LIÇÃO Nº 1 – TABERNÁCULO – UM LUGAR DA HABITAÇÃO DE DEUS
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Estamos dando início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical e, uma vez mais, teremos um trimestre temático, cujo título é “O tabernáculo: símbolos da obra redentora de Cristo”.
https://www.youtube.com/watch?v=Wi731_YilLA
À primeira vista, alguém poderá entender que há uma repetição de tema recentemente estudado, quando aprendemos a respeito do livro de Levítico.
No entanto, embora não se possa dizer que não haja certa similaridade, devemos, de pronto, fazer as necessárias distinções, inclusive para evitarmos um mal encaminhamento do tema ao longo do trimestre que acabe gerando uma indesejável repetição,
não que a repetição não seja bem-vinda, já que, como o apóstolo Paulo, todo professor de Escola Bíblica Dominical, não podemos nos aborrecer de ensinar as mesmas coisas, pois é segurança para a Igreja (cfr. Fp.3:1), já que podemos nos esquecer de tudo quanto o Senhor tem nos ensinado.
O estudo do livro de Levítico era um trimestre bíblico, ou seja, a função era estudar o livro de Levítico e, neste trimestre, nós estaremos a estudar um tema, qual seja, a tipologia do tabernáculo, que foi, sim, abordada em algumas lições daquele trimestre bíblico, mas dentro do contexto do livro e do culto, enquanto que, agora,
nós abordaremos o papel do tabernáculo enquanto figura da obra redentora de Cristo, não se circunscrevendo a um livro, embora, naturalmente, o foco estará na própria dupla descrição do tabernáculo que encontramos no livro de Êxodo (e não de Levítico, reparem).
Verdade que, dentro daquele trimestre, exploraram-se um pouco em demasia trechos do livro de Levítico que abordavam aspectos do tabernáculo, mas isto não retira o fato de que não se tem propriamente uma repetição, pois há diversos aspectos da tipologia do tabernáculo que não foram abordados, até porque não se encontravam no livro de Levítico.
O tabernáculo, que, inclusive, tem parte dele mostrado na capa da revista do trimestre, é uma construção móvel que o Senhor mandou que os israelitas construíssem para que servisse de santuário e habitação de Deus no meio deles (Ex.25:8,9).
A palavra hebraica utilizada para esta construção é “miškān” (וׇפשמ), cujo significado é, segundo a Bíblia de Estudo Palavras-Chave de “…uma residência (incluindo a cabana de um pastor, a toca de animais) (…) o Tabernáculo (propriamente as suas pareces de madeira)…” (Dicionário do Antigo Testamento, n. 4908, p.1776).
O próprio Deus, quando determinou a sua construção, disse que o tabernáculo serviria de “santuário” e de “habitação”.
“Santuário” é a palavra “miqdāš” (ש ׇד ְק),ׅמcujo significado é de “…coisa ou lugar consagrado, especialmente um palácio, santuário…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 4720, p.1766), mostrando, pois, que o tabernáculo seria um local consagrado ao Senhor, exclusivo para Ele.
Já “habitação” é a palavra hebraica “šākhan” (וַכ ׇש), cujo significado é ‘…a ideia de alojamento (…), residir ou ficar permanentemente…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n.7931, p.1966).
O tabernáculo, portanto, era um local destinado exclusivamente a Deus para que Ele permanecesse, residisse, habitasse n o meio dos filhos de Israel.
A capa da revista traz uma ilustração do que seria a parte exterior do tabernáculo, aquilo que era visto pelos israelitas.
A parte interna somente era vista, em parte, pelos sacerdotes e o lugar santíssimo, apenas pelo sumo sacerdote, e de forma superficial, no dia da expiação, quando, após encher o local da fumaça do incenso, entrava para cobrir a tampa da arca da aliança, que ali ficava, com o sangue dos sacrifícios efetuados em expiação por si e pelo povo.
A parte externa do tabernáculo era sem formosura e não despertava qualquer admiração, ao contrário do que havia no seu interior, onde tudo era revestido de ouro, a mostrar que, na adoração a Deus, o externo pouco representa, mas, sim, o que está “do lado de dentro”.
Não é por outro motivo que o Senhor Jesus diria à mulher samaritana que Deus está a buscar adoradores que O adorem em espírito e em verdade (Jo.4:23,24).
Por ser o tabernáculo um lugar consagrado a Deus e Sua residência no meio do povo, tem-se que é nele que encontramos importantes figuras que nos mostram quem é Deus, mais precisamente quem é a Pessoa Divina que Se fez homem e veio habitar entre nós e o que é a santidade, este atributo que o Senhor tem de nos transmitir e que temos de manter para podermos ter comunhão com Ele.
O subtítulo do trimestre é “símbolos da obra redentora de Cristo” e o estudo tipológico do tabernáculo tem por objetivo fazermos entender mais a respeito da salvação que o Senhor Jesus oferece a todo ser humano.
O tabernáculo é esta figura de Jesus Cristo e de Sua obra redentora, pois Jesus também Se fez tabernáculo (Jo.1:14), fez-Se um ser humano de carne e osso, sem pecado, onde habitou plenamente o Espírito Santo (Is.11:1,2), para nos levar ao Pai (Jo.14:6).
O trimestre desenvolve-se em três blocos:
o primeiro, composta da primeira lição, é uma introdução.
O segundo bloco fala das peças do tabernáculo, começando na lição 2 com um estudo sobre os artesãos do tabernáculo, e, neste ponto, louvável a iniciativa do comentarista, pois deu prioridade aos seres humanos que foram dotados de habilidades especiais para a confecção do tabernáculo do que aos objetos em si. Este bloco vai até a lição 9.
Por fim, temos o terceiro bloco, que faz um estudo sobre o sistema de sacrifícios e sobre o sacerdócio exercido no tabernáculo como um tipo perfeito de Cristo, das lições 10 a 13.
O comentarista do trimestre é o pastor Elienai Cabral, que há anos comenta as Lições Bíblicas, teólogo, membro da Casa de Letras Emílio Conde e do Conselho Administrativo da CPAD e 1º Secretário da Mesa Diretora da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB).
Que ao término deste trimestre, tenhamos aprendido com o tabernáculo do Antigo Testamento o sentido da obra redentora de Cristo e o que significa sermos templos do Espírito Santo (I Co.6:19). Morada de Deus no Espírito (Ef.2:22).
B) LIÇÃO Nº 1 – TABERNÁCULO – UM LUGAR DA HABITAÇÃO DE DEUS
O tabernáculo muito nos ensina sobre o que é ser habitação de Deus.
INTRODUÇÃO
– Neste trimestre, estaremos a estudar o tabernáculo e a sua tipologia em relação à obra redentora de Cristo.
– O tabernáculo muito nos ensina sobre o que é ser habitação de Deus, o que devemos ser (Ef.2:22).
I – A NECESSIDADE DA CONSTRUÇÃO DE UM TABERNÁCULO
– Estamos dando início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical e, desta feita, estaremos a estudar o tabernáculo, a construção móvel que Deus mandou que os filhos de Israel construíssem para que fosse o santuário e a habitação do Senhor no meio deles (Ex.25:8,9),
construção esta que perdurou até a derrota dos israelitas diante dos filisteus nos dias de Eli (I Sm.4:1-11), quando, após a tomada da arca pelos inimigos, não mais houve a reunião das peças sagradas, o que somente se daria décadas depois, mais de um século, quando Salomão edificaria o templo que, então, substituiu o tabernáculo.
– Deus havia formado a nação de Israel e, conforme prometera a Abrão, já se tinha uma “grande nação”
(Gn.12:2), com seiscentos mil homens de guerra (Ex.12:37), que chegaram ao monte Sinai, como sinal de que havia sido o Senhor quem enviara Moisés para libertá-los do Egito (Ex.3:12).
– Este sinal dito por Deus a Moisés quando o chamou para a tarefa da libertação tinha ver com o serviço ao Senhor no monte (Ex.3:12) e, então, faz o Senhor uma proposta aos israelitas, para que eles fossem o Seu povo, a Sua propriedade peculiar dentre todos os povos, o Seu reino sacerdotal e povo santo (Ex.19:5,6).
– O povo aceitou a proposta e, após três dias de santificação, o Senhor desceu até o monte Sinai, para firmar a aliança com o povo.
Entretanto, o povo, que deveria ficar dentro dos limites traçados pelo próprio Deus, não aguardou o som longo de buzina que o autorizaria a subir o monte e, assim, firmar uma aliança perene e definitiva com o Senhor (Ex.19:11-13), tendo, antes, se afastado da presença de Deus e pedido que Moisés subisse sozinho o monte e lá falasse com Deus (Ex.20:18-21).
– Tivesse o povo crido em Deus e subido o monte após o longo sonido de buzina, o Senhor os teria justificado pela fé e estabelecido com eles uma perfeita comunhão, passando a habitar neles, exatamente o que ocorre com quem crê em Jesus, que passa a ser morada de Deus (Jo.7:38,39; 14:23; Rm.8:9).
– No entanto, o povo não creu em Deus, achou que o Senhor fosse matá-lo e, por isso, se retirou e, deste modo, não se estabeleceu a comunhão proposta. Tal atitude foi providencial, pois, com a incredulidade, não poderia mesmo haver tal união e o próprio Senhor o disse, naquela oportunidade, a Moisés (Dt.18:15-19),
o que o líder somente revelaria pouco antes de sua morte, mostrando, assim, a necessidade que viesse um outro profeta, semelhante a Moisés, que “completasse a obra”, estabelecesse esta comunhão perfeita entre Deus e o Seu povo, esta unidade, o que somente seria feito por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Jo.17:20-23), a semente da mulher que restabeleceria a amizade entre Deus e os homens (Gn.3:15).
– Não estabelecida esta comunhão entre Deus e os israelitas, era mister que Deus habitasse no meio do Seu povo, que houvesse um lugar onde o Senhor residisse, um local que fosse consagrado, ou seja, separado exclusivamente para a Sua presença, de onde o Senhor pudesse Se relacionar com o povo, enquanto não viesse o profeta que faria aquilo que Moisés não tivera condições de fazer.
– Eis, então, a necessidade de haver uma “habitação”, uma “residência”, um “local consagrado” para que n’Ele o Senhor habitasse e Se relacionasse com o povo, um local que seria de culto e adoração, já que não há outro modo de nos relacionarmos com Deus senão através do culto e da adoração, mas também um local onde Deus Se manifestasse ao povo, seja perdoando os seus pecados, seja dando as devidas orientações e
direções ao povo que havia sido tomado como Sua propriedade peculiar, como reino sacerdotal e povo santo.
– Não é por outro motivo que, depois que a primeira parte da lei foi promulgada por Moisés, o líder sobe o monte e lá fica quarenta dias e quarenta noites, sendo que as principais instruções que recebe são precisamente as referentes à construção do tabernáculo, que é apresentado como um modelo, em hebraico, “tabhnîth” (ת ׅנ ְב),ַתcujo significado é “…estrutura, um modelo, semelhança(…)
Substantivo feminino que significa plano, padrão, forma…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n.8403, p.1997).
– O escritor aos hebreus esclarece-nos porque o tabernáculo é um modelo, porque, na verdade, é “exemplar e sombra das coisas celestiais” (Hb.8:5), uma cópia de um “santuário celestial”, o tabernáculo fundado por Deus (Hb.8:1).
Na impossibilidade de estar em cada israelita, de formar uma unidade perfeita com Ele, o Senhor manda reproduzir algo que já existia nos céus, para apresentar ao povo uma figura do que existia nos céus, a Sua habitação (Dt.26:15).
– O tabernáculo apresenta-se, portanto, como um “remédio”, um meio de Deus não abandonar o Seu povo, manter-Se presente apesar da incredulidade dos filhos de Israel e da impossibilidade de se ter uma aliança definitiva, perene e perfeita, o que somente poderia se dar quando viesse aquele “outro profeta” mencionado por Moisés, profeta que ministraria, sim, no tabernáculo celestial, no original, e não naquele que era feito cópia.
OBS: “…Os sacerdotes terrenos haviam sido agraciados por Deus com uma grande honra, a de serem ministros do santuário terrestre —
originalmente erigido no deserto e depois transferido para o templo construído por Salomão. Mas a honra de ser ministro do santuário celestial, no Reino eterno de Deus, somente foi conferida a nosso Senhor Jesus Cristo.
Moisés foi comissionado por Deus para construir o Tabernáculo no deserto, quando recebeu de Deus o modelo de cada peça e a orientação divina acerca de cada detalhe.
Deus ainda lhe advertiu dizendo: “Atenta, pois, que o faças conforme o seu modelo, que te foi mostrado no monte” (Êx 25.40).
Nele, Arão e seus filhos foram ministros. Porém, este não era o verdadeiro Tabernáculo que estava nos céus, cujo arquiteto foi Deus, e não o homem. Nele, somente Jesus teve o privilégio de entrar e nele ministrar!…” (SILVA, Severino Pedro da. Epístola aos hebreus: as coisas novas e grandes que Deus preparou para você, p.144).
II – AS FUNÇÕES DO TABERNÁCULO
– Deus havia escolhido Israel como Sua propriedade peculiar dentre os povos. Israel era reino sacerdotal e povo santo e, diante disso, mister se fazia que Deus Se fizesse presente, não só para que o povo pudesse adorá-l’O, mas também para que fosse por Ele guiado na caminhada rumo a Canaã, podendo separar-se dos outros povos para servi-l’O, como também interceder pelos outros povos.
– O tabernáculo era a “habitação” e o “santuário”, ou seja, o “lugar da presença de Deus”, a “residência” de Deus no meio do povo, como também o local onde o povo se dedicaria exclusivamente ao relacionamento com o Senhor.
– Como o povo não tinha entrado em unidade com o Senhor, necessário se fazia que se separasse um espaço para que Deus Se fizesse presente e para que o povo fosse ao encontro do Senhor, como também um período de tempo em que houvesse tal dedicação.
É por isso que exsurge tanto a necessidade de criação do sábado como também das demais festividades ao longo do ano (Páscoa, Festa das Semanas, Festa das Trombetas, Dia da Expiação, Festa dos Tabernáculos, Início dos meses), este tempo dedicado a Deus, como de um lugar em que fizesse o culto e a adoração ao Senhor, que é o tabernáculo.
– Como “santuário”, o tabernáculo apresentava-se como o protótipo da santidade que se exigia para se chegar à presença do Senhor. A exigência da santidade era tanta que, logo após a inauguração do tabernáculo, Nadabe e Abiú, que eram a metade dos sacerdotes consagrados, acabaram mortos porque descuidaram deste item, trazendo fogo estranho ao altar (Lv.10:1-3).
– Como “santuário”, o tabernáculo é um tipo da santidade e tem muitíssimas lições a nos ensinar a respeito da santidade, já que “sem a santificação, ninguém verá o Senhor” (Hb.12:14).
O tabernáculo apresenta-se, assim, como uma verdadeira figura do ser humano perfeito, daquele que se torna “templo do Espírito Santo” (I Co.6:14), “morada de Deus no Espírito” (Ef.2:22).
Paulo (II Co.5:1, 4) e Pedro(II Pe.1:13,14), mesmo, chamam a seus corpos de tabernáculo, a demonstrar a biblicidade desta comparação.
– Neste ponto, aliás, o tabernáculo afigura-se como um tipo perfeito de Cristo, pois é o Senhor o último Adão (I Co.15:45), o homem perfeito (Ec.7:29), aquele que, por nunca ter pecado, sempre teve a plenitude do Espírito Santo (Is.11:1,2).
E nós, como Seus imitadores (I Co.11:1), temos muito a aprender com a tipologia do tabernáculo, pois ela nos mostra como Cristo é e, por conseguinte, como devemos ser.
– Como “habitação”, o tabernáculo mostra-nos que somos seres relacionais, que não podemos viver sozinhos e, mais do que isto, que não podemos, em momento algum, estar longe do Senhor. Precisamos da presença de Deus, da Sua companhia, sem o que não teremos como subsistir.
– Mesmo os israelitas tendo se retirado para longe do Senhor (Ex.20:18), Deus não quis Se afastar deles, mas compreendendo até o gesto deles (Dt.18:17), mandou que se construísse o tabernáculo para que estivesse com o povo, dando-lhes descanso (Ex.33:14), proteção e direção (Ex.40:36-38; Nm.9:15-23; Ne.9:19).
– Não foi outro o motivo pelo qual o Senhor Jesus disse aos Seus discípulos que estaria com eles todos os dias até a consumação dos séculos (Mt.28:20), o que efetivamente ocorreu (Mc.16:20) e ocorre até hoje, uma vez que Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8).
– Com o tabernáculo, portanto, temos a lição da presença de Deus e da Sua direção, o que nos é importantíssimo pois os filhos de Deus são necessariamente guiados pelo Espírito Santo (Rm.8:14).
– Por isso mesmo, alguns têm tomado o tabernáculo como uma figura do relacionamento que devemos ter com o Senhor, associando-o às virtudes teologais, ou seja, às disposições de atitudes, aos hábitos inseridos em nós pela nossa participação em a natureza divina, a partir do instante em que cremos em Jesus Cristo e somos vivificados n’Ele.
O tabernáculo mostrar-nos-ia, então, o caminho que se faz desde a fé, passando pela esperança, e chegando, por fim, ao amor, numa exposição que confirma tanto os dizeres de Asafe : “Mas, para mim, bom é aproximar-me de Deus” (Sl.73:28a), quanto os de Tiago: “Chegai-vos a Deus, e Ele Se chegará a vós” (Tg.4:8a).
III – O TABERNÁCULO
– Estaremos, durante todo o trimestre, a estudar toda a tipologia do tabernáculo, um riquíssimo conteúdo que nos mostrará como tudo o que Deus faz e realiza é minucioso, coerente, harmonioso e tem como objetivo mostrar aos homens como devemos servi-l’O e agradá-l’O.
– No entanto, como estamos em uma lição introdutória, faz-se necessário dizer, em linhas gerais, como era este tabernáculo, quais as suas partes, quais as suas peças, quais os materiais que nele foram utilizados, enfim, ter uma visão geral a respeito desta perfeita figura de Cristo e de Sua obra redentora.
– O tabernáculo era formado de peças móveis, tendo em vista que sua construção foi determinada quando o povo estava a caminho de Canaã.
Construído junto ao monte Sinai, onde o povo ficou durante um período de aproximadamente um ano, ele deveria ter condições de ser deslocado durante a peregrinação, daí porque ser uma construção que permitia ser desmontada e montada quantas vezes fossem necessárias.
– Neste particular, já temos aqui uma grande lição espiritual, qual seja, a de que esta vida terrena é passageira, de que não devemos nos prender às coisas desta vida, de que somos peregrinos, estamos de passagem, estamos em viagem para a nossa residência permanente.
Era este o sentimento que direcionava a vida espiritual dos patriarcas (Hb.11:9,10,13-16) e que também deveria estar presente entre os israelitas.
– Observemos que, mesmo após terem entrado e conquistado a Terra Prometida, em momento algum o Senhor pediu que se construísse um templo para Si e faz questão de dizê-lo quando Davi se propõe a fazê-lo (II Sm.7:5-7; I Rs.8:16), tendo, ademais, determinado que se instituísse a Festa dos Tabernáculos, também chamada de Festa das Cabanas, precisamente para que o povo se lembrasse do caráter passageiro que possui esta vida terrena.
– É também este o sentimento que deve estar no coração de todos quantos creem em Cristo Jesus, cujos corações devem estar nas coisas eternas, nas coisas celestes, nas “coisas de cima” e não nas coisas desta vida, nas coisas deste mundo (Mt.6:19-21; Cl.3:1-4).
– O tabernáculo possuía três partes:
uma parte externa, chamada pátio, que era descoberta, separada do restante do povo por tábuas e cortinas, acessível a todos os israelitas, onde, do lado interior, havia o altar dos sacrifícios e a pia de bronze. Era a parte que era vista por todo o povo e que podia ser frequentada por todos os filhos de Israel.
– A presença das tábuas e das cortinas ensina-nos que o lugar era um “santuário”, ou seja, um território separado do restante do arraial, do restante do povo, lembrando, assim, que havia necessidade de separação para cultuarmos e adorarmos a Deus.
– Somente podemos cultuar e adorar a Deus se nos separarmos do mundo de pecado, se nos separarmos para
Deus. A esta dupla separação denominamos “santificação” e “sem a santificação, ninguém verá o Senhor”
(Hb.12:14).
– Israel somente poderia ser propriedade peculiar de Deus dentre os povos se fosse “povo santo”, ou seja, um povo separado dos demais, um povo dedicado a servir única e exclusivamente a Deus, que não compactuasse com a vida pecaminosa e rebelde contra Deus das outras nações, rebelião, aliás, iniciada no episódio da torre de Babel.
– Deus é santo (Js.24:19; Sl.99:9), Sua santidade é proclamada incessantemente pelos serafins (Is.6:2,3) e pelos quatro animais (Ap.4:8), como Ele é santo, evidentemente quem pretende ter comunhão com Ele deve igualmente ser santo (Lv.11:44,45; 20:7; I Pe.1:16).
– Esta parte externa e o próprio aspecto externo da parte coberta, que é propriamente a “tenda da congregação”, não tinham qualquer aparência nem formosura. No pátio, nada havia, a não ser o altar, que era de cobre, e a pia, igualmente de cobre.
– A acessibilidade a todos e o fato de as duas peças do pátio serem de cobre e o local onde se fazem os sacrifícios, indica-nos, com absoluta clareza, que o acesso a Deus está ofertado a todos os homens, sem qualquer distinção. Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).
– Entretanto, ao mesmo tempo em que há toda essa acessibilidade, vemos que as duas peças do pátio são de cobre (ou bronze), metal que simboliza o juízo, o julgamento.
O fato de o altar de sacrifícios ficar no pátio é também um indicativo de que o primeiro passo no relacionamento com Deus é o necessário e indispensável perdão dos pecados.
É o pecado que faz a divisão entre Deus e o homem (Is.59:2) e sem se resolver a problemática do pecado, jamais se terá o restabelecimento da comunhão entre o Senhor e a humanidade.
– Isto é muitíssimo importante porque vivemos numa época em que se defende mesmo a pregação do Evangelho sem que se toque na temática do pecado, como se isto fosse possível, já que, no dia de Pentecostes, na primeira pregação da Igreja, foi o arrependimento de pecados o centro da mensagem, como deve sê-lo sempre.
– O pátio costuma ser associado com o corpo, que é a parte externa e visível de todo ser humano, corpo este que é formado do pó da terra e que, como tal, é perecível, não tendo, assim, o esplendor da imortalidade e perenidade, que são próprios apenas do homem interior, isto é, da alma e do espírito.
– O pátio, também, costuma ser relacionado com a virtude teologal da fé, que é a virtude que nos faz dar entrada na vida cristã (Rm.5:1,2).
– A parte coberta do tabernáculo tinha uma cobertura que também não era, também, possuidora de qualquer atração visual.
A parte coberta tinha como cobertura externa e visível uma cobertura de peles de texugo (Ex.26:14), um animal que provavelmente era uma espécie de antílope, de pele limpa e sem qualquer formosura ou beleza, provavelmente de cor cinzenta.
– Neste ponto, também, o tabernáculo faz-nos lembrar o Senhor Jesus, que era alguém sem aparência nem formosura (Is.53:2).
Cristo, enquanto homem, não se distinguia por sua aparência física, não era alguém belo e que causava a admiração por seu físico, como aconteceu, por exemplo, com Saul (I Sm.10:23,24).
Tanto é verdade isto que Judas Iscariotes disse aos soldados que haveria de beijar Jesus para que fosse distinguido dos demais, prova de que ele não tinha muita diferença física em relação aos Seus discípulos (Mt.26:48,49).
– A parte coberta do tabernáculo possuía dois compartimentos:
o lugar santo e o
lugar santíssimo, separados por um véu, assim como a parte coberta era separada do pátio por um véu. Isto nos faz lembrar que o homem interior (Rm.7:22; Ef.3:16) é formado de duas partes: a alma e o espírito, que, embora inseparáveis, são distintos (Hb.4:12).
– O lugar santo somente poderia ser frequentado pelos sacerdotes, que, antes de entrarem no local, deveriam banhar-se e se purificar com água da pia de bronze.
No lugar santo, havia três peças, todas revestidas de ouro e não de cobre como as peças do pátio, a saber:
a mesa dos pães da proposição,
o candelabro e o
altar de incenso.
– O lugar santo costuma ser associado à alma, a sede da personalidade de cada ser humano, que precisa ser alimentada pela Palavra de Deus (pães da proposição), ter a iluminação do Espírito Santo (o candelabro) bem como estar em constante oração (o altar de incenso).
– Outros, ainda, associam o lugar santo com a virtude da esperança, que é um “degrau a mais” à fé. No lugar santo, os sacerdotes ministravam aguardando o dia da expiação, quando o sumo sacerdote adentrava no lugar santíssimo para expiar os seus pecados e os do povo, cobrindo a ira divina por mais um ano.
– Ao olharem continuamente para o véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo, onde estava a arca da aliança, o símbolo da presença de Deus, os sacerdotes podiam lembrar que o pecado separa o homem de Deus e que teriam de aguardar o cumprimento da promessa divina de que seria restabelecida a comunhão entre Deus e a humanidade.
Tal esperança terminaria no dia do sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, quando este véu se rasgou de alto a baixo (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45).
– Nós, salvos em Cristo, aguardamos a bem-aventurada vinda de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Tt.2:13).
– O lugar santíssimo, separado do lugar santo por um outro véu, tinha apenas a arca da aliança como peça, uma peça de madeira revestida de ouro, com uma tampa de ouro, com dois querubins e em cujo interior foram colocadas as tábuas da lei, um vaso que continha maná e a vara de Arão que florescera.
– Este lugar santíssimo era frequentado pelo sumo sacerdote, uma vez ao ano, no dia da expiação, única e exclusivamente para cobrir a tampa da arca com o sangue dos sacrifícios pelos seus próprios pecados e pelos do povo.
– Era um compartimento que jamais era visto por qualquer um, nem mesmo o sumo sacerdote tinha visão plena do lugar santíssimo, já que, quando ali entrava, o local estava cheio da fumaça do incenso, que, antes, o próprio sumo sacerdote espalhava no santo dos santos.
– O lugar santíssimo é associado ao espírito humano, a parte do ser humano que faz ligação com o Senhor, que fica morto enquanto não há salvação, salvação que ocasiona a vivificação de tal espírito.
Por isso, o véu do templo se rasga quando Cristo paga o preço dos pecados da humanidade, abrindo um novo e vivo caminho dos homens para Deus (Hb.10:19-23).
– O lugar santíssimo, por fim, é associado ao amor, o amor divino que é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5), o caminho mais excelente, a maior das virtudes teologais (I Co.12:31-13:13), o verdadeiro fruto do Espírito (Gl.5:22).
– É esta exímia figura da obra redentora de Cristo, o tabernáculo, que estaremos a estudar neste trimestre, pois todos nós teremos de ser verdadeiros tabernáculos enquanto estivermos nesta peregrinação terrena.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/3814-licao-1-tabernaculo-um-lugar-da-habitacao-de-deus-i