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Lição 11 – O evangelho do reino no império do mal I

PORTAL ESCOLA DOMINICAL  –  SEGUNDO TRIMESTRE DE 2012
AS SETE CARTAS DO APOCALIPSE – A mensagem final de Cristo à Igreja
COMENTARISTA: CLAUDIONOR CORRÊA DE ANDRADE
COMENTÁRIOS – CARAMURU AFONSO FRANCISCO
(ASSEMBLEIA DE DEUS – MINISTÉRIO DO BELÉM – SEDE – SÃO PAULO/SP)
O Senhor não deixará de Se comunicar com o homem mesmo durante a Grande Tribulação.
INTRODUÇÃO
– Em prosseguimento ao terceiro e último bloco deste trimestre, em que estamos a ter uma visão superficial e rápida do livro do Apocalipse, a partir do capítulo 4, estudaremos hoje como será pregada a Palavra de Deus durante a Grande Tribulação.
– O Senhor, mostrando todo o Seu amor e misericórdia, não deixará de Se comunicar com o homem mesmo depois do arrebatamento da Igreja.

I – DEUS SEMPRE SE COMUNICA COM O HOMEM EM CADA DISPENSAÇÃO
– A história da humanidade, sob a perspectiva do plano de Deus para a salvação do homem, pode ser dividida em períodos conhecidos como “dispensações”, épocas em que Deus tratou com o homem de uma determinada maneira, dentro do Seu propósito de salvar o homem na pessoa de Cristo Jesus.
– Neste tratamento de Deus com o homem, à evidência, o Senhor sempre buscou Se comunicar com o homem, vir ao seu encontro, trazendo-lhe uma boa nova, qual seja, a notícia de que Deus ama o homem e quer providenciar a sua salvação, a fim de que seja reconstituída a comunhão existente entre Deus e o homem desde o momento da criação, visto que Deus fez o homem para com ele viver para todo o sempre, para com ele compartilhar da Sua glória e esplendor. Esta comunicação divina é que podemos denominar de “evangelho”, palavra que vem do grego “euaggelion” (εύαγγελιον), cujo significado é “boas novas”, “boas notícias”.
– Assim, desde o momento da criação até a queda do homem, no período conhecido como “dispensação da inocência”, havia uma comunicação constante e diária entre Deus e o homem, uma comunhão sem qualquer empecilho ou obstáculo, uma vez que inexistia o pecado. Toda viração do dia, Deus vinha ao encontro do homem (Gn.3:8), trazendo-lhe sempre boas novas de sabedoria, inteligência e ciência (Pv.1:1-7).
– Com a queda do homem, imediatamente o Senhor, na Sua infinita misericórdia, tratou de dar ao primeiro casal uma notícia, uma boa nova de salvação. Em meio ao juízo decorrente da queda do homem (pois toda dispensação termina com um juízo), Deus não deixou de deixar viva a esperança da humanidade, ao anunciar que, da semente da mulher, haveria de nascer Aquele que restabeleceria a inimizade entre o homem e a serpente e, por conseguinte, a amizade entre Deus e o homem (Gn.3:15). Este anúncio divino da salvação do homem é chamado pelos teólogos e estudiosos da Bíblia de “protoevangelho”, ou seja, de “primeiro evangelho”. Este “primeiro evangelho” é a notícia que se traz ao homem na segunda dispensação, denominada de “dispensação da consciência”.
– Nesta mesma dispensação da consciência, ante o aumento intenso do pecado que chegou à medida da justiça divina, o Senhor não deixou de comunicar ao povo a realidade do pecado e do iminente juízo. Noé, que achou graça aos olhos de Deus (Gn.6:8), foi avisado da iminente destruição da humanidade (Gn.6:13-22), mas não lhe foi mandado guardar segredo, de sorte que, sendo um homem de Deus e tendo o mesmo caráter do Senhor,passou a apregoar a todos a iminência do juízo, o que podemos chamar de “evangelho da justiça”, coisa que fez durante todos os cem anos em que demorou para construir a arca (Gn.5:32; 7:6; II Pe.2:5).
– Após o dilúvio (que é o juízo que pôs fim à dispensação da consciência), o Senhor fez um pacto com Noé, dando início à terceira dispensação, chamada de “dispensação do governo humano” (Gn.9:1-19), na qual o Senhor prometeu não mais destruir a Terra com o dilúvio, sendo esta a “boa notícia”, ou seja, o “evangelho”, qual seja, a de que a Terra não seria destruída por causa do homem novamente e que, até o final dos tempos, se sucederiam as estações do ano e isto apesar de o Senhor reconhecer a imaginação continuamente má do coração do homem (Gn.8:21,22).
– A esta “boa nova” da persistência da Terra apesar da malignidade do coração do homem podemos chamar de “evangelho da subsistência da Terra”, que caracteriza esta terceira dispensação, na qual se provava o homem “…a obedecer à lei feita pelo seu próprio governo…” (CONCEIÇÃO, Adaylton de Almeida. Estudo das dispensações: períodos bíblicos. Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos3/estudo-dispensacoes/estudo-dispensacoes2.shtmlAcesso em 26 abr. 2012).
– Com o término desta dispensação, com o juízo de Babel (mais uma vez vemos uma dispensação sendo terminada por um juízo), começa a quarta dispensação, chamada de “dispensação da promessa” ou “dispensação patriarcal”, em que o Senhor chama Abrão para dele formar um povo peculiar dentre as nações, onde se fariam benditas todas as nações da terra (Gn.12:1-3). Temos aqui a notícia de que haveria não só a subsistência da Terra, mas a bênção para todas as nações através da posteridade de Abrão. É o “evangelho da promessa”, a boa nova de que de Abraão viria Aquele que faria todas as famílias da terra benditas.
– Esta dispensação terminou, também, com um juízo, lançado sobre o Egito quando da libertação de Israel, este povo formado por Deus a partir de Abrão, cujo nome foi mudado para Abraão (“pai de multidões”-Gn.17:5), tendo, porém, o povo, assim que liberto, falhado em poder receber a promessa de Deus, visto que fracassou em todas as sete oportunidades em que foi provado para crer em Deus, já que a promessa é conquistada pela fé (Rm.4:13-16).
OBS: Assim que libertos, os israelitas foram experimentados por sete oportunidades por Deus, mas, em todas elas, falharam, não crendo em Deus, a saber: antes da passagem do mar – Ex.14:11; depois da passagem do mar, quando duvidaram da destruição dos egípcios – Ex.14:31; a murmuração em Mara – Ex.15:23,24; a murmuração pela falta de pão no deserto entre Elim e Sinai – Ex.16:2,3; o estoque de maná para o dia seguinte – Ex.16:20; a busca de maná no dia de sábado – Ex.16:27; a contenda em Massá e Meribá – Ex.17:7. Por isso, ao chegarem ao Sinai, em vez de se apropriarem da promessa, receberam a lei.
– A quinta dispensação, a “dispensação da lei”, iniciada com a entrega da lei no Sinai e que termina apenas com a crucifixão de Cristo no Calvário, trouxe a Israel a notícia de que seriam eles “reino sacerdotal e povo santo” (Ex.19:5,6) e, para tanto, deveriam ouvir a um profeta que seria semelhante a Moisés e que surgiria entre o povo (Dt.18:15-18), profeta este que, ao longo dos séculos, foi tendo suas características cada vez mais minudenciadas, como, por exemplo, que seria descendente de Davi (Is.11:10), o Messias. É o “evangelho da promessa messiânica”, consubstanciado na “lei e os profetas”.
– Após um silêncio profético de cerca de quatrocentos anos, o Senhor levantou, então, a João Batista para pregar o batismo do arrependimento (Lc.3:3; At.13:24; 19:4), que nada mais era que a preparação para a pregação do evangelho por parte do Senhor Jesus (Is.40:1-5; Mt.3:1-3; Mc.1:2,3; Lc.3:3-5).
– Após esta preparação, surge, então, o próprio Messias, trazendo a mensagem de que a promessa messiânica havia se cumprido e que era chegado o tempo do reino, o tempo da aquisição da promessa de Abraão por parte de Israel. Era a boa nova da salvação, o “evangelho do reino de Deus” (Mc.1:14,15). Jesus veio dizer aos israelitas que havia chegado o tempo do cumprimento da lei e dos profetas, o tempo em que Israel poderia receber o seu Messias e, assim, finalmente, tornar-se o reino sacerdotal e o povo santo desejados por Deus e, deste modo, tornar todas as famílias da Terra benditas através dele (povo).
– Não foi por outro motivo que o Senhor Jesus Se dedicou a pregar apenas em Israel, tendo, também, ao comissionar os Seus discípulos para que pregassem em todas as aldeias e vilas de Israel, que não pregassem senão às “ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt.10:5-7; Lc.10:1-16).
– Entretanto, os israelitas rejeitaram a pregação de Cristo (Jo.1:11) e o Senhor Jesus foi entregue para ser crucificado, ato pelo qual pôs fim à dispensação da lei (temos aqui o juízo que pôs fim à lei – o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário), como prova o fato de ter se rasgado o véu do templo de alto a baixo, numa prova de que havia sido retirado, pelo sangue de Cristo, o obstáculo que nos impedia de ter livre acesso ao Pai (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45; Hb.10:12,19-22).
– Teve início, então, a sexta dispensação, a “dispensação da graça”, em que se abriu a oportunidade para a salvação de toda a humanidade, tanto judeus quanto gentios, pela fé em Cristo Jesus. A salvação é ofertada a todo ser humano, bastando para que creiam em Cristo Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador e, assim, n’Ele crendo e O recebendo, torna-se filho de Deus (Jo.1:12,13).
– Esta boa nova da salvação, o “evangelho da graça de Deus” (At.20:24) é para ser pregado por todo o mundo, a toda a criatura (Mc.16:15), pois é o “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego, porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: o justo viverá da fé” (Rm.1:16,17).
– Tal evangelho começou a ser pregado no dia de Pentecostes, quando os discípulos foram revestidos de poder (At.2) e somente deixará de ser pregado quando do arrebatamento da Igreja, pois é à Igreja que o Senhor incumbiu de fazer tal pregação, pois devemos ser testemunhas de Jesus desde Jerusalém até os confins da terra (At.1:8), trajetória que foi obedientemente tomada pela Igreja, como se vê da narrativa do livro dos Atos dos Apóstolos, pois se trata da divulgação do “mistério de Cristo”, das riquezas incompreensíveis de Cristo, que devem ser conhecidas de todos pela Igreja (Ef.3:1-13).
– Assim como foi nos dias de Noé, esta pregação do Evangelho tem sido intensificada na iminência do juízo que também porá fim a esta dispensação. Desde os primórdios do século XVIII, temos visto como a evangelização teve um impulso imenso, correspondente ao período da igreja de Filadélfia (como vimos na lição 8), a demonstrar toda a misericórdia divina, pois Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4). É a “chuva serôdia”, ou seja, o tempo de intenso derramamento da graça de Deus antes que venha a colheita, que é a retirada da Igreja da face da Terra, Igreja que será poupada do juízo que advirá sobre a Terra, o mais terrível juízo já existente, que são os sete anos da Grande Tribulação.
– Arrebatada a Igreja e iniciado o juízo da Grande Tribulação, deixará Deus de Se comunicar com o homem? Evidentemente que não! Deus é amor (I Jo.4:8) e, portanto, não pode deixar de amar o homem e, assim, mesmo em meio à justiça, pois Ele também é justiça (Jr.23:6), demonstrará este amor para com a humanidade.
– Portanto, antes de consumar a Sua ira sobre a humanidade durante a Grande Tribulação, o Senhor continuará a dizer ao homem que o ama e que está disposto a perdoar os seus pecados, desde que recebam a Cristo Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador.
– Estas “boas novas de salvação”, este “evangelho” é a retomada do “evangelho do reino de Deus” ou, simplesmente, “evangelho do reino”, o evangelho que anuncia a iminência do juízo de Deus sobre a Terra mas que, também, promete a todos quantos receberem a Jesus como Senhor e Salvador a participação no reino do Messias, que se iniciará após o término da Grande Tribulação (Mt.24:14; Ap.11:15)
– Com efeito, o arrebatamento da Igreja anuncia dois episódios para o mundo: primeiro, que chegou o tempo do juízo de Deus sobre a Terra porquanto não creram em Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador; segundo, que, sete anos depois, o Senhor Jesus virá reinar sobre a Terra, como anunciado no introito do livro do Apocalipse (Ap.1:7,8).
– Por isso, durante a Grande Tribulação, ambas as realidades serão proclamadas pelo Senhor e por aqueles que forem por Ele levantados, em lugar da Igreja: o juízo divino aos impenitentes e a promessa do estabelecimento do reino de Deus e de Seu Cristo sobre toda a terra ao final deste período de provação e angústia (Ap.19:1-6).
– A Palavra de Deus permanece para sempre, como já dizia o profeta Isaías (Is.40:8), quando profetizava a respeito do ministério de João Batista. O silêncio profético de quatrocentos anos em Israel não significou o fim da Palavra. Pelo contrário, quando veio João pregando o batismo do arrependimento, vemos, com clareza, que tudo quanto o Senhor havia dito permanecia em pé, não foi alterado.
– O apóstolo Pedro retoma a profecia de Isaías (I Pe.1:24,25), para nos indicar que, mesmo com a saída da Igreja da face da Terra, nem por isso o poder salvífico da Palavra deixará de existir. A Palavra é o próprio Cristo (Jo.1:1) e a fé vem pelo ouvir pela Palavra (Rm.10:17). Destarte, se não é a Igreja que salva nem a Palavra está submetida à Igreja, tem-se que a salvação persistirá, como também a pregação da Palavra mesmo após o arrebatamento da Igreja.
– O Espírito Santo também não abandonará a Terra quando do arrebatamento da Igreja. O Espírito Santo é Deus (At.5:3,4) e, como tal, é onipresente (Sl.139:7-12), sendo, pois, completamente impossível que Ele não esteja mais na Terra quando a Igreja for arrebatada.
– Estando Ele na Terra, portanto, nada impede que continue a convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8-11), ainda que, saibamos que, com o arrebatamento da Igreja, não irá mais Ele resistir ao mal, como agora faz (II Ts.2:7), permitindo a manifestação do Anticristo (II Ts.2:8), como também a vitória dele sobre todos os santos do Altíssimo (Dn.7:25; Ap.6:2; 13:7), sem falar que não estará mais derramado sobre todos os santos, mas operará sob medida, como sempre atuou até o dia de Pentecostes.
– Por isso, haverá, sim, durante a Grande Tribulação, não só a pregação do Evangelho, o “evangelho do reino” de que fala o título da lição, como também a salvação de almas, como nos indica, com absoluta clareza, o quinto selo aberto pelo Cordeiro no céu aos olhos do apóstolo João (Ap.6:9-11), onde é revelada a existência de pessoas que morreram por causa do amor da Palavra de Deus e por amor do testemunho que deram.
– Embora isto nos mostre que a salvação persistirá na Grande Tribulação, vemos, também, que não se estará numa mesma circunstância que temos na atualidade, na pregação do “evangelho da graça de Deus”. Alguns pontos demonstram, claramente, que o tempo será outro, que a salvação, embora feita pelo sacrifício de Cristo, não se dá nos mesmos termos e que, portanto, temos de aproveitar agora a salvação pela graça, não podemos perder a oportunidade que se nos oferece.
– A primeira característica que nos permite vislumbrar uma grande diferença entre a salvação agora obtida e a que ocorrerá na Grande Tribulação é o fato de que, hoje, o crente que morre por causa da fé é recebido, a exemplo de Estêvão, pelo Senhor Jesus, no Paraíso (At.7:56-60). Estes mártires, no entanto, estão “debaixo do altar” (Ap.6:9).
– A segunda característica é que, enquanto morria, Estêvão, a exemplo de Cristo, perdoou os seus algozes, demonstrando toda a graça de Deus. “…O Senhor Jesus, com Sua morte na cruz, inaugurou o período da Dispensação da Graça, e Estêvão foi o primeiro mártir dessa gloriosa dispensação. Esses mártires, que pediam vingança, morreram no período da manifestação da ira de Deus.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. Desvendando o Apocalipse: o livro da revelação, p.45). Temos, pois, que a graça já não se manifesta com relação aos algozes, mas tão somente a vingança de Deus.
– A terceira característica é que o fato de estes mártires estarem “debaixo do altar”, isto mostra, claramente que o seu sangue está diante de Deus. “…Alguns estudiosos supõem que assim como o sangue escorria para a valeta que havia ao pé do altar, e assim como ‘a vida está no sangue’, assim também aqueles mártires cujo sangue for derramado tomarão a posição correspondente ao sangue dos sacrifícios oferecidos a Deus…” (SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo. 3.ed., p.92). Este sangue não será esquecido e haverá a devida retribuição, à luz, aliás, do que o Senhor dissera a Noé (Gn.9:5,6), cumprindo-se o que o Senhor Jesus disse a respeito dos fariseus para toda a humanidade, ou seja, que sobre os homens cairia todo o sangue justo derramado sobre a face da Terra (Mt.23:35).
– Temos, pois, que a pregação deste evangelho em nada diminuirá o juízo que Deus tem determinado sobre a Terra por ter recusado a salvação na pessoa de Jesus, por ter feito ao próprio Deus como mentiroso (I Jo.5:10). Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo (Hb.10:31) e, portanto, nós que já alcançamos a salvação na pessoa de Cristo, não desperdicemos esta oportunidade que se nos deu por conta da realidade bíblica de que haverá salvação na Grande Tribulação, pois, como diz o escritor aos hebreus: “Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos, depois, confirmada pelos que a ouviram;   testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas, e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade?” (Hb.2:3,4).
II – A OBRA DE DEUS NA PRIMEIRA METADE DA GRANDE TRIBULAÇÃO
– Se há salvação na Grande Tribulação, isto indica que há pessoas que estarão fazendo a obra de Deus neste período. Estas pessoas, logicamente, não fazem parte da Igreja, que já terá sido arrebatada nesta ocasião. Quem, então, será cheio do Espírito Santo para trazer a mensagem de salvação na pessoa de Jesus Cristo?
– O livro do Apocalipse revela que Deus terá Sua obra feita na Terra a partir dos 144.000 judeus assinalados pelo Senhor em Apocalipse 7, mencionados também em Apocalipse 14:1-5 e pelas duas testemunhas, mencionadas em Apocalipse 11:1-14. São, por assim dizer, as “personagens boas” deste conflito entre bem e mal que se desenvolverá na Grande Tribulação e que são descritas seja no evento parentético entre o sexto e sétimo selos, seja no evento parentético entre a sexta e a sétima trombetas, seja na descrição das personagens que ocorre entre os capítulos 12 e 15, antes da consumação da ira de Deus, que se dá entre os capítulos 16 a 19 do livro.
– A menção de personagens no livro do Apocalipse mostra-nos, de pronto, que, ao contrário do que teve na dispensação da graça, não há um derramamento do Espírito Santo, que permitiu, por exemplo, que João viesse a multidão multifacetada quando de seu arrebatamento em espírito ao céu para testemunhar a abertura dos sete selos (Ap.4,5), mas um espécie de “retrocesso”, em que o Espírito volta a operar por medida(Jo.3:34), como se deu na história da humanidade até a vinda do Senhor Jesus ao mundo.
– O Espírito Santo atuará no mundo através destas personagens que, em meio à apostasia generalizada da humanidade, a exemplo do que ocorreu com o profeta Elias nos dias de Acabe, serão levantados para testemunhar da salvação pela fé em Cristo Jesus, levando multidões a receber a Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador.
– Estas pessoas, a quem o Espírito Santo será dado, como também aqueles que creem em sua mensagem, serão igualmente mortos pelo Anticristo, a quem será concedido o poder de vencê-los. Sua salvação não se dará, entretanto, pela morte, mas, sim, pela fé em Cristo que será testemunhada pela morte, pelo martírio. “…Não foram salvos pelo seu próprio sangue, como alguns ensinam. Foram salvos pela graça. Só o sangue de Jesus purifica e torna o pecador apto para entrar na presença de Deus.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.53). “…Ninguém será salvo pelo seu próprio sangue conforme ensinam alguns menos avisados, só o sangue de Cristo tem poder para purificar todo o pecado…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.7, p.101).
– O primeiro grupo mencionado no livro do Apocalipse destas “personagens do bem” no conflito entre o bem e o mal são os 144.000(cento e quarenta e quatro mil) homens assinalados do povo de Israel, escolhidos para levar o “evangelho do reino” durante a primeira metade da Grande Tribulação, no capítulo 7 daquele livro. “…O capítulo 7 deste livro do Apocalipse é um parêntese da graça.(…). O trecho de Ap.6:17 promete a ira divina contra os rebeldes. Este sétimo capítulo mostra que essa ‘ira’ não poderá ser descarregada contra os ‘assinalados’, os quais estão justificados em Cristo.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.99).
–  Estes 144.000(cento e quarenta e quatro mil) homens, que serão assinalados pelo Senhor, são chamados de “servos do nosso Deus” (Ap.7:3 “in fine”). Estes servos serão servos anônimos, a exemplo daqueles sete mil que serviram a Deus no tempo de Elias (II Rs.19:18), os quais não deixaram nem permitiram que a apostasia de Israel fosse total, ou como os crentes anônimos de Chipre e de Cirene que, sem serem identificados, iniciaram a evangelização dos gentios na igreja primitiva (At.11:20,21). Estes homens serão os responsáveis pela pregação da palavra de Deus e pela salvação de muitos na Grande Tribulação.
– O texto bíblico diz que estes homens não se contaminarão com o mundo e se manterão fiéis ao Senhor (Ap.14:3-5), mas, também, como são vistos na glória, juntamente com o Cordeiro (Ap.14:3) é percebido que irão ser mortos pelo Anticristo e pelo falso profeta no desempenho de seu ministério.
– Muito se especula sobre a identidade destes homens. O texto de Apocalipse 7 identifica-os como israelitas, doze mil de cada tribo, ainda que, na relação das tribos, não estejam as tribos de Dã e de Efraim. Com relação à tribo de Efraim, facilmente podemos perceber que ela é denominada de José, já que Efraim, conquanto não tenha sido o primogênito de José, assim foi abençoado por Jacó (Gn.48:14,19,20). Já no que diz respeito a Dã, a exclusão desta tribo explica-se porque esta tribo foi a primeira a apostatar em Israel, tornando-se idólatra (Jz.18), o que faz com que alguns estudiosos entendam que o Anticristo se dirá vinculado à tribo de Dã, quando invocar uma descendência judia a fim de convencer Israel que é o Messias.
– A exclusão da tribo de Dã, que simboliza o Israel apóstata, não só por ter sido a primeira tribo a aderir coletivamente à idolatria, mas até pelo próprio teor da bênção que Jacó deu a seu filho Dã no instante de sua morte, onde demonstra ter tido uma apreensão muito grande a respeito daquele filho (Gn.49:16-18), mostra-nos, claramente, que a ira divina virá não só sobre os gentios, mas também sobre a parcela de Israel que preferirá se aliar ao Anticristo a servir a Deus. A propósito, tem-se se evidenciado entre os judeus, máxime após o retorno à Palestina em 1948, uma nítida tendência de extremismo em Israel, com aqueles que se distanciam, a passos largos, do tradicionalismo e das Escrituras e aqueles que têm buscado uma religiosidade cada vez mais intensa.
– Outros, porém, tendo em vista que as dez tribos do antigo reino de Israel, o chamado “reino do norte”, desapareceram após a destruição deste reino pelos assírios, tendo um pequeno remanescente se misturado às três outras tribos do reino do sul (Judá, Benjamim e Levi), entendem que a menção das tribos em Apocalipse 17 não quer dizer que se esteja diante de pessoas judias, mas de um “novo Israel”, que seria o povo de Deus durante a Grande Tribulação, reunindo tanto os gentios que crerem em Jesus quanto os judeus que também o fizerem (a tribo de Dã representaria, assim, os judeus apóstatas, os “muitos” citados em Dn.9:27, que aceitarão o Anticristo como Messias e com ele selarão o pacto de paz). São entendimentos divergentes que devemos respeitar e que, como diremos infra, reproduzindo palavras do pastor Antonio Gilberto, é assunto irrelevante para nós que, como Igreja do Senhor, não estaremos aqui para presenciar os fatos.
– Estes 144.000 têm, em suas testas, escrito tanto o nome do Cordeiro quanto o nome de Seu Pai (Ap.14:1). Eles foram assinalados, selados pelo Espírito Santo, pois só aqueles que têm o Espírito podem confessar que Jesus é o Filho de Deus (I Jo.4:2,3; 2:20,23). São seguidores de Cristo Jesus em quaisquer circunstâncias, porque n’Ele creem (Ap.14:4), que foram comprados pelo Senhor Jesus e vivem em santidade, não tendo se contaminado com o pecado, mesmo diante de uma apostasia generalizada e sem qualquer resistência da parte de Deus (Ap.14:4,5).
– O trabalho deles não será infrutífero. Apesar de serem vencidos e mortos fisicamente pelo Anticristo, têm a vida eterna, pois quem lhes mata o corpo não têm o poder de lhes matar o homem interior, pois a morte não nos separa do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm.8:38,39).
– Tanto assim é que a comunhão que estes 144.000 desfrutam com o Senhor é mostrado claramente ao apóstolo João, quando os vê mo monte de Sião, entoando um cântico novo diante do trono de Deus, cântico exclusivo destes 144.000 (Ap.14:1-3). “…Eles prestavam um lindo culto de louvor e adoração ao Cordeiro. Imaginemos esta grande multidão cantando com alegria um hino de louvor, inundando com uma maravilhosa música a terra e os céus.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.86).
– Tanto não é infrutífero o trabalho feito pelos 144.000 que, após a visão de sua existência, é mostrada ao apóstolo uma multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos (Ap.7:9), o resultado da colheita feita por estes ceifeiros, por estes pregadores do “evangelho do reino” mesmo sob a cruel perseguição da besta. A estes 144.000, certamente, também se aplica o que foi profetizado pelo salmista: “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Sl.128:6).
– Mas os 144.000 não são as únicas personagens mencionadas no livro do Apocalipse e relacionados com o “evangelho do reino” que será pregado ao mundo mesmo diante do implacável governo do Anticristo. Há, também, a menção, no capítulo 11 do livro do Apocalipse, de duas outras personagens, conhecidas como “as duas testemunhas”(Ap.11:3).
– As duas testemunhas serão profetas levantados pelo Senhor para pregar a mensagem de Deus durante a primeira metade da Grande Tribulação. Dizemos que o farão na primeira metade da Grande Tribulação, porque a Bíblia afirma que elas serão mortas e expostas ao público pelo Anticristo durante três anos e meio (Ap.11:9), após terem tido um ministério de mil duzentos e sessenta dias, ou seja, três anos e meio (Ap.11:3). Durante o seu ministério, o adversário não terá domínio sobre elas, pois serão ungidas pelo Senhor e receberão de Deus o poder para executarem o seu ministério(Ap.11:3-6), o que é a clara demonstração de que o Senhor, mesmo durante a Grande Tribulação, não perderá o controle sobre os acontecimentos, sobre o Universo. Por isso, querido(a) irmão(ã), nunca deixe de crer neste Deus Todo-Poderoso, que tem absoluto controle sobre todas as coisas!
– Entretanto, após o tempo de seu ministério, que será durante a primeira metade da Grande Tribulação, o Senhor permitirá que estas duas testemunhas sejam mortas pelo falso profeta, que, assim, demonstrará o seu poderio e, com este grande sinal, cristalizará o poder do Anticristo e levará todas as multidões a aceitar adorá-lo (Ap.11:7). Serão, então, expostos em Jerusalém, como demonstração do suposto poder do Anticristo, e isto durará por três anos e meio (Ap.11:2,11), que será, também, o tempo em que se dará a profanação do templo de Jerusalém pela imagem da Besta. Esta exposição pública de corpos que não são sepultados é costume bem presente na atualidade. Em Moscou, o corpo de Lênin, o líder da Revolução Russa, é mantido exposto e sob visitação pública, mesmo depois do término do regime comunista naquele país, o mesmo se dando com relação ao corpo de Mao Tse-Tung, o líder da Revolução Chinesa, em Pequim.
– Muito se especula a respeito da identidade destas duas testemunhas. Alguns estudiosos da Bíblia entendem que sejam Enoque e Elias, uma vez que são as duas únicas pessoas que não provaram a morte e a Bíblia afirma que está ordenado aos homens morrerem (Hb.9:27), sendo, ainda, que, como é dito que ambas as testemunhas seriam oliveiras e castiçais que estariam diante de Deus (Ap.11:4), isto indicaria que se trataria de pessoas que estariam diante do Senhor no céu. De qualquer modo, apesar deste pensamento, devemos ter o comportamento recomendado pelo pastor Antonio Gilberto, que ora transcrevemos: “…o caso não é muito relevante para nós da Igreja do Senhor porque quando as duas testemunhas atuarem aqui, a Igreja já estará com Cristo na Glória. Nosso conselho aos salvos, tendo em vista as duas testemunhas é o que está em Hebreus 2.1:’ Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos.’ Isto é, as verdades bíblicas a partir da salvação (Hb.2.3).…” (O calendário da profecia, p.143).
– Estas duas testemunhas, a exemplo do profeta Elias, farão sinais e prodígios ao longo de seu ministério, proclamando o arrependimento dos pecados e a necessidade da salvação na pessoa de Jesus Cristo. Evidentemente, ao saírem a proclamar tal mensagem, totalmente oposta à religião dominante, serão alvo de atroz e cruel perseguição por parte do Anticristo e do Falso Profeta, mas, durante os três anos e meio de seu ministério, o Senhor, mostrando que tem absoluto controle sobre todas as coisas, não permitirá que sejam mortos (Ap.11:5,6).
– Da mesma maneira que Acabe não pôde pôr suas mãos no profeta Elias, durante os três anos e meio de seca sobre a terra de Israel (I Rs.18:10), apesar de Jezabel ter podido matar a muitos dos profetas do Senhor (I Rs.18:13), assim, também, embora ao Anticristo será permitido matar os servos do Altíssimo, durante estes três anos e meio, até que se complete o testemunho destas duas testemunhas, o Senhor não permitirá que venham a ser mortos pelo Anticristo.
– A mensagem profética destas duas testemunhas também não será infrutífera. Seus ministérios, que serão públicos ao contrário dos ministérios dos 144.000, servirão para confirmar o trabalho de evangelização silencioso e anônimo destes 144.000 que, a exemplo dos 7.000 dos dias de Elias, terão a sua fé fortalecida pela manifestação de sinais e prodígios por parte das duas testemunhas.
– Todavia, findo o período de três anos e meio, o Senhor permitirá que o Anticristo vença as duas testemunhas e as mate (Ap.11:7). Esta vitória sobre as duas testemunhas será, inclusive, o mote para que o Anticristo proceda à “abominação da desolação”, entrando no templo dos judeus e se fazendo adorar como Deus no templo de Deus (Dn.9:27; 12:11; Mt.24:15; Mc.13:14; Lc.21:20).
– A “abominação da desolação”, que é mencionada no sermão profético de Cristo após o término da pregação do “evangelho do reino”, representa, também, o fim desta primeira etapa do “evangelho do reino” na Grande Tribulação. Ter-se-á fechada mais uma porta, ainda que bem estreita, da misericórdia de Deus à humanidade.
– A existência desta obra de Deus na Grande Tribulação faz com que muitos estudiosos da Bíblia entendam que o capítulo 24 de Mateus diga todo ele respeito à Grande Tribulação. Jesus teria respondido aos discípulos a respeito dos fatos que ainda estavam por acontecer com relação a Israel, falando a respeito da destruição do templo, da Sua vinda ( e, neste particular, Jesus somente virá para Israel, pois a Igreja é que irá ao encontro do Senhor nos ares – cfr. I Ts.4:17, de modo que não se poderia confundir volta de Jesus com arrebatamento da Igreja) e do fim do mundo. Os primeiros quatorze versículos diriam respeito à primeira metade da última semana de Daniel e os quatorze subsequentes, à segunda metade.
– Dentro deste raciocínio, o trabalho dos servos do Senhor durante a Grande Tribulação seria o descrito em Mt.24:5-14, que, normalmente, são apontados como sinais do arrebatamento da Igreja. Ainda segundo estes estudiosos, o evangelho do reino seria o evangelho pregado tanto pelas duas testemunhas quanto pelos 144.000 e só então se daria o fim deste primeiro período da Grande Tribulação. Em resposta à rejeição desta última oportunidade, viriam as pragas que são mencionadas a partir do capítulo 10 do livro do Apocalipse.
– O importante de todas estas informações é que a presença das duas testemunhas e dos 144.000 é mais um elemento a confirmar que a Igreja não estará na Terra quando da Grande Tribulação, pois, se aqui ela estivesse, não haveria necessidade alguma de o Senhor preparar outros para realizar a Sua obra. Se surge um “novo Israel” e dois novos profetas, isto é sinal evidente de que neste tempo, não está na Terra “…a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes d’Aquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz…” (I Pe.2:9b).
III – A OBRA DE DEUS NA SEGUNDA METADE DA GRANDE TRIBULAÇÃO
– Haveria, então, um silêncio da parte de Deus após o término da primeira metade da Grande Tribulação? Não se teria a pregação da Palavra após este período de três anos e meio?
– A resposta é, como já podemos desconfiar, negativa. A Palavra de Deus, já vimos, permanece para sempre e Deus é amor, de modo que, apesar de ter havido a rejeição por parte da esmagadora maioria da humanidade seja da pregação dos 144.000, como também do das duas testemunhas, nem por isso se terá, da parte do Senhor, o silêncio, embora se inicie, a partir de então, a consumação da ira de Deus, que alguns estudiosos denominam da “grande ira de Deus”, que se dá com o sétimo selo, que traz as sete trombetas, bem assim com as sete taças.
– Esta mudança de atitude da parte de Deus, ante a resistência dos homens em aceitar a mensagem do Evangelho, é simbolizada pelo “silêncio quase por meia hora”, mencionado por João no início do capítulo 8 do livro do Apocalipse, quando se abre o sétimo selo, onde estão as sete trombetas que, depois, serão complementadas pelas sete taças.
– “…Que momento de expectativa! Os milhares de anjos; os quatro animais; os vinte e quatro anciãos e os mártires vindos da Grande Tribulação, todos no mais absoluto silêncio. Meia hora de silêncio. Chegou o momento de Deus responder as orações de milhares e milhares de santos, que, muitas vezes, com muitas lágrimas, clamaram: ‘Venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu’ (Mt.6:10). Os exércitos de Deus estão preparados para atacar os poderes satânicos; resgatar a terra das mãos de Satanás e estabelecer o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo, que reinará por mil anos. Então, sim, será feita a vontade de Deus na terra, como é feita no céu.…” (OLIVEIRA, José Serafim. op.cit., p.55).
-“…Devemos observar que, nos capítulos anteriores, havia grande alarido no céu. Agora, porém, fez-se silêncio repetino! Toda música cessa. A voz de Deus está abafada. A seriedade do momento é suficiente para afastar todo regozijo da história humana e celeste. O sétimo selo é o último selo. O selo do silêncio! Há nele uma pausa de quase meia hora! Por quê? A ‘DISPENSAÇÃO DA GRAÇA’ começou com a morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo e terminará em sua plenitude com o arrebatamento da Igreja (t.25:10). Mas, é evidente que, oficialmente falando, ela terminará sua forma de ação na presente secção de Apocalipse (8:1-5); a seguir, no versículo seguinte, vem um ‘depois’ que reassume o curso da ‘ira divina’ já manifestada no início da Grande Tribulação (cf 6:16,17)…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.114) (caixa alta original).
– Como podemos observar, este silêncio mostra a mudança de atitude da parte de Deus, é chegado o momento de derramar sobre o mundo a Sua ira, terminou a derradeira pregação para o arrependimento dos pecados, feita por meio dos 144.000 e das duas testemunhas.
– No entanto, mesmo diante deste quadro de juízo, mesmo assim o Senhor quererá comunicar aos homens o Seu desejo de salvação. Este Deus, que é tardio para irar-Se (Ex.34:6; Ne.9:17; Jl.2:13; Na.1:3), no momento mesmo do derramamento desta ira sobre os homens, não deixará de manifestar o Seu amor e a Sua misericórdia.
– Primeiramente, Deus dará Seu testemunho aos homens a partir dos próprios juízos divinos. O sétimo selo traz as sete trombetas (Ap.8:2), que demonstram o total domínio do Senhor sobre a Terra e sobre os homens, senão vejamos:
a) a primeira trombeta promoverá a queima da terça parte das árvores e de toda a erva verde (Ap.8:7);
b) a segunda trombeta promoverá a morte da terça parte das criaturas marinhas e a perda da terça parte das naus (Ap.8:8,9);
c) a terceira trombeta promoverá a perda da potabilidade da terça parte das águas doces da Terra (Ap.8:10,11);
d) a quarta trombeta promoverá a perda da terça parte da luz que ilumina a Terra (Ap.8:12);
e) a quinta trombeta ou “primeiro ai” promoverá, por cinco meses, grande tormento sobre os homens que não têm o sinal de Deus, inclusive com a prisão da morte neste período (Ap.9:1-12);
f) a sexta trombeta ou “segundo ai” promoverá a morte da terça parte da humanidade (Ap.9:13-21);
g) a sétima trombeta ou “terceiro ai” traz o julgamento do mal, com a solene proclamação celestial do estabelecimento do reino de Deus e do Seu Cristo (Ap.11:15-19).
– Antes, porém, que a sétima trombeta se concretizasse sobre a face da Terra, o Senhor, na Sua infinita misericórdia, demonstra que é tardio em irar-Se. Assim é que, no capítulo 14 do livro do Apocalipse, da mesma maneira que mostra os 144.000 triunfantes no monte de Sião, cantando um cântico novo, antes de proceder ao derramamento sobre a terra das sete salvas da ira de Deus, que é a concretização do que proclamado na sétima trombeta, a exemplo do que fez com Noé que, avisado da iminência do dilúvio, pôde, ainda, pregar a justiça de Deus por cem anos, o Senhor trará um anjo que voará pelo meio do céu e proclamará o “evangelho eterno” a toda terra, nação, tribo, língua e povo (Ap.14:6), seguido de outros dois anjos, que completarão esta mensagem.
– A identidade destes anjos é outro motivo de especulação entre os estudiosos. Entendem alguns que se trata de anjos, de seres celestiais. “…Em pleno reinado do Anticristo, quando a besta fechar a boca de todos os crentes, Deus ainda dará ao mundo uma oportunidade de arrependimento, enviando um mensageiro do céu para pregar o Evangelho. Este anjo voando pelo meio do céu, pregando o Evangelho Eterno, a besta não o poderá calar. E todos os que creem na mensagem do anjo e se recusarem a prestar adoração à besta, e adorarem ao verdadeiro Deus, o Criador de todas as coisas, serão salvos…” (OLIVEIRA, José Serafim, de. op.cit., p.87).
– “…Deus nunca deixou a Si mesmo sem testemunho (At.14:17). Ele é o Deus que ‘nunca muda’ (Ml.3:6) e, durante o tempo da Grande Tribulação, levantará um grupo de pregadores do ‘Evangelho do Reino’ que, com grande poder, darão o seu testemunho. Na plenitude dos tempos, Ele levantou, antes da manifestação do Messias prometido a Israel, um João Batista; a pregação de João era precursora, isto é, preparava o caminho da manifestação do Filho de Deus aos filhos de Israel (Ml.4:5,6; Mt.3:1 e ss; Jo.1:15 e ss.). O mesmo Jesus designou também um grupo de pregadores do ‘Evangelho do Reino’ (Mt.10:5-7)(…). Após Sua morte e ressurreição, Ele ordenou que se pregasse o ‘Evangelho da Graça de Deus’ a toda criatura ‘começando por Jerusalém’ 9Mc.16:15; Lc.24:47). Agora, no presente texto, vimos um elevado poder angelical a pregar ‘O Evangelho Eterno’…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.192).
– Outros, no entanto, acham que a expressão “anjo” significa tão somente “mensageiro”, a exemplo do que ocorre, nas sete cartas às igrejas da Ásia Menor, em que os pastores, como estudamos, são chamados de “anjos da igreja”. Seria, pois, um pregador enviado diretamente por Deus para pregar neste período final da Grande Tribulação. Tais estudiosos baseiam-se no fato de que jamais Deus teria permitido aos anjos pregarem o Evangelho, mas, tão somente, aos seres humanos (Hb.2:9-18; I Pe.1:12).
– Respeitando este entendimento, contudo consideramos que o entendimento de que se trata de um ser angelical é o que melhor se coaduna com o texto bíblico, visto que, quando da menção tanto dos 144.000 quanto das duas testemunhas, as Escrituras os tratam como homens, apesar de eles serem mensageiros da parte de Deus, o que aqui não ocorre. Além do mais, é dito que o “anjo voa pelo meio do céu”, expressão a indicar que se trata, mesmo, de um ser celestial, como todos os anjos que são apresentados a partir do capítulo 4 do Apocalipse.
– O fato de ter sido utilizada a expressão “anjo da igreja” nos capítulos 2 e 3 do livro do Apocalipse também não impressiona. Como já se disse quando do estudo das cartas às igrejas da Ásia Menor, as características apontadas a referidos “anjos” mostram, claramente, no contexto que se trata de seres humanos e não de seres celestiais. Ademais, a partir do capítulo 4, quando a Igreja não mais se apresenta no livro do Apocalipse, há uma perfeita distinção entre os anjos e os seres humanos, de modo que não há como confundi-los.
– Com relação à objeção para que os anjos pudessem proclamar o Evangelho, temos que, também, tal argumento não impressiona. Por primeiro, os textos trazidos à colação não trazem uma proibição para que anjos tragam mensagem pública da parte de Deus aos homens. O trecho de Hebreus fala da encarnação necessária do Verbo para que fosse Ele o perfeito Salvador, apenas exclui a possibilidade de os anjos serem salvadores, o que somente Deus poderia realizar.
– Já o trecho de I Pedro precisa ser melhor compreendido, pois, ao contrário do que se costuma deduzir do texto, ou seja, de que os anjos teriam desejado pregar o Evangelho, não é isto que ali está escrito. Os anjos desejam “bem atentar para estas coisas”, ou seja, não é que os anjos desejavam fazer o trabalho da evangelização e isto lhes foi impedido, mas, sim, que desejavam “atentar” para ele, ou seja, “prestar atenção”. A palavra original é “parakypto” (παρακυπτω), cujo significado é “olhar atentamente”, “inclinar-se para olhar com profundidade, com extrema atenção”.
– Portanto, não há qualquer proibição divina para que a um anjo seja dada a ordem para proclamar o Evangelho, para trazer boas novas de salvação aos homens, até porque se trata de “anjos”, ou seja, seres cuja função é, entre outras, de trazer mensagens e o Evangelho não deixa de ser uma mensagem.
– A propósito, há uma outra ocorrência nas Escrituras de uma mensagem divina trazida aos homens diretamente por um anjo. É o que vemos em Jz.2:1-6, quando “o anjo do Senhor” subiu de Gilgal a Boquim, ainda nos dias de Josué, anunciando que não mais expeliria os estrangeiros da terra de Canaã diante da desobediência à ordem divina para destruí-los, a demonstrar, portanto, que não se trata de algo que comprometeria a imutabilidade de Deus.
OBS: Segundo “a Bíblia em ordem cronológica”, organizada por Edward Reese e Frank Klassen, este episódio ocorreu logo após o malfadado pacto entre Israel e os gibeonitas.
– Neste momento da história da humanidade, quando todas as vozes humanas forem caladas pelo Anticristo, não haveria como levantar homens para que pregassem a Palavra. Por isso, Deus, no Seu inexplicável amor, como bem considerou o ilustre comentarista, permitirá que três anjos, quiçá aquele que mais “prestaram atenção” a como se fez o trabalho de evangelização, possam, do meio do céu, trazer a proclamação do Evangelho.
– Este Evangelho não é inovação alguma. É o “Evangelho Eterno”, ou seja, o mesmo Evangelho, a mesma mensagem que vem sendo proclamada ao homem desde o Éden, quando o próprio Deus a pronunciou, ou seja, a de que o homem pode ser salvo através da fé na “semente da mulher”, no Verbo que Se fez carne, através de Cristo Jesus, sem O qual se sofrerá a ira de Deus.
– O primeiro anjo traz a mensagem da necessidade de obediência a Deus, por ser Ele o Senhor de toda a Terra: “Temei a Deus e dai-lhe glória, porque vinda é a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Ap.14:7). Temos aqui a pregação sobre o pecado, ou seja, a necessidade de arrependimento e do reconhecimento da soberania de Deus, para obedecer-Lhe (Jo.16:9). Somente pode adorar a Deus e temê-l’O quem crer em Jesus como Senhor e Salvador, como, aliás, esclarece o próprio escritor do Apocalipse ao fim desta passagem, ao indicar que a “paciência dos santos” é guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus (Ap.14:12).
– Esta pregação do primeiro anjo é seguida por um outro anjo que pregou a seguinte mensagem: “Caiu, caiu Babilônia, aquela grande cidade, que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição” (Ap.14:8). Temos aqui a pregação da justiça divina. As trombetas já haviam lançado sobre o mundo a ira divina e o reino do Anticristo estava estremecido, mas se fazia preciso lembrar a humanidade que Deus é justiça e que a justiça seria feita, uma vez que o Senhor Jesus não Se encontrava mais sobre a face da Terra (Jo.16:10). Enquanto o Anticristo escamoteava a realidade do abalo de seu reinado, o anjo vinha afirmar que Deus estava no pleno controle da situação e que era indispensável ao homem servir a Deus e não à besta. E, assim, “…Todos que se arrependerem e abandonarem a idolatria e a feitiçaria e derem glória ao Deus do céu, escaparão da condenação e não perecerão com os infiéis.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.88).
– Esta segunda pregação é seguida por um outro anjo, que pregou a seguinte mensagem, com grande voz: “Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da Sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E o fumo do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome” (Ap.14:9-11). Temos aquia pregação do juízo de Deus, a confirmação de que o príncipe deste mundo já foi julgado e que breve seria executada a sua sentença(Jo.16:11). “…Deus, na Sua infinita graça, não deixará de enviar aos homens a última advertência, através do anjo, para que muitos possam escapar da eterna condenação, recusando-se a prestar adoração à besta e a receber o seu sinal. Mesmo que esta recusa lhe custe a vida, mas não se perderão eternamente(Mt.10:28)…” (OLIVEIRA, José Serafim de.op.cit., p.89).
– Aqui nos parece que o anjo repete uma mensagem que, certamente, fora proclamada pelas duas testemunhas, a mostrar aos homens que a sua morte física não retirara, ao contrário do que diziam as bestas, a veracidade de sua mensagem, como já estava sendo demonstrado pelos juízos advindos com as sete trombetas.
– O “evangelho eterno”, portanto, não trouxe qualquer novidade. Era apresentado aos homens, como se dera em todos os tempos, mui especialmente na dispensação da graça, a mensagem a respeito do pecado, da justiça e do juízo. E, assim como nos tempos da graça, todo aquele que se deixar convencer pelo Espírito Santo ante esta proclamação será salvo.
OBS: Por isso, não se pode aceitar o “Livro de Mórmon”, apresentado a Joseph Smith por um suposto anjo chamado Morôni, onde se conteria o “evangelho eterno”, pois se trata de uma inovação, algo que, à evidência, não pode ser tido como Palavra de Deus.
– Este evangelho não é outro, ainda que tenha sido trazido do céu por anjos, pois, se fosse outro, teria de ser considerado como anátema (Gl.1:8). É o mesmo evangelho e, por isso, poderá ser recebido e resultar na salvação de tantos quantos crerem. Só depois desta proclamação é que se fechará definitivamente a “porta da comunicação”, advindo, então, a consumação da ira divina, com o lançamento, por parte de Cristo da foice pois estará madura a seara e se consumará a ira de Deus com as sete taças e a destruição do sistema gentílico (Ap.15:14-20; 16-19).
– Novamente, porém, ao encerrarmos o estudo da misericórdia divina na Grande Tribulação, insistimos que tais relatos bíblicos nunca podem permitir, de nossa parte, um desleixo espiritual ou um pensamento que nos leve a conviver com o pecado crendo que “teremos uma outra chance”, caso o Senhor venha arrebatar a Sua Igreja e formos nós encontrados em estado que nos impeça de subir para encontrar a Cristo nos ares.
– Lembramos aqui as palavras do profeta Jeremias: “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com cavalos? Se tão somente numa terra de paz estás confiado, que farás na enchente do Jordão?” (Jr.12:5). Se, ante um derramamento do Espírito Santo, ante um período em que estamos a desfrutar da graça de Deus, não conseguirmos ser fiéis ao Senhor nem Lhe formos tementes, como podemos achar que num período em que o Espírito operará por medida e onde não haverá qualquer resistência divina ao império do mal, seremos capazes de servir a Deus, mesmo ante a inevitável certeza da morte? Quer-nos parecer que quem endurece o seu coração com tanta facilidade, não terá porque ser sensível à Palavra de Deus naquele tempo. Não há, repetimos, como escapar de uma tal grande salvação que hoje nos é oferecida pelo “evangelho da graça de Deus” (Hb.2:3,4). Pensemos nisto e sejamos fiéis agora ao Senhor!
COLABORAÇÃO PARA O PORTAL ESCOLA DOMINICAL – CARAMURU AFONSO FRANCISCO

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