familiar com o Senhor.
– Não há como se realizar milagres em nossas vidas, não há como o poder de Deus operar em nós se não gozarmos de uma intimidade com o Senhor, se não tivermos um momento a sós com Deus, se não tivermos segredos com o nosso Criador.
Esta vida íntima com Deus, este momento a sós com o Senhor é absolutamente indispensável para que sejamos alvo do poder de Deus.
– O Senhor Jesus disse que devemos “conhecer” o poder de Deus para não errarmos (Mc.22:29; Mc.12:24).
Ora, “conhecimento” no significado hebraico do termo significa “intimidade”, “comunhão”, e isto não se faz jamais em público, mas, sim, mediante uma aproximação espiritual que exige a solidão, que exige a retirada do “corre-corre” tão frequente na vida atual:
“…É certo que, às vezes, é difícil colher esta profunda realidade, pois o mal faz mais barulho que o bem:
um homicídio praticado, as violências difusas, as graves injustiças fazem notícias; ao contrário, os gestos de amor e de serviço, o esforço cotidiano suportado com fidelidade e paciência permanecem sempre na sombra, não aparecem.
Também, por este motivo, não podemos nos firmar somente nas notícias se queremos apreender o mundo e a vida; dever ser capazes de parar no silêncio, na meditação, na reflexão calma e prolongada; devemos saber nos firmar pelo pensar.
Deste modo, nosso ânimo pode encontrar cura das inevitáveis feridas do cotidiano, pode descer com profundidade nos fatos que se sucedem em nossa vida e no mundo e alcançar aquela sabedoria que permite valorizaras coisas com novos olhos.…(BENTO XVI. Homilia na celebração das Vésperas de Ano Novo. 31 dez. 2012. Disponível em:
http://press.catholica.va/news_services/bulletin/news/30261.php?index=30261&po_date=31.12.2012&lang=po Acesso em 02 jan. 2013) (tradução nossa de texto original em italiano).
– O profeta mandou que a mulher e seus filhos fechassem a porta precisamente para que houvesse tão somente a intimidade familiar e pessoal no momento do milagre.
Deixar as portas abertas significava devassar a intimidade do lar e a família, desde que foi criada, foi criada para ser um asilo inviolável por quem quer que fosse, um lugar de privacidade, um lugar onde há íntima comunhão entre os familiares e entre os familiares e Deus.
Temos respeitado a intimidade das famílias? Há, em nossa família, um autêntico “lar”, ou seja, um lugar de adoração a Deus?
– Não há milagre se não estivermos em comunhão com o Senhor. O verdadeiro e genuíno milagre é aquele que decorre de uma aproximação entre nós e Deus e que tem por escopo a glorificação do nome do Senhor.
Fora disso, será uma manifestação sobrenatural mas que não se poderá dizer que foi um milagre.
Não nos esqueçamos que há forças espirituais más, que também promovem manifestações sobrenaturais, mas cujo intuito não é jamais a glorificação do nome do Senhor (Cfr. Ex.7:22; 8:7; Mt.24:24; II Ts.2:9,10; Ap.13:13-15).
– Eliseu mandou que a viúva fechasse a porta de sua casa para que ninguém pudesse importuná-la e fazê-la desfalecer em sua fé.
Como diz Matthew Henry:
“…ela deveria fechar a porta para evitar interrupções por parte dos credores ou de qualquer outra pessoa enquanto ela estivesse fazendo o que o profeta mandara, pois eles não ficariam aparentemente orgulhosos nem felizes deste suprimento miraculoso e não orariam nem glorificariam a Deus por causa deste evento extraordinário …” (op.cit. end. cit.) (tradução nossa de texto original em inglês).
– A estratégia do profeta ensina-nos que não só em nossa convivência diária não podemos comunhão com os que não servem a Deus, mas também para que o poder de Deus opere em nossas vidas.
Temos de ter uma vida separada do pecado e, deste modo, não podemos, de forma alguma, alardear nossa confiança no milagre e no poder de Deus para quem não desfruta da comunhão com Deus, para quem não pode entender quem é o nosso Deus.
Fazer isto será, certamente, “dar aos cães as coisas santas, deitar aos porcos as pérolas” (Mt.7:6).
– Eliseu mandou que, assim que recolhidos os vasos e fechada a porta, a viúva, juntamente com seus filhos, começasse a derramar o azeite nos vasos. Aqui aprendemos, por primeiro, que a operação divina não prescinde do trabalho.
A viúva teve de ir de porta em porta para pedir os vasos emprestados.
Agora, com as portas fechadas de sua casa, tinha de derramar, vaso a vaso, o azeite, tendo o cuidado de pôr à parte o vaso que enchesse.
Era necessário fazer o que estava ao seu alcance, pois o impossível, o sobrenatural Deus faria.
“…O azeite deveria ser derramado pore la mesma, não por Eliseu nem por qualquer dos filhos dos profetas, para indicar que é em conexão com nossos próprios esforços cuidados e diligência que podemos esperar que a bênção de Deus nos enriqueça tanto neste mundo como no vindouro.
O que temos aumentará melhor em nossas próprias mãos…” (HENRY, Matthew. op.cit. end.cit.) (tradução nossa de texto original em inglês). Temos feito a nossa parte, amados irmãos Será que não é isto que falta para Deus realizar o milagre de que precisamos?
– Por segundo, vemos que havia colaboração de todos na família. A viúva derramava o azeite, mas eram os filhos que traziam os vasos e, certamente, punha à parte os que eram cheios. Todos estavam trabalhando.
Não há comunhão com Deus se não houver comunhão entre os Seus servos. Aliás, é isto que testificamos em cada ceia do Senhor, que temos comunhão uns com os outros e com o Senhor. É este nosso testemunho perante a mesa do Senhor a expressão da verdade?
– Por terceiro, a multiplicação se dava à medida que a mulher derramava o azeite da botija no vaso vazio que lhe era apresentado.
“…O meio de aumentar o que temos é usando; para Ele, o que temos deve ser dado, não é enterrando os talentos mas os negociando que nós os duplicamos…” (HENRY, Matthew. op.cit. end. cit.) (tradução nossa de texto original em inglês).
Já no episódio da viúva de Sarepta de Sidom, que estudamos na lição 6, vimos que aquela viúva também multiplicou o azeite de sua botija à medida que o consumia para seu sustento, de seu filho e do profeta. Temos usado aquilo que Deus nos tem dado para a Sua glória?
– A viúva agiu conforme a palavra que lhe fora dada pelo profeta. Isto nos mostra que a obediência à voz do Senhor é essencial para que o milagre ocorra.
Muitos até recebem palavras proféticas em suas vidas, mas não obedecem ao Senhor e, por isso, o milagre não acontece. A operação do poder de Deus exige a plena e irrestrita obediência por parte dos Seus servos.
– A mulher fez conforme à ordem do profeta e, quando cessaram os vasos e o azeite parou, voltou até a presença do profeta para narrar o que tinha acontecido. Ela agia dirigida pelo Espírito Santo.
O profeta só havia mandado trazer os vasos para a sua casa, fechar a porta e derramar o azeite sobre os vasos.
Depois deste grande milagre, a viúva não foi gritar pela vizinhança para que todos vissem o que havia acontecido, nem tampouco foi procurar os seus credores. Voltou até o profeta para ter a direção de Deus para o que fazer em seguida.
– Quantos de nós temos, diante da manifestação do poder de Deus, ido buscar a orientação divina para lidar com aquela situação?
Quantos não vão propagandear o que ocorreu sem antes consultar ao Senhor? Não podemos agir deste modo, mas sempre buscar a direção do Senhor para sabermos o que fazer, tanto na hora da necessidade, quanto na hora da manifestação do poder de Deus.
– Neste ponto, aliás, é interessante vermos que muitos dos servos do Senhor, ao serem agraciados por Deus com milagres, raras vezes vão aos pés do Senhor para saber qual o propósito daquele milagre, além da glorificação do nome do Senhor.
Se fizéssemos como esta mulher e voltássemos aos pés do Senhor, seríamos muito mais usados e o nome do Senhor seria muito mais glorificado se procurássemos saber porque e para que o Senhor curou, o Senhor deu uma vitória na justiça, o Senhor propiciou uma porta de emprego e tantas outras coisas mais.
Tudo quanto Deus faz tem um propósito, mas raras vezes vamos à Sua presença para saber qual é este propósito.
Que tal passarmos a mudar nossa atitude e, depois do milagre realizado, buscarmos a Deus como fez aquela viúva de um dos filhos dos profetas?
– A viúva foi à presença do profeta e contou o que havia acontecido. O profeta, então, deu-lhe a devida orientação.
Aquela multiplicação ocorrera não só para que ela pagasse a dívida, mas que ela tivesse com que viver a partir de então. Deveria ela pegar todo aquele azeite e vendê-lo. Com o dinheiro obtido da venda, deveria pagar a dívida e viver do resto (II Rs.4:7).
– Mais uma vez vemos que o milagre de Deus não dispensou o trabalho. A viúva deveria, agora, ir até o mercado e ali vender todo aquele azeite. Pela quantidade de vasos, não foi trabalho de um só dia.
Ela e seus filhos tiveram de trabalhar duro, mas isto, para uma pessoa honesta e justa como era aquela mulher, não era problema. O importante é que Deus providenciara o que ela não poderia providenciar. Agora, vender o azeite multiplicado, era algo que ela poderia fazer e o fez certamente.
– Com o milagre, nós temos de continuar a nossa vida terrena, glorificando a Deus e exaltando, com as nossas atitudes, o Senhor.
Milagre não é instrumento para nos dar uma vida ociosa nem uma autorização para estacionarmos nossa jornada espiritual aqui na Terra. Lembremo-nos disto, amados irmãos!
– Além disso, o milagre teve um efeito pedagógico. Dali para a frente, aquela viúva e seus filhos deveriam cuidar para que não caíssem mais naquela situação desesperadora.
A prudência que faltara ao filho dos profetas temente a Deus, agora não mais faltaria naquela família.
O Senhor já produzira um “fundo” que seria a base para a sobrevivência daquela família, para que nunca mais os herdeiros do finado ficassem desamparados. O milagre sempre nos traz ensinos espirituais preciosos da parte de Deus.
– Deus mostrou, através do Seu profeta, o grande amor que tinha não só para com aquela viúva e seus filhos, mas com todos os que serviam a Deus fielmente como o finado filho do profeta.
O nome do Senhor foi glorificado e o Senhor provou, uma vez mais, para um Israel que ainda coxeava entre dois pensamentos, que Ele era o verdadeiro Deus provedor e não, Baal.
Colaboração para o portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco