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Lição 8: O legado de Elias

Elias foi instado por Deus a providenciar a continuidade de seu ministério após a sua saída deste mundo.

INTRODUÇÃO  

– Na sequência de estudos sobre os ministérios de Elias e de Eliseu, veremos o trabalho do profeta Elias para a continuidade do ministério após a sua partida.

– Todo servo de Deus deve se preocupar na continuidade da obra do Senhor após a sua partida desta Terra.

I  –  ELIAS  FOI  CONSCIENTIZADO  POR  DEUS  A  RESPEITO  DA  CONTINUIDADE  DA  OBRA  DO SENHOR 

– Na sequência do estudo dos ministérios dos profetas Elias e Eliseu, estudaremos hoje o “legado de Elias”, ou seja, o trabalho que Elias fez para que a obra do Senhor tivesse sua continuidade após a sua partida deste mundo.  Como  afirma  o  Dicionário  Houaiss  da  Língua  Portuguesa,  “legado”  é  “o  que  é  transmitido  às gerações que se seguem”. Elias foi conscientizado pelo Senhor de que sua obra de manter a identidade de Israel como povo de Deus não se esgotaria com ele, mas deveria ter continuidade.

– Ao longo do trimestre, temos visto que o profeta Elias era extremamente zeloso com a Palavra de Deus, que se angustiou a tal ponto com a apostasia generalizada vivida por seu povo que pediu ao Senhor que se permitisse não chovesse, tendo sido atendido pelo Senhor (Tg.5:17).

– Este zelo fez com que o profeta, depois de devidamente experimentado pelo Senhor, voltasse a se apresentar ao rei Acabe e fizesse o desafio com os profetas de Baal e de Asera, de tal maneira que Deus atendeu à sua oração e fez com que fogo do céu descesse a fim de demonstrar a Israel que só Ele era o Senhor.

– Ainda neste zelo, o profeta, então, saindo da direção de Deus, correu até Jizreel, esperando o destronar de Jezabel e, decepcionado, caiu em depressão, tendo, porém, o Senhor o levantado, como tivemos ocasião de estudar na lição 5.

–  No  monte  Horebe,  “o  monte  de  Deus”  (Ex.3:1),  local  onde  Deus  Se  manifestara  a  Moisés  para  iniciar  a libertação do povo (Ex.3) e, também, o local onde o povo firmou com Deus o compromisso de servi-l’O e de ser Seu reino sacerdotal e povo santo (Ex.19,20), Elias aprendeu a importante lição de vencer o seu “eu” e de entender que a obra de Deus não se faz solitariamente, como ele tinha achado até então.

–  Conforme  já  vimos  na  lição  5,  o  profeta  estava  equivocado  ao  achar  que  somente  ele  servia  ao  Senhor naquele tempo. Esquecera-se de que Obadias, o mordomo do rei Acabe (e ele próprio um servo do Senhor – I Rs.18:3),  noticiara  a  existência  de  pelo  menos  cem  profetas  do  Senhor  que  haviam  escapado  das  mãos  de Jezabel  (I  Rs.18:13),  a  indicar,  portanto,  que  não  estava  sozinho,  como  entendia  e,  por  duas  vezes,  assim declarou a Deus (I Rs.19:10,14).

– Elias tinha de ter aquela experiência da decepção com a expectativa frustrada do destronar de Jezabel para que  aprendesse  algumas  lições  importantíssimas  da  parte  do  Senhor,  absolutamente  necessárias  para  quem tinha alcançado a estatura espiritual que o profeta alcançara com as experiências tidas durante o longo período da seca.

– A primeira lição que Elias tinha de aprender é a de que Deus efetua a Sua obra segundo os Seus desígnios e não segundo o pensamento do homem, ainda que seja o homem escolhido por Deus para ser o protagonista na Sua obra.

– Elias havia pedido  a Deus que não  chovesse para que o povo de  Israel  reconhecesse que só o Senhor era Deus e não, Baal. O Senhor consentiu com aquele pedido e houve a longa seca sobre a Terra. Todavia, o fato de Deus ter consentido com o pedido do profeta não significava que deveria fazer as coisas como o profeta imaginava.

–  Eis  um  grande  erro  que,  até  hoje,  os  servos  do  Senhor  cometem,  qual  seja,  o  de  acharem  que  Deus  está submetido  a  nossa  lógica,  ao  nosso  modo  de  pensar  e  de  agir.  Ainda  que  Deus  consinta  com  aquilo  que pedimos ou pensamos, jamais achemos que  conseguimos reduzir Deus a  nossos parâmetros, ilusão que tem sido intensificada no meio do povo de Deus em virtude dos falsos conceitos da teologia da confissão positiva.

– Deus é o Senhor, nós, os seus servos; Deus manda e determina, nós confiamos e obedecemos. A longa seca não serviu apenas para que Israel se desse conta de que só o Senhor era Deus, mas também serviu para que o profeta experimentasse a soberania divina, vivesse integralmente na dependência do Senhor.

– Depois do fim da longa seca e da vinda da chuva, Elias achava, dentro de seu conceito, que o culto a Baal seria  totalmente  exterminado,  mas  o  Senhor,  que  conhecia  bem  os  corações,  algo  que  o  profeta  não  tinha condições de conhecer (I Sm.16:7), sabia muito bem que só o sinal do fogo do céu bem como a vinda da chuva eram insuficientes para a promoção da restauração espiritual de Israel.

– Por isso mesmo, quando verificou que tudo o que ocorrera não abalara o poder de Jezabel, Elias viu a sua impotência, compreendeu que o que pensara não era o correto e, em vez de correr aos pés do Senhor, para pedir-Lhe orientação, entendeu que havia fracassado e pediu a morte, entendendo estar findo o seu ministério.

– No entanto, o Senhor queria mostrar a Elias que não era ele quem dizia como deveria ser feita a restauração espiritual  de  Israel,  nem  tampouco  quem  determinava  como  devia  ser  seu  ministério,  mas,  sim, o  Senhor  é quem dita as ordens e regras, devendo nós apenas nos submetermos à Sua vontade.

–  Elias  foi  levado  a  Horebe  para  bem  compreender  que  Deus  está  acima  de  nossos  conceitos  e  de  nossos pensamentos. Ao chegar ao monte de Deus, Elias pôde, primeiramente, compreender que Deus não está onde aparentemente entendemos que Ele esteja, como no vento, no terremoto ou no fogo, mas, sim, em condições inimagináveis para nós, como na voz mansa e delicada que se lhe apareceu.

– A segunda lição que Elias aprende com Deus no monte Horebe é a de que o ministério do homem de Deus é determinado pelo Senhor. O mesmo Deus que chama o homem é o que põe fim ao serviço do homem para Ele. O mesmo Deus que admite é o que demite.

– Elias pôs-se  à disposição do Senhor para ser o protagonista da obra da restauração  espiritual do povo, ao pedir, em oração, que não chovesse sobre a Terra. Isto nos mostra que não é errado nos pormos à disposição do Senhor, tanto que o apóstolo Paulo diz que quem deseja o episcopado, excelente obra deseja (I Tm.3:1).

–  No  entanto,  pôr-se  à  disposição  do  Senhor  não  significa  impor-se  ao  Senhor,  mas,  sim,  reconhecer  a soberania  divina,  reconhecer  que  Deus  chama  quem  quer  e  que,  em  sendo  chamados  pelo  Senhor,  também somente serem dispensados do encargo quando Ele assim o desejar.

–  Se  Elias  poderia  se  pôr  à  disposição  do  Senhor,  uma  vez  chamado  por  Deus  e  mandado  a  Acabe  para profetizar a respeito da seca, não poderia entender que poderia dar fim ao seu ministério. Ao pedir a morte, “por não ser melhor do que seus pais” ( I Rs.19:4), Elias foi além do que podia, pois somente Deus poderia dizer a ele quando seu ministério estaria terminado.

– Muitos estão a agir da mesma maneira insensata que Elias em nossos dias. Põem-se à disposição do Senhor, mas, quando não são chamados, tratam de se arrogarem posições no ministério que nunca lhe foram dadas por Deus. Lamentavelmente, existem também aqueles integrantes do ministério que, de forma totalmente atrevida, consagram  tais  pessoas  não  chamadas  pelo  Senhor,  apenas  em  razão  de  interesses  políticos,  pessoais, econômico-financeiros e até administrativos.

– Há, também, aqueles que, tendo sido chamados, entendem que são eles quem determinam o momento que devem  terminar  o  seu  ministério.  Como  Elias,  diante  de  uma  decepção,  de  um  dissabor,  tudo  abandonam, como se o ministério para o que foram chamados dependesse de sua vontade e não da vontade d’Aquele que os chamou. Outros, quando o Senhor indica que tem terminado o seu tempo, insistem em se manter na posição em que se encontram, passando a agir sem a presença e contra a vontade de Deus.

–  No  monte  de  Deus,  o  profeta  entende  esta  dura  realidade.  Enquanto  pedia  a  morte  por  achar  que  havia fracassado na sua tarefa de restabelecimento espiritual do povo de Israel, o Senhor lhe diz que ainda deveria prosseguir em sua jornada, pois Hazael deveria ser ungido rei da Síria; Jeú, filho de Ninsi, deveria ser ungido rei  sobre  Israel  e  Eliseu,  filho  de  Safate  de  Abel-Meolá  deveria  ser  ungido  profeta  em  seu  lugar  (I Rs.19:15,16).

–  Deus  ainda  informa  ao  profeta  que  os  inimigos  do  Senhor  seriam  exterminados  totalmente  por  estes  três ungidos, ou seja, o Senhor deixa bem claro a Elias que o trabalho para a completa destruição do culto a Baal não estava a cargo dele, Elias, mas o Senhor já estava providenciando que outros completassem aquela obra. Em outras palavras: Deus havia chamado Elias para dar início à restauração espiritual, mas não dependia dele para que tal restauração se fizesse.

– A terceira lição que Elias aprendeu com Deus é a de que a obra de Deus é uma obra que deve ser feita coletivamente. Elias achava que, sozinho, poderia dar cabo da restauração espiritual de Israel, mas Deus não trabalha na solidão, pois “não é bom que o homem esteja só” (Gn.2:18). Deus sempre trabalha com um povo, com um conjunto de homens.

– Por isso, ao contrário do que pensava o profeta, Deus ainda possuía sete mil servos fiéis, que não haviam dobrado seus joelhos a Baal nem o haviam beijado, ou seja, pessoas que não adoravam a Baal e se mantinham fiéis ao Senhor (I Rs.19:18).

–  Deus  sempre  tem  um  remanescente  fiel  no  meio  do  Seu  povo.  Remanescente  que  é  minoritário,  mas  que existe  e  que  mantém  a  obra  de  Deus.  Não  nos  iludamos,  achando  que  estamos  sós,  como  quer  fazer  crer  o inimigo de nossas almas, mas saibamos que Deus cuida dos Seus e que estes, estando com Deus, são maioria (I Jo.4:4).

– A quarta lição que Elias aprendeu com Deus é de que a obra de Deus, o nosso serviço a Deus é maior do que as nossas pessoas, do que nós mesmos. Elias achava que, não tendo Jezabel sido destronada em função de  tão  só  estar  presente  na  porta  de  Jizreel,  havia  fracassado,  nada  mais  poderia  fazer  pela  restauração espiritual de Israel.

– No entanto, o Senhor quis mostrar a Elias que o seu ministério e a própria obra de restauração espiritual eram maiores do que a pessoa do profeta. Tanto assim é que Deus queria que Elias prosseguisse em seu ministério, pois era no seu serviço que estava o desígnio divino para a erradicação do culto a Baal.

– Tanto é assim, amados, que, quando vemos a história sagrada, percebemos que das três unções mencionadas pelo Senhor a Elias, Elias tão somente participou pessoalmente da unção de Eliseu (I Rs.19:19), sendo que Jeú foi ungido por um filho do profeta mandado por Eliseu (I Rs.9:1-10) e Hazael, pelo próprio profeta Eliseu (II Rs.7:8-13).

– Alguns procuram ver nesta circunstância uma “contradição bíblica”, mas, na verdade, o que se tem aqui não é  contradição  alguma.  As  três  unções  não  foram  feitas  pessoalmente  por  Elias,  mas  foram  resultado  da continuidade do seu ministério, ou seja, o Senhor mostrou a Elias que o seu serviço de erradicação do culto a Baal  teria  prosseguimento,  não  se  findaria  com  ele.  Assim,  quando  Elias  ungiu  a  Eliseu,  este  prosseguiu  o trabalho do homem de Deus, a ponto de ter ungido Hazael e de um dos filhos dos profetas, já discípulo de Eliseu, ter ungido a Jeú.

–  É  o  que  ocorre  em  nossos  dias.  A  Igreja,  que  é  o  corpo  de  Cristo,  está  a  prosseguir  com  o  ministério  de Nosso  Senhor  e  Salvador  Jesus  Cristo.  Jesus  deu  início  ao  trabalho  e  a  Igreja  tão  somente  prossegue  este serviço do Salvador, sendo, aliás, este um dos motivos pelos quais o Senhor disse que faríamos obras maiores que as que Ele fez (Jo.14:12). Não é que sejamos maiores do que o Senhor, mas o fato é que a Igreja prossegue o que foi iniciado por Cristo e, em sendo obras de Cristo, elas, podem, sim, ser maiores do que as inicialmente feitas pelo Senhor Jesus, já que partem da mesma fonte infinita.

–  Elias  aprendeu  estas  quatro  lições  e,  sem  se  preocupar  com  a  manutenção  de  Jezabel  no  trono  e  com  o fracasso do plano que havia imaginado em sua mente, partiu para Abel-Meolá, onde achou a Eliseu, filho de Safate,  demonstrando,  assim,  que  reconhecia  a  soberania  divina  e  que  estava  disposto  a  prosseguir  o  seu ministério, de modo coletivo e com a convicção de que não era a ele que incumbia erradicar o culto a Baal de Israel.

 II – A CHAMADA DE ELISEU

–  Elias  partiu  de  Horebe  diretamente  com  destino  a  Abel-Meolá,  aldeia  próxima  do  rio  Jordão,  onde  o Senhor dizia que vivia Eliseu, filho de Safate, que seria o sucessor do profeta. Não pensou duas vezes, não instou  com  o  Senhor  a  respeito  da  continuidade  do  seu  ministério.  Tão  somente  obedeceu  e,  diante  da circunstância de que o Senhor lhe dissera que Eliseu seria profeta em seu lugar, foi direto para Abel-Meolá separar o seu sucessor.

– Que bom seria que os homens de Deus de nossos dias, cientes de que seus ministérios são maiores do que suas pessoas, não negligenciassem o aspecto da sua sucessão, da necessidade de irem ao encontro daquele que lhe sucederá e que deve ser indicado pelo Senhor e não por laços de sangue, parentesco ou quaisquer outras afinidades.

–  Elias  entendia  que  não  poderia  haver  a  unção  de  novos  reis  enquanto  não  se  resolvesse  o  problema decorrente  da  função  profética.  Acima  dos  futuros  governos  que  se  estabeleceriam,  era  preciso  de  que houvesse  um  novo  homem  de  Deus.  A  obra  de  Deus  tinha  prioridade  e  dela  decorreria  a  transformação  do país. Por isso, não foi atrás de Jeú nem de Hazael, mas, sim, de Eliseu.

– Temos tido esta mesma perspectiva do profeta? Será que temos consciência de que mudanças sócio-político-econômicas  em  nossa  nação  dependem,  em  primeiro  lugar,  de  bem  cuidarmos  da  continuidade  da  obra  do Senhor? Será que temos conhecimento de que um bom testemunho nosso diante de Deus e dos homens é o primeiro passo para que haja uma transformação operada pelo Evangelho em nosso querido Brasil?

–  Muitos,  infelizmente,  estão  correndo  atrás  de  governantes,  de  nomes  expressivos  da  sociedade,  buscando, com  isso,  levar  o  Evangelho  à  sociedade,  como  se  pudessem,  através  destes  veículos,  cumprir  a  contento  a missão que lhes foi confiada por Cristo. É preciso, por primeiro, fazer com que a obra do Senhor esteja sendo realizada a contento, é preciso buscarmos a presença de Deus para que, aí, então, tenhamos condições de, com nosso testemunho eficaz, levarmos as camadas da sociedade ao conhecimento de Jesus.

– Ao encontrar Eliseu, o profeta viu que ele estava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, e ele próprio estava com a duodécima. Elias viu, de pronto, uma qualidade que é indispensável para quem é chamado por Deus: Eliseu era um homem trabalhador.

– Observemos que, em todas as páginas do livro sagrado, não há uma única oportunidade em que o Senhor chama alguém que estivesse desocupado, sem ter o que fazer. O trabalho é um fator que nos faz semelhantes ao Criador, pois o Senhor exsurge na revelação divina trabalhando na criação dos céus e da Terra (Gn.1:1). Assim, se não somos capazes de, pelo trabalho, nos fazermos semelhantes ao Senhor, como é que poderíamos servi-l’O?

– Eliseu, apesar de pertencer a uma classe social superior (pois o fato de ter doze juntas de bois mostra que seu pai era um grande proprietário da região), não apenas dirigia os empregados e servos de seu pai, mas também trabalhava com eles, tanto que estava com uma das juntas de bois. Era um trabalhador, primeiro requisito para ser chamado por Deus.

–  O  profeta  Elias,  então,  lançou  a  sua  capa  sobre  Eliseu  (II  Rs.19:19  “in  fine”).  Este  gesto  tinha  um significado claro: Elias o estava chamando para que o seguisse, para que fosse profeta em seu lugar.

– Eliseu não titubeou. Entendeu a mensagem dada por Elias, a demonstrar, portanto, que, naquele instante, o Espírito Santo também se apossava de Eliseu. Não houve troca de palavras, não houve qualquer cerimonial solene,  mas  o  importante  existia:  Eliseu  sabia  que  havia  sido  chamado  por  Deus  e  correspondia  àquele chamado.

–  O  texto  bíblico  diz  que,  assim  que  Elias  lançou  sua  capa  sobre  o  jovem  Eliseu,  este  deixou  os  bois  e, correndo  em  direção  ao  profeta,  apenas  lhe  pediu  que  beijasse  seu  pai  e  sua  mãe  e  então  o  seguiria  (II Rs.19:20).

– Quando se atende ao chamado de Deus, deixa-se tudo quanto pode significar obstáculo para que se faça a vontade do Senhor. Eliseu entendeu que havia sido chamado pelo Senhor e que, como profeta, teria de deixar tudo para seguir a Elias. Não poderia dividir a sua vida entre sua atividade profissional como proprietário rural e a sua vida de profeta.

– Devemos ter esta compreensão que, infelizmente, não tem sido seguida por muitos que cristãos se dizem ser nos dias hodiernos. A situação econômico-financeira difícil que vivemos em nossos dias faz com que muitos que são chamados por Deus não deixem “os seus bois”, mantenham uma vida dividida entre a obra do Senhor e a sua vida anterior à chamada.

–  O  Senhor  exige  dedicação  integral  daqueles  que  chama  para  um  serviço  integral.  Assim  como,  em certas  áreas  do  serviço  público,  há  a  exigência  da  “dedicação  integral”  para  que  se  desempenhem  certas funções, também, na obra do Senhor, certas pessoas precisam deixar tudo o que tenham, tudo o que sejam para servir a Deus.

– Não são todos os que estão na obra de Deus que têm tal “dedicação integral”, assim como não são todos os servidores públicos que estão submetidos a tal regime, mas não podem aqueles que são chamados com este requisito  quererem  dedicar-se  apenas  parcialmente.  Eliseu  tinha  consciência  de  que  seu  chamado  exigia dedicação integral e, por isso, assim que se lhe foi lançada a capa, deixou os bois.

– De igual modo, os apóstolos pescadores, assim que chamados pelo Senhor, deixaram as redes, os barcos e os peixes para seguirem o Mestre (Mt.4:20) ou Mateus, deixando a alfândega, também seguiu a Cristo (Mt.9:9). Qual tem sido a nossa atitude, amados irmãos?

– Eliseu, porém, embora tenha deixado os bois, pediu a Elias que, antes de partir, pudesse ir beijar seu pai e sua  mãe.  Nesta  atitude,  o  profeta  Elias  pôde  ver  que  Eliseu  tinha  outra virtude:  era  obediente  e  honrava  os pais. Par ser um bom discípulo, é preciso que se tenha sido um bom filho, pois o primeiro discipulado que temos é em nossa família.

–  Eliseu  seria  um  excelente  aprendiz,  porque  era  um  bom  filho.  Em  seu  gesto  de  honrar  pai  e  mãe, mostrava que era um cumpridor dos mandamentos do Senhor e que, portanto, por ser um bom servo de Deus, poderia ser um bom profeta.

– Deus o havia chamado porque Eliseu reunia características que o credenciavam a ser o sucessor de Elias. A separação dele para o ministério era resultado de uma vida de comunhão com Deus. A unção que receberia de profeta era consequência de uma vida de obediência à Palavra de Deus. Não podemos inverter a ordem das coisas.  Há  muitos,  entretanto,  que,  primeiramente  são  “separados”,  para,  então,  depois,  buscarem  a conversão…

–  Elias  bem  compreendeu  o  pedido  de  Eliseu.  Viu  nesta  circunstância  uma  virtude  do  seu  sucessor,  uma comprovação de que  Deus havia escolhido bem, por isso não impediu que Eliseu fosse se despedir de seus pais, enfim, “arrumar a casa” para ir para a obra.

–  Esta  mesma  compreensão  devem  ter  os  ministros  de  Deus  em  nossos dias  quando,  dirigidos  pelo  Senhor, chamarem para o ministério pessoas que estejam envolvidas com certas circunstâncias que os impedem de um desvencilhamento  imediato.  Se  há  disposição  de  atender  ao  chamado  divino,  não  impeçamos  as  pessoas  de bem saírem da vida secular em que estão, tudo bem fazendo para que seu bom testemunho não seja maculado.

– Eliseu não só se despediu de seus pais, mas também tomou uma decisão radical: matou a junta de bois com que estava a trabalhar, destruiu os aparelhos com que trabalhava e, então, convidou todos para que comessem da carne do boi, que cozeu. Fez um “churrasco de despedida”, mostrando a todos os seus que estava abandonando  de  vez  aquela  vida  de  proprietário  rural  e  que,  a  partir  de  então,  viveria  exclusivamente  para Deus.

–  O  gesto  de  Eliseu  mostra-nos  que,  quando  chamados  para  uma  “dedicação  integral”  ao  Senhor, devemos ser radicais: devemos abandonar a vida anterior e, de forma cabal, impedir que qualquer fator possa nos induzir a voltar atrás. Devemos vigiar e fazer como Eliseu: destruir completamente tudo aquilo que pode nos tentar a retroceder em nossa decisão de atender ao chamado do Senhor. Temos feito isto?

– Lembremo-nos de Pedro. Ele deixou as redes e seguiu a Jesus, mas não destruiu o barco e, num momento de fraqueza,  não  resistiu  à  tentação  e  tudo  deixou  para  voltar  a  pescar,  sendo  seguido  por  alguns  discípulos (Jo.21:2,3).  Não  tivesse  o  Senhor  compaixão  dele,  poderia  ter  ali  perdido  o  seu  ministério  e,  quiçá,  a  sua salvação. Tomemos, pois, muito cuidado, amados irmãos!

– Depois do “churrasco de despedida”, Eliseu partiu e seguiu a Elias, iniciando uma nova vida, uma vida de aprendizado para suceder o grande profeta.

III – O DISCIPULADO DE ELISEU

– Eliseu não iniciou como “sucessor de Elias”. É bem provável que o profeta lhe tenha dito, desde o limiar de sua trajetória conjunta, de que ele fora escolhido por Deus para sucedê-lo. Entretanto, Eliseu sabia que não poderia começar como “sucessor do profeta”, mas, sim, que deveria começar como um simples “moço do profeta”, como um mero “filho do profeta”.

– O fato de sermos chamados por Deus para uma determinada tarefa não nos autoriza a querer já desempenhar tal tarefa de pronto. Nosso Deus é um Deus de ordem e, por isso, não “queima etapas”. Muito pelo contrário, são aos que são chamados a estar no topo que Deus faz questão de exigir que superem uma a uma as etapas necessárias para que exerçam a função a contento no momento apropriado e certo.

– Moisés quis “queimar etapas” e, quando já era notável na corte de Faraó, tendo, de algum modo, noção de que  o  Senhor  o  usaria  para  a  libertação  de  Israel,  quis,  com  sua  posição,  livrar  o  povo.  O  resultado  foi frustrante:  Moisés  perdeu  a  posição  e  teve  de  fugir  do  Egito  para  não  ser  morto.  Somente  quarenta  anos depois, quando aprendeu a ser pastor das ovelhas de seu sogro no deserto, é que Moisés seria chamado por Deus para efetuar a obra da libertação.

– Depois desta partida de Eliseu juntamente com Elias de Abel-Meolá, não se menciona mais o nome de Eliseu a não ser no momento em que a Bíblia passa a narrar a trasladação de Elias. Não sabemos quanto tempo durou este discipulado de Eliseu por Elias, mas, certamente, foram anos, já que houve a guerra entre Acabe e Bene-Hadade, rei da Síria, depois mais três anos de paz entre Israel e Síria (I Rs.22:1), tendo havido a guerra em que Acabe morreu e, depois, mais dois anos de reinado de Acazias (I Rs.22:52).

– O fato de Eliseu não ser mencionado mostra-nos, com absoluta  clareza, que foi um tempo em  que Eliseu nada fez senão seguir a Elias, aprender com este grande homem de Deus, que também passou a se dedicar com prioridade à preparação do seu sucessor.

– Após a escolha de Eliseu, o próprio profeta Elias foi “poupado” por Deus no dia-a-dia do reino de Israel. Quando da guerra entre Acabe e Bene-Hadade, rei da Síria, o Senhor usou outro profeta para dar mensagem ao rei de Israel (I Rs.20:13,22,28). Ao final da terra, foi usado um dos filhos dos profetas para levar mensagem a Acabe (I Rs.20:41,42).

– Elias somente foi chamado por Deus em dois episódios, a saber: no caso da vinha de Nabote e no episódio da doença de Acazias (veja apêndice nº 1 deste trimestre no Portal Escola Dominical). Em ambos os casos, tais chamados eram mais uma “satisfação” divina ao profeta, para que soubesse tanto o destino de Jezabel quanto a circunstância de que o Senhor continuava a tratar com a casa de Acabe, cujo extermínio já estava profetizado pelo próprio Elias.

–  Verdade  é  que,  também,  recebeu  uma  mensagem  a  respeito  do  rei  de  Judá,  Jeorão,  filho  de  Josafá  (II Cr.21:12-15), que foi reduzida a escrito e guardada até o tempo oportuno, quando foi enviada ao rei. Mas o fato de Deus ter mandado Elias reduzi-la a escrito e só no tempo oportuno ser enviada a Judá, o que se deu após  a  trasladação  de  Elias,  é  mais  uma  demonstração  de  que  o  Senhor  não  queria  que  Elias  ocupasse  seu tempo a não ser com a preparação de Eliseu e dos filhos dos profetas.

– Enquanto Elias ensinava Eliseu, Deus realizava a Sua obra através de outros profetas, como a indicar para o profeta Elias de que não só não era ele o único profeta remanescente, como que, também, a partir do trabalho que Elias já havia efetuado, outros profetas publicamente já estavam sendo usados pelo Senhor. O trabalho de Elias, portanto, não tinha sido em vão.

– Notamos, pois, que, desde que Eliseu foi chamado, o Senhor deu a Elias tempo para que se dedicasse à preparação  do  seu  sucessor,  como  também  às  escolas  dos  profetas,  visto  que,  como  nos  mostra  o  texto bíblico  da  trasladação,  Elias,  a  partir  de  então,  estava  envolvido  no  cuidado  dos  filhos  dos  profetas, entendendo que a obra de Deus deveria prosseguir além de sua pessoa, além de sua geração.

– Este comportamento divino é algo que devemos imitar. Não damos ao discipulado, à formação e preparação dos servos do Senhor o devido e necessário cuidado. Elias passou a se dedicar à formação e preparação não só de Eliseu mas de outros “filhos dos profetas”, pois entendeu que a obra de Deus não está jungida a nossas pessoas mas deve prosseguir ao longo das gerações.

–  É  com  tristeza  que  vemos,  em  nossos  dias,  que  as  gerações  que  estão  chegando  ao  governo  de  nossa denominação não estão tão bem preparadas para tal encargo como esteve a geração que hoje já está a passar, comprometendo  o  futuro  das  Assembleias  de  Deus.  As  gerações  mais  jovens,  então,  estão  resvalando  à ignorância  bíblica,  a  um  profundo  desconhecimento  da  Palavra  de  Deus.  É  urgente  que  se  mude  tal circunstância, senão teremos uma “geração perdida” que, a exemplo do que ocorreu em Israel após a morte da geração da conquista, podem comprometer a salvação e própria identidade do povo do Senhor (Jz.2:10-12).  Ajamos enquanto é tempo!

– A primeira nota que temos a respeito do discipulado de Eliseu por Elias é de que Eliseu, a partir de sua saída de Abel-Meolá, jamais deixou Elias. Era seu companheiro inseparável. Tanto assim é que, em II Rs.2, vemos que Elias foi a diversos lugares, mas Eliseu sempre o acompanhou, tendo sido necessário que um carro de fogo vindo do céu os separasse (II Rs.2:11).

–  Discípulo  e  mestre  devem  ser  companheiros,  não  podem  viver  separadamente,  devem  compartilhar experiências,  perguntas,  dúvidas.  Assim  o  Senhor  Jesus  agiu  com  Seus  discípulos,  assim  devemos  fazer.  A interatividade entre discípulo e mestre, que é uma das características marcantes da Escola Bíblica Dominical, é indispensável para que haja aprendizado e transmissão do conhecimento de Deus de uma geração para outra.

– Não há possibilidade de “ensino à distância” no discipulado, na transmissão do conhecimento divino para a próxima geração. É preciso convivência, aplicação prática de tudo quanto se ensina teoricamente. Temos feito isto com nossos filhos na fé? Temos feito isto com os jovens obreiros?

–  A  segunda  nota  que  temos  a  respeito  do  discipulado  de  Eliseu  por  Elias  é  a  de  que  tal  tarefa  deve  ser dirigida pelo Espírito Santo. Não é o mestre humano que tem a última palavra, mas, sim, o Senhor. Elias, em Gilgal,  mandou  que  Eliseu  ficasse  ali,  pois  o  Senhor  o  mandara  para  Betel.  Porém,  Eliseu  disse  que  não deixaria Elias de modo algum. Por que Eliseu desobedecia a esta ordem de Elias? Não era ele obediente? Sim, Eliseu era obediente, mas importa mais obedecer a Deus do que aos homens (At.5:29) e se o Senhor o havia escolhido para suceder a Elias, não poderia deixá-lo em momento algum, ainda que Elias assim o dissesse. É por isso, aliás, que o Senhor Jesus disse ser Ele o único e verdadeiro Mestre (Mt.23:8).

–  O  Espírito  Santo  é  quem  deve  nos  ensinar  todas  as  coisas  (Jo.14:26),  de  sorte  que,  no  discipulado,  tanto mestre quanto discípulo devem compreender que são irmãos, que estão ali para fazer uma tarefa determinada por Deus e que por Ele deve ser guiada e dirigida. Temos feito isto?

– A terceira nota que temos a respeito do discipulado de Eliseu por Elias é que Eliseu sempre esteve pronto a servir ao profeta nas mínimas coisas. Em II Rs.3:11, ficamos a saber que Eliseu era conhecido como aquele que “deitava as águas sobre as mãos de Elias”, ou seja, alguém que servia o profeta até mesmo a ponto de providenciar a higiene pessoal do profeta. O aprendiz deve ser um servidor, pois é servindo que aprenderá a servir os demais. Aprender é servir e ensinar também é servir. Afinal de contas, devemos ser como o Senhor Jesus que não veio para ser servido, mas para servir (Mc.10:45).

– É elucidativo que o primeiro passo do término do discipulado de Eliseu por Elias tenha se dado em Gilgal, o lugar onde Israel entrou na Terra Prometida (Js.5:9), o lugar onde Israel foi circuncidado depois que saíra do Egito. Assim como Elias aprendera com Deus no monte Sinai, começava a sua última peregrinação em Gilgal, lembrando-se da aliança firmada entre Deus e Abraão.

–  Todo  o  aprendizado  deve  começar  e  terminar  no  compromisso  que  firmamos  com  o  Senhor.  Toda atividade  de  ensino  das  coisas  de  Deus  deve  ter  como  ponto  alto  a  aliança  que  temos  com  Deus.  Nenhum aprendizado  da  parte  de  Deus  se  poderá  dar  sem  que  tenhamos  sempre  a  consciência  de  que  temos  um compromisso firmado com o Senhor. Não há sentido de conhecimento de Deus sem que tudo esteja debaixo da perspectiva de nossa salvação, da “nova aliança firmada no sangue de Cristo Jesus” (Mt.26:28;Hb.9:15).

–  De  Gilgal,  Elias  parte  para  Betel,  onde  havia  uma  escola  de  profetas,  tanto  que  filhos  dos  profetas  se apresentaram ali (II Rs.2:3), a comprovar o que já dissemos, ou seja, que Elias não só estava a cuidar de Eliseu mas dos filhos dos profetas em geral durante todo este tempo.

–  Em  Betel,  local  onde  Deus  havia  confirmado  a  Jacó  que  era  ele  o  herdeiro  das  promessas  de  Abraão  (Gn.28:10-22) e onde Jacó finalmente completou a sua conversão ao Senhor (Gn.35:1-7), Eliseu recebeu uma mensagem dos filhos dos profetas, qual seja, a de que Elias seria tomado de cima da sua cabeça (II Rs.2:3).

– Para surpresa dos filhos dos profetas, Eliseu mostrou que bem sabia aquilo que lhe estava sendo revelado e pediu aos filhos dos profetas que se calassem. Isto nos mostra, claramente, que, na atividade do discipulado, há sempre um consenso determinado pelo Espírito Santo. O mesmo Espírito que falara aos filhos dos profetas, também falara a Eliseu.

–  Em  Betel,  cujo  significado  é  “a  casa  de  Deus”,  Deus  fala  com  cada  um  de  Seus  servos,  não  havendo necessidade de alvoroço nem de propaganda. Eliseu pediu que os filhos dos profetas se calassem, porque não havia  necessidade  alguma  de  alarde.  Eliseu  havia  bem  aprendido  com  Elias  de  que  devemos  deixar  Deus realizar a Sua obra, mantendo tão somente a nossa posição.

– Este consenso do Espírito Santo entre os que servem a Deus, algo limitado nos dias de Eliseu, tem de ser uma  característica  marcante  na  Igreja  do  Senhor.  Esta  é  a  “comunhão  dos  santos”,  ou  seja,  “…Como  esta Igreja é governada por um só e mesmo Espírito, todos os bens que ela recebeu se tornam necessariamente um fundo comum.…” (§ 947 do Catecismo da Igreja Romana).

– Eliseu não se surpreendeu com o que disseram os filhos dos profetas, pois era também um filho dos profetas e tinha a convicção de que o que o Senhor revelasse aos outros a seu respeito, deveria também ter de Deus a revelação. Eliseu mostra que um discípulo maduro, pronto a exercer a tarefa que lhe foi confiada pelo Senhor deve ser alguém que tem intimidade com Deus, com quem Deus já fala. Não pode ser alguém que corra atrás de alguém para obter alguma orientação da parte do Senhor.

–  Eliseu,  com  aquela  manifestação  dos  filhos  dos  profetas,  teve  uma  comprovação  divina  de  que  estava  na direção do Senhor e que não poderia, mesmo, deixar de seguir a Elias. Teve o novo profeta a confirmação que estava  chegando a hora  de assumir o seu lugar,  mas não fez alarde disso, nem permitiu que se  fizesse. Era humilde, assim como o seu mestre. Temos esta mesma temperança? Temos este mesmo sentimento?

– Elias, então, mandou que Eliseu ficasse em Betel, pois tinha de ir a Jericó (II Rs.2:4). Eliseu, uma vez mais, não atendeu a esta recomendação, de forma que partiram para Jericó.

–  Em  Jericó,  também  havia  uma  escola  de  profetas.  Ao  contrário  dos  dois  outros  lugares,  conhecidos  pela presença de Deus e por compromissos assumidos com Israel, Jericó era a “cidade maldita” (Js.6:26), cidade que só fora reconstruída no reinado de Acabe, como um sinal, mesmo, da apostasia generalizada de Israel (I Rs.16:34).

– Entretanto, uma vez que Jericó havia sido reconstruída, cuidou Elias de ter ali uma escola de profetas, numa visão missionária que muitos não têm em nossos dias. Embora a cidade fosse “maldita”, não poderia se deixar que ali estivesse um espaço única e exclusivamente dedicado aos incrédulos, aos apóstatas. Não, não e não! Elias tratou de ali ter uma escola dos profetas e para lá se dirigiu.

– Eliseu também acompanhou o profeta em Jericó.  Isto nos mostra que  o companheirismo entre discípulo e mestre não deve existir apenas nos momentos e lugares de bênção, mas, também, nos momentos e lugares de dificuldades,  de  adversidades,  de  maldições.  Trata-se  de  um  companheirismo  verdadeiro  e  sincero,  de  uma amizade mais chegada do que a de um irmão (Pv.18:24). Professor da Escola Dominical, é assim que tem sido seu relacionamento com seus alunos?

– Em Jericó, mais uma vez Eliseu recebe a mensagem dos filhos dos profetas e, uma vez mais, manda que eles se calassem. Eliseu demonstra todo o seu equilíbrio, toda a sua sobriedade e convicção. Tanto no “lugar da bênção” como no “lugar da maldição”, mantém a mesma conduta, o mesmo comportamento. Que exemplo a ser seguido!

– Elias, então, pela terceira vez, manda que Eliseu fique em Jericó, pois teria de ir até o Jordão. Eliseu, como das vezes anteriores, nega-se a deixar o profeta e segue com ele até o Jordão, o lugar da passagem do povo na entrada  da  Terra  Prometida,  o  lugar  do  milagre.  Eliseu  foi  junto  com  Elias,  a  comprovar  o  seu companheirismo, a sua comunhão com o velho profeta.

– Nesta ocasião, cinquenta dos filhos dos profetas resolveram acompanhar Elias e Eliseu, ficando, porém, a uma certa distância. Deus punha aqueles filhos dos profetas para serem testemunhas do que iria acontecer a partir de então. Nunca nos esqueçamos de que, em nosso trabalho para Deus, sempre estamos rodeados de uma “tão grande nuvem de testemunhas” (Hb.12:1).

– Eliseu tinha tido muitas experiências com Elias durante todos aqueles anos, mas é fato que, desde que Elias havia iniciado seu discipulado com Eliseu, jamais havia feito milagres na presença do seu discípulo, pois tudo indica  que  o  episódio  da  descida  de  fogo  do  céu  que  consumiu  a  cem  soldados  e  dois  capitães  se  deu  na ausência  de  Eliseu,  visto  que  o  texto  de  II  Rs.1:9-14  dá  a  entender  que  Elias  estava  sozinho  naquela oportunidade,  tendo-se  deslocado  para  o  caminho  de  Ecrom  por  ordem  divina  sem  qualquer  companheiro. Eliseu  não  tinha  tido  aquela  experiência  ainda.  Seria,  pois,  esta  a  última  lição  a  ser  dada  ao  discípulo  pelo mestre.

– Elias tomou a sua capa, como que lembrando a Eliseu o seu chamado, pois foi com a capa que havia sido separado para o ministério, dobrou-a e feriu as águas, que se dividiram para as duas bandas, tendo, então, tanto Elias quanto Eliseu passado o rio em seco (II Rs.2:8).

– Após terem passado o rio Jordão, Elias, então, pela vez primeira, trata de falar com Eliseu a respeito de sua partida.  Elias  também  sabia  que  seria  tomado  de  Eliseu.  Que  consenso  maravilhoso  que  o  Espírito  Santo estabelece no meio do Seu povo!

– Elias, então, pediu que Eliseu pedisse algo antes que fosse tomado. O mestre sempre deve estar disposto a dar algo para o discípulo. Afinal de contas, como dizem as Escrituras, são os pais que entesouram para os filhos e não, o contrário (II Co.12:14).

–  Infelizmente,  em  nossos  dias  hodiernos,  os  mestres  estão  mais  preocupados  em  manter  suas  posições, deixando  de  ensinar  tudo  para  seus  discípulos,  reservando  para  si  o  “pulo  do  gato”,  do  que  proceder  como Elias e como o Senhor Jesus, que declarou ter feito os Seus discípulos conhecer tudo que ouvira de Seu Pai (Jo.15:15).

– Eliseu, então, diante desta declaração de seu mestre, pediu que se lhe fosse dada “porção dobrada do seu espírito sobre ele” (II Rs.2:9), ou seja, Eliseu queria ter o dobro da unção de Elias em sua vida, desejava fazer  o  dobro  que  Elias  havia  feito  em  seu  ministério.  A  “porção  dobrada”  representava  o  aprendizado completo de Eliseu, qual seja, o de que se deveria prosseguir o ministério de Elias e se fazer o dobro do que havia sido feito até então.

–  Elias  entendeu  que  o  pedido  era  demasiado,  ousado.  Para  que  ele  recebesse  o  que  estava  a  pedir,  seria necessário que visse quando Elias fosse tomado dele, ou seja, Eliseu, para prosseguir o ministério de Elias e ainda  efetuar  o  dobro,  tinha  de  perseverar  até  o  fim.  Temos  esta  consciência  de  que  o  êxito  de  nosso ministério está em sermos fiéis até o fim?

– Elias e Eliseu, então, prosseguiram “andando e falando”. Eliseu, certamente, prestava muita atenção ao que era  falado  pelo  profeta.  Estava  aprendendo,  mas  também  estava  vigilante,  até  que,  de  repente,  um  carro  de fogo separou os dois e Elias foi levado por um redemoinho para o céu (II Rs.2:11).

–  Eliseu,  de  imediato,  exclamou  “Meu  pai,  meu  pai,  carros  de  Israel,  e  seus  cavaleiros!”,  a  demonstrar  que havia visto o instante em que fora separado do profeta. Elias, então, lançou a capa sobre Eliseu, pois ele havia perseverado até o fim. Estava feita a sucessão, Eliseu terminara com êxito a sua preparação.

IV – ELISEU, O SUCESSOR DE ELIAS

–  Há  quem  veja  na  exclamação  de  Eliseu  uma  “comprovação”  da  falsa  doutrina  da  “paternidade espiritual”. Segundo tais pessoas, ao exclamar “Meu pai, meu pai!”, Eliseu teria se credenciado a ser profeta, já que reconhecera em Elias o seu “pai espiritual” e que somente desta maneira pode haver “transmissão de poder”. Nada mais falso, porém!

–  Por  primeiro,  Eliseu  se  dispôs  a  obedecer  a  Elias  e  a  tê-lo  como  “pai  espiritual”,  como  seu  “senhor” desde o instante em que passou a segui-lo. Não fosse assim, não teria pedido ao profeta que se despedisse de seu pai e de sua mãe. Este gesto mostra, claramente, que, a partir de então, Eliseu viveria em função de Elias, seria um “filho do profeta”.

–  Por  segundo,  a  “paternidade  espiritual”  não  é  uma  situação  em  que  alguém  se  possa  pôr  de “mediador”,  “intermediário”  entre  Deus  e  o  “filho  espiritual”.  Muito  pelo  contrário,  trata-se  de  uma função em que devemos nos tratar como “irmãos” (Cfr. Mt.23:8).

– Tanto assim é que Eliseu, mesmo diante das ordens de Elias para que ficasse em Gilgal, Betel e Jericó, não atendeu à recomendação do profeta e prosseguiu seguindo a Elias, pois o Senhor lhe dissera, assim como aos filhos dos profetas, que Elias seria tomado dele naquele dia. Isto é a demonstração evidente que, já no tempo da lei, o Espírito Santo atuava diretamente nos “filhos espirituais”, sem precisar do “pai espiritual” para fazê-lo.

– Por terceiro, a “transmissão do poder” não estava na capa que foi lançada por Elias, pois não foi algo dado por Elias a Eliseu. O lançamento da capa era apenas a confirmação do profeta de que o pedido de Eliseu havia sido atendido e que o próprio Espírito, que já estava em Eliseu, iria operar nele a partir de então.

–  Tanto  é  assim  que,  assim  que  Eliseu  pegou  da  capa  de  Elias,  voltou  e  foi  até  a  borda  do  rio  Jordão.  Ali chegando, de posse da capa, feriu as águas e indagou: “Onde está o Senhor, Deus de Elias?”. Neste momento, como diz o texto da Septuaginta, o rio Jordão não se abriu. Reproduzamos o texto, usando da Versão Antonio Pereira  de  Figueiredo:  “E  pegando  na  capa,  que  Elias  lhe  tinha  deixado  cair,  feriu  as  águas  e  elas  não  se dividiram, e disse: Onde está ainda agora o Deus de Elias? E feriu as águas, e elas se dividiram de uma, e de outra parte, e Eliseu passou” (II Rs.3:14).

–  Na  Versão  Almeida  Revista  e  Corrigida,  não  se  encontra  a  expressão  “e  elas  não  se  dividiram”,  mas  é elucidativo que, no texto, há duas menções ao ferimento das águas. Por que Eliseu teria ferido duas vezes as águas? Naturalmente, porque, na primeira vez em que feriu as águas, elas não se dividiram.

– Eliseu confiara na capa de Elias e, usando dela, achava que, como havia acontecido com o profeta pouco tempo  antes,  com  o  simples  uso  da  capa,  Eliseu  passaria  o  Jordão  em  seco.  No  entanto,  as  águas  não  se dividiram, porque Eliseu não derivara seu poder de Elias, o poder veio diretamente de Deus.

– Diante do aparente fracasso, Eliseu, então, clama a Deus. Exclama: “Onde está o Senhor, o Deus de Elias?” e, aí então, fere as águas, que se abrem e pôde ele, então, passar a seco o rio Jordão, fazendo o seu primeiro milagre. A última lição aprendida, a do milagre, fora a primeira a ser posta em prática.

– Eliseu, ao clamar a Deus, teve a pronta resposta do Senhor. Estava, agora, em pleno exercício do ministério do profeta Elias, o ministério prosseguia, a obra de restauração espiritual de Israel e de erradicação do culto a Baal tinha um novo capítulo.

– Os cinquenta filhos de profetas que haviam visto Elias abrir o Jordão, agora viam que Eliseu fizera o mesmo. Eram testemunhas da sucessão e passaram a dizer: “O espírito de Elias repousa sobre Eliseu” (II Rs.2:15).  Não  há  qualquer  necessidade  de  alardearmos  que  Deus  nos  escolheu  ou  que  a  posição  em  que estamos foi dada pelo Senhor. O próprio Deus Se incumbirá de trazer testemunhas para testificar do que tem feito em nossas vidas.

– Em reconhecimento da autoridade que agora Eliseu ostentava, pediram os cinquenta homens que lhes fosse permitido  procurar  por  Elias.  Eliseu  relutou  em  atendê-los,  pois  vira  que  Elias  fora  levado  ao  céu  em  um redemoinho,  mas,  ante  a  insistência  daqueles  homens,  acabou  por  permitir-lhes  que  procurassem  a  Elias  e, depois de três dias de buscas, voltaram sem tê-lo encontrado, tendo, então, Eliseu dito que estava certo em não querer que fossem.

– O gesto de Eliseu em deixar os cinquenta homens irem após a insistência mostra-nos que Eliseu adotou a mesma linha de companheirismo de Elias, não quis ser um “ditador”, mas um líder verdadeiro e genuíno, que compartilhava e convivia com os seus liderados. Temos feito isto?

– A sucessão estava feita e o trabalho de Elias prosseguiria através de Eliseu, e com “porção dobrada”, como analisaremos nas últimas quatro lições deste trimestre.

Colaboração para o portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

 

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