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LIÇÃO Nº 1 – BATALHA ESPIRITUAL – A REALIDADE NÃO PODE SER SUBESTIMADA

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Estamos a iniciar um novo ano letivo da Escola Bíblica Dominical, agradecendo ao Senhor pela oportunidade de, mais uma vez, em liberdade de culto e de crença, podermos estudar a Palavra de Deus, num mundo onde um terço dos cristãos é proibido de publicamente declarar a sua fé e de promover o anúncio da salvação, ano que se inicia com uma importante mudança de governantes em nosso país, num momento em que se espera haja um freio na avassaladora onda anticristã que, nas últimas décadas, tomava conta do Brasil.

Teremos, neste início de ano, um trimestre temático, onde abordaremos o importante assunto da batalha espiritual, questão que tem se revelado muito mal tratada na igreja nos últimos tempos, onde se percebem duas tendências nefastas, que devem ser, de pronto, afastadas.

Ouça também áudio da lição com o Evangelista Josué Três Lagoas MS

A primeira é a da subestimação absoluta do mundo espiritual, reflexo de uma secularização que, lamentavelmente, tem invadido os corações e mentes de muitos que cristãos se dizem ser. Segundo esta linha de pensamento, quase que não há mundo espiritual.

Nada pode ser atribuído ao maligno, ao diabo ou a seus anjos. Tudo pode ser explicado cientificamente ou segundo critérios naturalísticos, chegando mesmo a se pensar que não existem os seres espirituais malignos ou, se eles existem, são impotentes e não podem interferir no dia-a-dia dos seres humanos ou da natureza.

Não faz muitos anos, era bem conhecido um sacerdote católico romano que fazia questão de tentar demonstrar que fenômenos tidos como espirituais ou sobrenaturais nada mais eram que fenômenos naturais que comportavam explicação, nem que fosse no ramo da parapsicologia.

A segunda é a da superestimação absoluta do mundo espiritual, um exagero a respeito das forças espirituais da maldade, onde tudo se atribui à atuação do diabo e de seus anjos, onde, não raras vezes, o ser humano é considerado um joguete num duelo interminável entre os “anjos do bem” e os “anjos do mal”, não raras resvalando nas doutrinas religiosas dualistas dentre as quais se destacam o zoroastrismo e o taoísmo.

Esta concepção, aliás, dado o seu forte apelo popular, acabou por influenciar o espírito de muitas produções da comunicação de massa, como, por exemplo, a saga de cinema “Guerra nas estrelas”, onde há a luta interminável entre “a força” e “o lado escuro da força”.

Esta segunda linha, aliás, foi a que forjou a expressão “batalha espiritual”, fazendo surgir a chamada “teologia da batalha espiritual”, cujo principal formulador foi o teólogo norte-americano Charles Peter Wagner (1930-2016), ensinos que trouxeram preocupantes distorções no entendimento da questão.

Ante estas duas tendências, que têm se ampliado no espectro das denominações cristãs na atualidade, fiéis à exortação de Nosso Senhor e Salvador com relação à vigilância nestes dias derradeiros da Igreja sobre a face da terra (Mt.24:4,11,24-26; Mc.13:35-37), apresenta-se como bem oportuno nos debruçarmos sobre este importante tema.

A capa da revista apresenta um típico soldado do exercito romano dos tempos de Jesus e dos apóstolos, precisamente a imagem utilizada pelo apóstolo Paulo ao se referir à “armadura de Deus”, que deveria o cristão possuir para a luta que teria de empreender contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais (Ef.6:11-18).

Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo fez uma analogia entre a armadura do soldado do exército romano, então o principal poder existente no mundo, e a armadura que nos é fornecida por Deus para também, a exemplo de Cristo, vencermos o maligno que domina este mundo espiritual onde está escravizada a humanidade pecadora.

Assim, o apóstolo, de uma só vez, apresenta três verdades que são fundamentais para a compreensão da temática da luta contra o mal, a saber:

  • há, sim, um mundo espiritual regido por Satanás, mundo este que domina a humanidade e que é desafiado pela Igreja;
  • há, sim, uma luta direta entre a Igreja e as forças espirituais da maldade, uma luta espiritual, que se trava nos “lugares celestiais”;
  • nesta luta, somente venceremos se estivermos revestidos da “armadura de Deus”, se estivermos em comunhão com o Senhor.
  • a realidade desta luta, desta “batalha espiritual”, seus limites bíblicos e como devemos enfrentá-la corretamente que será o objeto de nosso estudo neste trimestre.

 

Após uma lição introdutória, que é o primeiro bloco, o trimestre desenvolver-se-á em quatro outros blocos, a saber:

A) segundo bloco – angelologia ou doutrina dos anjos – abrangendo as lições 2 a 4, quando trataremos desta doutrina bíblica, cujo entendimento é fundamental para sabermos o que a Bíblia ensina sobre “batalha espiritual”;

B) terceiro bloco – o campo de batalha – abrangendo as lições 5 a 7, quando estudaremos onde se dá a batalha, ou seja, na mente humana, falando sobre a necessária resistência ao diabo e à tentação;

C) quarto bloco – as armas da batalha – abrangendo as lições 8 a 11, quando estudaremos quais as armas o Senhor põe à disposição do salvo para enfrentar o inimigo, quando falaremos da natureza da luta travada, da armadura de Deus, do poder do alto e do dom de discernimento dos espíritos;

D) quinto bloco – os “exercícios” para a batalha – abrangendo as lições 12 e 13, quando falaremos daquilo que deixa o cristão pronto para a peleja, a vigilância e a oração.

O comentarista do trimestre é o pastor Esequias /Soares da Silva, presidente das Assembleias de Deus em Jundiaí/SP, presidente da Comissão de Apologética da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil e que foi o presidente da Comissão que elaborou a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, que já há alguns anos comenta as Lições Bíblicas.

Que, ao término deste trimestre, possamos todos estar mais preparados para o embate diuturno contra as hostes espirituais da maldade.

LIÇÃO 1 – BATALHA ESPIRITUAL – A REALIDADE NÃO PODE SER SUBESTIMADA 

  • fato que o salvo na pessoa de Cristo Jesus, enquanto peregrina nesta terra, está num incessante conflito contra as forças espirituais da maldade.

INTRODUÇÃO

  • Iniciamos o ano letivo da Escola Bíblica Dominical estudando sobre batalha espiritual.
  • O salvo na pessoa de Cristo Jesus, enquanto peregrina nesta terra, está num incessante conflito contra as forças espirituais da maldade.

I – A REALIDADE DO MUNDO ESPIRITUAL

  • Estamos dando início a mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical e teremos um trimestre temático, abordando o tema “batalha espiritual”.
  • A expressão “batalha espiritual” designa uma luta que há entre uma pessoa salva por Cristo Jesus e as “hostes espirituais da maldade”, ou seja, o diabo e seus anjos, algo que é clara e explicitamente apresentado pelo apóstolo Paulo em Ef.6:11-18, que é o texto-base para o estudo desta doutrina e que, também, é a base da chamada “teologia da batalha espiritual”, que contém diversas distorções em relação à verdade bíblica.
  • Quando se fala em “batalha”, está-se a falar de “combate”, de “luta”, pois a palavra tem origem na raiz “bat-“, de onde vem “bater”. A “batalha” é o combate entre forças oponentes.
  • Ao se falar em “batalha espiritual”, estamos a dizer de um combate espiritual, ou seja, de uma luta entre adversários no campo espiritual, ou seja, que envolva espíritos, que abranja uma dimensão não material, que nada tenha que ver com a matéria.
  • Para tanto, é preciso observar o que as Escrituras nos dizem a respeito deste “mundo espiritual”, desta dimensão não material.
  • Logo no limiar do texto sagrado, é dito que “no princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn.1:1) e tal afirmação não se refere, como muitos pensam, a uma dimensão puramente física, mas, bem ao contrário, está a indicar que o Senhor, ao criar todas as coisas, primeiramente criou os “céus”, esta dimensão imaterial, este Universo espiritual, que foi, desde logo, habitado pelos anjos, seres criados para este mister, que são espíritos criados para adorar e ser comandados pelo Senhor (Hb.1:14; Sl.103:20; 148:2).
  • Destarte, logo vemos que há, na criação efetuada por Deus, uma dupla dimensão: a dimensão espiritual, representada pelos “céus”, onde estavam os anjos e a dimensão material, denominada de “terra”, que é o Universo físico, onde existe a matéria e onde prevalecem as leis naturais descobertas pela física.
  • Esta mesma realidade é explicitada ainda nas primeiras linhas do livro do Gênesis, quando é dito que o Senhor escalou querubins ao oriente do jardim do Éden como guardiães para que o homem não retornasse ao local de onde fora expulso, a demonstrar, portanto, a existência deste “mundo espiritual”.
  • Em a narrativa da vida dos patriarcas, feita por Moisés no mesmo livro do Gênesis, vez por outra, vemos a anotação da presença de seres espirituais, como o “Anjo do Senhor” (Gn.16:7,9,10,11;21:17;22:11,15) que, sem adentrarmos aqui se tratava de um ser angelical ou de uma teofania, aponta para um ser que não era material e que se encontrava na já mencionada dimensão chamada de “céus” em Gn.1:1.
  • É também um anjo que acompanha o povo desde a sua saída do Egito e que o protege do exército de Faraó, um pouco antes da travessia do Mar Vermelho (Ex.14:19), tendo também se manifestado um anjo, já nos dias de Josué, que repreendeu o povo por terem negligenciado na conquista de Canaã (Jz.2:1-6).
  • Na época dos juízes, também vemos manifestações angelicais ou, pelo menos, de seres espirituais (se se entender haver uma teofania em algum destes episódios), como, por exemplo, na chamada de Gideão (Jz.6:12,20-23) ou no anúncio do nascimento de Sansão (Jz.13:3-6,9-22).
  • Durante a monarquia unida, também há notícia de manifestações angelicais, como, por exemplo, no episódio da peste que assolou Jerusalém como consequência de Davi ter mandado numerar o povo (II Sm.24:16,17).
  • Os anjos também foram personagens que se apresentaram nas visões de profetas, como os serafins vistos no trono de Deus por Isaías (Is.6:1-7) ou os querubins vistos em duas ocasiões pelo profeta Ezequiel (Ez.1 e 10), sem falar em Daniel, cujo ministério foi pontuado pela presença de anjos, entre os quais o anjo Gabriel, que lhe deu a revelação das setenta semanas (Dn.6:22; 8:16; 9:21), tendo também revelado a existência do arcanjo Miguel (Dn.10:13; 12:1).
  • Em o Novo Testamento, não é diferente. O nascimento de João Batista é anunciado pelo anjo Gabriel a Zacarias (Lc.1:11-20), assim como o nascimento de Cristo Jesus é anunciado pelo mesmo Gabriel a Maria (Lc.1:26-38). Anjos passaram a subir e a descer dos céus para auxiliar o ministério de Nosso Senhor e Salvador (Jo.1:51), auxílio que é explicitamente registrado nas Escrituras algumas vezes (Mt.4:11; Lc.22:43).
  • No ministério dos apóstolos, também a presença angelical é registrada, como, por exemplo, nos episódios da conversão de Cornélio (At.10:3), da libertação de Pedro da prisão (At.12:9,10) e na viagem de Paulo a Roma (At.27:23,24).
  • Os anjos são definidos como espíritos ministradores a favor daqueles que hão de herdar a salvação (Hb.1:14), de sorte que é absolutamente bíblico saber que a vida cristã tem repercussões no mundo espiritual.
  • Como bem afirmar a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, os anjos “…não são meras figuras de retórica, nem emanações cósmicas, mas são reais e habitam os céus.” (capítulo VIII, p.85).
  • Ao mesmo tempo em que registra a existência de seres espirituais que estão a serviço de Deus, as Escrituras também revelam haver seres espirituais que são rebeldes a Deus, que estão contra a vontade do Senhor, ainda que sob seu comando. No livro de Jó, que se entende ter sido o primeiro a ser escrito, já vemos, entre os “filhos de Deus”, Satanás (Jó 1:6), numa expressão que demonstra não ser ele do grupo dos “filhos de Deus”, um intruso que ali estava e que demonstra ter um caráter totalmente contrário ao do Senhor.
  • É a “mais astuta de todas as alimárias do campo” de Gn.3:1, a “antiga serpente, chamada o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo” (Ap.12:9), que mente à mulher e proporciona a queda da raça humana (Gn.3:4-6).
  • Este ser não é apresentado como sendo solitário, mas tem a companhia de outros seres espirituais, chamados “seus anjos”, aos quais já está reservado um lugar, a saber, o lago de fogo e enxofre (Mt.25:41), as chamadas “hostes espirituais da maldade” (Ef.6:12).
  • A Declaração de Fé das Assembleias de Deus afirma que “os anjos decaídos são os que se rebelaram contra Deus [Jd.6]. Eles foram criados por Deus e eram originalmente bons, e, assim como o ser humano, dotados de livre-arbítrio; porém, sob a direção de Satanás, pecaram e rebelaram-se contra Deus, tornando-se maus [Ap.12:9]. São identificados como ‘espíritos imundos’ [At.8:7], ‘espíritos malignos’ [At.19:12], ‘demônios’ [Lc.9:1]…” (capítulo VIII, p.89).
  • Bem se vê, pois, que as Escrituras, de Gênesis a Apocalipse, mostra a realidade de um mundo espiritual, de uma dimensão espiritual habitada por Deus e anjos, sendo que há anjos fiéis ao Senhor e anjos rebeldes e a Bíblia Sagrada revela que deste mundo espiritual também participa o homem, pois não são poucas as vezes em que se mostra haver contato entre o ser humano, que possui um componente imaterial, e este mundo espiritual.

II – A REALIDADE DO CONFLITO ENTRE O BEM E O MAL NO MUNDO ESPIRITUAL

  • Mas as Escrituras não revelam, apenas, a realidade de uma dimensão espiritual, a existência de seres espirituais, mas, também, que, neste mundo espiritual, existe um conflito, há uma oposição de forças, uma vez que existem seres espirituais que são rebeldes, desobedientes ao Senhor.
  • Como já dissemos supra, assim que é apresentada a realidade do mundo espiritual no livro de Jó, tem-se a revelação de que há dois tipos de seres habitando este mundo: os “filhos de Deus” e aqueles que não são “filhos de Deus”. Satanás estava entre os “filhos de Deus”, mas não era um deles, não tinha a mesma natureza, o mesmo caráter do Senhor.
  • No diálogo entre Deus e Satanás no livro de Jó, bem vemos a distinção, a diferença que havia entre estes dois seres. Por primeiro, é interessante observar que Deus é superior a Satanás, Ele é o Senhor, enquanto Satanás se encontrava no patamar dos “filhos”, ou seja, Deus está acima de todos os demais seres e isto é importantíssimo, porquanto já destrói a ideia de que existe um “dualismo”, isto é, um confronto entre duas forças de igual estatura – o bem e o mal.
  • No livro de Jó, os “filhos de Deus” vêm se apresentar diante do Senhor, assim como os súditos se apresentam diante do rei. Deus está acima de todos, é o Soberano, tudo está sob o Seu controle, e, mesmo Satanás não tendo comunhão com Ele, não pode fugir do senhorio divino. Tanto é assim que Satanás somente atinge Jó sob permissão divina e jamais ultrapassa os limites estabelecidos por Deus (Jó 1:12; 2:6).
  • Satanás, embora sob o controle divino, tem um caráter completamente distinto de Deus. Enquanto Deus admira a fidelidade de um homem como Jó e a enaltece, Satanás revela toda uma inveja do servo de Deus e parte de uma mentalidade segundo a qual a adoração ao Senhor é interesseira, resulta das bênçãos e benefícios dados pelo Senhor. Confrontado com esta ideia, o Senhor, que conhece todas as coisas, ao contrário do diabo que demonstra aqui não ser onisciente, permite que Satanás tire tudo de Jó e o resultado é que Jó continua a adorar o Senhor apesar de todos os infortúnios sofridos (Jó 1:21).
  • Satanás não se dá por vencido e, mesmo confrontado com esta realidade, insiste em que a fidelidade de Jó somente se justificava por causa de não ter sido atingido em sua pessoa, pois, se perdesse a saúde, blasfemaria do Senhor e, uma vez mais, o Senhor permitiu que Satanás atacasse, agora na saúde de Jó, não podendo, porém, tirar-lhe a vida e, mais uma vez, Jó manteve a sua fidelidade.
  • O que se nota, portanto, neste que consideram ter sido o primeiro livro das Escrituras a ser escrito, é que já se revela aqui um antagonismo entre Deus e Satanás, com este último ser, inferior ao Senhor, revelando ser alguém que quer o prejuízo do ser humano, que tenta, através de interferências na vida do homem, retirar o homem da comunhão com o Senhor, destruir a amizade entre Deus e o homem, já que o ser humano foi criado para viver em comunhão com Deus.
  • É precisamente isto que Satanás faz com o primeiro casal. Seu intuito era o de separar a humanidade de Deus, tanto que propôs a Eva uma “independência” de Deus e, crendo nesta mentira, não só a mulher mas também seu marido acabaram por se separar do Senhor. No entanto, no dia mesmo da queda, o Senhor Deus fez questão de dizer à própria serpente que a amizade entre Deus e o homem seria restaurada e que se estabeleceria uma inimizade entre o homem e Satanás (Gn.3:15).
  • Vemos, então, que, segundo disse o próprio Deus no chamado “protoevangelho”, ou seja, no primeiro anúncio da salvação da humanidade, ocorrida ainda no Éden, no dia mesmo da queda, já se anunciava que a salvação traria uma inimizade entre o homem e Satanás. Não é, aliás, por acaso que este ser é chamado de “Satanás”, pois esta palavra tem o significado de “adversário”.
  • O diabo é nosso adversário (I Pe.5:8) e isto quer dizer que ele sempre estará lutando contra nós e nós contra ele, pois, a partir do momento que cremos em Jesus Cristo e somos salvos, estabelece-se uma amizade entre nós e Deus e esta amizade tem um corolário imediato: tornamo-nos inimigo do diabo e o diabo se torna o nosso inimigo.
  • Ao revelar o mistério da Igreja, o Senhor Jesus imediatamente já avisou a respeito desta peleja que surgiria entre o Seu povo, aqueles que Ele reuniria em comunhão com Deus, e o inimigo, ao afirmar que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt.16:18).
  • Ao revelar a Igreja, o Senhor Jesus fez questão de frisar três pontos principais sobre este povo que Ele formaria e que se constituiria no povo de Deus na face da Terra: primeiro, seria um povo edificado por Ele, que tem a Cristo como pedra fundamental; segundo, seria um povo que pertenceria a Ele, Cristo, pois é a “Sua” igreja; terceiro, seria um povo que seria atacado pelas forças espirituais da maldade, mas “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.
  • A luta espiritual entre os salvos em Cristo Jesus e as forças espirituais da maldade é, portanto, algo inevitável e sempre presente na vida cristã. Quando cremos em Jesus, saímos das trevas para a luz (I Pe.2:9), mas, por causa disso mesmo, “compramos uma briga” com o diabo.
  • É esta “briga contra o diabo” que se costumou denominar de “batalha espiritual”, aquilo que o apóstolo Paulo denominou de “o bom combate” (II Tm.4:7), “ a luta contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais” (Ef.6:12).
  • O mundo espiritual não tem um lugar físico predeterminado, pois, como já diz o seu próprio nome, é um mundo “espiritual”, que se encontra além do Universo físico e que, portanto, não é dotado nem de espaço nem de tempo. Tanto assim é que o diabo, ao se apresentar diante de Deus, diz que vinha de “rodear a terra e passear por ela” (Jó 1:7; 2:2), assim como os anjos do Senhor passaram a subir e a descer sobre o Filho do homem (Jo.1:51).
  • Vemos, portanto, que esta “batalha” não se dá em um lugar predeterminado no Universo físico, nem é igualmente limitado pelo tempo, mas, bem ao contrário, se realiza em uma dimensão que está além do espaço e do tempo, nos “lugares celestiais”, como denomina o apóstolo Paulo.
  • Para bem entender isto, devemos observar que, quando o homem peca, ele fica separado de Deus, perde a comunhão com o Senhor, ficando sob o domínio do pecado, pois quem peca se torna escravo do pecado (Gn.4:7; Jo.8:34).
  •  
  • O ser humano passa a pertencer a um sistema que as Escrituras denominam de “mundo” ou “século”, um sistema que está sob o domínio de Satanás, por isso mesmo chamado de “deus deste século” (II Co.4:4) e “príncipe deste mundo” (Jo.12:31;14:30;16:11), sistema que está com seus dias contados, porque o diabo e seus anjos já foram julgados e condenados, aguardando tão somente a execução da pena, com o seu lançamento no lago de fogo e enxofre para eles preparado (Ap.20:10; Mt.25:41).
  • Este mundo é um sistema espiritual e está no maligno (I Jo.5:19) e é bem por isso que o Senhor Jesus, ao nos ensinar a orar, diz que devemos pedir a Deus que nos livre do mal (Mt.6:13; Lc.11:4). Como afirma de modo muito feliz o Catecismo da Igreja Romana, que, por sua biblicidade, aqui reproduzimos: “…o Mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O “diabo” (“diabolos”) é aquele que “se atira no meio” do plano de Deus e de sua “obra de salvação” realizada em Cristo” (§ 2851).
  • Quando cremos em Jesus, que é a verdade, somos libertos do mal (Jo.8:32,36) e esta liberdade não só nos retira do poder do maligno, como também nos põe em oposição a ele. Em comunhão com Cristo, passamos a habitar os lugares celestiais, onde recebemos todas as bênçãos espirituais (Ef.1:3), pois passamos a ter pleno acesso ao trono da graça (Hb.4:16), ao “santo dos santos” (Hb.10:19) e com esta situação o persistente e teimoso Maligno não se conforma, tanto que passa a tentar nos destruir a partir de então a todo custo (I Pe.5:8).

OBS: Reproduzimos aqui, mais uma vez, o Catecismo da Igreja Romana, muito feliz na descrição desta realidade: “”Homicida desde o princípio, mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44), “Satanás, sedutor de toda a terra habitada” (Ap 12,9), foi por ele que o pecado e a morte entraram no mundo e é por sua derrota definitiva que a criação toda será “liberta da corrupção do pecado e da morte”.

“Nós sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca; o Gerado por Deus se preserva e o Maligno não o pode atingir. Nós sabemos que Somos de Deus e que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno” (1 Jo 5,18-19). O Senhor, que arrancou vosso pecado e perdoou vossas faltas, tem poder para vos proteger e vos guardar contra os ardis do Diabo que Vos combate, a fim de que o inimigo, que costuma engendrar a falta, não vos surpreenda. Quem se entrega a Deus não teme o Demônio. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31).” (§ 2852).

  • Bem disse o Pacto de Lausanne ao afirmar que “…Cremos que estamos empenhados num permanente conflito espiritual com os principados e potestades do mal, que querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de evangelização mundial.

          Sabemos da necessidade de nos revestirmos da armadura de Deus e combater esta batalha com as armas espirituais da verdade e da oração. Pois percebemos a atividade no nosso inimigo, não somente nas falsas ideologias fora da igreja, mas também dentro dela em falsos evangelhos que torcem as Escrituras e colocam o homem no lugar de Deus. Precisamos tanto de vigilância como de discernimento para salvaguardar o evangelho bíblico.…” (item 12).

  • Não foi outro o motivo pelo qual o Senhor Jesus afirmou que havia dado poder aos Seus discípulos para enfrentar “toda a força do inimigo” (Lc.10:19) e ter dito que, enquanto os discípulos realizavam o seu “estágio de evangelização”, havia uma nítida derrota das forças espirituais da maldade, pois o Senhor afirmou que “via Satanás, como raio, cair do céu” (Lc.10:18).
  • A vida cristã e, sobretudo, o trabalho de evangelização, que é o trabalho efetuado pela Igreja, e a Igreja é cada um de nós, prossegue aquilo que Jesus começou não só a fazer mas a ensinar (At.1:1) e, neste passo, o que ocorreu com o Senhor, também há de ocorrer conosco, pois não são os servos maiores do que seu Senhor (Jo.15:19,20).
  • Jesus Cristo disse que, durante o Seu ministério, os céus se abririam e os anjos desceriam e subiriam sobre o Filho do homem (Jo.1:51), sendo certo que, antes que isto ocorresse, necessário foi que o Senhor fosse cheio do Espírito Santo, o que ocorreu quando de seu batismo por João (Lc.3:21,22;4:1).
  • Mas, se de um lado, o Senhor, cheio do Espírito Santo, passou a ser auxiliado pelos anjos de Deus, também é nítido que, a partir deste instante, as forças espirituais da maldade começaram a se opor ao trabalho de Nosso Senhor e Salvador, que, logo de início, é tentado de forma singular pelo diabo no deserto (Mt.4:1-11; Mc.1:12,13; Lc.4:1-13) e, a partir de então, constantemente desafiado por demônios, que se apossavam das pessoas em nítida confrontação com a pregação de Cristo Jesus (Mt.8:31; 9:34; 12:24-28; Mc.1:34,39; 3:22; 6:13; Mc.16:9; Lc.4:41; 8:2,33; 11:15-20; 13:32).
  • A realidade da batalha espiritual era tanta no ministério de Jesus que Ele mesmo disse que um dos sinais de que havia chegado o reino de Deus era precisamente o fato de os demônios serem expulsos (Mt.12:28; Lc.11:20) e um dos elementos da evangelização é a expulsão de demônios, como deixa bem claro o Senhor nos dois “estágios de evangelização” a que submeteu Seus discípulos durante Seu ministério terreno (Mt.10:1; Lc.10:17).
  • A expulsão de demônios é um dos sinais que seguem aos que creem (Mc.16:17) e não foi por outro motivo que, antes que se iniciasse o trabalho de evangelização, mandou o Senhor que os discípulos aguardassem o revestimento de poder (Lc.24:49), visto que deveriam, doravante, enfrentar o maligno e deveriam fazê-lo com poder, com virtude (At.1:8), assim como Cristo havia feito durante Seu ministério terreno, quando, com poder do Espírito Santo, curava a todos os oprimidos do diabo (At.10:38).
  • O ministério dos apóstolos é, então dotado destas mesmas características do ministério terreno de Cristo. Assim como o Senhor, os discípulos tiveram os céus abertos (At.7:56), foram ajudados por anjos (At.10:3-6; 12:7-11; 27:23,24) e também tiveram de enfrentar as hostes espirituais da maldade (At.5:16; 13:8-11; 19:12).
  • Portanto, não se pode subestimar a realidade desta batalha espiritual, não se pode deixar de reconhecer que a vida cristã é um embate contra as forças espirituais malignas e que devemos estar prontos para este combate incessante, que somente terminará quando passarmos para a eternidade.
  • Não tem, portanto, qualquer respaldo bíblico o ensinamento que tenta ver a realidade da batalha espiritual como “fruto da imaginação”, como “força de expressão”, como “alegoria”, como se não existissem o diabo e seus anjos. Há muitos que até se dizem cristãos que não creem na existência do diabo e de seus anjos, mas isto está completamente equivocado, porquanto o diabo é uma realidade, tanto que Jesus chegou a mencionar o diabo como um ser real, tanto quanto os demônios.
  • Mas, igualmente, não tem qualquer base o ensino de que tudo que ocorre na vida espiritual é decorrência deste conflito entre o salvo e as hostes espirituais da maldade. Este é um aspecto indelével da vida cristã, quando alcançamos a salvação, já o dissemos, “compramos briga com o diabo”, mas a vida espiritual não se resume a este combate.
  • Paulo, no final de sua vida, diz que havia “combatido o bom combate”, mas também, disse que havia “acabado a carreira” e “guardado a fé”, de modo que vemos que, para o apóstolo, a vida cristã não se limitava ao “combate”, que seria a “batalha espiritual”, mas também havia outros aspectos, como a “carreira espiritual”, que diz respeito ao autocontrole, à busca da santidade para ter a aprovação divina, como também a “guarda da fé”, que é a observância e prática da Palavra de Deus.
  • Assim, os exageros surgidos com a chamada “teologia da batalha espiritual”, que passou a ver a salvação como um simples embate sobre as forças espirituais da maldade, como se a vida cristã se reduzisse ao “bom combate”, não podem ser acolhidos, tendo gerado um sem número de misticismos e tresloucadas práticas que não têm respaldo bíblico, como, por exemplo, “demarcação de territórios” ou coisas que tais.
  • O próprio Senhor Jesus fez questão de mostrar que os inimigos do cristão não são apenas o diabo e seus anjos. Ao falar das intempéries que afligem o salvo, na chamada parábola das duas edificações, contada no sermão do monte, disse que são de três fontes: dos céus (a chuva), que é a provação divina, feita com o objetivo de nos trazer crescimento espiritual; dos homens (os ventos), que são as dificuldades criadas nos relacionamentos interpessoais e, por fim, do diabo e seus anjos (os rios), que são as tentações provenientes do maligno.
  • Ao longo deste trimestre, estudaremos o que as Escrituras nos ensinam a respeito desta realidade, que não pode ser subestimada, mas que, também, não pode ser superestimada.

 Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/3328-licao-1-batalha-espiritual-a-realidade-nao-pode-ser-subestimada-i

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