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LIÇÃO 9 – A IMPORTÂNCIA DA SANTA CEIA


A ceia do Senhor é um dos mais importantes momentos da vida espiritual.

INTRODUÇÃO

– Na sequência dos problemas da igreja em Corinto, estudaremos hoje o concernente à celebração da ceia do Senhor, oportunidade em que o apóstolo Paulo teve para ensinar não só os crentes de Corinto mas todos os crentes de todas as épocas a respeito do significado da ceia do Senhor.

– A ceia do Senhor é uma das ordenanças deixadas pelo Senhor Jesus à Igreja e cuja importância revela o primado da mensagem da cruz na vida cristã e a própria razão de ser da existência da Igreja sobre a face da Terra.

I – A IRREGULAR CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR EM CORINTO

– Ao instituir a Igreja, Jesus não só constituiu o governo da Igreja, como as suas funções, como também determinou que a Igreja realizasse dois ritos, duas cerimônias: o batismo nas águas e a ceia do Senhor. Por isso, estas duas atividades da Igreja são denominadas de “ordenanças”, porque são ordens dados pelo Senhor para a Igreja.

– De imediato, devemos distinguir entre “ordenança” e “sacramento”, porque não poucos estudiosos das Escrituras, sob a influência da história e da tradição, confundem ambos os conceitos, identificando “ordenança” com “sacramento”, com o que, entretanto, não podemos concordar.

– A ideia de “sacramento”, nascida no interior da Igreja Romana, é totalmente diversa da de “ordenança”. “Sacramento” é, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, considerado como sendo “rito sagrado instituído por Jesus Cristo para dar, confirmar ou aumentar a graça

[São sete: batismo, confirmação, comunhão, penitência, extrema-unção, ordem e matrimônio.].

Para completarmos este significado, ao lermos o Catecismo da Igreja Católica, lá encontramos que “…“Os sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda ao culto a ser prestado a Deus.

Sendo sinais, destinam-se também à instrução. Não só supõem a fé, mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem.

Por esta razão são chamados sacramentos da fé.”(art.1123) como também “Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam…” (art.1127) e, por fim,

“…Os sacramentos são ‘da Igreja’ no duplo sentido de que existem ‘por meio dela’ e ‘para ela’. São ‘por meio da Igreja’, pois esta é o sacramento da ação de Cristo operando em seu seio graças à missão do Espírito Santo E são ‘para a Igreja’, pois são esses ‘sacramentos que fazem a Igreja…’( art.1118). Nada mais diferente do que as ordenanças de Cristo. Senão vejamos:

a) a ordenança é de Jesus; o sacramento, da Igreja Romana.

b) a ordenança é uma demonstração de obediência a Cristo; o sacramento, uma demonstração do “poder da Igreja Romana”.

c) a ordenança não aumenta nem diminui a graça de Deus, que se manifestou completamente em Cristo, onde é plenamente eficaz; o sacramento, supostamente traz a graça de Deus aos homens pela mediação da Igreja Romana, que, assim, complementaria a obra de Cristo.

d) as ordenanças de Cristo são duas; os sacramentos, sete.

– Não podemos, pois, jamais aceitar que o batismo nas águas e a ceia do Senhor sejam “sacramentos”, mas, sim, “ordenanças” de Cristo para a Sua Igreja.

Como ordens dadas por Jesus, devem ser cumpridas nos exatos termos determinados por Cristo, pois se somos verdadeiramente salvos, guardamos os Seus mandamentos (Jo.15:14).

– Por isso, o apóstolo Paulo, ao saber que, em Corinto, os crentes se lembravam dele e retinham os preceitos como os havia entregado (I Co.11:2), louvou a igreja, porque a igreja sempre deve reter tudo aquilo que aprende de Cristo.

No entanto, por este mesmo motivo, o apóstolo censurou os crentes coríntios ao saber que não estavam a celebrar a ceia do Senhor como se lhes havia sido ensinado (I Co.11:17).

– O apóstolo, desde logo, mostra-nos que não é qualquer ajuntamento de crentes que alegra o Senhor. Muito pelo contrário, Deus não está interessado nem na quantidade de pessoas que se reúne para adorá-lO nem tampouco com a aparência exterior do que é feito.

Antes mesmo de dar seu ensino sobre a correta maneira de celebrar a ceia do Senhor, o apóstolo fez questão de ressaltar que o que importa para Deus é que o ajuntamento se dê para “melhor”, ou seja, tenha “qualidade espiritual”, sem o que não passará de algo abominável aos olhos do Senhor (Is.1:11-15).

– Os crentes de Corinto ajuntavam-se para pior (I Co.8:17), prova de que o simples ajuntamento não basta para sermos agradáveis ao Senhor e para crescermos espiritualmente.

Não resta dúvida de que o Senhor, ao formar a Igreja, mostrou-nos que precisamos uns dos outros para que venhamos a ter crescimento espiritual, que não existe o “self-service”, ou seja, o culto solitário, o culto desprendido de qualquer grupo social, como, lamentavelmente, alguns têm defendido, enganados pelo inimigo de nossas almas.

– No entanto, se precisamos uns dos outros e se a reunião coletiva de adoração é uma necessidade, temos, também, de verificar que não basta o ajuntamento, mas que é preciso que este ajuntamento seja para “melhor”, ou seja, tenha a frequência de pessoas que estejam purificadas pelo Senhor Jesus, em comunhão com Ele e que sejam, pois, agradáveis a Deus.

– Os ajuntamentos em Corinto eram “para pior”, porque eram motivo para manifestação de dissensões (I Co.8:18), mais um desdobramento do partidarismo que havia se espalhado pela igreja. Nos dias de hoje, não é diferente: muitas reuniões não são feitas para “melhor”, mas, antes, são oportunidades para que as dissensões se manifestem, para que os “egos” se mostrem, para que a carnalidade seja exaltada.

Tais ajuntamentos são “para pior” e merece a nossa censura, como a do apóstolo, até porque, antes de iniciar sua censura, o apóstolo fez questão de dizer que era “imitador de Cristo” (I Co.11:1).

– Como têm sido os ajuntamentos em nossas igrejas locais? Servem para que tenhamos como foco o Senhor Jesus, para que Ele seja exaltado, ou é uma oportunidade para que se manifestem vaidades, dissensões, disputas ou outras obras da carne?

É com tristeza que temos visto que, cada vez mais, os ajuntamentos se mostram abomináveis ao Senhor, porque são feitos com intenções impuras, com objetivos carnais, sem qualquer espiritualidade. Fujamos deste tipo de reunião antes que seja tarde demais.

– A verdade é que os crentes em Corinto estavam a tratar a “ceia do Senhor” como uma simples refeição, uma festividade, um evento social.

Reuniam-se para “comer a ceia do Senhor”, mas cada um comia antecipadamente a própria ceia, que traziam de casa, de maneira que os ricos comiam e se fartavam, chegando, mesmo, a embriagar-se, enquanto que os pobres passavam fome, pois nada tinham que se alimentar e os ricos não repartiam com eles o que tinham trazido e até consumido antes, até em virtude das dissensões que havia dentro da igreja (I Co.8:20,21).

– Nota-se, pois, que os crentes de Corinto viam a “ceia do Senhor” muito mais como um evento social, uma festividade à maneira dos muitos sacrifícios idolátricos, permeados que eram de festas e refeições, do que uma comemoração da morte e ressurreição do Senhor.

Havia muito mais uma confraternização, (confraternização, logicamente, prejudicada pelo espírito faccioso que dominava aquela igreja) do que um verdadeiro culto a Deus.

– Não é diferente nos dias hodiernos. Em muitos lugares, os cultos transformaram-se em reuniões sociais, em meras confraternizações, onde as pessoas vão para se encontrar, para “pôr as fofocas em dia”, para exibir suas vestimentas, ganhar seus “cachês”, menos para cultuar a Deus.

Por isso, não oram, não louvam a Deus, não prestam atenção na pregação e se preocupam obsessivamente que o culto termine no horário (embora, quase sempre, cheguem bem atrasados). São meros eventos sociais, onde a carnalidade sobressai e onde as trevas espirituais dominam. Precisamos nos despertar pois tais ajuntamentos são apenas “para pior”!

OBS: Os ajuntamentos nas igrejas locais são ou “para pior”, ou “para melhor”. Muitos acham que as reuniões nas igrejas podem ser “rotineiras”, para “tudo ficar no mesmo”, mas o texto sagrado nos mostra que isto é um ardil satânico – ou se ajunta “para melhor”, ou “para pior”, nunca se fica “na mesma”. Quem acha que é possível ficar “no mesmo” é alguém que não percebe sequer que está piorando cada vez mais.

– A igreja local, embora possa promover confraternizações, já que é a “família de Deus” (Ef.2:19) e se faz necessário que haja uma convivência fraterna entre todos os irmãos em Cristo, pois, caso contrário, não se estará diante de uma genuína porção do corpo de Cristo, não pode confundir culto com evento social, culto com reunião de confraternização.

O apóstolo é bem claro ao dizer que os crentes em Corinto tinham casas para comer e beber (I Co.11:22). Utilizar a igreja local como um lugar de simples reuniões sociais é um desprezo da igreja de Deus (I Co.11:22), o que é algo muito grave, pois, como o apóstolo Paulo ensinou nesta mesma carta, não podemos escandalizar a igreja de Deus (I Co.10:32), até porque cada componente da igreja é extremamente valioso, pois Cristo morreu em virtude de cada um deles e pecar contra o irmão é pecar contra o próprio Jesus (I Co.8:10,11).

– Muitos não têm esta sensibilidade espiritual e promovem escândalos entre os irmãos em Cristo. Vivemos dias em que a “abominação da desolação de que falou o profeta Daniel está no lugar santo” (Mt.24:15).

Assim como a profanação do templo de Jerusalém pelo rei da Síria, Antíoco Epifânio, em 167 a.C. foi uma figura da profanação aludida pelo profeta Daniel, que se dará na Grande Tribulação, quando o Anticristo profanar o Terceiro Templo, assim também, nos dias de nossa dispensação, muitos têm desprezado as igrejas locais, tornando os cultos em verdadeiros sacrilégios, num evidente desprezo da igreja de Deus.

Que se pode dizer de reuniões que se transformaram em “shows”, com direito a gelo seco, luzes pisca-pisca coloridas e púlpitos tornados em palcos e os locais dos assistentes em pistas de dança? Que se pode dizer de cultos que se transformaram em bailes e/ou sessões de ginástica aeróbica? E dos cultos que viraram leilões?

– O apóstolo Paulo lembrou os crentes de Corinto que o ensinamento que havia recebido a respeito da ceia do Senhor não havia sido um ensinamento vindo de A ou de B, mas o próprio Senhor Jesus lhe havia ensinado o significado da ceia, revelação esta que deve ter sido feita ao apóstolo durante o tempo em que esteve no deserto da Arábia (Gl.1:17,18), três anos que foram fundamentais para o amadurecimento espiritual do apóstolo que, depois disto, passou a ser um mestre na igreja do Senhor (At.11:25,26).

II – A CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR

– Pelo que se dá a entender do texto sagrado em que Paulo nos fala da ceia do Senhor, embora houvesse a ordenança de Jesus, não havia, ainda, uma consciência do significado do que era a ceia até esta oportunidade.

– Como vimos na lição anterior, quando tratamos das coisas sacrificadas aos ídolos, tanto entre judeus, quanto entre gentios, as cerimônias e rituais religiosos eram acompanhados de refeições, de manifestações festivas entre os participantes do rito.

As festas religiosas chamavam-se “festas” precisamente porque, ao lado do ritual religioso propriamente dito, havia reuniões entre as pessoas, confraternizações entre as famílias.

– Assim, não é desarrazoado pensar, como fazem muitos estudiosos da Bíblia, que a celebração da ceia do Senhor era bem variada nos primórdios da igreja, sendo identificada, entre os crentes judeus, com a páscoa (afinal de contas, Jesus instituíra a ceia do Senhor ao comer a páscoa com seus discípulos – Lc.22:15), assim como pelos crentes gentios com as refeições realizadas nas festividades pagãs de que haviam participado antes da conversão.

– Tudo indica, portanto, que os crentes em Corinto, tão influenciados pelas festividades afrodisíacas (festas feitas em homenagem a Afrodite, que tinha um templo em Corinto), celebravam a ceia do Senhor como uma refeição comum, com muita comida e bebida, pouco se importando com o aspecto espiritual da reunião, que passou a ser simplesmente um banquete, denominado “agape”, ou seja,

“festa do amor”, em que, inclusive, havia dissensões e disputas, principalmente porque os crentes pobres passavam fome, já que os mais abastados comiam antecipadamente o que haviam trazido para a reunião.

– O apóstolo Paulo, porém, censurou este comportamento dos crentes coríntios, não porque fosse contra a confraternização ou a existência de uma refeição festiva, mas a confusão entre esta refeição e o ato propriamente dito da “ceia do Senhor”, que não era uma simples reunião social, mas o cumprimento de uma ordem de Jesus, que tinha um significado espiritual sublime, que não poderia, de modo algum, ser desprezado ou menosprezado pela igreja.

– Vemos, pois, que, além de ser um texto doutrinário dos mais importantes para que aprendamos o significado espiritual da ceia do Senhor, o presente texto da carta de Paulo aos coríntios vai além, ao nos mostrar que não podemos, em absoluto, confundir o aspecto sagrado da adoração a Deus com os aspectos sociais da igreja local, aspectos existentes e que não podem ser desconsiderados, mas que não podem nem sobressair-se ao sentido espiritual, nem tampouco confundir-se com este.

Agir da mesma maneira que os coríntios faziam nada mais é que verdadeira profanação, já que “profanação” é tornar algo sagrado em profano. Tomemos cuidado, pois muitos têm profanado as coisas de Deus e o destino do profanador é extremamente triste, como vemos no caso de Esaú (Hb.12:16,17).

– O apóstolo começa sua lição mostrando que a ceia do Senhor é uma “ordenança” de Jesus, ou seja, não se trata de “mandamento de homens”, de “tradição”, nem tampouco de “costume”. A “ceia do Senhor” foi instituída pelo próprio Cristo, que é a cabeça de todo o varão (I Co.11:3).

Sendo assim, a celebração da ceia do Senhor não é algo que dependa da vontade humana, mas é um dever imposto a todo discípulo do Senhor Jesus.

– Muitos, na atualidade, esqueceram-se de que a ceia do Senhor é ordenança de Cristo Jesus. Desprezam a celebração da ceia, dela participando irregularmente, sem assiduidade, indo ao culto da ceia quando sentem vontade ou disposição, quando “dá tempo”. É verdade que devemos sempre comparecer à casa do Senhor voluntariamente, por desejo próprio, com alegria, não como obrigação.

Mas, devemos ter a consciência de que se trata do cumprimento de uma ordem do Senhor Jesus, de obediência a uma determinação vinda de nosso Sumo Pastor (I Pe.5:4).

– Como podemos dizer que somos crentes em Cristo, que a Ele pertencemos (I Co.1:30), se nem sequer temos desejo de comparecer ao culto da ceia do Senhor? Como podemos dizer que somos obedientes ao Senhor se não temos vontade de cumprir uma de suas ordens? Lembremos que não basta dizermos que faremos a vontade de Deus, mas que temos de fazê-la (Mt.21:28-32).

– Muitos não podem comparecer ao culto da ceia do Senhor em virtude de motivos justos, como o trabalho ou uma enfermidade.

A estes, o costume tem sido o de providenciar a oportunidade de participar da ceia na reunião seguinte da igreja local, um bom costume que tem respaldo bíblico na lei de Moisés, que também criava uma segunda data para a celebração da páscoa (Nm.9:10-12).

– Sabe-se, porém, que muitos crentes participam desta “segunda ceia” (que, quase sempre, é tão só a leitura oficial da ceia do Senhor acompanhada de uma oração, com a consequente entrega do pão e do vinho e uma oração de agradecimento, num ritual que não chega a cinco minutos de duração), por comodidade, por preguiça ou, o que é mais grave, por não querer participar do culto completo, onde, via de regra, há maior profundidade doutrinária na mensagem e onde se tem um encontro mais íntimo com o Senhor.

– Muitas igrejas locais, diante deste abuso, têm até abolido esta oportunidade, orientando seus membros a participarem da ceia em outras congregações próximas.

Tal atitude parece-nos um tanto quanto radical, já que, como vimos, há, sim, respaldo bíblico para que se tenha esta “segunda ceia”. Deve-se, porém, fazer com que esta “segunda ceia” não seja algo feito sem reverência e em meio ao tumulto do término de um culto, como costuma ocorrer, mas que se faça com todos os requisitos de um culto de ceia, inclusive com uma rápida palavra.

Não se pode crer que um crente em comunhão não tenha desejo de passar ao menos trinta minutos na presença de Deus num instante tão solene quanto é a comemoração da morte e ressurreição do Senhor.

Não nos esqueçamos de que a celebração da “páscoa do segundo mês” tinha todos os requisitos da celebração normal.

– Deve-se, também, verificar a qualidade dos crentes que se dispõem a participar apenas da “segunda ceia”, inclusive os lembrando de que quem deixa de participar da ceia do Senhor em hora e dia normais, sem satisfazer as condições de impedimento, não poderá sofrer menos rigor que os que queriam participar da “páscoa do segundo mês” indevidamente (Nm.9:13).

Esta advertência, inclusive, deve constar desta pequena mensagem a ser proferida nesta ocasião. O que não se pode é banalizar o cumprimento de uma ordenança de Cristo Jesus.

– Igual cuidado deve ter o irmão que for levar a ceia do Senhor para um irmão enfermo ou impossibilitado de se locomover para a igreja.

Nestes casos, também, não podemos nos esquecer de que todos os requisitos da celebração da ceia com a igreja local devem estar presentes.

Assim, não se deve limitar apenas a dar o pão e o vinho, com uma oração relâmpago, mas aconselhável que se dê uma breve mensagem da Palavra de Deus, nem que seja um resumo do que foi pregado no culto da ceia do Senhor. Logicamente que tudo deve ser feito levando-se em conta o próprio estado de saúde do irmão enfermo.

– O apóstolo ensina-nos que Jesus instituiu pessoalmente a ceia do Senhor como sucedâneo da páscoa. Jesus, após ter celebrado a páscoa com Seus discípulos, instituiu a ceia, como cerimônia que caracterizaria a nova dispensação que estava para iniciar, a dispensação da graça, a dispensação da “nova aliança” (ou “novo testamento”) que se firmaria entre Deus e o homem, em virtude de Seu sacrifício na cruz do Calvário.

– Ao lembrar o momento em que se instituiu a ceia, o apóstolo Paulo mostra-nos, claramente, que a ceia do Senhor era uma cerimônia, assim como o batismo nas águas, que caracterizaria a “nova aliança”, a dispensação da graça, a dispensação da Igreja.

Antes da Igreja, não tinha existido o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, assim como depois dela ele não mais existiria.

De igual forma, antes da Igreja, não tinha havido a ceia do Senhor e, depois dela, também ela não haveria mais de existir, tanto que o próprio Jesus informou os Seus discípulos que a última ceia se daria nos céus, após o arrebatamento da Igreja(Mt.26:29; Mc.14:25; Lc.22:18; Ap.19:9).

– A ceia do Senhor é uma celebração típica da dispensação da graça e que está, por isso, reservada única e exclusivamente à Igreja.

Assim como a páscoa era uma celebração judaica, da qual só poderiam participar os judeus e os estrangeiros que tivessem sido circuncidados e, assim, passado a ingressar no “povo de Israel” (Ex.12:43-48), também não podem participar da ceia do Senhor aqueles que não tiverem ingressado na igreja local, ou seja, aqueles que não se tiverem batizado nas águas.

– O apóstolo Paulo, de pronto, mostra a diferença que existia entre a ceia do Senhor e todo e qualquer outro tipo de refeição festiva seja dos rituais judaicos, seja dos rituais gentílicos.

Não se tratava de uma mera festividade, de um evento social, onde todos poderiam participar, mas de uma reunião com um nítido propósito espiritual, da qual só poderiam tomar parte aqueles que pertencessem à igreja local, que tivessem sido batizados nas águas, pois, para pertencer à igreja local, é preciso ter sido batizado (I Co.1:13-16).

– É, pois, com grande tristeza, que percebemos que, na atualidade, algumas denominações ditas “evangélicas”, tem distribuído a ceia do Senhor para todos os presentes na reunião, sejam, ou não, crentes batizados nas águas.

Há, inclusive, incentivo e estímulo para que todos participem da ceia do Senhor, para serem “abençoados”, quando, na verdade, estão é sendo condenados, visto que não estão a discernir o corpo do Senhor, estão a banalizar um momento sagrado. Trata-se de mais uma profanação, de mais um sacrilégio cometido pelos falsos mestres dos nossos dias.

– Igualmente, não se pode admitir a participação na ceia do Senhor de “crianças”, sob o argumento de que como “das tais é o reino dos céus”, sendo, pois, inocentes, são aptas elas para participar da ceia do Senhor. Nada mais incorreto!

A participação na ceia do Senhor exige que a pessoa tenha sido previamente batizada nas águas e, portanto, que seja uma pessoa que tenha consciência do certo ou do errado, que tenha se arrependido de seus pecados e crido em Jesus, crença esta que foi publicamente confessada quando do seu batismo nas águas, após ter demonstrado frutos dignos de arrependimento.

– Se é assim, o inocente não pode participar da ceia do Senhor, pois ainda não tem a consciência do certo e do errado, não tem pecados para se arrepender nem pode dar testemunho do seu arrependimento, pois não sabe o que é arrepender-se.

A ceia do Senhor não é meio de salvação, mas uma declaração de alguém que já é salvo que se mantém em comunhão com a Igreja e com o Senhor Jesus. Ora, uma pessoa inocente, que não sabe discernir o certo do errado, não precisa, pois, naturalmente, fazer uma tal declaração, não tendo porque participar da ceia do Senhor.

– Quando não se restringe a ceia do Senhor à Igreja, ao conjunto dos lavados e remidos no sangue do Cordeiro, que têm o direito de entrar na cidade pelas portas (onde, aliás, participarão da ceia das bodas do Cordeiro) (Ap.22:14), está-se a mostrar que não se conhece o significado de tal celebração, que se despreza a igreja de Deus, que não há discernimento entre uma refeição comum e a mesa do Senhor. Tomemos cuidado e não participemos de coisas assim!

– O Senhor Jesus instituiu a ceia do Senhor como sucedâneo da páscoa. A páscoa, uma vez ao ano, lembrava o povo de Israel que havia sido poupado da morte pelo sangue do cordeiro que havia sido posto nos umbrais das portas de cada casa de família.

Era a lembrança da “passagem do anjo da morte” por sobre os umbrais, por causa do sangue do cordeiro, com a manutenção da vida dos primogênitos, passagem esta que completou a obra de libertação do povo do Egito.

– Aquele cordeiro pascal apontava para “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo.1:29b), que seria sacrificado para a salvação não só dos filhos de Israel, mas de todo o mundo.

A ceia do Senhor foi instituída para agora nos fazer lembrar que o Cordeiro já morreu por nós na cruz do Calvário, mas ressuscitou e vive para todo o sempre (Ap.1:18; 5:12).

– Por isso, o cordeiro, que era consumido assado com pães asmos e ervas amargas, foi substituído pelo pão e pelo vinho.

O cordeiro, que simbolizava o Senhor Jesus, era assado inteiro, a cabeça com os pés e com a fressura (Ex.12:9), a indicar duas coisas a um só tempo: que o Senhor Jesus, o Cordeiro de Deus, era íntegro, sem pecado ou mancha (Hb.4:15) e que Se entregaria totalmente pela humanidade (Jo.10:18); que o Senhor Jesus não participou do pecado da humanidade, era um ser integralmente separado da iniquidade, um solitário do ponto-de-vista espiritual.

– Com a obra redentora do Calvário, porém, Jesus faria os homens participantes da natureza divina (II Pe.1:4), tornaria os homens herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:17), a ponto de permitir a “participação” dEle no homem.

Não haveria mais separação entre Deus e o homem, passando o homem a ser “templo do Espírito Santo” (I Co.6:19), “membro de Cristo” (I Co.6:15), “morada de Deus” (Ef.2:22).

– Assim, não se teria mais o “cordeiro”, algo inteiro e alheio aos israelitas, mas “o pão e o vinho”, lembrando o “corpo e o sangue”, corpo que foi partido por nós no Calvário; sangue que foi derramado por nós no Calvário.

Corpo e sangue falam de participação no interior, de compartilhamento com Deus, de comunhão, de unidade. Afinal de contas, o objetivo da obra de Cristo é fazer com que nos tornemos um com Deus, assim como Ele é um com o Pai (Jo.17:21).

– Em vez do cordeiro inteiro, teríamos, agora, o pão, que Jesus tomou, partiu e mandou que tomássemos e comêssemos, como lembrança do Seu corpo que também foi partido por nós no sacrifício de Cristo na cruz do Calvário (I Co.11:23,24).

– Alguém pode objetar que o corpo de Jesus não foi partido, pois nenhum dos Seus ossos se quebrou (Jo.19:33-37), até em virtude de cumprimento de profecia a respeito (Sl.34:20).

No entanto, o relato bíblico diz que o corpo de Jesus foi traspassado por uma lança, no lado, como também foram pregados cravos nas mãos do Senhor, para O fixar na cruz (Jo.20:25), o que mostra que houve, mesmo, um “partir”, que atingiu, inclusive, o interior, o âmago do Senhor (a ponto de ter saído sangue e água – Jo.19:34), sem que houvesse um “quebrar de ossos”, pois o cordeiro pascal era “inteiro”.

– Este “partir”, este “compartilhar vindo do interior” é simbolizado pelo pão, que é tomado, partido e consumido pelos crentes no ato da celebração da ceia do Senhor.

Assim, também, não se pode admitir o que muitos andam a fazer, o de se entregar pães previamente partidos, “cubinhos de pães industrialmente produzidos” que já vêm prontos, para serem distribuídos juntamente com o cálice de vinho, por “questões de higiene”.

– O pão foi partido por Jesus e depois entregue aos discípulos, que, então, tomando o pedaço partido, ou partia novamente e consumia uma parte, ou consumia a parte que lhe foi dada pelo Senhor (ambas as interpretações são possíveis).

O fato é que o partir é feito na própria celebração, pois é a lembrança de que fomos feitos participantes da natureza divina.

Trazer o “cubinho de pão”, não fazer a partilha na celebração, é algo que contraria não só a literalidade do texto mas o seu próprio significado, é uma “inovação tecnológica” que não corresponde ao mandamento, à ordenança do Senhor.

Não estamos no tempo do “cordeiro pascal inteiro”, mas, sim, do partilhar entre Deus e o homem, no corpo de Cristo, que tem os crentes como membros em particular e a Cristo como cabeça.

– Jesus começou a celebração com o pão, porque este simboliza o Seu corpo. Ora, o corpo humano preexiste ao sangue, visto que o sangue só é formado no indivíduo após o primeiro mês de vida.

Além do mais, em Seu ministério, primeiro Jesus dedicou Seu corpo a fazer a vontade do Senhor, para, depois, derramar o Seu sangue, na cruz do Calvário, para remissão dos nossos pecados. Por isso, na celebração da ceia do Senhor, o pão vem em primeiro lugar, mostrando-se, inclusive, que não é possível sermos remidos pelo Senhor se não nos tornarmos, antes, partes do Seu corpo, se não renunciarmos a nós mesmos, deixando de ser alguém para ser tão só “parte do corpo de Cristo”.

– O pão também é símbolo de alimento, dando-nos a entender que somente temos vida quando recebemos o “pão que veio do céu”, que é o Senhor Jesus (Jo.6:51). Sem Jesus, não podemos ter vida espiritual, sem o Senhor Jesus não podemos entrar no céu.

Assim como o maná sustentou o povo durante quarenta anos no deserto, Jesus nos sustenta até o dia em que entrarmos na dimensão eterna, seja pelo arrebatamento da Igreja, seja pela morte física (Jo.6:31,32).

– O pão indica-nos que somos daqueles que não trabalham pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, que é dada única e exclusivamente pelo Filho do homem (Jo.6:27).

Por isso, só pode tomar e comer o pão aquele que já ressuscitou com Cristo, que pensa nas coisas que são de cima e não nas coisas desta vida (Cl.3:1-3). Somente pode participar do pão aquele que não mais vive para o mundo, mas que vive para Cristo (Rm.6:8-10; Gl.2:20).

– O pão faz-nos lembrar que fazemos parte do corpo de Cristo, pois o pão é símbolo da carne de Cristo, isto é, do Seu corpo que foi partido por nós (Jo.6:51).

Se somos parte do corpo de Cristo, se nossa comida é a carne de Jesus, então, fazemos a vontade do Pai, realizando a Sua obra(Jo.4:34).

– O pão faz-nos lembrar que somos obedientes à Palavra do Senhor, pois “nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus” (Mt.4:4). Ao tomarmos o pão, portanto, testificamos que somos observantes, praticantes das Escrituras.

– O pão que Jesus tomou para instituir a ceia era um pão ázimo ou asmo, ou seja, um pão sem fermento, visto que era o pão que se utilizava para a páscoa (Ex.12:8; 13:6).

Em virtude disto, houve quem defendesse que os pães a serem partidos na celebração da ceia do Senhor deveriam ser asmos.

Não há esta exigência na Bíblia, não tendo o apóstolo Paulo feito qualquer menção a respeito. Ademais, certamente os pães utilizados pelos crentes de Corinto não eram asmos, visto que os coríntios não eram judeus nem estavam a observar todo o modo peculiar de preparação destes pães segundo o costume judaico.

Assim, como o apóstolo nada disse a respeito da natureza do pão, não há porque exigirmos algo que, como se sabe, faz parte da lei de Moisés.

– Além do mais, o apóstolo Paulo, ao falar sobre os asmos, precisamente para os coríntios (o que mostra que se tratava de um pormenor que não era obrigatório na celebração da ceia do Senhor), lembrou-lhes que os pães asmos ou ázimos simbolizavam a sinceridade e a verdade de Cristo, a nossa páscoa (I Co.5:7,8).

Assim, o caráter asmo do pão era uma figura de Cristo e, como tal, deveria durar até o término da lei, visto que Cristo, pessoalmente, estaria presente na celebração da ceia, sendo Ele, pois, o próprio asmo.

– Também não há que se falar, como muitos agem na atualidade, numa prática judaizante antibíblica, de se acrescer ao pão que é partido e tomado pela igreja na celebração da ceia com ervas amargas. Estas ervas foram utilizadas na páscoa judaica e, certamente, Jesus delas comeu ao

celebrar a páscoa. Mas, finda a páscoa, ao instituir a ceia, Jesus nada fala sobre ervas amargas, nem poderia fazê-lo. As ervas, também, simbolizavam o sacrifício de Jesus no Calvário, o Seu sofrimento e dor. Entretanto, a ceia comemora o Seu sofrimento, mas não o repete;

pelo contrário, é motivo de alegria a participação na ceia, visto que se trata de um compartilhamento do salvo com o seu Senhor, um “compartilhar” na alegria e no gozo que cercam o triunfo de Cristo sobre a morte. Trata-se de momento de louvor, de regozijo, não de sofrimento ou de tristeza (Hb.2:12,13).

– Depois de cear, isto é, comer o pão, o Senhor Jesus, diz o apóstolo Paulo, tomou o cálice e disse que aquele cálice era o “novo testamento no Seu sangue”, devendo ser ele bebido todas as vezes em memória do Senhor.

O vinho, pois, simbolizava o derramamento do sangue de Jesus na cruz do Calvário, sangue pelo qual se conseguiu a remissão dos nossos pecados (Hb.9:22).

Assim como a lei, a antiga aliança, foi confirmada mediante derramamento de sangue, sangue que foi aspergido tanto sobre os utensílios do tabernáculo quanto sobre o próprio povo (Ex.24:4-8; Hb.9:19-21), também a “nova aliança” tinha de ser estatuída mediante derramamento de sangue, não mais o sangue de animais, mas o precioso sangue de Jesus Cristo, o Cordeiro imaculado e incontaminado (I Pe.1:18,19).

– O sangue, sabemos todos, “tem como função a manutenção da vida do organismo por meio do transporte de nutrientes, toxinas (metabólitos), oxigênio e gás carbônico” (WIKIPEDIA.. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sangue Acesso em 14 abr. 2009).

O sangue, portanto, é o elemento que mantém a vida, que a sustenta, purificando o corpo das impurezas e trazendo nutrientes para as diversas células do organismo. O sangue é, por isso, o símbolo da vida (Gn.9:4), motivo pelo qual Jesus teve de derramar o Seu sangue para que desse, assim, a Sua vida em resgate de muitos (Jo.10:15,17).

– O sangue de Jesus nos vai purificando de todo o pecado ao longo de nossa existência sobre a face da Terra (I Jo.1:7), desde o momento em que O aceitamos como Senhor e Salvador, quando, então, somos justificados diante de Deus, pela fé em Jesus (Rm.5:1), mantendo-nos com as vestes lavadas e brancas até podermos entrar na cidade pelas portas (Ap.3:5; 22:14).

O sangue de Cristo impede que a morte nos alcance e, por isso, temos vida e vida em abundância. Por isso, o próprio Jesus disse que quem nEle crê passa da morte para a vida (Jo.5:24), porque o nosso Cordeiro pascal, ao derramar o Seu sangue, impede que o “anjo da morte” venha nos atingir.

– Este sangue é simbolizado pelo vinho, que, por sua vez, é sinal de alegria nas Escrituras. O vinho mostra-nos a alegria da salvação (Sl.51:12), alegria esta resultante da nossa gratidão pelo perdão dos nossos pecados (Sl.103:1-3).

O sangue de Cristo foi derramado para nos favorecer, pois ele é a propiciação não só de nossos pecados, mas de todo o mundo (I Jo.2:1,2).

– O “vinho” é chamado, nas Escrituras, de “fruto da vide”. Assim, a bebida a ser utilizada na celebração da ceia do Senhor é o suco proveniente da uva. Tratava-se do suco fermentado ou não fermentado? Muito se discute a respeito.

A Bíblia de Estudo Pentecostal traz interessante estudo em que se demonstra que a palavra grega “oinos”, que é traduzida por vinho em o Novo Testamento, era utilizada tanto para designar o suco não fermentado (o nosso suco de uva) como o suco fermentado (que é o vinho).

“…Noutras palavras, os escritores do Novo Testamento entendiam que oinos pode referir ao suco de uva, com ou sem fermentação.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. O vinho nos tempos do Novo Testamento, p.1517).

– Assim, diante desta realidade do uso do termo “oinos” no grego, devemos aceitar a celebração da ceia do Senhor tanto com suco de uva, quanto com o vinho tal como nós o conhecemos.

O que, certamente, não se pode admitir é que haja embriaguez na ceia do Senhor, pois isto acontecia em Corinto (prova de que, em Corinto, o suco fermentado era o usado) e foi severamente censurado

pelo apóstolo Paulo (I Co.11:21,22). Constitui-se, pois, em medida de prudência, em atitude louvável o uso de suco de uva em vez de vinho, ainda mais em países com forte tradição cultural de alcoolismo (e o Brasil é um dos países onde mais se bebe no mundo), a fim de se evitarem as mesmas cenas deprimentes que havia em Corinto.

III – O SIGNIFICADO DA CEIA DO SENHOR

– Após ter dito a respeito da celebração da ceia do Senhor, praticamente disciplinando o assunto que estava, até então, segundo o entendimento particular de cada igreja local, o apóstolo Paulo não deixou de mostrar qual era o sentido, o significado daquela cerimônia, daquela ordenança do Senhor Jesus, tão importante que o próprio Cristo, pessoalmente, incumbira de ministrar ao apóstolo a respeito.

– A ceia do Senhor tem um tríplice significado, diz-nos o apóstolo. Em primeiro lugar, deveria ser um “memorial”, uma “comemoração” da morte e ressurreição de Jesus.

Ao celebrar a ceia do Senhor, a Igreja recorda o sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário, lembra-se de que a salvação custou o preço da morte do Senhor, em nosso lugar, pelos nossos pecados. A ceia, desta maneira, é retrospectiva, pois aponta para o passado, para aquele dia e hora em que o Senhor Jesus morreu por nós para nos salvar.

Neste ponto, a ceia assemelha-se à páscoa, que também apontava, mas num ponto-de-vista prospectivo, para a morte e ressurreição do Senhor, que seria o único a cumprir a lei. A ceia aponta, assim, para o termo inicial da graça, que foi a morte de Jesus no Calvário, morte que, quando consumada, ocasionou o rasgar do véu do templo de alto a baixo (Mt.27:51).

– Jesus foi bem claro ao dizer que a ceia deveria ser celebrada “em memória de Mim”, ou seja, ela é um memorial, uma lembrança, uma comemoração da morte e ressurreição do Senhor.

Quando celebramos a ceia, estamos, num primeiro instante, anunciando ao mundo que Jesus morreu, anúncio que deve ser feito pela Igreja até o final desta dispensação (I Co.11:26).

– Mas há, também, uma dimensão presente da ceia do Senhor. A ceia não apenas nos anuncia que Jesus morreu e ressuscitou, como também que Jesus está vivo e presente na Sua Igreja. A Igreja anuncia que é o corpo de Cristo, que está presente com o Senhor Jesus entre os homens, pois “o reino de Deus está entre vós” (Lc.17:21).

– Jesus disse que onde estiverem dois ou três reunidos em Seu nome, Ele ali estaria (Mt.18:20) e, assim como o Senhor tinha desejado comer muito a páscoa com os Seus discípulos, também deseja estar presente todas as vezes em que comemos do pão e bebemos do vinho.

Sua presença é real entre nós, porque todos estamos reunidos em Seu nome. Ele Se faz presente entre nós, como no cenáculo, quando da instituição da ceia, conhecendo nossos pensamentos e sentimentos (Jo.14:1-3, 16:6), dando orientações (Jo.13:16-20), revelando o que está oculto (Jo.13:21-27), intercedendo por nós (Jo.17), fazendo-nos crer no que está escrito na Bíblia Sagrada (Jo.15).

– Através da ceia do Senhor, testificamos ao mundo que somos o corpo de Cristo, que njão mais vivemos, mas Cristo vive em nós, que estamos em comunhão com Deus e com os irmãos.

Não é por outro motivo que a ceia também é chamada de “comunhão” e que o apóstolo Paulo nos diga que, quando participamos da ceia do Senhor, somos “participantes da mesa do Senhor (I Co.10:20,21).

– A celebração da ceia do Senhor é um atestado de comunhão com Deus e de comunhão entre os irmãos que os salvos dão ao mundo, a Deus e ao diabo.

É um instante onde cantamos a vitória sobre o pecado e sobre a morte, em que dizemos que “até aqui o Senhor tem nos ajudado”. É por este motivo que a participação na ceia do Senhor gera vida, saúde e vigor espirituais. Quem participa

dignamente da ceia do Senhor cresce espiritualmente, tem aumentado o seu discernimento espiritual, torna-se mais vigilante, mais saudável do ponto-de-vista espiritual.

– Mas a ceia do Senhor ainda tem outro aspecto, um aspecto futuro, pois é também o anúncio da vinda do Senhor Jesus (I Co.11:26).

A ceia do Senhor diz-nos que Jesus vai voltar, porque irá celebrar uma ceia com os salvos nos céus (Mt.26:29; Mc.14:25; Lc.22:18). Com efeito, logo após a celebração, o Senhor Jesus falou aos discípulos a respeito da Sua volta para buscar a Igreja (Jo.14:1-3).

– Quando celebramos a ceia do Senhor, estamos dizendo uns aos outros e ao mundo que Jesus vai voltar para buscar a Sua Igreja e que está reservada uma última ceia, nas bodas do Cordeiro, na eternidade, quando o próprio Senhor nos servirá e iniciaremos a convivência eterna com o Nosso Senhor e Salvador.

– Esta é a visão prospectiva da ceia do Senhor que, assim como aponta para o termo inicial da dispensação da graça, também nos mostra qual é o termo final deste prazo que Deus dá aos homens para se arrependerem de seus pecados mediante a fé em Cristo Jesus, que morreu por toda a humanidade.

A ceia aponta para a volta de Cristo, que porá fim a esta “nova aliança”, a esta singular oportunidade que se dá aos homens de desfrutar do imenso amor de Deus, provado por Cristo quando Este morreu por nós, sendo nós, ainda, pecadores (Rm.5:8).

– Vemos, portanto, que a ceia do Senhor foi instituída pelo próprio Cristo e por Ele dada toda a relevância porque, a um só tempo, é uma cerimônia, uma reunião que traz a essência da pregação do Evangelho.

A ceia do Senhor alcança sua importância por ser a figuração explícita de toda a mensagem da cruz. Não é, portanto, coincidência que a igreja em Corinto, que estava a menosprezar a mensagem da cruz, tivesse, também, banalizado a ceia do Senhor, tornando-a um evento social cheio de dissensões e constrangimentos. O que temos feito dos nossos cultos? Como eles têm tratado a essência do Evangelho?

– A ceia do Senhor apresenta-se, assim, como um instante sublime da vida espiritual de cada salvo e da igreja local como um todo.

É o instante em que, de forma solene, a Igreja afirma e declara a judeus e a gentios que Jesus morreu pelos homens, pagou com sua vida o preço de seus pecados, mas ressuscitou e está à direita de Deus, intercedendo pela Igreja, mas, também, se encontra presente na Igreja, sustentando-a, dirigindo-a e a preparando para o encontro que já prometeu ter com ela, quando vier buscá-la para livrá-la da ira futura.

Um instante como este não pode, mesmo, ser menosprezado, pois, ao mesmo tempo em que anunciamos a essência do Evangelho, apresentamo-nos ao mundo, a Deus e à Igreja que somos testemunhas de tudo isto, ou seja, que nós somos parte deste corpo de Cristo e que estamos prontos para encontrarmos com o Senhor nos ares (I Ts.4:16,17).

– Diante de tanta relevância, não é sem razão que o apóstolo Paulo manda-nos que, antes de participarmos da mesa do Senhor, façamos um autoexame, a fim de que dignamente venhamos a tomar do pão e do vinho.

A participação na mesa do Senhor, ensina-nos Paulo, exige “dignidade”. “Dignidade” aqui deve ser entendida como “cautela”, “cuidado”, “respeito”, pois é este o sentido da palavra grega “anakseiós” (άναξίως) em I Co.11:27.

– A “dignidade”, portanto, é o “cuidado”, a “cautela”, o “respeito”, a “reverência” que tem o crente quando vai à reunião da ceia do Senhor.

Ele tem de compreender que, ao participar do pão e do vinho, está a dizer que está em comunhão com Deus e com a Igreja, que faz parte do corpo de Cristo, que tem renunciado a si mesmo, que está morto para o mundo, que está a realizar a obra que Deus lhe determinou, que faz a vontade do Pai, que está com vestes brancas e separado do pecado e que está pronto para entrar na cidade celestial pelas portas.

– O crente que vai participar da ceia do Senhor deve, deste modo, estar numa posição de profundo temor e tremor, deve estar como o apóstolo Paulo se encontrava quando iniciou a pregação do Evangelho em Corinto, ou seja, estar na total dependência do Senhor.

Por isso, desde muito tempo, os cristãos criaram o costume de participar da ceia do Senhor em jejum, a fim de mortificar os seus membros, a fim de subjugar todo o ser a Deus.

– É evidente que não há qualquer mandamento bíblico para que a ceia se dê em jejum, até porque o apóstolo recomenda que, se alguém tivesse fome, comesse em casa (I Co.11:22,34), prova de que não se constituía em desobediência a Deus a participação na ceia do Senhor sem que se estivesse em jejum, mas é inegável que o jejum na celebração da ceia é uma salutar medida que se toma, uma iniciativa extremamente agradável ao Senhor e que revela o grau de contrição e de seriedade com que o crente está a considerar a participação na ceia.

É um forte indício de que o crente fará uma participação “digna”, bem discernindo o que estará a fazer.

– A ceia tem um significado espiritual muito forte, visto que é um anúncio solene do Evangelho de Cristo para o mundo, para a Igreja e para Deus, anúncio este que foi ordenado pelo Senhor Jesus. Por isso, as consequências da participação indigna são muito fortes e, infelizmente, como acontecia nos dias de Paulo, menosprezadas e desprezadas por muitos crentes na atualidade.

– A ceia do Senhor traz culpa, traz juízo para aquele que dela participa indignamente. Quando alguém participa da mesa do Senhor sem que compreenda que não está a fazer parte do corpo de Cristo, sem que compreenda que tem se associado com o mundo, tendo feito parte da mesa dos demônios (I Co.10:21), está trazendo para si mesmo condenação (I Co.10:29).

– A ceia do Senhor não é um culto qualquer, não é apenas uma cerimônia formal. Não, não e não! É o cumprimento de uma ordem de Cristo, ordem que nos manda testificar publicamente que estamos em comunhão com Deus e com a Igreja, que Jesus morreu para nos salvar e que virá nos buscar.

As pessoas devem ver nossa participação na mesa do Senhor e enxergar em nós testemunhas do Evangelho, ou seja, do poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16).

Deve ver em cada participante da ceia a transformação de Cristo Jesus, uma vida espiritual atuante (portanto, uma santidade) e ter, assim, condições de crer que realmente Jesus vai voltar.

– Quando isto não acontece, quando a pessoa simplesmente toma o pão e bebe o vinho, sem ver nestes elementos a comunhão com Deus e com o Seu povo, sem discernir que está a testificar uma falsidade que pode gerar escândalo aos judeus, aos gentios e à igreja de Deus,

quando participa da mesa do Senhor mesmo tendo sido participante da mesa dos demônios e, para participar da mesa dos demônios, não é necessário que se tenha ido a uma sessão espírita ou a uma invocação satanista, mas que simplesmente se tenha feito associação com os que se prostituem, que se tenha feito participante de tudo aquilo que a Bíblia condena, ou seja,

que tenha praticado pecado, pois o filho do diabo é manifestado pelo pecar (I Jo.3:4-10), será culpado do corpo e do sangue do Senhor (I Co.11:27) e condenado diante de Deus (I Co.11:29).

– É algo extremamente sério, que não tem sido levado em consideração pelos crentes. Paulo é bem claro ao dizer que “por causa disso, há entre vós muitos fracos, e doentes, e muitos que dormem” (I Co.11:30), texto que, via de regra, é lido com grande velocidade por quem faz a leitura oficial da ceia do Senhor.

– Paulo dizia que a existência de pessoas fracas, doentes e mortas na igreja em Corinto eram resultado direto da participação indigna na ceia do Senhor.

A ceia do Senhor não é um sacramento, ou seja, não é por meio dela que a graça de Deus se manifesta no Seu povo, pois tudo vem de Jesus Cristo, mas é inegável que, quando menosprezamos a ordenança do Senhor Jesus, afrontamos a Sua autoridade suprema, isto não pode ficar impune, até porque “Deus não Se deixa escarnecer” (Gl.6:7).

– O apóstolo recebeu do Senhor o que estava a ensinar. É o próprio Cristo que, pela boca do apóstolo, nos diz que a participação indigna na ceia do Senhor gera fraqueza, doença e morte.

Esta fraqueza, doença e morte devem ser consideradas sob o ponto-de-vista espiritual, ainda que também, mas não necessariamente, se possa ter a correlação do ponto-de-vista físico, até porque não é desarrazoado que o Senhor use do corpo do homem para nele manifestar as Suas obras (Dt.28:21,22; Jo.9:1-3; I Co.5:5).

– A participação indigna na ceia do Senhor provoca sério prejuízo espiritual. A pessoa se torna, no mínimo, espiritualmente fraca e, assim, suscetível aos ataques do adversário, sendo muito mais provável a sua queda.

Gera a doença espiritual, e, com a doença, temos que a morte se torna muito mais próxima e provável e, por fim, temos a própria morte espiritual, que é terrível, embora não seja impossível que o Senhor venha a ressuscitar o morto espiritual.

– Mas, para que sofrer todas estas terríveis consequências? Tudo isto se deve, diz o apóstolo, porque não aceitamos ser julgados pelo Senhor, não nos submetemos a Ele, queremos fazer prevalecer o nosso “eu”, a nossa vontade. ‘Se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados, mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (I Co.11:31,32).

– A participação indigna na ceia do Senhor, além de ser um menosprezo à igreja de Deus, é, sobretudo, uma manifestação de rebeldia à cabeça da Igreja.

Quem participa indignamente do corpo e do sangue do Senhor está a recusar a repreensão do Senhor, “não aceita” que o Senhor o repreenda, que o Senhor o castigue, que o Senhor o discipline.

Em virtude disto, corre o risco de ser condenado juntamente com o mundo, conquanto seu estado seja pior do que o do incrédulo (II Pe.2:20-22).

Tomemos cuidado e aceitemos a repreensão do Senhor, porque o Senhor sempre nos quer bem, castiga-nos como a um filho, a fim de que venhamos a ser participantes da Sua santidade e que nos faça produzir um fruto pacífico de justiça (Hb.12:7-11).

– Deus não nos proíbe de participar da ceia do Senhor. Não pensemos que haja pessoas “dignas”, no sentido de “merecedoras” de participar do corpo e do sangue do Senhor.

Por merecimento, ninguém poderia fazê-lo, visto que esta é a própria razão da ordenança: o testemunho de que o homem é incapaz de salvar-se e que precisou Jesus morrer por nós para alcançarmos a vida eterna.

– Assim, não é por merecimento próprio algum que se participa da ceia do Senhor, mas pela graça de Deus manifestada em Cristo Jesus (Tt.2:11).

Em virtude de Jesus é que podemos viver neste presente século sóbria, justa e piamente, renunciando às concupiscências mundanas e aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo (Tt.2:12,13).

Estando a viver da maneira determinada pelo Senhor, recorrendo a Ele imediatamente após os nossos fracassos (porque não há homem que não peque – I Rs.8:46; II Cr.6:36; I Jo.2:1), participemos dignamente da ceia do Senhor para que nos ajuntemos para melhor, tendo em vez de fraqueza, força; em vez de doença, saúde; em vez de morte, vida espiritual, vida abundante(Jo.10:10).

OBS: Por isso completamente equivocado o ensinamento das Testemunhas de Jeová, que ensinam as pessoas a não participar da ceia do Senhor(por eles chamada de “Refeição Noturna do Senhor”), embora seja ela servida, vez que só os “dignos” podem fazê-lo. Ao assim agirem, estão trazendo

para si mesmos a condenação, visto que eles próprios testificam que não creem em Jesus como o Salvador e que, portanto, não têm nem querem ter a vida eterna.

Os crentes que, por pecarem, não participam da ceia mas também não se acertam com Deus está destinada a mesma condenação. Não demonstram arrependimento, mas apenas remorso, vez que, ao não confessarem seus pecados a Jesus, mostram não ter fé na salvação e no perdão operados por Cristo. Tomemos cuidado!

IV – AS DISCUSSÕES DOUTRINÁRIAS A RESPEITO DA NATUREZA DA CEIA DO SENHOR

– Não só este texto da primeira carta de Paulo aos coríntios, como também os textos de Jo.6, de I Co.10:16-21 e as narrativas dos evangelistas a respeito da instituição da ceia do Senhor têm gerado, ao longo da história da Igreja, uma série de discussões doutrinárias a respeito da natureza da ceia do Senhor.

São discussões importantes, mas que geram mais contendas do que edificação e que, por isso, serão brevemente mencionadas neste estudo, inclusive por recomendação da Divisão de Educação Cristã da CPAD, mas que não entendemos deva ser o âmago da lição.

É importante sabermos o que é a ceia do Senhor, não resta dúvida, mas não podemos nos perder em filigranas, em debates intermináveis, visto que devemos ter em mente precisamente aquilo que o apóstolo ensinou à igreja em Corinto:

a participação na ceia do Senhor é uma necessidade, é um dever de cada salvo e o salvo deve participar dela dignamente, a fim de que não venha a ser condenado com o mundo, fazendo-se culpado do corpo e do sangue do Senhor.

– Todas as discussões a respeito da natureza da ceia do Senhor (algo que, naturalmente, pela sua importância, o diabo não deixaria de tentar confundir na mente dos crentes…) surgiram a partir do instante em que a Igreja acolheu como “dogma”, ou seja, como “verdade indiscutível”,

o entendimento apresentado desde o início da igreja, por alguns dos chamados “Pais da Igreja”, a idéia da “transubstanciação”, ou seja, que, no momento da celebração da ceia do Senhor, no momento da oração pelo pão e pelo vinho, estes se tornam o corpo e o sangue de Jesus.

– Esta doutrina foi desenvolvida a partir de algumas afirmações de alguns “Pais da Igreja”, mas foi definitivamente concluída pelo arcebispo de Tours, Hildebert de Savardin (falecido em 1133), que, inclusive, criou o termo “transubstanciação”.

O Quarto Concílio de Latrão, realizado em 1215, aprovou o dogma, que foi reafirmado no Concílio de Trento (1545-1563), convocado para contrariar a Reforma Protestante. É a doutrina defendida pela Igreja Romana, como também pela Igreja Ortodoxa, tendo, também, a simpatia de parte da Igreja Anglicana.

– Tal doutrina, entretanto, não deve ser acolhida, porque contraria o ensino bíblico a respeito. O pão e o vinho não se tornam o corpo e o sangue do Senhor, até porque, quando Jesus instituiu a ceia, estava com o Seu corpo ali presente e o pão e o vinho não poderiam se tornar o Seu corpo.

A transformação sobrenatural do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo, ainda que aparentemente eles se mantenham como pão e vinho, não faz sentido algum e serve apenas de justificativa para a indevida adoração da hóstia, o que somente se justifica pelo fato de “pão e vinho terem se tornado o próprio Jesus”.

– É interessante observar que a preocupação que alguns crentes têm com o pão e o vinho que sobram nos cultos da ceia do Senhor é consequência desta doutrina romanista da transubstanciação, pois, se depois da consagração, a hóstia se torna o corpo e sangue de Jesus, não se pode mesmo consumir o que sobra, devendo tudo ser tratado com o máximo respeito e veneração.

Entretanto, como esta não é a doutrina bíblica, não precisamos nos preocupar com isto. O pão e o vinho continuam sendo pão e vinho e, se não foram usados na cerimônia da ceia do Senhor, podem ser consumidos sem problema algum.

– A segunda doutrina que surgiu a respeito da ceia do Senhor foi a “doutrina da consubstanciação”, apresentada pelo teólogo e filósofo escocês John Duns Scotus (1266-1308) e que é erroneamente confundida com a doutrina apresentada por Martinho Lutero, que é um tanto quanto diversa. Segundo a consubstanciação, o corpo e o sangue de Cristo encontram-se lado a lado com o pão e o vinho durante a celebração da ceia do Senhor, ou seja,

“Jesus Se encontra presente COM a substância do pão e do vinho sem modificá-las ou transformá-las”.

Apesar de tentar impedir a adoração do pão e do vinho como sendo o próprio Jesus, restringindo esta presença a uma concomitância durante a celebração, a doutrina da consubstanciação também não explica como o corpo de Cristo estava independentemente do pão e do vinho durante a celebração da primeira ceia, quando ela foi instituída.

– A terceira doutrina, esta, sim, apresentada por Martinho Lutero (1486-1546), que também entendeu que o “dogma da transubstanciação” não tinha respaldo bíblico, é a “doutrina da união sacramental”, ou seja,

há uma união entre o pão e o vinho e o corpo e o sangue de Cristo, de tal modo que “o corpo e o sangue de Cristo está presente e é oferecido sob, no e com o pão e o vinho”.

Esta doutrina, embora também resolva a questão da indevida adoração da hóstia, não se sustenta diante da verificação de que Jesus era distinto do pão e do vinho quando da instituição da ceia do Senhor.

– A quarta doutrina é a da “presença real espiritual”, defendida a partir dos ensinos de João Calvino (1509-1564), segundo a qual Jesus Cristo está presente, mas em um sentido espiritual, quando se celebra a ceia do Senhor.

O corpo de Cristo encontra-se à direita do Pai, para onde foi após a ascensão aos céus, mas, segundo este entendimento, quando a ceia é servida, realmente é servido o corpo e o sangue de Cristo, cuja recepção se dá num sentido espiritual.

A Confissão de Westminster assim se expressa: “Os que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos visíveis deste sacramento, também recebem intimamente, pela fé a Cristo Crucificado e todos os benefícios da Sua morte, e nEle se alimentam,

não carnal ou corporalmente, mas real, verdadeira e espiritualmente, não estando o corpo e o sangue de Cristo, corporal ou carnalmente nos elementos pão e vinho, nem com eles ou sob eles, mas espiritual e realmente presentes à fé dos crentes nessa ordenança, como estão os próprios elementos aos seus sentidos corporais. I Co.11:28 e 10:16.” (Capítulo XXIX, n. VII. Disponível em: http://www.teologia.org.br/estudos/confissao.htm Acesso em 14 abr. 2009).

– Esta doutrina é uma interpretação que se pode admitir, visto que tem respaldo bíblico. Não se trata de uma realidade “física” do corpo de Cristo.

Pão e vinho são pão e vinho, são elementos físicos cuja utilização foi determinada pelo Senhor Jesus, pois são figuras de Sua obra redentora.

Mas, na celebração da ceia, quando se dá graças, há uma realidade espiritual, não se pode negar que o próprio Jesus está presente, que Seu corpo e sangue estão presentes, ainda que num sentido espiritual.

Não fosse esta presença, não se tinha como explicar que ao se tomar o pão e se beber o vinho se está a participar do corpo e do sangue do Senhor, não se teria como explicar como adviria condenação para a participação indigna.

O pastor e filósofo Astrogildo Adolfo Américo (Assembléia de Deus – Belenzinho, São Paulo) tem importante estudo a respeito, onde defende esta doutrina, por entender que a única interpretação teologicamente viável, que transcende ao nível empírico da ciência e ao nível filosófico, dando o devido significado espiritual ao evento.

– Esta doutrina, da presença real espiritual, também é praticamente a posição da Igreja Metodista que, seguindo os ensinos a respeito de seu fundador, John Wesley (1703-1791), considera que “Jesus Cristo está verdadeiramente presente na Comunhão Santa.

A presença divina é uma realidade viva e pode ser experimentada pelos participantes, não se trata apenas de uma lembrança da última ceia nem da crucifixão”. Como se dá esta presença, porém, para os metodistas, trata-se de um “mistério santo”.

– A quinta doutrina é a do “memorialismo”, acatada por nosso ilustre comentarista, pastor Antônio Gilberto e que é a doutrina predominante entre os protestantes não calvinistas nem luteranos. Segundo esta doutrina, apresentada pelo reformador suíço Ulrico Zuínglio (1484-1531), a ceia do Senhor é a comemoração do sacrifício de Cristo na cruz do Calvário e, portanto, o pão e o vinho apenas representam o corpo e o sangue de Jesus, são símbolos do corpo de Cristo.

Não há qualquer milagre que altere a substância do pão e do vinho. A presença de Cristo é manifesta, não por causa da celebração da ceia, mas porque onde estiverem dois ou três reunidos em Seu nome, o Senhor ali estará.

– Os “memorialistas” ou “simbolistas” também apresentam respaldo bíblico em sua argumentação. Zuínglio objetou a Lutero apresentando Jo.6:63, para mostrar que o espírito é que vivifica, que a carne para nada aproveita, mostrando, assim, que não há necessidade alguma de pão e vinho se tornarem algo “sobrenatural”, nem que algo “sobrenatural” venha a se unir com os dois elementos.

O significado da ceia é espiritual, os símbolos são figuras que são discernidas por quem for espiritual. As palavras do Senhor são espírito e vida e, ao cumpri-las, estaremos recebendo vida em nós mesmos, ao desobedecer-lhes, estaremos trazendo para nós mesmos condenação.

Ademais, a presença de Cristo é uma constante, em qualquer culto, não apenas na ceia do Senhor, como admitem os defensores da “presença real espiritual”.

– São estes os principais ensinos doutrinários, ao longo da história da Igreja, a respeito da ceia do Senhor. Pelo que podemos ver, com respaldo bíblico, apenas vemos as doutrinas da “presença real espiritual” e do “memorialismo”.

As demais, por não se conformarem às Escrituras, devem ser rejeitadas. O mais importante, porém, é participar dignamente da ceia do Senhor aqui na Terra, para que possamos ser servidos pelo próprio Cristo quando da ceia das bodas do Cordeiro. Estamos preparados?

Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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