LIÇÃO Nº 10 – A INTERCESSÃO PELOS EFÉSIOS
O salvo é intercessor de todos os homens
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da carta de Paulo aos efésios, analisaremos o trecho de Ef.3:14-21, onde encontramos a segunda oração de Paulo nesta epístola.
– O salvo é intercessor de todos os homens.
I – PAULO ORA PELA SEGUNDA VEZ
– Na sequência do estudo da carta de Paulo aos efésios, analisaremos hoje o trecho de Ef.3:14-21, onde está registrada a segunda oração do apóstolo, agora uma oração intercessória em favor dos destinatários da epístola.
– A primeira oração registrada nesta carta está em Ef.1:16-23, em que o apóstolo agradece a Deus pelo que tinha ouvido a respeito da fé no Senhor Jesus e do amor para com todos os santos que havia entre os destinatários da carta.
– O apóstolo, assim, na própria epístola, demonstra duas coisas importantíssimas que devemos aqui ressaltar.
Primeiro, que ele era um homem de oração. Com efeito, desde os primórdios de sua vida cristã, o apóstolo mostrou ser alguém que se dedicava à oração. Seus três primeiros dias de fé foram de oração e jejum, como podemos observar da leitura de At.9:9,11.
– Entendemos, portanto, porque Paulo é o mais proeminente cristão das páginas do Novo Testamento.
Era um homem de oração, que, desde o início de sua jornada como servo do Senhor, não descuidava de sua vida de oração, sendo, também neste aspecto, um imitador do Senhor Jesus (I Co.11:1).
– Lamentavelmente, não tem sido esta a tônica da esmagadora maioria dos que se dizem servos do Senhor Jesus.
Muitos não cumprem o mínimo que Nosso Senhor considera como sendo o tempo que se deva dedicar diariamente à oração, que é uma hora (Mt.26:40; Mc.14:37).
O resultado desta negligência é uma vida espiritual raquítica, quando existente, uma verdadeira tragédia, máxime nos dias em que vivemos, em que se multiplica a iniquidade e há o concreto risco de termos o esfriamento do amor de quase todos os salvos (Mt.24:12).
– Devemos lembrar da máxima atribuída aos crentes chineses e que bem revelam a tradição chinesa de ditos de sabedoria:
“muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”.
Que esta triste realidade do nenhum ou pouco poder de Deus na vida da esmagadora maioria dos cristãos da atualidade deixe de existir na vida de cada de um de nós.
– Segundo, o apóstolo Paulo mostra ser um ensinador genuíno, pois pratica aquilo que ensina. Embora tivesse sido outrora um fariseu (Ar.23:6; Fp.3:5),
não mais se comportava como um ensinador fariseu (Mt.23:2,3), mas, sim, como o seu Mestre, Jesus Cristo, que primeira fazia para depois ensinar (At.1:1).
– Paulo, na primeira carta que escreveu, disse aos tessalonicenses que eles deveriam orar sem cessar (I Ts.5:17) e está aqui orando, pela segunda vez, registrando esta oração na epístola.
Na primeira carta que escreve a Timóteo, o apóstolo também ensina que devemos sempre orar por todos os homens (I Tm.2:1-3) e podia fazê-lo, pois estava a ensinar aquilo que praticava.
– Lamentavelmente, muitos hoje são verdadeiros discípulos de fariseus, da turma do “faça que eu mando, não faça o que eu faço”.
Não são exemplos e, por isso mesmo, suas palavras são sufocadas pelas suas atitudes, que desmentem todos os seus ensinamentos.
Paulo não era destes, nem pertencem a este grupo os que são genuínos e verdadeiros servos do Senhor Jesus.
– O apóstolo inicia sua oração, dizendo que se punha de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (Ef.2:14).
– Embora o apóstolo diga que se tenha ajoelhado para orar, devemos lembrar que, embora esta posição seja excelente para este propósito, porquanto revela, desde a postura corporal, uma atitude de adoração a Deus, não há uma única posição para se orar.
– A Bíblia registra pessoas orando nas mais diversas posições: Salomão estava em pé ao proferir a mais longa oração registrada na Bíblia Sagrada na dedicação do templo que construíra (II Cr.6:12), oração que foi ouvida e atendida pelo Senhor (II Cr.7:12);
Ezequias estava deitado quando orou ao Senhor pedindo a cura da sua enfermidade e anos de vida e teve instantâneo atendimento por parte de Deus (II Rs.20:1-6; Is.38:16);
Josué orou com o rosto no pó da terra e, também, foi atendido em sua oração (Js.7:6-15); Jonas orou não se sabe em que posição, dentro do ventre do grande peixe, e foi igualmente ouvido pelo Senhor (Jn.2).
– O apóstolo dá-nos outra lição ao dizer que se punha de joelhos diante do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Nossas orações devem ser dirigidas ao Pai, foi assim que o Senhor Jesus nos ensinou (Mt.6:9; Lc.11:2).
– Temos, com preocupação, vemos muitas pessoas inadvertidamente, no momento da oração, dirigi-la ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, ou, então, ao término da oração, fazê-la em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Sabemos que as três Pessoas Divinas são um único Deus (item 2 do Cremos de nossa Declaração de Fé), mas, embora todos sejam um só Deus, na oração, devemos marcar bem a distinção que há entre as Pessoas Divinas, aplicando, assim, o ensino de Nosso Senhor e Salvador.
OBS: Eis o item 2 do Cremos da Declaração de Fé das Assembleias de Deus para quem, porventura, o desconheça:
“[CREMOS] Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas distintas que, embora distintas, são iguais em poder, glória e majestade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo;
Criador do Universo, de todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, e, de maneira especial, os seres humanos, por um ato sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29; Gn 1.1; 2.7; Hb 11.3 e Ap 4.11)”.
– A oração deve ser dirigida ao Pai, feita em nome do Filho (Jo.14:13,14; 15:16; 1623,24), em comunhão com o Espírito Santo, que ora conosco com gemidos inexprimíveis (Rm.8:26; Ap.22:17).
– A oração é dirigida ao Pai porque é Ele a Pessoa divina que tem como função peculiar enviar as demais Pessoas, ser a fonte de tudo quanto será concedido. É Ele a Pessoa de onde se inicia tudo quanto vem em termos de salvação e de bênção.
– Ao se dirigir ao Pai, o apóstolo diz que é do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo que toma a família nos céus e na terra toma o nome (Ef.3:15).
Vemos, então, que, quando Paulo se dirige ao Pai não está a se dirigir como “filho por criação”, por ser o Ele o “Pai dos espíritos” (Hb.12:9), mas, sim, ao “Pai por adoção”, que o recebeu por filho quando ele creu em Jesus (Jo.1:12; Rm.8:15).
– Temos de ter a consciência de que somente pode orar a Deus e ser atendido em sua oração aquele que é filho de Deus, ou seja, que alcançou a salvação na pessoa de Jesus Cristo, aquele que é temente ao Senhor (Is.59:2; Jo.9:31).
A única oração ouvida por Deus de quem não ostenta tal condição é a oração em que se confessa o pecado e se pede o perdão (Ne.9:2; Pv.28:13; Rm.10:10).
– Aumenta-se, pois, a nossa responsabilidade como filhos de Deus, pois, sabendo que Deus apenas ouve as nossas orações, somos nós quem temos de pedir a bênção divina sobre os homens.
Não é por outro motivo que Paulo, como já dissemos, diz que devemos orar por todos os homens. Esta é a missão sacerdotal da Igreja, ou seja, a de interceder perante o Pai por todos os homens.
– Paulo mostra também que há “uma família nos céus e na terra”. O apóstolo já dissera que, quando somos salvos por Jesus, passamos a ser “concidadãos dos santos” e “família de Deus” (Ef.2:19).
Passamos a pertencer a uma família, porque, unidos pelos laços do amor de Deus, entramos em comunhão não só com Deus, mas também com os demais salvos, que formam um corpo (Ef.1:22,23; 2:16).
– Com base nesta comunhão é que temos, agora, acesso ao trono da graça (Hb.4:16), ao santuário celestial (Hb.10:19,20) e que os céus estão abertos para nós (At.7:56).
Trata-se de uma comunhão que transcende os próprios limites terrenos, pois a família está tanto nos céus quanto na terra.
– Nos céus, estão os anjos, que ministram a favor dos que herdarão a salvação (Hb.1:14), como também os salvos que morreram com Cristo e estão no Paraíso, no terceiro céu (Lc.23:43; II Co.12: 2,4), aguardando o arrebatamento da Igreja (I Ts.4:13-16),
que formam a chamada “igreja triunfante”, “…constituída dos irmãos que já partiram deste mundo, tendo vencido todos os seus inimigos e que agora estão com o Senhor Jesus…” (Declaração de Fé das Assembleias de Deus XI.4, p.121).
– Cristo já tornou este conjunto de seres, que foram vistos no céu pelo apóstolo João glorificando a Deus juntamente (Ap.4,5), como diz o poeta sacro Adriano Nobre, “uma mesma grei” (quarta estrofe do hino 3 da Harpa Cristã), o povo que estará para sempre com o Senhor (Ap.21:3).
– Por sermos uma família, temos todos o mesmo nome, qual seja, o nome do Pai. Somos filhos de Deus e, em virtude disto, temos de honrar o nome que levamos conosco, este nome precioso, como diz a poetisa sacra Lydia Baxter no hino 531 da Harpa Cristã.
– Quem não honra este nome incorre na quebra do mandamento de não tomar o nome de Deus em vão (Ex.20:7; Dt.5:11).
Devemos ter uma vida ilibada e irrepreensível para não só não tomar o nome de Deus em vão, mas também santificá-lo (Mt.6:9; Lc.11:2; Hb.2:11).
– Entre os judeus, a ideia da “santificação do nome de Deus”, aliás, estava relacionada com o martírio,
“…o oferecimento da própria vida em “holocausto”, para a santificação do Nome de Deus, por lealdade à Torah, e em defesa do povo judeu…” (AUSUBEL, Nathan. Kidush Ha-Shem. In: A JUDAICA, v.5, p.425).
A responsabilidade de carregarmos conosco o nome do Senhor leva-nos, sim, à fidelidade até a morte (Ap.2:10). Lembremos sempre disto!
II – O CONTEÚDO DA ORAÇÃO DE PAULO
– O primeiro pedido de Paulo é que o Pai concedesse, segundo as riquezas da Sua glória, que os destinatários da carta fossem corroborados com poder pelo Espírito Santo no homem interior (Ef.3:16).
– O apóstolo começa reconhecendo que Deus é rico, que, em Sua glória, há abundância e fartura para dar aos Seus servos.
Não estamos diante de um Deus mesquinho, miserável ou parcimonioso, mas, sim, um Deus que tem muitas bênçãos a distribuir entre o Seu povo, bênçãos que são “as riquezas de Sua glória” (Ef.1:18).
– Observemos que Paulo não está falando em bens materiais, nem tampouco em ouro ou prata.
As riquezas divinas são relativas à Sua glória, ou seja, à dimensão da eternidade, da qual estávamos privados por causa do pecado, pois uma das consequências do pecado é o de nos destituir da glória de Deus (Rm.3:23).
– Mantém o apóstolo, portanto, a mesma linha já demonstrada logo no introito da epístola, quando afirmou que o Senhor nos abençoa com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3).
– É evidente que não estamos aqui a dizer que Deus não nos dá bênçãos materiais. Estamos ainda no mundo e o Senhor bem sabe que precisamos suprir as necessidades decorrentes desta peregrinação terrena (Mt.5:31,32), mas não é este o nosso foco,
nem tampouco deve ser o nosso alvo, porquanto fomos unidos ao Pai por Cristo para desfrutarmos, desde já, da glória de Deus, para onde estamos indo e que deve ser o objeto da nossa esperança.
– As bênçãos materiais estão, também, disponíveis a nós, mas são elas meros “acréscimos”, acessórios temporários e passageiros, pois o nosso alvo, a nossa esperança é desfrutarmos plenamente daquilo que nos está reservado e que, já neste momento, podemos desfrutar e é este desfrute que está na preocupação do apóstolo e na razão de ser de sua oração.
– Paulo sabia que o melhor, o mais importante é o espiritual, aquilo que estamos esperando alcançar (Fp.1:23), tanto que ele só via sentido em se manter neste mundo para cumprimento do seu ministério (Fp.1:24-26).
– Paulo adverte que quem espera em Cristo somente para esta vida, somente para bênçãos materiais, é o mais miserável de todos os homens (I Co.15:19) e, lamentavelmente,
são muitos os que, dizendo-se cristãos, encaixam-se nesta condição descrita pelo apóstolo dos gentios, porquanto veem Cristo apenas como instrumento para obtenção de benesses voltadas para esta vida terrena.
– E dizemos mais: até as bênçãos materiais nos são dadas com o único propósito de glorificar ao Senhor.
Assim como devemos fazer tudo nesta vida terrena com o fim de glorificação de Deus (I Co.10:31), Deus só age, em termos materiais, para que o Seu nome seja glorificado (Jo.9:3; 11:4; 17:4).
– Deus age segundo as riquezas da Sua glória. Assim, quando estamos diante de bênçãos espirituais, temos, naturalmente, a manifestação da glória de Deus; quando estamos diante de bênçãos materiais, têm elas o objetivo de manifestar, também, a glória de Deus.
– Por isso, o apóstolo considerava a sua presente prisão em Roma uma bênção, pois ela estava servindo para que o nome do Senhor fosse glorificado, seja pelo impulso evangelístico que ela causou na igreja em Roma (Fp.1:12-18), seja pela própria revelação que era agora registrada nesta epístola (Ef.3:3,4).
– Mas qual era o pedido do apóstolo ante a riqueza que constatava na glória de Deus? Que os destinatários de sua epístola fossem corroborados com poder pelo Espírito no homem interior (Ef.3:16).
– “Ser corroborado” é a palavra grega “krataioó” (κραταιοω), cujo significado é
“…fortalecer, capacitar, i.e., (passiva) aumentar em vigor: – ser fortalecido, tornar-se forte (resistente)” (Bíblia de Estudo PalavrasChave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 2901, p.2273).
– Pede, pois, o apóstolo que os destinatários da carta sejam fortalecidos, capacitados, tenham seu vigor aumentado com poder pelo Espírito Santo, tornando-se, assim, fortes e resistentes para que possam continuar a sua jornada espiritual.
– O Espírito Santo, portanto, é necessário não só para que compreendamos as coisas espirituais (Ef.3:4,5), mas também para que sejamos fortalecidos a fim de que nos tornemos resistentes a toda atuação maligna, contra quem estamos em constante luta, como Paulo ainda falará nesta epístola (Ef.6:12).
– Notamos, aqui, claramente, que o pedido de Paulo nos mostra a necessidade que há de sermos fortalecidos constantemente com poder, de quanto somos carentes do poder de Deus.
A busca do poder de Deus, portanto, não é algo que estava restrito aos dias dos apóstolos, mas uma necessidade que continua até que o Senhor venha buscar a Sua Igreja.
– Paulo queria que os destinatários de sua carta fossem fortalecidos com o poder do Espírito Santo.
Paulo é, sem dúvida, um crente pentecostal, aquele que crê, conforme o item 11 do nosso Cremos, “no batismo no Espírito Santo, conforme as Escrituras, que nos é dado por Jesus Cristo, demonstrado pela evidência física do falar em outras línguas,
conforme a Sua vontade (At.1:5; 2:4; 10:44-46; 19:1-7)”, bem assim conforme o item 12 do Cremos, “na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme Sua soberana vontade para o que for útil (U Co.1:1-12).
– Esta corroboração com poder feita pelo Espírito Santo ocorre no homem interior, ou seja, na alma e no espírito.
Vemos aqui totalmente desmentida a doutrina dos sacramentos, segundo a qual, a graça de Deus é transferida aos crentes por meio de rituais e cerimônias estabelecidos pela Igreja, como entendem alguns segmentos da Cristandade, como os romanistas, os ortodoxos e os anglicanos.
– Para estes, a vida cristã necessita de “sacramentos”, pois “…a salvação de Deus, realizada uma vez por todas por Cristo Jesus e pelo Espírito Santo, se toma presente nas ações sagradas da liturgia da Igreja(…),
particularmente nos sete sacramentos.…” (§ 15 do Catecismo da Igreja Católica), ou, ainda, “…É pelos sacramentos da Igreja que Cristo comunica aos membros de seu Corpo o seu Espírito Santo e Santificador…” (§ 739 CIC).
– Ora, o apóstolo fala claramente que a corroboração com poder pelo Espírito se dá no homem interior, sem que haja a necessidade de qualquer ritual ou cerimônia, sem qualquer “sacramento”, figura que simplesmente inexiste nas Escrituras Sagradas.
Tomemos, pois, cuidado, pois há gente identificando “sacramentos” em nossa vida espiritual, o que é atitude sem qualquer respaldo bíblico.
– O pedido de Paulo tinha um propósito, qual seja, o de que, mediante este fortalecimento promovido pelo Espírito Santo, o Cristo habitasse pela fé no coração dos destinatários da carta (Ef.3:17).
– O verdadeiro e genuíno salvo é uma habitação de Cristo. O Senhor Jesus já havia dito, em Suas últimas instruções, que quem O amasse e guardasse a Sua Palavra tornar-se-ia morada tanto d’Ele quanto do Pai (Jo.14:23).
– O apóstolo já dissera que, como membros da Igreja, somos edificados para morada de Deus no Espírito (Ef.2:22), mas só poderemos ser habitação de Cristo se formos corroborados com poder pelo Espírito Santo.
– O poder do Espírito Santo, portanto, tem um objetivo bem claro: fazer de nós habitação de Cristo, promover a unidade que é o fim da obra salvífica de Cristo (Jo.17:21), de modo que não mais vivamos mas Cristo viva em nós (Gl.2:20).
O apóstolo trabalhava para que Cristo fosse formado naqueles a quem ele pregava o Evangelho e se convertiam (Gl.4:19).
– Quando Cristo habita em nós, a vida que agora vivemos na carne vivemo-la na fé do Filho de Deus (Gl.2:20). Tornamo-nos “pequenos Cristos”, “parecidos com Cristo”, ou seja, “cristãos” (At.11:26).
– Quando Cristo habita em nós, passamos a ser odiados pelo mundo (Jo.15:18-20) e, desde já, já participamos das aflições e sofrimentos do Senhor (Rm.8:18; II Co.1:5-7; Fp.3:10,11; I Pe.4:13), sabendo que, da mesma maneira que tomamos parte de Seu sofrimento e aflições, também participaremos da Sua glorificação (I Jo.3:1-3).
– Cristo habita em nós pela fé em nosso coração (Ef.3:17), uma afirmação que, também, destrói uma outra doutrina sem respaldo bíblico, qual seja, a da transubstanciação dos elementos da ceia do Senhor, pelo qual Cristo seria introduzido em nosso corpo, como pão e como vinho.
Na verdade, a habitação de Cristo em nosso interior se dá pela fé e Sua habitação é permanente e feita de modo espiritual, sem qualquer necessidade de haver uma materialização passageira e fugaz como ensinam os romanistas.
– O poder do Espírito Santo que tem por objetivo a habitação de Cristo em nosso coração também nos fortalece nossa fundação e nosso arraigamento. E o que é que funda e é a raiz da nossa vida espiritual, da nossa fé? O amor.
– Paulo diz que o salvo está fundado e arraigado em amor. Não há como construirmos uma vida espiritual, uma jornada de fé sem que estejamos fundados e arraigados em amor.
– Nossa salvação é decorrência do amor de Deus que gera, em cada um de nós, amor a Deus. Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro, afirma João, o apóstolo do amor (I Jo.4:19).
– Tendo nascido no amor, o salvo não poderia ter outro fundamento senão o amor. O único fundamento que foi posto para a Igreja é o próprio Senhor Jesus (I Co.3:11), que é Deus (Jo.1:1) e, portanto, é amor (I Jo.4:8,16).
Se o fundamento da nossa salvação é Cristo, que é amor, à evidência que nossa vida cristã tem de ser baseada no amor.
– Não é por outro motivo, pois, que o mandamento de Cristo é o amor. Jesus nos manda amar uns aos outros como Ele nos amou (Jo.15:17).
Jamais poderemos viver como cristãos se não cumprirmos este mandamento, se não vivermos em função do amor a Deus e do amor ao próximo, tendo Cristo como exemplo, como referencial de amor.
– Já na lei de Moisés, os dois grandes mandamentos, como nos ensina o Senhor Jesus, eram os mandamentos do amor (Mt.22:36-40), quanto mais agora, na dispensação da graça de Deus, temos a sublimidade do amor como comportamento, como conduta,
o “caminho mais excelente” (I Co.12:31), até porque apresentado ele em carne e osso pelo Verbo, por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Jo.1:14), Aquele que provou o Seu amor para conosco morrendo por nós quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8).
– Este amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm.5:5) e o pedido do apóstolo é no sentido de que o poder do Espírito Santo fortaleça os destinatários da sua epístola fazendo aumentar o amor que foi gerado em nós pelo derramamento deste amor pelo Espírito Santo em nós.
– Não há como entendermos que alguém é corroborado com poder pelo Espírito Santo se não se vê nele o aumento da produção do fruto do Espírito, pois, como bem afirmam alguns, o fruto do Espírito nada mais é que o amor, desdobrado em outras oito qualidades (Gl.5:22).
– Não existe esta distinção entre “poder de Deus” e “amor de Deus”, como muitos têm defendido ultimamente, querendo dissociar o fruto do Espírito do poder do Espírito.
O apóstolo deixa isto bem claro aqui: seu pedido é que a corroboração com poder pelo Espírito se dê a quem é fundado e arraigado em amor.
– Como bem afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus, “…O falar em línguas é a evidência inicial desse batismo, mas somente a evidência inicial, pois há evidência contínua da presença especial do Espírito como o ‘fruto do Espírito’ (Gl.5:22) e da manifestação dos dons [I Co. 14:1].…” (XIX, p.165).
Se todo salvo produz o fruto do Espírito, aquele que é revestido de poder terá de produzir muito mais, pois é este o intento do Senhor Jesus, que sempre produzamos mais e mais fruto (Jo.15:2).
OBS: “…No pentecostalismo clássico, o Batismo no Espírito Santo difere da plenitude do Espírito.
O Batismo no Espírito Santo e os dons espirituais fazem parte da plenitude do Espírito, mas a plenitude do Espírito não se resume ao Batismo ou aos demais dons.
A plenitude do Espírito engloba, especialmente, o fruto do Espírito, a santificação e a maturidade.
O Batismo no Espírito Santo não é santificação, como lembra o teólogo pentecostal Antonio Gilberto[Verdades Pentecostais. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 60], e nem maturidade cristã, como escreveu William e Robert Menzies[Leia o capítulo 15 no livro No Poder do Espírito: Fundamentos da Experiência Pentecostal(Editora Vida)].
Outro grande teólogo pentecostal, como Donald Gee, chegou a afirmar sobre o Batismo no Espírito Santo:
“É inútil pensar que qualquer ‘bênção’ ou ‘experiência’ possa substituir um ‘andar’ contínuo no Espírito – por mais útil que tal bênção possa muitas vezes ser”[Como Receber o Batismo no Espírito Santo. 6 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000. p 61.
É sempre útil lembrar que o título original da obra é Pentecost].…” (SIQUEIRA, Gutierres. Existe “pentecostalismo reformado”? Disponível em: https://www.gospelprime.com.br/existepentecostalismo-reformado/ Acesso em 28 fev. 2020).
– Paulo pede este fortalecimento do amor, pois, com esta corroboração com poder pelo Espírito Santo, tem o apóstolo a certeza de que os destinatários desta epístola poderão perfeitamente compreender, com todos os santos, a largura, o comprimento,
a altura e a profundidade do amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejam cheios de toda a plenitude de Deus (Ef.3:18,19).
– O amor de Deus está além do nosso entendimento, diz o apóstolo, que é lembrado pelo poeta sacro Ernesto Wooton no hino 396 da Harpa Cristã, onde é dito:
“Muito além do nosso entendimento, alto mais que todo o pensamento, glorioso em seu sublime intento, é o amor de Deus, sem par” (primeira estrofe).
João revela esta impossibilidade de mensurarmos tal amor quando afirma que Deus amou o mundo de tal maneira, sem poder dimensionar este grandíssimo amor, provado pela vinda de Cristo para morrer em nosso lugar.
– Entretanto, se nos entregarmos a Cristo, embora não possamos, pela nossa razão, compreender tão grande amor, o Espírito Santo nos levará a dimensões que vão além do nosso entendimento e poderemos saber os parâmetros deste tão grande amor, sendo completamente envolvidos por ele, pois, conforme nos diz Paulo, tem ele largura, comprimento, altura e profundidade.
– Esta realidade aqui declarada pelo apóstolo em sua oração já havia sido analisada na carta aos romanos, quando Paulo, em um cântico que encerra sua dissertação a respeito da vida do homem segundo o espírito, ou seja, da vida do salvo,
diz que nada, no mundo, pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor, mostrando que tudo o que há no universo, seja o físico, seja o espiritual, tem condições de se comparar a tão grande amor (Rm.8:31-39).
– Paulo desejava profundamente que os destinatários de sua carta pudessem crescer espiritualmente e o crescimento espiritual sempre é caracterizado por uma compreensão cada vez maior do infinito amor de Deus.
Quanto mais nos aproximamos de Deus, quanto mais nos edificamos espiritualmente, notaremos quão grande é o amor de Deus por nós e, por conseguinte, amá-l’O-emos cada vez mais.
– Deus é amor e, portanto, este amor é infinito e não é por outro motivo que o apóstolo afirma que, quando alcançarmos a perfeição, cessarão todas as manifestações espirituais, até mesmo as virtudes da fé e da esperança, mas o amor permanecerá (I Co.13:8-13).
– O verdadeiro termômetro espiritual de um cristão não é o poder de Deus que possa se manifestar através dele, não são os sinais, prodígios e maravilhas, os dons espirituais, mas o amor que ele esteja a manifestar e a revelar. Pensemos nisto!
– Só quem conhece o amor de Deus, diz o apóstolo, alcançará toda a plenitude de Deus (Ef.3:19), precisamente porque Deus é amor e quanto mais nos envolvermos com o Senhor, formarmos com Ele um relacionamento, uma intimidade, uma unidade e termos com Ele uma experiência e um envolvimento é que poderemos dizer que estamos “cheios de Deus”.
– Conhecer, lembremos, significa ter relacionamento, intimidade, unidade, experiência e envolvimento. Devemos entender “conhecimento” no sentido que lhe dá a cultura hebraica, e não como entendem os gregos, que veem no conhecimento tão somente um domínio intelectual.
“Conhecer”, lembremos, é a palavra utilizada pelos israelitas para designar o relacionamento íntimo entre marido e mulher (Gn.4:1).
– Portanto, quando Paulo diz que ora para que os destinatários de sua carta tenham o “conhecimento do amor de Deus”, está a pedir que eles, por primeiro, se relacionem com o amor de Deus, ou seja, pautem suas atitudes e ações pelo amor divino. Ora, relacionar-se com o amor de Deus nada mais é que relacionar-se com Deus, pois Deus é amor.
– Para que nos relacionemos com Deus é mister que estejamos em santidade, pois o pecado faz divisão entre nós e Deus (Is.59:2).
Jesus trouxe-nos a paz, como já estudamos anteriormente, de forma que o que Paulo deseja é que nos mantenhamos em santidade, que vivamos em santificação.
– Conhecer também é ter intimidade. O apóstolo já havia pedido que os destinatários da sua carta fossem corroborados com poder pelo Espírito no homem interior, ou seja, seu desejo é que houvesse uma intimidade entre Deus e os salvos, a partir do espírito do homem até o seu corpo.
– Conhecer também é ter unidade. Paulo deseja que os destinatários de sua carta tenham o homem interior em comunhão com Deus, trata-se de passar a ter os mesmos pensamentos, sentimentos e vontade que tem o Senhor.
É o “negar-se a si mesmo” dito pelo Senhor como requisito para segui-l’O (Mc.8:34; Lc.9:23). O objetivo da obra salvífica de Cristo é nos fazer tornar um com Ele e com o Pai (Jo.17:21).
– Conhecer também é ter experiência com Deus. Estando em Cristo, passamos a peregrinar nesta Terra mas agora convivendo com o Senhor, andando com Ele, aprendendo com Ele, sendo lembrado pelo Espírito Santo de tudo quanto Ele nos ensinou.
Esta convivência faz com que passemos a ouvir a Sua voz e é desta maneira que passou a conhecê-l’O e Ele a nós (Jo.10:14,27). O crescimento espiritual traz-nos experiência (Rm.5:4).
– Conhecer também é ter envolvimento com o Senhor. O profeta Oseias incita-nos a conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor (Os.6:3) e diz que tal conhecimento terá uma saída como a alva e virá a nós como a chuva serôdia que rega a terra.
Isto nos fala de envolvimento, pois assim como a luz solar, pela manhã, aparece tímida no horizonte e depois, repentinamente, tudo clareia e como a chuva serôdia, que é a chuva do outono, pouco antes da colheita, abundante e que molha tudo ao seu redor.
– Faz-se preciso que nos envolvamos completamente com o Senhor, pois é este o propósito divino para conosco, que se forme uma perfeita integridade e unidade entre nós e Ele. Era isto que Paulo clamava ao Pai pelos destinatários de sua carta.
– Paulo termina a sua oração demonstrando sua inteira certeza de fé, a sua grande confiança em Deus.
Glorifica ao Senhor, dizendo que sabia que Deus é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos (Ef.3:20).
– Nesta afirmação, a uma, o apóstolo crê que Deus está acima de nossa capacidade e que, portanto, bem sabe o que é melhor para nós.
Como um bom e obediente filho, apresenta os seus desejos ao Pai, mas se coloca na dispensação d’Ele, pronto para fazer a Sua vontade, seja ela qual for.
– Vemos aqui uma postura bem diferente daquele atrevimento inconsequente defendido pela teologia da confissão positiva, que afirma que há poder em nossas palavras e que podemos exigir as coisas que queremos diante de Deus, em virtude da “aliança” que há entre nós.
O apóstolo, bem ao contrário, sabe que Deus está bem acima de nós e que, portanto, faz as coisas bem além daquilo que pedimos ou pensamos.
– Por fim, Paulo glorifica ao Pai, ensinando que o Pai deve ser glorificado na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre (Ef.3:20,21).
Nossa vida aqui na Terra já tem de ser uma glorificação ao nome do Senhor (Mt.5:16), glorificação que deve permanecer para sempre. Temos cumprido este desejo divino? Pensemos nisso!
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5295-licao-10-a-intercessao-pelos-efesios-i