Lição 2 – A enfermidade na vida do crente I
3 de julho de 2012
A enfermidade é consequência da entrada do pecado no mundo e desta realidade não foge o salvo em Cristo Jesus.
INTRODUÇÃO
– O homem foi criado perfeito, tanto física quanto moralmente. O pecado fez com que o homem estivesse sujeito à morte física e, consequentemente, à doença.
– A doença, embora possa ser debelada pelo poder de Deus, não será extirpada do gênero humano enquanto não houver a glorificação, quando, então, estaremos totalmente imunes de toda e qualquer enfermidade. Assim, a promessa da cura divina não pode ser confundida com uma imunidade do crente a doenças.
I – A SAÚDE
– Iniciando o estudo do primeiro bloco deste trimestre, em que vamos analisar os “dramas biológicos” de nossa peregrinação terrena, estudaremos a respeito da doença ou enfermidade, uma realidade de que o salvo em Cristo Jesus não escapa, apesar das mentiras que têm sido insistentemente pregadas pela “teologia da confissão positiva”. Para entendermos o que é a doença, faz-se mister que saibamos o que é a saúde.
– Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, saúde é “estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para a forma particular de vida (raça, gênero, espécie) e para a fase particular de seu ciclo vital”, é o “estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar”. Vem do latim “salus, salutis”, que significa “salvação, conservação da vida”.
– Como se pode perceber, pelas definições dadas, a saúde é um quadro de manutenção da vida, de pleno funcionamento de todos os órgãos e de uma harmonia entre todas as funções do organismo. Nada mais é, portanto, do que a realização daquilo que foi projetado para o organismo, o cumprimento de todo o propósito estabelecido para aquele ser vivo.
– É, portanto, claro que o estado de saúde exige, para sua ocorrência, que se tenha a perfeita realização do propósito divino para o homem. A saúde é o pleno funcionamento do organismo humano, o cumprimento do propósito divino, pois foi Deus quem criou o homem (Gn.1:26,27).
– Para que houvesse plena saúde, porém, seria preciso que o homem se mantivesse de acordo com o propósito divino, que era, como vemos no relato da criação, o de manter uma comunhão com Deus e de, a partir desta comunhão, dominar sobre a criação terrena. Temos aqui a síntese do que se chamou de “mordomia”, ou seja, o homem deveria ser servo de Deus, cuidando da Terra para o Senhor.
– Contudo, o homem não obedeceu a este propósito divino e pecou. Ao desobedecer a Deus, o homem perdeu este estado de equilíbrio, tanto que um dos juízos lançados por Deus sobre ele foi o da morte física:
“…maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também de produzirá e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás…” (Gn.3:17 “in fine”-19).- A sentença divina sobre o homem, por causa do seu pecado, atingiu diretamente a questão da saúde.
A terra, antes o local da realização do propósito divino para o homem, passou a ser um obstáculo para este mesmo ser humano. A terra foi maldita e, como algo maldito, traria infelicidade, incômodo e aborrecimento para o homem. A natureza passou a colaborar para um crescente desequilíbrio do organismo humano, desequilíbrio que levaria, mais cedo ou mais tarde, à extinção da atividade, com a degeneração do organismo, que estaria fadado a se desfazer, voltando a ser pó, o mesmo pó que o Senhor havia tomado para formar o homem.
– O homem passou a ter a natureza como um obstáculo, como um fator de estorvo, em vez de um complemento que só lhe trazia alegria e ajuda na sua sustentação (Gn.2:9). A natureza passou a colaborar com a perda da saúde, passou a ser um fator que contribuiria para a corrupção progressiva e constante do corpo humano. Daí termos o fato de a natureza ter seres que, para o homem, são geradores de doenças, os chamados “agentes patogênicos”. Isto é resultado da sentença divina sobre o homem, por causa do pecado, algo que somente será modificação depois que a natureza for redimida (Rm.8:19-23), o que ocorrerá apenas por ocasião do reino milenial de Cristo (Is.11:6; 65:25).
– Como se não bastasse o fato de a natureza passar a colaborar para a degeneração do homem, temos qu e o próprio organismo humano, por si só, após o pecado, haveria de iniciar sua marcha para a sua extinção.
Como resultado do pecado, o corpo humano passou a sofrer de uma degeneração contínua, independentemente da ação de “agentes patogênicos”, porque o Senhor estabeleceu que o homem deveria tornar à terra, ou seja, que haveria uma inexorável e inevitável caminhada do organismo de volta à terra, ou seja, que o corpo tenderia a se desfazer, a deixar de existir enquanto tal.
– Assim, podemos afirmar que a doença e a morte física não estavam projetadas para o homem, não faziam parte do propósito divino, mas que são resultado do pecado, consequências do pecado. Assim, quando Deus apresentou o Seu plano da salvação, esta teria, necessariamente, de propiciar um mecanismo de erradicação da doença e da morte física. A salvação é o restabelecimento da comunhão entre Deus e o homem, o retorno à condição originalmente prevista para o ser humano, demonstrando, desta maneira, tanto a fidelidade divina, quanto a Sua misericórdia.
– A saúde do homem, portanto, é um objetivo perseguido por Deus quando do estabelecimento do plano da salvação. O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29), ao tirar o pecado, haveria, também, de tirar tudo aquilo que era consequência do pecado, ou seja, a morte física e o seu corolário, que é a doença. Não é por acaso que, durante Seu ministério terreno, Jesus tenha, por diversas vezes, curado enfermos, como comprovação de que Seu trabalho, sobre a face da Terra, era restaurar aquele estado anterior ao pecado, um estado onde a doença simplesmente inexistia (Mt.8:16; 12:15; 14:14; 19:2; 21:14; Mc.1:34; 6:5; Lc.7:21). Na sua feliz síntese do ministério de Cristo, o apóstolo Pedro não deixou de lembrar que Jesus “…andou fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At.10:38b).
– O plano de Deus para a salvação do homem, portanto, abrange a cura das enfermidades dos homens, a erradicação da doença, o restabelecimento da saúde. Como Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8), continua a ser Aquele que foi dar saúde ao criado do centurião romano (Mt.8:7), o mesmo que foi anunciado por Pedro e que deu saúde para Eneias (At.9:34). Por isso, dentre as tarefas que o Senhor deixou à Sua Igreja, está a de curar os enfermos (Mc.16:18).
– No entanto, o fato de que a saúde faz parte do plano de Deus para a salvação não significa que a doença venha a ser erradicada da vida de todo aquele que aceita a Jesus Cristo como Senhor e Salvador da sua vida. Assim como o fato de ser salvo não nos livra da morte física, consequência praticamente inevitável do pecado e que acomete tanto os salvos quanto os ímpios, assim também não estamos imunes à doença. Jesus cura os enfermos, este é um sinal de que venceu a morte e o inferno, de que é o Salvador do mundo, mas daí a se dizer que todo salvo não fica doente há uma grande distância.
– Assim falamos porque, lamentavelmente, entre os falsos ensinos destes últimos dias está o da chamada “doutrina da confissão positiva”, que defende a ideia de que a doença tem como causa o pecado e que, quando somos perdoados de nossos pecados, adquirimos, como efeito da salvação, a imunidade à doença. Assim, sendo este falso ensinamento, que tem encontrado guarida em muitos púlpitos na atualidade, quando uma pessoa está doente isto é sinal de que perdeu a comunhão com Deus, que pecou e, por isso, adoeceu. Doença para o salvo seria, pois, efeito imediato do pecado, da perda da comunhão com Deus.
– É importante afirmar que este pensamento não é novo. Na verdade, é uma das mais antigas distorções que se tem notícia nas Escrituras. É a tese apresentada pelos amigos de Jó, que, depois de terem chorado durante sete dias ao ver o lamentável estado em que se encontrava o patriarca (Jó 2:12,13), acometido de uma enfermidade terrível, que o transformou numa verdadeira “ferida ambulante” da cabeça aos pés (Jó 2:7), passaram a atribuir a doença dele a um suposto pecado cometido e que deveria ser confessado. No entanto, Jó sempre se declarou inocente, inocência esta que foi atestada pelo próprio Deus, mesmo depois que Jó estava doente (Jó 42:7).
– A começar de Jó, portanto, vemos que o fato de uma pessoa ficar doente não significa que seja, necessariamente, alguém que esteja sofrendo de uma punição divina por causa de seus próprios pecados. A Bíblia está repleta de exemplos de homens e mulheres de Deus que, apesar de terem uma vida de comunhão com o Senhor, adoeceram e, por vezes, até morreram doentes, sem que esta doença significasse qualquer desvio espiritual ou pecado por parte do servo do Senhor. A propósito, o profeta que maior número de milagres fez no Antigo Testamento, Eliseu, em que repousava porção dobrada do Espírito Santo que havia estado em Elias, diz-nos as Escrituras, morreu por causa de uma doença (II Rs.13:14).
– A doença é uma consequência do juízo divino sobre a humanidade, feita ao primeiro casal, por causa do pecado. Herdamos do primeiro casal, em cujos lombos já estávamos (cfr. Hb.7:10), a natureza pecaminosa e passamos a viver numa terra amaldiçoada em virtude da iniquidade. Nascidos à imagem e semelhança de Adão (Gn.5:3), concebidos em pecado (Sl.51:5), não temos como deixar de possuir um corpo que está marcado para tornar à terra, como também uma natureza que, adquirida a consciência, nos leva a pecar contra Deus. Estamos destinados a tornar à terra e, como tal, não temos como fugir da doença. Pode ser que morramos por motivo outro que não a doença, mas jamais podemos dizer que, por causa da salvação, jamais ficaremos doentes.
– O corpo humano será redimido pela obra salvadora de Cristo Jesus, mas isto não é algo que já tenha acontecido, mas algo que ainda esperamos (Rm.8:23), algo que acontecerá somente com a glorificação, estágio final do processo da salvação (I Co.15:50-56), que, para a Igreja, se dará quando do arrebatamento. A morte é o último inimigo a ser vencido, algo que se dará tão somente com a destruição do sistema mundano, como nos mostra, claramente o capítulo 25 do livro do profeta Isaías.
– Assim, como ainda estamos neste “corpo do pecado”, enquanto ainda temos um corpo corruptível, o corpo que está destinado à terra, de onde foi formado, temos de conviver com a doença, ela pode aparecer como uma ocorrência em nossas vidas, ainda mais nos tempos trabalhosos em que vivemos, dias em que, apesar da multiplicação da ciência (Dn.12:4), surgiriam cada vez mais doenças (Mt.24:7).
– É oportuno deixar consignado que Deus pode atuar, ao lançar juízos sobre os homens, trazendo doenças sobre as pessoas. É uma das formas de Deus demonstrar Seu desagrado para com o pecado. A Bíblia está, também, repleta de exemplos em que doenças foram utilizadas para julgamento de nações e de povos, como a quinta praga lançada sobre o Egito, a praza das úlceras (Ex.9:8-12); a lepra, que, durante toda a história do povo hebreu, sempre esteve vinculada a uma maldição ou juízo divinos, como nos casos de Miriã (Nm.12:10), de Geazi (II Rs.5:27), e do rei Uzias (II Rs.15:5) e as doenças que acometeram tanto um rei fiel como Asa, mas que havia entristecido o Senhor ao perseguir um profeta (II Cr.16:9,10,12), como um rei infiel, como o rei Jeorão de Judá (II Cr.21:18,19).
– Mas, também, não podemos nos esquecer que, por vezes, a doença foi impingida por Deus não por causa de algum pecado, mas com outros objetivos, como a retidão e sinceridade de alguém, como no caso do filho de Jeroboão (I Rs.14:12,13), ou, mesmo, para a manifestação das obras de Deus, como no caso do cego de nascença (Jo.9:1-3). Vemos, portanto, que a doença não está necessariamente vinculada a pecado e que é, antes de tudo, uma ocorrência a que estão sujeitos todos os homens, diante da sua própria constituição estrutural, depois que o pecado entrou no mundo.
II – O CUIDADO COM A SAÚDE FÍSICA
– Sendo a saúde um estado criado pelo próprio Deus e que se encontra precarizado, tornado imperfeito e insuficiente por causa do pecado, logo percebemos que se trata de um bem que deve ser preservado pelo ser humano. Quando o homem se conscientiza que a saúde é uma dádiva divina, é um estado que corresponde ao propósito de Deus, um dentre tantos dons que o Senhor nos concede, reconhece a necessidade que tem, diante do Senhor, de se esforçar para a sua manutenção, sabendo que, como tudo é do Senhor (Sl.24:1), terá de prestar contas do que fez com o seu organismo durante o tempo de peregrinação sobre a face da Terra (Sl.119:19a).
– O cuidado com a saúde insere-se, portanto, dentre aquelas tarefas que foram cometidas ao ser humano na sua qualidade de “mordomo-mor” sobre a face da Terra. Temos de cuidar de nosso organismo, porque a vida é um dom dado por Deus (Gn.2:7; I Sm.2:6) e que nos está “emprestado”, que nos foi dado em confiança, motivo por que deveremos prestar contas do que tivermos feito com ele, em especial aqueles que alcançarem a salvação na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Co.5:10).
OBS: Maimônides, o grande filósofo judeu da Idade Média e grande comentarista das Escrituras hebraicas, bem aludia, em sua obra “Mishneh Torah”, um comentário a respeito da lei, esta necessidade de bem cuidarmos do corpo (Maimônides, por sinal, era médico), em trecho que vale a pena transcrever: “…9.,Todo o que leva sua vida de acordo com a medicina
– se pensar que o faz somente para que estejam seu corpo e membros perfeitos, ou a pessoa que pensa em procriar para que seus filhos estejam ocupando-se de seu trabalho e esforçando-se por suas necessidades – não está em um bom caminho. Deve por sua atenção que seu corpo esteja perfeito e forte, para que esteja sua alma reta para o conhecimento de Deus – sendo impossível que a pessoa entenda e dê atenção às ciências estando doente, ou sentindo dores em um de seus membros. [Igualmente, ao gerar,] que tenha um filho – e, talvez se torne um sábio de Torá e uma grande personalidade no povo de Israel.
A pessoa que assim fizer por todos seus dias – estará permanentemente servindo a Deus, mesmo em seus negócios, ou quando mantém relações sexuais, pois seu pensamento em tudo para conseguir suas necessidades, que se ache seu corpo perfeito para servir a Deus.
Mesmo quando dormir – se foi dormir consciente que o faz para que seus nervos e sua mente descansem, descansando também o corpo, evitando que lhe sobrevenha alguma enfermidade – pois como poderá servir a Deus, estando doente?! – estará também seu sono serviço a Deus, Bendito é Ele. Acerca disto ordenaram e disseram os Sábios: “Em todos teus caminhos, conhece-O, e Ele endireitará tuas veredas!” – Pv 3:6. …” (Mishneh Torah I,3, 9 a 11. Disponível em: http://www.judaismoiberico.org/mtp/ciencia/dt/dt003.htmAcesso em 21 set. 2007).
– A Bíblia Sagrada afirma que o corpo do salvo é templo do Espírito Santo (I Co.6:19). Sendo templo, é algo que é sagrado, algo que se encontra dedicado para o serviço de Deus. Nosso corpo é morada do Espírito Santo, é a Sua habitação. Sendo assim, devemos manter o nosso corpo em perfeita santidade, porque Deus é santo. Não só não podemos usar nosso corpo como instrumento do pecado, porque isto é comportamento de quem não alcançou a salvação (Rm.6:12,13), como também devemos ter o corpo pronto para ser oferecido em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional (Rm.12:1).
– Como templo do Espírito Santo e como instrumento de justiça e de adoração, o corpo do salvo não pode, em hipótese alguma, ser mantido em um estado de contaminação com o pecado, nem tampouco num estado de fraqueza e de debilidade que comprometa o nosso raciocínio, o nosso pensamento, o nosso discernimento, seja espiritual, seja natural. Precisamos ter um corpo sadio, para que nossas faculdades mentais tenham condição de também se desenvolver plenamente, sem o que não poderemos servir a Deus de acordo com a Sua vontade. “Mens sana in corpore sano” (isto é, mente sã em corpo são) é uma exigência divina para que possamos servir a Deus a contento, de acordo com a excelência da Sua santidade.
– Mas a Bíblia Sagrada também se refere ao corpo como sendo um tabernáculo ou uma tenda. Paulo diz que o nosso corpo é a “… nossa casa terrestre deste tabernáculo…” e, mais, que se trata de uma casa que irá se desfazer (II Co.5:1). Pedro, também, utiliza-se da mesma figura, ao afirmar que “…breve ente hei de deixar este meu tabernáculo…” ( II Pe.1:14).
– Esta figura do corpo como sendo o tabernáculo é muito profunda e significativa. Trata-se de uma expressão utilizada por quem tinha pleno conhecimento do significado do tabernáculo para o povo de Israel. A palavra ” tabernáculo” quer dizer habitação, morada e diz respeito à construção móvel que Deus determinou que Moisés fizesse e que acompanhou o povo na sua peregrinação no deserto e que existiu até a construção do templo no reinado de Salomão. O que o tabernáculo pode nos ensinar a respeito do nosso corpo?
– Em primeiro lugar, o tabernáculo era uma construção móvel (Nm.10:21), ou seja, era uma edificação que não foi feita para ficar no mesmo lugar durante todos os tempos, mas algo que ia de um lugar para outro, embora estivesse seguindo um caminho pré-determinado por Deus (qual seja, a Terra Prometida). O nosso corpo, também, não é algo que foi feito para perdurar para sempre. O corpo é algo passageiro, algo que tem um tempo determinado, algo que está submetido ao espaço e ao tempo, algo que envelhece, algo que se modifica, mas algo que deve ser conduzido com um objetivo previamente determinado pelo Senhor, assim como o tabernáculo era levado pelo povo para um lugar já mostrado a Israel por Deus.
– Quando temos consciência de que o nosso corpo é uma construção móvel, é algo que serve para nossa peregrinação no caminho traçado pelo Senhor para cada um de nós, temos uma conduta totalmente diferente com relação a nosso corpo do que o temos feito ou que as pessoas sem esta consciência fazem. Não podemos tratar o corpo como algo irrelevante para Deus quando tomamos consciência de que ele é algo que devemos conduzir na nossa caminhada para o céu.
– Em segundo lugar, o tabernáculo era uma construção que foi feita para um determinado período da história de Israel(I Rs.8:4), ou seja, não foi algo que perdurou para sempre. Nosso corpo, de igual forma, não foi feito para durar para sempre. Nosso corpo é do pó da terra e a ele tornará (Gn.3:19) ou, se estivermos entre aqueles que serão arrebatados ainda vivos, teremos nossos corpos transformados num corpo glorioso(I Co.15:52). O corpo é uma casa terrestre que se desfará, como diz o apóstolo Paulo. Quando sabemos que o nosso corpo irá se desfazer, que ele não herdará a vida eterna, não damos vazão a pensamentos e a desejos instigados pela natureza pecaminosa que têm por finalidade e objetivo a satisfação de necessidades criadas unicamente para o corpo, pois, então, teremos noção de que o corpo é algo passageiro, algo feito apenas para esta dimensão terrestre e que não pode comprometer a nossa eternidade.
– Em terceiro lugar, o tabernáculo foi construído segundo um modelo dado por Deus a Moisés (Ex.25:40). Nosso corpo foi feito segundo a vontade de Deus, pois foi o próprio Deus que o formou e, portanto, deve ser utilizado segundo o modelo estabelecido pelo Senhor, ou seja, deve ser usado e administrado de acordo com a forma determinada por Deus e que se encontra nas Escrituras Sagradas. Qualquer uso do corpo fora destes parâmetros, portanto, é algo que não deve ser admitido nem adotado por um mordomo do Senhor.
– Quando percebemos que o corpo foi feito por Deus e segue um modelo Seu, imediatamente abandonamos o falso pensamento de que ” Deus só quer o coração” e de que as coisas relativas ao corpo são irrelevantes do ponto-de-vista de nossa vida espiritual ou que sejam até assunto que prejudique a nossa comunhão com o Senhor. Passamos a ter consciência de que o corpo não é primordial no nosso contacto com Deus mas tem um papel a cumprir, de tal maneira que temos de levá-lo em conta e com ele também nos ocuparmos para que sejamos achados servos fiéis e prudentes por nosso Senhor.
– Em quarto lugar, o tabernáculo não se confundia com a glória de Deus (Ex.40:34-38), mas era através dele que o povo de Israel notava a presença e a direção de Deus na caminhada para Canaã. Nosso corpo, de igual maneira, não se confunde com a glória de Deus. Nosso corpo é matéria, enquanto que Deus é espírito (Jo.4:24), mas é o nosso corpo que serve de receptáculo para a glória do Senhor, para o Seu Espírito. É neste corpo que habita a Divindade (Jo.14:23), de tal maneira que o corpo é também figurado como sendo o templo do Espírito Santo (I Co.6:19). Por causa disto, tudo o que fazemos neste mundo é conhecido dos demais homens através deste corpo e, por meio dele, as pessoas darão, ou não, glória a Deus pelos nossos atos (Mt.5:16) e é pela forma de que dele nos utilizamos que seremos julgados pelo Senhor no tribunal de Cristo (II Co.5:10).
– Quando temos consciência de que o nosso corpo é o instrumento que Deus nos dá para que, neste mundo, o Seu nome seja glorificado pelas obras que façamos, quando percebemos que ele é o veículo pelo qual os demais homens notarão a presença e a direção de Deus em nós e para eles, passamos a ter um comportamento totalmente diverso da conduta negligente e displicente que muitos têm levado em relação aos seus corpos. Os homens não têm condições de ver o nosso interior, de compreender-nos pelo que há dentro de nós, mas somente perceberão o que há em nós, a nossa eterna salvação, a nossa pureza, a nossa felicidade através de nosso corpo, pois é ele que, a exemplo do tabernáculo, fará o homem natural notar que, dentro de nós, dentro daquele invólucro, está a presença e a direção do Senhor.
– Em quinto lugar, o tabernáculo era uma edificação que, exteriormente, não causava esplendor, admiração ou atenção. Com efeito, revela-nos a Bíblia que a parte externa do tabernáculo era composta de uma cobertura de peles de teixugo em cima (Ex.25:14),última cobertura de uma série de camadas de outras peles, cobertura que não causava nenhuma admiração a quem a visse, ao contrário, por exemplo, do templo (seja o primeiro, seja o segundo, como vemos, v.g., em Mt.24:1). De igual modo, o nosso corpo não deve ser o alvo de nossas atenções. A satisfação de suas necessidades não deve ser o centro de nossas vidas (Mt.6:31-33), mas devemos procurar aparecer menos na aparência e na fisionomia e nos conscientizarmos de que, sobre nós, sobre o nosso corpo, deve reluzir a glória de Deus (Jo.3:30).
– Quando nos conscientizamos de que o nosso corpo não deve ser um fim em si mesmo, nossa conduta passa a ser diferente do comportamento que tanto tem caracterizado os nossos dias de culto ao corpo e a tudo o que lhe diz respeito, culto este que tem, inclusive, já invadido a comunidade evangélica. Vivemos, hoje, a época do domínio da moda, da aparência, da beleza estética, com um sem-número de distúrbios e desequilíbrios de toda a sorte. Teremos a devida conduta e nos aproximaremos da modéstia que tanto caracterizou o nosso Senhor em sua vida terrena se nos lembrarmos de que o corpo não deve ter parecer nem formosura, mas deve ser capaz de tornar visível a glória de Deus para os que conosco convivem.
– Em sexto lugar, o tabernáculo era uma edificação que foi feita com a vinda de materiais de todo o povo de Israel, de tudo quanto Deus tinha dado ao Seu povo quando ele saiu do Egito, uma contribuição coletiva e voluntária de todos os israelitas (Ex.35:20-29). De igual modo, Deus, ao fazer o corpo do homem, teve a contribuição de todos os elementos da terra, pois a composição química do organismo humano possui todos os elementos, ainda que em pequenas quantidades, como a demonstrar que o nosso corpo é o resultado de uma cooperação coletiva de toda a natureza.
– Quando observamos que o nosso corpo é resultado de uma combinação de todos os elementos da terra, percebemos, como nunca, que o homem deve respeitar a natureza e dela cuidar com extremo zelo, pois somos, por assim dizer, uma síntese da natureza. Deus fez-nos desta natureza, dotou-nos de um corpo que é a combinação de toda a natureza, para que nos sentíssemos integrados nela, como elemento-chave para a manutenção do seu equilíbrio. Quando não exercemos bem esta mordomia, sofremos juntamente com a natureza e, tal como ela, nosso corpo aguarda uma redenção (Rm.8:22,23).
– Em sétimo lugar, o tabernáculo foi substituído pelo templo de Salomão, mais majestoso e cuja glória ficou indelevelmente marcada na mente dos israelitas, mesmo após décadas de cativeiro (Ed.3:12). Aliás, o que caracteriza e diferencia o templo (ou os templos) do tabernáculo é que nele(s) a glória de Deus era uma nota marcante (I Rs.9:3;Ag.2:7), enquanto que, no tabernáculo, ela se efetivava pela nuvem ou pelo fogo, que ficavam sobre o tabernáculo (Ex.40:38).
De igual modo, o nosso corpo, tal qual o tabernáculo, tem a glória de Deus sobre nós, quando a Ele nos consagramos e, através de nosso corpo, esta glória é demonstrada aos demais seres humanos, mas não se trata de um corpo glorioso, de um corpo que tenha a glória como sua característica. Este corpo terreno jamais será caracterizado pela glória, pois é um corpo terreno, corpo este que será substituído por um corpo espiritual, um corpo glorioso (I Co.15:40-49).
– Quando temos consciência de que o corpo que agora temos será substituído por um corpo espiritual, por um corpo glorioso, passamos a viver diferentemente, na perspectiva da vinda de Jesus e da eternidade, perspectivas estas indispensáveis para que tenhamos uma vida santa e consagrada a Deus.
– Além de ser comparado a um tabernáculo, o corpo é também chamado de “templo do Espírito Santo” (I Co.6:19), como vimos supra, numa perspectiva que já vimos, em parte, ao tratarmos da consideração do corpo como tabernáculo, pois tanto o templo, quanto o tabernáculo nos dão de ideia de morada, de habitação.
Esta morada e esta habitação, entretanto, representam algo mais do que o que já temos falado, ou seja, de que seja uma morada de Deus. Quando dizemos que o corpo é o templo do Espírito Santo, devemos ter a exata noção desta afirmação diante do que se entendia por templo na época em que foi escrito o texto pelo apóstolo Paulo.
– Quando Paulo fala em templo, está se referindo a um lugar de adoração, a um lugar onde a divindade era cultuada. Como judeu que era, Paulo, ao se utilizar da expressão “templo” bem sabia que estava se referindo a um lugar de adoração, pois o templo era a casa santificada pelo próprio Deus, onde Deus prometera estar presente e atento a todas as súplicas do Seu povo (I Rs.9:3; II Cr.7:16) bem como casa de sacrifício, onde Deus prometer estar pronto a perdoar e purificar o Seu povo (II Cr.7:12-14).
Ao mesmo tempo, enquanto apóstolo dos gentios, escrevendo para gentios (“in casu”, os coríntios), Paulo sabia que o templo era um local onde se praticava o culto às divindades, onde os gentios sacrificavam e praticavam atos que agradavam aos deuses, tanto assim que, por exemplo, os deuses de fertilidade tinham seus templos como verdadeiros prostíbulos e locais de obscenidades.
– Assim, quando Paulo nos afirma que o nosso corpo é templo do Espírito Santo, está nos dizendo que o corpo deve ser uma parte do homem que deve ser destinada a agradar ao Senhor. O corpo é um local onde devemos adorar a Deus, um lugar onde devemos demonstrar a pureza de nosso interior, um lugar que deve demonstrar o perdão dos nossos pecados, um lugar onde tudo o que façamos tenha por objetivo agradar a Deus.
Muito ao contrário dos que defendem a falsa doutrina de que ” Deus só quer o coração”, o que a Bíblia nos ensina, através desta figura, é que o corpo é o lugar em que devemos adorar a Deus, ou seja, servi-l’O. É através do corpo que estaremos comprovando se, realmente, fomos santificados, fomos perdoados, fomos purificados e se, realmente, estamos agradando a Deus.
– Outra expressão bíblica utilizada para o nosso corpo é a que compara o corpo humano a um vaso de barro. Jeremias, no capítulo 18 de seu livro, relata-nos a experiência que Deus lhe fez passar na casa do oleiro, em que diz que o homem nada mais é do que um vaso de barro nas Suas mãos (Jr.18:6) e, no livro de Lamentações, afirma que os filhos de Sião ” são reputados por vasos de barro ” (Lm.4:22).
Paulo, quando escreve aos coríntios, também afirma que temos o conhecimento de Jesus Cristo, um verdadeiro tesouro, “em vasos de barro” (II Co.4:2) e torna a fazer a comparação do homem como um vaso de barro quando escreve a Timóteo, dizendo que “…há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém para desonra” e que “… se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor…” ( II Tm.2:20,21).
– A imagem do oleiro e do vaso é uma figura bíblica que nos fala do homem exterior, do corpo humano e que demonstra que seu criador é o Senhor, tanto quanto das demais partes do ser humano (alma e espírito). Também nos dá conta de que o corpo é um elemento material e que é feito do pó da terra. Mas o prisma que queremos aqui ressaltar desta figura bíblica é a que diz respeito ao corpo como um veículo para a comunicação da glória de Deus.
O vaso tem de ter um conteúdo. Não basta que tenha um material, mas que seja usado para guardar um conteúdo. Paulo afirma-nos que este conteúdo tem de ser um tesouro, ou seja, que o vaso esteja próprio para ” a iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” ( II Co.4:6b). Nosso corpo deve servir para que Jesus seja glorificado entre os homens, deve refletir ” como um espelho a glória do Senhor” (II Co.3:18).
– Quando falamos que nosso corpo é um vaso de barro, ressaltamos a fraqueza de nosso corpo, a sua debilidade, a sua fragilidade, a sua dependência extrema da parte do oleiro, que é o Senhor. Quando nos conscientizamos de que nosso corpo é débil, é frágil, é apenas um vaso de barro, não damos importância à aparência, passamos a ser vigilantes quanto à manutenção do conteúdo, pois o vaso, em si mesmo, valor algum tem, pois é apenas um vaso de barro, mas o que está dentro de si, o tesouro, este, sim, é dotado de valor e nos faz valer algo.
Devemos valorizar o que está dentro de nós, jamais nos deixando iludir pelo astucioso comprador, o adversário de nossas almas (Pv.20:14).- Já pudemos perceber que, nos tempos trabalhosos em que estamos a viver, não faltam elementos que procuram distorcer este cuidado com a saúde física, buscando nos levar para uma destruição completa deste “tabernáculo”, deste “templo do Espírito Santo”.
– Dentre as características dos homens dos tempos trabalhosos, está a amizade com os deleites acima da amizade com Deus (II Tm.3:4). A busca incessante do prazer a todo custo tem sido uma tônica da atualidade. O resultado disto, diante da incontinência, que também é característica do nosso tempo, é um sem-número de doenças e de enfermidades que atingem níveis nunca antes vividos no planeta, de tal sorte que, apesar de todo o desenvolvimento da ciência, está a humanidade a enfrentar um número espetacular de epidemias e endemias em todo o planeta, doenças incuráveis e que estão a matar cada vez mais e cuja cura, muitas vezes, é impossível, porque se encontra além das próprias possibilidades da ciência, por mais evoluída que ela possa ser.
– A busca incessante do prazer tem multiplicado os problemas relacionados com as doenças sexualmente transmissíveis (DST), entre as quais ganha relevo a “aids” (síndrome de imunodeficiência adquirida), enfermidade que tem matado milhões de pessoas anualmente em todo o mundo, apesar dos esforços gigantescos dos governos e das grandes corporações da indústria química em busca de uma cura. Não só a “aids”, mas todas as demais doenças sexualmente transmissíveis (cada vez mais frequentes e que não são debeladas, embora muitas tenham cura) revelam um ambiente de promiscuidade e de prostituição, uma sexualidade que está totalmente em desacordo com os princípios estabelecidos por Deus.
O homem, na sua arrogância e rebeldia, não admite reconhecer a necessidade de uma modificação de sua conduta sexual, preferindo criar paliativos como o “sexo seguro” e a massificação do uso de preservativos, a admitir que a segurança e a saúde dependem, fundamentalmente, de se voltar ao que determina a Palavra de Deus a respeito. Não é à toa que, embora os grupos de risco tenham sido modificados ao longo dos anos, jamais se encontre entre eles o grupo dos verdadeiros e genuínos servos do Senhor que praticam o sexo conforme os ditames da Bíblia Sagrada.
– Outro grave problema de saúde dos nossos dias é a obesidade, já considerada uma verdadeira endemia, inclusive, e a começar dos países desenvolvidos, ditos de Primeiro Mundo. A obesidade é resultado de uma alimentação desequilibrada, fundada em alimentos industrializados e que são produzidos sob o prisma do lucro cada vez maior, bem como de um sedentarismo, que é fruto do luxo e do conforto buscados cada vez mais pela “sociedade globalizada de consumo”.
A falta de exercícios físicos e a má alimentação resultam no aumento da massa corporal, com inevitável comprometimento das funções orgânicas, gerando uma série de desequilíbrios, que nada mais são que fatores geradores de doenças. Hoje, temos crianças e adolescentes sofrendo de enfermidades que eram, até pouco tempo atrás, peculiares aos idosos, como hipertensão arterial, diabetes e arterioesclerose. O combate à obesidade exige uma total transformação do atual “modus vivendi” da humanidade, o que está fora do alcance da ciência médica. A ganância, a busca do luxo, em uma palavra, o amor do dinheiro (I Tm.6:10), não permitem que se reverta um quadro tão prejudicial ao gênero humano.
– Por se falar em ganância e em amor do dinheiro, estão eles também vinculados a outro grave problema de saúde registrado nos dias atuais, as doenças que são subproduto da desnutrição alimentar e das precárias condições de saneamento básico em todo o mundo. Milhões de pessoas morrem por causa das péssimas condições de higiene a que estão submetidas, bem como por causa da fome. A miséria e a exclusão de milhões de pessoas dos benefícios do progresso e da civilização têm gerado mortes sobre mortes.
A contaminação da água pela falta de sistemas de esgotos, a falta de tratamento da água, a falta de alimentação num mundo cada vez mais poluído e hostil à espécie humana são causadores de inúmeras doenças e mortes. Os tempos trabalhosos dos homens “amantes de si mesmo”, “cruéis”, “sem amor para com os bons” têm produzido milhares de mortos entre crianças inocentes e pessoas que sofrem o processo desumano e antibíblico de exclusão social e de concentração de renda nas mãos daqueles que estão a enriquecer cada vez mais, da “futura corte do Anticristo” (cfr. Ap.18).
III – O CUIDADO COM A SAÚDE MENTAL
– Mas, como dissemos supra, não basta cuidarmos do corpo. A saúde envolve, também, a mente, esta faculdade que não é do corpo, mas, sim, da alma. Voltando ao Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, vemos que “saúde mental” é “estado caracterizado pelo desenvolvimento equilibrado da personalidade de um indivíduo, boa adaptação ao meio social e boa tolerância aos desafios da existência individual e social”. A saúde mental é o mesmo estado de equilíbrio que caracteriza a saúde física, mas que está voltada para a personalidade do indivíduo.
– A alma é aquela porção do homem que nos permite perceber que somos diferentes dos demais seres, que nos permite conhecer a nós mesmos, que faz com que sejamos portadores de um entendimento, de um sentimento, de uma vontade. Esta junção de entendimento, sentimento e vontade é o que se denomina de “PERSONALIDADE”.
– A palavra ” personalidade” vem de ” pessoa” que, por sua vez, vem de ” persona”, palavra latina que significa ” pelo som”. ” Persona” é o nome que recebiam as máscaras dos atores no teatro antigo. Ao contrário do que ocorre hoje, nos teatros da Grécia ou de Roma, na Antiguidade, os atores não mostravam seus rostos, mas faziam suas apresentações segurando máscaras que escondiam as suas faces, exatamente para que o público soubesse que não eram as pessoas que estavam encenando que viviam aquelas situações mas as “personagens” da peça teatral.
A “pessoa” , portanto, era a personagem, um ser diferente daquele ator que a estava representando no palco.
– A nossa alma, portanto, é a nossa “pessoa”, é aquilo que nos faz diferentes dos demais, é a nossa parte que nos identifica diante de Deus e dos homens. É a nossa alma que contém a nossa “personalidade”, aquilo que nós somos e que, através do corpo, tornamos conhecidos aos homens e a Deus (se bem que Deus não necessita da exteriorização do nosso corpo para nos conhecer, pois Ele bem sabe o que há no nosso íntimo, antes que isto venha à tona no mundo exterior – I Sm.16:7; Jo.2:25).
– Esta personalidade do homem precisa estar sob o governo de Deus. É algo que também nos foi dado por Deus e do qual também deveremos prestar contas diante do Senhor de todas as coisas. Que esta personalidade, que esta individualidade é de Deus não há qualquer dúvida pelo que está nas Escrituras, como, por exemplo, no Sl.24:1, onde, textualmente, diz-se que é do Senhor ” aqueles que nele (i.e., no mundo) habitam”, ou seja, cada indivíduo, cada alma. Em Ez.18:4, o texto é ainda mais enfático, ao afirmar que ” Eis que todas as almas são Minhas (é o Senhor quem está falando, observação nossa).
– Quantas vezes ouvimos alguém dizer que não pode mudar, que esta é a sua personalidade, é o seu modo de ser, é o seu temperamento, é o seu caráter, que Deus o fez assim e assim ele será para sempre, tendo os outros de aceitá-lo “por amor ao próximo”. Entretanto, tais pensamentos são totalmente contrários ao que nos ensina a Palavra de Deus. Esta personalidade, esta “nossa” individualidade, este “nosso” jeito de ser não é ” nosso”, mas de Deus.
Foi Deus quem nos criou, inclusive a “nossa” alma e ela tem de estar sob o Seu senhorio. Eis um dos grandes, senão o maior desafio do homem na sua busca de Deus: renunciar-se a si mesmo, renunciar ao seu “eu”, à “sua” personalidade e colocá-la à inteira disposição do Senhor.
– Não há outro caminho para o fiel mordomo do Senhor, não há outro modo para que possamos agradar a Deus e servi-l’O verdadeiramente. É este o sentido da palavra que Jesus proferiu ao dizer que ” quem achar a sua vida (ou alma) perdê-la-á e quem perder a sua vida por amor de Mim achá-la-á” (Mt.10:39).
Se negamos a nossa própria personalidade, se deixamos de viver para que Cristo viva em nós (Gl.2:20), ou seja, tenha pleno controle de nossa alma, teremos encontrado a verdadeira vida, que é a comunhão perfeita com o Senhor, pois a alma é do Senhor e não podemos querer nos afastar d’Ele, o que será morte e a pior de todas as mortes, a morte eterna, a morte espiritual, a chamada segunda morte (Ap.20:14,15).
– Assim, também temos de cuidar da saúde mental, ou seja, mantermos um equilíbrio em nossa personalidade, equilíbrio este que está diretamente relacionado com a nossa submissão voluntária a Deus e à Sua vontade.
Sem que renunciemos a nós mesmos e aceitemos o plano de Deus para as nossas vidas, teremos imensos conflitos em nosso interior e sucumbiremos às enfermidades mentais, aos males psicopatológicos, que, não raras vezes, gerarão doenças físicas, o que se costumou denominar de “doenças psicossomáticas”, males físicos que são causados por problemas psíquicos, distúrbios nas funções orgânicas que têm origem na mente das pessoas, em problemas psicológicos.
– Os tempos trabalhosos em que vivemos são dias de inúmeros distúrbios mentais. Praticamente não há pessoa que não se queixe de problemas relacionados com a mente, sejam problemas emocionais, sentimentais, afetivos, sejam distúrbios mais graves. Chegou-se mesmo a cunhar o dito popular que de “poeta, médico e louco, todo muito tem um pouco”. O fato, entretanto, é que as enfermidades psíquicas têm aumentado a cada dia que passa.
– O aumento do pecado no mundo é, sem dúvida, o principal motivo para a intensificação dos problemas psíquicos, das enfermidades mentais. Os tempos trabalhosos são tempos de desamor, de egoísmo, de crueldade, de ingratidão, de falta de afeto natural. O individualismo e egoísmo crescentes levam à completa desconsideração do próximo, levam a um progressivo e contínuo isolamento das pessoas, a uma desconfiança cada vez maior.
Tudo isto abala a estrutura psíquica do ser humano, que não foi feito para viver só (Gn.2:18), que necessita ter um mínimo de convivência com o próximo, que precisa amar e ser amado, que necessita receber afeto e carinho, que depende de uma condição mínima de convivência para que possa viver.
– Os dias de hoje, entretanto, são dias de crueldade, de egoísmo, em que as pessoas temem relacionar-se com outras, medo este que já está se tornando pavor diante da crueldade e da ingratidão reinantes. Neste isolamento de tudo e de todos, os homens angustiam-se, entram em depressão, recorrendo a subterfúgios que somente aumentam ainda mais as suas carências.
O uso de drogas para se fugir da realidade e se alcançar a alegria momentânea, a busca do prazer sexual como sucedâneo do amor, a procura das riquezas para se fazer reconhecido e respeitado no meio social, o uso da tecnologia para a criação de mundos virtuais, tudo tem sido vão na solução deste impasse, nesta incessante e incansável investigação para que obter o equilíbrio mental e psíquico, algo que somente se obtém mediante o restabelecimento da comunhão com Deus, o que se faz somente por intermédio de Jesus Cristo.
– As alternativas que o homem cria para superar esta sua carência de Deus na sua alma não passam de mais algumas das muitas invenções por ele forjadas (Ec.7:29), que somente têm produzido mais problemas emocionais, sentimentais, afetivos e psíquicos. Assim, o uso de drogas aumenta a criminalidade e a violência, gerando ainda mais traumas e problemas de isolamento, piorando a dura realidade dos tempos trabalhosos.
O prazer sexual desregrado e ilimitado atinge com ferida mortal a instituição familiar, gerando ainda mais falta de afeto e de proteção ao gênero humano. A ganância também é fator de maior desequilíbrio, com aumento da violência, da criminalidade e redução do homem a mera mercadoria, enquanto que o uso da tecnologia tem animalizado ainda mais o homem, como os perniciosos efeitos da internet têm comprovado atualmente (pedofilia, disseminação da pornografia, pactos coletivos de suicídio etc.).
– Em meio a este “vazio afetivo e espiritual”, o adversário de nossas almas, que cega o entendimento dos incrédulos para que não vejam a luz do evangelho de Cristo (II Co.4:4), tem intensificado os seus ataques, aproveitando-se da situação para contaminar as mentes humanas com toda sorte de mensagens prejudiciais e destrutivas, seja pelo controle da mídia, onde tem disseminado toda a sorte de falsos ensinos e de doutrinas opostas à Palavra de Deus, seja pela divulgação de doutrinas consistentes na busca de uma “espiritualidade individual”, por meio de meditações, técnicas terapêuticas repletas de esoterismo, quando não no explícito culto a ele próprio (o satanismo). A atuação demoníaca tem se fortalecido grandemente, com grave prejuízo à saúde mental.
– Diante de um estado tão calamitoso, a Igreja deve se lembrar que foi chamada para fora deste mundo de entendimento cegado pelo adversário, para ter a “mente de Cristo” (I Co.2:16). A “mente de Cristo”, ensinanos Paulo, somente é obtida mediante a ação do Espírito Santo em nossas vidas, pois “…ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus”(I Co.2:11 “in fine”).
Entretanto, pelo Seu grande amor, “…Deus no-las revelou pelo Seu Espírito, porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus(…) nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.” (I Co.2:10,12).
– Depende, portanto, de cada um de nós permitir que o Espírito Santo habite em nós, para que venhamos a conhecer as coisas de Deus e, assim, ter a “mente de Cristo”. Sem a “mente de Cristo”, jamais teremos saúde mental. Sem o Espírito de Deus, estaremos sujeitos a sermos cegados em nosso entendimento pelo adversário de nossas almas, cujos ardis não podemos ignorar (II Co.2:11). Precisamos ter uma vida de santidade, de comunhão com Deus, precisamos buscar a Deus para não permitir que a nossa mente venha a ser enganada pelo inimigo.
– Para termos a “mente de Cristo”, é indispensável que meditemos na Palavra do Senhor de dia e de noite (Sl.1:1,2). É fundamental que não permitamos que os nossos olhos sejam a porta de entrada daquilo que não agrada a Deus (Mt.5:22,23). Se vigiarmos para que os nossos sentidos físicos não sejam utilizados para levar à nossa mente aquilo que não é agradável ao Senhor, certamente estaremos preparando terreno para que o Espírito possa atuar em nossa mente e, assim, tenhamos a “mente de Cristo”, tudo discernindo espiritualmente e evitando ser apanhados nos embaraços e laços que o adversário sempre está a pôr diante de nós.
– Como diz o poeta sacro anônimo, “nas horas que passo pensando em Jesus, as trevas desfaço, buscando a luz. Que horas de vida tão doces pra mim, Jesus me convida que eu suba para Si” (primeira estrofe do hino 17 da Harpa Cristã). Em que temos pensado durante o dia? Que temos visto e o que tem chamado a nossa atenção? A saúde mental exige que tenhamos a “mente de Cristo”. Sem ela, cairemos na mesma “onda” dos incrédulos, correndo de um lado para outro, cegos pecadores, que nada enxergam por causa de seu pecado (Is.59:10; Sf.1:17), o que redundará em problemas psíquicos, que podem até gerar doenças psicossomáticas.
As depressões, ansiedades, síndromes de pânico e demais enfermidades mentais, tão corriqueiras nos dias de hoje, relacionadas estão quase sempre com esta falta da “mente de Cristo”. Que tenhamos saúde mental nos submetendo ao Senhor e n’Ele pensando a todo instante!
IV – O CRENTE DIANTE DAS DOENÇAS
– Visto que temos de cuidar da saúde física e mental, já que isto faz parte da mordomia humana, em especial, daqueles que estão em comunhão com Deus, os integrantes da Igreja, como devemos nos comportar diante das doenças? As doenças são inevitáveis, como, então, enfrentá-las?
– Por primeiro, como já dissemos supra, nem toda doença é resultado de uma punição divina, de um pecado específico. A doença é algo que vem ao homem por causa da entrada do pecado no mundo, mas pode ser tanto um castigo divino, como uma oportunidade para a manifestação das obras de Deus, como resultado de negligência do homem no desempenho da sua mordomia em relação a seu corpo e a sua mente.
– Se assim é, o primeiro passo para enfrentarmos uma doença é saber a sua causa, a sua origem. Se a doença é fruto de um castigo divino, de uma punição do Senhor, em vão será nossa ida aos médicos, pois se se trata de uma ação divina, de uma “ferida” de Deus, os médicos nada poderão fazer para debelá-la. “Operando Eu, quem impedirá?”, diz o Senhor por intermédio do profeta (Is.43:13 “in fine”). Na Bíblia, temos dois exemplos elucidativos desta realidade: Miriã, feita leprosa por ação direta do Senhor, foi curada, depois que Moisés pediu a Deus que a curasse. Detectado o problema da doença, obteve-se a cura. Já no caso do rei Asa, igualmente ferido pelo Senhor, não foi ele curado, já que buscou ajuda junto aos médicos, quando o seu problema era diante do Senhor, pelo mal que fizera a um profeta.
– A falta de conhecimento da causa da doença tem sido um dos principais fatores para a desorientação e para o grande sofrimento que acometem muitos crentes e seus familiares em instantes de doença. Corre-se de um lado para outro, visitam-se médicos de todo tipo e de todos os lugares, não raro esgotando-se os recursos econômico-financeiros de muitos, a exemplo do que ocorreu com a mulher do fluxo de sangue (Mc.5:26; Lc.8:43), quando a questão é de outra natureza.
Por falta de discernimento, também, fazem-se filas de pessoas orando pelo enfermo, dia após dia, sem qualquer resultado efetivo, gerando apenas escândalo e descrédito, também porque o doente não fez a sua parte, pedindo a Deus a revelação da causa do mal, Deus que continua a revelar Seu segredo aos Seus servos (Am.3:7).
Se formos humildes, se nos pusermos debaixo da potente mão de Deus (I Pe.5:6), nestes momentos de enfermidade, certamente teremos o discernimento espiritual e, guiados pelo Espírito de Deus, saberemos tirar importantes lições destes momentos, pois Deus também é o autor do dia mau, feito para que nos resistamos durante a sua passagem (Pv.16:4; Ef.6:13).
– Devemos, portanto, ante a doença, buscar a orientação divina, a direção do Espírito Santo, para não só sabermos a causa da doença, como também como devemos nos conduzir durante o seu tratamento. Assim fazendo, contribuiremos não só para a nossa saúde, como para o fortalecimento espiritual próprio, da igreja e de todos os que estão à nossa volta. Mesmo na doença, o crente pode ser uma bênção!
– Vemos, pois, que não é falta de fé nem demonstração de incredulidade a ida de um crente a um médico. Muito pelo contrário, em momento algum nas Escrituras há qualquer menosprezo ou desprezo pela atividade médica, sem dúvida uma das mais sublimes da humanidade. Houve até um grande cooperador da obra de Deus que era médico, Lucas, que é afetuosamente chamado por Paulo de “médico amado” (Cl.4:14). No entanto, precisamos ter o devido discernimento espiritual para sabermos se a ida ao médico solucionará, ou não, o problema da doença.
– Este discernimento espiritual deverá ser obtido pelo próprio doente. Não podemos julgar os outros, pois não sabemos o que há no interior do homem (I Sm.16:7) e, portanto, cabe ao próprio doente descobrir o motivo de sua doença. Quando muito, podemos interceder por ele junto ao Senhor, consolá-lo e confortá-lo, por meio de visitas, impor as mãos sobre ele e orar para que seja curado, mas jamais julgá-lo. Não cometamos o mesmo erro dos amigos de Jó!
– Se o problema for de pecado, o doente deve confessá-lo e dele se arrepender para que alcance a cura. É por isso que Tiago ensina que, nestes casos, mormente quando a doença seja tal que não se permita a locomoção até a igreja local, deva o doente solicitar a visita de um presbítero, a fim de que, após a confissão, haja a oração, com a unção com óleo, que trará a cura (Tg.5:14,15).
– Se o problema não for de pecado, mas de manifestação da obra de Deus, devemos aguardar que o Senhor faça a Sua obra, o que poderá ocorrer tanto na cura quanto na morte física. Devemos ter a resignação como conduta, pedindo a Deus misericórdia para suportar o sofrimento e intensificando a nossa comunhão com Ele.
Estejamos certos que, se se trata de uma provação divina, ela é para o nosso bem, para melhorar nossa condição diante do Senhor (Rm.8:28). As dores, o incômodo, o sofrimento não são fáceis, mas peçamos ao Senhor que tenha misericórdia de nós, que nos console e conforte para que o Seu propósito seja cumprido. Jó assim procedeu e, antes de ser sarado pelo Senhor, testemunhou que todos os pesadelos, todas as dores, todo o sofrimento atroz de sua enfermidade física lhe havia proporcionado uma maior intimidade com Deus (Jó 42:1-6).
– Se a doença tiver como causa a negligência em o nosso cuidado com o corpo, devemos, sim, ir ao médico e observar as suas orientações. Devemos mudar a nossa forma de cuidar do organismo, sabendo que aquilo que semearmos, haveremos de colher, até porque Deus não Se deixa escarnecer (Gl.6:7).
Faz-se preciso ter um “modus vivendi” saudável, de acordo com a vontade do Senhor, evitando, de todas as maneiras e formas, nos acomodarmos à maneira de viver dos homens dos tempos trabalhosos. Não podemos assumir a forma deste mundo, não podemos nos conformar com este mundo (Rm.12:2) e isto não está relacionado apenas com o aspecto espiritual, mas, também, com a forma como cuidamos de nosso corpo e da nossa mente.
– Infelizmente, são muitos os cristãos que estão se deixando levar pelos pensamentos e concepções deste mundo, prejudicando grandemente a sua saúde. Mantêm uma dieta alimentar inadequada, rendem-se ao sedentarismo e à agitação cada vez mais intensa, sacrificando a sua saúde física e mental, sem qualquer necessidade. Não acolhamos o modo de vida insano daqueles que estão cegos em seu entendimento pelo adversário de nossas almas. Tenhamos uma vida saudável, que corresponda à vontade do Senhor.
– Dentre os maus hábitos dos nossos dias, um diz respeito à total falta de prevenção. Quando falamos em médicos, sempre nos reportamos à medicina curativa, mas devemos recorrer aos médicos também como prevenção.
Periodicamente, devemos comparecer ao médico para um “check up”, principalmente quando atingimos a meia idade, onde costumam surgir as principais complicações de saúde.
– A ida a médicos deve ser feita, também, com discernimento espiritual. Nos dias em que vivemos, muitos profissionais da saúde estão comprometidos com terapias, técnicas e procedimentos que adotam filosofias e pensamentos contrários à sã doutrina. É preciso bem verificarmos o tipo de tratamento que nos sugerem e as técnicas e terapias propostos, evitando que adotemos princípios e procedimentos que contrariam a Palavra de Deus.
Também precisamos ter a direção do Espírito Santo para não cairmos em mãos de profissionais sem o devido preparo e que sejam animados única e exclusivamente pelo vil metal. Tenhamos cuidado para que não entreguemos a nossa saúde para os “…médicos que não valem nada” (Jó 13:4).
– Fora as hipóteses de comprometimento com a sã doutrina ou de despreparo intelectual, devemos reconhecer os médicos como autoridades constituídas por Deus para cuidar de nossa saúde e, deste modo, seguir rigorosamente as suas prescrições. Não nos esqueçamos das palavras do Senhor Jesus, no sentido de que os doentes precisam de médico (Mt.9:12; Mc.2:17; Lc.5:31). Muitos crentes dão muito mau testemunho ao descumprirem as prescrições médicas e sofrerem prejuízo em sua saúde por causa de tal comportamento.
Rebelião é como pecado de feitiçaria e o porfiar é como iniquidade e idolatria (I Sm.15:23), atitudes que não só comprometem a saúde física e mental, como a própria espiritualidade do cristão. Obedecer sempre é melhor do que sacrificar! (I Sm.15:22).
OBS: Sigamos o exemplo de José, que, mesmo sendo o governador do Egito, não deixou de reconhecer a autoridade dos médicos, os únicos que poderiam corretamente embalsamar o corpo de Jacó (Gn.50:2). Não podemos desmerecer o conhecimento científico destes profissionais, posto à disposição para o nosso bemestar. Ademais, quem não tem condição intelectual, não deve, mesmo, aventurar-se como médico, como nos diz Is.3:7, onde se extrai a lição de que, para ser médico, como para ser príncipe do povo, necessário se faz uma preparação.
V – A PROMESSA DA CURA DIVINA TEM UM PROPÓSITO ESPIRITUAL
– Apesar de todos os cuidados que o homem deve ter e da necessidade de se saber qual a origem da sua enfermidade, temos de ter consciência de que há uma promessa de Deus para a cura física, que é um dos efeitos da obra feita por Cristo no Calvário. O profeta afirma que, ao subir à cruz, Jesus tomou sobre Si as nossas enfermidades (Is.53:4), enfermidades estas que não se restringem ao aspecto espiritual, mas também abrangem as que atingem o nosso corpo, pois a salvação é integral. A saúde mencionada em Is.53:5 também se relaciona com o corpo físico.
– Para que não houvesse qualquer dúvida quanto à abrangência do corpo na promessa de cura, o ministério terreno de Jesus, que era o que anunciava o profeta Isaías, sempre foi um ministério marcado pela cura divina, a ponto de o próprio Jesus, para demonstrar a João Batista, que era Ele mesmo o Messias, para tanto efetuou diversas curas, demonstrando, assim, que era através da cura divina que demonstrava a Sua qualidade de Cristo (Mt.11:4,5).
Os discípulos do caminho de Emaús referiram-Se ao Senhor como sendo “varão poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo”, enfatizando, assim, em primeiro lugar, os sinais e maravilhas que havia operado, onde se destaca a cura de enfermidades. Por fim, Pedro, quando quis sintetizar o ministério de Cristo Jesus, tudo resumiu ao dizer que “andou fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At.10:38 “in fine”).
– Vemos, portanto, que a cura divina é elemento indissociável do ministério de Jesus, é uma de “Suas marcas registradas” e a Igreja, como corpo de Cristo (I Co.12:27), outra coisa não deve fazer senão prosseguir este mesmo trabalho e até ampliá-lo, como prometeu o Senhor (Jo.14:12). Em Mc.16:18, é claro que a cura de enfermidades é um dos sinais que seguem aos que creem, sendo prova disso a história da igreja primitiva, onde a cura física sempre esteve associada à pregação do Evangelho, a começar da narrativa do coxo que se encontrava na porta Formosa do templo (At.3:1-11).
– Vemos, pois, que há uma promessa de Deus para a cura de enfermidades. Mas, quem é o beneficiário desta promessa? A Bíblia é clara ao mostrar que o beneficiário desta promessa é “o que crê”. A cura é um dos sinais que seguem os que creem, de modo que, de pronto, vemos que todos não serão curados, visto que “a fé não é de todos” (II Ts.3:2 “in fine”).- Temos, aqui, uma situação muito similar à da promessa da salvação. Deus quer curar a todos, mas não serão todos curados, porque não serão todos os que creem.
Se a cura divina está escassa em os nossos dias, isto se deve, primordialmente, à falta de fé. Lamentavelmente, a incredulidade tem grassado no meio do povo de Deus, que, cada vez mais, se comporta como o povo de Nazaré que, apesar de ter sido o lugar onde Jesus esteve por toda a Sua infância, adolescência e juventude, desenvolvendo, naturalmente, maiores laços de amizade e de convivência, foi o local onde menos curou enfermidades ou fez maravilhas, exatamente por conta da incredulidade das pessoas (Mt.13:58; Mc.6:5,6).
– A cura divina é destinada apenas aos que creem e, neste tópico, não se encontra apenas o doente. Se é verdade que, nas curas, Jesus tenha dito ao doente que a fé dele havia sido importante para não só a cura física, mas a própria salvação, por meio da expressão “a tua fé te salvou” (Mt.9:22; Mc.5:34; Mc.10:52; Lc.7:50; 8:48; 17:19; 18:42), também não se deve observar que há, também, a fé daquele que leva a promessa divina da cura ao doente.
– Muitas vezes, o doente, por não conhecer a Jesus Cristo ou por estar descrente da sua cura pelo Senhor, não tem condições de obter este benefício da parte do Senhor, pois, “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb.11:6). Diante disto, assume importância fundamental a fé daquele que anuncia a cura divina, daquele que, por crer em Jesus Cristo, leva a mensagem da cura em o nome de Jesus.
– Jesus assim procedeu, como vemos, por exemplo, no episódio do paralítico do tanque de Betesda, alguém que estava desanimado, sem esperança e que, pelo que se infere do texto, padecia de um mal decorrente de alguma desobediência praticada no passado. Uma pessoa assim, após 38 anos de desilusões, fora da comunhão com Deus, não haveria de ter fé para a cura. Mas Jesus tinha fé e, por isso, fez com que o paralítico a desenvolvesse, tendo sido este o Seu intento ao fazer a ele a pergunta: “queres ficar são?” (Jo.5:6).
– A pergunta de Jesus pareceria um contrassenso, uma obviedade. Ante a crença de que se estava diante de um tanque miraculoso, e estando ali 38 anos, é evidente que o homem queria ficar são. Evidente? Não, não o era. A verdade é que, para querer ficar são, é necessário crer que Deus pode curar. É preciso ativar a fé e isto aquele homem já havia perdido há muito tempo. Neste diálogo, porém, falando com o próprio Verbo Divino, aquele homem voltou a crer e isto demonstrou quando atendeu à ordem do Senhor e, em pleno sábado, levantou, tomou a sua cama e voltou para a sua casa.
– Não é por outro motivo que a Bíblia diz que a cura está relacionada àqueles que creem e que, por crerem, impõem as mãos sobre os enfermos e os curam (Mc.16:18). Este texto mostra claramente que se trata não do doente mas do servo de Deus que, por crer em Jesus, desenvolve, a exemplo do Seu Mestre, a fé nos que estão enfermos e, ao imporem suas mãos sobre eles, alcançam a cura divina para os que padecem.
– Mas, para impor as mãos sobre os enfermos, é necessário que se tenha fé, é necessário que se creia na promessa da cura. Eis o motivo por que muitos hoje já não mais impõem as mãos sobre os enfermos, porque não têm fé e, em muitos casos, nem sequer têm mais comunhão com Deus.
Em muitos lugares, e, pasmem, nas igrejas locais, que deveriam ser verdadeiros “pronto-socorros”, não se usa mais a imposição de mãos, não se ora mais pelos enfermos e, quando o fazem, fazem-no de modo coletivo, impessoal, junto a multidões, num tratamento de “massa”, que nunca foi o método utilizado por Jesus ou pelos apóstolos.
Mas, não nos esqueçamos, quando se chama uma multidão para a frente e se ora por ela, de modo impessoal (e, inclusive, saindo estrategicamente depois da oração do local do “evento”…), não se põe a descoberto a situação interior, não se revela o que há no interior daquela vida, o que nem sempre é o que se aparenta ser…
– Se a promessa é “para os que creem”, vemos, claramente, que a promessa está em pleno vigor nos dias da dispensação da graça, nos dias da Igreja, pois ela é a nação dos que creem em Deus (Rm.1:17; 5:1,2; I Pe.2:9). Não há qualquer sentido dizer que a promessa da cura divina era apenas para os dias apostólicos, pois nada nas Escrituras aprova tal pensamento, até porque Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8).
OBS: Muitos procuram questionar a autenticidade do capítulo 16 de Marcos e, assim, invalidar a promessa da cura divina, como se esta promessa estivesse circunscrita apenas a este capítulo, como se o ministério terreno de Jesus e a história da igreja primitiva não fossem a base da demonstração de que a cura divina é uma promessa presente e atual nos dias da Igreja.
– A promessa da cura divina é destinada “aos que creem” e esta fé não é a fé salvadora, ou seja, aquela que proporciona a salvação, mas a fé no poder de Deus sobre as enfermidades. A cura divina independe da salvação para se realizar. Casos há de pessoas que obtêm a cura divina, mas não a salvação. Um exemplo claro é a dos nove ex-leprosos que não voltaram para agradecer ao Senhor Jesus pela cura alcançada. Jesus curou dez, mas somente um, que era samaritano, voltou para agradecer a Cristo.
Somente a este, Jesus disse que havia alcançado a salvação (Lc.17:19). Os outros nove, embora tenham sido fisicamente curados da lepra (Lc.17:14), não alcançaram a salvação, porque, embora tenham crido que Jesus poderia curá-los, tanto que foram se apresentar aos sacerdotes, não creram que Jesus poderia salvá-los, tanto que não retornaram para agradecer-Lhe e adorar-Lhe, como fez o samaritano.
– Se isto se dá em relação aos enfermos, também ocorre com relação aos que oram pelos enfermos. Muitos ficam atônitos ao saber que uma determinada pessoa, que orava pelos enfermos e Jesus curava, estava em pecado, o que se descobriu depois. Isto ocorre porque tinha a pessoa fé que Jesus poderia curar o enfermo, tanto que impôs as mãos sobre ele, ao mesmo tempo em que o enfermo também creu que Jesus poderia curá- lo, mas tal cura física nada tem que ver nem com a salvação de quem orou, nem de quem recebeu a cura. Cura divina não é atestado de salvação, nem de quem ora, nem de quem recebe a cura.
– Não é por outro motivo que Jesus, ao encontrar-se com o ex-paralítico que ficava junto ao tanque de Betesda, aconselhou o homem para que não pecasse mais, a fim de que não lhe sucedesse algo pior (Jo.5:14), quando, então, soube ele que quem o curara havia sido Jesus. Pelo que se verifica desta passagem elucidativa, o homem havia sido curado, mas ainda não tinha consciência de que havia sido salvo.
Sua fé, até aquele instante, havia sido apenas para cura, mas, posteriormente, foi confrontado com a salvação e a necessidade de uma vida de santidade, até para que a sua saúde perdurasse. Estava no templo, demonstrando, assim, ter tido desejo de passar a adorar a Deus, mas não tinha consciência do que isto significava. Assim como Jesus fez com que ele tivesse fé para ser curado, também o orientou para que alcançasse a salvação.
– De igual modo, vemos no episódio do cego de nascença, quando o cego, curado e salvo, já testificava de Jesus, sem sequer saber que era Ele o Filho de Deus. Ao ser confrontado pelo Senhor com esta verdade, de pronto creu em Jesus e O adorou (Jo.9:38), demonstrando, assim, claramente que não só havia sido curado, como também alcançara a salvação.
– E é neste episódio do cego de nascença que temos, de forma bem clara, o propósito da promessa da cura divina: a manifestação das obras de Deus na pessoa do enfermo (Jo.9:3). O propósito da cura divina é tão somente o de confirmar a palavra da pregação (Mc.16:20; I Ts.1:5), o de promover a glória de Deus (At.4:21), o de provar a presença de Deus no meio do Seu povo (At.10:38 “in fine”; I Co.2:4,5).
– A cura divina, portanto, não é um fim em si mesmo. Não se trata de uma promessa sem finalidade ou propósito a não ser a remoção da doença, mas o seu objetivo é a glorificação do nome do Senhor, a confirmação da palavra da pregação, a comprovação da presença de Deus no meio do Seu povo. Jesus cura para que o nome de Deus seja glorificado e engrandecido.
– Assim, não se pode jamais dizer que “Deus é obrigado a curar diante do que consta na Palavra de Deus” ou que “o crente jamais fica doente se estiver em comunhão com o Senhor”. Muitas vezes, a glorificação do nome de Deus vem não pela cura física, mas, sim, pela morte de um justo.
Não podemos querer saber os desígnios de Deus nem discutir porque Deus fez assim ou daquele outro modo, pois, se o fizermos, seremos como o caco de barro que discute o que deve fazer o oleiro, ou seja, uma pretensão sem qualquer propósito e que pode, mesmo, representar uma abominação diante do Senhor (Is.45:9).
– A cura divina é inegável, é algo destinado aos que creem, é uma realidade atual e indispensável para que demonstremos a presença de Deus no meio da Igreja, para que o nome do Senhor seja glorificado, mas não devemos nos esquecer de que o propósito da cura divina não é a saúde física de alguém, mas, sim, a glorificação do nome do Senhor, a confirmação da palavra da pregação e a comprovação da presença de Deus no meio do Seu povo. Por causa disso, nem sempre Jesus cura, pois a cura tem propósitos que não se confundem com a nossa vontade ou com os nossos caprichos.
– Por isso, como dissemos supra, é importante sabermos porque alguém está doente, a fim de que compreendamos qual o propósito do Senhor nesta doença. Uma vez tendo compreendido isto, o que nem sempre será o enfermo que conseguirá entender sozinho, pois, muitas vezes, necessitará do auxílio dos servos de Deus neste discernimento, então clamar a Deus para que a Sua vontade seja feita, bem compreendendo que a cura virá se este for o propósito divino naquele caso.
– A promessa da cura divina é uma realidade para os nossos dias, precisamos, sem ter qualquer dúvida, crer que Jesus cura, buscar a Sua cura. Não podemos ser como os nazaritas, que, por causa de sua incredulidade, não desfrutaram desta bênção nos dias de Jesus. Temos de crer mais em Jesus e menos nos remédios e nos médicos. Há muitos, aliás, que, se dizendo crentes, creem mais em “simpatias” e outras crendices do que no Senhor Jesus, o que é um absurdo.
– No entanto, não deixemos de atentar que a cura divina tem um propósito espiritual, que é o da glorificação do nome do Senhor. Não podemos nos esquecer de que a cura não é um fim em si mesmo e que, ante tais propósitos, constantes das Escrituras, a cura virá se Deus quiser e, nem sempre, é a cura que fará o que Deus deseja para todos os que estão envolvidos naquela situação de enfermidade.
Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e casos há em que a morte do santo, mesmo por doença, morte que é preciosa aos olhos do Senhor (Sl.116:15), faz-se necessária para que muitos possam alcançar a salvação, este, sim, o maior desejo do Senhor (I Tm.2:4).
COLABORAÇÃO PARA O PORTAL ESCOLA DOMINICAL – EV. CARAMURU AFONSO FRANCISCO