Lição 6 – As cortinas do tabernáculo
INTRODUÇÃO
– Em continuidade ao estudo do tabernáculo, hoje analisaremos as cortinas do tabernáculo.
– As cortinas do tabernáculo dão-nos o real significado da aparência.
I – O CORTINADO DA CERCA E AS CORTINAS DO TABERNÁCULO
– Na continuidade do estudo do tabernáculo, analisaremos as cortinas, que nos dão o real significado da aparência.
– O tabernáculo era separado por uma cerca do restante do arraial dos filhos de Israel e, sobre esta cerca, em lição anterior, pudemos verificar toda a sua tipologia, pois as tábuas, colchetes, bases e disposição nos dão preciosas lições a respeito da santidade, da união do povo de Deus, do valor da redenção mediante o sacrifício vicário de Cristo.
– Vimos, também, que a entrada do tabernáculo tinha uma coberta de azul, púrpura, carmesim e linho fino torcido, que nos traz preciosas lições a respeito do Evangelho, que é a mensagem que nos anuncia a Cristo, a porta que dá acesso a Deus, Evangelho este que foi reduzido a escrito por inspiração do Espírito Santo sob quatro perspectivas.
– No entanto, além desta cerca e da entrada do tabernáculo, o modelo mostrado a Moisés no monte Sinai também trazia, nesta parte externa e visível do tabernáculo,
que é o que estamos a estudar nesta primeira parte do trimestre, cortinas que cobriam as colunas ou tábuas da cerca que fazia os limites do tabernáculo, como também a própria cobertura da tenda da congregação, onde, no interior, ficava tanto o lugar santo quanto o lugar santíssimo. É este o objeto de nosso estudo nesta lição.
– Em Ex.26:1, é dito que o tabernáculo seria feito de dez cortinas de linho fino torcido, e azul e púrpura e carmesim com querubins, devendo ser feitas de obra esmerada.
Cada cortina teria vinte e oito côvados de comprimento e quatro côvados de largura, o que, segundo a Nova Almeida Atualizada (NAA), corresponde a 12,5 m de comprimento e 1,80 m de largura.
– Esta expressão do texto sagrado permite-nos ter a mesma conclusão que o teólogo Luiz Mattos, que afirma que
“…o cortinado era constituído por um ‘muro’ formado de tecido, suspenso por estacas cujo número era sessenta…” (A tipologia bíblica do tabernáculo, p.12).
Na verdade, eram cortinas que se achavam suspensas pelas colunas e não propriamente colunas que eram cobertas por cortinas.
– Este cortinado era feito de linho branco, que representam as justiças dos santos (Ap.19:18).
– Verifiquemos que as cortinas que faziam o tabernáculo, ou seja, a parte coberta, eram em número de dez e o número dez, nas Escrituras, significa, como ensina pastor Abraão de Almeida,
“…indica ordem perfeita e responsabilidade pessoal, como nos dez mandamentos, no dízimo, no comprimento das tábuas, nas dez virgens, nas dez dracmas, no número de cortinas etc.…” (O tabernáculo e a Igreja, p.19).
– De pronto, vemos aqui a tipificação da perfeição. O tabernáculo, já na sua “primeira vista” ao povo, apresenta-se como algo perfeito, a nos lembrar que o Senhor fez tudo muito bom (Gn.1:31), em especial o homem, que foi feito reto (Ec.7:29).
– O tabernáculo dá a ideia da perfeição, porque era a “habitação de Deus” no meio dos filhos de Israel e Deus é perfeito.
De igual modo, o Emanuel, ou seja, Cristo Jesus, o Deus conosco, seria o homem perfeito, que nunca pecaria e que Se faria o exemplo a ser seguido por todos quantos queiram viver com o Senhor eternamente.
– A perfeição não era tipificada apenas no número de cortinas. As cortinas, a exemplo do cortinado da cerca, eram de linho fino torcido, a anunciar, assim, as justiças dos santos (Ap.19:8).
O cortinado da cerca, aliás, também denunciava, nesta sua “primeira vista”, a justiça e a santidade divinas. Ao olhar para o tabernáculo, os israelitas imediatamente deveriam se lembrar de que Deus é justo e santo.
– Abraão havia bem entendido isto, ao chamar o Senhor de juiz de toda a terra (Gn.18:25), tendo o profeta Jeremias afirmado que o Senhor é a nossa justiça (Jr.23:6).
Por isso, aqueles que, justificados pela fé em Cristo Jesus perseverarem até o fim, terão tido, neste mundo, a companhia de Jesus, por terem suas vestes brancas, como, com estas vestes, passarão a eternidade ao lado de Deus (Ap.3:4,5).
Como responderemos à pergunta dos poetas sacros Eufrosine Katsberg e Emílio Conde: “Alvo é teu vestido, clara é tua luz? Canta co’os remidos: Vem, Senhor Jesus’? (parte final da quarta estrofe do hino 447 da Harpa Cristã).
– A santidade divina é proclamada incessantemente pelos serafins junto ao trono de Deus, como nos dá conta o profeta Isaías (Is.6:1-3).
O tabernáculo não poderia, pois, numa primeira vista, deixar de enaltecer a santidade divina.
– Todas as cortinas tinham a mesma medida. Esta igualdade das cortinas revela-nos que, do ponto de vista espiritual, não há qualquer diferença entre os membros em particular do corpo de Cristo.
Todos têm a mesma dignidade espiritual, todos foram comprados pelo preço do sangue de Jesus e ninguém tem mais merecimento do que ninguém.
– Verdade é que, na igreja local, em termos organizacionais, o Senhor Jesus instituiu um governo e, diante disto, é evidente que haja autoridade na igreja e que devamos obedecer e respeitar aqueles que estão à frente do povo de Deus, àqueles que presidem (Rm.12:8; I Ts.5:12,13; Hb.13:17),
mas isto não nos autoriza a dizer que eles sejam maiores espiritualmente em relação aos demais, porque “todas as cortinas serão de uma medida”. Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34).
Todos devem viver em santidade, pois são estes que participação das bodas do Cordeiro por terem sido arrebatados pelo Senhor (Ap.19:7-9).
– As cortinas tinham, além do linho fino torcido, azul, púrpura e carmesim, o que as tornava em plena harmonia com a cobertura da entrada do tabernáculo.
Mais uma vez temos aqui uma unidade, uma uniformidade, a mostrar que o tabernáculo era um todo harmônico e equilibrado.
– Assim como o corpo humano é uma unidade dentro de uma diversidade, a Igreja, o corpo de Cristo, também o é.
Há uma necessária unidade no povo de Deus, porque se trata de um povo que tem a unidade do Espírito pelo vínculo da paz, com um só corpo, um só Espírito, uma só esperança da nossa vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos (Ef.4:1-6).
– O objetivo da missão salvífica de Cristo Jesus foi restabelecer a unidade entre Deus e os homens, perdida com o pecado (Jo.17:20-23).
Jesus é a semente da mulher que estabeleceria a inimizade entre a serpente e sua semente e a humanidade (Gn.3:15) e inimizade com a serpente significa amizade com Deus (Tg.4:4).
– O tabernáculo não poderia, portanto, transmitir outra mensagem que não a da unidade, unidade que não significava uniformidade, visto que quatro eram os tecidos das cortinas: azul, púrpura, carmesim e linho fino.
– O pano azul das cortinas fala dos céus, a habitação de Deus (I Rs.8:39,43,49; II Cr.6:21,30,33,39; 30:27).
O tabernáculo era apenas o modelo do santuário celestial, era algo concebido desde os céus e não podemos nos esquecer disto.
Nossa salvação também teve origem em Deus e o Senhor Jesus deixou os céus para vir nos salvar, pois
“…ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu” (Jo.3:13).
– Temos tido esta consciência de que Jesus veio do céu? Temos consciência que a salvação tem por finalidade nos levar até onde Jesus está, que é o céu e que devemos deixar de lado tudo o que nos pode impedir de lá entrar?
Podemos tornar nossas as palavras do pastor e poeta sacro Samuel Nyström: “Aleluia! Pr’o céu vou caminhando, nada me desanimará! Para o céu eu me vou aproximando, sempre meu Jesus me guiará!” (estrofe do hino 332 da Harpa Cristã)?
– A púrpura revela-nos que o Senhor é o Rei do Universo, é o Criador de todas as coisas e, portanto, tudo é d’Ele (Sl.24:1).. Adorá-l’O é, antes de tudo, reconhecer o Seu senhorio, submeter-Se à Sua suprema autoridade. Por isso, os apóstolos não titubeavam em dizer que mais importava obedecer a Deus do que aos homens (At.5:29).
– Temos reconhecido a autoridade de Cristo? Temos sido governados por Ele? Temos Lhe obedecido?
Temos-Lhe sido fiéis ou já estamos a praticar o crime de lesa-majestade, ou seja, o de traição ao Rei? Tomemos cuidado, amados irmãos!
OBS: Nas Ordenações Filipinas, lei que vigorou em Portugal e, por conseguinte, no Brasil, na parte penal, desde o século XVI até 1831, o crime de lesa-majestade era associado à lepra, que era um eloquente sinal divino deixado a todos quantos Lhe desobedeciam em Israel, tanto que passou a ser o tipo do pecado. Eis o texto:
“Lesa-majestade quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado, que ele de tão grave e abominável crime, e que os antigos sábios tanto estranharam, que o comparavam à lepra;
porque assim como esta enfermidade enche todo o corpo, sem nunca mais se poder curar, e empece ainda aos descendentes de quem a tem, e aos que com ele conversam, assim que ele será apartado da sociedade:
assim o erro da traição condena o que a comete, e empece e infama aos de sua linhagem, posto que não tenham culpa.” (Livro V, Título IV, 1, proêmio).
– O carmesim fala-nos do sangue, que é símbolo da vida (Gn.9:4). Ele nos mostra que o tabernáculo vinha trazer vida aos filhos de Israel, pois vida significa a comunhão e o Senhor queria estabelecer com os israelitas uma comunhão, restabelecer a união que havia se perdido com o pecado da humanidade.
Israel somente poderia ser reino sacerdotal e propriedade peculiar de Deus dentre os povos (Ex.19>5,6), se estabelecesse uma comunhão, se se unisse ao Senhor, se tivesse vida.
– Sabemos que os filhos de Israel falharam nesta questão, não crendo no Senhor, o que tornou deficiente esta comunhão, comunhão que somente será plena quando o remanescente de Israel for salvo, ao término da Grande Tribulação, quando, finalmente, reconhecerão a Jesus como o Messias (Rm.11:25-27; Zc.12,13).
No entanto, o Senhor estava ali presente prometendo-lhes trazer a vida, que outro não é senão o Senhor Jesus (Jo.1:4).
– Temos reconhecido que Cristo é vida? Para nós, assim como para o apóstolo Paulo, o viver é Cristo e o morrer é ganho (Fp.1:21).
Vivemos para Deus, estamos mortos para o mundo, ou ainda estamos a viver voltados para as coisas desta vida (Cl.3:1-4)? Reflitamos, amados irmãos!
– Quando falamos da cobertura da entrada do tabernáculo, já dissemos a respeito da simbologia destes quatro tecidos com relação ao Evangelho e as quatro perspectivas que os trazem as Escrituras sobre ele, de modo que não repetiremos aqui tal tipologia, apenas lembrando que o azul representa o evangelho segundo João;
a púrpura, o evangelho segundo Mateus; o carmesim, o evangelho segundo Lucas e, por fim, o linho fino torcido, o evangelho segundo Lucas.
– Eram dez cortinas e elas deveriam estar entrelaçadas entre si, mas em dois grupos de cinco cortinas (Ex.26:3). Mas por que esta “divisão” de cortinas? Não estaria aqui, então, quebrada a tipologia da unidade?
– As cortinas não estavam todas enlaçadas entre si porque havia o espaço destinado à entrada da parte coberta, onde havia um véu.
As cortinas faziam a cobertura do santuário mas, por isso mesmo, não podiam impedir o ingresso dos sacerdotes ao seu interior.
– Temos aqui já uma importante lição: a união dos irmãos no corpo de Cristo não pode servir de pretexto para bloqueio do acesso de quem crê no Evangelho e decide servir ao Senhor.
– Não são poucos os que, num extremo zelo pela preservação da unidade ( e diríamos que muito mais de uniformidade do que de unidade), acabam criando obstáculos inexistentes nas Escrituras para que alguém venha a servir a Deus.
Porventura, não era isto que faziam os judaizantes, que se intrometiam na liberdade dos cristãos gentios querendo obrigá-los a seguir a lei de Moisés (Gl.2:4)?
– Assim como as cortinas existiam para demarcar os limites do exterior e do interior do tabernáculo, limites que não podem ser transpostos (e, por isso, não podemos concordar com o outro extremo, que é o de banalização do pecado sob pretexto de permitir o acesso de pessoas a Cristo),
assim também elas não poderiam impedir a transparência do convite ao acesso à presença de Deus.
– Cada grupo de cortinas era unido por laçadas de pano azul na ponta de uma cortina, na extremidade, na juntura e, também, na ponta da extremidade da outra cortina, na segunda juntura (Ex.26:4).
– Assim como as colunas deviam se unir umas às outras por meio dos colchetes de prata, as cortinas deveriam se unir umas às outras pelas laçadas de pano azul (Ex;.26:3,4).
Uma vez mais temos a consciência de que, embora a salvação seja individual, há a extrema necessidade de que vivamos em comunidade, pois o crescimento espiritual exige a convivência, já que o Senhor Jesus edificou uma Igreja, ou seja, uma reunião de pessoas.
– O homem não é um ser solitário, foi criado como ser social e, por isso, não poderá servir a Deus devidamente de forma isolada.
Muito pelo contrário, deve se unir aos demais que, como ele, foram salvos por Cristo Jesus, unindo-se pelo laço do Espírito Santo, pelo amor de Deus que o Espírito derrama em nossos corações quando cremos em Jesus (Rm.5:5).
– Por que dizemos que se trata do vínculo do amor? Porque o tecido que fazia as laçadas é o pano azul que, como já vimos, fala-nos do céu.
Portanto, este vínculo vem desde a glória divina e Deus é amor (I Jo.4:8), sendo o amor vindo do Senhor, o amor “ágape”, a característica de que alguém é filho de Deus, é discípulo de Jesus Cristo (Jo.13:35; I Jo.3:14-18; 4:7,11). Afinal de contas, o amor é o vínculo da perfeição (Cl.3:14).
– Eram cinquenta laçadas em cada grupo de cortinas (Ex.26:5), a nos mostrar que, com cinco cortinas, havia cinquenta laçadas, precisamente o décuplo de número de cortinas, a nos indicar, por primeiro,
que o entrelaçamento era tão intenso que jamais uma cortina poderia se desvencilhar da outra, tanto que as laçadas estavam travadas umas com as outras (Ex.26:5).
– A unidade do corpo de Cristo é tal que nós, como membros em particular, jamais podemos dispensar ou prescindir da ação do irmão, do outro filho de Deus.
Se fizermos isto, estamos fadados à morte, assim como um membro de nosso corpo morre quando se separa do restante do organismo.
É esta realidade que tem sido ardilosamente obnubilada pelo inimigo na mente dos chamados “desigrejados”.
Que Deus nos ajude a mostrar isto a estas milhares e milhares de pessoas que, vivendo “desigrejadas”, caminham celeremente para a morte espiritual.
– Por segundo, esta multiplicação por dez, tem um profundo significado. Cada grupo de cortinas era composto de cinco cortinas, e, como já havíamos visto quando analisamos as barras ou travessas, o número cinco indica os ministérios que Cristo põe na Igreja para o aperfeiçoamento dos santos (Ef.4:11-16).
– De igual maneira, cinquenta é cinco vezes dez e, portanto, o que temos aqui, no entrelaçamento, é a demonstração de que, quando há a prática do amor, tem-se o aumento do corpo, e um aumento perfeito, já que de dez vezes mais e dez, como já visto nesta lição, indica perfeição.
Os ministérios postos por Jesus na Igreja querem, portanto, levar a Igreja à perfeição mediante a prática do amor.
– Além das cinquenta laçadas, as cortinas possuíam, também, cinquenta colchetes de ouro, com as quais se juntaria uma cortina à outra, para que fossem um tabernáculo (Ex.26:6).
– A expressão do texto sagrado é bem elucidativa. As cortinas somente se tornariam um tabernáculo a partir do momento que fossem ajuntadas com estes colchetes de ouro.
Nós somente seremos Igreja, habitação de Deus aqui na Terra, o corpo de Cristo, a partir do instante em que nos reunirmos, uma união promovida por Deus, ou seja, mediante a ação do Espírito Santo, pois os colchetes são de ouro e o ouro, como já sabemos, fala da divindade.
– A união da Igreja tem de se dar de modo espiritual, através do novo nascimento e do poder atuante do Espírito e da Palavra de Deus.
Não se tem uma verdadeira igreja por meio de congruência de interesses humanos ou materiais, mas única e exclusivamente por força da graça divina e da fé salvadora. É Deus quem nos une, não são interesses humanos, sejam eles quais forem.
– As cortinas tinham imagens de querubins e isto tem sido utilizado por alguns, em especial os romanistas, para justificarem o uso de imagens no culto, como as imagens de santos, anjos e do próprio Cristo, uso este, aliás, que foi considerado regular pelo Segundo Concílio de Niceia em 787, mas que voltou a ser repudiado com a Reforma Protestante.
– Por primeiro, é oportuno observar que o tabernáculo é um modelo do que há no céu e, sabemos todos, no céu, diante da glória de Deus, há querubins, como foi visto pelo profeta Ezequiel (Ez.1,10).
Deste modo, não se tem aqui um modelo de adoração, mas a edificação de uma cópia do que existe nos céus.
– Por segundo, estas imagens de querubins, que eram bordadas nas cortinas, não eram objeto de veneração, ou seja,
tais imagens não estavam ali para que as pessoas orassem ou meditassem se voltando a elas, como é feito com as imagens utilizadas pelos romanistas e ortodoxos, de forma que não tendo a mesma serventia, não podem servir para justificar esta prática.
Aliás, tais querubins somente seriam vistos por quem estava dentro do lugar santo, o povo nem sequer os podia ver. E, mesmo os sacerdotes, não ficavam a ministrar “olhando para o teto”, onde estavam tais querubins.
– Por terceiro, a presença dos querubins era apenas mais uma demonstração de que havia uma separação entre a parte coberta e a parte descoberta do tabernáculo e esta separação tinha por motivo o pecado.
Quando o primeiro casal pecou, perdeu ele a comunhão com Deus e o Senhor impediu que eles tivessem acesso ao Éden através de querubins (Gn.3:24), ou seja, estas imagens serviam de recordação de que o pecado havia destituído o homem da glória de Deus (Rm.3:23) e,
mais precisamente, no caso dos israelitas, que eles haviam perdido a condição de todos poderem ser sacerdotes, como era a proposta original divina no Sinai (Ex.19:5,6), por não terem ficado do lado do Senhor no episódio do bezerro de ouro (Ex.32:26).
– Portanto, com este propósito específico, não se tem aqui autorização alguma para reprodução de imagens de seres celestiais nos locais de culto ao Senhor, máxime agora,
quando não há mais qualquer obstáculo para entrarmos, não no pátio do tabernáculo, mas no próprio santo dos santos, já que Jesus nos abriu um novo e vivo caminho pela Sua carne (Hb.10:19-23).
É até um contrassenso invocar uma imagem que servia de memória de algo que, com o sacrifício de Cristo, deixou de existir, para justificar uma adoração a Deus na nova aliança.
II – AS DEMAIS CORTINAS QUE COBRIAM A TENDA DA CONGREGAÇÃO
– Tendo falado das cortinas que faziam a cerca do tabernáculo e da primeira camada das cortinas que cobriam o tabernáculo,
analisemos agora as cortinas que faziam as demais coberturas da tenda da congregação, a parte coberta do tabernáculo, que possuía dois compartimentos: o lugar santo e o lugar santíssimo.
– Esta parte coberta não era visível aos olhos dos israelitas, pois, além de possuir um véu que impedia que se visse o que havia no seu interior, não possuía janelas,
de modo que ninguém tinha como ver o que havia ali dentro, a não ser os sacerdotes, os únicos que tinham permissão para ali entrar e, mesmo assim, apenas no primeiro compartimento, o lugar santo,
já que o segundo compartimento, também separado do primeiro por um véu, só podia ter a entrada do sumo sacerdote, uma vez ao ano, por ocasião do dia da expiação, que era o dia dez do sétimo mês.
– A única coisa que os israelitas podiam ver desta parte, chamada “tenda da congregação” ou “tenda do encontro”, ou, ainda, por alguns, “santuário”, eram precisamente as cortinas que faziam a sua cobertura e, mesmo assim, como haveremos de ver, a camada superior de tal cobertura.
– A segunda camada, que ficava acima das dez cortinas de linho fino já mencionadas era composta de onze cortinas de pelos de cabras, que serviriam de “tenda” sobre o tabernáculo (Ex.26:7).
A palavra “tenda” aqui é o hebraico “’ohel” (אֶהל), “…substantivo masculino que significa tenda, povos nômades e patriarcas(…).
Pode ser usado de modo figurado para uma morada…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n.168, p.1511).
Nota-se, portanto, que esta cobertura serviria de “morada” temporária para a presença de Deus, pois é nesta parte coberta que se poria a arca da aliança, sinal da presença de Deus, e onde Deus Se “mostraria” ao povo com a nuvem e a coluna de fogo.
– De pronto, já vemos que a cobertura da tenda da congregação, que era aparentemente rústica, demonstrava uma falta de aparência e formosura para quem olhasse para a tenda da congregação.
Pela cobertura jamais de poderia inferir que, no seu interior, a tenda era composta de peças todas revestidas de ouro e com belos ornamentos.
– Isto nos fala de algumas verdades espirituais. A primeira é a de que o que é valioso no ser humano não é o que lhe é exterior, ou seja, o corpo, a aparência física, mas, sim, o “homem do lado de dentro”,
o homem interior, este, sim, desde já eviterno, ou seja, que tem começo mas jamais terá fim, aquela parcela do ser humano a quem já está garantida a eternidade, a dimensão eterna, com ou sem Deus.
– Por isso, o apóstolo afirma categoricamente que somos vasos de barro mas vasos que contêm um tesouro, querendo, com isto, mostrar que nossa parte externa não tem muito valor, é pó, é terra (Gn.3:19; Sl.103:14; Ec.12:7), mas o homem interior, este há de existir para sempre a partir de sua criação.
– O Senhor Jesus, também, não tinha parecer, formosura nem beleza desejável (Is.53:2), mas n’Ele habitava corporalmente toda plenitude da divindade (Cl.2:9), sendo, pois, tipificado na estrutura da tenda da congregação.
– A tricotomia do ser humano (I Ts.5:23) também é contemplada na tenda da congregação: a cobertura representando o corpo; o lugar santo, a alma e, por fim, o lugar santíssimo, o espírito.
– A cobertura da tenda da congregação era formada por onze cortinas. O significado do número onze é discutido entre os estudiosos da Bíblia, pois é um número que está entre o dez,
que simboliza a perfeição divina, e o doze, que representa, segundo o pastor Abraão de Almeida, o perfeito viver, pois é o número do povo de Deus.
Onze, então, simboliza o amor fraternal, ou seja, a aplicação da perfeição divina ao perfeito viver, tanto que o banquete dado a José a seus irmãos tinha 11 participantes (Gn.43:33), como também aos dez mandamentos o Senhor Jesus teria acrescido mais um, o 11º mandamento, que é o de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou ((Jo.13:34).
– As onze cortinas desta camada da cobertura da tenda da congregação, portanto, tipificam Cristo Jesus, Aquele sem parecer e formosura, que encarnou para ser o primogênito entre muitos irmãos (Rm.8:29), que quis ser nosso irmão, não se envergonhando disto e tomando tal posição para poder expiar os nossos pecados (Hb.2:11,16-18).
– A cobertura da tenda da congregação, a “parte de fora” da tenda, onde está a presença de Deus, fala de amor fraternal, algo que precisa estar presente na vida espiritual de todo cristão, que caracteriza a pessoa como discípula de Cristo (Jo.13:35).
O amor fraternal é a penúltima virtude, que só perde para o próprio amor divino (II Pe.1:7), sendo qualidade vivamente recomendada pelas Escrituras aos salvos (Rm.12:10; I Ts.4:9; Hb.13:1; I Pe.1:22).
– Cada uma das onze cortinas tinha de ter a mesma medida e aqui temos a mesma harmonia e a mesma lição sobre unidade que já falamos com relação às cortinas da cerca do tabernáculo.
Cada cortina deveria ter trinta côvados de comprimento e quatro côvados de largura, o que, segundo a NAA, corresponde a 13,30 m de comprimento e 1,80 m de largura.
– Cinco destas cortinas deveriam ser juntadas por si e as outras seis cortinas também por si, sendo que a sexta cortina deveria ser dobrada diante da tenda (Ex.26:9).
– Assim como as cortinas da primeira camada, estas cortinas deveriam também ser entrelaçadas umas com as outras, igualmente com cinquenta laçadas na borda de uma cortina, na extremidade, na juntura e outras cinquenta laçadas na borda da outra cortina, na segunda juntura (Ex.26:10).
– Do mesmo modo que as cortinas da primeira camada, deveriam também estas cortinas da cobertura da tenda da congregação ser juntadas por cinquenta colchetes, que, no entanto, aqui, não seriam de ouro, mas, sim, de cobre, colchetes que deveriam ser metidos nas laçadas, sendo ajuntadas de tal modo que fossem uma (Ex.26:11).
– Vemos aqui, com maior clareza do que na cerca, que tinha de ter as cortinas divididas em dois grupos por causa da entrada do tabernáculo, que a função dos colchetes era a de criar uma unidade, fazer com que as onze cortinas fossem uma só, uma única cobertura da tenda da congregação.
– O amor fraternal tem este objetivo: fazer com que todos os irmãos sejam um com Cristo, o irmão mais velho, o primogênito dentre os irmãos, pois o objetivo da obra salvífica de Cristo é criar entre Deus e o homem uma unidade, a mesma unidade que existe entre o Pai e o Filho (Jo.10:30; 17:20-23).
A Igreja precisa guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz (Ef.4:3), paz que nada mais é que esta integridade mediante a união de todos em um só corpo, um só Espírito, uma só esperança da vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos (Ef.4:4-6).
– A medida das cortinas fazia com que “sobrasse” cortina e esta “sobra” deveria pender sobre as costas do tabernáculo, um côvado de um lado e outro côvado de outro, a fim de cobri-lo (Ex.26:12,13).
– Este sobejo mostra-nos que Deus é poderoso para fazer muito além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Ef.3:20), que o Senhor Jesus, representado aqui, era muito mais do que podemos inferir ou até do que nos foi revelado (Jo.21:25).
Também nos faz lembrar que, se formos fiéis ao Senhor, faremos obras maiores do que Ele fez durante Seu ministério terreno 9Jo.14:12), até porque nos é prometida uma vida abundante (Jo.10:10; Rm.5:20).
– Os colchetes eram de cobre ou bronze, mantendo, assim, a constância de peças de cobre do lado de fora da tenda da congregação, cobre e bronze que simbolizam a justiça divina, pois estamos no pátio, na parte externa que nos fala da necessidade de fé para entrar na graça, fé que representa a confissão, arrependimento e remissão dos pecados.
– Os pelos de cabra eram apenas a segunda camada da cobertura. Havia, ainda, uma coberta de peles de carneiro tintas de vermelho e outra coberta de peles de texugo em cima.
– O que era vista por todos era a coberta de pelos de texugo, a menos exuberante de todas, a mais rústica, precisamente para nos dar a tipificação da falta de parecer e formosura de Cristo Jesus e de como não podemos nos deixar levar pela aparência física que é considerada como enganosa (Pv.31:30) e isto quando se está a falar de mulheres, onde, nitidamente, isto é mais levado em conta do que entre homens.
– Há muita discussão de que animal seja este “texugo”, entendendo alguns que se trata de um animal marinho, provavelmente o golfinho ( como o pastor Abraão de Almeida, por exemplo), outros que seria um animal de pele lisa, mas terrestre, como o antílope (como a Bíblia de Estudo Palavras-Chave, que assim traduz a palavra “tahaš” – ַתַחש). De qualquer modo, era uma pele lisa, sem qualquer parecer, beleza ou atratividade à vista.
– No entanto, tratava-se de uma pele resistente, que poderia suportar as intempéries do deserto, toda a adversidade climática que caracterizava aquele ambiente.
Jesus não tinha parecer nem formosura, mas venceu o mundo, o pecado e a morte, resistiu ao diabo e cumpriu a vontade do Pai.
Devemos ser seus imitadores e fazer com nossos corpos sejam instrumentos de justiça, instrumentos de glorificação do nome do Senhor.
– As peles de carneiro tintas de vermelho falam-nos do sangue de Cristo.
Ao encarnar, Jesus possuiu sangue, componente que não faz parte do reino de Deus (I Co.15:50), sangue que foi totalmente derramado na cruz do Calvário (Jo.19:34), tanto que, ao ressuscitar, Jesus não tinha sangue, sendo apenas carne e ossos (Lc.24:39).
É este sangue que nos purifica de todo o pecado (I Jo.1:7) e pelo qual teremos direito à árvore da vida e poderemos entrar na cidade celestial pelas portas (Ap.22:14).
– A camada de pelos de cabra, ensina-nos o pastor Abraão de Almeida, “…indica a pureza da justiça de Cristo. Jesus viveu uma vida santa, sem pecado, e por isso Ele podia perguntar:
‘Quem dentre vós Me convence de pecado?’ (Jo.8:46)…” (op.cit., p.22).
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/3956-licao-6-as-cortinas-do-tabernaculo-i