LIÇÃO Nº 10 – A ALEGRIA DO SALVO EM CRISTO
O cristão tem uma alegria espiritual que as dificuldades desta vida não podem suprimir.
INTRODUÇÃO
– Prosseguindo o estudo da carta de Paulo aos filipenses, iniciamos o estudo do seu último capítulo, o capítulo 4.
– O cristão tem uma alegria espiritual que as dificuldades desta vida não podem suprimir.
I – A ALEGRIA RESULTANTE DA SALVAÇÃO EM CRISTO
– O apóstolo Paulo havia acabado de mostrar aos crentes de Filipos, em sua epístola, que nossa esperança, nosso alvo era a cidade celestial, de onde virá o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, a quem ele e os crentes estavam esperando, a fim de que ocorresse a glorificação, a última etapa do processo de salvação (Fp.3:20,21).
– O verdadeiro cristão é, portanto, aquele que tem como alvo e propósito atingir o estágio final do processo de salvação, que é a glorificação, o instante em que seu corpo abatido se transformará em corpo glorioso e ele passará a viver para sempre com o Senhor na Jerusalém celestial.
– Diante deste quadro maravilhoso que aguarda todo e qualquer cristão, e no qual o apóstolo faz a diferença entre os verdadeiros e genuínos cristãos e os falsos crentes, que ele chama de “inimigos da cruz de Cristo”, os quais pensam apenas em si mesmos, no seu bem-estar imediato, que não têm o céu como seu objetivo de vida.
– Diante de um quadro quetal, o apóstolo não tem a dizer aos filipenses senão que eles ficassem firmes no Senhor (Fp.4:1).
– O que está reservado para os crentes é extraordinário, maravilhoso, de modo que vale a pena sofrermos tudo quanto estamos a sofrer neste mundo, pois, como disse o próprio apóstolo, as aflições do tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Rm.8:18).
– O inimigo de nossas almas tem procurado, de todas as formas, promover a cegueira espiritual dos cristãos, a fim de que eles não possam contemplar, pelos olhos da fé, a glória que nos está prometida e que o Senhor Jesus fez questão de deixar como última imagem na Bíblia Sagrada, ao trazer a revelação ao apóstolo João na ilha de Patmos.
– Muitos, infelizmente, têm sido vencidos pelo inimigo e somente conseguem enxergar as benesses, as vantagens que são propagandeadas por este mundo, as ilusões deste mundo passageiro e enganoso e, por isso mesmo, deixam o caminho do Senhor e não mais têm a esperança da cidade celestial, da glória que nos está reservada. Mas, amados irmãos, prossigamos como o apóstolo Paulo, pensando no céu, esperando o céu, sabendo que tudo quanto aqui existe irá passar, mas o que o Senhor Jesus foi nos preparar é eterno e verdadeiro.
– Não são poucos aqueles que veem nesta atitude do apóstolo Paulo e que é de todo cristão uma “alienação”. Aliás, é isto mesmo que ensinam os marxistas, que, ao contrário do que muitos pensam, não saíram de cena com a derrocada dos regimes comunistas no final do século XX, mas estão mais atuantes do que nunca em nossos dias, visto que boa parte da mentalidade anticristã que hoje vigora no mundo advém dos pensamentos do chamado “marxismo cultural”, que tem, inclusive, feito adeptos entre os que cristãos se dizem ser.
– Muitos chegam mesmo a dizer que o verdadeiro cristão não é aquele que “pensa no céu”, mas, sim, aquele que “se envolve com as coisas terrenas para aqui fazer valer a doutrina cristã, para aqui estabelecer o reino de Deus”, como se costuma dizer entre os adeptos de teologias que se dizem “sociais” e “promotoras do verdadeiro amor cristão”.
– Não resta dúvida de que o verdadeiro cristão, enquanto se encontra neste mundo, a exemplo do seu Salvador e Senhor, é alguém que faz o bem e cura a todos os oprimidos do diabo (At.10:38), sendo, portanto, uma pessoa comprometida com a libertação do mundo do pecado e com a retirada das estruturas opressivas e injustas das sociedades construídas sob o jugo do pecado. No entanto, sabe muito bem que a verdadeira justiça somente se implantará nos novos céus e nova terra (II Pe.3:13), quando for extirpado o pecado e que, portanto, a maior luta contra a injustiça se dá através da pregação e vivência do Evangelho.
– No entanto, nossa esperança não está depositada nas coisas desta vida, pois, caso contrário, seremos os mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19), de sorte que é impossível, ao verdadeiro cristão, deixar de almejar e de ter como alvo e propósito a sua glorificação e o seu traslado para a cidade celestial.
– Para tanto, é absolutamente necessário que sejamos firmes no Senhor, como o apóstolo já havia alertado aos crentes de Corinto (I Co.15:58). A firmeza significa aqui a manutenção dos objetivos traçados no início da caminhada com Cristo. Como dizia um saudoso irmão, que serviu ao Senhor mais de 70 anos, é fundamental que mantenhamos o mesmo objetivo de ir para o céu que abraçamos quando recebemos a Jesus como único Senhor e Salvador de nossas vidas.
– A firmeza, ou seja, esta disposição de não mudar de foco, não modificar seu alvo, nem alterar o seu objetivo de ser fiel ao Senhor até o fim, deve ser feita “no Senhor”, ou seja, não podemos confiar em nós mesmos, pois maldito o homem que confia no homem (Jr.17:5), mas devemos estar firmes “no Senhor”, ou seja, buscar estar próximos d’Ele, dependermos sempre d’Ele, pois sabemos que aquele que se encontra na dependência e orientação do Senhor jamais poderá ser abalado em sua fé, jamais poderá ser derrotado pelo inimigo de nossas almas, pois ninguém pode arrebatar uma vida que se encontra nas mãos do Senhor (Jo.10:27,28).
– Por isso, a firmeza no Senhor exige um contínuo e incessante processo de santificação, a chamada “santificação progressiva”, de que algumas vezes já se falou durante este trimestre no estudo desta carta aos filipenses. Somente através da santificação, deste processo de continuada separação do pecado, é que nos colocaremos nas mãos do Senhor Jesus e, deste modo, conseguiremos forças para permanecer fiéis até o dia do arrebatamento da Igreja ou de nossa morte física.
– Paulo desejava que os filipenses estivessem firmes no Senhor como ele mesmo estava, apesar de todas as dificuldades que enfrentava. A certeza de que lhe aguardava um destino glorioso era suficiente para manter o apóstolo focado, inalterado em seus propósitos e objetivos estabelecidos no instante em que, no caminho de Damasco, se rendera ao Senhor Jesus.
– Esta firmeza, resultante do processo de santificação continuada, era a responsável pela geração, no apóstolo, como, aliás, em todo e qualquer crente que assim proceder, da geração do fruto do Espírito Santo. O Senhor Jesus foi enfático ao afirmar que quando escolhe alguém, escolhe para que este vá e dê fruto, e fruto permanente (Jo.15:16).
– Ora, como o próprio apóstolo irá mencionar na carta que escreveu aos gálatas 9Gl.5:22), este fruto do Espírito é dotado de nove qualidades, que distinguem o servo do Senhor dos demais seres humanos, qualidades estas que são, também, menconadas pelo Senhor Jesus como sendo as bem-aventuranças dos Seus discípulos (Mt.5:3-12).
– A primeira destas qualidades, considerada como sendo a qualidade primordial da qual as demais seriam meros desdobramentos, é o amor “agape”, o amor divino, que é derramado pelo Espírito Santo em nossos corações (Rm.5:5).
– A segunda das qualidades mencionada pelo apóstolo é, precisamente, a alegria (ou gozo), que surge, segundo alguns estudiosos, como o primeiro desdobramento do amor. Assim, o apóstolo dá-nos a entender que a alegria espiritual é a primeira qualidade que exsurge do cristão após ter ele recebido o amor divino em seu coração. Mas o que é a alegria segundo a Bíblia?
OBS: “…uma das maneiras mais autênticas pelas quais o verdadeiro amor se manifesta é através da alegria. Não é uma verdade facilmente reconhecida que nós sentimos alegria em estar com as pessoas que amamos? Com efeito, uma das provas mais evidentes do amor que dizemos sentir pelos nossos irmãos é o prazer que temos em nosso íntimo cada vez em que nos lembramos deles ou em que temos a oportunidade de estar juntos com eles.…” (PIMENTEL, Vinicius S. Meditações em Filipenses-II: graças a Deus! Disponível em: preciosocristo.wordpress.com/2012/04/08/meditacoes-em-filipenses-ii-gracas-a-deus/ Acesso em 05 jul. 2013).
– A Bíblia apresenta como sendo “gozo” ou “alegria” a segunda qualidade do fruto do Espírito em Gl.5:22, palavra que, no original grego, é “chara” (χαρά), palavra que vem da mesma raiz de “charis” (χάρις), que significa “graça”, ou seja, “favor imerecido”. Já pela origem da palavra, vemos, portanto, que a alegria é resultante da graça, ou seja, é consequência do favor de Deus ao homem, favor este que nos permitiu retornar a ter comunhão com Ele, por meio de Jesus Cristo (Ef.2:8).
– A palavra “alegria” vem de “alegre”, que os dicionaristas de nossa língua dizem ser uma palavra que vem do latim “alacer”, cujo significado primeiro era “vivo, animado, feliz, bem-disposto”. “Feliz”, por sua vez, tem sua origem em “felix”, palavra latina que vem de “foecus”, que significa “fecundo, fértil”. Observamos, portanto, que, pela própria origem da palavra, notamos que a alegria está vinculada a uma fecundação, que nada mais é que a figura do novo nascimento, do nascimento espiritual mediante a aceitação de Cristo como nosso único e suficiente Salvador.
– Uma pessoa alegre é uma pessoa que está em um estado de viva satisfação, de vivo contentamento, dizem os dicionaristas. É a forte impressão de prazer causada pela posse de um bem, ou seja, é a consequência de alguém ter recebido a salvação, a vida eterna, quando aceita a Cristo como seu único e suficiente Salvador. Por isso, Jesus mesmo disse aos discípulos, quando eles voltavam alegres pela bem sucedida missão de pregação nas aldeias judias, que eles deveriam estar alegres ao saber que seus nomes estavam escritos nos céus (Lc.10:20).
– A palavra “alegria” surge, pela primeira vez nas Escrituras (Versão Almeida Revista e Corrigida), quando Labão indaga Jacó sobre a sua saída oculta de Padã-Arã, quando o sogro enganador de Israel afirmou que, caso Jacó lhe tivesse avisado que iria embora, isto seria motivo para comemoração, para celebração, demonstrando, assim, que também era seu desejo a separação de seu genro (Gn.31:27). Desde logo, pois, vemos que a “alegria” a que se referia Labão era muito mais um “contentamento”, ou seja, uma situação cujos desejos são atendidos ou realizados, algo que depende das circunstâncias, daquilo que está à nossa volta, pois é a convergência entre os nossos desejos e a realidade que nos cerca. Labão queria que Jacó fosse embora, pois achava que estava sendo trapaceado pelo genro e que o genro era a causa de seu empobrecimento e, como Jacó decidira partir (o que, efetivamente, foi feito), isto era a concretização do desejo secreto de Labão, razão pela qual a despedida se faria com “alegria”, ou seja, com contentamento, pois os fatos vinham de encontro ao desejo do coração.
– Notamos, pois, de pronto, que existem duas “alegrias”: aquela que vem de fora para dentro, ou seja, aquela manifestada como reação pela ocorrência de fatos que eram desejados pelas pessoas, que causam um sentimento de satisfação, que, no rigor da palavra, é chamada de “contentamento”. O “contentamento” é um estado passageiro, momentâneo, pois resulta da realização de um desejo, realização esta que é marcada no tempo e, como tudo que depende do tempo, passa, não sendo mais do que simples lembrança, agradável lembrança muitas vezes, mas não mais do que lembrança. Não é este “contentamento” de que tratamos neste estudo, pois este “contentamento” não é originário de Deus, mas resultado da conformidade entre os desejos humanos e a ocorrência dos fatos.
– Este “contentamento” é o que se chama de “momentos felizes”. É a conformidade dos fatos aos nossos desejos, e é a isso que o mundo sem Deus e sem salvação chama de “felicidade”, de “alegria”. São estes momentos de satisfação e de realização que são freneticamente procurados pelos homens nos nossos dias e que explicam toda a ânsia, toda a corrida por fama, posição social, dinheiro e prazer que tanto caracteriza os dias que vivemos. O apóstolo Paulo, mesmo, disse que, nos últimos dias, haveria homens amantes de si mesmos, que seriam mais amigos dos deleites, ou seja, dos prazeres, do que amigos de Deus (II Tm.3:1-4).
– A psicologia, mesmo, tem definido o homem como um “ser que deseja” e entende que todas as ações dos homens são resultantes desta busca, desta procura de concretização dos desejos que nascem no coração do homem. Vemos, aliás, que isto já era anotado nas Escrituras, que confirma esta “natureza desejante” do ser humano, tanto que Tiago afirma que o homem peca quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência, que nada mais é que a cobiça, ou seja, o desejo imoderado de possuir. Quando não refreamos os nossos desejos, quando não submetemos a nossa vontade a Deus, trasbordamos os limites da equidade e da justiça e pecamos, enganados que somos pela nossa própria concupiscência, como, aliás, fizeram os nossos pais no Éden, que, desejando ser iguais a Deus, desobedeceram e pecaram (Gn.3:6). Por isso, adverte-nos o profeta de que o coração do homem é extremamente enganoso (Jr.17:9).
– Esta conformidade dos fatos com os nossos desejos ocorre mesmo quando os desejos do homem não estão de acordo com a vontade de Deus. Há contentamento por parte do ímpio, embora este contentamento, diz-nos a Palavra, seja breve e momentâneo (Jó 20:4,5). A alegria que brota do coração do homem tem fim e se converte em tristeza (Pv.14:13), algo passageiro, que o próprio Salomão considerou como também sendo vaidade (Ec.2:1,2). Não nos surpreendemos, então, com o aumento da chamada “indústria do entretenimento”, que cresce assustadoramente, já que há uma grande procura no mundo de algo que promova divertimento, que promova alegria, entendida esta alegria como o “contentamento”, ou seja, a conformação dos desejos com fatos que ocorram e tragam satisfação. Muitos têm buscado estas “casas da alegria”, esquecendo-se, porém, que, como disse o pregador, são casas reservadas aos tolos (Ec.7:4), pois tudo não passa de ilusão, de engano, que não conseguirá esconder a realidade da eternidade na vida de cada um, que não resistirá ao juízo divino (Is.32:13).
– A segunda “alegria” é a que não tem origem no coração do homem, que não é a conformidade entre os desejos humanos e os fatos da realidade, mas a “alegria” que provém de Deus, pois, como disse o apóstolo Paulo, “…o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”. (Rm.14:17). Esta alegria é um estado de viva satisfação, é a forte impressão de prazer, é demonstração de vida espiritual, vida esta que só é possível no instante em que deixamos de estar separados de Deus, mediante o perdão dos nossos pecados por Deus, por causa do sangue de Jesus Cristo derramado na cruz do Calvário.
– Quando aceitamos a Cristo como nosso único e suficiente Salvador, nossos pecados são perdoados e passamos a ter comunhão com Deus. Esta restauração da comunicação de Deus conosco é a vivificação do nosso espírito pelo Espírito de Deus (I Co.15:22). Passamos da morte para a vida (I Jo.3:14a), passamos a pertencer à videira verdadeira e, por conseguinte, a dar fruto (Jo.15:4), fruto este que tem como uma de suas qualidades a alegria ou gozo (Gl.5:22).
OBS: Estamos usando indistintamente, neste estudo, as palavras “alegria” e “gozo”. A palavra “gozo” é usada na Versão Almeida Revista e Corrigida para traduzir “chara” em Gl.5:22, palavra, aliás, que foi substituída por “alegria” na Versão Almeida Revista e Atualizada. A palavra “gozo” vem de “gaudium” que, em latim, significava, também, alegria. Vemos, pois, que, etimologicamente, as palavras não têm significados distintos, embora à palavra “gozo” esteja associada, modernamente, a idéia de “prazer extremo que provém da posse de alguma coisa”, de “satisfação de uma atividade física, moral ou intelectual”.
– A alegria que é uma das qualidades do fruto do Espírito, portanto, é um sentimento que somente o salvo pode sentir, pois é o resultado da salvação. É a alegria mencionada pelo salmista no Sl.4, Aqui o salmista Davi está angustiado, mostra todo um sentimento de inconformismo com a triste realidade espiritual da humanidade, que rejeita a verdade e procura a mentira. Mas, em meio a este estado, o salmista revela que não está triste, porque Deus o separou do pecado e lhe deu condições de servi-lO, o que é possível porque o próprio Deus pôs alegria no coração, alegria esta que é maior do que nos instantes felizes da vida, que foram figurados como sendo os momentos da colheita (Sl.4:7).
– A alegria que é fruto do Espírito Santo tem sua origem em Deus, é Deus quem a coloca em nosso coração e, por isso, não depende dos fatos que ocorrem à nossa volta, das circunstâncias. É uma alegria que foi derramada em nossos corações, pois é um verdadeiro óleo com o qual somos ungidos pelo Senhor (Sl.45:7). Jesus veio trazer esta alegria, este óleo de gozo para substituir a nossa tristeza do tempo em que vivíamos em pecado (Is.61:3). A alegria que sentimos não depende de nada que está ao nosso redor, nem se abala com o que pode acontecer conosco, pois esta alegria é o próprio Deus que habita em nós (Sl.43:4).
OBS: “…A alegria resulta da influência celestial sobre nosso homem interior. Jamais poderá ser equiparada com aquilo que o mundo chama erroneamente de felicidade. A felicidade depende das circunstâncias, e estas são instáveis. A alegria verdadeira consiste em um sentimento constante de bem-estar no íntimo, causado pelo ministério do Espírito de Deus, que transmite à alma o bem-estar de Cristo. E isso é para nós um tesouro inestimável.…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.6).
– Esta alegria é resultado imediato do perdão dos nossos pecados e da restauração da nossa comunhão com Deus. Davi tinha plena compreensão a respeito disto, tanto que, quando pecou, quando sentiu que não mais tinha comunicação com Deus, pediu ao Senhor que lhe tornasse a dar “a alegria da salvação” (Sl.51:12). A alegria verdadeira, permanente é consequência da salvação, da vida de comunhão com Deus por intermédio de Cristo Jesus.
– Esta alegria não é de todos os homens, portanto, mas é restrita aos justos (Sl.68:3), para os retos de coração (Sl.97:11), para os que aconselham a paz (Pv.12:20). Quem é justo? Justo é aquele que crê em Jesus e tem, por isso, é justificado pela fé, tendo paz com Deus (Rm.5:1). Quem é reto de coração? É aquele que é direito, que é correto, cujo coração está de acordo com a Palavra de Deus, que ouve e pratica as palavras do Senhor, seguindo o caminho reto, ainda que estreito (Mt.7:13,14,24,25). Daí porque a lei do Senhor ser chamada de alegria do homem (Sl.119:92). Quem aconselha a paz? Quem aconselha a paz é o pacificador e o pacificador é o filho de Deus (Mt.5:9), ou seja, aquele em quem o Espírito Santo habita (Rm.8:9).
II – A ALEGRIA DO APÓSTOLO PAULO EM GANHAR ALMAS PARA CRISTO
– É esta a alegria que Paulo tinha e que queria que os crentes de Filipos também tivessem. Mas, além desta alegria espiritual, que os mantinha e os manteria firmes no Senhor, o apóstolo diz que os filipenses eram “sua alegria e coroa” (Fp.4:1).
– O apóstolo diz que os seus “amados e queridos irmãos” em Filipos eram a “sua alegria e coroa”, a demonstrar, portanto, que a simples existência da igreja em Filipos já era motivo de alegria para o apóstolo.
– Temos aqui a oitava alegria da epístola de Paulo aos Filipenses, a “alegria de quem ganha almas para Cristo”. “…Nenhuma igreja local que Paulo conseguiu fundar dava-lhe maior alegria do que a dos filipenses. Foi as primícias de Cristo na Europa, e foi fundada em muita tribulação. Era igreja leal ao seu fundador, uma lealdade provada através dos tempos, mas que nunca falhava. Não é de admirar que Paulo se alegra na igreja: ‘…meus amados e mui saudosos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados’! Ah! meus irmãos, que alegria quando encontramos os nossos filhos na fé ‘…andando na verdade, assim como recebemos o mandamento do Pai’!(II João v.4).…” (SENA NETO, José Barbosa de. Filipenses: a carta da alegria! Disponível em: http://prbarbosaneto.blogspot.com.br/2008/01/carta-aos-filipenses-carta-da-alegria.html Acesso em 03 jul. 2013).
– Temos tido esta alegria? Desejamos ver as almas se rendendo aos pés do Senhor Jesus e alcançando a salvação, a vida eterna? Tem sido esta uma fonte de satisfação em nossas vidas? Ou pouco nos importamos com a conversão das almas?
– O apóstolo Paulo tinha imenso prazer em ver que seus filhos na fé prosseguiam sua jornada rumo ao céu, que seu trabalho não tinha sido em vão e que a igreja de Filipos, por mais que lhe ajudasse no seu ministério, não tinha outra intenção senão ir para o céu.
– Como seria bom que os cristãos tivessem este mesmo sentimento, que buscassem verdadeiramente a salvação das almas, que tivessem como fonte de satisfação ver as vidas se rendendo a Jesus Cristo!
– Salomão disse que quem ganha almas, sábio é (Pv.11:30) e, dentro do chamado “paralelismo hebraico”, que traduz a mesma ideia por duas expressões distintas, vemos que esta sabedoria que leva a pessoa a ganhar almas nada mais é que “o fruto do justo”, que é “árvore de vida”.
– Ora, nós sabemos que a “árvore da vida” era a árvore que ficava no centro do jardim plantado por Deus no Éden, que levava o homem à eternidade, tanto que teve seu caminho proibido ao homem após o pecado (Gn.3:22-24). Ganhar almas, portanto, nada mais é que levar a comunhão, a eternidade aos demais homens, e isto é o verdadeiro “fruto do justo”.
– Por isso, há quem entenda que os “frutos dignos do arrependimento” de que falava João Batista como condição de submissão para o seu batismo (Mt.3:8) era, precisamente, o de levar alguém para também ser batizado pelo profeta às margens do rio Jordão.
– Paulo alegrava-se por ver a igreja de Filipos, resultado do início da sua evangelização na sua segunda viagem missionária, servindo a Deus intensamente, não só ajudando o ministério do apóstolo, mas, também, se esforçando para ganhar almas para o reino de Deus. Eram, por isso, a sua “coroa”, ou seja, o seu prêmio, a sua recompensa pelo esforço despendido durante todos aqueles dez anos, mais ou menos, em que estava sendo sustentado por aqueles crentes.
– Paulo não se preocupava em ter uma posição social, uma posição privilegiada depois de tantos anos de trabalho para o Senhor. Sua alegria não era a obtenção de um bem-estar material que traduzisse todo o seu esforço na obra do Senhor, mas, sim, ver que seus filhos na fé se esforçavam, tanto quanto ele, para ganhar almas para o reino de Deus.
– Que diferença para muitos obreiros da atualidade que, tendo se esforçado sobremaneira na obra de Deus, acham que estão a merecer uma vida regalada no presente, como “recompensa”, “galardão” pelo esforço despendido no início de seus ministérios. Nada mais antibíblico, pois ninguém milita na seara de Cristo para ter vantagens e recompensas neste mundo, mas, sim, para alcançar a cidade celestial.
– Paulo, depois de um esforço imenso para o trabalho do Senhor, encontrava-se preso em Roma, numa casa alugada, dependendo da ajuda financeira dos filipenses, mas isto, em momento algum, diminuiu-lhe a alegria espiritual. O apóstolo não desejava bem-estar neste mundo, mas, sim, que os crentes tivessem o mesmo amor pelas almas perdidas que ele mesmo possuía.
– Muitos, na atualidade, não têm qualquer preocupação com a estagnação espiritual em que se encontra a grande maioria das igrejas locais, onde não há conversões, não há operação do Espírito Santo. Estão contentes apenas com a “manutenção da membresia”, com a “alegria” decorrente das inúmeras festividades. Já há até mesmo igrejas onde nem sequer um apelo é feito ao final do culto, pois já se sabe, de antemão, que não há qualquer pessoa incrédula a assistir-lhe. Onde está a alegria em ganhar almas para Cristo?
III – O APELO DO APÓSTOLO PAULO EM FAVOR DE DUAS MULHERES DA IGREJA DE FILIPOS
– Depois de desejar que os crentes de Filipos tivessem o mesmo foco pelo céu que ele mesmo possuía, Paulo, após revelar que tinha alegria espiritual pelos seus filhos na fé, faz um pedido inusitado ao seu “verdadeiro companheiro”, que a epístola não identifica quem seja, achando uns que se trataria do próprio Epafrodito, que seria o portador da carta, ou, mesmo, o pastor da igreja em Filipos, cuja identidade seja desconhecida (Fp.4:3).
– Este pedido, endereçado a este “verdadeiro companheiro”, que, no texto original grego, significa “companheiro de jugo”, expressão que denota, uma vez mais, a humildade do apóstolo, que não se considerava superior a pessoa alguma, apesar de sua posição de apóstolo e fundador da igreja em Filipos, era no sentido de que intercedesse junto a Evódia e a Síntique para que elas “sentissem o mesmo no Senhor” (Fp.4:2).
– Vemos aqui o cuidado pastoral do apóstolo Paulo. Certamente, dentre as muitas notícias recebidas de Epafrodito e dos outros crentes de Filipos que vinham visitá-lo, o apóstolo soube que as pessoas que mais se angustiavam e estavam abaladas por causa de sua prisão eram as irmãs Evódia e Síntique. Daí porque o cuidado especial de Paulo para que elas também se alegrassem no Senhor e deixassem de lado esta tristeza que estava a comprometer-lhe a própria continuidade da vida cristã.
– Este cuidado do apóstolo Paulo para com estas duas irmãs filipenses, que são especificamente nomeadas por ele na epístola, mostra-nos, claramente, que o tratamento pastoral, o relacionamento com os irmãos deve ser um relacionamento pessoal, afetivo e direto.
– Vivemos dias onde as igrejas locais têm se tornado impessoais, distantes, onde o tratamento que se dá é um “tratamento de massa”, onde não contato interpessoal, onde não há um efetivo e verdadeiro relacionamento, onde as pessoas se sentem sós e isoladas, onde se está numa multidão e não em um grupo social.
– Tal circunstância é frontalmente contrária ao modelo bíblico estabelecido para a igreja, pois, como vemos em Atos dos Apóstolos, a igreja primitiva era um grupo social primário, ou seja, um grupo onde as pessoas compartilham suas vidas e seus sentimentos, tendo uma unidade que permite que todos se ajudem mutuamente para chegarem aos céus (At.2:42-47).
– Nos dias em que vivemos, porém, as igrejas locais nem grupos sociais têm sido. Como define o filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos, “…o grupo social é uma sociedade composta de indivíduos unidos entre si e distintos de outros indivíduos por relações sociais positivas e complementares. Para que um grupo surja, necessita de relações sociais positivas e complementares, a fim de ligar indivíduos isolados, Indivíduos isolados, quando seus interesses entram em jogo, unem-se para tomar uma atitude em defesa dos mesmos.…” (Sociologia fundamental e ética fundamental, p.40).
– Ora, muitas das igrejas locais, em nossos dias, não retiram sequer a condição de indivíduos isolados dos seus membros, que apenas se reúnem nos cultos, sem ter qualquer interação com os demais crentes, o que faz com que haja, na verdade, uma “multidão”, que, na Bíblia Sagrada, é um grupo totalmente distinto do dos discípulos de Jesus (cfr. Mt.13:3,10). Negam, portanto, no seu dia-a-dia, o serem parcela do corpo de Cristo.
– Paulo, porém, não partilhava desta “filosofia da massa” que se vive em muitos lugares em nossos dias. Ele conhecia os crentes que havia ganhado para Cristo e, ao saber de que Evódia e Síntique estavam particularmente deprimidas com a sua situação, faz um pedido especial ao seu “verdadeiro companheiro”, que, como era “companheiro de jugo” do apóstolo, tinha o mesmo sentimento daquele, para que fizesse com que a alegria voltasse à vida daquelas duas irmãs.
– É fundamental que o pastor, aquele que apascenta as ovelhas do rebanho do Senhor, conheça as suas ovelhas, saiba identificá-las, conheça-as por nome. Quando uma igreja local passa a ter um grande número de membros, é fundamental que haja uma estrutura interna que permita que haja esta interação e este contato pessoal entre os membros e alguns membros do ministério, sem o que não se poderá cumprir o papel destinado pelo Senhor, que é o de fazer o da igreja local um lugar de comunhão.
– Evódia, cujo nome significa “fragante, cheirosa” e Síntique, cujo nome significa “afortunada”, eram irmãs que estavam precisando de estímulo, incentivo, que desfrutassem da alegria espiritual que todos os demais crentes possuíam, a despeito do sofrimento que tinham por ver a situação do apóstolo. Para tanto, era preciso que fossem conscientizadas da glória que lhes estava reservada e que tudo o que estava acontecendo com o apóstolo era da vontade do Senhor e para o cumprimento de seu ministério.
– Este cuidado pessoal e específico com cada ovelha do rebanho do Senhor não é uma opção para o pastor, é um dever, tanto que, como vimos em lições anteriores, o Senhor tratará duramente com aqueles que não tiverem tal zelo em seu ministério (Ez.34).
– Outro ponto importante que vemos nesta passagem é que aqui se tem mais uma demonstração bíblica de que o apóstolo Paulo não era machista, como tem sido acusado ultimamente, inclusive por alguns que cristãos se dizem ser. Paulo demonstrou toda a sua preocupação com duas mulheres, a provar que tratava igualmente tanto homens quanto mulheres, pois, como ele próprio escreveu aos coríntios, “…nem o varão é sem a mulher, nem a mulher sem o varão, no Senhor, porque, como a mulher provém do varão, assim também o varão provém da mulher, mas tudo vem de Deus” (I Co.11:11,12).
– Evódia e Síntique haviam trabalhado com o apóstolo no evangelho, o que significa que tinham atividade na obra do Senhor. Há lugar na obra do Senhor tanto para homens como para mulheres, mas como homem e mulher são diferentes, as atividades de um e de outro também são distintas na igreja local.
– Percebamos que Evódia e Síntique trabalharam com o apóstolo no evangelho, mas não eram “ministras” nem tampouco “pastoras”, tanto que Paulo pede a que seu “verdadeiro companheiro” as ajudasse. Isto mostra claramente que não há lugar, na igreja estabelecida por Cristo Jesus, para o “ministério feminino da palavra”, lugar ocupado exclusivamente por homens, pois para isto o Senhor criou o varão.
– Evódia e Síntique, no entanto, eram consideradas como cooperadoras no evangelho, tanto quanto Clemente e outros homens que haviam trabalhado junto com o apóstolo. Todos devem trabalhar na obra do Senhor, todos devem ter funções na igreja local, mas cada um segundo a vocação que lhes foi dada pelo Senhor, Senhor este que destinou exclusivamente aos homens o episcopado ou o diaconato.
– Nos dias em que vivemos, lamentavelmente se tem adotado uma mentalidade “feminista” que é antibíblica, vez que fundada num “igualitarismo” que pretende desfazer as diferenças entre homem e mulher, comportamento que é antibíblico e contrário à vontade de Deus, pois tal distinção não é fruto de uma “cultura”, como defendem as feministas, mas algo que advém do próprio Deus, da própria natureza.
– Evódia e Síntique, sem serem “ministras”, eram cooperadoras na obra de Deus, trabalharam muito com o apóstolo Paulo e, por isso mesmo, encontravam-se desestimuladas e abaladas com a prolongada prisão daquele a quem tanto tinham ajudado na evangelização. Por isso, o apóstolo queria que elas tivessem, de novo, a mesma alegria espiritual que Paulo estava a desfrutar.
– Por isso, o apóstolo foi bem enfático ao terminar este seu pedido a seu “verdadeiro companheiro”: “regozijai-vos no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos” (Fp.4:4).
– A alegria espiritual seria alcançada por Evódia e Síntique, como também o será por todos os cristãos, se eles se voltarem para o Senhor Jesus Cristo. Somente “no Senhor” podemos nos alegrar. Somente há alegria se estivermos em Cristo, ou seja, se O comtemplarmos como nosso alvo, como nosso exemplo, como nosso princípio e fim. Se olharmos para os problemas e dificuldades, não teremos como desfrutar a alegria espiritual. Ele precisa ser uma alegria “no Senhor”. Temos nos voltado a Cristo em meio às cada vez maiores dificuldades de servi-l”o neste mundo? Pensemos nisto!
– Como afirma Russell Norman Champlin, “…temos aqui o chamamento não apenas para o regozijo, mas também para um desenvolvimento espiritual superior, o que nos confere confiança, alegria e o senso de bem-estar, a despeito de nossas circunstâncias externas…” (Novo Testamento interpretado versículo por versículo, com, Fp.4:4, v.5, p.61).
– O cristão, como Evódia, é “cheiroso”, ou seja, tem o “bom cheiro de Cristo” (II Co.2:15); como Síntique, o cristão é “afortunado”. Por isso, em meio às muitas tribulações, que são indispensáveis para quem deseja chegar aos céus (At.14:22), não podemos deixar de ter consciência de que nada do que ocorre pode alterar a nossa condição de sermos portadores do “bom cheiro de Cristo” e de termos a “fortuna” de estarmos caminhando para o céu. Como diz o pastor e poeta sacro Samuel Nyström: “Para o céu eu vou, embora for nublado, o caminho, às vezes, espinhosos está. Por Jesus, meu Mestre, sempre bem fuiado, em Seus passos, sigo, até que chegue lá. Aleluia! Pro céu vou caminhando, nada me desanimará! Para o céu eu me vou aproximando, sempre meu Jesus me guiará!“ (primeira estrofe e refrão do hino 332 a Harpa Cristã).
– Esta alegria, ademais, não é passageira, nem aparece ou desaparece conforme as circunstâncias, como já vimos supra. Por isso, o apóstolo insiste que tal alegria deveria se dar “sempre”. Como afirma Champlin, “…há aqui um volver de olhos para o futuro, quando as tribulações se tornavam muito severas. Não somente agora, em período de calma relativa, mas também no futuro, quando os testes mais difíceis atingissem os crentes filipenses, eles precisavam de ‘alegria’ produzida pelo desenvolvimento espiritual. De fato, não há nenhuma ocasião em que nossa ocasião com Cristo venha a ser maculada de modo a remover de nós a alegria.…” (ibid.)
IV – A ALEGRIA RESULTA EM EQUIDADE E PAZ
– Mas, o apóstolo não queria apenas que os filipenses sentissem a alegria no Senhor de forma perene e permanente, sabendo a glória que lhes estaria reservada na eternidade, mas, também, que esta alegria espiritual produzisse nos seus filhos na fé duas coisas importantíssimas: equidade e paz.
– Como temos consciência de que está nos reservado um futuro glorioso, temos de mostrar que temos o amor de Deus, que somos diferentes dos demais homens, que estamos a caminhar para o céu. E como se manifesta esta nossa filiação divina, esta nossa distinção em relação aos demais seres humanos? Através da “equidade”, ou seja, da justiça, da graciosidade, gentileza, clemência e tolerância, que é o significado de “epiekeis” (επιεικές), que é o termo original grego utilizado aqui pelo apóstolo (Fp.4:5).
– Uma vez mais o apóstolo Paulo mostra não estar a trazer qualquer inovação, mas a aplicar exclusivamente o que o Senhor Jesus havia ensinado. Quando elencou as qualidades de Seus discípulos no sermão do monte, o Senhor foi claríssimo ao afirmar que a justiça deles deveria exceder a dos escribas e fariseus, se quisessem entrar no reino dos céus (Mt.5:20).
– Vemos, portanto, que sentido algum tem aqueles que consideram que os crentes serão “alienados” se tiverem como foco o seu futuro glorioso, o arrebatamento da Igreja, a glorificação. Quando um cristão tem este objetivo, quando persegue vencer todas as dificuldades terrenas para chegar ao futuro glorioso que lhe está reservado, ele passa a ter uma vida justa, ele passa a praticar a justiça nesta Terra, de tal modo que sua equidade seja notória a todos os homens.
– O crente que real e sinceramente pensa no céu é uma pessoa que vive neste século sóbria, pia e justamente (Tt.2:12), procurando ter uma maneira de viver separada do pecado e que agrade ao Senhor Jesus.
– Ora, se o cristão vive justamente neste século, é evidente que não compactuará com as estruturas injustas existentes na sociedade pecaminosa, de sorte que sempre trará mais justiça para o ambiente social, como também lutará para que esta justiça ocorra cada vez mais. Não é à toa que todo o desenvolvimento da ética na história da humanidade e uma maior justiça entre os homens esteja sempre vinculada à atuação da Igreja entre os homens.
– O cristão tem ainda um motivo a mais para ser justo e ter uma vida que o caracteriza como uma pessoa correta entre todos os homens. É o fato de que o Senhor está perto (Fp.4:5). A proximidade da volta de Cristo, o cumprimento dos sinais que Ele mesmo indicou em Seu sermão escatológico são um fator a mais para termos uma vida justa, uma vida que não dê margem a escândalo nem aos judeus, nem aos gentios, nem à igreja de Deus (I Co.10:32).
– A vida com “equidade” faz com que sejamos moderados, nem justos demais, nem injustos demais (Ec.7:16,17). É por isso que o filósofo Aristóteles, ao usar o termo empregado aqui pelo apóstolo Paulo, contrasta esta virtude com o “julgamento severo” em sua conhecida obra “Ética a Nicômaco”.
– Seguindo as palavras do sábio Salomão, percebemos que, em nossa jornada terrena, sabendo que o Senhor está próximo, temos de ser tolerantes e não podemos fazer um julgamento severo, rígido, nem misericórdia, pois, se assim agirmos, estaremos abrindo mão do amor divino que nos foi concedido pela graça.
– Esta tolerância, clemência e complacência, entendamos, deve ser dirigida ao pecador, jamais ao pecado. Não se trata de compactuar com a injustiça, pois isto não seria agir justamente, mas, sim, agir de tal maneira a que nos apiedemos daqueles que estão caminhando para a perdição, possibilitando-lhes alcançar a salvação na pessoa de Jesus Cristo.
– Mas a alegria espiritual também tem outra consequência, que é a “paz de Deus”. Quem é alegre no Senhor, tem a paz de Deus e é por isso que Paulo deseja que esta paz de Deus, que excede todo o entendimento, guarde os corações e os sentimentos dos crentes de Filipos (Fp.4:7).
– Quando temos a alegria espiritual, o primeiro dos desdobramentos do amor divino em nosso ser, em nossa conduta, logo recebemos a terceira qualidade do fruto do Espírito, que é a paz (Gl.5:22).
– Paz, na língua hebraica (língua em que se escreveu a quase totalidade do Antigo Testamento), é “shalom”(שלם ), que, muito provavelmente, é a palavra hebraica mais conhecida no mundo. A ideia israelita de “shalom” é diferente da ideia que se disseminou posteriormente entre os povos, mormente entre os gregos. “…As palavras hebraicas se formam a partir de radicais. A raiz da palavra shalom é formada pelas letras shim(ש), lâmed (ל) e mem(ם). A palavra shalem, que significa quitar, tem a mesma raiz de shalom.
Podemos, então, entender que, quando não temos dívidas, sejam elas da espécie que forem – financeiras, promessas, compromissos, deveres religiosos, morais – conseguimos estar em paz; shalem significa também – completo, íntegro, o que indica que paz significa integridade – a pessoa alcança a paz ao se tornar completa, íntegra.…” (MALCA, José Schorr e COELHO, Antonio Carlos. Shalom é mais do que paz. Jornal de ciência e de fé. dez. 2002. http://www.google.com/search?q=cache:6N7CLr58BLYJ:www.cienciaefe.org.br/jornal/dez02/mt06.htm+paz,+Talmude&hl=pt-BR Acesso em 18 dez.2004). “…Basicamente, o vocábulo empregado no Antigo Testamento com o sentido de ‘paz’, shãlôm, significa ‘algo completo’, ‘saúde’, ‘bem estar’.…” (DOUGLAS, J.D. (org.). Paz. In: O Novo Dicionário da Bíblia. v.2, p.1233).
– A paz de Deus é, propriamente, a paz que é mencionada como uma das qualidades do fruto do Espírito em Gl.5:22. No Antigo Testamento, uma das figuras que se dá à paz é a do rio, que mantém o curso de suas águas de forma clama e tranquila, sem qualquer sobressalto, quando não se está em época de cheias ou de qualquer intempérie (Is.48:18; 66:12). Isto nos mostra, claramente, que a paz de Deus é consequência direta e inevitável da paz com Deus. Quem tem paz com Deus, transmite aos outros homens e a si mesmo a paz de Deus, ou seja, um sentimento de tranquilidade e confiança que é gerado em nós pelo Espírito Santo, mediante o qual, mesmo nas maiores aflições e dificuldades, não somos abalados, não perdemos a nossa confiança em Deus, nem muito menos a direção que devemos seguir.
– A paz de Deus excede todo o nosso entendimento, ou seja, não é resultado de um controle sobre a nossa mente, não é fruto de “exercícios espirituais”, de “meditação” ou “técnicas de relaxamento”, mas é obra do Espírito Santo na vida do crente. A finalidade da paz, dizem-nos as Escrituras, é guardar os nossos sentimentos e os nossos corações em Cristo Jesus. Foi por isso que Jesus, ao Se apresentar aos discípulos na tarde do dia da Sua ressurreição, logo os saudou com a “paz”. “Paz seja convosco”, disse Jesus, pois o que os discípulos mais precisavam naquele instante era da paz de Deus, da paz de Cristo que dá alento ao crente e que o permite conservar-se santo e irrepreensível aguardando o Senhor. A Bíblia, 365 vezes, contém a expressão “Não temais”, uma para cada dia do ano, precisamente para que os salvos não tenham medo, não se deixem abalar, mas desfrutem da paz de Deus.
OBS: “…A paz de Cristo é a própria presença do Senhor em nossa vida, e como Cristo é eterno, logo a paz que Ele dá é permanente, duradoura. A paz de Jesus ultrapassa qualquer coisa que possa ser alcançada pela disciplina mental, como aquela que é frisada pelos filósofos. A paz do Senhor é um presente celestial, é um contacto com o próprio Deus com a alma, por meio do Espírito Santo.…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.92).
– A paz de Deus é o alvo de todo o cotidiano da vida cristã, é a base da continuidade e da perseverança que nos levará ao estágio final da salvação (Mt.24:13), salvação que é o objetivo de toda vida espiritual (I Pe.1:9). Devemos seguir a paz (Hb.12:14a), porque é esta paz que tem de dominar os nossos corações, dando-se condição para prosseguirmos na vida com Cristo. Não podemos viver sem paz, pois a falta de paz em nossas vidas gerará ansiedade que nos trará, como disse Martinho Lutero, a desconfiança e “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb.11:6a). Pedro desfrutou desta experiência e manda que lancemos toda a nossa ansiedade sobre o Senhor, porque Ele tem cuidado de nós (I Pe.5:7). Ao lermos esta passagem, não temos como deixar de lembrar que Pedro quase morreu afogado porque se deixou abalar pelas circunstâncias do vento, das ondas e da tempestade, ao invés de desfrutar da paz de Deus que emanava da pessoa de Cristo e mediante a qual ele estava andando sobre as águas. Naquela oportunidade, foi chamado de homem de pouca fé, porque se deixou apavorar, perdeu a paz de Deus na sua vida.
– O apóstolo Paulo sabia que a alegria espiritual decorrente da esperança do futuro glorioso gerava paz nos crentes, que, assim, apesar de todas as aflições e dificuldades, continuariam a ter uma tranquilidade que tem como fonte o seu próprio interior, sabendo que nada os pode tirar da glória que lhes está reservada.
– Esta paz faz com que tenhamos o nosso interior (corações) e as nossas emoções (sentimentos) devidamente controladas pelo Senhor Jesus, por meio do Espírito Santo.
– É precisamente por isso que não podemos nos inquietar quando nos assolam as aflições e dificuldades, não podemos nos deixar vencer pelo desânimo e pela desconfiança, crendo que o Senhor está no controle de todas as coisas. Devemos lançar sobre o Senhor as nossas ansiedades e apresentar a Ele as nossas petições pela oração e súplicas, com ação de graças (Fp.4:6).
– Mais uma vez vemos que uma etapa necessária para que haja comunhão com Deus é a comunicação. A paz, que é esta completude com Deus, é o fruto e a demonstração desta comunhão com o Senhor , dá-se através de uma vida de oração, de uma intensa comunicação com o Senhor por intermédio da oração e das súplicas, com ação de graças. Como afirma o pasotr chinês Vincent Cheung, “…A oração e a ação de graças volta a mente ansiosa da pessoa para uma direção totalmente diferente, orientando-a para adotar um diferente conjunto de pensamentos…” (Comentário a Filipenses. Trad. Claudino Batista Marra Júnior, p.51. Versão eletrônica. Disponível em: http://www.cheung.com.br/wp-content/uploads/comentario-filipenses_livro_cheung.pdf Acesso em 23 jan. 2008).
– Quando o crente tem consciência de que o Senhor está perto de voltar, de que seu destino é o céu, além de praticar a justiça de forma notória a todos os homens, passa a ser uma pessoa envolvida com a oração, que não cessa de clamar ao Senhor e também de render graças pelas bênçãos que são continuadamente recebidas.
– Sejamos francos, amados irmãos! Temos tido esta paz de Deus em nossos corações e sentimentos? Se não a temos, é precisamente porque não estamos a ter uma vida notória de equidade e porque não temos tido uma vida de oração.
– Muitos crentes estão vivendo na contramão daquilo que o apóstolo desejava para os crentes filipenses. São pessoas inquietas, inseguras, desconfiadas, que não têm sossego e que apresentam, por causa disso, uma série de enfermidades psicossomáticas, com elevado nível de estresse.
– Envolvidos pelas tempestades e ondas que assolam o “mar da vida”, esquecem-se de seu futuro glorioso, de que nos está prometida a cidade celestial e estão mesmo despercebidos de que os sinais anunciados pelo Senhor Jesus como indicadores de Seu retorno já estão todos se cumprindo.
– Em meio a tanta agitação, esquecem-se de ter uma vida de oração e de súplicas com ação de graças, correndo de uma parte para outra, querendo sempre garantir a “sua porção”, o que, inevitavelmente, os leva a uma vida de injustiças e de parcialidades. Podemos dizer que tal pessoa está entre os que caminham para a glória? Mudemos nossa conduta enquanto é tempo, pois perto está o Senhor. Amém!
Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2013_L10_caramuru.pdf