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Lição 8: Filadélfia, a igreja do amor perfeito I

AS SETE CARTAS DO APOCALIPSE – A mensagem final de Cristo à Igreja
COMENTARISTA: CLAUDIONOR CORRÊA DE ANDRADE
COMENTÁRIOS – EV. CARAMURU AFONSO FRANCISCO
(ASSEMBLEIA DE DEUS – MINISTÉRIO DO BELÉM – SEDE – SÃO PAULO/SP)
A carta à igreja de Filadélfia mostra-nos o perfil dos que serão arrebatados pelo Senhor.
INTRODUÇÃO
– Na carta à igreja de Filadélfia, vemos o perfil daqueles que serão arrebatados pelo Senhor.
– O Senhor Se agrada dos que guardam a Palavra e, por guardarem a Palavra, evangelizam e se mantêm em santidade.
I – O CENÁRIO DA CARTA À IGREJA DE FILADÉLFIA
– Prosseguindo o estudo das sete cartas que o Senhor Jesus mandou enviar às igrejas da província romana da Ásia, que constitui a parte substancial do estudo proposto pela CPAD para este trimestre no livro do Apocalipse, estudaremos a sexta carta, a carta encaminhada ao anjo da igreja e, por conseguinte, à igreja de Filadélfia.
– Filadélfia, palavra cujo significado é “amor fraternal” (na verdade, “…é uma duplicidade da palavra amor na língua grega…”. Filadélfia. In: WIKIPEDIA. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ala%C5%9FehirAcesso em 10 abr. 2012), “…foi uma antiga cidade da Lídia. Hoje tem o nome de Alaşehir e está localizada na Turquia.…” (WIKIPEDIA end.cit.). “…’Em 150 a.C., Atilo II Filadelfo  [a] fundou, no vale Córgamo, no sopé do Monte Tmolo, há mais ou menos 122 quilômetros de Esmirna (…) em homenagem a seu irmão Eumenes II, que o precedeu no trono, a fim de assinalar uma grande amizade que os ligava’ (cf. CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo).…” (SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo. 3.ed., pp.54-5). “…Distante 45 km de Sardes (…) um porto importante da Turquia…” (OLIVEIRA, José Serafim de. Desvendando o Apocalipse: o livro da revelação, p.25).
– Nada se sabe sobre a identidade e a biografia do anjo desta igreja. Entendem alguns que poderia ser o amado Gaio, mencionado por João em II Jo.1,7 e 8, mas nada há que confirme, nas Escrituras, tal alegação.
– A informação que se dá deste pastor, no entanto, é, ao lado da de seu colega de Esmirna, a melhor de todo o conjunto das sete cartas. Estamos diante de uma das duas cartas em que não há qualquer repreensão ou censura da parte do Senhor Jesus. “…Uma igreja pode ser irrepreensível? As igrejas de Esmirna e Filadélfia eram irrepreensíveis. Das sete foram as únicas que o Senhor não teve o que censurar.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.25).
– Isto nos mostra, claramente, que, neste mundo, é possível sermos irrepreensíveis diante de Deus e dos homens. É esta, aliás, uma característica imprescindível da igreja que se apresentará ao Senhor Jesus (I Co.1:8; Ef.5:27; Cl.1:22; I Ts.3:13; Jd.24) e, notadamente, daqueles que estão à frente do rebanho do Senhor (I Tm.3:2; Tt.1:6,7). Esta irrepreensibilidade, inclusive na linguagem, é necessária para que possamos dar bom testemunho e o inimigo não tenha o que falar de nós envergonhando-nos e ao Evangelho (Fp.2:15; Tt.2:8).
– Ser irrepreensível é, precisamente, assim como o anjo da igreja de Filadélfia, ter um exame da parte do Senhor Jesus que não contenha censuras ou repreensões. Ser irrepreensível é, pois, ser alvo de elogios e de louvores da parte de Cristo. É ter um comportamento agradável ao Senhor.
– Esta exigência de Deus da parte do homem é uma constante desde o chamado de Abrão (Gn.17:1). A irrepreensibilidade, a integridade é uma característica que deve ter o servo de Deus. O Senhor sabe que não somos perfeitos, visto que somos criaturas e, além de sermos criaturas, temos, ainda, a natureza pecaminosa que nos impede de alcançar a estatura de varão perfeito, a estatura completa de Cristo, que é, no entanto, o alvo que buscamos (Ef.4:13). Todavia, a tendência para a perfeição, o interesse em alcançá-la, que nos faz ser inteiramente de Cristo, é o que se exige de cada um de nós, sem o que não poderemos ver o Senhor.
– A irrepreensibilidade é, pois, o resultado de uma vida de santificação, de busca incessante de santidade, de uma aproximação contínua e ininterrupta ao Senhor, busca esta que nos leva, a cada instante, a nos santificar, a melhorar as nossas obras (o que Tiago denomina de “alimpar as mãos pecadoras”), bem como de crucificar diariamente a carne e as suas paixões (o que Tiago denomina de “purificar os corações”) (Tg.4:8).
– O pastor da igreja de Filadélfia, e a igreja como um todo, eram irrepreensíveis, embora não fossem perfeitos, pois o próprio Senhor Jesus deixa claro que eles “tinham pouca força” (Ap.3:8), ou seja, eram um segmento que pouco contava na sociedade da época, que não tinham prestígio, além do que viviam em sofrimento causado pelos religiosos (Ap.3:9).
– É importante distinguirmos entre “irrepreensibilidade” e “perfeição”, pois o inimigo de nossas almas tem, como costumamos dizer, uma costumeira armadilha com a qual procura transtornar a vida espiritual dos cristãos, que chamamos de ´”óculos da perfeição”. Consiste este ardil em fazer com que os crentes busquem enxergar perfeição no meio da igreja. Naturalmente que, ao colocar “as lentes da perfeição”, o crente ficará decepcionado, pois verificará que todos os crentes são imperfeitos.
– Mas é aí que não podemos nos deixar enganar pelo diabo. Todos os cristãos são imperfeitos, como confessa o próprio apóstolo Paulo (Fp.3:12). Estamos caminhando para a perfeição, que somente advirá com a glorificação, estágio último da salvação, o que se alcançará no dia do arrebatamento da Igreja (Fp.3:21). Até lá contentemo-nos em ser irrepreensíveis, ou seja, vivermos de modo a que agrademos ao Senhor aqui na Terra, que não sejamos motivo de censura da parte d’Ele, que continuemos a nos santificar até o fim (Ap.22:11). As “lentes” que devemos usar não são as da perfeição, mas, sim, as da santidade.
– O Senhor Jesus Se identifica ao anjo da igreja de Filadélfia como “O que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; O que abre e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre” (Ap.3:7).
– Nesta identificação, o Senhor Jesus dá-nos a chave para entender o que é a irrepreensibilidade de que já falamos. Ele Se apresenta a estes pastor e igreja com as mesmas características que faziam com que aqueles crentes fossem alvo de Seus elogios e louvores, ou seja, com as qualidades que os faziam reais e genuínos cristãos, ou seja, pessoas semelhantes a Cristo, imitadoras de Cristo, “pequenos Cristos” (At.11:26).
– A primeira característica que o Senhor mostra ter é a santidade. “Isto diz O que é santo”. Jesus, quando foi anunciado pelo anjo Gabriel a Maria, já foi apresentado como “o Santo” (Lc.1:35). Jesus é “o Santo”, porque jamais pecou (Hb.4:15). Como é santo Aquele que nos chamou, devemos nós, também, ser santos em toda a nossa maneira de viver (I Pe.1:15).
– O segredo para a irrepreensibilidade da igreja de Filadélfia era o de viver separada do pecado, em santidade, como o seu Senhor. É importante notar que, ao longo dos anos, a cidade de Filadélfia nutria um carinho especial pelos imperadores romanos, desde Tibério (imperador de 14 a 37), tendo, mesmo, erigido, nos dias de Caracala (imperador de 211 a 217), um culto imperial, mas, nem por isso, os cristãos de Filadélfia se misturaram com o pecado, mantendo-se em santidade. Por isso, eram irrepreensíveis.
– A santidade, ou seja, a separação do pecado é uma condição “sine qua non” para vermos o Senhor (Hb.12:14). Ao Se apresentar como o Santo, o Senhor Jesus não só afirma que esta era uma qualidade da igreja de Filadélfia, como também nos faz lembrar que, sem a santidade, jamais poderemos adentrar os umbrais das mansões celestiais. Temos nos mantido em santidade?
– Mas, além de Se identificar como o santo, o Senhor Jesus também afirmou que Ele era verdadeiro. “Isto diz O que é verdadeiro” (Ap.3:7). Outra característica que o Senhor enfatiza haver na igreja de Filadélfia como prova de que ela era cristã, ou seja, semelhante a Cristo, é a verdade. Ser verdadeiro é estar de acordo com a verdade, é estar em harmonia com a verdade. E o que é a verdade? A verdade não é um conceito, mas, sim, uma pessoa, a saber, o Senhor Jesus (Jo.14:6). A Verdade, que é o Senhor Jesus, é a Sua Palavra, a Bíblia Sagrada (Jo.17:17).
– Ser verdadeiro, portanto, nada mais é que ser cumpridor da Bíblia Sagrada, da Palavra de Deus. Não é, pois, à toa que, na carta que mandou João escrever àquela igreja, o Senhor Jesus diga, por duas vezes, que os crentes de Filadélfia guardavam a Sua Palavra (Ap.3:8,10). Os filadelfitas eram verdadeiros porque guardavam a Palavra de Deus. Podemos dizer que somos verdadeiros?
– O Senhor Jesus é verdadeiro porque jamais se achou engano em Sua boca (I Pe.2:22). Para sermos irrepreensíveis, também não se pode achar engano em nossas bocas (Ap.14:5), ou seja, devemos falar única e exclusivamente a verdade (Zc.8:16; Ef.4:25), o que não só significa que não devemos mentir, mas que, também, não deixemos de falar a Palavra de Deus e de tudo decidirmos à luz desta santa Palavra, que é a verdade.
– Para sermos irrepreensíveis diante de Deus, temos de ter a Palavra de Deus como nossa única regra de fé e prática. Devemos crer na Palavra e, se cremos nela, devemos vivê-la, pois não basta sermos ouvintes, mas temos de ser cumpridores das Escrituras (Tg.1:22-25). Lamentavelmente, muitos são os que, hoje em dia, embora cristãos se dizem ser, não cumprem a Palavra de Deus, mas são tão somente ouvintes esquecidos, que se enganam com falsos discursos e que, por isso mesmo, não fazem parte da Igreja de Cristo, o que, se não se arrependerem a tempo, descobrirão quando for tarde demais, depois que o Senhor tiver arrebatado a genuína e autêntica Igreja. Temos sido verdadeiros como Nosso Senhor e Salvador?
– O Senhor Jesus, também, Se identificou como “O que tem a chave de Davi”. Esta afirmação do Senhor reporta-nos à passagem do livro do profeta Isaías onde o profeta leva uma mensagem a Sebna, o mordomo real, apontando-lhe a infidelidade no trato dos tesouros reais e afirmando que, por causa daquilo, seria ele substituído por Eliaquim, filho de Hilquias, que haveria de ser um tesoureiro fiel (Is.22:15-25).
– Ao Se identificar como sendo Aquele que tinha a chave de Davi, o Senhor está a mostrar que é fiel e, deste modo, também o eram o pastor e a igreja de Filadélfia. A fidelidade, ou seja, a lealdade em cumprir os compromissos assumidos, ser digno de confiança é outra característica e qualidade que o Senhor ostenta e que nós devemos ostentar se quisermos ser irrepreensíveis.
– O Senhor já havia Se identificado, no preâmbulo das cartas, como “a fiel testemunha” (Ap.1:5), pois “…Ele deu testemunho do Pai perante o mundo físico e espiritual (Jo.14:9)…” (OLIVEIRA, José Serafim de.op.cit., p.12). Da mesma maneira, os genuínos e autênticos servos de Cristo devem ser testemunhas d’Ele em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da Terra (At.1:8). Para tanto, devem ser obedientes ao Senhor e à Sua Palavra, também sendo revestidos de poder, a fim de que, de modo eficaz, possam cumprir este desígnio determinado pelo Senhor em suas vidas sobre a face da Terra, que é o de dar fruto permanente (Jo.15:16). Por isso, enquanto caminharmos neste mundo, devemos andar em temor (I Pe.1:17), vivendo sóbria, justa e piamente, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, aguardando a vinda do Senhor (Tt.2:11,12).
– Mas, ao mostrar que tem, em Suas mãos, a chave de Davi, o Senhor também nos mostra que é Ele quem dá acesso aos tesouros reais, aqui não os tesouros do reino de Judá, mas, muito mais do que isto, do reino celeste, pois Seu reino não é este mundo (Jo.18:36). A fidelidade a Deus faz com que tenhamos acesso aos tesouros celestiais e, por isso, podemos buscar as coisas que são de cima (Cl.3:1,2), podemos ajuntar tesouros nos céus, onde deve estar o nosso coração (Mt.6:19-21).
– Por ter o Senhor Jesus a chave de Davi, que nos abre os tesouros celestiais, temos de entender que, para sermos irrepreensíveis neste mundo, não podemos buscar as coisas desta vida, mas, sim, dar prioridade às coisas de cima. Quando o Senhor Se apresenta como sendo o dono da chave de Davi lembra-nos que estamos mortos para o mundo (Cl.3:3) e que a vida que agora vivemos, vivemo-la na fé do filho de Deus (Gl.2:20), tendo como única esperança a manifestação com Ele em glória (Cl.3:4).
– A fidelidade de Jesus fê-l’O Todo-Poderoso, tanto que o que Ele abre, ninguém fecha e o que Ele fecha, ninguém abre (Ap.3:7). “…A chave de Davi fala da Sua posição como Senhor e cabeça da casa de Davi. Portanto o Reino Lhe pertence por direito…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.25). Sendo fiéis ao Senhor, podemos ter a certeza que nada nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm.8:31-39), de forma que a nossa salvação é irrevogável, não há quem possa nos impedir de viver eternamente com o Senhor, se nos mantivermos separados do pecado. Aleluia!
II – O EXAME DAS QUALIDADES DA IGREJA DE FILADÉLFIA PELO SENHOR JESUS
– Como já temos dito, ao lado de Esmirna, a igreja de Filadélfia é uma das duas igrejas em que o Senhor Jesus somente apresenta qualidades, não apontando qualquer senão. Em sendo assim, só poderemos examinar as qualidades exaltadas pelo Senhor àqueles pastor e igreja.
– O Senhor inicia seu relato com a expressão “Eu sei as tuas obras”, expressão que, como temos visto, é repetida em todas as cartas a indicar que o Senhor é onisciente e sabe tudo o que se passa em Sua igreja.
– O Senhor diz à igreja de Filadélfia: “eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar” (Ap.3:8a). Realçando a Sua condição de Todo-Poderoso, por ter “a chave de Davi”, o Senhor faz questão de dizer que abriu uma porta para aquela igreja. “…A estrada que de Éfeso ia para leste tinha uma concorrente: aquele que, vindo do porto de Esmirna, passava por Filadélfia e, através da Frigia, dirigia-se para o grande planalto central. Filadélfia, se observarmos bem, ficava na rota da estrada do correio imperial que vinha de Roma e atravessava o porto de Trôade, seguindo para Pérgamo, Sardes, Antioquia (capital da Psídia), depois de atravessar outras regiões, essa via alcançava a [outra] Antioquia (capital da Síria) e, finalmente, costeando, alcançava Jerusalém.(…). Literalmente falando, a ‘porta aberta diante’ da igreja de Filadélfia aponta para sua posição geográfica na rota que ligava Jerusalém a capital do Império, Roma.…” (SILVA, Severino Pedro da.op.cit., p.55).
– Esta situação geográfica de Filadélfia explica porque, “…historicamente foi profundamente evangelística. Foi a porta para a divulgação do Evangelho que ninguém pôde fechar. E quando sofreu uma grande tribulação, por não aceitar o culto do imperador romano, ela foi guardada, ainda que com sacrifício…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.7, p.49) (destaque original).
– “…É o Senhor que abre as portas para evangelização. Quando o Senhor abre as portas à igreja, ou ao crente individualmente, pode avançar que a vitória é certa. As portas que Ele abre ninguém fecha, e as que Ele fecha, ninguém abre.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.25).”… ‘Todos os viajantes vindos de Roma e todos os de Esmirna, que se dirigiam ao coração da Ásia Menor Apocalíptica passavam em Filadélfia. A passagem quase obrigatória desses viajantes por Filadélfia representava, para a igreja, uma ‘porta aberta diante de si’, para evangelização e testemunho. Por ela, podiam ser alcançados até viajantes de longínquas regiões e cidades’…” (SILVA, Severino Pedro da.op.cit., p.56).
– Tanto assim é que um dos primeiros avivamentos ocorridos na história da Igreja, após o período apostólico, o chamado “avivamento montanista”, ocorrido por volta de 135 ou 177, na Frigia, teria tido origem precisamente em Filadélfia, pois teria sido ali que os profetas Quadratus e Ammia teriam sido usados por Deus para tanto evangelizar quanto, por imposição de mãos, dar a Montano, Priscila e Maximila o dom espiritual de profecia que ostentavam, tendo sido estas três pessoas as responsáveis por tal avivamento na Frigia (que também pertence à Turquia).
– Ao dizer àquela igreja que havia posto “uma porta aberta” diante dela, o Senhor nos mostra claramente que o objetivo de nossa irrepreensibilidade não é fomentar, em nós, um sentimento de superioridade espiritual em relação aos demais homens, mas, sim, para que, de modo eficaz, venhamos a evangelizar o mundo, diante da “porta aberta” que foi posta diante de nós.
– O objetivo de nossa santificação outro não é senão o de nos habilitarmos para, como fiéis testemunhas, proclamarmos o Evangelho de Cristo, dizermos ao mundo que Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e que, brevemente, voltará.
– Não há outro propósito para nosso crescimento espiritual e nossa cada vez maior intimidade com o Senhor senão o evangelismo, a evangelização do mundo. Uma igreja que não entrar pela porta que o Senhor abriu estará perdendo uma oportunidade mui preciosa de agradar ao Senhor. E, se não agradarmos ao Senhor, entrando pela porta aberta da evangelização, também não poderemos entrar na porta da glória de Deus (Sl.24:9,10). Por isso, o apóstolo Paulo, consciente desta realidade, afirmou e exclamou: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!” (I Co.9:16). Temos esta consciência?
– A igreja de Filadélfia é a igreja do “amor fraternal”, do “amor dobrado”, já que a palavra “Filadélfia” é a união de duas palavras gregas que, por si só, já indicam amor: “philia” (amor, amizade) e “adelphia” (irmandade, fraternidade). É a igreja onde o amor está presente, tanto o amor a Deus, a amizade com Deus que é decorrente da santificação, quanto o amor ao próximo, revelado pela disposição em levar o Evangelho aos perdidos. É a igreja que cumpre o mandamento que o Senhor Jesus nos deixou: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo.15:12), considerada uma das provas da posse da vida eterna, como ensina o teólogo inglês John Stott (1921-2011), citando Robert Law.
OBS: “…John Stott, citando Robert Law, fala sobre as três grandes provas da vida, ou as três provas cardinais com as quais podemos julgar se possuímos ou não a vida eterna: a primeira é teológica, se cremos que Jesus é “o Filho de Deus” (3.23; 5.6,10,13). A segunda prova é moral, se estamos praticando a justiça e guardando os mandamentos de Deus (1.5; 3.5). A terceira prova é social, se nos amamos uns aos outros. Desde que Deus é amor e todo amor vem de Deus, é claro que uma pessoa sem amor não conhece a Deus (4.7,8) [I, II e III João: introdução e comentário, p.47]…” (Uma introdução à primeira carta de João. Disponível em: http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capitulo/22168798.pdf Acesso em 10 abr. 2012).
– Ao contrário de Éfeso, onde havia um intenso trabalho mas já faltava o primeiro amor, o que explica porque os efésios não mais estavam a evangelizar, vivendo apenas de obras intensas, mas feitas por automatismo, e de zelo doutrinário, a igreja de Filadélfia, sem deixar de ter apreço pela Palavra e também sem deixar de praticar boas obras, havia ido adiante, demonstrando que tudo fazia por e com amor, de modo que não deixava de evangelizar, de levar Cristo aos pecadores.
– É este, pois, um importante diferencial que devemos verificar, em nossos dias, quanto às igrejas locais. Têm sido elas operosas, ativas e abundantes em boas obras? Mas, como resultado disto, temos uma evangelização efetiva, vidas têm se encontrado com o Senhor Jesus? Se há apenas ativismo, mas não há salvação de vidas, estamos diante de uma igreja de Éfeso, onde não há mais o primeiro amor. Se, porém, temos, diante de nós, salvação, transformação de vidas, é porque estamos diante de uma igreja de Filadélfia, a “igreja do amor completo”, como disse nosso comentarista no título desta lição, uma igreja que prima por buscar e salvar aqueles que se haviam perdido, seguindo o exemplo de seu Salvador (Lc.19:10).
– É interessante notar que, enquanto que Éfeso está completamente destruída na atualidade, não havendo lá nenhum cristão, Filadélfia, além de ter sido a última cidade da região a sucumbir ao domínio turco, o que ocorreu somente em 1388, ainda hoje possui cristãos (sendo, inclusive, sede de uma diocese da Igreja Romana), sem falar que há um bairro em Atenas, chamado “Nova Filadélfia”, onde há habitantes que emigraram da Turquia para a Grécia em 1923, para manterem a sua tradição cristã em completa liberdade (Cf. Alasehir. In: WIKIPEDIA. Disponível em:http://en.wikipedia.org/wiki/Ala%C5%9FehirAcesso em 10 abr. 2012), a demonstrar como esta cidade realmente prefigura o “remanescente fiel” da igreja do Senhor até o dia do arrebatamento.
– Após ter mostrado a Filadélfia que havia aberto uma porta para ela, que outra não é senão a porta da evangelização, o Senhor Jesus reconhece que “…tendo pouca força, guardaste a Minha palavra e não negaste o Meu nome” (Ap.3:8b).
– A igreja de Filadélfia tinha “pouca força”. Isto significa que não tinha qualquer influência política, econômica ou social digna de nota. Por causa disso, sofreria a implacável perseguição dos religiosos e dos demais inimigos do Evangelho, mas, assim como Esmirna, ela se manteria fiel ao Senhor, guardando a Sua Palavra e não negando o Seu nome. “…O Senhor conhece as nossas forças (Sl.103:14; I Co.10:13). Apesar da pouca força, a igreja de Filadélfia guardou a Palavra do Senhor e, nem mesmo diante das perseguições e duras provações, não negou o Seu Nome. Estas duas virtudes da igreja de Filadélfia foram observadas pelo Senhor, e Ele muito Se agradou…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.26).
– A perseverança é outra qualidade que se ressalta na igreja de Filadélfia que, mesmo em um ambiente hostil, manteve-se fiel ao Senhor. O Senhor foi explícito, em Seu sermão profético, ao dizer que somente aquele que perseverar até o fim será salvo (Mt.24:13). Será que o Senhor Jesus pode dizer o mesmo de nós?
– Em mais uma demonstração de seu amor a Deus, a igreja de Filadélfia havia guardado a Palavra de Deus, pois só guarda a Palavra quem ama ao Senhor (Jo.14:23). Havia, na igreja de Filadélfia, uma comunhão profunda com o Senhor, de sorte que nada os podia separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm.8:35-39).
– Além de guardar a Palavra, esta igreja “não negava o nome do Senhor”. Esta expressão é muito elucidativa. “Não negar o nome do Senhor” é fazer o contrário do que fez o apóstolo Pedro no dia da prisão de Cristo, quando, instado a manifestar a sua fé em Cristo, vergonhosamente negou o Senhor. “Não negar o nome de Cristo” significa suportar o vitupério do nome de Cristo, ou seja, suportar o menosprezo, o desprezo e até mesmo a morte por causa do nome de Cristo.
– Os judeus criaram uma expressão que representa o significado desta expressão do Senhor ao anjo da igreja de Filadélfia. É a expressão “Kidush Ha-Shem”, cujo significado é “santificação do Nome”, que nada mais é que “…oferecer a própria vida em ‘holocausto’ para a santificação do Nome de Deus, por lealdade à Torah, e em defesa do povo judeu.…” (AUSUBEL, Nathan. Kidush Ha-Shem. In: A JUDAICA, v.6, p.425).
– Vemos aqui, portanto, que, quando o Senhor Jesus fala que a igreja de Filadélfia “não negou o Seu nome”, está a traçar mais um paralelo com a igreja de Esmirna, outra igreja irrepreensível, qual seja, a de que era uma igreja que sofria a implacável perseguição, mas se mantinha fiel até a morte.
OBS: “…É realmente notório que as palavras faladas pelo Senhor a Filadélfia são muito parecidas com as que foram faladas a Esmirna. O problema de Esmirna era o judaísmo, e em Filadélfia também havia o judaísmo. À igreja em Esmirna o Senhor diz: “Para serdes posto à prova”, enquanto para a igreja em Filadélfia o Senhor diz: “Eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”. O Senhor também fala às duas igrejas com relação à coroa. Para Esmirna Ele diz: “Dar-te-ei a coroa da vida”, enquanto para Filadélfia Ele diz: “Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”.As duas igrejas têm estes dois pontos semelhantes para mostrar que elas estão na mesma linha, isto é, na linha da ortodoxia da igreja apostólica.…” (NEE, Watchman. A ortodoxia da Igreja, p.28. Disponível em: http://ebooksgospel.blogspot.com Acesso em 08 mar. 2012).
– Tratava-se de uma igreja que, por confiar somente em Jesus e amá-l’O sobre todas as coisas, não tinha a sua vida por preciosa, a exemplo do apóstolo Paulo, cumprindo com alegria a sua carreira e o ministério que recebera do Senhor Jesus para dar testemunho do evangelho da graça de Deus (At.20:24). Assim, apesar de ter pouca força e, por causa disto, ser alvo vulnerável e fácil dos poderes político-social-econômico, continuava o seu mister de evangelização, mesmo às custas, às vezes, da própria vida física. “…O diabo ataca a igreja de todas as maneiras, com perseguição política, inimigos externos, inimigos internos, mas a igreja de Filadélfia guardou a Palavra de Deus e não negou o Nome de Jesus…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.26).
– A perseguição era implacável, sabia o Senhor Jesus. Aqui, uma vez mais, surge a “sinagoga de Satanás”, o mesmo grupo que se insurgira contra a igreja de Esmirna, que, conforme vimos ao analisar a carta àquela igreja, são “…os religiosos que queriam introduzir na igreja conceitos da religião humana.…”(OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.17), “…grupos religiosos que certamente causaram aborrecimentos à igreja; talvez tentando introduzir heresias, tradições judaicas e, também, por não serem aceitos…”(ibid., p.26).
– A “sinagoga de Satanás” sempre se levanta contra as igrejas fiéis ao Senhor, porque não encontra guarida no seu meio, sendo, pois, um grupo que, mantido à parte pelos crentes fiéis, insurge-se contra aqueles que estão a servir a Deus fielmente. É um grupo que se acham conhecedores das coisas espirituais e que não se conformam com a simplicidade do Evangelho que há em Cristo Jesus, pessoas que, por não aceitarem a simplicidade do Evangelho, são pervertidos pelo diabo assim como se deu com Eva (II Co.11:3).
– A “sinagoga de Satanás” é mentirosa, enquanto que a igreja genuína é verdadeira. Eles “se dizem judeus, e não são, mas mentem” (Ap.3:9). Notamos, pois, que uma das características dos adversários da igreja de Filadélfia era a mentira, ou seja, diziam ser judeus, diziam ser povo de Deus, mas não no eram, pois como se pode ser de Deus se se volta contra o corpo de Cristo? Assim, muitos, na atualidade, dizem-se cristãos mas não no são, já que se voltam contra o Senhor Jesus e a Sua Igreja. “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho” (I Jo.2:22).
– Sendo mentirosa, a “sinagoga de Satanás” não segue a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, que é a verdade (Jo.17:17), como também, por não conhecer a verdade, continua escravizada pelo pecado, pois é a verdade que nos liberta (Jo.8:32-34). Assim, pelos seus frutos, conhecemos quem pertence à “sinagoga de Satanás” (Mt.7:15-23), não podendo nos associar a eles (I Co.5:7-13). Tomemos cuidado, amados irmãos!
– O Senhor Jesus, porém, promete à igreja de Filadélfia a vitória sobre a “sinagoga de Satanás”. Esta vitória, porém, não se dará neste mundo. Aqui, teremos aflições (Jo.16:33), aqui, aparentemente, a “sinagoga de Satanás” triunfará, mas, na verdade, ela será derrotada, pois o Senhor promete que ela virá e se prostrará aos pés da igreja, e saberão que o Senhor Jesus a ama (Ap.3:9).”…No devido tempo, todos verão o cuidado e o amor de Deus para com aqueles que Lhe são fiéis (Sl.23:5)…” (OLIVEIRA, José Serafim de.op.cit., p.26).
– No dia do juízo do trono branco, quando todos comparecerem diante do Senhor Jesus, que estará acompanhado de Sua esposa, a Igreja, todos dobrarão os seus joelhos e confessarão que Jesus é o Senhor, para glória de Deus Pai e, assim, a Igreja desfrutará, ao lado de Cristo, da vitória completa sobre a “sinagoga de Satanás” (Fp.2:9-11). Assim como participou das aflições de Cristo, a Igreja participará de Sua glória (Rm.8:17; I Pe.4:13).
– Na perspectiva histórica que vê em cada carta a uma igreja da Ásia Menor um período histórico da igreja sobre a face da Terra, temos que a “igreja de Filadélfia” representa uma das faces do último período da história da Igreja, a “boa parte”, que representa a igreja fiel e missionária que se iniciou em meados do século XVIII e que perdurará até o arrebatamento da Igreja, com o término da dispensação da graça.
– “…Profeticamente, porém, refere-se à era missionária da Igreja, que começou nos fins do século XVIII e que chega até nossos próprios dias…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.55). “…Profeticamente, esta igreja representa os tempos atuais, quando a igreja pentecostal tem tido as portas abertas para a obra de missão e evangelismo. Desde que a igreja de Sardes fez a reforma, e não se reavivou, muitos cristãos, usando a liberdade que se escancarou para buscarem ao Senhor, passaram a divulgar o Evangelho completo, sendo assim considerados os evangélicos. Os anos se passaram e os evangélicos em oração pediram a Deus uma vida espiritual como aquela que tinha a Igreja Primitiva, e não demorou a serem batizados no Espírito Santo e se espalharem por todos os países, levando a chama do Pentecostes a todos os lugares. E, bondade de Deus, o Brasil foi um dos países atingidos pela chama pentecostal já há mais de noventa anos.…” (SILVA, Osmar José da. op.cit., pp. 49-50) (destaque original).
– Com efeito, por influência daqueles que tinham se negado a viver apenas teoricamente o movimento da Reforma Protestante, chamados pelos ingleses de “puritanos”, bem como, na Alemanha, por força do dito “avivamento morávio”, iniciou-se um vigoroso movimento espiritual cristão, “sem força”, visto que não amparado por quaisquer poderes políticos, econômicos ou sociais, mas que, impulsionado pelo Espírito Santo, levou a diversos avivamentos em países da Europa, em especial Inglaterra, e nas colônias inglesas da América do Norte, que se tornariam os Estados Unidos da América, dando um avanço ao movimento missionário, até porque, a esta altura, por força da Revolução Industrial, a Inglaterra se tornará o Império Britânico, a maior potência mundial, levando o Evangelho a todos os cantos do mundo, como a Ásia, a África e a Oceania e, até mesmo, a América Latina, que havia sido toda tornada católica romana por ocasião das grandes descobertas e do domínio político da Espanha, que foi, precisamente, suplantada pela Inglaterra.
– Ao mesmo tempo em que a Inglaterra se sobrepunha no domínio do comércio internacional, de igual modo, por força dos avivamentos ocorridos em seu território, com destaque para o chamado “avivamento wesleyano”, os missionários iam avançando em todos os continentes, entrando na “porta aberta” pelo Senhor Jesus, não sem sofrerem grandes perseguições por parte da “sinagoga de Satanás”.
– A fidelidade a Deus, o amor pelas almas perdidas e a busca incessante da santificação fez com que tais crentes se sensibilizassem mais e mais com uma vida concretamente dedicada ao Senhor e ao estudo das Escrituras e, assim, verdades que se mantinham escondidas e não exploradas da Bíblia Sagrada, como a volta de Cristo e o batismo com o Espírito Santo passaram a ser cada vez mais levadas em conta, como vemos em movimentos como o “movimento dos irmãos”, que teve no irlandês que se radicou na Inglaterra, John Nelson Darby (1800-1882), um dos seus principais líderes, o qual fez ver a realidade do chamado “dispensacionalismo” e da volta de Cristo para o arrebatamento da Igreja, como também nos metodistas que passaram a verificar a importância da santificação como pilar da fé cristã, o que seu origem aos “movimentos de santidade”, que acabou por dar origem ao “movimento pentecostal”, que encontraria na rua Azusa, em Los Angeles, nos Estados Unidos, o seu início, com William Seymour (1870-1922), que deu origem ao maior avivamento que se teve notícia na história da Igreja e que já perdura há mais de 106 anos.
– É um movimento caracterizado pela falta de poder político, social e econômico, mas que, apesar de todas as perseguições sofridas, continua levando o amor de Cristo a todos os cantos do planeta, mantendo-se fiel à Bíblia Sagrada e suportando todas as aflições por amor ao Senhor. Nas mais diferentes circunstâncias adversas, tem sobrevivido, a indicar que é sustentado única e exclusivamente pelo Senhor Jesus. Assim é que, apesar da implacável perseguição das religiões institucionalizadas (Romanismo, Islamismo, Hinduísmo) e dos sistemas políticos antirreligiosos (nazifascismo, marxismo-leninismo, o maoísmo e, nos últimos tempos, o chamado “marxismo cultural globalizante”), continua fazendo seu trabalho missionário e ganhando almas para o Senhor Jesus. “…Os pentecostais têm sofrido muito diante das forças opositoras, entretanto, o tempo vai passando e eles vão se fortalecendo, guardando a Palavra do Senhor e não temendo divulgar as Boas-Novas a todas as gentes, dizendo: ‘Jesus salva, cura as enfermidades, batiza com o Espírito Santo e leva para o céu’…” (SILVA, Osmar José da. op.cit., p.50) (destaques originais).
OBS: “…Fosse na Europa, América ou África, era sempre a mesma coisa. Não há necessidade de sustento humano, de anúncio, propaganda ou contribuições; eles sempre têm muitas oportunidades para trabalhar, e a porta para trabalhar ainda está aberta.…”(NEE, Watchman.op.cit., p.34). Verdade é que o Watchman Nee entende que a igreja de Filadélfia representa “os irmãos”, aqueles que são antidenominacionalistas e defendem a sua ideia de “igreja local”. Não somos sectários como Nee, entendendo que, neste movimento, estão todos aqueles que se mantêm fiéis ao Senhor, independentemente da denominação a que pertençam, pois “a igreja local” não deixa de ser uma denominação, apesar das negativas dos localistas. Por isso, concordamos plenamente com o pastor Osmar José da Silva, “in verbis”: “…A igreja de Filadélfia não tem cor denominacional, entende-se que são todos os crentes que, em qualquer tempo e circunstância, permanecem fiéis ao Senhor…” (op.cit., pp.50-1).
III – AS PROMESSAS QUE O SENHOR JESUS FEZ À IGREJA DE FILADÉLFIA
– Depois de ter prometido a vitória sobre a “sinagoga de Satanás”, o Senhor Jesus continua a fazer promessas à igreja de Filadélfia. A primeira delas é de que “como guardaste a palavra da Minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra”.
– A igreja de Filadélfia é perseverante, pois “paciência” aqui significa “perseverança”, como, aliás, traduz a Versão Almeida Revista e Atualizada (ARA). “…Perseverança aqui é usada como um substantivo. Hoje é tempo da perseverança de Cristo. Hoje o Senhor encontra muitos que escarnecem d’Ele, mas Ele é perseverante. Um dia o julgamento virá, mas hoje Ele é perseverante. Sua palavra hoje é a palavra da perseverança.…” (NEE, Watchman.op.cit., p.37). Devemos perseverar até o fim se quisermos ser salvos (Mt.24:13).
– “…Há para esta igreja algumas promessas gloriosas. PrimeiraA proteção pela sua perseverança. Será guardada da grande tribulação que há de vir sobre todo o mundo. Isso fala do arrebatamento que haverá para a igreja fiel.…” (SILVA, Osmar José da. op.cit., p.50) (destaque original). “…Esta promessa refere-se à grande tribulação que há de vir sobre todo o mundo (Ap.7:14). O Senhor promete guardar os crentes fiéis, não NA hora da grande tribulação, mas DA hora da grande tribulação; isto quer dizer que seremos arrebatados antes (Is.26:20; I Ts.1:10)…” (OLIVEIRA, José Serafim de.op.cit., p.26) (caixa alta nossa).
– O Senhor Jesus promete à igreja de Filadélfia que ela seria poupada da tribulação que adviria sobre o mundo todo. Entendem alguns que Filadélfia foi poupada nas grandes perseguições ocorridas durante o Império Romano, mas o texto tem uma aplicação profética sobressalente. Temos aqui a promessa que o Senhor faz a todos os crentes fiéis e irrepreensíveis de que eles serão poupados da Grande Tribulação, o período em que, em virtude da rejeição de Cristo, a humanidade sofrerá a ira divina, o juízo divino, a “ira futura” de que falou o apóstolo Paulo (I Ts.1:10), o próprio juízo que faz parte do ministério de Cristo, como já anunciara João Batista (Mt.3:12; Lc.3:17).
– “…A referência neste versículo sobre a ‘hora da tentação’ é um termo técnico para descrever o período sombrio da Grande Tribulação, que, de um certo modo, envolverá todo o mundo e, na sua fase final, terá como alvo a cidade de Jerusalém e a Terra Santa.(…). A Igreja desaparecerá silenciosamente antes, mediante o arrebatamento.(…). E todos, não resta a menor dúvida, se decidirão por Cristo ou pelo Anticristo, que, sem dúvida, dominará o mundo dos ímpios. No texto em foco, foi prometida isenção da prova especial, a qual significa livramento da Grande Tribulação.…” (SILVA, Severino Pedro da.op.cit., p.57).
– Temos, nesta passagem, uma eloquente demonstração, em harmonia com outros textos das Escrituras, de que a Igreja não passará pela Grande Tribulação, que será poupada, pela sua perseverança e fidelidade, do juízo divino que virá sobre toda a Terra, sobre judeus e gentios, juízo este que é explicitado no livro do Apocalipse, a partir do capítulo 4. É por isso, aliás, que a Igreja não está presente no livro a partir do capítulo 4.
–  “…Todavia, esta promessa está condicionada à perseverança e obediência à Palavra de Deus…” (SILVA, Osmar José da. op.cit., p.50). Não basta dizermos que somos crentes, mas é preciso que guardemos a Palavra de Deus, que a vivamos e a cumpramos fielmente, inclusive no tocante à ordem do Senhor para evangelização, a fim de que desfrutemos desta gloriosa promessa.
– A segunda promessa que o Senhor Jesus faz à igreja de Filadélfia é a Sua volta: “Eis que venho sem demora” (Ap.3:11a). O Senhor promete voltar para a Igreja, e “sem demora”. Por mais que o mal pareça triunfar, por mais difícil que se torne evangelizar, por mais que a “fraqueza” da Igreja se mostre ante os acontecimentos, temos de manter viva a esperança de que Jesus está para voltar, “ porque ainda um poucochinho de tempo, O que há de vir virá e não tardará” (Hb.10:37).
– A esperança da volta de Cristo é primordial para que nos mantenhamos fiéis e perseverantes. Infelizmente, nos dias hodiernos, trata-se de uma mensagem esquecida nas igrejas locais. Estão todos pensando nas coisas desta vida, esquecidos que o Senhor Jesus está para voltar e arrebatar a Sua Igreja. Há até pessoas que, mesmo conscientes da volta de Cristo, estão tão preocupados em decifrar os acontecimentos profetizados para o período posterior à Igreja que se esquecem, completamente, de que tudo isto não está reservado para os crentes fiéis e perseverantes. Que possamos repetir as palavras do poeta sacro Almeida Sobrinho: “Nossa esperança é Sua vinda, o Rei dos reis vem nos buscar. Nós aguardamos Jesus ainda, ‘té a luz da manhã raiar.” (estrofe do hino 300 da Harpa Cristã). O “amor perfeito” da igreja de Filadélfia também envolvia o indispensável amor pela vinda de Jesus, característica de todo crente fiel e perseverante (II Tm.4:8).
– Junto a esta promessa, o Senhor Jesus faz uma advertência à igreja de Filadélfia: “…guarda o que tens, pra que ninguém tome a tua coroa” (Ap.3:11 “in fine”). “…Segundo os Anais da História grega, na Grécia antiga, em Olímpia, no Peloponeso, de quatro em quatro anos, se realizavam os jogos olímpicos desde o ano 776 a.C. Aos vencedores se outorgava uma coroa — a coroa da vitória — formada de folhos de ouro entrelaçadas(…). Esta é uma mensagem de encorajamento e consolação aos fiéis, mas (também) é uma palavra de advertência aos hesitantes, aos quais é dito que se tornem constantes, e sempre abundantes na obra do Senhor (cf. I Co.15:58)…” (SILVA, Severino Pedro da.op.cit., p.57).
– “…Não é bom descuidarmos daquilo que recebemos de Deus. Tanto bênçãos espirituais, quanto materiais. Salvação, batismo com o Espírito Santo, dons espirituais, posição social, emprego, casamento etc. Lembremo-nos sempre da divina advertência. Guarda o que tens. Satanás e seus agentes estão sempre interessados em nos despojar daquilo que Deus nos deu…” (OLIVEIRA, José Serafim de.op.cit., p.26).
– “…E o que ela tem que precisa guardar? Boas obras: fazer missão e evangelismo enquanto a porta está aberta; guardar a Palavra de Deus; não negar o nome do Senhor; gozar do amor de Deus; manter-se perseverante na fidelidade…” (SILVA, Osmar José da.op.cit., p.51).
– A perseverança, a fidelidade, a confiança em Deus, o amor a Deus e ao próximo, a santidade que, inclusive, leva à oposição da “sinagoga de Satanás”, precisam ser preservados pela igreja de Filadélfia, para que ninguém tome a sua vitória, representada pela coroa mencionada. Aqui, como em Esmirna, o Senhor volta a falar em coroa, pois só os crentes fiéis e perseverantes desfrutarão desta vitória. Temos acesso ao tesouro celestial, como já vimos, e todo tesouro que é encontrado, deve ser guardado, para que não venhamos a perdê-lo (Mt.13:44).
– Somente podemos guardar o que recebemos de Deus se a este tesouro demos o devido valor. Quando passamos a dar prioridade para outras coisas que não as bênçãos recebidas da parte de Deus, tornamo-nos descuidados e, desta maneira, o ladrão facilmente poderá nos tomar aquilo que recebemos e, não tendo mais este tesouro, certamente não desfrutaremos da vitória final.
– Temos sido cuidadosos com a nossa vida espiritual? Temos guardado com cautela e dedicação aquilo que recebemos da parte do Senhor? Ou já temos perdido aquilo que o Senhor um dia nos deu, como a salvação, o batismo com o Espírito Santo ou os dons espirituais? Se não vigiarmos, se não guardarmos o que Deus nos deu por Sua graça, não venceremos o mundo, mas, sim, seremos vencidos por Ele. Que repitamos, porém, as palavras do poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão: “Glória a Deus, pois vencerei; glória a Deus, pois vencerei; triunfante sigo, levando a cruz. Glória a Deus, pois vencerei; glória a Deus, pois vencerei, em nome de Jesus”(estrofe do hino 298 da Harpa Cristã).
– E, como fez em todas as cartas que mandou João escrever, o Senhor Jesus também dá promessas aos vencedores. Nesta carta à igreja de Filadélfia: “A quem vencer, Eu o farei coluna no templo do Meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do Meu Deus, e também o Meu novo nome” (Ap.3:12).
– A primeira promessa desta seção dos vencedores (pois já vimos que o Senhor fez outras promessas nas seções anteriores da carta) é o de “fazer coluna no templo do Meu Deus”.“…A Igreja do Senhor, já na presente era, é a ‘coluna e firmeza da verdade’ (cf. I Tm.3:15b) e o que ela representa na atualidade será, sem dúvida alguma, na eternidade.(…). As colunas são usadas como emblemas de força e durabilidade(…). Quando uma cidade sofre terremoto e cai, geralmente ficam em pé colunas de edifícios, porque a técnica de construção e alicerces dessas colunas são reforçados. Filadélfia constatara isso várias vezes após terremotos sofridos [Filadélfia sofreu um terremoto tão grande no ano 17 que o imperador Tibério a isentou de pagamento de tributos, tamanha a devastação, observação nossa]. Daí a figura de expressão aqui usada. Em realidade, significa que os crentes de Filadélfia (e a Igreja Universal) haveriam de estar sempre na presença de Deus, pois Deus mesmo é o Templo da Jerusalém Celeste (cf. Ap.21:22).…” (SILVA, Severino Pedro da.op.cit., p.58).
– Apesar do transtorno de fundamentos que nos cercam, na atualidade, que nos faz ver, dentro de nossa pequena força, nossa impotência para impedir o curso de estabelecimento de um anticristianismo globalizante em todo o mundo (Sl.11:3), não podemos deixar de resistir nem tampouco de preservar os princípios e valores advindos das Escrituras Sagradas. Se tudo parece ruir, se a civilização cristã parece estar sendo derribada, não desanimemos nem desfaleçamos, mas saibamos que seremos “coluna no templo do Deus de Cristo Jesus”, que faremos parte de uma nova civilização, onde o amor imperará para sempre e eternamente. Aleluia!
OBS: “…A minha esperança, enquanto Cristão do Direito, é que a sociedade brasileira, historicamente fundada nos valores da fé judaico-cristã, possa reagir a tudo isso enquanto há tempo para tanto. Seja como for — e aqui falo como homem do Direito — nas mãos do Senhor se encontra o destino da humanidade e do nosso país, de tal modo que, ainda que haja perseguição aos cristãos, o nosso futuro já foi traçado e selado na morte e ressurreição de Jesus Cristo, nosso Salvador e Senhor. Assim, não há o que temer, mas, sim, contra o que lutar.…” (SANTANA, Uziel.Um Cristão do Direito num País torto, p.26).
– A segunda promessa desta seção dos vencedores é “escrever o nome do Meu Deus”. “…Isto acontecerá para nos dar o direito de ser pronunciado ao mesmo tempo ‘nosso Pai e nosso Deus’, pois nunca, jamais, durante Sua missão terrena, Jesus o fez. Jesus é o Filho de Deus por natureza, nós o somos por adoção (cf. Jo.1:12; Gl.4:5-7). Eis a razão da distinção feita por Jesus em Jo.20:17: ‘Meu Pai e vosso Pai; Meu Deus e vosso Deus’…( SILVA, Severino Pedro da.op.cit., p.58). Com a glorificação, chegaremos  varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13), o que nos permitirá estar a um nível acima dos anjos, ainda que abaixo de Deus. Que maravilha, nós, míseros pecadores, chegarmos a tal estado espiritual. Aleluia!
– A terceira promessa desta seção dos vencedores é a de “escrever o nome da cidade do Meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do Meu Deus”. Aqui, o Senhor Jesus confirma que, aos vencedores, será dado que se tornem “concidadãos dos santos e da família de Deus” (Ef.2:19), que cumpram o seu desejo de pertencer à pátria celestial (Hb.11:14-16), de realizar a esperança de morar na cidade que está nos céus (Fp.3:20). Jesus diz à igreja de Filadélfia de que a levará para as moradas celestiais, onde lhe foi preparar lugar (Jo.14:2,3). Estamos à busca deste lar celestial? Ou temos nos iludido com os vãos terrestres esplendores? Despertemos enquanto é tempo, amados irmãos!
– A quarta promessa desta seção dos vencedores é a de “escrever também o Meu novo nome”. A igreja de Filadélfia já desfrutava de uma íntima comunhão com o Senhor Jesus, a ponto de perseverar na fidelidade, na santidade e na evangelização, a ponto de o Senhor Jesus a considerar irrepreensível. Entretanto, esta comunhão não é para comparar com a que se aguardava para aquela igreja. Glorificada, a igreja de Filadélfia teria uma nova dimensão de relacionamento com o Senhor, a ponto de ser escrita nela “o novo nome de Jesus”, um nome que até hoje não nos foi revelado, mas que o será naquele dia. Trata-se, mui provavelmente, do nome mencionado em Ap.19:12, que ninguém sabe a não ser o próprio Jesus. A nossa comunhão com o Senhor na eternidade é algo que não tem como ser descrito, é algo que jamais subiu ao coração do homem, mas que está preparado a todos que amam a Cristo, como era o caso da igreja de Filadélfia (I Co.2:9). Vale a pena servirmos a Jesus, queridos!
– O Senhor Jesus finaliza esta carta com a expressão que estende todas as promessas feitas a Filadélfia a todos os crentes de todas as épocas e lugares: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap.3:13). Temos nos preparado para receber estas promessas? Temos guardado a Palavra do Senhor e não negado o Seu nome nos dias tão difíceis por que passamos?
– Que Deus nos faça repetir, em nossas vidas, a conduta do pastor e da igreja de Filadélfia, a fim de que também desfrutemos destas maravilhosas promessas, pois, sem dúvida alguma, a igreja de Filadélfia representa a igreja que será arrebatada por Cristo. O tempo está muito próximo e devemos, o quanto antes, nos moldar a este padrão irrepreensível de amor completo ao Senhor e ao próximo. Temos feito isto?
 COLABORAÇÃO PARA O PORTAL ESCOLA DOMINICAL – EV. CARAMURU AFONSO FRANCISCO

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